Antiguidade Oriental: um desafio imprescindível para a verdadeira Universidade Brasileira

May 22, 2017 | Autor: André Bueno | Categoria: History, East Asian Studies, Ancient Near East, Teaching History, Orientalism, Oriental Studies
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BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI, Dulceli; NETO, José Maria [orgs.] Canteiro de Histórias: textos sobre Aprendizagem Histórica. União da Vitória/Rio de Janeiro: Edição Especial Sobre Ontens, 2017, p. 63-71.

ANTIGUIDADE ORIENTAL: UM DESAFIO IMPRESCINDÍVEL PARA A VERDADEIRA UNIVERSIDADE BRASILEIRA

André Bueno Prof. Adj. UERJ

Você não pode falar de oceano a um sapo das fontes, porque ele tem por limite o lugar onde mora. Não pode falar de gelo a um inseto do verão, porque ele é limitado pela vida curta que tem. Não pode falar do Caminho a um professor, porque é limitado por seus conhecimentos. Porém, agora que você emergiu da esfera estreita em que vivia e já viu o grande oceano, reconhecendo sua própria pequenez, posso falar-lhe dos grandes princípios. [Zhuangzi, séc. 4 aec]

Em todas as ocasiões que tive oportunidade de lecionar a disciplina ‘Antiguidade Oriental’, sempre procurei começar o curso instigando os alunos a entenderem por quais razões continuamos a aprender sobre Egito, Mesopotâmia, Israel... Uma das melhores brincadeiras era perguntar: ‘Qual a maior religião que surgiu no Ocidente?’, a que os alunos costumam responder, taxativos, que é o Cristianismo. Basta lembrar que o Cristianismo, assim como quase todas as grandes religiões de hoje, surgiu no ‘Oriente’. Esse ‘Oriente’ é

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absolutamente impreciso: ele engloba um conjunto de civilizações do ‘Próximo Oriente’, isto é, a região da Mesopotâmia, mas também o Egito, civilização africana nativa, a Pérsia, Índia... O aluno universitário aprende, pois, a lidar com uma imprecisão conceitual e geográfica profunda, que, quando tornar-se professor, reproduzirá aos seus alunos. O escopo, pois, de ‘Antiguidade Oriental’ tem sido menosprezado pelos currículos de história atuais, que insistem em modernizar-se abolindo o passado. Por mais contraditório que pareça, quando se fala em reformar o ensino de história no Brasil, costuma-se questionar a validade de ensinar esse aspecto da trajetória da humanidade – e ao invés de expandir os conhecimentos do aluno, ampliando e diversificado sua oferta de visões de mundo, tenta-se na verdade restringi-lo, encaixando-o em visões historiográficas absolutamente reducionistas. Como já afirmei em outras oportunidades, assim como é impossível falar de religiosidades sem entender o papel do Oriente, é impossível falar de política ou escravidão sem retornar a Antiguidade, e assim vamos... Quem insiste em perspectivas imediatistas da História, está quase sempre a correr o risco de acreditar que praticamente tudo foi inventado no século 19 pra cá, sem saber que os historiadores de Antiguidades já conhecem muitas dessas informações faz tempo. A história do pensamento se insere diretamente nesse ponto. A academia brasileira, de forma geral, aferra-se de maneira dogmática a crença de que a busca do conhecimento, instituído pela razão e guiado pela lógica, tem sua gênese na Grécia dos filósofos. Essa é uma visão eurocêntrica, basicamente criada no século 19, por pensadores europeus [com destaque para Hegel], que buscavam criar uma história do pensamento ocidental autônoma, original e imune a influências externas, a ‘Filosofia’. Ela tinha, como pressuposto fundamental, provar a dominância do pensamento europeu sobre o restante do mundo, numa época marcada pelo imperialismo e o colonialismo. Obviamente, esse debate tem

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profundas implicações e divergências, que se estendem para além do espaço previsto nesse texto. Todavia, não é exagero afirmar que a aceitação indiscutível desses paradigmas tem dificultado, sobremaneira, o próprio desenvolvimento do ensino de história, filosofia e ciências humanas no nosso país. A questão, pois, não é afirmar ou negar se a ‘Filosofia’ tem origem grega: afinal, a palavra, tanto como o movimento, surgiram na Grécia. O problema, mais amplo, é outro: é a atitude, convicta, de negar aos pensares ‘orientais’ a sua inserção no mundo das ideias da Humanidade. Para piorar essa visão excludente, a universidade brasileira mantém ainda uma tradição, herdada de suas raízes no ensino religioso, de ser o que poderíamos classificar de ‘devocional’: os eventos humanos acontecem apenas uma vez, e são miraculosos. O ‘milagre’ do pensamento grego é um desses raros eventos, sem paralelo na história da humanidade, como querem acreditar muitos autores. Mais uma vez, temos que nos perguntar o quão contextual é essa visão. Até o século 18, as civilizações mais desenvolvidas do planeta estavam na Ásia. Todas contavam com tradições intelectuais milenares, que nunca precisaram da Filosofia grega pra existir – e que continuam a existir hoje, apesar da Filosofia [agora, Ocidental]... Assim, precisamos nos perguntar o que estamos perdendo não estudando, devidamente, o ‘Oriente’.

Outras Raízes A universidade no Brasil, hoje, tem dado um novo valor ao papel da história africana, o que é gratificante e mostra uma luz de esperança no fim do túnel das ciências humanas. No entanto, a conexão da história africana com o Egito antigo, por exemplo, precisa ser relevada – sob o risco de cairmos nas questões sobre o ‘contemporanismo’ que citamos antes. Tal contribuição seria

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fundamental para mostrar, por exemplo, que os tão propalados mentores do pensar ocidental – os gregos – beberam diretamente nas fontes africanas e ‘orientais’, como eles mesmos nos informaram. Essa foi a parte que autores como Heidegger [ocidentalista, nazista e racista convicto], por exemplo, quiseram deixar de fora da história do pensamento: Platão, Pitágoras, os ‘présocráticos’, entre outros, perambularam pelo ‘Oriente’, em busca de conhecimento. Os gregos da Ásia menor, inclusive, não precisavam ir longe: estavam ao lado da Mesopotâmia, da Pérsia e de Israel, e podiam estudar com sábios dessas civilizações diretamente. O que parece interessante propor, portanto, é um entendimento histórico que privilegie um continuum do desenvolvimento do pensamento humano. Entender o que somos nós hoje, brasileiros, é compreender nossas raízes culturais européias, africanas e indígenas – e quanto as nossas matrizes européias, elas se fundem diretamente com os processos de trocas culturais estabelecidos com África e Ásia desde a mais remota antiguidade, e não somente [e apenas] depois do século 16.

Buscar identidades Nesse sentido, busquei, em experiências recentes, redimensionar a perspectiva pela qual trabalhava com ‘Antiguidade Oriental’. Usualmente, o conteúdo fundamental dessa disciplina centra-se na evolução humana em direção aos perímetros urbanos, a construção da política, a formação das tradições culturais e o início da organização do trabalho coletivo. Tais proposições são válidas, e mesmo indispensáveis, para compreendermos o cerne milenar das organizações humanas, desde sua passagem dos tempos neolíticos até o estabelecimento sedentário e urbanístico de algumas culturas. Procurei, no entanto, construir outro foco de abordagem para a mesma. Realizaríamos uma investigação em direção as suas formas

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de pensar, as suas expressões mais diversas no campo do pensamento, principalmente no que consistiam suas revoluções éticas. Tal experiência já havia sido proposta por Karl Jaspers [1949], com sua teoria da ‘Era Axial’ – período em que as civilizações do mundo antigo teriam presenciado o surgimento de sábios pensadores ao longo do eixo euro-asiático, que reformaram suas culturas e formas de ver o mundo. A teoria de Jaspers, embora válida em alguns aspectos, é difícil de ser sustentada atualmente por razões simples: ela é circunscrita temporal e espacialmente, se atinha a um conjunto específico de civilizações, e dependia de uma suposta sincronia contextual que hoje, sabemos, não existiu. No entanto, Jaspers atentou para alguns elementos importantes: as civilizações, em dado momento, encontram-se, pelas mais diversas razões, em momentos de reelaboração de sua racionalidade, ensejando uma resignificação da relação entre a tradição e a construção do conhecimento. Isso significa o seguinte: as civilizações não deixam de possuir os seus mitos porque alguns autores os desafiaram [mesmo os gregos não escaparam disso]. Porém, o desafio lançado por esses pensadores estimula uma mudança gradual no modo de ver o mundo, o que em alguns casos culminou, mesmo, na formação de novas visões religiosas. Arnold Toynbee [1972/1987] propôs que as civilizações passam por desafios existenciais – contextos de crise específicos, nos quais a capacidade de enfrentar as dificuldades e de se reinventar determina sua continuidade ou desaparecimento. Embora esse modelo possa ser criticado por sua universalidade genérica, ele nos chama atenção à possibilidade de mudança que afeta todas as civilizações. Retomando a ideia de Jaspers, mas com as devidas adaptações, não podemos, portanto, falar de Era Axial, mas sim, de um ‘Fenômeno Axial’, um episódio no processo de evolução histórica das sociedades

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e culturas em que essas são postas a refletir, pelas mais diversas motivações, sobre suas organizações e mentalidades. Embora esses modelos teóricos sejam relativamente antigos, eles estão sendo repensados em função das novas descobertas arqueológicas em curso, que tem comprovado um processo interativo, no mundo antigo, muito mais amplo do que se supunha. Ou seja, estamos diante de um novo quadro histórico, em que as relações culturais são mais dinâmicas, intensas e abrangentes, demolindo a perspectiva compartimentada da Antiguidade. As civilizações antigas se desenvolveram em interações umas com as outras – no contexto do Mediterrâneo, principalmente, a interação África-Próximo Oriente-Europa é impossível de ser dissociada – e crer ou insistir em um desenvolvimento autônomo e exclusivo para qualquer uma delas é, no contexto atual, uma tentativa infrutífera e superada. Desse modo, procuramos construir um outro expediente para abordar as civilizações ‘orientais’: uma busca para identificar suas conquistas intelectuais, suas contribuições para a história do pensamento humano, nos mais diversos ângulos, e que se encontrassem ainda presentes em nossas formas de pensar. Para isso, foi elaborada a seguinte metodologia: cada civilização receberia uma abordagem histórica do seu modelo civilizacional e, no seguir, seus textos sapienciais seriam colocados em contexto, permitindo observar como determinados conceitos éticos podiam ser inferidos e interpretados em cada uma delas. Privilegiou-se a construção de um panorama temporal anterior ao período clássico grego [ou seja, antes dos séculos 8 -7 AEC], no sentido de verificar o que já havia sido produzido nessas culturas, e que poderia ter sido transmitido aos filósofos gregos. Nesse processo, dois fenômenos foram percebidos: a construção de conceitos vero similares em culturas e contextos diferentes, ou a

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elaboração de conceitos e teorias próprias, em uma determinada civilização, em função de determinados desafios. Um amplo espaço temporal mostrou as dificuldades em afirmar qualquer sincronia nas produções intelectuais dessas civilizações; mas nem por isso, impossibilitou inferir suas múltiplas influências e trocas. Foram analisados: -Egito, e seus textos Ptah-Hotep e Amenemope [Xavier, 1968 e Araújo, 2000]; -Mesopotâmia [especificamente, Sumérios e Babilônios], com as Instruções de Shurupak e código de Hamurabi [Bueno, 2016 e Bouzon, 1986]; -Israel, a literatura profética e os livros de Sabedoria [Provérbios e Sabedoria]; -Pérsia, e os Cantos de Zaratrustra [Gaer, 1966]; -Índia, com os Vedas, os Upanishads e o Dhamapada [Xavier, 1972 e Yutang, 1958] -China, com o Yijing, e textos selecionados de Confúcio e Laozi [Bueno, 2009 e 2011]; Foi bastante revelador e gratificante constatar, por exemplo, que egípcios e sumérios já possuíam livros sapienciais muito antes do surgimento da ‘Filosofia’. A reflexão ética já estava estabelecida nessas sociedades, embora seus procedimentos lógicos estimulassem a ponderação, e não dedução, sobre certos princípios. Doravante, a constatação de outros elementos fundamentais ao pensar [quer sejam o monoteísmo hebraico, o dualismo persa, a universalidade e a transmigração da alma indiana, por exemplo] revelou um conjunto de contribuições históricas duradouras e originais, que foram gradualmente incorporadas aos debates do pensamento

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grego, e depois mediterrânico, no que culminaria com as fundações do ‘Pensamento ocidental’.

Dificuldades Não sem dificuldade, esse debate foi proposto e desenvolvido; há um condicionamento tão grande, relativo à concepção de herança eurocêntrica, que era comum a refutação, por parte dos alunos, dessas evidências textuais e materiais. As críticas mais comuns consistiam em: -argumentar que a filosofia, única e distinta de tudo mais, era um milagre ou conquista grega, recorrendo à teoria consagrada de modo tautológico e exclusivo; -aceitar tais proposições implicaria que ‘tudo que foi ensinado, então, seria mentira’ [ou seja, de que qualquer possível outra origem do pensar lógico não pode ser aceita] -aceitar tais proposições nos tornaria menos ‘europeus’, enfraquecendo a noção de cultura brasileira [aqui, são vários os pontos notáveis: a negação de que o diálogo e a troca cultural são enriquecedoras, a crença da ‘superioridade’ européia sobre o restante do mundo, a ideia de ‘degeneração’ da cultura brasileira se ela for mais ‘afro-asiática’, etc]. No mais, foi recorrente, em alguns casos, a pura e simples negação da literatura apresentada. Essa postura revelou a total insegurança, por parte de alguns, diante da possibilidade de repensar a formulação de uma nova identidade cultural, com matrizes diversas e amplas.

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Conquistas A identificação dessas dificuldades, porém, fez ressaltar o processo positivo de aquisição do conhecimento, e do desenvolvimento dos recursos e instrumentos de reflexão histórica e filosófica. Uma série de atividades foi elaborada, consistindo na apresentação e análise de documentos, em que os leitores eram estimulados a meditar e correlacionar os fragmentos com seus conhecimentos históricos e pessoais. Alguns cuidados foram tomados, para que as visões atuais não fossem projetadas diretamente sobre o passado, causando anacronismos. Por outro lado, alguns elementos conceituais puderam ser identificados, possibilitando um reconhecimento de valores, ideias e teorias que continuam a existir desde o passado, num longo e contínuo fenômeno de continuidade histórica. Evitou-se, igualmente, criar uma ideia homogenizadora do ‘pensamento oriental’, que induziria a um processo de associação imprecisa, recorrendo ao problemático quadro orientalista. As civilizações foram apresentadas distintamente, em suas especificidades, problemas e mecanismos culturais; sua originalidade, e suas respostas frente aos desafios históricos e naturais, foram colocadas em destaque, de modo a cristalizar uma concepção de autenticidade das mesmas. No entanto, pudemos com esse último recurso, enfatizar a presença do pensamento e da ação humana, o uso da razão, a criatividade no processo de desenvolvimento do conhecimento, demonstrando de forma clara que o fenômeno da construção do saber não era único, nem exclusivo, e nem se deu de uma só vez: mas sim, que ele foi múltiplo, variado, diverso, temporalmente amplo e intrinsecamente conectado aos dilemas e problemas que cada uma dessas civilizações teve que enfrentar. Esse quadro rico de possibilidades permitiu-nos, por fim, recriar o panorama do ‘Oriente’ de modo diversificado e desmistificado, desconstruindo a vaga concepção de unicidades generalizantes que

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usualmente acompanham o estudo das civilizações afro-asiáticas. Ademais, a oportunidade feliz de inserir a extensa dimensão histórica humana na restrita cronologia da história tradicional ocidentalizada, por si só, permitiu que os participantes da experiência pudessem constatar e visualizar a profundidade de suas ‘ausências’ no conhecimento historiográfico e na história do pensamento humano. A partir dali, o estudo das outras partes do mundo – notavelmente, África e Ásia – tornara-se indispensável.

Conclusões Essa experiência foi bastante reveladora no sentido de mostrar que o público universitário, por mais crítico e inovador que se proponha, traz consigo ainda uma série de preconceitos e construções históricas equivocadas e superadas, que se projetam sobre o modo como os cursos se desenvolvem e se estruturam. Notavelmente, porém, a academia – que deveria ser responsável por promover uma mudança nesse panorama – muitas vezes reproduz, também, teorias e modelos tradicionais, que contribuem para a permanência desses paradigmas problemáticos. Num contexto contemporâneo em que se prega a diversidade, o desafio de estudar a ‘Antiguidade Oriental’ revela que as raízes dos diálogos, das trocas e das mestiçagens culturais são muito mais antigas do que se supõe, e sobre suas experiências - bem ou malsucedidas -, as civilizações construíram o arcabouço sobre o qual, hoje, se debruçam em problemas e alternativas. Impossível de desprezar, sob o risco de tornar o suposto especialista em história num candidato a uma polida ignorância, a ‘Antiguidade Oriental’, em suas amplas perspectivas, continua a ser indispensável na formação do autêntico pensador de ciências humanas. E, a universidade brasileira, talvez disposta finalmente a assumir a diversidade dos pensares, precisa compreender, inequivocamente, o

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papel deste tão mal estudado ‘Oriente’ numa formação acadêmica mais completa, profunda e consciente.

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