\"Appjournalism \" Como Estratégia De Reestruturação Do Setor Jornalístico

May 31, 2017 | Autor: Thiago Vieira | Categoria: Aplicativos Para Dispositivos Móveis, conteúdo nativo, appjournalism, ad blockers
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Falar sobre a mudança recente no feed de notícias.
Referência de como os Instant Articles REALMEENTE aceleram o carregamento de artigos.
Falar sobre o investimento de Facebook em empresas de mídia para deslanchar o Facebook Live.



Ver e < http://www.beaconreader.com/crowdfunding-journalism-for-writers>. Acessados em 22 de janeiro de 2016.
Adiante falaremos da questão dos paywalls, que podem ser entendidos como plataformas fechadas. Mas estas estão dentro do controle dos grupos de imprensa. Daqui em diante ao falarmos em plataformas fechadas estaremos nos referindo a plataformas criadas e controladas por terceiros.
Ver . Acessado em 22 de janeiro de 2016.
Ver . Acessado em 22 de janeiro de 2016.
Ver . Acessado em 22 de janeiro de 2016.
Serviço de assinatura de conteúdo criado por Dave Winer para facilitar a leitura de blogs na então nascente Web. Ver < http://scripting.com/davenet/1997/12/15/scriptingNewsInXML.html>. Acessado em 22 de janeiro de 2016.
Boletim informativo que pode ser assinado via website e recebido periodicamente via e-mail.
A este respeito ver FRANÇA (2015), que analisa o uso dos Cookies pelo jornal inglês The Guardian, para a obtenção de dados dos usuários e obtenção de receita publicitária, esta última uma alternativa para a utilização de sistemas de Paywall.
Recentemente a Spotify recomendou aos usuários que deixassem de realizar a assinatura através da loja de aplicativos Apple Store: "In case you didn't know, the normal Premium price is only $9.99, but Apple charges 30 percent on all payments made through iTunes […] You can get the exact same Spotify for only $9.99/month, and it's super simple", explicou a Spotify através de e-mail a seus usuários.
Em julho de 2013 haviam 2,7 bilhões de usuários de internet no mundo, um aumento de 8% em relação a julho de 2012. Para estatísticas detalhadas e definições sobre estes usuários, ver < http://www.internetlivestats.com/internet-users/>, acessado em 14 de janeiro de 2016.
http://www.vox.com
http://www.buzzfeed.com
http://www.vice.com
http://www.businessinsider.com
Conteúdo produzido pela própria redação promovendo marcas pagantes. Relacionada com os publi-editoriais da mídia impressa.
Ken Doctor define "jornalismo de negócios premium" como veículos que cobram mais que US$99 em assinatura por ano.
Também conhecida como publieditorial,
Ver https://nakedsecurity.sophos.com/2015/09/21/after-ios-9-launches-ad-blockers-top-the-app-store-chart/. Visitado em 22 de janeiro de 2016.
Ver https://investor.google.com/financial/tables.html. Acessado em 18 de janeiro de 2016
Ver http://murphyapps.co/blog/2015/9/22/why-are-people-using-content-blockers
Tradução do autor.
http://advertising.gawker.com/. Acesso em 23 de janeiro de 2016.
http://www.voxmedia.com/. Acesso em 23 de janeiro de 2016.
https://blendle.nl. Visitado em 06 de janeiro de 2016.
https://telegram.org
https://www.whatsapp.com/?l=pt_br
www.wechat.com
https://www.viber.com
https://www.snapchat.com/
Ver https://www.snapchat.com/ads. Acesso 23 de janeiro de 2016.
Ver http://tvrev.com/snapchat-new-twitter/. Acesso em 23 de janeiro de 2016.
Ver http://blog.snapchat.com/post/109302961090/introducing-discover. Acessado em 15 de janeiro de 2016
https://vine.co/. Acesso em 24 de janeiro de 2016.
https://soundcloud.com. Acesso em 24 de janeiro de 2016.
Ver https://twitter.com/jack/status/684496529621557248. Acesso em 24 de janeiro de 2016.
Tradução do autor.
Tradução do autor.
Ver http://httparchive.org/interesting.php?a=All&l=May%2015%202015&s=All. Acesso em 24 de janeiro de 2016
Ver http://time.com/3589909/internet-next-billion-mobile/. Acesso em 24 de janeiro de 2016
Para detalhes técnicos, conferir a página oficial do projeto em https://github.com/ampproject/amphtml. Acesso em 24 de janeiro de 2016.
Ver http://venturebeat.com/2015/12/09/google-will-start-sending-search-traffic-to-fast-loading-amp-news-articles-in-february-2016/. Acesso em 23 de janeiro de 2014.
Tradução do autor.
Anglicismo do termo monetization, um neologismo para "gerar lucro".
Experiências como sinônimo de experimentação.
Tradução do autor.
Tradução do autor.
Neologismo que transforma em verbo o ato de publicar fotos na plataforma Instagram.
Conferência organizada por Twitter para desenvolvedores. Ver https://dev.twitter.com/flight/2015. Acesso em 17 de julho de 2016.
Termo criado pelo investidor Chris Dixon para as séries de tuites feitos por seu colega Marc Andreesen. Ver https://twitter.com/cdixon/status/438530737210273792. Acesso em 17 de julho de 2016.
Tradução do autor. Ver https://twitter.com/jack/status/684496529621557248. Acesso em 17 de julho de 2016.
Tradução do autor.
Disponível em http://datajournalismhandbook.org/pt/na_redacao_0.html. Acesso em 21 de julho de 2016.
Ver http://www.payscale.com/research/US/Job=Front_End_Developer_%2f_Engineer/Salary. Acesso em 21 de julho de 2016.
Ver http://www.payscale.com/research/US/Job=Journalist/Salary. Acesso em 21 de julho de 2016.
Ver http://www.catho.com.br/profissoes/programador-front-end/. Acesso em 21 de julho de 2016.
Ver http://www.sp.senac.br/jsp/default.jsp?newsID=DYNAMIC,oracle.br.dataservers.CourseDataServer,selectCourse&course=20083&template=380.dwt&unit=NONE&testeira=474. Acesso em 21 de julho de 2016.
Ver http://www.catho.com.br/profissoes/jornalista. Acesso em 21 de julho de 2016.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
COORDENAÇÃO DE PESQUISA

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)
CNPq/UFS
"APPJOURNALISM " COMO ESTRATÉGIA DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR JORNALÍSTICO"APPJOURNALISM " COMO ESTRATÉGIA DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR JORNALÍSTICO
"APPJOURNALISM " COMO ESTRATÉGIA DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR JORNALÍSTICO
"APPJOURNALISM " COMO ESTRATÉGIA DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR JORNALÍSTICO



Área do conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas
Subárea do conhecimento: Comunicação
Especialidade do conhecimento: Jornalismo e Editoração

Bolsista: Thiago Vieira Pereira
Nº Matrícula: 09140811
Orientadora: Lilian Cristina Monteiro França

Departamento de Comunicação Social
NUCA – Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologia

Relatório Final
Período: agosto de 2015 a janeiro de 2016.


Este projeto é desenvolvido com bolsa de iniciação científica
PIBIC/CNPq
RESUMO

Mudanças nos hábitos de consumo de conteúdo noticioso fizeram com que as empresas jornalísticas perdessem parte do controle sobre os canais que levavam sua produção até a audiência. Ações coletivas e individuais ameaçam modelos de lucro tradicionais, como venda de espaços publicitários e assinaturas. Este estudo visa analisar dentre deste cenário quais são as questões mais discutidas por especialistas da indústria, contextualizá-las, apontar desdobramentos e soluções para a crise nos modelos de rentabilidade da imprensa, enfocando, principalmente, a atuação do chamdo APPJournalism.

PALAVRAS CHAVES: APPJOURNALISM, Conteúdo nativo, ad blockers, aplicativos.




Sumário
"APPJOURNALISM " COMO ESTRATÉGIA DE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR JORNALÍSTICO 1
1. Introdução: Da casa própria para uma plataforma de aluguel 4
2. Análise de Dados 7
3. Análise das Categorias Levantadas 9
Adblockers 9
Paywalls 10
Conteúdo Nativo e Plataformas Fechadas 11
Accelerate Mobile Pages 14
4. Conclusões Parciais 16
Referências Bibliográficas 19



Introdução: Da casa própria para uma plataforma de aluguel
A atual fase da indústria jornalística parece ser ótima para o jornalismo, mas ruim para os jornalistas e empresas noticiosas. Uma nova série de empreitadas têm desenvolvido um número significativo de plataformas e ferramentas para profissionais e amadores, estendendo e facilitando as rotinas de coleta, organização e publicação de fatos e informações.
Coletivos de jornalistas focados em jornalismo investigativo comunitário tem sido cada vez mais patrocinados através de rodadas de financiamento coletivo e assinaturas e cada vez mais conteúdo utilizado na elaboração de peças jornalísticas (fotos, áudio, vídeo) é produzido por pessoas não ligadas à imprensa. Neste novo cenário onde cidadãos podem publicar furos noticiosos, também se destacam as mídias sociais, onde grande parte destes conteúdos produzidos por usuários é publicada primeiramente.
Existe em curso uma mudança nos hábitos de consumo de conteúdo por parte da audiência, que vai, em certa medida, deixando de consumir notícias através de sites hospedados na Web para receber este conteúdo através de aplicativos em plataformas fechadas. A escolha de conteúdos tem acontecido através de algumas configurações principais, seja através de aplicativos que centralizam a distribuição do conteúdo de várias empresas noticiosas, uma categoria que cobre desde aplicativos elaborados pelos proprietários das plataformas - como Apple News, Google News e MSN News, empresas que pagam taxas por consumo de notícias dentro do aplicativo – seja través de aplicativos em que há um esforço intencional por parte do próprio usuário em escolher manualmente suas fontes de notícias, seja através de serviços RSS, newsletters e similares.
O uso crescente desses aplicativos afasta os usuários da visitação aos sites das empresas noticiosas, onde estas podem controlar a apresentação do conteúdo, vender publicidade e analisar o comportamento de seus leitores dentro de seus termos. Esta mudança de hábito no consumo de conteúdo noticioso faz com que os jornais percam ainda mais controle sobre a distribuição do material produzido.
Durante todo o século XX as empresas noticiosas estiveram no controle da mídia e carregavam as notícias produzidas por seu pessoal, em forma de jornais e revistas impressos, ondas de rádio ou televisivas. Durante a primeira transição que transformou a internet em um novo canal de distribuição de conteúdo, os sites serviam – e servem – como um canal proprietário. O RSS e outros serviços de assinatura de conteúdo que não necessitam de acesso direto ao site da empresa forneceram as bases para os atuais aplicativos noticiosos.
Em uma primeira observação, parece que este é um problema maior para as redes de publicidade digital (as maiores sendo pertencentes ao grupo Google), mas isso coloca as empresas noticiosas em uma situação difícil. A esta altura é sabido entre os profissionais que lidam com mídias sociais que o Facebook é a mídia social pela qual parte significativa dos usuários da internet recebe notícias (BARTHEL; SHEARER; GOTTFRIED; MITCHELL; 2015), que "esconde" publicações para forçar os produtores de conteúdo a pagar para que este conteúdo possa chegar a um número maior de usuários. Pagar para que todas as publicações cheguem até a audiência representa um custo abusivo. E as lojas que hospedam os aplicativos a serem instalados nos dispositivos móveis cobram taxas sobre assinaturas e transações dentro dos aplicativos.
A alternativa, ficar longe destas plataformas fechadas, não é atraente no cenário atual. Os dois modelos transpostos do período pré-internet – publicidade e assinaturas – se mostraram problemáticos para manter o sustento dos grupos de mídia. As receitas com publicidade digital têm diminuído (HOLCOMB, Jesse; MITCHELL, Amy; 2014; p.25) em virtude do excesso de canais para consumo de conteúdo e do crescimento expressivo de aplicativos que bloqueiam o carregamento de publicidade e serviços de análise, os Adblockers. As tentativas de forçar os leitores a pagar pelo consumo de notícias, bloqueando o acesso e exigindo assinaturas através de Paywalls (PEREIRA; 2014) têm se mostrado ineficazes em virtude do excesso de concorrentes oferecendo notícias gratuitas e do número limitado de pessoas dispostas a pagar para consumir notícias.
Nas pesquisas passadas (PEREIRA; 2014, 2015) estudamos como esse novo cenário afetou organizações estabelecidas na era pré-internet. Agora que a Web se tornou bastante vascularizada e seu número de usuários aumenta constantemente, tornam-se mais definidos os desafios de jovens veículos de mídia, nativos da Internet.
Jovens veículos de mídia nativos da Internet como Vox, Buzzfeed, Vice e Business Insider têm testado novos modelos de lucratividade neste novo cenário, cada um a seu jeito. Vox e Buzzfeed tentam lutar contra os Adblockers ao oferecer a chamada publicidade nativa; Vice busca parcerias pagas com grandes empresas como a Coca-cola Company e a Nike; e Business Insider procura entrar no grupo de empresas que oferecem jornalismo de negócios premium (DOCTOR, 2015). Todas estas estratégias transpositivas estão tendo a sua eficácia testada diante dos novos hábitos e estratégias da audiência para driblar cobranças que julgam abusivas.
Na falta de respostas definitivas é preciso analisar quais são os pontos que mais preocupam especialistas e empresários na tentativa de apontar onde esforços devem ser concentrados para encontrar modelos de financiamento que possam sustentar a imprensa a longo prazo sem que haja necessidade de pender a sensacionalismos rasos.
Análise de Dados
Foram analisadas as fontes explicitadas no plano de pesquisa –Nieman Lab/Harvard, Tow Centre for Digital Journalism/Columbia, Knight Center for Journalism in the Americas/University of Texas, BuzzMachine/Jeff Darvis/City University of New York, Poynter Institute/ University of South Florida e Pew Research Centre - Journalism & News – durante o período de 16 de agosto a 31 de dezembro de 2015. Os primeiros dias de agosto voltaram-se para a elaboração de uma metodologia e no exame dos newsletters das respectivas fontes.
Dentre as fontes, houve grandes diferenças de publicação, com a Poynter e Pew liderando a publicação de conteúdo (Tabela 1).
Tabela 1 – Número de publicações por fonte de pesquisa
Fontes
Contagem de Fonte
Buzzmachine
12
CJR
24
Nieman
213
Pew
317
Poynter
319
Tow
3
Total Geral
888
Fonte: Elaboração própria.

Os temas foram categorizados em duas rodadas de análise: No primeiro mês optou-se por apenas catalogar o conteúdo e procurar por padrões. Após este período, tais padrões começaram a aparecer indicando as questões que mais chamam a atenção dos empresários e estudiosos do assunto (Tabela 2).

Tabela 2 – Número de publicações por fonte de pesquisa
Questões
Contagem de Questões
Accelerate Mobile Pages
5
Adblockers
22
Conteúdo Nativo
34
Outros
836
Paywalls
8
Total Geral
905
Fonte: Elaboração própria.

Percebe-se uma dualidade de temas para as soluções propostas, duas categorias "guarda-chuva": a oposição entre ecossistemas proprietários e a Web aberta; a oposição entre a cobrança por acesso ao conteúdo e sua gratuidade, conforma exposto na tabela a seguir. As questões são abordadas em seguida (Tabela 3).

Tabela 3 – Categorias: Plataformas Abertas e Plataformas Fechadas
Plataformas abertas
Plataformas fechadas
Accelerate Mobile Pages
Consumo de conteúdo em apps (Conteúdo Nativo, Instant Articles)
Adblockers
Paywalls
Fonte: Elaboração própria.

Análise das Categorias Levantadas
Adblockers
O uso de bloqueadores de propaganda (os adblockers) está crescendo entre os usuários de dispositivos móveis, o que têm acendido luzes de alerta em publicações que se questionam sobre a possibilidade de terem seu modelo de negócios baseado em publicidade digital ameaçado a longo prazo. Uma série de perguntas relativas a alternativas têm sido discutidas: a chamada "publicidade nativa" vai funcionar a longo prazo? Realmente existe valor em vender publicidade através de banners intrusivos e que diminuem a privacidade da audiência? As empresas noticiosas locais vão conseguir sobreviver a uma nova transição na fonte de receitas?
Segundo o relatório de 2015 da empresa PageFair (PAGEFAIR; 2015), em junho de 2015 haviam 198 milhões de usuários de bloqueadores de propaganda dos mais variados tipos, representando 6% da população mundial que utiliza a internet – um crescimento de 41% em relação a 2014. A estimativa do relatório é de que em 2015 o bloqueio de publicidade causou um prejuízo de US$ 21,8 bilhões, com projeção de US$41,4 bilhões para 2016.
No relatório da PageFair de 2014 (PAGEFAIR, 2014), as principais razões listadas para utilização de bloqueadores de propaganda foram: o simples desejo de remover qualquer publicidade do site (45%), remover parte da publicidade (27%), proteger a privacidade (11%) e melhorar a performance de carregamento (8%).
Em 16 setembro de 2015 a Apple lançou a versão 9 de seu sistema operacional para dispositivos móveis, dando suporte à instalação de aplicativos que possibilitam o bloqueio de publicidade dentro dos browsers. No dia seguinte ao lançamento, o bloqueador de propagandas Peace ocupava a primeira posição entre os aplicativos pagos, com os similares Purify Blocker na terceira posição e Crystal na sexta posição.
É possível interpretar esta manobra de Apple como um ataque a sua principal rival, Google, a quem os lucros com publicidade digital somaram 45 bilhões em 2014, representando 68% de seu lucro total. PageFair (PAGEFAIR; 2015, b) estima que o prejuízo para Google com bloqueio de suas redes de publicidade gira em torno de US$6,6 bilhões.
Apesar de todos estes dados negativos, os usuários de sites de notícias não são totalmente avessos a publicidade. Dean Murphy, criador do bloqueador de publicidade Crystal, fez uma pesquisa rápida com seus usuários utilizando a pergunta "Dada a opção, como você gostaria de apoiar seus sites favoritos financiados via anúncios? ", 17,8% dos respondentes afirmaram que gostariam de eles próprios de permitirem ou não o carregamento de publicidade em sites individuais e 51,8% afirmaram que aceitariam publicidade que atendesse a critérios mínimos de qualidade, em termos de performance e privacidade.
Paywalls
A implantação de sistemas de cobrança nas versões digitais foi um dos temas mais discutidos recentemente, desde a implantação do Paywall poroso de The New York Times em 2011. O The New York Times destaca-se por ser um jornal de interesse geral e importância global, com especialistas e empresários analisando minuciosamente seus resultados financeiros. Desde o início da cobrança por acesso, vários jornais do mundo inteiro seguiram seus passos e também adotaram Paywalls, com taxas de sucesso variadas (PEREIRA; 2014, p. 11).
Desde o início do debate, várias previsões feitas por especialistas se concretizaram em torno dos temas: o número total de assinantes atingiu uma saturação, com o número de novos assinantes declinando; usuários não-pagantes utilizando-se de estratagemas para burlar os Paywalls e jornais locais que não puderam implementar esta solução por muito tempo por causa do pequeno número de pessoas dispostas a pagar por notícias (PEREIRA; 2014, p. 25).
Mesmo com evidências apontando para a eficácia limitada da estratégia dos Paywalls, donos de empresas noticiosas continuam apostando na ideia. Ernst-Jan Pfauth, co-fundador e editor do De Correspondent, site de notícias com uma base de usuários de 43 mil pagantes (US$65 por ano) afirma que assinaturas são a melhor alternativa em um cenário onde o retorno com publicidade é cada vez menor, os usuários a bloqueiam e intermediários (como Facebook) tomam o controle sobre como e quando o conteúdo é apresentado à audiência.
Em vez de ver os membros [audiência] como grupos-alvo para a publicidade, podemos focar a servir os interesses dos nossos leitores. Em vez de lançar seções cheias de anúncios como viagens e carreira, nós podemos fazer julgamentos editoriais baseados unicamente na importância de um assunto. Em vez de caçar visualizações de páginas, nós caçamos grandes histórias. (PFAUTH, 2015)
O maior problema desta estratégia ainda é a quantidade limitada de pessoas dispostas a pagar por notícias, portanto esta é uma estratégia que é mais apropriada para veículos de nicho ou operações como as de Gawker Media e Vox Media, onde uma companhia-mãe gere vários sites diferentes, cada um especializado em um público-alvo diferente.
Experiências híbridas misturando cobrança por acesso a conteúdo e plataformas de terceiros foram feitas, com resultados limitados. A Blendle é uma plataforma que dá acesso ao conteúdo de dezenas de grandes veículos noticiosos, cobrando até US1 por artigo. O usuário efetua um pré-pagamento e os valores são descontados até o fim dos "créditos" restantes. A empresa conta com 350.000 usuários no continente europeu e espera angariar melhores resultados nos EUA. Resta saber qual o tamanho da fatia que lhe resta do mercado de pagantes por conteúdo noticioso, pois uma limitação registrada dos paywalls é a saturação rápida do número de assinantes.
Na primeira vez em que The New York Times tentou cobrar por acesso a conteúdo, em 2005, com o programa TimesSelect, o número de assinantes estabilizou, com leitores de longa data representando a grande maioria dos assinantes do programa (BENTON apud PEREIRA; 2014, p.12). O padrão repetiu-se no período de 2011 a 2014, com o número de novos assinantes declinando consideravelmente próximo do fim do período (PEREIRA; 2014, p. 25). É plausível esperar que um novo agente neste cenário enfrente esta restrição na luta por assinantes contra empresas jornalísticas estabelecidas.
Conteúdo Nativo e Plataformas Fechadas
Sob certo ponto de vista pode-se entender os Paywalls e a citada plataforma Blendle como plataformas fechadas, mas o que se entende no meio jornalístico por plataformas fechadas engloba aplicativos proprietários e mídias sociais onde os produtores de conteúdo têm pouco controle sobre a distribuição de seu conteúdo.
Estes aplicativos incluem aplicativos de comunicação de mensagens como Telegram, WhatsApp, WeChat, Viber e Snapchat. Esta categoria de aplicativos é a segunda mais utilizada por usuários de dispositivos móveis, perdendo apenas para o tempo empregados em videogames (FILLOUX apud PEREIRA; 2015).
Dos aplicativos citados, o Snapchat é o de mais destaque no momento que esta pesquisa ocorre. Com 100 milhões de usuários diários e mais de 5 bilhões de reproduções de vídeos diariamente, o aplicativo se tornou popular entre adolescentes e jovens adultos porque as mensagens enviadas entre os usuários têm um tempo limitado de exibição que pode ser configurado pelo emissor, oferecendo melhores opções de privacidade. O momento atual do aplicativo leva investidores a compará-lo com a situação do Twitter em entre 2007 e 2009, quando o aplicativo recebeu grande atenção em eventos de tecnologia como South by Southwest (LEVY, 2007). Em suas primeiras versões o aplicativo continha apenas as opções de trocas de mensagens com texto, foto e vídeos. Na medida em que as empresas de mídia começaram a utilizar o aplicativo, a desenvolvedora responsável deu suporte para que estas empresas pudessem publicar conteúdo para sua audiência através da ferramenta Discover.
O Snapchat evita que seus usuários abandonem a plataforma, por isso desabilita o uso de hiperlinks que possam enviá-los para fora do aplicativo. A plataforma Instagram também desabilita o uso de hiperlinks para fora do aplicativo. O Twitter além de incorporar multimídia externa para ser exibida diretamente dentro da plataforma (vídeos das plataformas YouTube e Vine, áudios da plataforma Soundcloud, por exemplo.), recentemente anunciou, por meio de seu fundador e diretor executivo, que habilitará a publicação de artigos noticiosos e afins dentro da própria plataforma (INGRAM; 2016). E o Facebook desencoraja o aparecimento de links em favor de imagens e vídeos publicados diretamente dentro da plataforma (INGRAM; 2015, a). Isso força as empresas noticiosas e produtoras de conteúdo a criarem conteúdo específico para estas plataformas, segundo suas restrições.
O Facebook ofereceu aos usuários de seu aplicativo para iOS os Instant Articles, que são artigos carregados diretamente dentro do aplicativo sem necessidade de cliques em links para ser direcionado ao site de notícias. O conteúdo é carregado rapidamente e com pouca transferência de dados. Esta iniciativa é feita em parceria com empresas noticiosas relevantes, como o The New York Times e o Washington Post. O Facebook dá aos os produtores de notícias parte da receita com publicidade e oferece ferramentas de análise de dados da audiência. A reação dos estudiosos na época de seu surgimento foi temerosa.
Caio Túlio Costa afirmou que os "jornais adentram o nono círculo do inferno":
[...]o histórico do comportamento tanto de Mark Zuckerberg na consolidação de seu poder no Facebook quanto o de negócios da empresa com parceiros, sugere que as publicações que aceitaram este experimento precisam ficar de pé, perna e braço atrás. [...] Quando a Zynga incluiu o social game FarmVille no Facebook, em 2009, era tudo maravilha. Como os jornais agora, ela podia comercializar o joguinho diretamente e levava 100% da renda. Logo que o sucesso chegou para a Zynga, e a mesma ajudou o Facebook a ganhar audiência (entre 2009 e 2010 o Facebook ultrapassou a barreira dos mais de 600 mil novos usuários por dia!), o Facebook decidiu lançar sua própria moeda de comercialização interna e logo depois reviu o contrato com a Zynga e dela passou a cobrar comissão pelo que ela própria vendia dentro da plataforma. Ao mesmo tempo, restringiu a distribuição dos posts da Zynga. Exatamente como passou a fazer com todas as marcas e com todos os usuários, obrigando-os a "impulsionar" os próprios posts. Ou seja: todos tiveram que pagar ao Facebook para ser mais vistos no próprio Facebook." (COSTA, 2015)
Com uma opinião mais otimista (ou conformista), Jeff Jarvis diz que as empresas noticiosas não são mais donas de seus canais e precisam ir até sua audiência ao invés de lutar contra a corrente:
[...] O que deveríamos fazer: ignorar a audiência no Facebook, bater o pé e levar nossas bolas para casa, esperando que os usuários sempre nos sigam para nossas Home Pages? (JARVIS, 2015).

Este conteúdo publicado diretamente nestes aplicativos – conteúdo nativo – traz uma nova condição onde uma grande gama de aplicativos torna-se o primeiro ponto de contato das empresas noticiosas com sua audiência. A explicação de Bia Granja, fundadora do site youPix, da sua decisão de mover o futuro conteúdo do site para a plataforma de blogs Medium ajuda a entender essa situação:
A internet democratizou a criação de conteúdo porque, na verdade, ela democratizou a distribuição de conteúdo. De repente, você não precisava de uma soma gigantesca de dinheiro pra poder fazer seu conteúdo chegar às pessoas. Youtube, Facebook, Twitter, Medium… poste seus conteúdos usando essas plataformas e o próprio ecossistema se encarrega de faze-los circular. O conteúdo agora gravita em torno dos usuários/leitores e não o contrário. Ter um site como "página de destino" me parece uma visão meio velha sobre como a gente se relaciona com conteúdo hoje em dia. O usuário comum de internet tem o Facebook e/ou o Twitter em suas listas de favoritos e não o seu site, o UOL ou o Buzzfeed. (GRANJA, 2015)

A ascensão do conteúdo nativo e as mudanças no comportamento dos usuários de dispositivos móveis são mais evidências que o número de canais onde empresas noticiosas deverão atuar tende a crescer, diminuindo o controle sobre o local onde sua audiência consumirá seu conteúdo.
Mathew Ingram espera que esta situação piore no futuro:
Foi muito mais fácil nos bons velhos tempos, na década de 1970 e 80. Empresas de mídia controlavam não apenas a maioria das notícias e entretenimento que foi produzido, mas também os canais de distribuição. E essa escassez gerou enormes receitas através de publicidade (...). Agora, a mídia mundial está um caos total. Os antigos canais foram demolidos ou rasgados, ou estão em vários estados de ruína. Impresso está morrendo, TV está sendo interrompida [por mídias disruptivas], e quase qualquer um pode ser um editor — incluindo as marcas, celebridades e pessoas importantes que costumava contar com empresas de mídia como uma forma de publicar sua mensagem. (INGRAM; 2015, b)

Accelerate Mobile Pages
Em 15 de janeiro de 2016, o tamanho médio de uma página da Web para dispositivos móveis era de 2,2mb (megabytes) – uma pessoa que compre um pacote de dados com 100mb só poderá acessar cerca de 45 páginas. Imagens respondem por 63,8% do total, com scripts diversos (arquivos CSS, JavaScript e outros) em segundo lugar, respondendo por 16%. Isso gera custos extras para o usuário.
Em novembro de 2014, o brasileiro precisava trabalhar 34,4 horas para pagar um por um plano de dados 500mb, portanto páginas que contém número exagerado de fotografias ou animações podem incorrer em grandes custos para pessoas com baixa renda. Esta situação também é prejudicial para os proprietários de websites, uma vez que um acréscimo de 160kb (kilobytes) pode causar um aumento de 12% na taxa de rejeição do site visitado (CREMIN; 2015).
Tentando combater esta situação em que as páginas da Web para dispositivos móveis são sobrecarregadas com códigos de terceiros e publicidade, a Google apresentou a um grupo de jornais e sites de conteúdo noticio a iniciativa AMP – Accelerate Mobile Pages – um tipo de página configurada para carregar o mínimo possível de código externo, com funções de interatividade limitadas e imagens com qualidade reduzida.
A iniciativa foi bem recebida pelos donos de empresas noticiosas, mas sofreu críticas dos desenvolvedores que constroem páginas e serviços para a web. Parte das críticas deve-se à limitação da publicidade que pode ser exibida e dos serviços que análises que podem participar: AdSense, DoubleClick (publicidade), comScore e Chartbeat (análise). Deve ser frisado que AdSense e DoubleClick são companhias pertencentes a Google. Páginas AMP não carregam código externo, o que quer dizer que publicidade e sistemas de análise desenvolvidos pelos próprios sites noticiosos não podem ser utilizados. Então se por um lado páginas AMP tornam mais atraente a visitação destes sites na web, por outro limita as opções com que as empresas noticiosas podem trabalhar dentro de seus próprios domínios.
Outras críticas por parte dos desenvolvedores referem-se à ideia de que páginas AMP "quebram" a arquitetura aberta da Web (AICKIN, 2015). Páginas comuns da Web são construída com elementos HTML, CSS e JavaScript padronizados, que podem sofrer alterações se forem fornecidas instruções aos browsers. Mas páginas AMP usam elementos proprietários construídos pelo Google, em que elementos externos e de interatividade só podem ser introduzidos se houverem sido previamente produzidos pelo Google. Por exemplo: se uma página AMP contiver um elemento que dê acesso a uma música ou podcast da plataforma Soundcloud, este elemento não funcionará corretamente, pois, no momento que este texto é escrito, a Google não desenvolveu um elemento próprio para páginas AMP que habilite a plataforma Soundcloud. Desta forma, desenvolvedores terão trabalho dobrado para possibilitar a publicação de conteúdo, criando um sistema que publique conteúdo utilizando os elementos padrão de HTML, CSS e JavaScript, e outro utilizando os elementos proprietários AMP.
Cabe notar que todas estas capacidades da AMP para tornar o carregamento das páginas mais leve e rápido poderiam ser implementadas deliberadamente pelos proprietários de qualquer website – reduzindo o número e tamanho das fotos, diminuindo a quantidade de propagandas em forma de imagens animadas ou vídeos, reduzindo a quantidade de sistemas terceiros de análise. Por outro lado, cabe notar que a partir de fevereiro de 2016 páginas que forem construídas utilizando AMP terão preferência nas buscas do Google, desencorajando inciativas próprias.
Ainda não existe adoção em larga escala da tecnologia AMP, portanto não existem dados para atestar seus resultados.
Conclusões Parciais
Dentre as evidências neste estudo, existe uma que consideramos central, afetando todas as outras tendências analisadas: a transição do consumo de conteúdo da Web para plataformas proprietárias.
Esta mudança de comportamento faz com que as mídias sociais se tornem os primeiros pontos de contato da audiência para ser encaminhada aos sites das próprias empresas noticiosas. Cory Haik afirma que plataformas distribuídas serão suas novas homepages:
Apps nativos de longa data também irão finalmente ganhar o que lhes é devido (apps para telefones, apps para tablets). Na verdade, eu diria, esses aplicativos nativos serão chave. Profunda ligação irá mudar este jogo em muitos aspectos. Só começamos a ver o início do mesmo. Editores veem seus usuários de apps mais de duas vezes mais engajados do que seus usuários da web. E lá tem também tido a capacidade de rentabilizar estas aplicações através de preços de CPMs mais elevados ou através de assinaturas. Estes são os usuários premium. (HAIK; 2015).
O ambiente nestas plataformas nem sempre é favorável para os produtores de conteúdo noticioso, pois faltam ferramentas de análise da audiência, mecanismos de monetização e parceiros para desenvolvimento de produtos. Haik espera que esta situação mude, pois, "Plataformas e editores desfrutam de uma relação simbiótica, ainda mais neste admirável mundo novo de experiências deliberadas com notícias em novas superfícies" (HAIK; 2015).
Neste novo cenário, Alisha Ramos (2015) argumenta que a relevância das marcas para com seus públicos-alvo será um elemento-chave. Para Ramos, uma marca relevante
(...) é aquela que é imediatamente reconhecível e identificável. Isso vem através de elementos de design como cores, tipografia, movimento e mais. Isto também pode vir da natureza do seu conteúdo — você é conhecido por [artigos] explicativos? Conteúdo investigativo? Fotografia deslumbrante? (...). Por outro lado, "Relevância da marca" é um termo cunhado pelo comerciante David a. Aaker e é definida por uma marca que tem "esculpido uma nova categoria para si na qual outros concorrentes são irrelevantes." (...). (RAMOS; 2015)

Ramos (2015) utiliza estes conceitos para afirmar que
Esta é uma combinação vencedora; uma marca distinguível através de múltiplas plataformas que fala diretamente a um público de nicho desejável, criará exposição significativa a novos públicos, bem como um caminho para mais engajados e leais leitores. E este compromisso e lealdade, finalmente, se traduzem em dólares que você deve escolher para explorar outras fontes de receita, tais como, digamos, eventos de negócios, um programa de televisão, ou até um paywall para conteúdo exclusivo "privilegiado". (RAMOS; 2015)

A relevância das marcas para os públicos-alvo sempre foi algo importante a ser trabalhado e que grupos editoriais souberam trabalhar, especialmente com as revistas, então o que Ramos (2015) traz de novo é o foco no nicho dentro destas plataformas fechadas. Pois quando terceiros se tornam os canais de distribuição de conteúdo, os usuários sabotam modelos tradicionais de rentabilidade e mostra-se cada vez mais difícil tornar usuários fieis em usuários pagantes, entendemos que a relevância de uma publicação para sua audiência se torna uma das últimas variáveis relevantes ainda sob razoável domínio das próprias empresas.
Outra tendência percebida é que as restrições impostas pelos novos intermediários e hábitos da audiência têm forçado as empresas noticiosas a inovar radicalmente. Celeste LeCompte faz um contraponto, afirmando que as restrições trazidas pelos bloqueadores de propaganda forçam os sites noticiosos a inovar seus modelos de lucratividade:
Tem havido uma enorme quantidade de criatividade na redação digital, com uma explosão de novas formas de contar histórias e apresentar informações, muito do que aqui narradas em Nieman Lab. Consumidores estão gastando mais tempo com a mídia digital do que nunca, e contadores de histórias estão encontrando inúmeras novas maneiras para trazer notícias e reportando-se a vida. As redações agora regularmente produzem histórias interativas e orientados a dados, lançar podcasts e experimentarem com novos formatos estruturados (como, digamos, pilhas de cartão do Vox). Narrativas de textos longos estão em uma idade de ouro, boletins por e-mail estão melhores do que nunca, e vídeos em formatos curtos e longos estão crescendo. Conteúdo distribuído tem incentivado novas formas de contar histórias, também, com jornalistas elaborando conteúdo para Snapchat Discover, construindo robôs no Twitter, Instagramming ensaios fotográficos de e conversando com os usuários sobre as eleições e desastres no WhatsApp. Dada esta enxurrada de criatividade, é difícil ver por que estes são difíceis tempos para o jornalismo.
(...) em 2016, o debate sobre bloqueio de publicidade finalmente pode levar a indústria a lidar com a necessidade de novas oportunidades de receita. Publicidade nativa e conteúdo patrocinado tem sido nossa primeira linha de defesa para o problema de bloqueio de publicidade, mas há sinais de revolta em todas essas frentes, também. Os limites do que quer que reste do mercado anúncios estão tornando-se particularmente evidentes para as organizações noticiosas que não têm escala maciça ou audiências de nicho altamente lucrativas que os anunciantes cobiçam. (LeCOMPTE; 2015)
LeCompte corrobora nossa afirmação de que são bons tempos para o jornalismo, mas pelos dados apresentados anteriormente mantemos nossa posição de que a situação atual é grave para os profissionais da imprensa, pois a grande maioria das inovações não leva a modelos onde a sobrevivência dos mesmos é razoavelmente garantida.
Neste cenário de transição, Facebook é o agente com maior poder influência, apesar de não ser propriamente uma empresa de mídia noticiosa. E Facebook está nesta posição não apenas porque é a mídia social com maior número de usuários no mundo, mas também porque oferece soluções concretas para as necessidades de consumo de notícias de seus usuários, solucionando em várias perspectivas os problemas apontados anteriormente neste texto.
É sabido que os Instant Articles carregados dentro do aplicativo do Facebook para dispositivos móveis são carregados mais rapidamente, dispensando o uso das páginas AMP elaboradas pelo Google para acelerar o carregamento das mesmas.
A iniciativa do Facebook também exibe ao usuário apenas o essencial, deixando de lado pop-ups e publicidades intrusivas que atrapalham o consumo da notícia. Além disso a publicidade carregada dentro dos Instant Articles não pode ser boqueada por bloqueadores de publicidade, dispensando a instalação de software terceiro.
Ao requisitar apenas a instalação de seu aplicativo para o consumo de notícias via Instant Articles, Facebook também elimina a necessidade de paywalls para a cobrança por conteúdo.
Portanto, atacando ao mesmo tempo todos os problemas que propostas diversas tentam solucionar e alinhando-se aos hábitos de consumo de notícias por parte de sua audiência, Facebook apresenta o modelo que mais atende as necessidades dos consumidores de notícias ao mesmo tempo que detém o canal de distribuição de conteúdo. Este é um movimento que está sendo seguido por competidores.
Snapchat apresenta seu conteúdo nativo forma mais complexa, utilizando-se de uma apresentação inicial em forma de vídeo, seguida por conteúdo em forma de texto ou imagens. O aplicativo consome dados intensamente, em virtude da ênfase na publicação de vídeos, o que é um fator negativo para usuários que sofrem de restrições com planos de dados bastante limitados. Este tipo de conteúdo pode fazer com que o carregamento do mesmo seja carregado lentamente.
Snapchat não oferece neste momento aos produtores de conteúdo nativo a capacidade de inserir publicidade nativa da mesma forma que Facebook faz nos Instant Articles, onde os produtores de conteúdo podem reter parte do lucro com publicidade inserida dentro de seus vídeos, artigos ou galerias de fotos; porém não existe nada possa impedi-los de o fazer.
Twitter, mesmo sendo um serviço baseado na troca de mensagens curtas, também busca um meio de atuar como plataforma para a publicação de conteúdo nativo com mais de 140 caracteres. Em janeiro de 2016 fontes anônimas informaram ao jornalista Kurt Wagner (WAGNER, 2016) que Twitter planeja aumentar o limite das mensagens postadas na rede para até 10000 caracteres. A publicação deste plano gerou ira entre os usuários do micro-blog, que manifestaram grande indignação, ao que o CEO e co-fundador Jack Dorsey respondeu com uma imagem contendo um texto explicativo sobre os futuros planos para conteúdo no site:
Como seu núcleo, o Twitter é um [serviço de] mensagens públicas. Uma maneira simples de dizer uma coisa, para qualquer um, que todo mundo pode ver instantaneamente.
Nós não começamos o Twitter com uma restrição de 140 caracteres. Nós a acrescentamos no começo para caber em uma única mensagem SMS (160 caracteres).
Tornou-se uma restrição linda, e eu adoro isso! Ela inspira criatividade e concisão. E uma sensação de velocidade. Nós nunca vamos perder esse sentimento.
Nós passamos muito tempo observando o que as pessoas estão fazendo no Twitter, e podemos vê-los capturando telas do texto e tuitando isso.
Em vez disso, e se aquele texto... fosse (sic) texto verdadeiro? Texto que pode ser pesquisado. Texto que pode ser destacado. Isso é mais utilitário e poderoso.
O que torna o Twitter, o Twitter é sua natureza rápida, pública, [com] conversação ao vivo. Vamos sempre trabalhar para fortalecer isso. Para cada pessoa ao redor do mundo, em todas as línguas!
E concentrando-se em conversação e mensagens, a maioria de tweets será sempre curta e doce e de conversação!
Nós não vamos ser tímidos sobre a construção de mais utilidade e poder no Twitter para as pessoas. Enquanto seja consistente com o que as pessoas querem fazer, vamos explorá-lo.
E como eu disse no #flight, se decidir enviar o que explorar, nós estamos dizendo desenvolvedores com antecedência, para que possam se preparar adequadamente.
(Também: Eu amo tweetstorms. Esses que não vai embora!).
Uma explicação alternativa para o aumento do limite de caracteres é a de que Twitter planeja uma ação semelhante às de Snapchat e Facebook, permitindo que conteúdo extenso seja carregado dentro de seu site e aplicativo, estimulando seus usuários a permanecerem cada vez mais dentro de seu jardim fechado.
Segundo as fontes de Kurt Wagner (WAGNER, 2016):
Twitter está testando uma versão do produto na qual tweets aparecem da mesma forma que eles fazem agora, exibindo apenas 140 caracteres, com algum tipo de call to action para exibir mais conteúdo que você não pode ver. Clicando sobre os tweets os expandiria para revelar mais conteúdo. A razão disso é manter a mesma aparência da sua timeline, embora este modelo não seja necessariamente final, dizem fontes.
Então torna-se evidente que há em curso uma mudança de cenário, onde a imprensa perde cada vez mais controle sobre os canais de distribuição, para tornar-se principalmente produtora de conteúdo. Como fugir desta situação secundária no ciclo de consumo de conteúdo?
Os blocos básicos de construção de notícia são blocos de textos, fotografias e imagens, áudio e vídeo; todas estas mídias têm amplo suporte dentro dos aplicativos e sites de mídias sociais. Portanto a construção de conteúdo noticioso não-padrão, que não pode ser carregado dentro de mídias sociais, que necessita de interação avançada, é um caminho que está fora deste ciclo. Construir produtos noticiosos que vão além destes blocos básicos só podem ser consumidos dentro dos sites das empresas de imprensa, onde as mesmas podem vender publicidade e cobrar por assinaturas.
Produtos noticiosos resultados de trabalhos em jornalismo de dados como o painel interativo construído por NPR para exibir possibilidades de automação para diversas profissões, o banco de dados resultante da investigação do International Consortium of Investigative Journalists sobre os Panama Papers e as tabelas para cálculo de IPVA de Folha de São Paulo, não podem ser carregados dentro das plataformas fechadas citadas.
Ou caso a ser analisado é o de produtos jornalísticos que capturam conteúdo das plataformas fechadas e o utiliza para construir conteúdo, como o projeto Blue Feed, Red Feed, de The Wall Street Journal, que captura conteúdo de Facebook sobre determinados temas e os exibe lado a lado, para comparar a cobertura política nas páginas conservadoras e progressistas nos EUA.
Outras criações de narrativa interativa como a reportagem Snowfall, de The New York Times; A global guide to the first world war - interactive documentary, de The Guardian; The Long, Strange Trip of Dock Ellis, de ESPN; também contém recursos que não podem ser diretamente carregadas dentro das plataformas fechadas citadas.
Ao passo que estas narrativas noticiosas dão a possibilidade de atrair novos visitantes e possíveis assinantes para os sites noticiosos, eles também apresentam novos desafios nas redações. Tanto as narrativas interativas quanto as reportagens resultantes do jornalismo de dados necessitam de equipes interdisciplinares podem incluir jornalistas, fotógrafos, editores de áudio e vídeo, programadores e até estatísticos. Capitanear a evolução do trabalho pode se mostrar dificultoso ou mesmo proibitivo, já que os custos de pagar equipes contendo diversos especialistas podem ser proibitivos para pequenas publicações.
Wendy Carlisle, da Australian Broadcasting Corporation (ABC), afirmou que o time responsável pelo projeto Coal Seam Gas by the Numbers foi constituído de 8 pessoas(GRAY; CHAMBERS; BOUNEGRU;2012): um desenvolvedor web e designer; um jornalista; um pesquisador especializado em extração de dados, planilhas de Excel e limpeza de dados; um jornalista júnior trabalhando em período não-integral; um consultor em produção executiva; um consultor acadêmico especializado em mineração de dados, visualização gráfica e técnicas de pesquisa avançada; um gerente de projetos e suporte extra por parte da redação e administração da ABC.
A título de exemplo, Nos EUA, a renda anual de um desenvolvedor front-end para Web varia entre US$41.707 e US$107.567, ao passo que a de um jornalista US$23.092 e US$70.648. No Brasil, a renda mensal média de um desenvolvedor front-end para Web é de R$2.500,86, profissão esta que não necessita de graduação universitária para o exercício da profissão; ao passo que um jornalista tem renda média mensal de R$2.041,22. Somando-se a contratação de outros profissionais para a formação de uma equipe semelhante à de ABC para o projeto citado, entendemos que estas somas são proibitivas para pequenas publicações com fluxos de renda limitados.
Portanto construir conteúdo que necessite ser consumido fora dos jardins fechados das mídias sociais, utilizando-se das técnicas citadas anteriormente, pode ser algo que apenas médias e grandes empresas jornalísticas podem ter recursos para realizar.
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