Apresentação de Tese

May 29, 2017 | Autor: João Ferreira Dias | Categoria: Candomblé, Afro-Brazilian Culture, Nostalgia, Candomble, Politics of Memory, Nostalgia and Memory
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APRESENTAÇÃO DE TESE – JOÃO FERREIRA DIAS

Doutoramento em Estudos Africanos | ISCTE-IUL | 2014-2016 ||| PROVAS: 27.09.16 // JÚRI: Doutora Helena Barroso Carvalho (ISCTEIUL), Doutor Rui Alberto Mateus Pereira (FCSH-UNL), Doutora Ana Paula Ribeiro Tavares (FLUL), Doutor João Manuel Monteiro de Castro Vasconcelos (ICS-UL), Doutor Miguel de Matos Castanheira do Vale de Almeida (ISCTE-IUL), Doutora Stefania Capone (CNRS), Doutor José Augusto Nunes da Silva Horta (FLUL) // AVALIAÇÃO: Aprovado com Distinção por Unanimidade. |||

»»» Título “A ÁFRICA É AQUI, NO TERREIRO”: HORIZONTES NOSTÁLGICOS, SENTIDOS DA ÁFRICA E OUTROS LUGARES NO CANDOMBLÉ (JEJENAGÔ) DE SALVADOR E UBERABA

_____ Apresentação em 600 palavras ____ ENQUANTO

SENTIMENTO

DE

ANSIEDADE

POR

UM

PASSADO

eventualmente nem vivido, a nostalgia requer períodos de latência, recomposições e coerência coletiva, ao ser um sentimento que sai do individual e se socializa, que coloca vis-à-vis um presente enquanto fusco e um outrora glorioso, porque a memória humana é viva e dinâmica, como observou Pierre Nora. Nesse sentido, como notou Triaud, a memória é um ativo político poderoso, porque permite reforços ideológicos e de poder de um dado grupo. Tudo isto é por demais evidente quando exportado ao Candomblé. Elaborada a partir do lamento frequente de que o Candomblé coevo é uma degeneração dos tempos de outrora, a presente tese coloca em debate a forma como a memória se imbrica a questões de »»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»» [email protected] // www.joaoferreiradias.net

autenticidade, de poder e legitimidade, pois que o passado é invocado como instrumento de empowerment. Nesse sentido, a problemática da nostalgia não deixa de se mesclar com históricos debates no seio da Antropologia afro-brasileira, como o binómico “pureza”/”degeneração”, agora não tanto na hierarquização dos cultos, mas antes na ideia de perda cultural, na relação entre o passado e o presente. De Dantas a Capone, de Parès a Seeber-Tegethoff, entre outros, a literatura sobre o assunto evidenciou o significativo contributo dos pesquisadores na construção de uma memória de autenticidade em torno do Candomblé nagô-baiano das casas-matriz Engenho Velho, Gantois e Opô Afonjá. O trabalho de campo colocou em evidência que a autenticidade não é unívoca, mas antes resulta de fatores negociados geográfica e temporalmente. Nesse sentido, indicadores

não-negociáveis

em

determinados

contextos

são

negociados noutros. Basta ver a forma como o idioma da ‘caridade’ atua determinantemente no campo religioso de Uberaba, ao sair da esfera espírita para adentrar pelo Candomblé, trazendo o culto de entidades para um contexto onde, noutras geografias, teríamos um caso de hibridismo catalogado, negativamente, como “umbandomblé”. Não obstante, essa apropriação é filtrada e peneirada, num processo análogo ao que Capone observou no Rio de Janeiro, sendo que se dá uma descontinuidade através de objetos (atabaques) ou de espaços (culto noutro espaço que não o destinado aos Orixás), que permite preservar a legitimidade e a autenticidade do sacerdote. Como visto, a partir do campo religioso uberabense e soteropolitano trabalhados, as legitimidades não são dados-adquiridos, elas são permanentemente questionadas e, por tal, precisam de permanente revitalização. Neste jogo, nem mesmo as filiações a casas tidas como tradicionais protege os agentes religiosos de serem alvo de acusações. Porque o campo religioso é dinâmico e o Candomblé precisa

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de se debater num mercado concorrencial com as igrejas evangélicas que captam cada vez mais seguidores do espaço clássico afro-brasileiro e com ofertas alternativas de autenticidade africana, este vê-se obrigado a alterar os seus processos e abordagens. Neste campo de autenticidades buscadas, a reafricanização assume importante lugar nos debates internos do Candomblé. Presente no Candomblé desde o começo, a procura de uma ordem inicial marca os movimentos de restauração religiosa, cujos caminhos para tal transportam as ideologias em confronto. Se em São Paulo e Rio de Janeiro a reafricanização vem seguindo o caminho de Ifá, seja por sacerdotes nigerianos, seja por viagens iniciáticas à Nigéria, seja através de sacerdotes cubanos, em Uberaba o caminho mantém-se pela via das casas-matrizes de Salvador, num movimento clássico que privilegia os históricos terreiros da “Meca do Candomblé”. A autenticidade do passado é, igualmente, veiculada pela estética. Não existem dúvidas de que este aspeto, extremamente presente no Candomblé, vem embrulhado em questões políticas de autenticidade e legitimidade. A memória instituída fixou nas narrativas o ideal da simplicidade, sem brilho, categorias que visam demarcar as fronteiras entre um Candomblé autêntico e um Candomblé para turista ver, como falava Bastide.

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