Apontamentos sobre a Paz - palestra

June 23, 2017 | Autor: F. de Sá Leitão | Categoria: Espiritualidade
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RAÍZES DA VIOLÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DA PAZ


Ao mudar a nossa perspectiva de observação dos quadros diversos que vemos
no cotidiano (cidades, coisas, pessoas...) podemos perceber que é a partir
do nosso mundo interior que "regulamos" e entendemos o exterior e a nossa
condição humana. Uma busca constante e muita vez inconsciente pela Paz.

Todos os grandes livros religiosos nos trazem a promessa da Paz.

Nos evangelhos há vários momentos onde a Paz é anunciada.
Conforme Lc:2,14, na ocasião do nascimento de Jesus os Anjos do Senhor
anunciaram aos pastores de Belém: "Glória a Deus nas Alturas e Paz na
Terra aos homens de boa-vontade."

No Sermão do Monte (Mt:5,9) Jesus proclama as beatitudes e exorta a Paz:
"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de
Deus."

"A Paz seja convosco!" (Lc:24,36), saudou Jesus na aparição aos apóstolos
após vencer a morte.

... Percebemos pela experiência do dia-a-dia que a Paz se constitui numa
necessidade evolutiva. A sensação do amar, do gostar, é mais agradável que
o sentimento do rancor, da mágoa, do ódio.

A partir desse referencial é que somos chamados a rever os conceitos acerca
de paz, da Vida e mesmo de Deus. E a palavra chave dessa busca é o Ser, o
Indivíduo, o Espírito...

"Eu vos dou a minha Paz. Não vo-la dou como o mundo a dá..." (Jo:14, 27)

A paz do mundo é revestida de conveniências egoísticas, máscaras,
falsidades, diplomacia. É a simples contenção da violência enraizada no
íntimo do Ser.

A Paz do Cristo é profunda, íntima, duradoura, verdadeira, sem conflito.
Não raro controlamos a violência gritante dentro de nós, porém, não a
solucionamos.

Vivemos em guerra íntima e levamos nossa guerra ao próximo.

"Não haverá paz no mundo enquanto não houver paz de espírito." (Dalai Lama)

Como grandes líderes espirituais, Gandhi, Martin Luther King) conseguiram
"lutar" pacificamente em prol da Paz???

Antes de qualquer coisa, vivenciando o que acreditavam e sentiam.

PENSAR SENTIR AGIR

Segundo Gandhi, enquanto não há alinhamento entre o que pensamos, sentirmos
e agimos estaremos em constante conflito e seremos elementos
desencadeadores de guerra.
Nossa guerra íntima, nossa inquietação levam conflitos as outras pessoas,
ao mundo.

"A Paz do mundo começa em mim." (Gandhi)

Somos "adestrados" a cultivar essa guerra íntima, quando nos dizem para não
confiar nos outros, para se manter o "pé atrás". Não se pode viver em paz
quando se vê no próximo um inimigo em potencial.

Onde reside, então, a raiz da violência???

No MEDO. Temos medo de sermos nós mesmos. De assumir a "sombra" e a Luz.

Preferimos viver na NORMOSE (viver numa mórbida normalidade, sem
criatividade, sem entregar-se à Vida).

"É melhor tentar e falhar que preocupar-se e ver a vida passar, é melhor
tentar ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro
na chuva caminhar que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser
feliz, embora louco que em conformidade viver." Martin Luther King

Há que se sair do "piloto automático". Viver no "piloto automático" é viver
a serviço da guerra íntima.

Há que se entregar à vida. "Fruí-la", como nos esclarece Joanna de Ângelis.

Preferimos conquistar o que está fora, sendo essa a medida da nossa
insegurança.

Abrimos mão do que acreditamos em função do medo. Medo se não atender ao
verniz social vigente. Preterimos a profissão que gostamos àquela que é
mais vantajosa financeiramente na falsa ilusão da vida mais feliz. Temos
medos de ser verdadeiro. Estabelece-se o conflito.

No Livro de Jonas (Antigo Testamento bíblico) é narrada a história do
profeta Jonas, que foi comissionado pelo Deus de Israel para ir a Nínive,
capital da Assíria. A sua missão era admoestar os assírios que devido a sua
crueldade e ao muito derramamento de sangue, iriam sofrer a ira Divina se
não se arrependessem dentro de quarenta dias. Os assírios eram famosos, por
exemplo, por decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus
crânios. Crucificavam ou empalavam os prisioneiros. Temendo pela sua vida,
Jonas foge rumo a Társis, no SE da Península Ibérica (na moderna região da
Andaluzia). Segundo o relato bíblico, durante a viagem acontece um violenta
tempestade. Esta só acaba quando Jonas é lançado ao mar, pois foi
considerado pelos tripulantes como o responsável pela tormenta. Ele é
engolido por um "grande peixe e no seu estômago, passa três dias e três
noites. Sentindo-se como se estivesse sepultado, nesta situação arrependido
reconsidera a sua decisão. Tendo se arrependido, é vomitado pelo "grande
peixe" numa praia e segue rumo para Nínive, onde cumpre finalmente sua
missão. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jonas)

Como Jonas, somos chamados à vida, mas negamos, temos medo... medo de
atender ao chamado do nosso deus, do enfrentamento dos desafios da vida,
porém andamos de um lado para o outro e novamente nos deparamos com os
nossos desafios.
Optamos pelo "desvio" e retardamos o alinhamento necessário (pensar, falar,
agir) que nos garantirá a paz de espírito.

Entretanto, para vencer o medo e conquistar essa Paz não é preciso
estabelecer campos de combate dentro de nós.

É preciso primeiramente aceitar a nossa Sombra, reconhecer nossa
fragilidade, nossas defecções, para posteriormente integralizá-las a nossa
Luz.

Não podemos ser anjos antes de sermos humanos.

Conter o mal é parte. Construir o Bem, porém, é a finalidade. Mais do que
controle é educação.
Há que se buscar a Luz dentro de Si e não fora.

"Ó Deus! Tu estás mais próximo de mim do que eu mesmo." (Agostinho de
Hipona)

Quando reconhecemos a supremacia do Espírito sobre o Ego, da Luz sobre a
Sombra iniciamos o Despertar para uma nova vida.

"A PAZ DO MUNDO COMEÇA EM MIM!"

Qual está sendo a nossa contribuição para a Paz do mundo?

Se achamos o mundo muito grande para mudar, se achamos muito grande ainda
nossa cidade, nosso bairro, porque não começar pelo lar???

"Na minha casa não há paz por causa de fulano..."

Não podemos resolver a guerra íntima de ninguém, mas podemos evitar
realimentar a guerra íntima do outro.
Não é covardia. É simplesmente não deixar que a guerra do outro encontre
eco em nós, que tire a nossa paz.

É não resistir ao mal, como nos propôs Jesus. É oferecer a face esquerda
quando baterem na direita.
Antes de pensar em levar a paz ao próximo, devemos primeiro resolver os
nossos conflitos. Só se dá o que se tem.

Será que a forma com estamos agindo está gerando conflitos? Estamos
contribuindo para a Paz?

Por que será que às vezes "lutamos" tanto pela Paz e só nos chegam
dificuldades, conflitos?

Temos o mau-hábito de focar nossa mente na negação, na rejeição.
Valorizamos demasiadamente o mal. "Amaldiçoamos as trevas ao invés de fazer
brilhar a nossa luz" (Madre Tereza).

Dizemos: " – Eu sou contra... Detesto... Odeio...
Queremos soluções mágicas para as nossas dificuldades. Vamos ao consultório
médico e pedimos um comprimido, algo que remedeie o efeito: a dor. Porém,
há que se buscar a gênese da questão: autoconhecimento.

É preciso valorizar as virtudes.

Conta-se que num dado mosteiro budista, chegou um monge novato para
integrar o monastério. Esperando encontrar um ambiente de profunda virtude
e meditação, ficou desapontado quando percebeu que havia maledicência e
intrigas, tal qual mundo que acabara de renunciar. Dessarte, resolveu ir
falar com um monge-guru e contou-lhe o que se passava no mosteiro. O monge
contemplando-o, sereno, informou-lhe que suspeitava que naquele mosteiro
havia um Buda disfarçado. Surpreso, o monge novato voltou e resolveu
compartilhar a novidade com os outros, que surpresos passaram a observar um
ao outro em busca do Buda.
Os dias se passaram e o ambiente do mosteiro não mais era o de pouco tempo
atrás. Mais compenetrados, silenciosos, os monges passaram a buscar o Buda
disfarçado que estavam entre eles. Passaram a buscar as virtudes que
identificariam o Iluminado.

Quando buscamos a virtude no outro, a nossa percepção muda, nossa vida
muda...

Passamos a ver a luz que há em cada um, e perceberemos menos as sombras do
outro.

É preciso perceber que a vida como uma Dádiva, assim muda a nossa
perspectiva sobre tudo, sobre o TODO.

("Busque e acharás!")

Experenciamos o desapego verdadeiro. A renúncia dos "entulhos" materiais,
emocionais e espirituais que acumulamos.

Renunciar Reprimir

Não raro reprimimos e dizemos que renunciamos. Renunciar é ceder com amor.
Reprimir é contenção, tão-somente.

Havia um senhor que resolveu largar todas suas riquezas e entrar num
mosteiro budista. Todos o admiravam pelo tamanho desprendimento e desapego
às coisas materiais. Porém, certo dia em um das atividades de estudo, um
dos monges o pediu emprestado uma "borrachinha" que ele sempre carregava. E
para surpresa de todos o monge logo bradou que emprestaria e até cedia
qualquer coisa, mas sua "borrachinha" de estimação, não.

Qual será a "borrachinha" ou "borrachinhas" que carregamos conosco qual bem
precioso.

"Onde está o teu tesouro, aí também estará o teu coração." (Mt:6, 21)

Ofereçamos a Deus (como os hindus) o que temos para que Ele santifique e
transmute no Seu Amor.

Vivenciemos a ÉTICA DA COMPAIXÃO. (Compaixão é um componente do amor. É
viver com o outro a sua paixão, sentir a dor, a alegria do outro).

Reescrevamos nossa história com o Amor que nunca nos falta.
Joanna de Ângelis nos afirma que "o amor oferece resistência moral para os
enfrentamentos, para os fenômenos que fazem parte do processo de evolução."

A nossa capacidade de transcender é infinita.
A Luz não é algo que vamos adquirir, mas algo que precisamos perceber
dentro de nós.

"Vós sois a Luz do mundo." (Mt:5,14)
"Vós sois Deuses." (Jô:10,34)

Deixemos brilhar a nossa Luz.
Permitamos que o nosso deus interior se manifeste.

"O que nos mete medo não são as nossas fraquezas, nossas limitações. O que
nos mete medo é a nossa grandeza, a nossa luz." Nelson Mandela


Fernando de Sá Leitão
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