Aplicação do concept design no processo de design

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Aplicação do concept design no processo de design

Aplicação do concept design no processo de design Applying concept to the design process Pereira, Leandro Lopes; MsC; UFPB [email protected] Silveira, Bibiana; Bel; UNIFRA [email protected] Dorneles, Anna Cláudia; Bel; UNIFRA [email protected]

Resumo Este artigo traz como foco principal a aplicação do concept design no processo de design em um projeto acadêmico de redesign. Utilizando a metodologia projetual de Löbach, com ferramentas de Baxter, o projeto visa agregar valor a um produto existente, disponível no mercado internacional. Aplica conceito relevante ao produto e seu uso, busca aprofundar as funções estética e simbólica do mesmo. Busca-se também o aumento da probabilidade de aceitação do produto pelo público brasileiro, considerando o efeito estética/usabilidade, princípio universal do design proposto por Lidwell. Palavras Chave: concept design; metodologia de projeto; redesign.

Abstract The article brings as focal point the design process through concept design in an academic redesign project. Using Löbach’s projectual methodology, with tools borrowed from Baxter, the projects seeks to add value to an existing product, available in the international market. A concept relevant to the product and its use is applied, seeking to enrich its aesthetic and symbolic functions. Also seeking to increase the acceptance probability of the product by the Brazilian public, considering the aesthetic/usability effect, a universal principle of design proposed by Lidwell. Keywords: concept design; project methodology; redesign.

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Introdução O artigo relata a fase de geração de alternativas (LÖBACH, 2001) de uma experiência projetual desenvolvida na disciplina Projeto de Produto III sob a orientação de um professor. A disciplina caracteriza-se pela experimentação da prática projetual de alta complexidade por meio de métodos apropriados. Além disso, avalia-se a capacidade de autonomia durante o processo projetual que envolve desde a escolha do método mais adequado até as decisões intermediárias e finais que resultam em um novo produto. A partir do tema sustentabilidade, foi proposto projetar em equipe uma linha de produtos inter-relacionados. Durante o processo de desenvolvimento do projeto apresentado neste artigo, decidiu-se pelo uso do concept design como ferramenta para agregação de valor ao produto, e o projeto é aqui descrito por essa ótica. Considerando-se que cada vez mais as pessoas preocupam-se com a oferta e a qualidade dos alimentos e que isto influencia diretamente a saúde humana, identifica-se também a preocupação com o destino dos detritos produzidos diariamente, já que em muitas cidades estes são depositados em lixões municipais. Assim, decidiu-se pelo desenvolvimento de produtos voltados para a agricultura orgânica residencial, especificamente no contexto urbano. Um dos produtos desenvolvidos foi uma composteria eletrônica anaeróbica, para ser utilizada em residências de grandes cidades, onde não existe a possibilidade de compostagem de lixo orgânico. Optou-se pelo redesign de uma composteira disponível no mercado internacional, enfatizando as funções estética e simbólica (LÖBACH 2001), para agregar valor ao produto e com foco no mercado brasileiro.

Metodologia O projeto seguiu a metodologia projetual de Löbach (2001), por ser a que mais enfatiza a função estética e simbólica do produto, com a adição dos painéis semióticos propostos por Baxter (1998). Em consequência, a metodologia projetual seguiu as quatro etapas propostas por Löbach (2001): a fase de preparação, quando são coletadas e analisadas todas as informações pertinentes; a fase de geração, quando alternativas são propostas com base no conhecimento acumulado; a fase de avaliação das soluções encontradas; e a fase de realização da alternativa escolhida, geralmente uma combinação de características de diferentes alternativas, que cumprem todos os objetivos.

Design O homem é na natureza o único animal com poder de transformar as coisas, configurando-as de acordo com os seus interesses e necessidades. A produção em série está intimamente relacionada com a profissão do designer visto que, entre as suas funções, está a de propor e projetar novos produtos para esta produção seriada (FORTY, 2007). É difícil restringir o significado de design, por se tratar de uma área de conhecimento ampla e bastante complexa, abrangendo diferentes linhas de trabalho e de pesquisa. Como afirma Niemeyer (1998) a origem da palavra (designo) é latina e significa designar, indicar, representar, projetar. Criaram-se interpretações equivocadas devido às diversas facetas do termo design, confundindo seu significado de forma genérica com a palavra desenho. Como diz Forty, a validade da palavra está no fato de que, Em um sentido, refere-se à aparência das coisas [...] [em outro] refere-se à preparação de instruções para a produção de bens manufaturados [...] a qualidade especial da palavra design é que ela transmite ambos os sentidos […] a aparência

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das coisas é, no sentido mais amplo, uma conseqüência das condições de sua produção (FORTY, 2007, p.12).

Em síntese, o design nasceu durante a primeira revolução industrial e pretendia solucionar problemas de projeto. É interdisciplinar, e utiliza vários recursos para a resolução de problemas de projeto. Aliado à marca são as armas mais poderosas a disposição da indústria para garantir o sucesso de seus produtos e, por conseqüência, o seu próprio sucesso. Consideremos então design como processo de constatar uma necessidade de qualquer natureza, e encontrar os melhores meios para saná-la, resultando no produto industrial. É um processo que considera diversas facetas da necessidade humana, além das limitações industriais, buscando sucesso mercadológico. O designer é o agente que idealiza e realiza este projeto (LÖBACH, 2001). As pessoas gostam e querem adquirir coisas (DORMER, 1995), embora não tenham necessidade prática de fazê-lo. Esta vontade é o que as faz optar por determinados produtos em detrimento de outros. É o chamado desejo ou aspiração. As necessidades podem ser satisfeitas mediante a aquisição de determinados objetos, e não de outros. É esse hábito de aquisição que mantém a economia mundial e, conseqüentemente, a sociedade capitalista.

Concept design Atualmente, fala-se em criar relações emocionais entre objeto e usuário. Uma maneira de estabelecer essa relação é através dos chamados conceitos. Ao evocar um objeto conhecido, é possível induzir o usuário a uma sensação de familiaridade com o produto, solidificando sua relação emocional. Como explica Baxter, os consumidores só estão dispostos a mudar de hábito se tiverem uma boa razão para isso. Um novo produto, com uma clara diferenciação em relação aos existentes e com um evidente acréscimo de valor para o consumidor, pode ser essa razão. Como resultado, tais produtos têm cinco vezes mais chances de sucesso, comparado com aqueles que apresentam pouca diferenciação e um mínimo de valores adicionais. (BAXTER, 2000, p.21)

Essa ligação muitas vezes é feita através do design conceitual, também chamado concept design. Um produto sem conceito é apenas um objeto físico que desempenhará alguma função, podendo ser esteticamente agradável ou não. A expressão design conceitual diz respeito à utilização ou ao resgate de idéias originais fundamentada em movimentos culturais, políticos, críticos-sociais etc. (como já aconteceu no passado) ou, ainda, por meio de investigações e analogias formais baseadas em outras áreas do conhecimento a aplicadas na concepção do produto. (GOMES FILHO, 2006 p.30)

A grande sacada do concept design (isto inclui projetos conceituais e industriais) está em desenvolver um produto que baseado em pesquisas e análises de mercado, publico alvo, etc, resulta em desempenho das funções práticas, emprego racional de materiais e configuração estética totalmente integrados numa linguagem perfeita e facilmente decodificada pelo público alvo. Para o mercado, isso tudo significa valor agregado, o qual eleva o preço final e com isso tem-se lucro, o que é fundamental para manter a indústria e a economia girando.

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Proposta A proposta consistiu no desenvolvimento de uma linha de produtos sustentáveis e alta complexidade, sendo considerado todo o ciclo de vida do objeto, inclusive seu uso. Para tanto, foi enfatizada a agricultura orgânica, em especial aquela de cultivo em espaços urbanos. Ao estudar os processos de agricultura urbana, optou-se pelo desenvolvimento de três produtos básicos, número requisitado pelo projeto: um sistema de plantio, uma estufa para proteção das plantas, e um sistema de compostagem que possibilitasse a reutilização do detrito orgânico caseiro como adubo para as plantas cultivadas. Aqui será apresentado apenas o produto composteira, que efetivamente utiliza o concept design. Por ser de alta complexidade, decidiu-se enfatizar, além da sustentabilidade, as três funções do produto de design (LÖBACH, 2001), a saber, funções prática, estética e simbólica. Essa ênfase, possibilitada pelo uso do concept design proposto por Baxter (2000), também serve para aumentar o grau de complexidade do projeto. A ênfase na função estética do produto também pode ser explicada por um princípio universal do design, o efeito estética/usabilidade, um fenômeno em que as pessoas percebem os designs estéticos como algo de mais fácil utilização do que os menos estéticos, sejam eles realmente mais fáceis ou não. O efeito foi observado em diversas experiências e tem implicações significativas para a aceitação, o uso e o desempenho de um design. (LIDWELL et al, 2010, p.20)

Os autores colocam que "designs belos parecem simples de manusear e têm maior probabilidade de utilização, sejam eles realmente menos complexos ou não" (2003, p.20). Por ser um produto desconhecido ao público brasileiro, esta consideração serviria para diminuir o fator estranhamento na relação com o usuário. Outra consideração é o fato de que se trata, basicamente, de uma unidade de tratamento sanitário sendo inserida numa cozinha familiar. O fato de ter um "alto valor estético [...] promove relações positivas com as pessoas, o que as torna mais tolerantes" (LIDWELL et al, 2010, p.20).

Resultados Tendo como base o projeto conceitual de Baxter (2000), foram gerados alguns conceitos que mantêm relação com o tema e produtos em questão, a partir dos painéis semânticos gerados. Dentre estes conceitos estão: verticalidade, equilíbrio, verde, organicidade, design orgânico, cidades verticais, esfera, curva, sinuosidade, cilindro, etc. Destes conceitos foram selecionados os que teriam uma melhor relação com as características exigidas para os novos produtos. Os conceitos selecionados foram então, verticalidade, verde e organicidade. A partir dos mesmos tentou-se encontrar um substantivo que designasse e transmitisse todas estas idéias em conjunto. O conceito geral definido como Bambu ascende, pois, daqueles três conceitos básicos, visto que o mesmo é verde como matéria e material, sendo bastante usado em projetos sustentáveis por seu rápido crescimento e flexibilidade de emprego como matéria prima, e seu crescimento se dá de maneira vertical. Portanto buscou-se neste projeto atender a estes conceitos de maneira que os três produtos da linha mantivessem uma relação formal e simbólica com a planta Bambu e seus significados agregados. Trata-se de uma linha de produtos para o cultivo e manutenção de hortas caseiras, especificamente para usuários que vivem em apartamentos. Consiste em uma horta vertical, uma composteira para lixo orgânico, e uma estufa, sendo os três produtos passíveis de uso individual ou em conjunto.

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A composteira é um equipamento elétrico que transforma lixo orgânico e alguns papéis em composto fértil. Baseado em um sistema patenteado, constituído de duas câmaras, uma de mistura e uma de cura. Apresenta na primeira um misturador de detritos que é uma barra metálica em forma de S movida a motor elétrico. O processo de compostagem anaeróbica requer uma temperatura alta e constante, fornecida por um aquecedor, esse processo gera chorume cujo odor é neutralizado por um filtro de carvão e o líquido depositado numa bandeja para remoção. A compostagem feita, o usuário aciona a abertura de uma escotilha através da qual o composto é despejado com a ajuda do misturador para a câmara de cura onde será finalizado o processo. Essa câmara tem uma porta pela qual as bandejas contendo o composto e o líquido são retirados para o uso. Com esse modelo geral definido, passou-se para a geração de alternativas formais. A partir do conceito definido foram pesquisadas e observadas fotografias e ilustrações desta planta, fazendo explorações formais iniciais com desenho (figura 1).

Figura 1: Desenhos iniciais - planta e folhas

As ilustrações foram sintetizadas e estilizadas, destacando elementos formais a serem utilizados na concepção do produto. A princípio, isolou-se a parte do caule da planta. Ao observar a relação das partes da planta, fez-se uma alusão com as partes do produto. A estrutura do caule, de forma seccionada na planta, foi transportada para o produto. Assim definiu-se a forma geral da composteira, ou seja, seu corpo constituído de secções (figura 2).

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Figura 2: Primeiras ideações

A fim de evocar o bambu de maneira abrangente, procurou-se relacionar o maior número de partes do produto com ele. Assim, uma forma estilizada das folhas define o formato das pás misturadoras, que também seguem uma ordem de posicionamento em espiral, configuração definida tendo em vista uma característica comum às angiospermas de crescimento em espiral (figura 3).

Figura 3: Misturador

Em botânica, a parte da folha das plantas vasculares que se prende ao caule chama-se bainha. Em muitas monocotiledôneas, como as gramíneas (capim), a bainha envolve não só o caule, mas as folhas mais jovens. Pensando neste elemento e ao realizar estudos a partir da bainha do bambu chegou-se à forma inicial dos baldes, que encaixam um dentro do outro à semelhança das folhas na bainha (figura 4).

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Figura 4: Render manual inicial e digital final dos baldes

Elementos definidos inicia-se a fase de realização. São elaborados os desenhos preliminares, bem como os desenhos técnicos e outros documentos que visem a maior definição e o detalhamento do projeto. São executadas ilustrações manuais e/ou digitais do produto para um estudo formal aproximado do resultado final. A figura 5 mostra um render da composteira em sua versão final, e a figura 6 mostra baldes, eixo e compartimento misturador, filtro e motor.

Figura 5: Render final

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Figura 6: Baldes, misturador, filtro e motor.

Conclusão A experiência de prática projetual apresentada neste artigo comprova a fundamental importância em se adotar uma metodologia adequada às necessidades do projeto, ainda que esta resulte de combinações das propostas de diferentes autores. Com isso, torna-se possível estabelecer com segurança os requisitos e parâmetros a serem contemplados no novo produto. Do ponto de vista pedagógico do design, observa-se um amadurecimento e ganhos na autonomia dos estudantes durante o processo projetual. Ressalta-se também no produto proposto a consciência acerca dos aspectos ambientais e de sustentabilidade, os quais encontram-se em destaque no cenário global. O concept design é uma ferramenta válida, que ajuda na concepção da forma e na criação de uma potencial relação afetiva entre o produto e seu usuário. Além de agregar valor, ajuda a configurar um produto mais amigável, aumentando suas chances de sucesso no mercado. No projeto proposto pode-se observar que o concept design foi empregado em diversas partes do produto, mantendo coerência interna e referência ao conceito escolhido. As funções estão em harmonia, o que promove uma boa estética ao produto e influencia positivamente na hora da compra. Por tratar-se de um produto pouco comum no cenário brasileiro, torná-lo agradável visualmente diminui o abismo entre consumidor e produto, cria certa curiosidade e interesse em conhecê-lo. O uso do bambu foi proposital, já que a planta é mundialmente associada à sustentabilidade, mesmo que de maneira superficial. A referência a produtos ou objetos pode ser sutil, como no caso descrito aqui, ou pode ser mais literal, como na maioria dos produtos fabricados hoje com selo “vintage”. É importante evocar a referência, mas também é importante não deixar de lado a função prática do produto, para que não seja apenas uma versão decorativa do original. Desta forma a ferramenta concept design é bem empregada quando une a forma à funcionalidade. Enquanto produto industrial resultante de um desenvolvimento bem conduzido, foram considerados todos os aspectos para sua viabilidade técnica, resultando assim em um produto que atende tanto as necessidades de seu público consumidor como de um possível fabricante.

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Com base nessas afirmações e resultados, conclui-se que os objetivos do trabalho foram alcançados e principalmente que o mesmo pode ter continuidade vislumbrando a fabricação e comercialização do produto.

Bibliografia BAXTER, Mike. Projeto de Produto: Guia prático para o design de novos produtos. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. DORMER, Peter. Significados do Design Moderno: a Caminho do Século XXI. Porto: Editora Porto, 1995. GOMES FILHO, João. Design do Objeto: Bases conceituais. São Paulo: Escrituras, 2007. LIDWELL, William; HOLDEN, Kristina; BUTLER, Jill. Princípios Universais do Design. São Paulo: Bookman, 2011. LÖBACH, Bernd. Design Industrial: Bases para a configuração dos produtos industriais. 1.ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher Ltda., 2001. NIEMEYER, Lucy. Elementos da semiótica aplicados ao design. 2AB Editora. São Paulo, 2003.

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