Antiguidade clássica: a contribuição grega na formação da arte ocidental

June 2, 2017 | Autor: Catarina Lopes | Categoria: Art History, Art, Artes, História da arte, Grecia
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Antiguidade clássica: a contribuição grega na formação da arte ocidental

Escrever sobre a arte da Antiguidade Clássica, a arte desenvolvida na Grécia Antiga, é mais que dissertar sobre o desenvolvimento técnico, liberdade de criação e os conceitos de beleza que nela surgiram. É repensar toda a trajetória da cultura ocidental, revisitar e visionar imagens que pertencem a algo maior que nós mesmos, constituindo muitos dos pareceres que sobrevivem em nossa civilização contemporânea.
Muito do que se conhece acerca da arte produzida pelos gregos advém de cópias realizadas pela civilização romana. Estas cópias, normalmente em mármore branco, polido e etéreo, não correspondem à totalidade da estatuária produzida. Mesmo as grandes construções, que sobreviveram às intempéries, não têm toda a constituição original. Como escreve Gombrich em A História da Arte, as obras gregas eram de uma riqueza sublime, incrustadas de pedras preciosas, ornamentos, marfim e esmaltes em cores contrastantes. Cabe a nós apreciar a suntuosidade das formas e a expressão de cada detalhe que chegaram aos dias atuais.
A arte grega pode ser dividida em três períodos distintos, classificados como arcaísmo, clássico e helênico. Com características diversas, as fases demonstram o desenvolvimento da produção artística e arquitetônica, desde a influência das métricas egípcias, passando pela constituição da ideia do belo ideal e culminando na liberdade de criação e expressão da alma encontrada no helenismo. Muitas das obras, principalmente nos períodos iniciais não têm sua autoria credita. Considerados apenas artífices e trabalhadores braçais, os artistas só seriam reconhecidos como mestres entre o classicismo e o helenismo.
Diferentemente da arte encontrada na civilização egípcia, que servia à organização social e à religião, a arte grega foi criada por homens para os próprios homens. Porém, as primeiras representações escultóricas e pictóricas carregavam muito dos aspectos métricos encontrados na civilização do Nilo. Rígida e engessada, a produção arcaica postulava alguns padrões figurativos que exploravam a apresentação do corpo humano com cisões bem definidas. Esse aspecto é superado pelos artistas pouco a pouco, através da inserção de descobertas na representação da forma humana. Na arquitetura, o estilo Dórico – de linhas retas, predominando a horizontalidade sobre a verticalidade, colunas rígidas e grossas de capitel sem arabescos – era encontrado. O Partenon, templo localizado na Acrópole em Atenas, representa o período arcaico, transmitindo harmonia e leveza, criadas através de sua proporção matemática perfeita. A pintura é encontrada em ânforas, que até o momento têm apenas caráter utilitário.
A observação e a construção de conceitos humanistas, da ciência e da filosofia pouco a pouco transformou a representação grega, que toma aspectos mais voluptuosos. Durante o período clássico, a arte grega passa a representar o homem com contornos mais realistas. A observação da natureza e como o corpo pode externar aspectos da alma caracterizam a produção. A estatuária alcança proporções incríveis de realismo, deixando a formalidade herdada dos egípcios. As composições são harmoniosas e claramente calculadas para exaltar o belo. Há a idealização da natureza, o homem não é representado de maneira fiel, mas tem suas proporções e anatomia perfeitamente distribuídas, com rostos que beiram o plácido, de uma calmaria serena e eterna. Toda a expressão das cenas é exibida pelo corpo, que exalta os sentimentos e à alma. Apolo de Belvedere representa bem o período, como sua beleza calculada, sobrenatural e serena, que transmite poder e glória. Já na arquitetura, desenvolvem-se o estilo jônico – colunas mais estreitas, leves e trabalhadas, com capitel em volutas – que agrega movimento e perspectiva às construções. O conceito de obra de arte passa a existir dentro da civilização. Os artistas passam a ser procurados para a realização de grandes obras.
Durante o período helênico, a arte grega atinge o ápice de seu virtuosismo. A estatuária parece convidar as mãos a sentirem a maciez da pele dos indivíduos representados, tamanho realismo anatômico encontrado na escultura. São criadas obras que possuem identidade e retratam indivíduos de maneira idealizada. Há representações pictóricas de naturezas mortas e cenas de paisagens, que apesar de não apresentarem as estruturas de perspectiva – que serão desenvolvidas somente durante o Renascimento – são de beleza irrevogável. Na arquitetura encontra-se a fusão de elementos orientais, em função da extensão do território adquirido pela Grécia, que agregam voluptuosidade às construções. O estilo coríntio é trabalhado com ricos arabescos ornamentais. Certamente, Laocoonte representa as profundas mudanças ocorridas até então na arte grega. Mais que a representividade técnica atingida, a obra mostra o poderio do artista em demonstrar seu conhecimento expressivo, anatômico e artístico.
A contribuição grega para o desenvolvimento da civilização ocidental é imensurável. Rompendo com os paradigmas da arte ocidental, herdada inicialmente dos egípcios, a produção alcança outro patamar em fator de sua liberdade e da observação e apreensão da realidade. As obras carregam em si o cunho intelectual de toda uma cultura calcada na filosofia, racionalidade e humanismo.


Referências

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

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