Anotações sobre uma Teoria do Design

July 23, 2017 | Autor: Alexandre Oliveira | Categoria: Design, Sustentabilidade
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Teoria do Design: anotações, ponderações e reflexões

Anotações sobre uma Teoria do Design1 Oliveira, Alexandre Santos de; MSc; PUC-Rio/Fucapi/FAPEAM [email protected]

Resumo

O trabalho a seguir tem como objetivo discutir a possibilidade de uma teoria do Design, a partir dos textos de Gustavo Amarante Bomfim e Zaia Brandão, numa tentativa de análise comparativa da maneira como os autores posicionam-se acerca do processo de estabelecimento de uma teoria do Design culminando com o entendimento da relação entre teoria e prática ou teoria e empiria e entre os que “sabem” e os que “fazem” como condição básica para a existência, problematização e aperfeiçoamento da teoria do Design e da Educação.

Palavras Chave: Design, cultura, sustentabilidade.

Por uma teoria do Design Em seu texto Bomfim (1994) estabelece como objetivo contribuir para uma reflexão sobre a possibilidade de uma teoria do Design. Brandão (2002) por sua vez, tenciona desenvolver uma reflexão sobre a utilização da teoria no campo da Educação. Brandão, toma como ponto de partida o fato de que as mudanças no campo científico questionam a tradição de verdade que tende, segundo ela, à excessiva objetivação dos resultados da investigação. Bomfim, rememora aspectos da história da configuração de objetos para resgatar o conceito de práxis, à partir de uma ótica interdisciplinar, defendendo, no âmbito do Design, a existência, de uma série de conhecimentos oriundos de outros 1

OLIVEIRA, A. S. Anotações sobre uma teoria do Design In: 1o Congresso de Design do Amazonas, 2010, Manaus. Anais do 1o Congresso de Design do Amazonas. Manaus - AM: FUCAPI, 2010. Palavras-chave: ensino do design, teoria do design, epistemologia Áreas do conhecimento : Ensino do Design,Desenho Industrial Setores de atividade : Educação Referências adicionais : Brasil/Português. Meio de divulgação: Meio digital

Teoria do Design: anotações, ponderações e reflexões

campos do saber, proporcionando uma ausência de homogeneidade que favoreça a constituição de uma teoria do Design. Sobre esta questão Brandão, de certa forma, comunga com Bomfim pois, identifica na Educação, a recorrência a conhecimentos oriundos de tradições disciplinares consolidadas. A esse respeito, a autora denuncia o caráter reprodutivista do “discurso sobre teorias” redundando na pouca consistência e falta de tradição teórica no campo da Educação pois, a “sofisticação teórica” não esteve acompanhada do aperfeiçoamento dos instrumentos e referenciais analíticos necessários para dar conta de uma teoria da Educação. Ainda com relação à opção por recorrer à história, Brandão também o faz em sua discussão, apontando três momentos na pesquisa em Educação: a procura do estatuto de cientificidade, da identidade científica e da hegemonia teórica. Diferentemente de Bomfim, que optou por discutir o produto do trabalho do Design (o artefato) a autora, toma como referência as etapas de desenvolvimento da produção científica na Educação. Respeitados os devidos limites, os autores entendem que, ambas as áreas, no seu devir histórico, dependeram e continuam a depender de outros campos de saber para existirem como tal. No tocante à base, posicionamento e partido assumido na discussão, Brandão se escuda na tradição iluminista que atribui o valor da razão e exclui qualquer possibilidade de relativização das idéias por ela apresentadas. Bomfim, por sua vez, não o faz de forma explicita no entanto, observa-se uma certa tendência à relativização e a ausência de um partido ao longo da narrativa. Um tendência a um historicismo cientificista que pode estar relacionado à sua formação na Alemanha, local de difusão desta corrente de pensamento. Analisando os problemas relativos à constituição da teoria em seus campos de conhecimento, tanto Brandão como Bomfim concordam que a flexibilização das fronteiras entre as áreas de conhecimento e a própria flexibilização da “noção de verdade científica” (Brandão, 2002 pg. 62) ou ainda o caráter interdisciplinar do Design que busca fundamento na filosofia, na ciência ou na arte, indicam que tanto na Educação como no Design, a partir da ótica dos autores, a necessidade de perceber o conhecimento como algo provisório onde “teoria e práxis são parte de um mesmo processo” (Bomfim, 2002 pg. 20). No que concerne às noções entre teoria e prática, conforme explicitado por Bomfim, ou teoria e experiência, binômio apresentado por Brandão, observa-se que os autores concordam que essas duas dimensões do conhecimento são basilares para pensar tanto a Educação como o Design.

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Contudo, Bomfim (idem) enfatiza que “design não é a produção de evidências científicas, mas sua utilização na resolução de problemas específicos e práticos”, já Brandão afirma que a teoria é sempre hipótese se houver o reconhecimento dos limites deste conhecimento”. A partir destas afirmações observa-se que Bomfim toma partido e afirma, naquele momento, a inexistência e talvez a impossibilidade de uma teoria do Design, ao tempo que Brandão, questiona e coloca em suspensão a legitimidade daquilo que se convencionou chamar teoria da Educação. A comunicação entre os especialistas é uma preocupação recorrente nos autores aqui analisados, Bomfim de forma mais pontual, estabelece esta necessidade quando trata dos pressupostos necessários à criação de uma teoria do Design e Brandão dá a esta questão uma ênfase maior, quando discute o isolamento dos pesquisadores em “paradigmas”, ignorando o debate com áreas afins à educação ou ainda, a postura entrincheirada daqueles que detêm a “hegemonia teórica do campo”, fato este que começa a ser evidente no campo do Design nos dias atuais. Outra questão importante a ressaltar é o fato de que, no campo da Educação, Brandão defende a necessidade de avançar do “modelo paradigmático das “antigas” ciências da natureza para o modelo multiprogramático das ciências históricas e sociais. Bomfim, ao apontar os modelos dedutivos e indutivos como ponto de partida para a constituição de uma teoria do Design, esquece de considerar a dimensão intuitiva, apontada em seu modelo esquemático para explicar as categorias da ontologia clássica. É importante observar que, assim como Brandão incorre na armadilha de propor, de forma velada, um percurso ou caminho para o aperfeiçoamento das teorias do campo, Bomfim também o faz, em seu texto o leitor encontra mais que uma reflexão, ele efetivamente, estabelece e justifica os marcos para uma teoria do Design, a saber a indução e a dedução excluindo aquilo que ele denomina de intuição, como foi ressaltado anteriormente. Ainda no tocante a esta questão, quando o autor propõe os pressupostos para criação de uma teoria do Design, observa-se que essas duas dimensões (indução e dedução), aparecem entrelaçadas ao advogar a máxima de que uma teoria do Design deve ser interdisciplinar e transclássica, esta última perspectiva pode até se configurar contraditória às questões propostas anteriormente, no entanto, um exame mais detido desta questão, faz-se necessário. Em síntese, é possível entender que, tanto em Brandão como em Bomfim, existe uma preocupação com os caminhos da teoria em seus campos de saber: ambos, tem uma

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consciência crítica com relação aos problemas, limites e possibilidades da teoria. Conseguem, de forma efetiva, entender a relação entre teoria e prática ou teoria e empiria e entre os que “sabem” e os que “fazem” como condição básica para a existência e problematização da teoria do Design e da Educação.

Referências BOMFIM, Gustavo Amarante. Sobre a Possibilidade de uma Teoria do Design. Estudos em Design, v.2, n.2. Nov. 1994 – Anais P&D Design, 1994. BRANDÃO, Zaia. A teoria como hipótese. In Pesquisa em Educação: conversar com pósgraduandos. Rio de Janeiro: Loyola-PUC-Rio, 2002

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