Animação socio... quê? - Mitos e angústias em torno da denominação e do conceito de Animação Sociocultural

September 7, 2017 | Autor: Mário Montez | Categoria: Animación sociocultural, Animação Sociocultural
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Animação socio... quê? - Mitos e angústias em torno da denominação e do conceito de Animação Sociocultural1

Mário Montez Animador sociocultural e docente na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra [email protected]

Resumo: Duas discussões sobre Animação Sociocultural persistem no tempo. Uma suportada na ideia de que Animação Sociocultural não tem reconhecimento institucional e social, outra baseada nas controvérsias relativas à denominação Animação Sociocultural. Com base na minha experiência de animador, formador e docente de Animação, exploro estas problemáticas num texto que pretende contribuir para a clarificação destes problemas para que não mais se perpetuem e que se resolvam definitivamente.

Animação, animações e outras discussões

Em volta de uma mesa de uma esplanada de Coimbra alunas finalistas, antigos alunos tornados profissionais e docentes de animação de gerações distintas discutiam sobre animação sociocultural, animação social e animação socioeducativa. Aconteceu isto numa calorosa noite de Julho de 2014 mas para alguns de nós tratava-se de uma discussão que nunca deixou de existir. No regresso a Lisboa retirei da mochila um livro de companhia para a viagem de autocarro que me foi oferecido em Varsóvia: “The Social Animator: role or profession”, escrito em 2005 no âmbito do projecto europeu School of Social Animators, realizado por organizações da Polónia, Alemanha, Lituania e Reino Unido. Entre as linhas do texto eclodiam reminiscências de discussões sobre o termo Animação Sociocultural, acontecidas desde os primeiros congressos da ANASC, nos anos 90, até recentes momentos entre colegas de outros países.

1 Publicado na Revista Práticas de Animação. Ano 8, nº 7. Outubro 2014. (pp. 7-17) ISSN: 1646-8015. https://sites.google.com/site/revistapraticasdeanimacao/

Retomo aqui um debate clássico em torno da denominação da metodologia social a que chamamos de Animação Sociocultural, impelido pela percepção de que se discute este tema tão intensamente agora como há vinte anos, quando iniciei a minha actividade de animador. Em recentes discussões com jovens animadores e animadoras que se têm destacado no panorama da Animação Sociocultural, assim como com estudantes e antigos e antigas profissionais de Animação, tenho-me deparado com dois temas que assolam ainda os pensamentos e angústias de profissionais e estudantes da nossa área. São eles: - O desconhecimento do que é a Animação Sociocultural. - O problema da denominação Animação Sociocultural. Ambos os temas se encontram emparelhados e em estreita relação. Um nunca surge sem o outro. Por algum motivo para o qual ainda não encontrei explicação, os jovens aprendizes de Animação (abarco assim todas as categorias de quem aprende animação) têm herdado o que chamo de “mito do desconhecimento da Animação”. Ao mesmo tempo perpetua-se, em Portugal, um trauma em relação à denominação (ou à complexidade da denominação) de Animação Sociocultural. Tratemos então nas próximas páginas as duas questões em debate.

O mito do desconhecimento da Animação

Aquilo que considero ser o “mito do desconhecimento da Animação” consiste na ideia que a maioria dos estudantes têm de que “ninguém sabe o que é a Animação; pensam que somos palhaços”. A frase repetidamente proferida por estudantes reflete o seguinte: Há uma ideia generalizada de que as várias organizações, perante as quais a Animação pretende ser reconhecida e no seio das quais é desenvolvida (desde a administração central às instituições locais de acção social), não conhecem a Animação enquanto metodologia social. Desmistifiquemos então este mito, envolto tanto em ignorância de quem o proclama como nalguns factos reais que são, felizmente, cada vez mais raros.

Animação e as organizações

Em primeiro lugar, não acredito que as organizações tenham capacidade cognitiva ao ponto de, por si só, serem capazes de conhecer ou não conhecer algo. Isto é: as organizações são compostas por pessoas e são as pessoas que as compõem que, aparentemente, não conhecem ou nunca ouviram falar de Animação. O comum argumento sobre esta questão faz ouvir a clássica demagogia de que “confundem-nos com palhaços”. Embora nalguns casos possa esta comparação ser honrosa, o facto é que este argumento é, na sua generalidade, falacioso. Admito que há pessoas nalgumas organizações que não conhecem ou não sabem concretamente em que consiste a Animação Sociocultural. E admito que haja pessoas, cujas actividades profissionais ou interesses pessoais não se inscrevem nos âmbitos sociocultural ou educativo, e que por isso ignorem esta metodologia social. No entanto, é relevante o número de organizações do sector público e do sector privado não lucrativo que têm contemplado nas suas acções a Animação, os animadores e as animadoras. Reconheço que nem sempre a apropriação que estas organizações fazem do trabalho de Animação esteja sintonizado com os princípios e valores da Animação Sociocultural. Infelizmente esta é uma realidade que abrange tanto estas organizações como estabelecimentos de ensino e programas de formação nesta área. Contudo, defendo que o panorama do conhecimento e esclarecimento relativo à Animação, assim como aos seus âmbitos, tem sofrido uma vigorosa evolução. Em 1996, quando terminei o bacharelato em Animação Cultural, no ISCE, era notória a falta de conhecimento das organizações e da população em geral sobre a Animação (à excepção de uma certa franja de agentes sociais e culturais do pós 25 de Abril). Em 2001, quando terminei a licenciatura em Animação Socioeducativa, na ESEC, a realidade era já bem distinta. Em 1999 integrei como animador sociocultural uma equipa do Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza, num projecto liderado por uma autarquia e outras organizações. Já em 2008 fui contractado para desenvolver trabalho de animação sociocultural e dinamizar esta área profissional numa distinta instituição nacional de cariz social. Em vários contextos profissionais por onde passei senti o reconhecimento da necessidade do trabalho de animação e

testemunhei o empenho das organizações na inclusão da Animação Sociocultural nos seus âmbitos de intervenção. Se os anos 60 e 70 do século XX contribuíram para o desenvolvimento e actuação da Animação Sociocultural em contextos não formais, os anos 90 do mesmo século e a primeira década do século XXI contribuíram muito para a promoção da Animação Sociocultural em contextos formais e organizacionais, através da integração de animadores em programas estatais e autárquicos de âmbito social e educativo, e de organizações não lucrativas de base local (LOPES, 2006, pp. 264-311). Ao mesmo tempo criaram-se inúmeros cursos de formação técnico-profissional em Animação e, pelo menos, 9 cursos superiores na área da Animação de onde têm saídos centenas de alunos e alunas por ano.

Reconhecimento internacional da Animação Sociocultural A nível internacional tenho encontrado, em várias pesquisas e em viagens de trabalho

realizadas,

um

alargamento

do

conhecimento

da

Animação

Sociocultural por todo o mundo, inclusivamente no mundo de influência britânica e do norte da Europa, onde as metodologia mais semelhante à Animação Sociocultural se denominam de Community Work, Community Development, Community Learning ou Social Pedagogy. Autores como Francis J. Berringan (Reino Unido), Marcus Foth (Australia), Zofia Dworakowska e Magda Dudkiewicz (Polónia), Leena Kurki (Finlândia), exploram a Animação Sociocultural no contexto das suas intervenções e investigações. Pode-se até ir mais longe e descobrir que no final do século XIX nos Estados Unidos da América foram organizadas acções de intervenção social (de natureza educativa e caritativa) através de jovens animadoras (HESS, 1983). O facto de que Saul Alinsky, conhecido organizador (animador) comunitário dos anos 60 do século XX tem sido associado à animação sociocultural (a tradução do seu livro Rules for Radicals para francês é Manuel de l'Animateur Social) é relevante para a expansão da Animação a outras áreas do globo e ao longo da história. Encontram-se também facilmente referências à Animação Sociocultural em artigos,

páginas da Internet e cursos universitários de países como Reino

Unido, Austrália, Polónia e República Checa, entre outros, que tradicionalmente não utilizam esta metodologia.

Esclarecer e promover a Animação Sociocultural Desconheço a que se deve a herança deste mito e a sua crença pelas gerações mais novas de animadores e de aprendizes de animação mas aconselho que tal seja analisado e relegado para um outro plano: o da história da Animação Sociocultural em Portugal; pois deve ser encarado como sentimento do passado e não do presente. Devemos, no entanto, atentar aos singulares casos perante os quais esta crença poderá ainda fazer sentido e actuar no sentido de clarificar a Animação Sociocultural no que respeita ao seu conceito, fundamentos e âmbitos de intervenção e mostrar-mo-nos disponíveis para acompanhar, supervisionar e avaliar projectos de Animação. Um passo essencial a dar é o de esclarecer as organizações, os seus decisores e a classe política sobre as potencialidades da Animação Sociocultural para o desenvolvimento social, cultural, educativo e económico das comunidades e da sociedade em geral. Para isto necessitamos de pesquisar resultados concretos e avaliáveis do trabalho de Animação por todo o país. Ao mesmo tempo devemos ter consciência de que nem sempre os valores que estão na génese da Animação (emancipação das comunidades; afirmação de identidades; tomada de decisão Bottom-Up; etc.) convivem pacificamente com os poderes políticos e institucionais. É natural a resistência destes à Animação, pelo seu carácter ideológico; é também natural o seu aproveitamento, pelo carácter técnico e mobilizador. Emerge desta relação um debate igualmente muito sentido na Animação, tecido sobre diversas sensibilidades,

antagonismos

e

conflitos

intrapessoais

que

permite

compreender a existência de dois contextos do trabalho de Animação: o contexto institucional e o contexto não formal ou comunitário.

Avaliar as práticas de Animação Outra questão relacionada com o “mito do desconhecimento da Animação” é a clarificação do que são as práticas da Animação Sociocultural e de que forma contribuem

realmente

para

o

desenvolvimento

de

uma

sociedade;

principalmente de uma sociedade contemporânea fundada nos princípios da rentabilização dos recursos e do tempo. Mas isso é campo de outra discussão, muito mais complexa e para a qual não interessam tanto as palavras certas mas sim o contributo dado pelas práticas, resultados e reflexões dos animadores e animadoras, assim como pela mudança social conseguida através da Animação sociocultural. Junto a isto uma chamada de atenção à quantidade

de

práticas

de

intervenção

social,

cultural

e

educativa

desenvolvidas por profissionais da Animação (e/ou de outras áreas de formação) que não são, efectivamente, acções de Animação Sociocultural. Devemos aqui não ter escrúpulos em avaliar as acções, projectos, actividades, estágios, e outras intervenções de forma objectiva, a fim de as filtrar e conseguir uma clara noção do que é a Animação Sociocultural e os seus âmbitos de intervenção. Por outro lado devemos debater e reconhecer, caso seja necessário, novos âmbitos da Animação, tendo em conta os novos espaços e dinâmicas sociais proporcionadas acolhendo-os

na

morada

da

Animação

pela Internet (Viché, 2011), Sociocultural,

depois

de

se

compreender que são e porque são âmbitos da Animação.

Em suma, devemos encarar com toda a certeza a Animação Sociocultural como uma metodologia em expansão global. Actualmente, o termo Animação Sociocultural é bem conhecido das organizações sociais, culturais e educativas, assim como de uma grande grupo da sociedade, a nível nacional e internacional.

Pelas

razões

demonstradas

torna-se

completamente

inapropriado continuar a acreditar numa Animação Sociocultural vítima da ignorância das organizações, não deixando espaço para a perpetuação do “mito do desconhecimento da animação”.

A terrível denominação

O segundo tema em debate, que como referi surge a par do anterior, ou viceversa, prende-se com a denominação Animação Sociocultural. Ou com a adequabilidade desta denominação num contexto contemporâneo em que o termo Animação tem outras conotações. Efectivamente, o termo animação tem actualmente um leque abrangente de compreensões, desde as clássicas

acepções relativas a entretenimento até à actual animação cinematográfica e digital. Como sabemos, qualquer um destes significados de animação está correcto e prende-se com a ideia de dar vida a algo inanimado.

Animação e Animações Tem-se discutido a pertinência da denominação Animação Sociocultural a par da fragmentação criada, principalmente pelos estabelecimentos de ensino superior, na nomenclatura dos cursos de Animação disponíveis na sua oferta formativa. Neste cenário encontram-se os mais variados nomes de cursos atribuídos à Animação, desde os que mantêm coerência com os âmbitos da animação até outros, compostos com outros nomes relativos a acções complementares ou mesmo inerentes à Animação Sociocultural (ex: Animação Socioeducativa; Animação Cultural e Educação Comunitária; Animação e Intervenção Sociocultural). Varrendo com o olhar uma lista de cursos destes estabelecimentos de ensino, facilmente se reconhecerá esta diversidade. Não é este um problema meramente português, pois encontrei-o também noutros países, mas parece-me que temos sido capazes de suplantar ainda mais o nível de confusão. Por outro lado é também necessário distinguir o nome de um curso da denominação de uma metodologia. Pode-se criar um curso com um determinado nome cujos ensinamentos se dirijam à Animação Sociocultural sem que seja necessário o curso ter o nome de Animação Sociocultural. No entanto esta diversidade pode, realmente, gerar confusão numa área cujo conceito e reconhecimento das práticas na sociedade em geral não é ainda totalmente claro.

Foquemo-nos agora somente nas denominações mais utilizadas para referir acções e a formação em Animação Sociocultural: Animação Sociocultural; Animação Cultural; Animação Social; Animação Socioeducativa; Animação comunitária; Animação territorial. Conhecendo a raiz da Animação e pela sintonia entre vários autores, facilmente se reconhece que esta metodologia social se desenvolveu com o nome de Animação Sociocultural devido à acção de reavivar ou animar grupos e comunidades nos âmbitos cultural, social e educativo (GILLET, 1995; VENTOSA, 2002; TRILLA, 2004; LOPES, 2006).

A dúvida que surge frequentemente é sobre o porquê de o termo “educativa” se encontrar excluído da denominação (mas não do conceito). No entanto, qualquer uma das denominações acima diz respeito a um, ou mais, âmbitos da Animação Sociocultural (VENTOSA, 2002; TRILLA, 2004). Tenho encontrado, em vários países, todas as mesmas preocupações em volta da denominação de Animação Sociocultural e a discussão sobre qual parece ser a mais adequada e a mais correcta.

Questões em redor de uma denominação complexa Conheço pessoas cujos nomes próprios ou de família se escrevem de formas estranhas ou até muito diferente da que os progenitores pretendiam; por vezes, compõe-se de forma estranha devido a uma conjugação de cada nome que cada

um

dos

progenitores

pretendia.

Originam-se

assim

bizarras

denominações. Essas pessoas transportam a estranheza do nome pela vida fora, ao longo de relações e vivências. Talvez se questionem sobre ele; talvez ponderem alterar. Mas não deixam de ser elas próprias e, por vezes, a estranheza ou a estória do nome, atribui-lhes um carácter peculiar, tornando-se até pilar das suas identidades. Terá sido a Animação Sociocultural um caso de “mau registo civil”? Ter-se-ia pretendido baptizá-la de Animação Sociocultural e Educativa? Ou somente Animação Social? Ou, quem foram os responsável por lhe chamar apenas Animação Cultural ou Animação Social? Por muito que possamos pesquisar parece-me pouco interessante gastar tempo em torno de curiosidades que nos levarão a lado nenhum. Coloquemos então apenas duas questões: Será necessário um nome tão comprido e gerador de discórdia? Como poderemos afirmar a Animação Sociocultural, a nível global, se ela se apresenta com diversas roupagens e denominações?

Uma proposta, dois argumentos Uma proposta que se tem discutido é a de reduzir a denominação de Animação Sociocultural à de Animação Social, com base em dois argumentos: um que se sustenta na ideia de que a incidência na dimensão social inclui, por inerência, as dimensões cultural e educativa; outro que aponta para uma economia das palavras, simplificando assim a denominação para o reconhecimento social da

Animação, ao mesmo tempo que se englobam nesta denominação todas as outras dimensões. A partir daqui torna-se, nesta óptica, mais fácil ramificar a animação de acordo com os seus âmbitos e especializações. No lado oposto deste argumento alega-se que cada denominação da Animação Sociocultural enfatiza uma tipologia de acção, ou um âmbito da Animação, e considera-se que a Animação Social incide estritamente na intervenção social, no sentido de um trabalho social (social work), não abrangendo por isso as dimensões cultural e educativa.

Vantagens e desvantagens das duas opções Deixo aqui duas opções a discutir: Ou mantemos e assumimos o nome Animação Sociocultural ou simplificamos e rebaptizamo-la com o nome de Animação Social. Ambas as opções contemplam vantagens e implicam desafios. A vantagem da primeira opção é mantermos a denominação original, em harmonia com o contexto histórico em que a Animação foi gerada, uma vez que ela se encontra já em expansão a nível global, como referido anteriormente neste texto. O desafio é conseguir um consenso, também a nível global, sobre o facto de que a denominação Animação Sociocultural abrange todas as intervenções em diversos âmbitos, assim como todas as denominações de práticas que se orientem pelos princípios da Animação Sociocultural. A segunda opção traz outras vantagens que passam pela inclusão clara dos diversos âmbitos da Animação na denominação de Animação Social. A economia de palavras facilita a promoção da Animação no mercado laboral e na aceitação social. A denominação Animação Social como denominação “guarda-sol” engloba uma acção com pessoas, grupos e comunidades, nos âmbitos social, cultural e educativo e que se pode operacionalizar por meio de diversas especialidades e ramificações de acção ou intervenção, a que chamamos de âmbitos da Animação. O desafio desta opção passa por esclarecer que esta denominação não se trata de uma alusão directa ao trabalho social mas sim de uma metodologia social abrangente, na qual se integram claramente as dimensões cultural e educativa.

Propostas e considerações

Quaisquer que sejam as opções a tomar na procura de uma denominação e da promoção da Animação Sociocultural há que ter em conta a realidade mundial da Animação e não condicionar a discussão ou a decisão somente à realidade portuguesa. Decidir e agir com a visão ofuscada pela habitual névoa lusitana levará a uma “guetização” da Animação, reduzindo-a ao contexto nacional e ao consequente enfraquecimento do reconhecimento desta metodologia social para a qual o acompanhar da tendência internacional se torna muito importante. A acção da Animação Sociocultural é muito mais ampla do que aquela que se desenvolve em Portugal e as práticas que se realizam no nosso país são um importante contributo para o panorama global da Animação Sociocultural. Por isso o debate sobre estas questões deve ser aberto à comunidade internacional da Animação, aproveitando este contacto intercultural para desmistificar mitos diversos, nutrir e desenvolver saudavelmente a Animação Sociocultural como prática social globalmente reconhecida aos níveis académico, político e social. Este diálogo deve acontecer não só em congressos convencionais mas também em encontros de natureza não formal orientados por metodologias participativas e em sintonia com os valores que norteiam a Animação.

Notas finais

No tempo que separa o meu primeiro trabalho num ATL e o dia de hoje, assisti a uma grande evolução da Animação Sociocultural em Portugal. Não terá sido, eventualmente, a evolução projectada pelos movimentos sociais das décadas de 60 e 70 do século passado mas foi sem dúvida uma evolução muito significativa que inscreveu a Animação Sociocultural no panorama social, educativo e cultural da sociedade e das instituições portuguesas. Pouco sentido faz então que vinte anos passados sobre a animação daquele pequeno grupo de crianças de uma escola de Paço d'Arcos, persistam as mesmas discussões, mitos e angústias em torno da compreensão da Animação. Tal persistência dá a pensar no que terá falhado na educação dos aprendizes de Animação. Por isso quis aqui trazer contributos para o esclarecimento de mitos

e para a discussão sobre a necessidade de se atribuir uma denominação unânime a esta metodologia social; duas problemáticas que se acompanham mutuamente. Por entre tudo isto uma ideia persiste: a Animação faz-se animando. Uma vez iniciado este processo, ao qual Zeca Afonso apelava com “O que faz falta é animar a malta”, a Animação, seja ela qual for, afirmar-se-á, sólida, no panorama organizacional e social. Valerá então a pena manter vivos mitos e discórdias? Ao invés devemos remeter para o passado os problemas do passado, analisar o presente e trabalhar em conjunto na animação da própria Animação.

O trabalho realizado em vários contextos, desde os estágios curriculares à execução de projectos socioeducativos, culturais e de desenvolvimento local, assim como outros processos não formais de Animação, tem contribuído para a afirmação e para o reconhecimento da Animação enquanto metodologia de intervenção e de desenvolvimento social, cultural e educativo. Continuar a discutir perpetuamente a denominação e ainda considerar a Animação um campo desconhecido, é um erro que nos faz perder tempo para outros debates e auto-estima para enfrentar desafios; elementos potencializadores da Animação tão, ou mais necessários, hoje como há vinte anos.

Referências bibliográficas: GILLET, J-C. (1995), Animation et Animateurs: Le sens de l'action. Paris: L'Harmatan. HENZLER, P.; SKRZYPCZAK, B. (2005) The Social Animator: Role or Profession. School of Social Animators Project – European Union Socrates Grundvig Programme. Varsóvia: Centrum Wspierania Aktywnosci Lokanej CAL. HESS, R. (1983) Sociologia de Intervenção. Editora RES. LOPES, M. S. (2006) Animação Sociocultural em Portugal. Chaves: Intervenção. TRILLA, J. (2004) Animação Sociocultural: Teorias, Programas e Âmbitos. Piaget Editora.

VICHÉ, M. (2011) La Ciberanimación, una Acción Social Transforamdora; El Caso de #spanishervolution. Revista Práticas de Animação. Ano 5, nº 4. Outubro 2011. VENTOSA, V. J. (2002) Fuentes de l'Animation Sociocultural en Europa. Madrid: Editorial CSS.

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