Aplicação da perspectiva feminista nas Relações Internacionais ao livro “A Cidade do Sol”, de Khaled Hosseini

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Instituto de Economia Bacharelado em Relações Internacionais Teoria das Relações Internacionais II Docente: Áureo de Toledo Gomes Discente: Pedro Costa Brunetta

Aplicação da perspectiva feminista nas Relações Internacionais ao livro “A Cidade do Sol”, de Khaled Hosseini:

O seguinte texto tem o intuito de abordar algumas das inovações trazidas pela corrente feminista às Relações Internacionais, com relação à posição submissa das mulheres no Afeganistão, representadas por Mariam e Laila, protagonistas do livro do médico e escritor afegão Khaled Hosseini. Primeiramente serão apresentados os fatos relevantes da narrativa do romance. Em seguida, aplicar-se-á as reflexões feministas no contexto de conflito civil afegão da segunda metade do século XX. Mariam e Laila são casadas com Jalil. Mas, antes de ocorrer o encontro entre essas duas mulheres, é importante apresentar o meio em que cada uma cresceu. Mariam é filha bastarda de um rico empresário com a sua empregada, Nana. A partir do momento em que o reconhecimento de um descendente fora do casamento mancharia a honra do homem, ele teve de manter Nana e Mariam em uma zona rural afastada da cidade em que vivia, indo visita-las com certa frequência, de modo que nada lhes faltasse para sobreviver. Quando Mariam completou 12 anos, seu pai organiza seu casamento com Jalil, um sapateiro de Cabul. Devido à confiança da criança pelo pai distante, porém atencioso nos poucos momentos em que estava presente, Mariam aceita se casar, apesar de demonstrar certa resistência no decorrer do processo. Chegando em Cabul junto a seu esposo, a protagonista é vítima do desprezo

deste, demonstrado fisicamente, dentre outras formas, pois descobre-se que a mulher não seria capaz de gerar um herdeiro. Por outro lado, Laila é filha de um professor, o qual é o grande responsável pela sua paixão por estudos, além de instruí-la a assumir uma posição de independência na sociedade, para a qual teria função de contribuir em razão do desenvolvimento do seu entorno. Ainda jovem, a personagem encontra-se sozinha no mundo após a sua casa ser atingida por uma bomba, repercutindo na morte de sua família. Diante disso, Laila é forçada a casar-se com o Jalil, pois apenas um homem poderia protege-la no cenário belicoso do Estado em que, mesmo em tempos de paz, as mulheres são submissas a ponto de serem objetificadas sob ameaça de punições físicas. Com base nessa narrativa, o primeiro aspecto a ser levantado pela corrente feminista são os efeitos da guerra.

As teorias positivistas

desconsideram a diferença de gênero ao tratar do conflito belicoso, principal cenário das análises dentro do campo de Relações Internacionais. O gênero, no entanto, é uma variável a ser considerada, pois a interpretação sobre este é mutável a depender da cultura envolvida no processo analisado. No caso do Afeganistão, a religião islâmica que ali predomina cria um universo desfavorável para que qualquer mulher viva de maneira independente. Diante da morte de seus pais, Laila teve de responder de modo diferente em relação a como agiria uma criança da mesma idade, do sexo masculino. Tendo idade propícia para o casamento, a jovem não tem outra escolha a não ser aceitar a proteção de um homem desconhecido, e muito mais velho, no lugar de correr o risco de ser capturada pelo talibã e de ser tratada ainda com maior selvageria. Outra crítica feminista inerente ao modo tradicional de se fazer Teoria das Relações Internacionais advém do fato de a guerra em si ser o tema de importância primordial para o campo de estudos, deixando de lado as condições de sobrevivência da mulher nesse cenário agitado, no qual a guerra civil segmenta-se em diversas outras problemáticas, tais como a educação, a fome,

a limitação a serviços básicos de saúde, além da já apresentada condição de sobrevivência da mulher. No entanto, é importante deixar claro que a mulher não é menosprezada como ser humano apenas nesse momento. Há um longo processo que legitimou e tornou aceitável o papel submisso do gênero feminino naquela sociedade. Um exemplo trágico é a punição pública de mulheres infiéis a seus maridos, ou que tenham cometido algum outro ato de tamanho desrespeito, por meio de apedrejamento. O Estado, pode-se notar, ocupa uma posição importante para que tais costumes continuem sendo lembrados e aplicados. É por isso que a corrente feminista, em específico aquela baseada no liberalismo, afirma que a solução dessas absurdidades devam partir do Estado. Seria plausível a constituição de leis que repugnassem o apedrejamento a mulheres ou qualquer tipo de agressão a elas. A grande questão é: até que ponto a mudança normativa conseguirá solucionar um problema cultural consolidado e propagado durante gerações? Por fim, o modo como o autor retrata as mulheres afegãs do ponto de vista delas próprias, com o intuito de difundir a cultura da região também no mundo ocidental, representa um meio de dar-lhes voz para que a crítica à estrutura hierarquizada seja compartilhada e discutida, com a finalidade de mobilizar a sociedade a buscar mudanças.

Referências: HOSSEINI, K. A Cidade do Sol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. MESSARI, N.; NOGUEIRA, J. P. Perspectivas Alternativas: Feminismo e PósColonialismo. In: MESSARI, N.; NOGUEIRA, J. P. Teoria das Relações Internacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. TRUE, J. Feminism. In: BURCHILL, S.; LINKLATER, A.; DEVETAK, R.; DONNELLY, J.; PATERSON, M.; REUS-SMIT, C.; TRUE, J. Theories of International Relations: Third Edition. Nova York: Palgrave Macmillan, 2005.

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