António Augusto dos Santos (1850-1928) - fundador da Filarmónica de S. João de Areias

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! ! ANTÓNIO AUGUSTO DOS SANTOS ! 1850-1928 ! (Fundador da Filarmónica Fraternidade de S. João de Areias) ! por António Nunes da Costa Neves ! *

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Fig. 1 – António Augusto dos Santos, em 1903 (excerto de uma foto do arquivo da Soc. Filarm. de S. João de Areias).

No dia 20 de Setembro de 2015, integrado nas comemorações dos 140 anos da Filarmónica, a freguesia de S. João de Areias homenageou esta instituição nas pessoas dos seus “fundadores, directores, músicos e sócios que lhe deram vida durante estes anos”. O fundador da Filarmónica de S. João de Areias foi António Augusto dos Santos. Mas quem foi António Augusto dos Santos? Pouco se sabia sobre a sua vida! Graças a pesquisas efectuadas no Arquivo Distrital de Viseu (um agradecimento à sua directora e funcionárias), no Arquivo Paroquial de S. João de Areias (um agradecimento ao senhor padre Pedro Leitão), nos jornais antigos “O Norte do Mondego” (de S. João de Areias), “O Dão”, “Beira Alta”, “Sul da Beira”, “Beira” e “Santacombadense” (de Santa Comba Dão) à guarda da Biblioteca Nacional de * Artigo publicado no jornal Defesa da Beira, n. 3685, p. 12 (26 Fev. 2016); n. 3686, p. 11 (04 Mar. 2016); n. 3687, p. 10 (11 Mar. 2016); n. 3688, p. 13 (18 Mar. 2016); n. 3690, p. 11 (01 Abr. 2016); n. 3691, p. 13 (08 Abr. 2016), Santa Comba Dão (alterado e acrescentado).

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Portugal, em Lisboa (um agradecimento à sua directora), e da Biblioteca Municipal de Santa Comba Dão (um agradecimento à senhora bibliotecária, técnicas e funcionárias), já é possível reconstituir um pouco da sua biografia. António Augusto dos Santos nasceu no dia 22 de Agosto de 1850 em Casal Novo (freguesia de Molelos, concelho de Tondela) e foi baptizado no dia 29 do mesmo mês na Igreja Paroquial de S. Pedro de Molelos. Era filho legítimo de José dos Santos e de Luísa Marques Plicana, proprietários, moradores e naturais deste lugar e freguesia de S. Pedro de Molelos. Neto paterno de Macário José dos Santos, natural do mesmo lugar, e de Maria Natária, natural de Vila Nova de Tonda. Neto materno de José Fernandes Plicano e de Maria Marques Coimbra, naturais do mesmo lugar de Molelos.

Fig. 2 – Registo de baptismo de António Augusto dos Santos (A.D.V. - Registos Paroquiais de Molelos, Baptismos, cx. 11B, n.º 14, fl. 19v.º).

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Nada sabemos, ainda, sobre a sua formação escolar e musical. Em relação à formação escolar tê-la-á feito em Molelos e Tondela. Quanto à sua formação musical sabemos que começou cedo, uma vez que dele se dizia que “cultivava desde tenra idade a Divina Arte, com verdadeira paixão”. Também pouco conhecemos sobre o início da sua vida laboral. Sabe-se, pelo jornal “Santacombadense” (de 1928), que António Augusto dos Santos saiu da sua terra natal para fixar residência no Carregal do Sal, onde “fundou uma filarmónica”. Talvez na década de 80 do século XIX. Também há registo de ter sido maestro da filarmónica de Cabanas de Viriato e sabemos que em 1886, aos 36 anos, começou a trabalhar como secretário da administração concelhia, certamente no concelho de Carregal do Sal onde vivia ainda em 1889.

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Entretanto, António Augusto dos Santos foi chamado a Santa Comba Dão para ser o maestro da Filarmónica Filantropia, recentemente fundada a 4 de Janeiro de 1889 - era a «Música Nova». Em Santa Comba Dão existia também a Filarmónica 24 de Julho, fundada a 23 de Março de 1888 e herdeira da filarmónica antiga - era a «Música Velha». A “nova sociedade filarmónica” deveria pertencer ao partido progressista enquanto a outra pertenceria ao partido regenerador, o que era motivo de constantes zaragatas envolvendo músicos, maestros, directores e partidários de ambas as filarmónicas. O documento mais antigo, que conhecemos, em que é referido, à época, António Augusto dos Santos, data de 1889, encontra-se no jornal “O Dão” e refere-se à sua participação na festa de Nossa Senhora do Pranto, da igreja do Couto do Mosteiro, regendo a Filarmónica Filantropia. Já, nessa altura, era referido como “hábil mestre” e “professor” (de música). Despediu-se dessa filarmónica pouco depois. Em 1890, veio trabalhar como secretário da administração do concelho de S. João de Areias, passando aqui a residir. Revolucionou a prática musical da juventude da terra. É tradição datar a origem da Filarmónica de S. João de Areias de Agosto de 1875. Assim nos foi transmitido pelos músicos mais antigos e assim deverá manter-se, no entanto, o que deveria existir nessa altura era um grupo de rapazes com habilidade para a música que seria, agora, a partir de 1890, com a chegada de António Augusto dos Santos, devidamente ensinado e enquadrado no campo musical. Os serviços religiosos do concelho de S. João de Areias, à volta desta data, eram acompanhados, quando o eram, por uma das filarmónicas de Santa Comba Dão. Em S. João de Areias conheceu Adelaide Emília Correia, uma jovem mais nova do que ele 18 anos, daqui natural, telegrafista, filha legítima de Agostinho de Jesus, empregado público, do lugar e freguesia de Vila Nova da Rainha, na época pertencente ao concelho de Santa Comba Dão, e de sua mulher Maria Emília Correia, doméstica, natural de S. João de Areias. Casaram na Igreja Matriz de S. João de Areias no dia 30 de Setembro de 1891. Ele tinha 41 anos, era solteiro e morava em S. João de Areias. Ela tinha 23 anos, era solteira, natural e moradora em S. João de Areias.

Fig. 3 – Assinatura de António Augusto dos Santos e de sua esposa no registo de casamento (A.D.V. - Registos Paroquiais de S. João de Areias, Casamentos, cx. 6F, n.º 25, fl. 79v.º e 80)

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Não perderam tempo a gerar descendência e no dia 17 de Novembro de 1892, às seis horas da tarde, nasceu-lhes o seu primeiro filho, Mário, sendo baptizado a 11 de Fevereiro de 1893 na Igreja Matriz de S. João de Areias. O pai, no registo de baptismo do filho, era dado como “empregado público” e a mãe, agora, como “empregada no governo doméstico”. Por esta altura, António Augusto dos Santos era maestro da filarmónica de Mortágua. Em Maio de 1893 participou na Festa de Santa Cruz, no Vimieiro, à frente desta filarmónica, num “acirrado desafio” com a sua antiga filarmónica de Santa Comba Dão, que também participava na mesma festividade. O seu filho Mário, doente, acabou por falecer com 8 meses, no dia 21 de Julho de 1893 às 11 da manhã, sendo sepultado no cemitério de S. João de Areias. O pai escreveu, no dia seguinte, um comovente texto intitulado “No dia em que morreu meu filho”, que publicou no jornal “O Dão”: (…)“Chamei por Deus e supliquei-lhe - para que deixais penando os pais, já cansados na luta do seu desterro, e levais o nosso inocente filho, que devia amparar-nos na velhice?!… Não fui ouvido (…)”. É neste ano de 1893, na segunda metade, que é fundada a Filarmónica de S. João de Areias. Assim o depreendemos da mais antiga notícia, conhecida, em que pela primeira vez se faz referência à nossa Filarmónica. Data de 3 de Abril de 1894, foi publicada no jornal “O Norte do Mondego”, com sede em S. João de Areias e propriedade de Bernardo Borges Teles Leitão Júnior, e descreve a participação da Filarmónica na festa da Senhora da Ribeira, em Pinheiro de Ázere: “Realizou-se com o costumado aparato e concorrência a festa à Senhora da Ribeira, em Pinheiro de Ázere, deste concelho [nesta altura Pinheiro de Ázere pertencia ao concelho de S. João de Areias]. A filarmónica era a desta vila que tocou lindas peças do seu já variado reportório. Custa a crer realmente nos progressos rápidos da jovem banda, pois ainda não tem um ano, mas tudo isso se deve à boa vontade da rapaziada e do seu digníssimo mestre”.

Fig. 4 - Jornal “O Norte do Mondego”, n.º 1, de 3 de Abril de 1894.

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O jornal “Santacombadense” diz, mais tarde, que ela foi fundada “ali por 1894”, mas se em Abril de 1894 se afirma que não tinha um ano, é de crer

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que tenha sido fundada ainda em 1893, ou seja, António Augusto dos Santos terá deixado a banda de Mortágua e, provavelmente, em Agosto (como reza a tradição), mas de 1893, fundou a nossa Filarmónica. No mesmo jornal “O Norte do Mondego” acrescenta-se: “Consta-nos que um grupo de rapazes entusiastas projecta levar à cena algumas comédias e um drama, em benefício da filarmónica. Ao que nos consta alguns rapazes não são desprovidos de habilidade. Oxalá que os esforços dos generosos rapazes sejam coroados de bom êxito, tanto mais que o fim não podia ser mais altruísta”. A origem das filarmónicas tem muitas vezes um fundo político. A origem da Filarmónica de S. João de Areias, assim o cremos, nasceu do grande amor de António Augusto dos Santos pela música e pelo seu ensino. No entanto, a verdade é que na disputa política entre as duas facções da época, regeneradores e progressistas, S. João de Areias era um grande baluarte dos progressistas. António Augusto dos Santos foi maestro, como dissemos, de uma das bandas de Santa Comba Dão: a banda progressista, rival da outra, que era regeneradora! Não nos custa, por isso, admitir que o espírito que se vivia na banda Filarmónica de S. João de Areias era o espírito “progressista”. A primeira notícia que conhecemos, até agora, mostrando-nos, documentalmente, António Augusto dos Santos como maestro da Filarmónica de S. João de Areias, data de 17 de Junho de 1894 e foi publicada com o título “Santo António de Silvares” no jornal “O Dão”. Depois de dizer que esteve presente na festa “toda a sociedade elegante de S. João de Areias e arredores, destacando-se o vulto venerando e distinto do digno barão de S. João de Areias”, acrescenta que a “filarmónica da terra, uma filarmónica quase liliputiana, dava a nota festiva desempenhando muitas peças do vasto reportório de António Augusto, que é a alma da música - em qualquer parte que ele esteja!”. O termo liliputiano refere-se a pessoas de estatura pequena e terá sido aqui empregue pelo facto do maestro ser, ao que conseguimos perceber pelas fotografias da banda um pouco posteriores a esta data, de estatura baixa e o mesmo se poderia dizer de outros músicos que compunham a Filarmónica. Atenuada a dor e o luto pela morte de Mário, o casal teve um segundo filho, António Augusto dos Santos Júnior, que nasceu no dia 3 de Dezembro de 1894, às quatro horas da manhã, e foi baptizado a 21 de Abril de 1895 na Igreja Matriz. O pai e a mãe mantinham a mesma ocupação. A Filarmónica evoluía rapidamente. A 4 de Agosto de 1895 noticia-se, no jornal “O Dão”, a “Festa da primeira comunhão em S. João de Areias”, realizada a 21 de Julho, dizendo-se que “A Filarmónica desta vila dirigida pelo sr. António Augusto dos Santos, secretário da administração, executou com mestria e bom gosto muitas, variadas e lindas peças apesar de ter pouco tempo de existência, o que é devido à aptidão e dedicação de tão distinto preceptor”. Confirma-se que a Filarmónica tinha sido fundada recentemente,

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em 1893 dizemos nós, e, por isso, nesta data teria cerca de dois anos, ou seja, “pouco tempo de existência”. O concelho de S. João de Areias foi extinto a 7 de Setembro de 1895 e este território passou a constituir uma freguesia do concelho de Santa Comba Dão. António Augusto dos Santos foi então trabalhar como secretário da administração do concelho de Santa Comba Dão. Na sequência da supressão do concelho, em desagrado, formou-se em S. João de Areias, um Centro Republicano, tendo como representante o Dr. Francisco de Vasconcelos Carvalho Beirão, médico de partido do antigo concelho de S. João de Areias (médico camarário que assegurava os cuidados de saúde da população) e um apaixonado pela Filarmónica. António Augusto dos Santos era muito amigo do Dr. Francisco Beirão e, por isso, nessa altura, deverá também integrar o Centro Republicano. A família ia aumentando. A 7 de Abril de 1898, às onze da noite, nasceu-lhes o terceiro filho, Alfredo Augusto dos Santos (também chamado de Alfredo Correia dos Santos), baptizado a 17 de Maio do mesmo ano na Igreja Matriz de S. João de Areias. O pai e a mãe continuavam, respectivamente, a ser dados no registo como “empregado público” e “ocupada no serviço doméstico”. É possível que a mãe tivesse interrompido o seu trabalho de telegrafista para ter e criar os filhos. Voltaria, mais tarde, ao dito emprego. O casal terá ainda uma filha, Maria Luísa de Lurdes Correia Santos, nascida a 10 de Agosto de 1903 e baptizada a 27 do mesmo mês na Igreja Matriz de S. João de Areias. António Augusto dos Santos continuou a ser a alma da Filarmónica de S. João de Areias. Parece-nos que a partir dos músicos da filarmónica se formavam três agrupamentos: a denominada “capela Santos” (aqui capela refere-se a um conjunto de cantores e músicos que canta e toca à missa; o seu nome deriva do apelido do maestro), a “Orquestra” da Filarmónica (que, por vezes, parece confundir-se com a própria filarmónica, mas que deveria ser um grupo mais reduzido de músicos para dar determinados concertos) e a própria “Filarmónica” (actuando nos arraiais nocturnos, nas procissões e nos concertos depois das procissões). No início do século XX, sucedem-se as notícias elogiosas à Filarmónica e passou a tocar nas principais festividades da região. Tornara-se a “filarmónica melhor e de mais justa nomeada” da Beira. Assim o afirmam os jornais! A título de exemplo, o jornal “Correio de Besteiros”, de Tondela, de 25 de Maio de 1902, a propósito da participação da Filarmónica de S. João de Areias na festa de Santo Aleixo, em Sabugosa, diz o seguinte: “A parte musical estava confiada à competência da filarmónica de S. João de Areias, regida pelo sr. António Augusto dos Santos, um músico de merecimento e um compositor de gosto. Escusado será dizer-se que agradou no desempenho do seu difícil papel, pois que são sobejamente conhecidos os bons créditos de que goza esta

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filarmónica, no distrito a mais competente, a mais disciplinada, que só por isso se impõe, e composta de rapazes que sabem respeitar o lugar e as conveniências, não faltando nunca aos seus deveres de membros de uma sociedade que precisa de disciplina, de ordem para se conservar à altura e superior aos fungagás das nossas aldeias. Maravilhados com tal disciplina e boa ordem, não podemos deixar de felicitar o seu director sr. António Augusto dos Santos pelo seu grande merecimento, já como músico, já como respeitável regente duma filarmónica que lhe faz honra. No regresso a S. João de Areias passou em Tondela e foi visitar o nosso prezado amigo e distinto músico António Gonçalves Rosa [primeiro maestro da Filarmónica Tondelense], que os recebeu na sua casa com toda a satisfação e extremamente penhorado por tal prova de deferência”.

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Fig. 5 – Filarmónica de S. João de Areias, em 1903 (foto do arquivo da Soc. Filarm. de S. João de Areias).

A nível da freguesia de S. João de Areias, a Filarmónica sempre tocou nas festas dos padroeiros das aldeias, destacando-se entre elas as de Santo António de Silvares e de S. João Baptista. Desde 1894, passou a ser uma presença constante na festividade de Santo António (durante muitos anos custeada pelo barão de S. João de Areias, da Quinta da Guarita), chamandose-lhe em 1902, no jornal “Beira Alta”, “esplêndida filarmónica” que “cada vez mais firma os créditos de que goza como uma das primeiras bandas da

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província da Beira” e, em 1912, refere-se que participou na mesma festa “sob a hábil regência do sr. António Augusto dos Santos, que à tarde se fez ouvir durante algumas horas com geral agrado”. Já em relação à festa de S. João diz-se em 1902 que teve “uma magnífica festa de igreja, para regalar o papo aos devotos de Verdi e Mozart” e que a “filarmónica da terra se portou à altura dos seus elevados créditos”; no ano seguinte os elogios mantêm-se: “a capela Santos (António Augusto) revelou mais uma vez a veia da terra (S. João de Areias) para a divina arte de Mozart e Wagner” e que a “música de S. João de Areias também se portou magistralmente, tanto na procissão, como depois, tocando magníficas composições, no largo de D. Maria do Céu. Bravo, bravo!”. No mesmo ano de 1903 diz-se que esteve muito bem na festa de S. Sebastião: “Reportório bem escolhido e ainda melhor executado. Não esperávamos outra coisa. A filarmónica de S. João de Areias é das melhores, sendo a melhor das que conhecemos na província; e sendo patriota como poucas, não era natural que deixasse o bom do seu reportório só para estranhos. Deliciou com ele os tímpanos dos seus vizinhos e fez muito bem”. A Filarmónica de S. João de Areias era também chamada a abrilhantar as festividades da região: em Tondela, como se viu na notícia acima descrita; em Tábua, na festa do Senhor dos Milagres, com “arraial com esplêndida música pela filarmónica de S. João de Areias”; em Santa Comba Dão, como se noticia, a 13 de Julho de 1902, no jornal “Beira Alta”, o seu contributo na festividade de Santa Isabel, organizada pela Misericórdia de Santa Comba Dão, com “missa a grande instrumental pela capela do nosso querido amigo sr. António Augusto dos Santos, que se houve à altura dos seus grandes merecimentos”, a que se seguiu o concerto da filarmónica no átrio da igreja tocando “várias peças do seu escolhidíssimo e assaz notável reportório”. Igualmente marcava presença nas maiores romarias vizinhas, para as quais eram contratadas as melhores filarmónicas e, normalmente, mais do que uma: na Santa Cruz (no Vimieiro), na Santa Eufémia (em Óvoa) e na romaria da Senhora das Febres (no Carregal do Sal). E os elogios continuam! Realça-se que está “entregue aos cuidados de um professor”, enquanto a de Mortágua era “cuidada apenas pela boa vontade dos seus executantes” (festa de Santa Eufémia, jornal “Beira Alta”, de 13 de Setembro de 1903); que é uma das três bandas na romaria da Senhora das Febres (as outras eram a de Cabanas e a da Figueira Foz) dizendo-se que tocou “tão brilhantemente que confirmou bem os créditos de que goza o seu mestre” (idem, 24 de Julho de 1904); destacase na festa da Santa Cruz, “cantando a missa a grande instrumental e vozes, a capela da filarmónica de S. João de Areias, sob a regência competentíssima do nosso amigo António Augusto” e fazendo em seguida o arraial com a de Santa Comba Dão (idem, de 14 de Maio de 1905), salienta-se a mesma dupla em 1913 (idem, 11 de Maio) e, mais tarde, a “distinta regência” de António Augusto dos Santos (idem, 20 de Maio de 1920).

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Fig. 6 – Filarmónica de S. João de Areias, em 1907 (foto do arquivo da Soc. Filarm. de S. João de Areias).

Um dos aspectos a realçar em António Augusto dos Santos era o facto de também ser compositor. Gabava-se a Filarmónica e as “magníficas produções do seu ilustre professor”. Dele se dizia: “Grande compositor musical e autor de várias peças, sabia, com gosto e cadência, que punha nas suas músicas, deleitar todos os admiradores da arte de Mozart” (jornal “Sul da Beira”, de 1 de Julho de 1928). É de crer, por isso, que muitas das peças que a Filarmónica tocava fossem de sua autoria ou arranjos seus, ajustados aos músicos que constituíam a banda. Compunha também as músicas para as peças de teatro representadas em S. João de Areias e para os espectáculos de revista e saraus musicais em que participava em Santa Comba Dão. António Augusto dos Santos era, de facto, um Homem de cultura e do seu tempo. O teatro não podia faltar na sua acção. A ele se deverá, certamente, o primeiro teatro em 1894 a favor da Filarmónica, já referido anteriormente. O programa teatral seria constituído por uma peça séria (um drama) e algumas comédias. Era esse o gosto do público! Nunca mais pararam os espectáculos de teatro em S. João de Areias! A 18 de Setembro de 1904 noticia-se no jornal “Beira Alta” uma récita realizada no “teatrinho de S. João de Areias”, dirigida por António Augusto dos Santos, que abriu com uma opereta em 1 acto intitulada “Loucuras do Amor”, com música do próprio, e

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terminou com uma comédia em 3 actos que se chamava “Ouro, copas, espadas e paus”. António Augusto dos Santos dirigiu, fez a música e também representou, dizendo-se que a ele se deve “a maior parte da glória do bom sucesso das peças, que ensaiou e dirigiu com a proficiência que todos lhe reconhecem”. Diz-se que foi um “espectáculo esplêndido e uma casa à cunha, com o que de mais elegante e gentil se pode abrilhantar a concorrência de um teatro, seja de uma aldeia ou de uma grande cidade” e que “a plateia os aplaudiu por muitas vezes com todo o entusiasmo”. O teatro continuou e, dois anos depois, a propósito da representação de três comédias em 1 acto, ensaiadas e musicadas por António Augusto dos Santos, diz-se no mesmo jornal: “Dá gosto ver como naquele pequeno meio floresce uma esplêndida filarmónica e um grupo dramático, devido à boa vontade de que todos se acham possuído trabalhar pelo seu engrandecimento”; termina a notícia com o envio ao “nosso amigo António Augusto e aos rapazes, as nossas felicitações pelo êxito da récita, desejando que continuem naquele instrutivo passatempo”.

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Fig. 7 – António Augusto dos Santos, em 1907 (excerto de uma foto do arquivo da Soc. Filarm. de S. João de Areias).

António Augusto dos Santos, em simultâneo, era solicitado para colaborar com iniciativas musicais em Santa Comba Dão. Graças à “sua competência artística e ao seu indiscutível tino prático”, cooperou com o Grémio dessa vila, uma associação de recreio e cultura, nomeadamente em 1903 na formação da sua Tuna, da qual, aliás, foi seu director.

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Colaborou, também, com o Teatro em Santa Comba Dão. A 1 de Outubro de 1905, o jornal “Beira Alta”, a propósito do teatro de revista aqui levado à cena, não só refere que a música era de António Augusto dos Santos, como acrescenta: “É de toda a justiça e indeclinável dever falar da música da revista. É seu autor o conhecido e estimado maestro compositor, o sr. António Augusto dos Santos, que foi felicíssimo. Toda a música tem carácter, mas destacam-se alguns números que poderemos considerar excelentes”. E o jornal vai destacando: a “valsa da Beira Alta é muito bonita e bem composta e, igualmente o são a valer, a da estrada do Granjal e toda a música da Calçada Velha e do Teatro. A marcha dos recrutas é também bonita, e de tal modo caiu no ouvido do público que, à saída do teatro, era geralmente cantada e assobiada”. A revista se, por um lado, exaltava as belezas da região, não deixava de criticar, como é aliás comum neste tipo de espectáculo, as obras que eram desleixadas pelo município e os costumes da época. Tanto se sentia bem no campo da música mais ligeira, como na música erudita. A 25 de Fevereiro de 1906, o mesmo jornal realça um novo grande momento musical em Santa Comba Dão: um Sarau de música clássica! Rossini (abertura do “Italiano em Alger” [A italiana em Argel]) e Mozart, entre outros! Os dois compositores “foram interpretados por maneira tão correcta e distinta que se tinha a impressão de que não era em Santa Comba que se estava, mas em terra de mais elevada ilustração e cultura”. Neste sarau destacou-se António Augusto dos Santos: “Tudo, compreendido o arranjo das músicas para orquestra, que António Augusto dos Santos fez com uma inteligência e ciência da técnica de composição, que não é vulgar e que ninguém, adstrita às circunstâncias, faria com mais facilidade, proporcionando todo o relevo necessário e devido àquelas inspiradas composições. Se outros trabalhos não tivessem posto já na evidência os merecimentos e rara competência de António Augusto dos Santos, bastaria a audição da «ouverture» de Rossini para dar a medida do seu valor artístico”. António Augusto dos Santos tinha uma grande paixão e orgulho pelos filhos. Marcado pela dor imensa da perda do seu primeiro filho, Mário, dedicou-se inteiramente aos seus outros dois filhos, António e Alfredo, e, certamente, também à sua filha Maria Luísa de Lurdes. Nos jornais transparece a sua ligação aos rapazes, a menina, segundo os costumes da época, seria acompanhada mais pela mãe. No jornal “Beira Alta”, de 19 de Julho de 1908, parabeniza-se António Augusto Correia dos Santos [outra forma de se referir a António Augusto dos Santos Júnior], filho de António Augusto dos Santos, pela aprovação no 3.º ano dos liceus. O pai agradece no jornal seguinte com um texto muito bonito à volta do que é ser família: “Pensará muita gente que neste agradecimento há um pouco de vaidade… Não há. Quem me conhece de perto sabe que em nossa casa não há dessa fazenda. Um pai, que merece este nome, nestes momentos solenes da vida, só vê o filho.

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Se este é agredido defende-o; se é louvado agradece. Apesar dos que não têm família terem relutância em acreditar no desenvolvimento destes afectos, eu que a tenho, amo-a. Isso é natural. Por isso, muito obrigado”. Informou também que o seu pequeno Alfredo ficou aprovado no exame do 1.º ano e agradeceu aos professores. O seu filho António, apesar de muito novo, já se deveria destacar, tanto pelos estudos, como pela sua cultura. A 28 de Março de 1909, o jornal “Beira Alta” publica o seu primeiro conto. O texto chama-se simplesmente “Conto”, mas poderia chamar-se Luísa das Águas, uma vez que retrata a vida de Luísa, que apareceu bebé num berço à tona das águas do Mondego e foi recolhida por um moleiro e pelo seu filho na zona da Ranha. No jornal seguinte, a 4 de Abril de 1909, publicou o segundo conto, “As Andorinhas religiosas”, e a 11 de Abril de 1909 o terceiro: A Moura encantada”, situando esta última história na Pedra da Sé. O António tinha 15 anos!

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Fig. 8 – Conto de António Augusto dos Santos Júnior (jornal “Beira”, n.º 411, p. 3, de 11 de Abril de 1909).

Em breve destacar-se-ia também pela sua participação cívica! Muito jovem, terminara há pouco o 5.º ano dos liceus, e, para além dos estudos e dos seus escritos, já se encontrava ligado ao espírito republicano! Só assim se explica que no dia 1 de Setembro de 1911 tenha sido um dos oradores num comício republicano, que aproveitou a inauguração do apeadeiro de Castelejo, nesta data, para divulgar as suas ideias.

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No ano seguinte concluiu o 6.º ano, tirando algumas cadeiras do 7.º ano. No entanto, os dois irmãos resolveram ir para o Brasil, sabendo-se pelo jornal “Beira Alta”, de 20 de Outubro de 1912, da partida de António Augusto dos Santos Júnior e de Alfredo Augusto dos Santos: “Vão tentar fortuna e oxalá ela se lhes depare constantemente para que ao menos a saudade que os dois simpáticos rapazes deixaram no coração de seus extremosos pais, seja compensada pela certeza de, lá longe da sua terra e do carinho dos seus, viverem felizes, cuidando do seu futuro”. O António tinha 17 anos e o Alfredo 14 anos! Esta ausência deve ter deixado o pai doente, pelo carinho que sentia pelos filhos e o manifestava no jornal. O filho António ficou pelo Brasil. O Alfredo voltou anos depois, chegou a ser administrador do concelho de Santa Comba Dão, gerente da Companhia Industrial Resineira (da Estação) e faleceu em Lisboa. António Augusto dos Santos era uma pessoa com problemas de saúde. A 14 de Março de 1909 noticia-se que, por motivo de doença, pediu quinze dias de licença, desejando-se que o “inteligente” secretário da administração do concelho de Santa Comba Dão se restabelecesse rápido. Entretanto, não se achando melhor, no mês seguinte, foi para Lisboa “procurar alívio aos seus padecimentos”. Mas foi em 1917 que ocorreu o episódio de saúde mais grave. A 21 de Outubro o mesmo jornal “Beira Alta” informava os seus leitores que “na segunda-feira passada” António Augusto dos Santos tinha sido acometido por uma doença repentina, quando trabalhava na sua repartição, tendo sido prontamente socorrido pelo médico municipal, mas só na quarta-feira pôde seguir para a sua casa de S. João de Areias, onde ainda se encontrava doente, mas felizmente livre de perigo. A 11 de Novembro, o doente escreveu um cartão de agradecimento ao jornal pelos votos de melhoras. A sua saúde não se restabeleceu e dois anos depois requereu a aposentação de secretário da administração do concelho de Santa Comba Dão. Os dois jornais desta vila, de facções políticas opostas, são unânimes no elogio a António Augusto dos Santos! Dele diz o jornal “A Beira”, de 18 de Maio de 1919, que “há muitos anos exercia dignamente e com lealdade” esse cargo e o jornal “Sul da Beira”, quatro dias depois, que o desempenhou por largos anos “com inteligência, acerto e muita dedicação”. Um mês depois já estava aposentado. Ia fazer 69 anos. O jornal “A Beira” acrescenta, a 22 de Junho de 1919, que António Augusto dos Santos exerceu o cargo de secretário da administração durante 33 anos, em vários concelhos. Logo, nele teria começado a trabalhar em 1886. Termina o articulista dizendo: “Sempre estimado e sempre cumpridor, tinha todo o direito de descansar”. No jornal seguinte, António Augusto dos Santos despede-se “de todos os seus camaradas e mais pessoas com quem manteve relações de amizade. Se, durante o tempo que exerceu o referido cargo, houve, para alguém, falta no cumprimento dos seus deveres, tal falta foi

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involuntária, por que o seu maior desejo foi sempre, em cumprimento da lei, ser útil e agradável a todas as pessoas”. Apesar de doente, continuava, no entanto, o seu envolvimento na política. Sempre ligado ao partido republicano. Nesse mesmo ano de 1919 pertencia à Junta de Freguesia de S. João de Areias, como se depreende do jornal “Sul da Beira”, n.º 1, de 30 de Março, que apresenta os membros efectivos da Junta: Bernardo de Sousa Teles, António Augusto dos Santos e António Rodrigues Pimenta. Uns meses depois, desta vez no jornal “A Beira”, descrevia-se a grande reunião que se realizou no dia 1 de Junho na escola do sexo feminino de S. João de Areias, preparatória de um comício de apoio ao grande estadista Dr. Afonso Costa. António Augusto dos Santos participou activamente na reunião, declarando “estar pronto a auxiliar com a filarmónica no que for possível”. António Augusto dos Santos mantinha algum secretismo sobre a sua idade! Talvez por ter casado com uma mulher muito mais jovem! O mesmo jornal “A Beira”, mas a 21 de Agosto de 1921, conta-nos que, no dia 8 do corrente, António Augusto dos Santos fez anos. Ora, ou é engano do articulista, dado que o seu registo de baptismo nos indica que nasceu a 22 de Agosto, ou então nasceu, de facto, a 8 de Agosto de 1850 e foi registado como sendo a 22 de Agosto! Afirma-se assim no jornal: “No dia 8 do corrente fez anos, e com algum luzimento, o nosso amigo António Augusto dos Santos. Não diz quantos foram os Janeiros que aguenta aos ombros, cuidando com isso ficar menino… Mas então: a calva, o resto dos cabelos já brancos, as rugas no rosto e reumatismo na perna direita não serão atestados de idade?... Ora pois: os velhos valem os nossos respeitos quando tenham passado uma vida de trabalho honrado. Receba, pois, o velho amigo os nossos sinceros parabéns no dia do 69”. Na verdade, fez 71 anos! No início do ano de 1922, a sua esposa “que há muitos anos tão inteligente e competentemente exercia o cargo de chefe da Estação telégrafo-postal de S. João de Areias”, como se diz no jornal “A Beira” de 19 de Fevereiro de 1922, por estar eminente o desaparecimento da referida estação, foi colocada, a seu pedido, na Estação Central de Coimbra. António Augusto dos Santos, “que em S. João de Areias também é veneravelmente respeitado, acompanhando sua esposa, vai fixar residência em Coimbra”. A 5 de Março de 1922, o mesmo jornal afirmava que já se encontrava definitivamente em Coimbra, designando-o como “secretário aposentado da administração deste concelho e mestre da antiga e acreditada filarmónica de São João de Areias”. Por esta altura, terminará a sua ligação de cerca de 30 anos à Filarmónica que fundou. No jornal “Sul da Beira”, de 8 de Junho de 1924, publicita-se a próxima festa de S. João Baptista com a participação da Filarmónica Fraternidade, sob a regência do seu novo maestro Júlio Almeida e Silva.

António Augusto dos Santos (1850-1928) - fundador da Filarmónica de S. João de Areias

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António Augusto dos Santos e a sua esposa viveram poucos anos em Coimbra, provavelmente só até Adelaide Emília Correia se aposentar. A doença de António também deverá ter apressado a sua vinda para casa do seu filho Alfredo, que vivia no Bairro da Estação. A doença agravou-se e António Augusto dos Santos faleceu no dia 24 de Junho de 1928, Domingo, às 4 horas da manhã, no Bairro da Estação, realizando-se o funeral às 7 horas da tarde, acompanhado pelas Irmandades do Sacramento da freguesia de Óvoa e Vimieiro, para o cemitério de Santa Cruz, no Vimieiro. Deixava viúva Adelaide Emília Correia Santos e sem pai a sua filha Maria de Lurdes Correia Santos Teles e os seus filhos António Augusto dos Santos Júnior, ausente no Brasil, e Alfredo Correia Santos, gerente da Companhia Industrial Resineira. A notícia saiu nos jornais “Sul da Beira” e “Santacombadense”. O primeiro, a 1 de Julho de 1928, diz que as filarmónicas «Fraternidade», de S. João de Areias, e «1.º de Maio», de Santa Comba Dão, se sentiam “pesarosas” por, “devido a compromissos tomados” não se terem podido incorporar no funeral; o segundo, na mesma data, afirma que a Filarmónica de S. João de Areias se fez representar pelo sr. Francisco Simões Neves e mais dois executantes. A sua e nossa Filarmónica ofereceu-lhe uma coroa dizendo: “A Filarmónica «Fraternidade», de S. João de Areias, oferece ao seu saudoso fundador”.

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Fig. 9 – Registo de óbito de António Augusto dos Santos (Cartório do Registo Civil de Santa Comba Dão).

No “Sul da Beira”, diz-se que o seu funeral “foi bem uma manifestação de pesar que deve ter calado fundo no espírito de sua família, servindo-lhe de lenitivo na hora de amargura porque passaram” e que “o extinto durante o

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tempo que exerceu o mister de secretário da Administração deste concelho, soube impor-se pelo seu espírito recto, trabalhador e honrado, qualidades que legou a seus filhos que bem devem sentir a perda do ente querido que idolatravam e para quem foram sempre de uma dedicação em extremo” e mais à frente que “possuidor de uma alma de artista, fundou a filarmónica «Fraternidade», de S. João de Areias, a quem dedicou o melhor da sua vida, levando-a à categoria de uma das melhores da região. Grande compositor musical e autor de várias peças, sabia, com gosto e cadência, que punha nas suas músicas, deleitar todos os admiradores da arte de Mozart”

Figs. 10, 11 e 12 – Excertos de três notícias do falecimento de António Augusto dos Santos (jornais “Sul da Beira”, n.º 372, p. 2, de 1 de Julho de 1928, “Santacombadense”, n.º 69, p. 2, de 1 de Julho de 1928 e “Sul da Beira”, n.º 375, p. 2, de 22 de Julho de 1928).

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António Augusto dos Santos (1850-1928) - fundador da Filarmónica de S. João de Areias

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No “Santacombadense” diz-se: “Aposentando-se em 1919 continuou a reger a filarmónica de São João de Areias, que fundou aí por volta de 1894 e dirigiu com a maior dedicação e sacrifício, por amor à arte, até à altura em que teve de retirar para Coimbra” e que “António Augusto dos Santos era muito conhecido e estimado pelas qualidades que o assinalaram como um devotado, inspirado e infatigável músico de apreciáveis méritos, como um bom chefe de família e como homem que soube sempre conduzir-se com inteligência pela vida fora”. No “Sul da Beira” de 22 de Julho de 1928, por sua vez, o correspondente de S. João de Areias, identificado pela letra C., escreveu: “Foi bastante sentida e causou luto em todos os corações, a morte devoradora, que no passado domingo ceifou e levou a vida ao nosso querido e muito chorado amigo sr. António Augusto dos Santos. Residia actualmente no bairro da Estação, com sua ex.ma família, aonde era visitado dia a dia, hora a hora, durante a sua pertinaz doença, pelos seus numerosos amigos que o abraçavam e respeitavam, porque era um coração boníssimo” e que “S. João de Areias, onde o sr. António Augusto residiu a maior parte da sua vida e onde deixou, talvez, o maior número de amigos, deve ao extinto o melhor ornamento desta vila, a «Filarmónica Fraternidade de S. João de Areias». Foi ele, pois, o seu maestro fundador que muito nobre e cientificamente a soube reger enquanto as suas forças o permitiram, enquanto o seu valioso talento se não esgotou”. Tanto quanto parece, já nenhuma memória de António Augusto dos Santos se guarda no cemitério do Vimieiro… Que S. João de Areias não o esqueça! É uma honra para a nossa Filarmónica ter como seu fundador uma personalidade como a de António Augusto dos Santos. É justo que o seu nome seja perpetuado numa das ruas da vila de S. João de Areias. Este trabalho de investigação foi elaborado no âmbito das comemorações dos 140 anos da Filarmónica de S. João de Areias e eu gostaria de o dedicar à Dr.ª Maria da Assunção Viana de Siqueira, autora de “Sociedade Filarmónica Fraternidade de S. João de Areias – um espelho da tradição e da mudança”, monografia elaborada no âmbito do Seminário de Investigação, do 4.º Ano da licenciatura em Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, em 1997. A Dr.ª Maria da Assunção desafiou-me, à altura, para tentar descobrir a data e o fundador da Filarmónica, mas, apesar de algumas diligências efectuadas, tal não foi possível. Cumpro agora o prometido!

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António Neves (Vila Deanteira)

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