Açores – Atlântida – Avalon, ou como nunca alcançar um lugar mágico

July 6, 2017 | Autor: Paulo Matos | Categoria: Azores, Açores, Açorianidade, Joel Neto, Literatura açoriana
Share Embed


Descrição do Produto

Açores – Atlântida – Avalon, ou como nunca alcançar um lugar mágico
Breves impressões sobre Arquipélago, de Joel Neto

por Paulo Matos

No dia em que a minha curiosidade de turista já habitante se preparava para descobrir mais uma lagoa corisca e a neblina não o permitiu, no dia em que por breves instantes essa névoa se desvaneceu e desvendou o lacustre espaço para logo se ensimesmar, nesse dia, repito, senti-me acolhido pelo arquipélago. Podemos falar de acaso, podemos falar de misticismo, podemos falar de subjetividades. Mas esta é a minha verdade.
Assim também o é para José Artur Drumonde, que, em visita à ilha Terceira, onde nasceu, após 35 anos de Continente, espera, sem consciência disso (?), regressar ao útero lávico a que sabe nunca ter pertencido. Afinal nunca sente os terramotos…
José Artur vem à procura de si, da sua identidade, do seu propósito na vida, do seu lugar na vida da ilha. E, real ou imaginariamente, acaba por encontrar-se, acaba por (re)unir--se com gentes e lugares, acaba por pacificar-se com os demónios do passado, nem sempre estando ciente de que os do presente são o meio para chegar ao Paraíso.
Partindo para uma investigação sobre a mística Atlântida, José Artur recolhe indícios vários de que o arquipélago esconde verdades pré-lusas. Só que muito do que lê, vê e vive é-lhe oferecido de forma psiquicamente pouco clara ou contraditória. José Artur resolve o seu eu com o regresso à ilha. Ela permitiu-o. Mas não lhe deu espaço – nunca dá – para esclarecer todos os seus mistérios. Por mais que José Artur sinta uma dor constante no cotovelo (a humidade a penetrar nos ossos sempre que uma pequena grande verdade está prestes a revelar-se) e esse seja um indício de integração, os Açores são terra de bruma e, por isso, nunca se mostram na sua plenitude…
Ao ler Arquipélago, é provável reconhecermos lugares e falares e uma cultura imensa (em toda a sua abrangência étnica, literária, folclórica, gastronómica…), é possível identificarmos pessoas e histórias, é até interessante conseguirmos suspeitar pormenores autobiográficos do autor, mas fica por dizer, fica sempre (e também nisso Joel Neto é mestre), a verdadeira essência da Terceira, e, por extensão, dos Açores, pois só quem lá (cá?) vive, mesmo não tendo uma existência local ab ovo, compreende como este arquipélago dá tanto e em simultâneo suga essas dádivas.
Atlântida ou Avalon, como se sugere neste livro magistral, importa perceber só isto mesmo: que os Açores vivem da magia e nos seus mistérios reside toda a sua força da gravidade.



Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.