Antropização da costa do Ceará: uma breve revisão dos eventos físicos e humanos que impulsionaram a evolução do litoral
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Workshop Antropicosta Iberoamerica 2010. CD-ROM
TÍTULO: ANTROPIZAÇÃO DA COSTA DO CEARÁ: UMA BREVE REVISÃO DOS EVENTOS FÍSICOS E HUMANOS QUE IMPULSIONARAM A EVOLUÇÃO DO LITORAL AUTORES: Davis Pereira de Paula, João Manuel Alveirinho Dias, JÁDER ONOFRE DE MORAIS, Óscar Manuel Ferreira TEMA: Modificações na morfologia costeira RESUMO: Antropicosta é o resultado do processo de artificialização do litoral relativo à ocupação humana e suas atividades. Este processo está associado, a priori, à transformação de espaços naturais em humanizados, consistindo em uma categoria de análise das relações humanas. Está intimamente ligado à história e desenvolvimento da sociedade. Neste trabalho, procuramos estabelecer e compreender cronologicamente a ordem dos acontecimentos que levaram à artificialização da costa cearense – localizada no Nordeste brasileiro – pelo homem. Essas transformações foram avaliadas em suas diferentes formas de antropização: a) fortificações; b) atividades econômicas; c) desenvolvimento portuário; d) utilização balnear; e) obras de proteção costeira; f) aeroporto; g) turismo nacional e internacional. O litoral cearense, entre os séculos XVI e XVII, constituía‐se em um deserto demográfico, onde as pequenas vilas encontravam‐se no entorno das fortificações. O processo de povoamento só foi iniciado após a expulsão dos holandeses e franceses do Nordeste e com o estabelecimento de ciclos econômicos capazes de fixar homem à terra. O ciclo da cana‐de‐açúcar foi importante para o surgimento de novas vilas ao longo da costa. Porém, foi no ciclo do gado que o litoral experimentou sua primeira ascensão demográfica. Assim, surgiu, em pleno século XVIII, “o litoral pastoril”, que teve por base o desenvolvimento da navegação de cabotagem. Possuía como principais pólos as cidades ligadas aos rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú. O mesmo século também testemunhou o surgimento do ciclo do algodão, impulsionado pelo advento da Revolução Industrial. A cultura algodoeira foi responsável pelo processo de litoralização do Ceará, além de contribuir para o desenvolvimento dos meios de transporte (estradas de ferro e portos). Logo, a cidade de Fortaleza se tornou o centro executivo e financeiro do Ceará. Surgiram pequenos trapiches, responsáveis por todo o fluxo de pessoas e mercadorias. O principal localizava‐se na região do Poço da Draga e foi denominado de Porto de Fortaleza. Entretanto, o litoral continuava a ser um lugar ignorado e habitado por pescadores e estivadores. Em quase 300 anos de ocupação do litoral, o principal impacto ambiental constatado foi o assoreamento da região do porto, inviabilizando todas as operações em períodos de maré baixa. As modificações físicas impostas à paisagem até então foram sem grande relevância, pois este espaço ainda não era pensado como um lugar de povoamento. Na transição entre os séculos XIX e XX, surgiram as primeiras habitações à beira‐mar, momento em que os filhos da elite nativa retornaram da Europa, dando início ao processo de valoração dos espaços litorâneos. A partir da década de 1920, iniciaram‐se as práticas marítimas do banho de mar e do veraneio. Contudo, a partir da década de 1930, com o início das obras do
São Paulo, Iguape e Cananéia – Brasil – de 27 de março a 01 de abril de 2010
Porto do Mucuripe, que viria a atender aos anseios de uma sociedade sedenta por europeização, somado à valorização dos espaços litorâneos, surgiram as principais modificações físicas da costa cearense. A primeira antropicosta, em sua verdadeira acessão do termo, surgiu com a construção do Porto do Mucuripe e a destruição das dunas adjacentes para a construção de seu aterro hidráulico. Posteriormente, realizou‐se toda a artificialização da Ponta do Mucuripe, área importante no controle sedimentar do litoral em causa. Concomitantemente, a Praia de Iracema foi invadida por casas de veraneio e clubes edificados rapidamente na pós‐praia. Em detrimento a todo o processo de humanização, surgiu, em 1933, o primeiro relato de erosão costeira no Ceará, mais especificamente nessa praia. Em caráter emergencial, foram desviados 2 mil m3 de pedra para defensa do trecho atingido. Ambos os acontecimentos configuraram um tipo de antropização indireta. Em meados de 1950, o trecho do litoral oeste de Fortaleza compreendido entre a Praia de Iracema e o rio Ceará encontrava‐se completamente destruído e artificializado pela construção de 11 espigões, ou seja, converteu‐se numa costa artificial. Calcula‐se que foram perdidos 200m na largura dessa praia em um período de 10 anos. Toda essa destruição foi responsável pela migração e pelo reordenamento dos equipamentos urbanos da referida praia em direção ao Meireles, vitimada em menor grau pela erosão. As três décadas subsequentes foram marcadas pelo desenvolvimento industrial, ocorrido em paralelo à invenção de uma cidade turística diferenciada, que ganhou status de destino turístico nacional e internacional com a construção do Aeroporto Internacional Pinto Martins em 1997. Logo na primeira década de sua construção, o fluxo de passageiros quadriplicou, dinamizando diversos setores da economia ligados ao turismo, tais como construção civil, hotelaria, restaurantes, flats e barracas de praia. Hoje, Fortaleza está entre os 5 principais destinos turísticos do Brasil. A situação atual é de um litoral totalmente artificializado, isto é, uma antropicosta em toda a sua essência.
São Paulo, Iguape e Cananéia – Brasil – de 27 de março a 01 de abril de 2010
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