Anamorfoses I (sumário e apresentação)
Descrição do Produto
Anamorfoses GUSTAVO BERNARDO
ME NINA
POETAS:
ANA CRISTINA JOAQUIM (ORG.) ANAMORFOSES
ADRIANA ZAPPAROLI ANA TANIS ELLEN MARIA ÉRICA ZÍNGANO FRANCINE JALLAGEAS JÚLIA DE CARVALHO HANSEN JULIANA AMATO MAR BECKCER MARÍLIA GARCIA ROBERTA FERRAZ SOFIA MARIUTTI
ANA CRISTINA JOAQUIM (ORGANIZADORA)
2a EDIÇÃO
POESIA COMPLETA (2007-2012)
Anamorfoses
Anamorfoses ANA CRISTINA JOAQUIM (ORGANIZADORA)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A533
Anamorfoses / Organização Ana Cristina Joaquim . -- São Paulo : Annablume, 2014. 206 pp. : 14x23 cm. ISBN: 978-85-391-0666-0
Vários autores : Adriana Zapparoli; Ana Tanis; Ellen Maria; Érica Zíngano; Francine Jallageas; Júlia de Carvalho Hansen; Juliana Amato; Mar Beckcer; Marília Garcia; Roberta Ferraz; Sofia Mariutti. 1.Literatura brasileira 2.Poesia brasileira . I. Joaquim, Ana Cristina, org. II.Título.
Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7- 5880
Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura brasileira 2. Poesia brasileira
Anamorfoses Projeto, Produção e Capa Coletivo Gráfico Annablume Imagem da capa Ilustração de Isadora Reimão “A menina de olhos velhíssimos” Conselho Editorial Antonio Vicente Seraphim Pietroforte Gustavo Bernardo Krause Moacir Amâncio 1ª edição: outubro de 2014 © Ana Cristina Joaquim Annablume Literária é uma publicação da ANNABLUME editora . comunicação Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 554 . Pinheiros 05415-020 . São Paulo . SP . Brasil Tel. e Fax. (5511) 3539-0226 – Televendas 3539-0225 www.annablume.com.br
CDD B869.1
Sumário
Apresentação: Heterodoxias do olhar (Ana Cristina Joaquim)
Toque a lírica das tulipas entre os dedos.
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sinta o cheiro, diego (Adriana Zapparoli)
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Sem açúcar (Ana Tanis)
29
Pomba albina
32
Conversa de bar Pomba imperial
31 33
Gasosa 34 Insight 35 Bolhas de solidão
36
Poema histérico e a função referencial
38
Uma tarde em uma praça
37
Fenda 39 Desmaio 40
Silenciosa 41 Ponte aérea
42
Apesar 43 Caçando gambuzinos no passo de guanxuma (Ellen Maria)
45
No reino das palavras
48
Condição menor igual a dois
50
Amor 47 Formato mínimo
49
Sonno 52 Yo quisera que el agua del lago
53
Cena 1: o crime perfeito
55
Entre quatro paredes
54
Literatura 56 Espelho (white lies for dark times)
57
Pra chamar de meu
59
Referenciales 58 Vaca.............atolada 60 Pé-de-cabra ou rabo de saia – eis uma dúvida cruel! (Érica Zíngano)
61
Livro dos sintomas/cura do receituário (Francine Jallageas) 79 Ah, oceano cavalgadura ( Júlia de Carvalho Hansen) Os guardas dormem na fronteira Memória escolar
99
101 102
Quem fundou esta cidade
104
Temes a noite
108
O amor gasta
Enquanto ele fala sobre um furacão e a força
106
repentina que é nascer eu
109
Nem gente nem parafuso
112
Microclima ( Juliana Amato)
113
Caverna 110
Este é o meu resquício
115
Dois poemas, duas aulas
117
Quando alguém diz isso é verdadeiramente belo Essa é a história de Os desejos mudam
(Poema referencial de um outro citadíssimo) Depois da conversa sobre mãos Parar para não
Um dia eu vi um homem andando
Poema para tirar Laura Erber da cabeça Estávamos num baile
Uma mão branca. Não.
Poema vulgar e de malgosto Que descobre o seu covil de sombras
116 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127
(Marceli Andresa Becker)
129
Das irmãs I
135
Memento Mori II Das irmãs V
131 139
Das irmãs VII
141
Sonhos III
145
Erguer telhados com as duas mãos Sonhos IV Sonhos V Poética I
143 146 147 149
Pelos grandes bulevares (Marília Garcia)
151
Olho vigilante
154
Escorpiões e a esquiva
158
Aquário 153 Um carrossel na cabeça Uma mulher que se afoga Pelos grandes bulevares
156 159 160
Quase 162 Um par de havaianas verdes no aeroporto Schönefeld de Berlim 164 Alquimia das farpas sob os lábios (Roberta Ferraz)
171
Ronda de abertura
173
Ofício menádico I
176
A sibila
Ofício menádico V
Ofício menádico VII
Saturação de saturno I
174 177 179 180
0 183 O agrimensor
184
Carta de 31 de dezembro
186
Densa umidade e castanhas
185
Fissura
Evana Komaris Palíndromos, haikais e outros brinquedos (Sofia Mariutti)
187 188
189
Reversos 191 Tresversos 195 Conversos 198 Poema 202
Heterodoxias do olhar
1. Arruinar a perspectiva como factor da realidade, projectando as formas para
fora de si mesmas, deslocando-as de maneira que surjam reestabelecidas, quando vistas de um ponto determinado, tal é a técnica alucinatória da
perspectiva anamorfótica (...). Há também uma perspectiva mental anamor-
fótica, ou seja, a depravação da perspectiva lógica. O cerne da visão poética
é o . A poesia não é uma revisão das coisas, mas a
visão pura, inaugural. Natália Correia
Entre os diversos caprichos do olhar encontram-se aqueles que pensadores das mais variadas áreas do conhecimento (médicos, legisladores, pedagogos, etc., etc., etc.) nomearam e classificaram, resumidamente, em duas espécies: os possíveis e os impossíveis. Importa salientar que essas duas espécies diferenciam-se apenas pelo possuidor do olho: as suas disposições para o delírio formal e imagético, a oscilação de pendores estéticos e morais que o torna mais ou menos permissivo, a capacidade de (in)submissão a ordens
de pensamento previamente estabelecidas, e um sem número de outros fatores. Na tentativa de evidenciar essas abstrações e as suas relações com este livro, começo por dizer algumas palavras sobre a abrangência da perspectiva que confere à linguagem um poder quase divino, a saber, aquele de criar mundos possíveis – expressão que tomamos emprestada de Paul Ricoeur. Essa perspectiva tem como base a noção da capacidade potencialmente infinita de relações entre os diversos níveis da linguagem (considerando-se, para além da linguagem verbal, também a visual e a sonora); noção essa, possibilitada por alguns estudos, especialmente, aqueles desenvolvidos durante o século XX pelo estruturalismo e pela nova hermenêutica. O que realmente interessa colocar em destaque é o fato de que, ao conferir à linguagem o poder de criação de novos mundos, opera-se com o resultado artístico dessa criação como sendo uma manifestação mais ou menos autônoma em relação ao mundo da linguagem corriqueira. Mais ou menos autônoma, pois parte deste mundo e volta a ele, sem que, no entanto, tenha de prestar contas aos possíveis e impossíveis que a linguagem médica, jurídica, didática ou meramente comunicacional prescrevem como norma. Nesse sentido, encontram-se neste livro, a um só tempo e mediante uma única definição, os possíveis e os impossíveis caprichos do olhar, de tal modo que a designação contrastiva torna-se frívola, pra não dizer inútil: tudo são possíveis, tudo são impossíveis.
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2. mis pupilas grandes polen lleno de abejas
(...) mis pupilas coloreadas agua definida (...) mis pupilas salientes callejón preciso Alejandra Pizarnik
Trata-se de fazer ver, em alguma medida, um esboço geográfico e temporal: a poesia brasileira da última década, caracterizada pela heterodoxia formal e temática. Esta seleção redunda, assim, numa tentativa de mapear algumas das vias estéticas resultantes das mais variadas adesões literárias ou, mais além, discursivas. Daí as filiações de fundo que se vão reconhecendo ao longo do livro, mediante o cruzamento dos discursos: - o poético e o médico/biológico (Adriana Zapparoli) – experiência escatológica: a anatomia da palavra, a palavra dissecada para que se faça ver as suas entranhas; - o poético e o corriqueiro (Ana Tanis) – reiterando a poesia que há e que sempre pode haver: um modo de vida; - o poético e o idiomático (Ellen Maria) – muda-se a língua sem mudá-la de fato, e o leitor de poesia sempre lê na língua materna, daí que a poesia é a língua materna (ou, mais ou menos como disse Perfecto Cuadrado, mudar de língua sem mudar o destino maior de qualquer língua: a poesia). - o poético e o plástico/fenomenológico (Érica Zíngano) – “engraçado que ler um poema pode ser como ver uma pintura, digo [ela me diz], em relação à luz...”; - o poético e o filosófico/contra(?) psicanalítico (Francine Jallageas) – a palavra como doença, a palavra como cura (a mesma palavra...);
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- o poético e o mnemônico, o geográfico, o amoroso ( Júlia Hansen) – espaço que é também tempo, que é também troca intersubjetiva: elaborações vertiginosas; - o poético e o pop, o poético e o dramático ( Juliana Amato) – esse espantoso talento de tornar o comum no incomum ou a invenção da comunidade, já que, sim, nos reconhecemos e participamos, e propriamente como atores na cena que decorre no ato da leitura; - o poético e o sublime (Mar Becker) – “Num intervalo, descubro, se tivesse de explicar a alguém, o lugar do erotismo e da morte no que escrevo (mas é mais autoexplicação que explicação): a dor do discurso esburacado se materializa na dor da boca vazia. A dor da boca vazia, por sua vez, se materializa no poema. Ali há o nosso desespero, o de tentar dizer o esburacamento e só conseguir fazê-lo por um pseudopreenchimento: o da folha, o da escrita.”; - o poético e o geográfico (Marília Garcia) – um mapa, um itinerário, um destino que pé ante pé se vai revelando pela palavra percorrida; - o poético e o místico/religioso (Roberta Ferraz) – com tanta força investida a conexão que se refaz e funda: a palavra; - o poético e o lógico/matemático (Sofia Mariutti) – a palavra feita geometria sonora, o espaço do fonema na página, o cálculo preciso, precioso. O poético e o poético, por fim, naquilo que mais amplamente se possa reconhecer enquanto poesia. Pois que a unidade poemática se manifesta de múltiplas formas para além das estruturas que stricto sensu a definem: verso? estrofe? rima? metrificação? sujeito lírico? Há também, mas não apenas. A despeito das sugestões de cruzamentos discursivos que aqui apresento, que essas onze poetas sejam lidas por meio de outras combinações, desde um ângulo qualquer, de certa distância – e depois de outra – mediante um instrumento óptico, lentes especiais, um espelho curvo: “olho selvagem” que pode também ser o do leitor. Tome-se isso, ainda, como justificativa da escolha do título: Anamorfoses, e forme-se de novo e sempre (como indica a etimologia). Heterodoxias do olhar. 14
3. Entra na maneira de eu mostrar o poema (...) Entra como um volume sem vento Luiza Neto Jorge
Não menos heterodoxa é a escolha do vocábulo que enfim se justifica: ‘poetas’ em detrimento de ‘poetisas’. Ressalto: não se trata, tal como consta no dicionário, do substantivo masculino, mas sim do substantivo comum de dois gêneros, exatamente como a palavra tem sido usada por algumas mulheres escritoras que, pelos mais diversos – e polêmicos – motivos optaram pelo termo que acaba por funcionar, semanticamente, como neutro, ou seja, que não apresenta a marca de gênero. Tanto quanto viável, escolha não ideológica, ou melhor: tanto ideológica quanto possa ser a expressa adesão a uma noção do poético enquanto espaço transversal, que confunde ideologemas e subverte alguns dos caprichos do olhar (em especial, aqueles que prescrevem a distinção entre os possíveis e os impossíveis; afinal, é sempre possível uma poeta que manifeste o sujeito lírico no masculino). A obviedade de que se carrega essa possibilidade de linguagem, nada mais faz do que apontar para a sua possibilidade. E o ponto mais alto dessa possibilidade cá está: Poesia, Anamorfoses do olhar. Toda essa heterodoxia, porém, não foi de onde se partiu; ao contrário, é aonde se chega. Basta dizer que mediante a coerção inicial de publicar algumas das poetas que hoje vivem e escrevem, pedi que me enviassem o maior número de poemas de que poderiam dispor naquele momento. Feito isso, seguiu-se a seleção, em nenhum momento, condicionada pela problemática dos gêneros – embora essa abertura inicial possibilitasse a lide com eventuais militâncias ou engajamentos – isto é, deixando falar a quem detinha a fala, percorrendo por entre os caprichos.
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Eis então a seleção que, como os leitores terão a chance de observar, não apresenta nenhum traço de poesia engajada/feminista, embora a mulher se faça ver mediante muitos aspectos (infinitos, arriscaria dizer, dada a complexificação característica de visões não estereotipadas do feminino e do humano). Fator inclusivo, já que mesmo as feministas poderiam derivar daqui qualquer abertura.
4.
Afinal a Discípula tropeçou nos olhos do Mestre.
A Discípula estremeceu de novo. Até treme mesmo. Ana Hatherly
Por fim, algumas palavras de agradecimento aos mestres Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, pela viabilização editorial da publicação e pela assiduidade no processo; Paola Poma, pela confluência, pelos conselhos iluminadores; Alexandra Ramires, pelas ilustrações; Isadora Reimão, pelo desenho assombroso e pela montagem da capa; e, especialmente, às poetas Adriana Zapparoli, Ana Tanis, Ellen Maria, Érica Zíngano, Francine Jallageas, Júlia de Carvalho Hansen, Juliana Amato, Marceli Andresa Becker, Marília Garcia, Roberta Ferraz e Sofia Mariutti, pela chance de lê-las tão de perto, pelo diálogo promovido, pela confiança depositada.
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