Análise Fílmica - 1492 A Conquista do Paraíso

June 22, 2017 | Autor: S. Semíramis Sutil | Categoria: Cinema
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Análise Fílmica Séfora Semíramis Sutil Moreira1

BOSCH, Roselyne; SCOTT, Ridley. 1492 – A conquista do Paraíso. Los Angeles – EUA: Paramount, 1992

O filme 1492 – A conquista do Paraíso, escrito por Roselyne Bosch, dirigido por Ridley Scott e produzido pela Paramount em 1992 foi lançado para comemorar o então aniversário de quinhentos anos da viagem que Cristovão Colombo fez à América. É uma produção que faz uma tradução romanceada da história do descobridor não reconhecido do continente americano, Colombo. 1492 – A conquista do Paraíso foi realizado sob o propósito de enaltecimento da imagem deste homem que não teve o devido reconhecimento pelo enorme feito que conseguiu. Falta de reconhecimento, talvez, inerente de sua falta de preparo e conhecimento para a importância do que tinha a seu encontro – a América, além, de uma religiosidade crente que pode ter-lhe cegado para a diferente cultura com a qual se depararia, como afirmou o historiador Izvetan Todorov 2 dez anos antes desta cinematografia.

O primeiro aspecto que se deve analisar desta obra fílmica concerne a um assunto, ainda hoje, muito discutido entre aqueles que forjam uma história das Américas e, sobretudo, uma história de seu primeiro descobridor. Ou seja, sobre a própria figura de Cristovão Colombo, suas origens e sua vida. No filme dirigido por Scott, Colombo, assim como grande parte da historiografia aponta, era italiano. Não levanta o questionamento que, por exemplo, os historiadores fazem sobre a veracidade de sua origem italiana, uma vez que seus escritos não foram realizados em dialeto italiano da época. O filme faz uma menção sobre sua condição, e de seu filho primogênito Diego, de refugiado no mosteiro franciscano de La Rábida, em Castela na Espanha, mas não

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Graduando em licenciatura/ bacharelado pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) - 2015 2 TODOROV, Izvetan. Colombo Hermeneuta. In: Todorov, I. A Conquista da América. São Paulo: Martins Fontes, 1982

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diz que haviam vindo de Portugal 3, onde fora casado com uma portuguesa. Outra confusão que há na produção é sobre seus matrimônios e filhos, como dito, não diz que foi casado com uma portuguesa e coloca seus dois filhos, Diego e Fernando, com sendo fruto de seu matrimônio com Beatriz. Sobre os motivos que levaram aos reis espanhóis, Fernando e Isabel, a autorizar a expedição rumo ao Novo Mundo, em A conquista do Paraíso, a priori, se tem uma determinada confiança que Colombo tenha passado à rainha. E, posteriormente, o interesse material pelas riquezas naturais que, eventualmente, Colombo encontraria se realmente fizesse a descoberta do que tinha certeza que existia – a continente desconhecido. Além disso, mais adiante no longa-metragem, foi colocado um propósito cruzadísco, de expansão da fé cristã.

Outro ponto que deve ser considerado neste filme, é que ele faz uma mescla entre as imagens de Colombo e Fernando Cortés. É como se Colombo estivesse vestido da astúcia de Cortés. Mostra que Cristovão Colombo tenta compreender os índios e que ensina sua língua a um deles para que servisse de intérprete, porém, Todorov foi veemente em dizer que Colombo não compreendia se quer que os nativos da terra descoberta, a que se acreditava ser o novo continente, falavam uma língua diferente, tampouco, buscou formas de se comunicar.

Sobre uma moldagem heróica dos personagens, muito presente nos livros de História da América, 1492 - A conquista do Paraíso, também, coloca os personagens desta descoberta, principalmente a personagem Colombo, como heróis. Heróis estes que conseguiram, com poucos recursos, efetuar a conquista e colonização de maneira rápida, com algumas batalhas, mas estas provocadas por Adrián de Moxica, nobre espanhol que se revoltou com a administração de Colombo. O que o historiador Matthew Restall vai dizer se tratar de um mito. Restall levanta a tese de que nem tão heróicas foram as ações dos descobridores e nem tão pacíficos e inocentes foram os índios 4.

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SALE, Kirkpatrick. 1492 (I). In: SALE, Kirkpatrick. A conquista do Paraíso. Cristovão Colombo e seu legado. Rio de Janeiro: Dahan, 1992, p. 12 4 RESTALL, Matthew. Sete Mitos da Conquista espanhola. In: SERRA, Cristina de Assis (trad.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006

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Por fim, o cume desta cinematografia e de toda uma historiografia deitasse sobre a data ícone de 1492. Esta data tornou-se ícone, pois foi o ano em que Cristovão Colombo acreditou ter descoberto o continente perdido, no entanto, não sabia ele que em verdade havia chegado à Ilha das Caraíbas em 21 de outubro de 1492 – o que corresponde à sua primeira viagem. Sempre uma incógnita para a historiografia, Colombo, tinha certeza da existência do continente inexplorado. A certeza de Colombo advinha da interpretação que fazia dos livros, muitos deles religiosos, que lia. Um dos conceitos que o levavam a acreditar na existência de um continente perdido ou mesmo paraíso, diga-se de passagem, conceito pouco confiável, foi uma passagem inscrita no Livro IV do judeu Esdras, observa-se de uma religião diferente da que dizia seguir, que afirmava que “(...) atravessando o oceano para além da ilha de Hierro, por uma distância de aproximadamente setecentas e cinqüenta léguas, acabaria por descobrir a terra” 5. Portanto, ao primeiro sinal de uma terra diferente ele acreditou ter chegado ao lugar que sabia existir. Entretanto, como é, do mesmo modo, posto no filme a grande descoberta foi dada a Américo Vespúcio, por que Colombo, como sua sapiência de bom marujo e não de descobridor e governador, não utilizou os meios corretos para declarar que fora ele o verdadeiro descobridor, destarte, deixando seu legado e de seus filho para Américo.

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ESDRAS. Historia, I, p. 139 apud TODOROV, Izvetan. Colombo Hermeneuta. In: Todorov, I. A Conquista da América. São Paulo: Martins Fontes, 1982, p. 23

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