Apontamentos para uma leitura histórica da Segunda Consideração Intempestiva

May 30, 2017 | Autor: Rüsley Biasutti | Categoria: History, Friedrich Nietzsche, Historia, Filosofía, Filosofia da História
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Em 1874, seguindo seu projeto de lançar uma série de textos curtos sob o título geral de Considerações Intempestivas, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche publicou a segunda das considerações, subtitulada Da utilidade e desvantagem da história para a vida. Ainda que a recepção da obra não tenha sido significativa entre os historiadores alemães do período, nela, o filósofo, imbuído de seu característico estilo de escrita beligerante, desfere um ataque ao projeto de formação de uma ciência histórica que estava sendo levado a cabo por proeminentes figuras da tradição historiográfica alemã, de Ranke e Humbolt, passando por Droysen, Mommsen até Treistschke. Apesar dos claros apontamentos e críticas feitos por Nietzsche à cultura historiográfica de seu tempo, surpreendentemente, ainda são poucos os trabalhos que examinam em detalhes o pensamento histórico do autor; e, quando o fazem, tais trabalhos tendem a considerar muito mais seu aspecto filosófico ou epistemológico do que propriamente histórico, desconsiderando o lócus de produção da obra. Seguindo a metodologia proposta pelos historiadores da Escola de Cambridge, a tese que orienta nosso trabalho é a de que as considerações da Segunda Intempestiva, não podem ser compreendidas sem que o contexto histórico e a cultura política na qual a obra foi produzida sejam considerados. Só a análise do pano de fundo político e cultural nos permite recolocar as questões que Nietzsche de fato tinha em mente ao escrever a obra. Ao proceder dessa forma, pretendemos demonstrar que, mais do que um ataque a formação da ciência histórica alemã, a Segunda Intempestiva deve ser entendida como uma reflexão da dimensão política da consciência histórica e como uma tentativa de golpear as relações que se estabeleciam entre o Estado nacional alemão que acabara de nascer, em 1870, e o trabalho dos historiadores. O que o filósofo pretende combater, então, é uma excessiva politização do passado, capitaneada por historiadores a serviço do Estado e que tinha como objetivo a elaboração dos mitos de formação que garantiriam à jovem nação a legitimidade histórica necessária para preservação de sua unidade.
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