António dos Santos Rocha - Uma Introdução Histórico-Biográfica

Share Embed


Descrição do Produto

1 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA1 Com cronologia da Arqueologia em Portugal até 1900

Março de 2015

1

Ensaio histórico-biográfico elaborado por João Paulo B. R. Cruz – [email protected] -, para a unidade curricular Introdução à Arqueologia, da Licenciatura em História e Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ano letivo de 2014-15, com o docente Dr. André Gonçalo Moreira Tomé. Nota final: 18.

2 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Introdução

António dos Santos Rocha (1853 – 1910) foi um homem do seu tempo. Esta afirmação poderá parecer demasiado vaga e autoevidente, afinal, de uma forma ou de outra todos somos homens e mulheres do nosso tempo, mas é significativo que esta formulação surja na generalidade dos seus estudos biográficos. Porque, realmente, Santos Rocha foi um homem imerso na sua contemporaneidade, na teoria e na ação, um erudito eclético e enciclopedista, adepto da interdisciplinaridade que não só era do seu tempo como marcou o seu tempo. Seja a nível local, participando ativamente na vida política e cultural da sua terra, a Figueira da Foz, seja a nível internacional, homem atentíssimo às tendências no plano da ciência e das ideias. A própria Arqueologia, enquanto disciplina, constituía uma tendência de vanguarda no panorama europeu do século XIX. Santos Rocha, em rigor, foi um homem na vanguarda do seu tempo, legando à posteridade um corpus de investigação arqueológica a todos os títulos extraordinário, sobretudo em termos de Préhistória, um conceito também ele novo2 para a época, embora já relativamente consolidado na segunda metade do século, época em que Santos Rocha exerceu toda a sua atividade. Em Portugal, não obstante, áreas do saber como a Arqueologia ou a Paleontologia davam os primeiros passos. Este é, assim, o retrato sumário de um pioneiro numa época de charneira para as ciências históricas, pretendendo demonstrar como foi um pioneiro, não só da Arqueologia ou da Paleoetnologia, mas também da divulgação científica e da descentralização cultural.

2

O termo Pré-história terá sido pela primeira vez utilizado formalmente em 1836 na revista inglesa Foreign Quarterly Review (Eddy, p. 3), embora só se tenha «firmemente estabelecido depois de 1850» (Greene/Moore, 2010: 5).

3 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Herdeiro direto do Iluminismo e das correntes de pensamento racionalistas, que se afirmaram na modernidade industrial, António Augusto dos Santos Rocha nasceu na Figueira da Foz a 30 de Abril de 1853. Três anos antes, nascera em Lisboa a Sociedade Archeologica Lusitana, no que constitui também o arranque institucional da ciência arqueológica no nosso país, com umas décadas de atraso relativamente aos principais centros de desenvolvimento da disciplina, como o Reino Unido ou a Escandinávia, onde a Arqueologia ganhava já foros de ciência autónoma com contornos profissionais, numa evolução natural do colecionismo amador dos antiquários do Antigo Regime. Mas é na segunda metade do século que a Arqueologia definitivamente se afirma e rapidamente Portugal segue o exemplo das restantes nações europeias. Em 1859, o naturalista inglês Charles Darwin publicava o seminal “Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida”, alterando radicalmente o paradigma do olhar histórico sobre a presença humana no planeta, e arrumando de vez com a noção cristã de que a Terra tinha sido criada cerca de seis mil anos antes. O passado era afinal um campo muito mais vasto, um «tempo longo». Como, de resto, a chegada do método estratigráfico à Arqueologia, nos anos 30 e 40 do século XIX, começara já a tornar mais claro. De facto, pesquisas e estudos relativos à Idade do Bronze e à Pré-História, levadas a cabo por figuras centrais da Arqueologia ou da Geologia, como os ingleses Charles Lyell e William Cunnington (o “pai” da escavação arqueológica), o francês Jacques Boucher de Perthes ou o dinamarquês Christian Jürgensen Thomsen, começavam já a tornar evidente o absurdo da até então prevalecente mundivisão teológica, que estabelecia que a Criação se dera cerca de quatro mil anos A.C. «Lyell, and subsequent historians of geology, expressed the debate in terms of catastrophists and uniformitarians. The influence of the work of the earlier James Hutton (1726–97) meant that after AD 1800, few geologists still believed that layers of gravel and sedimentary rocks were formed simply by the catastrophic Flood described in the Book of Genesis, and few were constrained by the very short time span for the Earth derived from the Old Testament» (Greene & Moore 2010:31) Em 1870 o arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann começava a escavar por Tróia nas costas da Turquia e especialidades como a Egiptologia ou o Megalitismo europeu começavam definitivamente a captar a atenção do mundo e a despertar nos cidadãos comuns o entusiasmo pelos estudos das suas “raízes”, desenvolvendo-se também a noção de património comum. Paixão essa, por seu turno, estimulada numa era de nacionalismos pelos poderes políticos e culturais de cada país, ávidos de legitimação histórica e simbólica para as suas Nações e regimes. Embora surgindo como contraponto ao cientismo iluminista, o Romantismo e a sua nostalgia por um passado por norma idealizado, também contribuiu para impulsionar a nova disciplina, se não em termos do progresso arqueológico propriamente dito, certamente em termos de mentalidade, isto é, da disseminação da ideia de a que a memória é algo digno de ser estudado e homenageado, e mesmo

4 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

mostrado em museus, instituições elas próprias novas, e que deixavam de ser apenas galerias de arte. O património e a história natural começaram a ocupar o seu espaço nos museus e nas galerias públicas por toda a Europa ou nos Estados Unidos da América. As condições estavam assim criadas, na primeira metade do século XIX, para a explosão da arqueologia. «The Enlightenment and Romanticism provided a seedbed in which archaeology could grow rapidly, because scientific observation and classification had become directly linked to explanation. Furthermore, Enlightenment ideas about the value of education were actually put into practice in the nineteenth century, and museums and art galleries were included with the schools and colleges considered essential for the ‘improvement’ of the general public. The scene was set for the convergence of many separate strands – fieldwork, geology, collecting of artefacts, excavation – into a discipline which is directly ancestral to the kind of archaeology practiced in the twenty-first century. » (Greene, Moore, p. 21). E Portugal seguia as tendências. A explosão arqueológica portuguesa, os atos fundadores de uma arqueologia autónoma e científica, aconteceram, no entanto, apenas na segunda metade do século (vd. Anexo 1). Precisamente a janela temporal em que Santos Rocha viveu. A propósito de museus, é de realçar que o nascimento da disciplina em Portugal foi acompanhado por uma grande dinâmica museológica, sobretudo na área da história e das ciências naturais, que atraiam cada vez mais público, cada vez mais cultivado e ávido de antiguidades, sobretudo em Lisboa ou em cidades universitárias como Coimbra. Na esteira do impulso Pombalino para a ciência, Secção de Arqueologia do Museu Municipal da Figueira da Foz (atual Museu Santos Rocha), ainda instalado na Casa do Paço nos anos de 1894-1899

de que são exemplos os pioneiros Real Museu de História Natural e Jardim Botânico, fundado em 1768, na Ajuda (Lisboa), ou o de

História Natural e Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (1772). Em 1884, enfim, era inaugurado em Lisboa o Museu Nacional de Bellas Artes e Arqueologia (atual Museu Nacional de Arte Antiga) e os museus geológicos, etnológicos e antropológicos começavam a abrir secções arqueológicas.

5 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Em torno destas estruturas os arqueólogos iam também criando as suas próprias formas de associação e organização e é assim que nasce em 18493, por exemplo, a Sociedade Arqueológica Lusitana, inicialmente com a função de pesquisar ruínas romanas em Tróia (na Península de Setúbal), ou o Instituto de Coimbra, entidade ligada à Universidade e que em 18734 lança uma Secção de Arqueologia, iniciando escavações em Conimbriga. Tudo isto sob a égide de figuras igualmente pioneiras como José Leite de Vasconcelos, figuras de proa da primeira arqueologia portuguesa e fundador do Museu Etnológico (1893), atual Museu Nacional de Arqueologia, Estácio da Veiga, autor da Carta Arqueológica do Algarve (1878), Martins Sarmento em Guimarães, Carlos Ribeiro (geólogo, pioneiro da estratigrafia em Portugal), Ricardo Severo no Porto, ou Alexandre Herculano, Gabriel Pereira em Évora, Martins Sarmento, Pereira da Costa5. E, claro, Santos Rocha, fundador e primeiro diretor, em 1894, do Museu Municipal que hoje tem o seu nome, inaugurado a 6 de Maio de 1894, e da Sociedade Arqueológica da Figueira da Foz, no sentido de andar a par «do movimento científico e cultural da Europa», como sublinha a carta estatutária. É de sublinhar que, embora todos estes “proto arqueólogos” portugueses estimulassem a arqueologia nas suas regiões natais, produzindo estudos locais que ainda hoje são preciosos, também todos alargaram o âmbito do seu interesse a todo o território nacional, não se restringindo aos seus concelhos e freguesias. Com a intensificação deste interesse académico e popular por vestígios de um passado cada vez mais longínquo e das consequentes investigações no terreno, iam surgindo assim por todo o lado novas descobertas de vestígios de antanho e expandia-se o âmbito das ciências históricas. Santos Rocha cresceu, desta forma, num contexto de “explosão” da atividade arqueológica, etnográfica e antropológica6 um pouco por todo o mundo ocidental e em particular, para o que nos interessa, em Portugal. Síntese poderosa entre curiosidade e empreendedorismo, é uma espécie de homem certo na altura certa. Como é natural, essa excitação pela História, foi-se refletindo a nível local e as elites de cada Concelho começavam a investir cada vez mais tempo e recursos na descoberta das riquezas 3

Esta primeira organização portuguesa de investigação, conservação e divulgação de património material foi fundada em dezembro de 1849, mas só viu o alvará real aprovado por D. Fernando em março de 1850. 4

Ano em que Santos Rocha frequenta a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e se começa a envolver nas atividades arqueológicas do Instituto, onde um tio, António dos Santos Pereira Jardim, era dirigente. 5

Francisco António Pereira da Costa (1809-1889), paleontólogo e diretor da Comissão Geológica a partir de 1857. Autor da primeira monografia arqueológica publicada em Portugal, "Da existência do homem em epochas remotas no valle do Tejo. Noticia sobre os esqueletos humanos descobertos no Cabeço da Arruda" (1865). 6

«O nascimento da Arqueologia portuguesa pode situar-se nos meados do século XIX, tendo como dois grandes actos fundadores a criação da Sociedade Archeologica Lusitana, em 1850, e a reestruturação da Comissão Geológica do Reino, em 1857: aquela marca o início do primeiro grande projecto de intervenção num sítio arqueológico do nosso país, Tróia de Setúbal, e consuma uma tendência, já delineada desde finais do século XVIII, de ruptura com a tradição humanística dos estudos clássicos, de forte pendor contemplativo; esta assinala o verdadeiro nascimento de uma Arqueologia pré-histórica entre nós», (Fabião, 1989: 11)

6 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

patrimoniais autóctones. Por todo o país, foram-se multiplicando na segunda metade do século XIX, iniciativas de pesquisa e valorização de vestígios do passado. «O terceiro quartel da centúria de Oitocentos é marcado por uma extraordinária actividade no âmbito da arqueologia, de onde se pode destacar: as escavações de Tróia de 1850 a 1856, os trabalhos dos membros da Comissão Geológica, Carlos Ribeiro, Nery Delgado e Pereira da Costa, na Estremadura e vale do Tejo, desde 1860; a criação da Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, em 1863; o labor de Estácio da Veiga em Mafra, Mértola e Algarve, de 1866 a 1891; a publicação das Noções sobre o estado prehistorico da Terra e do Homem seguido da descripção de alguns dolmins ou antas em Portugal, Lisboa, Academia das Sciencias, 1868, da autoria de Pereira da Costa; a criação do Instituto de Coimbra, em 1871; do início das escavações da Citânia de Briteiros (Guimarães), por Martins Sarmento, em 1875; da publicação por Possidónio da Silva das Noções elementares de archeologia, Lisboa, Liv. Lalement e por Filipe Simões da Introdução à archeologia da Península Ibérica, Liv. Ferreira, ambos em 1878. Toda esta actividade seria coroada em 1880 com a realização em Lisboa do IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia pré-Históricas, onde os investigadores portugueses receberam da comunidade científica internacional o reconhecimento pela excelência dos seus trabalhos» (Fabião, p. 12). Como salienta, por seu turno, a historiadora Ana Cristina Martins, biógrafa do arqueólogo figueirense, «Quando A. dos Santos Rocha viu a luz do dia pela primeira vez, a ocidentalidade tornava-se ciente do tempo longo que a precedia e da qual herdara o seu presente, condicionando e influindo no seu quotidiano, entusiasmando estetas, literatos, religiosos, militares e profissionais libertos de horários implacáveis, a prospectar, escavar, coleccionar e a musealizar, evocando tempos idos de seus termos e interesses, mais ou menos pessoais, com altruísmos tantas vezes duvidosos. Assim nasceram museus de referência internacional consagrados na actualidade. Assim se edificaram e preencheram pavilhões nacionais

das

Exposições

de

âmbito

universal,

entreccruzando ambições hegemónicas e imponentes, das quais beneficiou a própria actividade arqueológica, entendida politicamente como recurso imprescindível à justificação dos seus planos e ao reacender de forças necessitadas de ampliar fronteiras, recuperando recessos considerados seus ancestrais. A burguesia realçava sobre as ruínas da nobreza histórica inadaptada aos novos tempos comtenianos, escorada em recentes arquétipos científicos Numa das expedições ao Algarve, na senda do também pioneiro Estácio da Veiga

para reforçar suas aspirações, muitas das quais validadas

7 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

por uma panaceia contemporânea e evolucionista, suportada pelo conceito de "cultura material" libertador das galés ecossistémicas», (Martins, 2012, pp. 14 e 15). Primogénito de uma família burguesa da Figueira da Foz, o pai era capitão da Marinha mercante e proprietário, Santos Rocha era um homem relativamente abastado, condição económica que é aqui relevante, na medida em que, como poucos em Portugal, aplicou parte da sua fortuna na investigação e na divulgação científica. Ao contrário da maioria dos seus contemporâneos, cujos projetos arqueológicos ou etnológicos dependiam dos “humores” da subvenção pública e das crises políticas de que o séc. XIX foi pródigo, Santos Rocha custeava as suas próprias explorações e empreendimentos, o que em grande medida contribuiu para a riqueza e vastidão dos seus estudos e achados. Autores contemporâneos como o portuense Rocha Peixoto, faziam já em 1907 questão de realçar isso mesmo, louvando a entrega abnegada ao avanço científico nacional7. Particularmente onerosas foram, por exemplo, as diversas incursões científicas ao Algarve, no sentido de traçar paralelos com os achados pré e proto-históricos do Baixo Mondego e outros locais do país, designadamente tendo em vista a determinação de uma origem comum e primeva para o «Homem português», para utilizar a expressão de J. Leite de Vasconcelos. É assim que Santos Rocha qualifica as estadias meridionais, durante meses, na esteira de Estácio da Veiga, como as «longas, incommodas e dispendiosas pesquizas» (Rocha, 1897: 7) Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, Santos Rocha terminou o curso em 1875, fez o “tirocínio” profissional de um ano num importante escritório lisboeta e exerceu toda a sua vida o ofício de advogado na Figueira da Foz, chegando a publicar pelo menos uma obra jurídica8. Incansável, foi por duas vezes Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz (entre 1877 e 1880 e entre 1902 e 1904), além de Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Figueira da Foz de 1876 a 1881, diretor do periódico Correspondência da Figueira ou presidente da Associação Comercial local (de 1889 a 1891), entre outros envolvimentos cívicos e políticos, que só por si teriam feito de Santos Rocha uma figura memorável do concelho. Ainda assim, encontrou tempo e energia para ser conhecido para a posteridade “apenas” como arqueólogo, no campo e nas letras. Embora, algo ironicamente, a arqueologia nem fosse a disciplina central dos seus esforços de investigador histórico. «Convém não esquecer que os nossos principais esforços têm sido aplicados ao estudo da paleoetnologia. Tanto no concelho da Figueira, durante nove anos, como na província do Algarve, durante alguns meses, foram os problemas dessa ciência que nos impeliram aos sacrifícios de longas,

7

«Alludira, quem isto escreve, aos grandes trabalhos de exploração archeologica entre nós, fasendo avultar os de Martins Sarmento e Santos Rocha, individualidades que em Portugal dispenderam, excavações, e pagando as suas obras, numerosos contos de réis das suas fortunas pessoaes», (Pereira, 1993-1994: 99) 8

“A Décima de Juros segundo o Direito vigente” (1882)

8 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

incómodas e dispendiosas pesquisas. Só incidentalmente ou no interesse do museu a nosso cargo nos ocupámos da arqueologia histórica» (Rocha, 1897: 7). A paleontologia e a etnologia eram, assim, as grandes paixões do investigador figueirense, constituindo a arqueologia quase que sobretudo um imperativo ético, um sentido de obrigação perante a iminente destruição da história material nacional. Para Santos Rocha, tornava-se urgente registar e publicar os achados, antes que estes fossem eliminados, entre outras coisas, pela incúria ou a pilhagem. «(...) Por outro lado a rapidez com que os monumentos se destroem neste país, logo que o acaso, a cobiça ou o interesse científico os faz sair da terra, era caso para não subtrair à publicidade esse pouco que pode interessar a história nacional. Se fizéssemos o contrário, a falta seria irreparável. Para não citarmos senão um exemplo, diremos que todos os anos os trabalhos agrícolas dão novos golpes nas necrópoles luso-romanas de Marim, de Marateca e da Fonte Velha, no Algarve, sem que ninguém versado em arqueologia romana apareça a estudá-las. Decorrido mais algum tempo tudo ali será destruído, e os estudiosos de futuro não terão mais do que as nossas humildes e insuficientes notas sobre a existência dessas interessantes estações mortuárias» (Rocha, 1897: prefácio). Para Santos Rocha, portanto, tão importante como desenterrar e preservar, era publicitar: dar a conhecer ao público em geral, democratizando o conhecimento das raízes do seu povo, e dar a conhecer aos historiadores vindouros9. E ele fê-lo de forma exemplar de duas formas principais: criando um Museu que mais de um século depois continua uma referência, e publicando sistematicamente os seus estudos e relatos de expedições arqueológicas, desde logo nas principais revistas nacionais, mas também em livros de penetração mais geral e popular. A investigação, a divulgação científica e a museologia constituíram, assim, os três pilares principais do trabalho de Santos Rocha no campo histórico.

9

«Os monumentos e objectos de arte ou industria são como um livro, onde se acha escripta a vida dos povos. Quem souber consultal-os poderá ver n'elles quaes os usos, costumes, crenças, aspirações, necessidades e sentimentos d'aquelles que os construíram, embora pertençam às mais remotas edades», (Rocha, 1888)

9 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Santos Rocha não era, de todo, um mero intelectual provinciano. Pelo contrário, era um investigador cosmopolita e atento ao mundo. A Figueira da Foz era (como hoje), uma pequena cidade de província, mas, beneficiando da proximidade de Coimbra, desenvolvia uma intensa atividade cultural alicerçada num conjunto de notáveis como o grupo fundador da Sociedade Arqueológica, um núcleo científico amador mas rigoroso e empenhado10, respeitado Ricardo Severo, Santos Rocha, Pedro Fernandes Thomaz e Fonseca Cardoso (1898)

e publicado nas melhores revistas nacionais. Santos Rocha foi, assim, o principal

mentor e fundador da Sociedade Archeologica da Figueira da Foz, juntamente com outras figuras gradas da terra, como Augusto Goltz de Carvalho ou Pedro Fernandes Thomaz, bem como, mais tarde, personalidades nacionais como o portuense Ricardo Severo, membro destacado da Sociedade Carlos Ribeiro, da qual Santos Rocha também era sócio, e diretor da Portugália. Criada em 1898, tinha como objetivo, segundo os seus estatutos, o «estudo dos diversos ramos da sciencias archeologicas, procurando contribuir para a solução dos problemas da prehistoria e da historia antiga do Occidente da peninsula; e, em especial, auxiliar o desenvolvimento do Museu Municipal da Figueira, onde se acham colligidos numerosos e importantes elementos para estes estudos». Para prosseguir estes fins, a agremiação científica propunha-se efetuar «pesquizas e excavações, registando fielmente todas as circumstancias d'estes trabalhos, organisará collecções, promoverá pelos seus delegados em todas as freguezias do concelho da Figueira a acquisição ou conservação dos monumentos da antiguidade que se descobrirem, coordenará todos os materiaes que coligir, dando-lhes publicidade, e entrará em relações com outras instituições de índole semelhante». (Rocha, 1898) O Museu Municipal da Figueira da Foz, lançado em 1894 por Santos Rocha e pelo referido coletivo de notáveis amadores de arqueologia figueirenses é hoje um museu eclético, dedicado à História e às Artes, mas na sua origem e durante décadas, foi sobretudo um espaço devotado à Arqueologia e à Paleoetnologia, disciplina de eleição do investigador, à cultura material pré-histórica. Por esta altura, dez anos depois de Santos Rocha ter iniciado o trabalho arqueológico sistemático, era já abundante o material recolhido e urgia mostrá-lo às gentes que ansiavam por origem e identidade.

10

Os fundadores da Sociedade foram: António Duarte Silva, António Santos Rocha, Francisco Ferreira Loureiro, Pedro Fernandes Tomás, Augusto Goltz de Carvalho, José Maria Luiz de Almeida, António Gonçalves, Frederico Nogueira de Carvalho, José Pereira Jardim e Sotero de Oliveira.

10 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

O Museu estava instalado no início nos Paços do Município, com as secções de Pré-história e

Época

Luso-Romana,

Comparação,

Arqueologia Histórica e Indústria Actual. «A secção de Prehistoria, onde há para cima de tres mil objectos expostos, compõe-se quase exclusivamente dos materiaes obtidos por Santos Rocha nassuas contínuas explorações na bacia do Mondego e pelo Algarve. Estão representadas todas as epochas, por vezes Caderno de campo de Santos Rocha, com um esboço de uma planta do sítio em estudo

com especimens raros e característicos,

feitas cuidadosamente as montagens e reconstituições, dispostas as louças com unica e meticulosa classificação pelas pastas, tudo ordenado de forma a mostrar os mínimos aspectos de interesse» (Severo, 1898: 159). Estas duas estruturas, a Sociedade e o Museu, refletiam, desta forma, a pedra de toque do trabalho de Santos Rocha: trazer a público as riquezas históricas da terra, ou o que chamavam na altura «vulgarisação» da ciência e do conhecimento. «Tem realisado a Sociedade explorações em cavernas, dolmens e crastos do concelho, tem adquirido objectos e monumentos archeologicos e conseguido de outros a devida protecção a estes monumentos. A influencia benéfica d'esta propaganda, assim cumprida, vae colhendo immediatos resultados, como nao teem conseguido varias leis proteccionistas e comissões adrede nomeadas de caracter official e de ephemero successo», (Severo, 1898: 159). Santos Rocha não só andava a par das mais recentes descobertas e publicações internacionais, como viajava para o estrangeiro, em longas excursões científicas e culturais, sendo Espanha, França, Itália e Suíça os locais de destino que conseguimos determinar para este artigo. Isso mesmo fica patente, por exemplo, da leitura da correspondência de Leite de Vasconcelos com o seu amigo figueirense Mesquita de Figueiredo, que punha o velho mestre de Lisboa a par dos desenvolvimentos do grupo da Figueira, este último mais próximo do Porto, refletindo a velha rivalidade Norte-Sul, que já na altura dividia a jovem comunidade arqueológica nacional. Confidenciava então Mesquita de Figueiredo: «Estão presentemente em Lisboa onde vieram passar férias o Pedro Fernandez Thomaz e o Cruz. O Rocha vai para o estrangeiro. Itália e França em Maio, levando este mez a estudar na Itália e passando o mês de Junho em Paris», e uns meses depois: «O Santos Rocha segundo as últimas notícias estava em Genebra a estudar as colecções lacustres e antropológicas», (Figueiredo, 1899: 96).

11 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Além disso, mantinha estreita correspondência com as grandes figuras nacionais da disciplina, bem como com reputados especialistas europeus, sobretudo franceses e espanhóis, figuras como Jorge Bonsor, precursor da moderna arqueologia espanhola, com quem manteve durante muitos anos um frutuoso intercâmbio de ideias e materiais, refletindo entre outros assuntos acerca da influência Fenícia e Cartaginesa na Península. As célebres “Cartas da Andaluzia”, volume epistolar de Santos Rocha publicado em 1886 na sequência de um longo périplo pelo sul de Espanha que fizera três anos antes é, de resto, sintomático do seu espírito cosmopolita. Neste contexto de nascimento de uma disciplina, a arqueologia, com todos os debates epistemológicos ainda por fazer, será difícil enquadrar Santos Rocha numa escola teórica arqueológica, tal como as conhecemos hoje, mas preocupando-se principalmente com a etnologia, com a interdisciplinaridade e com o fenómeno da interação de culturas, de que é exemplo o foco em Santa Olaia e na presença Fenícia na Península Ibérica, poderíamos dizer que se sentiria confortável na “prateleira” do histórico-culturalismo. Acima de tudo, cultivava o ideal de Ciência e era atraído pelas correntes positivistas que percorriam a Europa. O que fica bem patente em passagens como esta: «É preciso sermos razoáveis tanto em sciencia como em tudo o mais. Avançar a uma proposição, quando todos os factos protestam contra ella, é substituir o arbitrio à lógica, e desviar a sciencia por veredas tortuosas onde os prejuízos disputam a palma ao erro» (Rocha, 1890: 25). Como diria postumamente o filósofo conterrâneo Joaquim de Carvalho, no prefácio da reedição, em 1954, de uma das obras de charneira de Santos Rocha, os Materiais para a História da Figueira: «Todos os escritos do Dr. Rocha se caracterizam pela conexão direta e radical com os factos. A sua mente elevou-se, sem dúvida, a generalizações e interpretações de sentido teórico, designadamente em relação a certos pontos da arqueologia pré-histórica, mas a característica fundamental da sua mentalidade é a positividade, entendendo por tal o pensamento que se constitui e procura mover-se no âmbito dos factos diretamente colhidos e observados». Mais uma vez, um homem na vanguarda do seu tempo11. A instituição científica de referência na região era o Instituto de Coimbra, do qual, como já vimos, Santos Rocha era membro, e a quem solicitava pareceres e estudos mais aprofundados quando se deparava com achados relevantes, como aconteceu em 1886 relativamente a monumentos megaliticos descobertos pelo investigador na Serra da Boa Viagem (Brenha). Este caso, não sendo único, merece relevo, pois demonstra que Santos Rocha não era apenas mais um arqueólogo amador à procura de antiguidades ao fim de semana, mas sim uma figura respeitada em termos científicos 11

«Ninguém o excedeu no sentido da objetividade e na exacção do relato das pesquisas e explorações, por isso os seus escritos arqueológicos conservam a frescura da actualidade, como transuntos fiéis de factos, embora algumas das interpretações sejam hoje discutíveis, apesar de impregnadas de bom-senso e de espírito científico. Bastariam a exactidão e minúcia descritivas para aconselharem, pelo intrínseco valor científico e normativo, a reedição dos escritos arqueológicos de Santos Rocha (...)», (Rocha, 1949: Prefácio).

12 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

pelos seus pares. Tanto assim é que, após enviar uma equipa de especialistas ao terreno, o Instituto decidiu retirar-se e entregar a prossecução dos trabalhos ao próprio Santos Rocha, numa prova de confiança relativamente às competências científicas do investigador figueirense. Nos seus escritos faz um registo detalhado não só de todos os passos que dá, dos encontros com as comunidade locais às características do terreno, mas também de todos os pequenos artefactos e fragmentos que encontra, desenhando primorosamente os mais relevantes. Também se torna evidente, lendo os seus estudos, que Santos Rocha era um arqueólogo atento aos desenvolvimentos arqueológicos e antropológicos internacionais, citando com frequência autores europeus contemporâneos, problematizando e suscitando paralelos face a outras descobertas que iam sendo feitas pela Europa, sobretudo no resto da Península Ibérica. Entre outras filiações e honras de relevo, foi Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, comendador da Ordem de Santiago, sócio do Instituto de Coimbra e da Sociedade Carlos Ribeiro do Porto; membro honorário da Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses e vogal delegado da Comissão dos Monumentos Nacionais. A qualidade e novidade da sua atividade arqueológica, de resto, deram brado mesmo além Atlântico12. Gabriel de Mortillet (1821-1899), positivista anticlerical e figura incontornável na afirmação da arqueologia pré-histórica francesa, é uma citação recorrente nos artigos de Santos Rocha, bem como outra figura central para o desenvolvimento da arqueologia peninsular, o francês Émile Cartailhac, autor de “Les âges préhistoriques d'Espagne et du Portugal”, que influenciou toda uma geração de precursores da arqueologia e da antropologia portuguesas, como o investigador figueirense. Isto é, não era de todo um "sábio das berças" e entrava por vezes em polémica com as grandes figuras nacionais do seu tempo, como Estácio da Veiga – cujo trabalho admirava, não deixando de criticar por vezes a forma descuidada como supostamente lidava com os materiais, ou por registar na carta Arqueológica do Algarve sítios que não existiam de facto no terreno - ou Leite de Vasconcelos, nos principais fóruns da arqueologia portuguesa de oitocentos, como as revistas em que regularmente Rocha colaborava: Boletim da Real Associação dos Arquitectos Civis e Archeologos Portugueses, O Arqueólogo Português (onde pontuava Leite de Vasconcelos), Portugália - Materiaes Para o Estudo do Povo Portuguez (revista da portuense Sociedade Carlos Ribeiro e veículo privilegiado dos estudos e artigos da Sociedade Arqueológica da Figueira da Foz, até esta lançar o seu próprio Boletim em 1904) ou a sua antecessora, a Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes. Leite de Vasconcelos, de resto, era a grande figura da historiografia nacional da época. Autor de vasta investigação e obra, onde se destaca o magistral As Religiões da Lusitânia (1897), Leite de

12

«Em Abril de 1899, Santos Rocha viu o seu trabalho reconhecido a nível internacional, recebendo um convite da revista Bureau of American Ethnology para publicar os trabalhos que desenvolveu na Sociedade Arqueológica da Figueira», (Nazaré, 2013: 11)

13 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Vasconcelos era também a figura de proa do que hoje chamaríamos “centralismo” lisboeta, advogando a concentração na capital das principais riquezas patrimoniais do país. E nisto era contrariado pelas tendências regionalistas e descentralizadoras, de que eram exemplos os grupos arqueológicos que se iam desenvolvendo um pouco por todo o país, desdobrando-se em iniciativas de pesquisa e musealização, com destaque para o Porto (em torno da Sociedade Carlos Ribeiro), da Figueira da Foz (Sociedade Arqueológica) ou de Guimarães (Sociedade Martins Sarmento). Apesar

das

divergências

de

política

cultural, expressa em cartas ou em artigos nas revistas, os dois arqueólogos admiravam-se mutuamente, como fica bem patente nos elogios rasgados de Leite de Vasconcelos a propósito do trabalho de Rocha naquela que pode ser considerada a “jóia da coroa” do seu trabalho Monte de Santa Olaia (Maiorca, Figueira da Foz)

arqueológico, a feitoria Fenícia no monte de Santa Olaia, nas proximidades de Montemor-o-Velho: «O trabalho iniciado e levado a cabo em Santa Olaia é a mais bela e completa exploração arqueológica que se tem feito, até hoje, em Portugal» (in jornal Gazeta da Figueira, 1917). Em rigor, as metódicas e extensas pesquisas e escavações efetuadas por Santos Rocha em Santa Olaia, revelaram um sítio arqueológico riquíssimo13, como o próprio de resto reconhecia com orgulho nas suas Memórias e Explorações Arqueológicas: «Santa Olaia era um grande foco de luz iluminando os obscuros horizontes do nosso passado». A importância deste sítio na carreira de Santos Rocha e na arqueologia nacional fica, aliás, também bem patente nas palavras de um dos principais historiadores e arqueólogos portugueses do século XX, Virgílio Correia, durante cerca de duas décadas diretor do Museu Machado de Castro, em artigo da revista Terra Portuguesa (1924-27): «O estudo de Santos Rocha - Estações Pré-Romanas da Idade do Ferro nas Vizinhanças da Figueira - é hoje fundamental para o conhecimento do problema da cerâmica ibérica em Portugal, e pode considerar-se a verdadeira pedra angular de toda a nossa ceramografia protohistórica», (Rocha, 1971: introdução). Muito embora tenha concentrado grande parte do seu labor arqueológico no concelho da Figueira da Foz, explorando o megalitismo do maciço da Serra da Boa Viagem e vestígios de várias eras no vale do Mondego (Maiorca, Ereira, Formoselha, S. Martinho de Árvore, Portunhos, Montemor-o-Velho, Paião), o âmbito das suas

13

«Santa Olaia é de facto a obra culminante de Santos Rocha, do ponto de vista da investigação e dos resultados. Se as Antiguidades pré-históricas são verdadeiramente notáveis (…) para a pré-história de uma região de nossa terra, Santa Olaia, onde Santos Rocha poude revelar seis estações (medieval, romana, neolítica, e três da segunda idade do ferro), é notabilíssima (…)», (Vilhena, 1937: 78)

14 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

investigações era nacional e eram frequentes as incursões a outras zonas onde havia notícia do surgimento de vestígios antigos. O Algarve (sobretudo em Bensafrim, na zona da Lagos), Alentejo (Monforte), Bombarral (Lapa do Suão), Nelas (vestígios romanos), Oliveira do Hospital (“As arcainhas do Seixo e Sobreda”, estudo de 1898 publicado na Portugália, relativo a dolmens encontrados naquelas localidades), Alvaiázere (Estação luso-romana da caverna do Bacelinho, na serra de Alvaiázere, expedição realizada em 1897), Ançã, Coimbra (estudo sobre estação luso-romana na Pedrulha) ou Leiria. Em finais da década de 40 do séc. XX, a Universidade de Coimbra iniciou a justíssima tarefa de reeditar a obra completa de Santos Rocha: “Antiguidades Pré-Históricas do Concelho da Figueira da Foz”, “Memórias sobre a Antiguidade”, “Estações Pré-Romanas da Idade do Ferro nas Vizinhanças da Figueira”, “Estudo Monográfico do Castro de Santa Olaia” e “Materiais para o Estudo da Idade do Cobre em Portugal”. Em 2010, a Figueira da Foz assinalou em grande o Centenário da morte de Santos Rocha, com uma série de iniciativas, que incluíram o colóquio “Santos Rocha: A Arqueologia e a Sociedade do seu Tempo”. Dois anos depois, as comunicações da jornada foram publicadas numa obra homónima, coordenada pelas arqueólogas Sónia Pinto e Raquel Vilaça, que resumem exemplarmente e para terminar a importância do homenageado para as ciências históricas nacionais: «Santos Rocha não foi só actor, como agente de mudança, inovando e criando. Pioneiro em diversas frentes, inicia-se em arqueologia na primeira metade da década de 70 do séc. XIX, na secção do então Instituto, em Coimbra. A viagem que realizou depois, em 1883, ao Sul de Espanha, marcouo de forma indelével. Homem de campo e de gabinete, sabendo trabalhar em equipa, às prospecções e escavações a que imprimiu invulgar rigor metodológico, aliou o estudo do que encontrou, publicando. A curiosidade e a necessidade de fundamentar o seu pensamento e descobertas empreendidas na região natal, levaram-no mais além, pelo rio acima, até à Beira Alta, e para sul, pela Beira Litoral e Oeste adentro. E, particularmente, até ao Algarve, promovendo as peculiares "excursões científicas" consubstanciadas em quatro viagens (1894 a 1906). Homem empreendedor, criou o que não existia, mas fazia falta: um Museu (1894), seus Estatutos e Boletim (1904). No conjunto, um programa completo que fez dele um arqueólogo e investigador de corpo inteiro».

FIM

15 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Bibliografia:

EDDY, MATTHEW DANIEL (2011), The Prehistoric Mind as a Historical Artefact, Notes and

Records

of

the

Royal

Society,

65,

1-8.

Disponível

online

em:

https://www.academia.edu/1130650/The_Prehistoric_Mind_as_a_Historical_Artefact_Notes_and_ Records_of_the_Royal_Society_65_2011_1-8 FABIÃO, CARLOS (1989), "Para a História da Arqueologia em Portugal", revista Penélope. Fazer e Desfazer História, nº2, Fev. FIGUEIREDO, ANTÓNIO MESQUITA DE (1993-1994), Cartas a J. L. de Vasconcelos, Museu Nacional de Arqueologia, Legado Leite de Vasconcelos, citado por Isabel Pereira, «Leite de Vasconcelos e Santos Rocha: reflexos da polémica Portugália», in O Arqueólogo Português, série IV, 11/12. GREENE, KEVIN E MOORE, TOM (2010), Archaeology: An Introduction, 5ª Ed., Routledge. MARTINS, ANA CRISTINA (2012), "António Augusto dos Santos Rocha (1853-1910) e a Arqueologia na Viragem do Novo Século", in Santos Rocha: A Arqueologia e a Sociedade do seu Tempo, Coord. Vilaça, Raquel e Pinto, Sónia, Ed. Casino Figueira. NAZARÉ, MARIA JOÃO VICENTE (2013), Cerâmicas Medievais de Santa Olaia (Figueira da Foz) depositadas no Museu Municipal dr. Santos Rocha, Relatório de estágio no âmbito do Mestrado em Arqueologia e Território, na área de especialização em Arqueologia Medieval, orientada pela Doutora Helena Catarino e coorientada pela Dr.ª Sónia Pinto, apresentada ao Departamento de História, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. ROCHA, ANTÓNIO DOS SANTOS (1897), Memórias sobre a Antiguidade, Figueira da Foz: Imprensa Lusitana. ROCHA, ANTÓNIO DOS SANTOS (1971), Memórias e Explorações Arqueológicas, Vol. II, Memórias sobre a Antiguidade, 2ª ed., Acta Universitatis Conimbrigensis (introdução de António Vítor Guerra) ROCHA, ANTÓNIO DOS SANTOS (1954), Materiais para a História da Figueira nos Séculos XVII e XVIII, 2ª ed., Figueira da Foz, (prefácio De Joaquim de Carvalho). ROCHA, ANTÓNIO DOS SANTOS (1898), Estatutos da Sociedade Archeologica da Figueira, Figueira da Foz: Imprensa Lusitana. ROCHA, ANTÓNIO DOS SANTOS (1890), A questão da Antropophagia nas estações Neolithicas do Cabo Mondego, Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes. ROCHA, ANTÓNIO DOS SANTOS (1888), Antiguidades Pré-Históricas do Concelho da Figueira da Foz, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1ª edição.

16 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

ROCHA, ANTÓNIO S. (1949), Memórias e Explorações Arqueológicas, Vol. I, Antiguidades Pré-Históricas do Concelho da Figueira da Foz, 2ª ed., Acta Universitatis Conimbrigensis. Prefácio de Manuel Lopes de Almeida e Joaquim de Carvalho. SEVERO, RICARDO (1898), Revista Portugália, Tomo I. VILHENA, HENRIQUE DE; SÁ, PEDRO DE MOURA E (1937), O Dr. António dos Santos Rocha: elogio, notas, bibliografia de Santos Rocha, notas de bibliografia sobre Santos Rocha, Lisboa, Oficinas Fernandes.

17 ANTÓNIO DOS SANTOS ROCHA (1853 – 1910) UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICO-BIOGRÁFICA

Anexo

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.