Apresentação: Digitalização e Sociedade

July 15, 2017 | Autor: Juliano Carvalho | Categoria: Comunicacion Social, Digitalization, Cultura E Sociedade
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Apresentação: Digitalização e Sociedade Não é possível pensar em características da espécie humana sem considerar a capacidade de produzir artifícios e artefatos, que ela desenvolveu durante seus vários trajetos evolutivos. A diferença mais visível em relação aos demais seres da Natureza é a capacidade inata que o Homem adquiriu, de pensar, de falar, de criar relações sociais perenes e, sobretudo, de criar artefatos e de produzir continuamente bens culturais, materiais e simbólicos. A atual espécie Homo sapiens sapiens foi sendo talhada em seu longo caminho pelo Homo loquens, o primeiro hominídeo falante, depois pelo Homo faber, um hominídeo habilidoso que aprendeu a usar as mãos para fazer objetos práticos e abstratos. Ao conseguir desenvolver as primeiras ferramentas, os indivíduos humanos puderam multiplicar a força e a agilidade corporal e foram aprendendo a sistematizar as técnicas que lhes deram poder crescente sobre o mundo natural. Ao manejar o fogo, puderam resistir ao frio, iluminar a escuridão, cozer os alimentos e a argila e, mais tarde, forjar metais. Graças aos artefatos desenvolveram a agricultura, domesticaram animais e processaram recursos minerais e biológicos. Também puderam resguardar o futuro, com o domínio estratégico de sistemas de armazenagem e de processos de conservação de víveres. Com a produção e a conservação de excedentes começaram a realizar trocas, inventaram o comércio e também o dinheiro. A criação da escrita deu início ao ciclo de aperfeiçoamento de suportes para registro de informações, das tecnologias e sistemas de comunicação. O domínio da escrita inaugurou a comunicação não presencial e permitiu que os conhecimentos e culturas rompessem as barreiras da distância e do tempo. Com a escrita, o armazenamento e a circulação das informações tornaram-se independentes da memória, da presença e da existência dos indivíduos. O homem da era moderna conseguiu juntar a ciência e as técnicas amadurecidas desde o Renascimento europeu para produzir máquinas e motores mais poderosos do que qualquer ferramenta criada em eras anteriores, pelas diversas sociedades humanas estabelecidas ao redor do planeta. Desde as últimas décadas do século XVIII, período que Milton Santos denominou de “momento da criação do meio técnico, que substituiu o meio natural”, começaram a ser instaladas as primeiras indústrias modernas na Inglaterra. A industrialização acelerou a urbanização

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populacional, as cidades industriais em pouco tempo foram transformadas em metrópoles caóticas. Dos teares aos primeiros motores a vapor, a indústria moderna iniciou o século XIX com a incorporação de maquinário e força motriz ao trabalho coletivo das fábricas, ação sistemática e evolutiva que revelaria, desde a segunda revolução industrial, a surpreendente capacidade técnica da burguesia para liderar a produção a uma diversidade inumerável de bens materiais e, mais tarde, simbólicos. A educação, a cultura e o entretenimento adquiriram crescente importância nas sociedades urbano-industriais e houve um rápido aumento do número de pessoas alfabetizadas e de trabalhadores assalariados, fatores que estimularam um maior consumo de mercadorias e de informações baratas e atualizadas sobre o cotidiano social. A imprensa e a publicidade viabilizaram a proliferação de uma nova e lucrativa atividade de produção e oferta de bens simbólicos para as diferentes camadas populacionais urbanas. A tecnologia de mecanização e motorização desenvolveu novas impressoras, que aposentaram a prensa tipográfica manual, utilizada desde Gutenberg. Também estimulou a organização empresarial de gráficas e de editores de jornais. A expansão do trabalho não material ocorreu em um tempo simultâneo ao desenvolvimento do trabalho industrial e de outras atividades urbanas. Serviu para atender aos contingentes modernos, cujas necessidades cotidianas já não podiam ser atendidas com casa, roupa, comida e reprodução. Os meios de comunicação de massa serviram como ferramentas modernas para a transformação do trabalho abstrato, literário, plástico, musical, educativo, publicitário, jornalístico etc., em produtos culturais, que alimentariam o extraordinário mercado simbólico, desde o cinema mudo até a internet. Na segunda metade do século XIX, as redes ferroviárias rasgaram os continentes seguindo todos os pontos cardeais. Antes das ferrovias, o telégrafo elétrico significou a primeira rede de comunicação por fios, que foi completada, a partir de 1880, pela rede telefônica e pela radiotelegrafia. Daquela época em diante, as redes elétricas passaram a recortar todas as paisagens das regiões mais desenvolvidas do planeta. Com a invenção do automóvel, as redes de transporte rodoviário retalharam em apenas algumas décadas a superfície inteira dos continentes: tornaram insignificante a façanha dos antigos romanos, que, durante vários séculos, abriram 80 mil km de precárias estradas. No entanto, a moderna epopeia da máquina-ferramenta fabril e as linhas de montagem das antigas indústrias analógicas já fazem parte do passado. Hoje, Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE

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os insumos essenciais da autodenominada “nova ordem” ou da “nova economia” mundial são as tecnologias digitais. Digitalizar é a palavra de ordem da nova era pósmoderna (??), que, mesmo fustigada por uma sucessão de crises intercapitalistas, segue neste início de século de XXI, ampliando sua nova plataforma acumulativa em redes binárias. O atual movimento tecnológico e econômico manifestou-se gradativamente, desde a segunda metade do século passado, em duas vertentes distintas: a primeira, de abrangência mais privada, foi caracterizada principalmente pela extraordinária atualização tecnológica havida com a robotização da produção em grandes indústrias de bens materiais de consumo e em setores produtores de máquinas e insumos para todas as plataformas produtivas. A segunda despontou com o desenvolvimento e a propagação mundial de sucessivas gerações de hardwares e de programas para computadores pessoais concebidos para dinamizar o trabalho profissional nas atividades produtivas, comerciais, de entretenimento, de publicidade e também de pesquisa e de serviços. Os japoneses foram pioneiros na utilização do computador e do conceito de rede informacional com a intenção de superar a crise do modelo taylorista-fordista e aposentar a velha linha de montagem, que havia significado a transformação produtiva mais revolucionária, até os anos 1960 do século passado. A disseminação dos robôs acelerou a capacidade produtiva, reduziu custos, melhorou a qualidade da produção e avolumou imensamente o processo de automatização do trabalho produtivo manual e a destruição de postos de trabalho, um fenômeno que Marx apontou em meados do século XIX, como crescente ameaça para a classe operária. A informatização da sociedade retoma, de acordo com a nova racionalização capitalista, o espaço doméstico e os espaços vivenciais da educação, da cultura, do entretenimento e da comunicação interpessoal. O teletrabalho reocupa estes espaços, que se tornaram domínio privativo dos trabalhadores e de suas famílias, desde que a classe trabalhadora conquistou limites de jornadas e direitos trabalhistas. O capital se reapropria com nova aparência, forma e ferramentas, do espaço doméstico e do tempo livre dos trabalhadores, mas com o mesmo objetivo acumulativo que fazia no início da revolução industrial. Assim, preserva sua capacidade de manter globalmente a hegemonia do antigo liberalismo, mesmo que se utilize de postulados pós-modernos. Para os incluídos, as relações se reorganizam com a possibilidade de se desempenhar um papel mais ativo e menos assimétrico em relação à informação do que o que vinha ocorrendo nos últimos séculos. Teorias como a do agendamento e a da tomada da função de esfera pública de debates pelos meios de comunicação

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de massa, novos definidores da representação da realidade e da intermediação dos diversos segmentos da sociedade, de modo a favorecer interesses burgueses, devem ser revistas com o surgimento de redes sociais em que, cada vez mais, o discurso autorizado passa a ser questionado e o cidadão não certificado tem direito à voz, com novas negociações em torno da credibilidade de fala e a fragmentação de espaços de discussão de acordo com os campos de interesse. O sistema digital, não mais linear, mas em rede, torna-se mais complexo, com maior dificuldade no controle da circulação de informação sem que se firam princípios liberais ainda caros à sociedade burguesa – constituindo-se, portanto, um fértil meio de cultura para que vicejem e se propaguem opiniões contrahegemônicas. Independentemente dos embates conceituais que o atual contexto suscite, parece-nos que a percepção coletiva já se convenceu de que o novo modo de convívio e de trabalho dependerá, sempre mais, de ferramentas e informações digitais. No entanto, sem medidas abrangentes de inclusão social e cultural, uma eventual “sociedade da informação” poderá será mais assimétrica que a atual e apartará os indivíduos despreparados para operar os novos sistemas informáticos de produção e de interação interpessoal. A exclusão digital aprofundará a lógica vigente de apartação cultural e material. Ao difundir suas ferramentas computacionais por todos os espaços vivenciais e produtivos, a ordem informacional requer para o desempenho do trabalho intelectual ou material, conhecimentos e habilidades técnico-científicas advindos de uma sólida e contemporânea formação educacional. Nesse aspecto, as tecnologias digitais tornam-se novos elementos extremamente importantes para todos os modos de produção atuais, mas elas servem muito mais, para a constituição de opinião pública em tempos de predomínio da informação em todos os níveis de relações sociais. O barateamento dos aparatos e o desenvolvimento de interfaces comunicativas inteligíveis aos leigos trouxeram em um curto período de tempo os computadores para o espaço doméstico e daí eles se espalharam por todas as atividades humanas. O principal atrativo do computador foi a profusão incessante de novos programas, linguagens e possibilidades de trabalho, apresentados em suportes gráficos e audiovisuais, capazes de mimetizar as interfaces comunicativas dos conhecidos veículos de imprensa e de radiodifusão. Com o desenvolvimento da internet, o computador rompeu seu vínculo remoto com a máquina-ferramenta. Deixou de ser um processador estanque de dados, mera extensão mecânica do corpo e do trabalho orgânico do homem, para se tornar de fato uma máquina “inteligente”, uma extensão da memória humana. Negroponte Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE

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observava em 1995 que as pessoas tinham em casa vários eletrodomésticos com microprocessadores, mas que não estavam unificados. Por isto não era possível a comunicação eletrônica entre eles, ou mesmo quando era possível haver interconexão entre diferentes equipamentos, a interface estabelecida era bastante primitiva e peculiar em cada um deles. Ele advertia que só haveria uma tecnologia de fato inteligente e convergente quando todos os equipamentos presentes em nosso cotidiano pudessem compartilhar dos recursos disponíveis para comunicar entre si e com o usuário. O que mudou de lá para cá foi a imensa progressão do ciberespaço, que vem agindo como o agente catalisador que motiva a convergência tecnológica e a digitalização (por razões comerciais), entre todas as tecnologias eletroeletrônicas existentes. A disseminação da internet sem fio, “portátil”, liberta da dependência do computador, deverá multiplicar universalmente o número de usuários. Os computadores on-line tornaram-se, ao mesmo tempo, terminais de geração, abastecimento e acesso à imponderável memória virtual pública, com capacidade inesgotável de armazenar, selecionar e transmitir informações sobre qualquer área de atividade e de interesse humano, tanto de aspecto individual quanto coletivo. O ciberespaço torna-se mais e mais uma hiperinteligência artificial, um imenso arquivo de memória e de conhecimentos alojados fora do cérebro humano. Ele serve para ampliar de modo inorgânico a capacidade humana de reter e de trocar informações. Ao mesmo tempo, pode ordenar e classificar o fluxo imensurável de dados para os sistemas de processamento e armazenamento e evitar que os indivíduos entrem em colapso mental em decorrência do excesso de informações presentes no cotidiano do homem. Pierre Lévy sustenta a tese de que a “emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social” que possui segmentos líderes, programa de ação e palavras de ordem. Para o autor, o crescimento do ciberespaço corresponde ao desejo de comunicação recíproca e de inteligência coletiva, porque visa a “um tipo particular de relação entre pessoas”. Ele toma como exemplo a evolução social do correio, comparada à motivação coletiva que sustenta a ascensão do ciberespaço. No ambiente informatizado e interligado, tempo e espaço perdem o significado físico e cultural que havia sido instituído desde a Modernidade. O espaço virtual da internet utiliza um tempo global determinado pela velocidade dos fluxos de informação. Conforme aumenta a capacidade de transporte de dados e a velocidade de tráfego da rede, a relação espaço-tempo vai encurtando no “território” virtual. Os povos que não dominarem os novos conhecimentos e o meio técnicocientífico-informacional estarão condenados “ao tempo lento dos pobres”, como

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dizia Milton Santos. De acordo com a economia clássica, os novos instrumentos também constituem bens de capital, insumos indispensáveis para que haja alimentação do ciclo produção-oferta-consumo-acumulação. A fonte principal de prosperidade da “livre iniciativa” continua sendo a extração de mais-valia do antigo trabalho manual ou das atuais formas de trabalho automático, seja material de produção material ou simbólica, acrescida da especulação financeira em tempo real e alcance mundial. Certamente, o capitalismo tradicional ou digital não sobreviveria sem a manutenção desses processos assimétricos de produção e acumulação. Enquanto os Estados, organizações oficiais e não governamentais discutem a melhor forma de gestão política, administrativa e econômica da internet, os registros, os fluxos de bens e riquezas e o próprio dinheiro perdem a materialidade de celulose e assumem o formato de arquivos e pacotes binários, que transitam mundialmente ao ritmo atômico da digitação em um teclado. A transição ocorre em sintonia com os interesses imediatos de um mercado global articulado por um pequeno grupo de nações hegemônicas. No entanto, a internet não é um refúgio idílico, isento da sedução do capital, nem é totalmente imune ao autoritarismo político, religioso, militar e policial. A rede pode absorver as contradições que os indivíduos, as culturas e sociedades, os sistemas políticos e econômicos trazem em seu interior. É por tais razões que a gestão e o uso público da internet mobilizam em muitos países as organizações e interesses sociais, governamentais e privados. A gestão do ciberespaço deverá alimentar um debate demorado para estabelecer uma legislação internacional que assegure o desenvolvimento, a manutenção e o uso coletivo das tecnologias e meios de informação mundiais. É preciso garantir a participação simétrica dos países na web, de acordo com suas necessidades in ternas. O grande desafio é promover a inclusão de todas as camadas sociais nas “facilidades” do ciberespaço. Este volume apresenta onze artigos originados nas exposições e debates gesta dos nos painéis do segundo encontro da seção brasileira da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC-Brasil), realizado em Bauru (SP) pelo Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia e Educação Cidadã (LECOTEC) de 13 a 15 de agosto de 2008 na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). O percurso traçado pelos capítulos delineia o panorama das discussões acerca do tema-chave do evento, “Digitalização e sociedade”. No primeiro, Luiz Alfonso Albornoz, presidente da Ulepicc-Federação na gestão 2007-2011, aborda o impacto Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE

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da digitalização sobre as indústrias culturais, especialmente no setor musical. Os diversos elos da cadeia de distribuição de conteúdos passam por momentos de resistência e adaptação a transformações que parecem irreversíveis, nas quais os papéis e funções são revistos e novos modelos de negócio propostos. A reestruturação do capitalismo tomou a informação e tecnologias vinculadas a sua produção, organização e disseminação como um dos territórios privilégios para sua expansão. Em “A convergência digital e os desatinos do sistema mundo capitalista”, Ruy Sardinha Lopes estabelece relações entre a convergência midiática e os modos de regulação contemporâneos do sistema capitalista, discutindo até que ponto as novas tendências de regulação infraestruturais das Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) constituem privilegiados de expansão da acumulação capitalista, como a lógica rentista influi em sua gestão e a Economia Política pode contribuir para analisar o processo. A seguir, Vivianne Lindsay Cardoso e Juliano Maurício de Carvalho propõem uma reflexão sobre a valorização da televisão pública e a ampliação de suas potencialidades com a utilização da multiprogramação, de modo a fazer contraponto ao modelo de negócio arraigado e hegemônico das televisões comerciais brasileiras. Os autores defendem que a televisão pública pode se tornar um importante instrumento para a democratização e o despertar da consciência crítica, autônoma e individualizada do espectador, viabilizando sua participação direta no processo de comunicação midiática. O quarto capítulo, de Valério Brittos e Nádia Helena Schneider, discute a tensão televisão-educação e políticas públicas a ela relacionadas, apontando possibilidades, na televisão digital interativa, para sua contribuição no processo ensino-aprendizagem e construção de novos conhecimentos; apontam, no momento presente de revoluções tecnológicas, a intersecção entre instituição escolar e meios de comunicação de massa como espaço estratégico de ação e reflexão, com papel primordial no desenvolvimento e legitimação de valores e a formação de cidadãos conscientes. “A Economia Política do Coronelismo Eletrônico: categorização dos líderes políticos proprietários de radiodifusão em Minas Gerais”, de Luiz Felipe Ferreira Stevanim e Suzy dos Santos, parte de uma genealogia dos atores políticos ligados ao setor comunicacional no Brasil traçada com base nos deputados federais mineiros detentores de outorgas de radiodifusão para demonstrar uma continuidade e novas significações do coronelismo eletrônico, observando um controle dos veículos fundamentado no poder político, com o enfraquecimento da distinção entre interesses público e privado.

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Na sequência, “A reedição do difusionismo diante da brecha digital: o desafio das regiões na sociedade da informação”, de Francisco Javier Moreno Gálvez, resgata a historicidade das rupturas e continuidades ideológicas ocultas por trás do modelo denominado “sociedade da informação”, surgido como resposta à crise do capitalismo na década de 1970, e ao processo atual em que uma descentralização aparente convive com uma efetiva recentralização, apontando reflexões sobre o possível desenvolvimento das regiões periféricas nesse cenário, em especial aquelas que ocupam lugar subalterno na divisão internacional do trabalho. No sétimo capítulo, Leando Ramires Comassetto, ao considerar a aptidão histórica do rádio para trabalhar questões de proximidade, estabelecendo empatia entre emissora e audiência, promovendo valores e discutindo problemas da localidade em que atua, traça considerações sobre a importância do suporte frente ao curso globalizador, descrevendo um modelo de programação mais adequado às emissoras que pretendam sobreviver e manter relevante sua atuação local, chamando atenção para a necessidade de renovação da linguagem tendo em vista recursos proporcionados pelas TIC. O rádio brasileiro chega aos 90 anos em meio a um cenário de profundas transformações dos meios de comunicação de massa. Com essa questão em mente, Antonio Francisco Magnoni e Juliana Gobbi Betti refletem sobre a vagarosa e indefinida digitalização do suporte radiofônico, oriunda em parte de uma concepção ultrapassada, de caráter ainda getulista, sobre o modelo nacional de radiodifusão e, a partir dos conflitos entre rádio, TICs e a rede mundial de computadores, apontam possibilidades para sua efetiva modernização e incorporação na convergência de plataformas, assim como assimilação dos novos recursos na radiodifusão. A seguir, André Luís Lourenço e Juliano Maurício de Carvalho, em “Clivagem da democracia no plano digital da esfera pública”, propõem uma sistematização do conceito de arena ou microesfera pública, na qual se imbricam as noções de democracia e deliberação, para pensar contribuições, assim como limites, ofertados pelas TICs para estender, em caráter incremental, a participação política da população para o meio digital, notoriamente a internet, considerando a experiência do website Observatório de Botucatu, focado na discussão de questões políticas de ordem municipal. Em “Sistema Público de Comunicação: por uma mídia de todos”, Adilson Vaz Cabral Filho discute a implantação de um sistema de comunicação brasileiro que adotasse efetivamente o modelo público, o qual se entende como plural, polifônico, a partir do que se discute sobre o tópico na academia e organizações sociais, Economia política da comunicação: digitalização E sociEdadE

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apresentando a forma como o conceito é compreendido em ambos os meios e recapitulando os principais marcos regulatórios do setor da comunicação social. Finalmente, “Gestão Pública de Informação do Governo Federal”, de Angela Maria Grossi de Carvalho, traça considerações sobre a gestão da informação por parte do aparelho estatal, tendo em vista as ações públicas de transparência informacional e políticas de inclusão digital do governo federal, discutindo tanto o provimento de acesso quanto de serviços e efetivo conteúdo, a partir da noção de direito e da verificação de efetivas necessidades de informação da população brasileira. Boa leitura! Antonio Francisco Magnoni Juliano Maurício de Carvalho Mateus Yuri Passos

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