Aplicação do Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) Objetivando a Padronização da Automação de Estações Elevatórias de Esgotos

June 1, 2017 | Autor: Jonas Pereira | Categoria: Automação, PDCA, MASP, Padronização, Estações Elevatórias de Esgotos
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APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS (MASP) OBJETIVANDO A PADRONIZAÇÃO DA AUTOMAÇÃO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS DE ESGOTOS PEREIRA, Jonas1 ARRUDA, Leila Lucia2

RESUMO Até o momento, vários foram os projetos criados devido ao déficit do saneamento básico no cenário nacional, porém, em sua grande maioria, os quesitos de qualidade, eficiência, segurança, operacionalidade e manutenção, foram negligenciados. Fazendo parte do saneamento básico estão as elevatórias de esgotos, que se não forem planejadas e executadas de forma adequada, inúmeros problemas poderão surgir após o término das obras, causando um excessivo retrabalho. Este trabalho tem por objetivo demonstrar a aplicação do Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), como meio de se chegar à padronização da automação das estações elevatórias de esgotos da Companhia Águas de Joinville, e desta forma, reduzir o retrabalho. A metodologia adotada consistiu em pesquisa bibliográfica (livros, artigos, normas, e etc.), e documental (fotos, atas, manuais, relatórios, e etc.). A coleta dos dados foi realizada por meio de listas de verificação (checklists) preenchidas nos locais de ocorrência dos problemas. Da aplicação do plano de ação e dos resultados obtidos, conclui-se que o MASP é um método extremamente eficiente para a padronização de um processo, pois visa à resolução de problemas e a melhoria contínua, sendo, portanto, um forte aliado para se alcançar a tão desejada qualidade total. Devido à importância do tema, este trabalho objetiva também, além de disseminar os resultados alcançados a todos os profissionais e estudiosos da área, instigar novas pesquisas com o intuito de aperfeiçoar o entendimento da resolução da maioria dos problemas que cercam as empresas de saneamento. Palavras-chave: Ciclo PDCA. MASP. Estações Elevatórias de Esgotos. Automação. Padronização. 1 INTRODUÇÃO Devido à crescente necessidade de se melhorar os índices de saneamento básico no Brasil, inúmeros projetos foram criados, em sua grande maioria sem levar 1

Engenheiro Eletricista – Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Mestre em Automação Industrial – Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Pós-Graduando em MBA em Gestão de Projetos – Centro Universitário Internacional (UNINTER). 2 Contadora, Especialista em Gestão da Qualidade - Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em Contabilidade – Universidade Federal do Paraná (UFPR), Professora de Pós-Graduação, e orientadora de TCC do Grupo UNINTER.

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em conta vários requisitos, que os números por vezes não informam: qualidade, eficiência, segurança, operacionalidade e manutenção. Um bom projeto nasce quando se leva em consideração todos estes aspectos, entretanto, na maioria das vezes isso não acontece, sendo necessário recorrer-se a determinados métodos e ferramentas de melhoria da qualidade para contornar o problema. Nesse contexto, fazendo parte do saneamento básico estão as elevatórias de esgotos, que exercem a função de transportar todo o efluente que provém das residências, indústrias, comércios e outros, por meio de tubulações exclusivas, para que sejam recalcadas até uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE). Mas como isso é possível? Por intermédio da utilização de bombas apropriadas, comandadas por dispositivos de acionamento projetados para esse fim. Agora, se durante a construção de tais elevatórias, o executado não seguir a rigor aquilo que foi planejado, inúmeros problemas poderão surgir, por exemplo: painéis de comando dimensionados equivocadamente, utilização de equipamentos obsoletos, projetos, montagens e lógicas de funcionamento diferentes, e outros, causando um excessivo retrabalho, oriundo, sobretudo, da falta de padronização. O presente trabalho visa demonstrar os passos adotados para se chegar à padronização da automação de estações elevatórias de esgotos, que reúna todos os requisitos citados anteriormente, fazendo uso em sua essência, do método de melhoria contínua do ciclo PDCA, e de algumas ferramentas da qualidade que auxiliarão o método e que em conjunto comporão o Método de Análise e Solução de Problemas, popularmente chamado de MASP. Com base na importância desta temática, o presente artigo objetiva também, como forma de contribuição acadêmica, disseminar os resultados alcançados da aplicação do MASP, durante o processo de padronização das estações elevatórias de esgotos da Companhia Águas de Joinville (empresa municipal de saneamento básico, situada na cidade de Joinville, norte do Estado de Santa Catarina), a todos os profissionais e estudiosos da área, e ao público em geral, caso tenham interesse no assunto. Para uma melhor compreensão do tema, o trabalho foi dividido em algumas seções: a Seção 2 contextualiza a problematização e o ambiente do trabalho. Já a Seção 3 conceitua e apresenta a motivação que existe por trás do termo padronização. A Seção 4 introduz os conceitos básicos do PDCA e a Seção 5 apresenta o MASP, suas etapas, a metodologia adotada e os resultados alcançados

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com a sua utilização. Finalizando o trabalho, a Seção 6 sintetiza o método aplicado, o plano de ação adotado, os resultados obtidos, e ainda traz algumas sugestões de trabalhos futuros. 2 AUTOMAÇÃO DE ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS DE ESGOTOS A preocupação dos projetistas em criar ou desenvolver novas tecnologias surge quase sempre da necessidade. Na área do saneamento não é diferente, no tocante aos sistemas de esgotos, grande parte deste avanço tem ocorrido nas estações elevatórias de esgotos. 2.1 ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS DE ESGOTOS Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (1992, p. 1), denomina-se estação elevatória de esgotos a “instalação que se destina ao transporte do esgoto do nível do poço de sucção das bombas ao nível de descarga na saída de recalque, acompanhando aproximadamente as variações da vazão afluente”. Para Tsutiya e Sobrinho (2000), o termo estações elevatórias de esgotos ou simplesmente elevatórias de esgotos, pode ser definido como sendo as instalações que têm por objetivo a transferência dos esgotos a partir de um ponto para outro de cota normalmente mais elevada por intermédio de unidades de bombeamento. A utilização de estações elevatórias de esgotos depende principalmente da impossibilidade do escoamento dos esgotos pela ação da gravidade: “Todas as vezes que por algum motivo não seja possível, sob o ponto de vista técnico e econômico, o escoamento dos esgotos pela ação da gravidade, é necessário o uso de instalações que transmitam ao líquido, energia suficiente para garantir tal escoamento” (TSUTIYA, SOBRINHO, 2000, p. 267).

Desta forma, as elevatórias de esgotos devem ser projetadas e concebidas adequadamente para cada caso, nunca deixando de utilizar convenientemente equipamentos e métodos construtivos para que seus custos sejam os mínimos possíveis, contudo, sem perda de eficiência.

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2.2 AUTOMAÇÃO DE ELEVATÓRIA DE ESGOTOS Para Ferreira (1975, p.163), a palavra automação pode ser conceituada como: “sistemas automáticos de controle, pelo qual os mecanismos verificam seu próprio funcionamento, efetuando medições e introduzindo correções, sem a interferência do homem”. De acordo com Silveira e Santos (1998), a automação também pode ser definida como um conjunto de técnicas de controle que podem ser aplicadas sobre um processo objetivando torná-lo mais eficiente, ou seja, produzindo mais com menor consumo de energia (eficiência energética), menor emissão de resíduos e com melhores condições de segurança (redução de situações insalubres e de risco). Outras vantagens da automação que podem ser citadas são: a diminuição dos custos, o aumento da competitividade e do nível de exigência, o aumento da confiabilidade, o maior controle da operação, e por fim, a melhoria da qualidade. A adoção de sistemas de partida suave com a utilização de equipamentos eletrônicos capazes de variar a velocidade de giro de motobombas, chamados de inversores de frequência, em detrimento aos antigos (partida direta, estrela-triângulo, compensadora e outros), e a utilização de bombas de alto rendimento com rotores adequados à finalidade são recursos que a moderna tecnologia dos bombeamentos não pode dispensar. Ainda, não se pode deixar de falar de outro benefício da utilização dos inversores de frequência que é a drástica redução do golpe de aríete, que conforme Macintyre (2013, p. 707) é um “fenômeno transitório que ocorre diante da variação abrupta da pressão no interior das tubulações quando as condições de escoamento são alteradas pela variação da descarga, podendo provocar a sua deformação ou dos dispositivos por onde a onda de energia de sobrepressão se propaga”. Além das motobombas e dos inversores de frequência, outros dispositivos, não menos importantes, fazem parte da automação de uma elevatória de esgotos. De acordo com Tsutiya e Sobrinho (2000) o número de elementos de comando e supervisão, depende da complexidade de bombeamento e das necessidades individuais de cada sistema. A Figura 1 ilustra, de forma bastante didática, os principais elementos que compõe a automação de uma estação elevatória de esgotos.

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Figura 1 – Elementos da automação de uma Estação Elevatória de Esgotos.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Considerando a estação elevatória de esgotos de média complexidade mostrada na Figura 1, os principais elementos que compõe a sua automação são: a) Sensores de nível: são dispositivos ajustados com a função de detectar a variação de nível do líquido no interior dos poços de sucção e de gradeamento da elevatória, e ainda, comandar os diversos pontos de operação de acionamento e desligamento das bombas por meio de um painel de comando. Ex.: boias, eletrodos, laser, ultrassônico e transmissores de pressão com saída 4 a 20 mA (TSUTIYA, SOBRINHO, 2000; THOMAZINI, ALBUQUERQUE, 2007); b) Controlador Lógico Programável (CLP): é um equipamento eletrônico comparável há um computador de pequeno porte, no entanto de forma dedicada, e que desempenha suas funções de controle (saídas) por intermédio do software desenvolvido pelo usuário, a partir do valor de suas entradas (NATALE, 2008); c) Telemetria: é um sistema de comunicação sem fio com a função de comandar ou medir o estado da estação elevatória de esgotos, em tempo real, e enviar as informações relevantes até o Centro de Controle Operacional (CCO), onde se encontra instalado o sistema de supervisão e aquisição de dados, ou abreviadamente SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition), também chamado, simplesmente, de supervisório (BOYER, 2004; MATHIAS et al., 2006).

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3 PADRONIZAÇÃO DA AUTOMAÇÃO DE ELEVATÓRIAS DE ESGOTOS Em linhas gerais, padronizar significa igualar, uniformizar. Para Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “padronização é a redução dos objetos do mesmo gênero a um só tipo, unificado e simplificado, segundo um padrão ou modelo preestabelecido” (FERREIRA, 2010, p. 1536). O conceito de padronização vai além do dicionário, abrange também, os domínios da Administração. A Lei N° 8.666 de 21 de Junho de 1993, que institui as normas para licitações e contratos da Administração Pública, em seu art. 11, prescreve: “As obras e serviços destinados aos mesmos fins terão projetos padronizados por tipos, categorias ou classes, exceto quando o projetopadrão não atender às condições peculiares do local ou às exigências específicas do empreendimento” (MENDES, 2010, P. 22).

Na mesma vertente, o art. 15°, I, da lei supracitada, dispõe que as compras, sempre que possível, deverão “atender ao princípio da padronização, que imponha compatibilidade de especificações técnicas e de desempenho, observadas, quando for o caso, as condições de manutenção, assistência técnica e garantia oferecida” (MENDES, 2010, p. 22). Já o art. 15°, § 7°, I, da mesma lei, observa que nas compras deverá haver a especificação completa do bem, porém sem a indicação de marca. Ainda, a referida lei, em seu art. 25°, I, ao tratar da aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, veda a preferência de marca. Portanto, para a Administração Pública, padronizar não significa impor determinada marca ou modelo, e sim, determinadas características que darão compatibilidade de especificações técnicas e de desempenho a um gênero de produtos que atendem às suas necessidades. 3.1 A IMPORTÂNCIA DA PADRONIZAÇÃO DA AUTOMAÇÃO NO PROCESSO DE MELHORIA E CONTROLE DA QUALIDADE Existem várias definições para o termo qualidade, dependendo da abordagem, quais sejam (CARVALHO, PALADINI, 2012, p. 8): transcendental; baseada no produto; baseada no usuário; baseada na produção; baseada no valor.

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Porém, a que mais se ajusta ao processo da automação é a dada por Crosby (1986) apud

Veras

(2009):

“Qualidade

é

a

conformidade

do

produto

às

suas

especificações”. Esta abordagem, baseada na produção, define a qualidade como uma variável precisa e mensurável, oriunda do grau de conformidade do planejado com o executado, dando ênfase às ferramentas estatísticas de controle do processo. Outro conceito importante a se considerar é o do Controle da Qualidade Total apresentado por Armand Vallin Feigenbaum: “Um sistema eficiente para a integração do desenvolvimento da qualidade da manutenção da qualidade e dos esforços de melhoramento da qualidade dos diversos grupos numa organização, para permitir produtos e serviços mais econômicos que levem em conta a satisfação total do consumidor” (ROTH, 2011, p. 18).

Esta definição acrescenta outros fatores importantes para a automação: a consideração econômica do sistema, e principalmente, os melhoramentos da qualidade, implicando evolução e renovação. Indo de encontro aos conceitos da qualidade apresentados, a padronização da automação proporciona inúmeros benefícios, dentre os quais podem ser citados (CAMPOS, 2014a): a) possibilita a melhoria e a garantia da confiabilidade; b) possibilita a fabricação com qualidade uniforme, o que proporciona redução dos custos e melhoria da qualidade; c) possibilita a melhoria das condições de segurança no trabalho, o controle ambiental e a segurança dos clientes; d) facilita a operação e manutenção dos equipamentos; e) reduz a probabilidade dos equipamentos se tornarem obsoletos; f) reduz a quantidade de materiais para a estocagem; g) reduz o trabalho de compras, pois permite a aquisição dos materiais com maior rapidez, menor custo e economiza com consertos e substituições de peças; h) elimina as variedades desnecessárias, excluindo, desta forma, os desperdícios e as sobras, economizando tempo, espaço e dinheiro; e i) simplifica o trabalho de fiscalização. Segundo Seleme (2008) existem diversas metodologias que indicam como realizar o planejamento da qualidade. Em se tratando de gerenciamento e da solução de problemas relativos à qualidade, desenvolve-se o método do ciclo do PDCA para o controle de processos, fazendo com que o produto ou sistema em análise evolua a cada avaliação realizada.

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4 O CICLO PDCA De acordo com Carvalho e Paladini (2012) o ciclo PDCA foi idealizado na década de 1920 por Walter Andrew Shewhart e em 1950, passou a ser conhecido como o ciclo de Deming, em tributo ao guru da qualidade, William Edwards Deming, discípulo de Shewhart, que publicou e aplicou o método, vindo a se tornar atualmente um dos métodos gerenciais mais conhecidos e utilizados para se atingir metas. O PDCA é uma sigla oriunda do inglês (Plan, Do, Check, Action) que significa: planejar, executar, verificar e agir corretivamente. Em poucas palavras Campos (2014b, p. 59) define o método: “O PDCA é um método para a prática do controle”. Já para Carvalho e Paladini (2012) o PDCA pode ser traduzido em um método de gerenciamento que utiliza um sistema integrado de procedimentos que encorajam os funcionários a analisar situações, a estabelecer planos de melhoria, conduzir auditorias de desempenho e tomar ações apropriadas, seja para correção ou progresso mais acentuado. O ciclo PDCA para o controle de processo, composto pelas quatro fases básicas do controle anunciadas no início desta seção, têm para seus termos o seguinte significado (CAMPOS, 2014b, p. 59): Planejamento (P) – Consiste em: a) estabelecer metas sobre os itens de controle; e b) estabelecer a maneira (o caminho, o método) para atingir as metas propostas. Execução (D) – Execução das tarefas exatamente como prevista no plano e coleta de dados para verificação do processo. Nesta é essencial o treinamento no trabalho decorrente da fase de planejamento. Verificação (C) – A partir dos dados coletados na execução, compara-se o resultado alcançado com a meta planejada. Ação corretiva (A) – Fase em que o usuário detectou desvios e agirá no sentido de fazer correções definitivas, para que o problema nunca volte a ocorrer. De acordo com Campos (2013), para se atingir determinada meta, é possível que sejam necessárias várias tentativas, onde cada tentativa representa um giro do PDCA, e assim, pode-se chegar mais perto da meta. Entretanto, para Campos (2013; 2014b) durante o controle de um processo, podemos ter dois tipos de meta: metas para manter e metas para melhorar.

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A próxima seção descreverá em detalhes as formas de utilização do ciclo PDCA para se atingir estes dois tipos de meta. 5 MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS – MASP Segundo Oribe (2008) o Método de Análise e Solução de Problemas, ou simplesmente MASP, é um método derivado do QC Story – Quality Control Story (histórico do controle da qualidade), que por sua vez é um método de origem japonesa, criado nos meados da década de 60, destinado a orientar o relato dos trabalhos de melhoria da qualidade. Ainda, de acordo com Oribe (2008), inicialmente o QC Story teve um caráter descritivo, pelo fato de abordar fatos passados, mas posteriormente, o método evoluiu e verificou-se que poderia também ser utilizado de forma prescritiva. No Brasil, a introdução do QC Story na literatura foi realizada por Vicente Falconi Campos em 1992, por meio do seu livro “TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês)”. O método apresentado pelo autor é denominado de Método de Solução de Problemas – MSP, mas que se popularizou como Método de Análise e Solução de Problemas – MASP. Conforme enfatiza Campos (2014b, p. 265), “o método de solução de problemas, também chamado pelos japoneses de QC Story, é peça fundamental para que o controle da qualidade possa ser exercido”. Assim, “o MASP é um método prescritivo, racional, estruturado e sistemático para o desenvolvimento de um processo de melhoria num ambiente organizacional, visando solução de problemas e obtenção de resultados otimizados” (ORIBE, 2008, p. 32). Para Campos (2014b) o MASP está fundamentado em uma análise de processo que tem por objetivo determinar a causa fundamental de um problema3 (para eliminá-la visando sua solução definitiva, evitando sua reincidência) e conhecer as causas principais de um determinado item de controle que se deseja controlar. Essa metodologia evita a tomada de decisões de forma intuitiva e imediatista, pois se baseia em fatos e dados. Conforme mencionado na Seção 4, o ciclo PDCA, pode ser usado para manter ou melhorar os resultados de um processo. 3

Problema significa o resultado indesejável de um processo (CAMPOS, 2014b, p. 48).

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De acordo com Campos (2013, p.173; 2014b, p.61) quando o processo está estabilizado, o planejamento consta do procedimento operacional padrão – POP, e a meta já atingida é aceitável e mantida. Essa meta para manter pode também ser chamada de meta padrão. Neste caso, utiliza-se o ciclo PDCA para manutenção dos resultados, o qual é chamado de SDCA, porque na operação o plano (P) é o padrão (S de Standard). Ao contrário, para Campos (2013; 2014b) quando o processo apresenta problemas que precisam ser resolvidos, utiliza-se o ciclo PDCA para melhoria de resultados, que se constitui no MASP. A estrutura do MASP, composta por oito fases, é mostrada no Quadro 1. Quadro 1 – Fases do PDCA voltado para melhorias – MASP.

Fonte: Adaptado de Campos (2014b, p. 269).

De acordo com Campos (2014b, p. 64), “o caminho do sucesso para obter melhorias continuas nos processos é conjugar os dois tipos de gerenciamento: manutenção e melhorias”. Campos ainda complementa: “Melhorar continuamente um processo significa melhorar continuamente os seus padrões (padrões de equipamento, padrões de materiais, padrões técnicos, padrões de procedimento, padrões de produto, etc.). Cada melhoria corresponde ao estabelecimento de um novo nível de controle (novo valor-meta para um item de controle). Em outras palavras, cada melhoria corresponde ao estabelecimento de uma nova diretriz de controle” (CAMPOS, 2014b, p. 64).

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Conforme exposto, a melhoria de um processo passa inevitavelmente pela fase de padronização. Entretanto, Campos (2014a, p.48) adverte: “Não se deve buscar a perfeição logo no início da padronização, pois isso poderá comprometer o processo. A perfeição só será atingida ao longo dos meses e anos pelo gerenciamento por meio do modelo do ciclo PDCA, em que os problemas são revistos pela solução de problemas”. Numa forma mais sintética, Campos (2014a, p.48) conclui: “A perfeição só será atingida por um trabalho contínuo e paciente de ir melhorando a empresa passo a passo, com base no estabelecimento e na revisão dos padrões”.

5.1 METODOLOGIA O presente trabalho se insere no Gerenciamento da Qualidade do Projeto, uma das áreas de conhecimento do Gerenciamento de Projetos4. Do ponto de vista da pesquisa científica, este trabalho está delineado sob quatro aspectos: abordagem, natureza, objetivos e procedimentos. Quanto à abordagem é um estudo quantitativo. Segundo Raupp e Beuren (2003,

p.92),

“a

abordagem

quantitativa

caracteriza-se

pelo

emprego

de

instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados”. No tocante à natureza, refere-se a uma pesquisa do tipo aplicada. De acordo com Kauark, Manhães e Medeiros (2010, p.26) “a pesquisa aplicada objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigida à solução de problemas específicos”. Em relação aos objetivos, consiste em uma pesquisa do tipo descritiva. Segundo Gil (2002), a pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. No que diz respeito aos procedimentos, o estudo contempla uma pesquisa tanto bibliográfica quanto documental. Para Gil (2002, p. 45) “enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores

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De acordo com o Project Management Institute – PMI (2013, p. 5), Gerenciamento de Projetos é a aplicação do conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto para atender aos seus requisitos.

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sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados”. Dessa maneira, para a elaboração deste trabalho, foi realizada uma ampla procura em busca do histórico do problema, por meio de listas de verificação, fotos, atas, manuais, relatórios, reuniões com os envolvidos, além de visitas e acompanhamento in loco. Já a fundamentação teórica baseou-se na exploração das fontes de artigos, livros, normas, entre outros, que contêm não só informações sobre o tema estudado, mas indicações de outras fontes de pesquisa. Estabelecida a metodologia da pesquisa, parte-se agora à exposição dos resultados e sua discussão. 5.2 APLICAÇÃO, RESULTADOS E DISCUSSÃO Da mesma maneira que foi mencionada na introdução deste artigo, as primeiras estações elevatórias de esgotos, construídas pela Companhia Águas de Joinville, padeciam dos mesmos problemas elencados. Alguns dos projetos eram simples demais, faltando funcionalidades, outros, apesar de mais complexos, careciam de tecnologia, no total, vários eram os tipos. Após esta constatação, os projetos de automação referente às elevatórias começaram a passar por uma reformulação, ou melhor, foram dados os primeiros passos rumo à padronização. Neste momento, o primeiro SDCA (PDCA voltado para atingir metas padrão) foi rodado, a primeira lista de verificação (checklist) foi criada, e o primeiro procedimento operacional padrão (POP), com as primeiras especificações, foi elaborado. Devido à necessidade de se implementar melhorias nos projetos existentes, a partir de então, iniciou-se a aplicação do MASP (PDCA voltado para melhorias). A seguir, os resultados alcançados com a utilização do método: Fase 1 – Identificação do Problema: como mencionado anteriormente, ao rodar o SDCA no primeiro grupo de elevatórias de esgotos (onze no total) foi preenchido o primeiro checklist e foi possível observar que nas elevatórias faltavam alguns dispositivos de proteção dos equipamentos e de segurança, a identificação da maioria dos equipamentos, trocar alguns equipamentos que foram instalados com defeito, disponibilizar os manuais dos equipamentos, de operação da elevatória, e seus diagramas elétricos, inclusive. Ainda, as muretas (abrigos) do painel de

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comando foram construídas com dimensões inferiores à necessária e a montagem dos painéis também havia sido feita de maneira desorganizada e diferente entre si. Tudo isso incorreria em um problema maior: o retrabalho. Fase 2 – Observação: fazendo uma análise de Pareto dos problemas coletados pelo checklist (ver Apêndice A) e agrupando-os por item, obteve-se a Tabela 1. Tabela 1 - Quantidade de não conformidades por itens de verificação.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Em seguida, agrupando-se os itens com baixa frequência e denominando por “outros”, obteve-se o gráfico de Pareto (ver Gráfico 1). Gráfico 1 – Gráfico de Pareto (não conformidades por item de verificação).

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Pelo gráfico de Pareto é possível observar que os itens que mais contribuíram para o retrabalho, ordenados por quantidade de não conformidades foram: o painel de comando, a documentação e a mureta. Fase 3 – Análise do Processo: por meio de reuniões participativas (brainstorming) entre os envolvidos (setores de projetos, obras e manutenção), puderam-se identificar as principais causas que poderiam estar contribuindo para gerar o retrabalho. Esta relação pode ser melhor compreendida fazendo uso do diagrama de causa e efeito, ou diagrama de Ishikawa. A Figura 2 apresenta o diagrama obtido. Figura 2 – Diagrama de Ishikawa das causas do retrabalho.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Analisando as causas, chegou-se a conclusão de que o retrabalho da automação das elevatórias, após a construção, estava sendo gerado pela falta de padronização, desde a concepção do projeto até a sua execução. Fase 4 – Plano de Ação: por meio da utilização da técnica do 5W1H (O que será feito? Por quê? Quem o fará? Quando será feito? Onde será feito? Como será feito?), definiu-se que o plano de ação seria a elaboração de um único manual, muito mais completo e abrangente do que o em vigor, contendo todas as especificações técnicas, construtivas e procedimentais a serem adotadas na automação das estações elevatórias de esgotos, como forma de atingir a padronização.

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Fase 5 – Ação: a divulgação do manual aconteceu de duas formas: a) fazendo parte dos termos de referência nos processos licitatórios; e b) antes do início das obras, as empreiteiras executoras tomaram novamente conhecimento do manual, por meio de reuniões e treinamentos. Fase 6 – Verificação: a verificação se o bloqueio da causa do retrabalho (falta de padronização da automação) foi efetivo, aconteceu quando novamente foi realizado o checklist, desta vez na obra alvo da fase anterior (Fase 5 – Ação). A comparação dos dois resultados, isto é, do primeiro checklist (Fase 2 – Observação) com o segundo checklist (Fase 5) evidenciará se o plano de ação deverá ser revisto (retornar para a Fase 2) ou não (seguir adiante, para a Fase 7). O Gráfico 2 traz a comparação dos dois resultados: Gráfico 2 – Comparação dos resultados (Verificação do Bloqueio da Causa).

Fonte: Elaborado pelo autor.

Pelo Gráfico 2 fica evidente a eficiência do plano de ação executado. Vale ressaltar que em ambos os resultados, a quantidade de elevatórias verificadas foi a mesma (onze elevatórias), dando lisura à análise. Fase 7 – Padronização: nesta fase, o padrão até então em vigor (antes da aplicação do MASP) foi alterado com as melhorias do plano de ação (criação do manual de especificações e procedimentos). Assim, um novo POP (meta padrão) foi estabelecido e o SDCA, pronto para ser novamente rodado. Fase 8 – Conclusão: mesmo diante da demonstração do sucesso alcançado, o MASP, em conjunto com o SDCA, continuará sendo aplicado por tempo indeterminado de modo a evitar que as causas do retrabalho resurjam ou que novas apareçam.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foi apresentado a aplicação do Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) visando a padronização da automação das estações elevatórias de esgotos da Companhia Águas de Joinville. Durante o desenrolar do trabalho, a problematização acerca deste, foi aos poucos introduzida e vários conceitos apresentados, com o objetivo de contextualizar o leitor ao tema. A falta da padronização foi elencada, por todos os envolvidos, como a principal causa dos constantes retrabalhos que as elevatórias de esgotos passavam. Após a implementação do método, foi notória a drástica redução das não conformidades presentes nas obras em que o MASP havia sido aplicado. Para se chegar a tal resultado, como plano de ação, foi elaborado um único manual contendo todas as especificações técnicas, construtivas e procedimentais que uma elevatória deveria possuir, do ponto de vista da automação. Recomenda-se, que mesmo diante do sucesso alcançado, o MASP (PDCA voltado para melhorias), em conjunto com o SDCA (PDCA voltado para atingir metas padrão), permaneça sendo aplicado por tempo indeterminado, pois a melhoria de um processo passa inevitavelmente pela etapa de padronização, ou seja, baseado no estabelecimento e na revisão dos padrões. Por fim, espera-se que este trabalho instigue pesquisas acerca desse tema, seja aperfeiçoando o método por meio da utilização de outras ferramentas da qualidade, adoção de outros planos de ação ou formas de verificação, ou ainda, aplicando o método em outros projetos (estações de tratamento de água ou esgoto, boosters, entre outros) ou áreas (logística, manutenção, entre outras), e que seus resultados tenham potencial para aperfeiçoar o entendimento sobre resolução de grande parte dos problemas que cercam as empresas de saneamento e similares.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 12208: Projeto de estações elevatórias de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1992.

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APÊNDICES Apêndice A - Checklist aplicado nas elevatórias.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

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