Antropização da costa do Ceará: uma breve revisão dos eventos físicos e humanos que impulsionaram a evolução do litoral

June 27, 2017 | Autor: João Dias | Categoria: Verticalization, Antropization
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Workshop Antropicosta Iberoamerica 2010. CD-ROM

    TÍTULO: ANTROPIZAÇÃO DA COSTA DO CEARÁ: UMA BREVE REVISÃO DOS EVENTOS FÍSICOS  E HUMANOS QUE IMPULSIONARAM A EVOLUÇÃO DO LITORAL  AUTORES: Davis Pereira de Paula, João Manuel Alveirinho Dias, JÁDER ONOFRE DE MORAIS,  Óscar Manuel Ferreira  TEMA: Modificações na morfologia costeira  RESUMO:  Antropicosta é o resultado do processo de artificialização do litoral relativo à ocupação  humana e suas atividades. Este processo está associado, a priori, à transformação de espaços  naturais em humanizados, consistindo em uma categoria de análise das relações humanas.  Está intimamente ligado à história e desenvolvimento da sociedade. Neste trabalho,  procuramos estabelecer e compreender cronologicamente a ordem dos acontecimentos que  levaram à artificialização da costa cearense – localizada no Nordeste brasileiro – pelo homem.  Essas transformações foram avaliadas em suas diferentes formas de antropização: a)  fortificações; b) atividades econômicas; c) desenvolvimento portuário; d) utilização balnear; e)  obras de proteção costeira; f) aeroporto; g) turismo nacional e internacional. O litoral  cearense, entre os séculos XVI e XVII, constituía‐se em um deserto demográfico, onde as  pequenas vilas encontravam‐se no entorno das fortificações. O processo de povoamento só foi  iniciado após a expulsão dos holandeses e franceses do Nordeste e com o estabelecimento de  ciclos econômicos capazes de fixar homem à terra. O ciclo da cana‐de‐açúcar foi importante  para o surgimento de novas vilas ao longo da costa. Porém, foi no ciclo do gado que o litoral  experimentou sua primeira ascensão demográfica. Assim, surgiu, em pleno século XVIII, “o  litoral pastoril”, que teve por base o desenvolvimento da navegação de cabotagem. Possuía  como principais pólos as cidades ligadas aos rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú. O mesmo século  também testemunhou o surgimento do ciclo do algodão, impulsionado pelo advento da  Revolução Industrial. A cultura algodoeira foi responsável pelo processo de litoralização do  Ceará, além de contribuir para o desenvolvimento dos meios de transporte (estradas de ferro  e portos). Logo, a cidade de Fortaleza se tornou o centro executivo e financeiro do Ceará.  Surgiram pequenos trapiches, responsáveis por todo o fluxo de pessoas e mercadorias. O  principal localizava‐se na região do Poço da Draga e foi denominado de Porto de Fortaleza.  Entretanto, o litoral continuava a ser um lugar ignorado e habitado por pescadores e  estivadores. Em quase 300 anos de ocupação do litoral, o principal impacto ambiental  constatado foi o assoreamento da região do porto, inviabilizando todas as operações em  períodos de maré baixa. As modificações físicas impostas à paisagem até então foram sem  grande relevância, pois este espaço ainda não era pensado como um lugar de povoamento. Na  transição entre os séculos XIX e XX, surgiram as primeiras habitações à beira‐mar, momento  em que os filhos da elite nativa retornaram da Europa, dando início ao processo de valoração  dos espaços litorâneos. A partir da década de 1920, iniciaram‐se as práticas marítimas do  banho de mar e do veraneio. Contudo, a partir da década de 1930, com o início das obras do 

São Paulo, Iguape e Cananéia – Brasil – de 27 de março a 01 de abril de 2010 

    Porto do Mucuripe, que viria a atender aos anseios de uma sociedade sedenta por  europeização, somado à valorização dos espaços litorâneos, surgiram as principais  modificações físicas da costa cearense. A primeira antropicosta, em sua verdadeira acessão do  termo, surgiu com a construção do Porto do Mucuripe e a destruição das dunas adjacentes  para a construção de seu aterro hidráulico. Posteriormente, realizou‐se toda a artificialização  da Ponta do Mucuripe, área importante no controle sedimentar do litoral em causa.  Concomitantemente, a Praia de Iracema foi invadida por casas de veraneio e clubes edificados  rapidamente na pós‐praia. Em detrimento a todo o processo de humanização, surgiu, em  1933, o primeiro relato de erosão costeira no Ceará, mais especificamente nessa praia. Em  caráter emergencial, foram desviados 2 mil m3 de pedra para defensa do trecho atingido.  Ambos os acontecimentos configuraram um tipo de antropização indireta. Em meados de  1950, o trecho do litoral oeste de Fortaleza compreendido entre a Praia de Iracema e o rio  Ceará encontrava‐se completamente destruído e artificializado pela construção de 11  espigões, ou seja, converteu‐se numa costa artificial. Calcula‐se que foram perdidos 200m na  largura dessa praia em um período de 10 anos. Toda essa destruição foi responsável pela  migração e pelo reordenamento dos equipamentos urbanos da referida praia em direção ao  Meireles, vitimada em menor grau pela erosão. As três décadas subsequentes foram marcadas  pelo desenvolvimento industrial, ocorrido em paralelo à invenção de uma cidade turística  diferenciada, que ganhou status de destino turístico nacional e internacional com a construção  do Aeroporto Internacional Pinto Martins em 1997. Logo na primeira década de sua  construção, o fluxo de passageiros quadriplicou, dinamizando diversos setores da economia  ligados ao turismo, tais como construção civil, hotelaria, restaurantes, flats e barracas de praia.  Hoje, Fortaleza está entre os 5 principais destinos turísticos do Brasil. A situação atual é de um  litoral totalmente artificializado, isto é, uma antropicosta em toda a sua essência.

São Paulo, Iguape e Cananéia – Brasil – de 27 de março a 01 de abril de 2010 

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