Antagonismos entre Aliança do Pacífico e Mercosul

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12/07/2015

Antagonismos entre Aliança do Pacífico e Mercosul, por Guilherme Moreira Leite de Mello | Boletim Mundorama

Antagonismos entre Aliança do Pacífico e Mercosul, por Guilherme Moreira Leite de Mello            

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1.            Antagonismos  nos  modelos  de  integração  e  desenvolvimento  econômico  entre  Aliança  do Pacífico e Mercosul A predisposição à abertura de uma nova estruturação latino­americana sintetiza o significado prático para o surgimento de novas alianças que, através da cooperação, visionam uma ideologia neoliberal de nível plurilateral. A existência deste novo ator, a Aliança do Pacífico, concretiza a perspectiva, mesmo que ambiciosa, do neoliberalismo presente na América Latina e a sua análise é resultado da urgência do  aparecimento  de  uma  alternativa  pragmática  e  de  inversão  em  frente  à  uma  América  Latina complexa e estagnada. A recuperação econômica, mesmo que ainda em percurso, da crise de 2008 e a crise institucional do Mercosul gravitam também como um dos indicadores do crescimento da Aliança do Pacífico. Estes indicadores são também responsáveis por criar tensões e divergências em relação ao Mercosul, já que estas conquistas foram obtidas em um espaço curto de tempo e revelam caráter promissor. 2.1              Fatores de diferenciação entre Aliança do Pacífico e Mercosul Na  tentativa  de  sinalizar  os  antagonismos  entre  Aliança  do  Pacífico  e  Mercosul,  faz­se  necessário segmentar estes fatores em categorias que abordam a política externa e comercial de cada bloco. Estes fatores podem ser destacados em quatro categorias respectivamente: a)      Simetria econômica relativizada da Aliança do Pacífico e assimetria mercosulina; b)      Potencialização da etapa do livre­comércio protagonizado pela Aliança do Pacífico; c)      Integração de mercados financeiros através do Mercado Integrado Latino­Americano (MILA); d)     Políticas protecionistas mercosulinas e políticas de flexibilização da Aliança do Pacífico. Puntigliano  (2013)  afirma  que  a  simetria  econômica  apresentada  na  Aliança  do  Pacífico,  a  não contiguidade territorial entre os países e o escopo liberal de integração, lideram um equilíbrio entre os membros do bloco, ou seja, não há clara liderança que venha criar desigualdades intra­bloco. O  segundo  fator  diferenciador  entre  os  blocos  apresenta­se  na  ameaça  que  a  Aliança  ao  Mercosul data:text/html;charset=utf­8,%3Cheader%20class%3D%22entry­header%22%20style%3D%22box­sizing%3A%20border­box%3B%20display%3A%20bl…

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representa no âmbito do livre comércio. O Mercosul enfrentou na última década uma queda de 10% de comercialização intra­bloco, enquanto a Aliança do Pacífico na cúpula realizada em Cali em 23 de maio de 2013, autorizou a liberação do livre comércio através da eliminação de 90% de suas tarifas, onde  os  10%  restantes  serão  distribuídos  nos  próximos  anos  (Declaração  de  Cali,  2013).  Isto representa  um  avanço  inesperado  ainda  não  observado  em  qualquer  bloco  latino­americano  nas últimas duas décadas e levanta suspeitas quanto a capacidade do Mercosul realizar o mesmo. Como terceiro fator, destaca­se a integração de mercados financeiros. O Mercado Integrado Latino­ Americano (MILA) é uma proposta que inclui a fusão dos mercados do Chile, Colômbia e Peru no âmbito da Aliança do Pacífico e visa facilitar investimentos estrangeiros, principalmente com países voltados  ao  pacífico.  Mesmo  que  o  México  ainda  não  tenha  aderido  ao  acordo,  sua  influência  nas negociações  de  adesão  incitam  o  interesse  dos  EUA,  e,  na  percepção  de  que  todos  os  membros  da Aliança do Pacífico possuem acordos bilaterais com os EUA, constata­se que esta parceria serve de ponte  para  o  estabelecimento  de  um  hemisfério  econômico  mais  interdependente  (Kotschawar  e Schott, 2013). Consoante Etoniru (2013) a relação da Aliança do Pacífico com os EUA aproxima a coordenação e o relacionamento  com  os  países  do  pacífico,  facilitando  a  proximidade  política  entre  os  mesmos  e estreitando laços imprescindíveis de flexibilidade econômica, necessária para o crescimento do bloco. O quarto e último ponto diferenciador, destaca­se como o fator do Mercosul investir excessivamente no  protecionismo  doméstico  enquanto  a  Aliança  investe  em  políticas  flexíveis  de  captação  de investimentos  estrangeiros.  O  informe  nº  17  do  Mercosul  emitido  pelo  Banco  Interamericano  de Desenvolvimento  (BID)  sobre  o  setor  de  integração  e  comércio  do  segundo  semestre  de  2011  e primeiro semestre de 2012, previu uma queda nas estimativas para o crescimento do comércio entre Brasil  e  Argentina  em  2012:  as  projeções  anteriores  que  indicavam  uma  expansão  de  3,7%,  foram revistas  para  2,5%  (BID,  2012).  A  política  protecionista,  não  flexível  e  complexa  do  Mercosul contribui com o impedimento da adesão de novos membros e este impedimento também influencia no poder competitivo de outros Estados em contribuir com o desenvolvimento do bloco. A tática de flexibilidade da Aliança do Pacífico tem funcionado como estratagema de uma evolução orquestrada  e  ferramenta  na  promoção  de  um  mercado  que,  apesar  de  representado  por  países  que ainda  procuram  solidificar  sua  política  externa  e  comercial,  mostra  resultados  favoráveis  pois  estes resultados  consistem  na  resiliência  e  predisposição  que  potencializam  a  competitividade  e  a atratividade de novos atores (ICTSD, 2012). Conclusão Conclui­se então que, diretamente, a Aliança do Pacífico mostra ser uma ameaça qualificada, pois esta nova  iniciativa  de  integração  mostra­se  efetiva  na  representatividade  em  frente  às  rotas  comerciais data:text/html;charset=utf­8,%3Cheader%20class%3D%22entry­header%22%20style%3D%22box­sizing%3A%20border­box%3B%20display%3A%20bl…

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asiáticas  e  norte­americanas,  no  seu  discurso  neoliberal  de  cooperação  e  proposição  de  um  livre­ mercado  e  livre­circulação  de  pessoas,  no  reposicionamento  estratégico  de  negociações  com  novos mercados e no seu potencial investidor. Em contraponto, o Mercosul se mantêm resiliente a estas ameaças, pois apesar da recente estagnação econômica,  o  bloco  aporta  uma  estrutura  institucional  estabilizada  onde  destacam­se  o  Conselho  do Mercado  Comum  (CMC)  e  Grupo  de  Mercado  Comum  (GMC).  Estes  garantem  estabilidade  diante procedimentos internos que mobilizam de maneira endógena seu caráter comercial e jurídico perante o  crescimento  de  seus  membros.  A  ausência  de  tais  propostas  estruturais  são  sintomáticas  na  ainda prematura Aliança do Pacífico. Indiretamente,  a  estratégia  da  Aliança  do  Pacífico  tem  criado  perspectivas  positivas  ao  cenário internacional  bem  como,  preocupações  para  o  Mercosul,  no  que  diz  respeito  à  amplitude  do  seu desenvolvimento cíclico. Torna­se irrefutável o fato de que, ao estagnar, o Mercosul há de enfrentar novas estratégias criadas por alianças que transcendem até mesmo o pacífico, na tentativa de catalisar e cooptar, em sua maioria, os benefícios das lacunas que esta estagnação cria. Da mesma maneira em que o Mercosul moldou­se à luz de uma União Europeia solidificada, a Aliança do Pacífico molda­se através  das  lacunas  que  o  Mercosul  vem  deixando  no  processo  de  desenvolvimento  econômico  da América Latina. O  ideal  neoliberal  que  a  Aliança  do  Pacífico  persiste  em  institucionalizar,  revela  que  o  coeficiente resultante entre os antagonismos que polarizam os dois blocos, perfazem­se por duas perspectivas. A  primeira,  reside  na  constatação  de  que  o  decréscimo  continuado  e  acíclico  do  Mercosul, descredibiliza  e  afasta  sua  sobrepujança  perante  outras  economias  latino­americanas  facilitando  o protagonismo  de  outros  blocos.  A  segunda,  esclarece  que  a  proposta  de  liderança  da  Aliança  do Pacífico, apesar de não ser declaradamente uma alternativa de substituição de qualquer outro ideal de integração,  flexibiliza  e  moderniza  cada  vez  mais  o  cenário  latino­americano,  representando  um protagonismo em construção. Doravante, este cenário que cada vez mais necessita de alternativas pragmáticas, concisas e objetivas, necessita da esperança que a Aliança propõe de alimentar iniciativas de desenvolvimento econômico, político e social que a América Latina, a luz da integração regional, necessita captar.

Referências bibliográficas BID  (2012),  Informe  Mercosul  nº  17.  Disponível  em: [www.iadb.org/intal/intalcdi/PE/2012/10675.pdf]. Acesso em: 10/12/2013. Declaração de Cali (2013), VII Cúpula da Aliança do Pacífico, realizada em Cali em 23 data:text/html;charset=utf­8,%3Cheader%20class%3D%22entry­header%22%20style%3D%22box­sizing%3A%20border­box%3B%20display%3A%20bl…

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de  Maio.  Disponível  em:  [alianzapacifico.net/documents/cali_eng.pdf].  Acesso  em: 01/10/2013. DABÈNE,  Olivier  (2010).  “Integrations  regionales  –  trajectoires  historiques,” Observatoire Politique de l’Amérique Latine et des Caraïbes (OPALC). Disponível em: [http://www.sciencespo.fr/opalc/node/675]. Acesso em: 02/12/2013. ETONIRU,  Nneka  (2013)  ‘‘Explainer:  what  is  the  Pacific  Alliance?’’  Americas Society/Council  of  the  Americas.Disponível  em:  [www.as­coa.org/articles/explainer­ what­pacific­alliance] Acesso em: 29/11/2013. ICTSD  (2012)  ‘‘A  Aliança  do  Pacífico:  tensões  entre  projetos  de  integração  na América  Latina’’,  Pontes,  No  5,  Volume  8,  Agosto  2012.  Disponível  em: [http://ictsd.org/i/news/pontes/142093/]. Acesso em: 24/11/2013. KOTSCHAWAR,  Barbara;  SCHOTT,  Jeffrey  J  (2013)  ‘‘The  next  big  thing?  The Trans­Pacific  Partnership  &  Latin  America’’,  Americas  Quarterly:  No  2,  Volume  7, Spring  2013.  Disponível  em:[http://www.americasquarterly.org/next­big­thing­trans­ pacific­partnership].  Acesso em: 02/12/2013. RAMIREZ,  Socorro  (2013)  ‘‘Regionalism:  The  Pacific  Alliance’’,  Americas Quarterly:  No  2,  Volume  7,  Spring  2013.  Disponível  em: [http://www.americasquarterly.org/content/regionalism­pacific­alliance].  Acesso  em: 02/12/2013. PUNTIGLIANO,  Andrés  Rivarola;  BRICEÑO­RUIZ,  José  (2013)  Resilience  of Regionalism  in  Latin  America  and  the  Caribbean:  Development  and  Autonomy (International ​ Political Economy). London: Palgrave McMillan. ​

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