ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE RISCO DE CONTRACÇÃO DE CÁRIE DENTÁRIA E FLUOROSE DENTÁRIA NO CONCELHO DA PRAIA DA VITÓRIA (TERCEIRA – AÇORES)

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29 de Abril a 2 de Maio de 2009 - Angra do Heroísmo

ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE RISCO DE CONTRACÇÃO DE CÁRIE DENTÁRIA E FLUOROSE DENTÁRIA NO CONCELHO DA PRAIA DA VITÓRIA (TERCEIRA – AÇORES) Rodrigues, A.F.F.1*, Rodrigues, F.C2.& & Bettencourt, V2. 1-Departamento de Ciências Agrárias, Universidade dos Açores, Terra-Chã, 97001-851 Angra do Heroísmo. 2- Praia Ambiente, E.M., 9760-Praia da Vitória. Tel +351-295 402 200 Fax +351-295 402 205 e-mail: [email protected], [email protected]

Palavras-chave: Flúor, risco, cárie, fluorose, qualidade

Resumo: A água para consumo humano tem melhorado significativamente nos últimos anos no Arquipélago dos Açores, quer do ponto de vista físico-químico quer microbiológico. No Concelho da Praia da Vitória parte da água de abastecimento público provém de nascentes associadas a aquíferos suspensos, que apresentam teores de fluoretos elevados e cloretos baixos, enquanto outra provém de furos que captam o aquífero basal, com teores de fluoretos baixos e, devido a processos de intrusão marinha, concentrações de cloretos por vezes muito elevadas. Neste trabalho faz-se uma análise probabilística de contracção de cárie e fluorose dentárias nas zonas abastecidas por estas águas, considerando-se os teores médios de fluoretos medidos na água utilizada para consumo humano. Os resultados apontam para probabilidades de contracção de cárie e fluorose dentária diferenciadas, consoante a qualidade da água consumida. Como medida mitigadora propõe-se uma mistura de águas dos furos de captação e nascentes, melhorando-se a qualidade organoléptica deste líquido através da diminuição do teor de cloretos e obtendo-se um nível equilibrado de fluoretos, que terá como consequência uma diminuição da probabilidade de incidência destas doenças nas populações abastecidas por estas águas.

1- INTRODUÇÃO Nos Açores tem-se verificado uma evolução positiva, embora lenta, da qualidade da água distribuída às populações. A qualidade dessa água, nas suas múltiplas utilizações, tem uma importância crucial para o ambiente e para a saúde humana em particular.

9º Encontro de Química dos Alimentos: Qualidade e Sustentabilidade. 29 de Abril a 2 de Maio de 2009. Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores. Angra do Heroísmo.

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Quanto à aplicação das normas estabelecidas na legislação é de referir, que também nos últimos anos, se tem verificado uma acentuada redução do número de análises em violação e um melhor conhecimento da realidade regional. No entanto, a percentagem de incumprimentos dos VMA (Valores Máximos Admissíveis) observados nas análises regulamentares no Concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, tem oscilado, nos últimos cinco anos, entre 0,88% em 2005 e 3,1% em 2004, sendo de 2,95% em 2007. A presença de excesso de flúor nas águas captadas para consumo inviabiliza a priori a sua distribuição à população. Se nalgumas regiões do país esse problema pode ser facilmente solucionado, porque existem alternativas de captação de caudais idênticos, nas ilhas, a escassez de recursos hídricos em determinados períodos do ano, especialmente na época estival, impõe a sua captação e distribuição. A legislação portuguesa fixou a obrigatoriedade de apresentação nos rótulos das águas de consumo a ocorrência de níveis de flúor superiores a 1,5 mg/l, por se ter verificado a existência de riscos para a saúde das mulheres grávidas e crianças quando tal se verifica. No entanto, quando a dose é superior a 2,7 mg/l existe um mau desenvolvimento dos dentes, e superior a 5 mg/l , estes aparecem corroídos. É sabido que níveis de flúor entre 0,6 mg/l e 1,7 mg/l são benéficos para a saúde dentária. O VMA da legislação portuguesa para os fluoretos é de 0,7 mg/l para uma temperatura entre 15ºC e 30ºC, uma vez que o efeito benéfico do flúor é função da temperatura. Nas águas de consumo de Portugal os valores médios rondam os 0,3 mg/l. A falta de flúor nas águas de consumo em Portugal está associada a um problema de saúde de dimensão nacional e de tal importância que motivou uma recomendação especial de suplementação de flúor por Cordeiro e Carvalho, (1990) [1] e Batalha (2002) [2]. Apontam-se como causas desse problema: a falta de higiene, a falta de flúor na água de consumo e erros alimentares. Nos Açores e na Madeira, o teor de fluoretos na água é muito elevado e nem sempre é feita uma verificação e correcção adequada. Nessas regiões, por consequência, o risco de degradação da saúde oral é mais elevado do que no território continental português, bem como de afectação de grávidas e crianças. No Estudo Regional de Prevalência das Doenças Orais na População Escolarizada da Região Autónoma dos Açores de Cabral et al., (2005) [3] onde se examinaram 517 crianças das nove ilhas, das quais 250 do sexo masculino (48%) e 267 do sexo feminino (52%) com seis anos (165), doze anos (179) e quinze anos (153), foi permitido concluir que o índice médio de fluorose dentária nos Açores é de 0,7, sendo as ilhas de São Miguel e Pico as que possuem o índice mais elevado (0,9) e as Flores e o Corvo as que têm o índice mais baixo (0,1).

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29 de Abril a 2 de Maio de 2009 - Angra do Heroísmo 2 – NÍVEIS DE FLÚOR NAS ÁGUAS DE CONSUMO DA PRAIA DA VITÓRIA E PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DE EFEITOS NA SAÚDE Os níveis de fluoretos na água de consumo no Concelho da Praia da Vitória variam, em valores médios, entre os 0,8 mg/l e os 2,6 mg/l. Na figura 1 apresentam-se as concentrações médias de flúor, de 2001 a 2008, observadas nas águas de consumo de várias localidades do concelho da Praia da Vitória. Observações empíricas na ilha Terceira, revelam que a população da freguesia da Agualva, na ilha Terceira, onde os níveis médios de fluoretos são relativamente elevados, tem níveis de fluorose dentária, especialmente no escalão etário com idades superiores aos 40 anos, também elevados. Crê-se que os dentes de coloração acastanhada ou aparentando corrosão estejam directamente associados à ingestão de água com excesso de flúor nas décadas anteriores. 3,0

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Figura 1 – Concentrações de fluoretos na água de consumo de algumas freguesias do Concelho da Praia da Vitória

Os riscos associados ao excesso de flúor na água de consumo são os de contracção de fluorose dentária, de fractura óssea e de contracção de cancro, se bem que existam estudos que afirmam não existir uma relação clara entre os níveis de flúor na água de consumo e o número de cancro na população abastecida por essa água (Harrison, 2005) [4]. Baseando-nos nos trabalhos de Cabral et al., (2005) [3], Harrison (2005) [4] e Van der Hoeke et al., (2003) [5], calcularam-se as probabilidades de uma dada população do Concelho da Praia da Vitória não contrair fluorose dentária, de ter mau desenvolvimento dos dentes, de ter

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um índice de fluorose dentária muito leve até aos 14 anos e de ter cárie dentária até aos 14 anos. Os cálculos dessas probabilidades baseiam-se nos riscos relativos desses problemas para um determinado nível de concentração de fluoretos na água de consumo, nas dimensões das populações expostas a cada uma das concentrações e na faixa etária do indivíduo que é exposto. Na tabela seguinte (tabela 1) apresentam-se os valores obtidos para a população do Concelho da Praia da Vitória, agrupando-os por localidades e comparando-os com os de Van der Hoeke et al., (2003) [5]. De acordo com o estudo de Cabral et al., (2005) [3], a prevalência das crianças isentas de cárie dentária na dentição permanente nos Açores é de 44,9%, muito próximo do valor encontrado nas previsões deste estudo. Crê-se assim ser possível estudar, em termos de risco relativo, o modo como a presença de fluoretos na água de consumo no Concelho da Praia da Vitória influencia o aparecimento de cárie ou fluorose dentária em relação às populações servidas com água onde os níveis de fluoretos estão dentro dos parâmetros legais.

Risco Probabilidade Probabilidade de não contrair fluorose dentária no Concelho da Praia da Vitória 53,1% Probabilidade de ter mau desenvolvimento dos dentes Risco de ter um índice de fluorose dentária muito leve (população com menos de 14 anos) Probabilidade de ter cárie dentária na dentição permanente (até aos 14 anos)

Local Praia, Cabo da Praia, Fontinhas, Fonte do Bastardo

Valores da Literatura

61%

38,3%

Biscoitos, Agualva, Vila Nova, Lajes e São Brás

65%

38,9%

Biscoitos, Agualva, Vila Nova, Lajes e São Brás

65%

42,4%

Praia, Cabo da Praia, Fontinhas, Fonte do Bastardo

26%

Tabela 1 – Concentrações de fluoretos na água de consumo do Concelho da Praia da Vitória, probabilidade de problemas na saúde e comparação com os valores de Van der Hoeke et al., (2003) [5] em condições próximas.

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No caso de estudo aqui apresentado, verifica-se que parte da população do Concelho da Praia da Vitória tem níveis de fluoretos na água de consumo acima daqueles que provocam protecção da saúde e outra tem o efeito contrário, ou seja, tem níveis de fluoretos na água de consumo inferiores aos necessários para proteger a saúde.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS Havendo no Concelho da Praia da Vitória dois tipos de água, uma com excesso de cloretos e níveis reduzidos de fluoretos e outra com baixos níveis de cloretos e excesso de fluoretos, é possível realizar uma gestão eficaz do risco de contracção de doença associada ao flúor (excesso ou falta) que passará por uma mistura desses dois tipos de água, a que se seguirá uma distribuição pela população do Concelho em análise. Referências [1] – M. J. G. Cordeiro, M. C. A. Carvalho - Alimentação da criança saudável. Lisboa : DGCSP, (1990). [2] – L.M.C. Batalha – Suplementação vitamínica e mineral no primeiro quadrimestre de vida. Saúde Infantil. 20 (2002) 63-70. [3] - R. Cabral, M. Mont’Alverne, A. Lima - Estudo Regional de Prevalência das Doenças Orais na População Escolarizada da Região Autónoma dos Açores. Secção Regional da Ordem dos Médicos Dentistas. Angra do Heroísmo (2005). [4] - P.T.C. Harrison - Fluoride in water: A UK perspective. Journal of Fluorine Chemistry. 126 (2005) 1448-1456. [5] - W. Van der Hoek, L. Ekanayake, L. Rajasooriyar, R. Karunaratne - Source of drinking water and other risk factors for dental fluorosis in Sri Lank, Int. J. Environ. Health Res. 13 (2003) 285–293.

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