Aproximação de licenciandos em Ciências Biológicas com as ideias criacionistas e evolucionistas acerca da Origem da Vida

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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016

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APROXIMAÇÃO DE LICENCIANDOS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS COM AS IDEIAS CRIACIONISTAS E EVOLUCIONISTAS ACERCA DA ORIGEM DA VIDA Michel Douglas de Araújo Carneiro (Universidade Estadual do Ceará – FACEDI-UECE – Bolsista PIBID/CAPES) Mário Cézar Amorim de Oliveira (Universidade Estadual do Ceará – FACEDI-UECE)

Resumo Na educação em Ciências Biológicas, o fenômeno da origem da vida assume um caráter central, o que reverbera na preocupação sobre a formação docente para a abordagem desse assunto em sala de aula. Desse modo, o objetivo dessa pesquisa foi investigar as concepções de estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI/UECE) acerca das explicações criacionistas e evolucionistas sobre a origem da vida. Os dados foram coletados a partir de um questionário baseado na escala Likert e os resultados obtidos apontaram para uma carência na formação inicial docente, que contribui para a confusão acerca das explicações científicas e religiosas acerca da origem da vida, do espaço e do papel de cada uma dessas na matriz cultural que permeia a sociedade contemporânea. Palavras chave: Origem da Vida. Criacionismo. Evolucionismo. Formação Inicial Docente. Currículo.

1 INTRODUÇÃO Afinal, como surgiu a vida na Terra? Quais as explicações apresentadas para o surgimento dos seres vivos? As primeiras ideias acerca da origem dos seres vivos eram baseadas principalmente na cultura dos povos antigos, nas quais os elementos da natureza misturavam-se com o imaginário dos indivíduos, seus medos, crenças e sensações, criando explicações mitológicas para entender os fenômenos à sua volta. Com o desenvolvimento das civilizações e a organização das sociedades modernas, questões sobre a origem da vida foram discutidas à luz da racionalidade, a partir da filosofia. O pensamento religioso, logo que se disseminou pelo globo, apresentou suas concepções afirmando que os seres vivos apareceram na Terra pela Criação Divina. Outro pensamento, o científico, baseado no estudo sistematizado a partir de evidências e experimentação, defende a hipótese da Evolução Química, na qual houve interação entre fatores e eventos físicos, químicos e biológicos, aliados às condições oferecidas pelo ambiente terrestre que acabaram originando a vida. (NICOLINI, et al. 2010)

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Segundo Santos e Falcão (2005, p. 2), “cabe à escola mostrar as várias hipóteses para explicar o assunto, sem descartar a fé do aluno, respeitando sua orientação religiosa, mas mantendo-se firme nos limites da formação científica”, ou seja, os educadores devem expor e debater os dois conjuntos de ideias (científicas e religiosas) acerca da origem da vida, discutindo o histórico e a relação de ambas para a sociedade e relacionando com as opiniões dos alunos a respeito, mas ressaltando a importância da temática para a Biologia dentro dos eixos científicos. Reconhecendo a temática origem da vida como um dos eixos centrais do ensino de Biologia, se torna extremamente importante saber qual o nível de aproximação que os estudantes têm em relação a este assunto, verificando se o encontro entre as crenças religiosas e os conhecimentos científicos interfere ou dificulta de alguma forma o processo de aprendizagem, uma vez que estão sendo formados para se tornarem profissionais atuantes em sala de aula, assumindo um posicionamento ético ao ensinar conteúdos que historicamente trazem consigo sentimentos de oposição e conflitos, entre eles, o surgimento da vida na Terra. Nesse sentido, a comunicação se trata de um recorte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor, orientado pelo segundo, com o objetivo de investigar as concepções de estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da FACEDI/UECE acerca das explicações criacionistas e evolucionistas sobre a origem da vida.

2 IDEIAS ACERCA DA ORIGEM DA VIDA Em se tratando de origem da vida, provavelmente a maioria das pessoas atribuem a esse assunto apenas duas explicações, a bíblica e a científica. Entretanto, muito antes da existência desses conceitos, havia (e há) histórias consolidadas na tradição oral de variados grupos que habitaram o planeta, na tentativa de entender não só a origem dos primeiros seres vivos, mas também do mundo onde vivemos. Essas histórias que narram de alguma forma o surgimento do mundo e mais especificamente a origem da vida são chamados de „mitos de criação‟. Os mitos fizeram parte de aspectos da vida pessoal e social de praticamente todos os povos, sendo incorporados em tradições orais que constituíam as diferentes culturas. Há milhares de anos atrás, em uma época onde a “Natureza era respeitada e idolatrada, sendo a única responsável pela sobrevivência de nossa espécie, a qual vivia basicamente da caça e de uma agricultura bastante rudimentar” (GLEISER, 1997, p. 20), o homem apanhou elementos visíveis e detectáveis (animais, água, fogo, sol, lua, por exemplo) à sua volta que pudessem justificar a criação desses mitos.

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O surgimento da Filosofia trouxe consigo as primeiras dúvidas e questionamentos oriundos de um pensamento mais racional. Thales de Mileto, um filósofo grego, acreditava que todas as coisas haviam se originado da água. Anaximandro, seu discípulo, também sustentava essa ideia, afirmando que os organismos vivos surgiram no mundo marinho, inclusive o homem. Empédocles, outro filósofo pré-socrático sugeriu que homens com cabeças de touros e touros com cabeças de homens surgiam dos montes de terra e água quando eram atirados por vulcões sicilianos. Como os mitos constituíam por assim dizer os aspectos sociais dos povos e a religiosidade era um desses aspectos, a presença de deuses, divindades, animais sagrados e heróis se fez marcante nas histórias que muitas vezes eram comparadas pelas semelhanças encontradas, mesmo com estas histórias sendo originárias de lugares distantes. Martins (2001) discute o processo de “reencantamento do mundo”, o qual se caracteriza por ideias que buscam respostas significativas para a vida em meio às questões religiosas, divindades e forças sobrenaturais, confortando as pessoas com argumentos sobre a existência de um “lugar melhor”, onde os acontecimentos do mundo que contribuem para as mazelas culturais, ambientais, econômicas e sociais não serão mais enfrentados. Existe um variado conjunto de ideias, conceitos e versões sobre a origem da vida. Em função da disseminação do cristianismo pelo mundo, o mito de criação mais conhecido talvez seja o relatado na bíblia. (SOUZA, 2009) Entretanto, há uma grande variedade de movimentos que podem ser classificados como criacionistas. Esses grupos advogam diferentes vertentes e, portanto, é equivocado crer em um movimento uniforme que possa ser classificado como „criacionismo‟. Souza (2009) propõe uma classificação do movimento criacionista em diferentes categorias, seguindo uma ordem decrescente de radicalismo, dos criacionistas da terra plana até os evolucionistas teístas (que seria a posição oficial da igreja católica), passando pelos geocentristas, criacionistas da terra jovem e os da terra antiga, criacionistas da restituição, do dia/era, os progressistas, os do „design inteligente‟ e os criacionistas evolutivos. Todas essas vertentes apresentadas sobre o criacionismo são baseadas em movimentos ocidentais e cristãos. Porém, existem ao redor do mundo outras culturas e diferentes religiões que não são baseadas nos movimentos ocidentais e que advogam suas próprias crenças sobre a origem da vida. Segundo Souza (2009, p. 45) o termo criacionismo foi usado ao longo dos séculos como equivalente a “teologia natural” e só passou a ser amplamente utilizado no século XIX com o estabelecimento do evolucionismo.

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Os conhecimentos religiosos se diferem dos conhecimentos oriundos da ciência. A religião compreende questões da finalidade e do sentido da vida, voltadas para a moralidade, enquanto a ciência busca explicar como existe e funciona o universo fazendo uso de métodos e experimentos que comprovem as hipóteses levantadas. (GOULD, 2002) Ainda seguindo a interpretação, ciência e religião sempre irão se encontrar e lançar suas ideias sobre uma diversidade de assuntos, mas podem fazer isso sem atacar e declarar guerra uma contra a outra. Sobre o encontro dessas ideias, Barbour (2004) identificou e categorizou a relação entre ciência e religião em quatro perspectivas: Conflito, Independência, Diálogo e Integração. A posição de Conflito é descrita pelo autor declarando que “Tanto o materialismo científico quanto o literalismo bíblico alegam que a ciência e a religião têm verdades literais e rivais quando afirmam sobre o mesmo domínio (a história da natureza), de modo que é preciso escolher uma delas.” (BARBOUR, 2004, p. 23) Ou seja, as pessoas não poderiam acreditar em Deus e na evolução ao mesmo tempo. A categoria de Independência atribui uma autonomia para essas duas esferas do conhecimento, na qual postula que ciência e religião possuem interesses diferentes, não devendo interferir nos assuntos da outra; dessa maneira se tornam totalmente independentes. De modo diferente, no Diálogo percebe-se uma tentativa de aproximação entre ciência e religião, onde essas duas esferas de conhecimento conversam sobre assuntos semelhantes, como por exemplo, buscar respostas para entender o funcionamento do mundo, tanto físico, quanto espiritual, cada um a seu modo, mas com certo grau de afinidade nesta relação. A última categoria remete a uma possível Integração entre ciência e religião, na qual seus idealizadores reivindicam uma relação entre as teorias científicas e as crenças religiosas mais próximas que no Diálogo.

3 METODOLOGIA Na investigação que se apresenta de natureza qualitativa e com características descritivas de um estudo de caso (GIL, 2002; GODOY, 1995), foi utilizado o questionário como instrumento de coleta de dados, visto que este “possibilita atingir um grande número de pessoas, implica menores gastos com pessoal, garante o anonimato dos investigados e não expõe o pesquisador à influência das opiniões e do aspecto pessoal dos entrevistados”. (GIL, 2008, p. 122). O questionário foi baseado na escala Likert, que se baseia em “questões que podem ser interrogativas ou afirmações sobre determinado assunto, onde os sujeitos

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investigados irão marcar alternativas, especificando o grau de concordância ou discordância” (LIKERT,

1932,

p.

12).

O

questionário

original

foi

constituído

por

doze

afirmações/assertivas, das quais utilizamos seis nesse recorte: as quatro primeiras tratam da relação entre as explicações científicas e as crenças religiosas sobre a origem da vida; e as duas últimas se referem à presença dessas discussões na formação inicial dos estudantes que participaram da pesquisa. Também foi contemplado, após cada afirmação, um espaço para a justificativa das escolhas realizadas de modo a se compreender melhor as respostas dadas ao questionário (APÊNDICE). O campo de investigação foi a Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDIUECE), tendo como participantes da pesquisa os estudantes do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas. Foram consideradas todas as turmas do primeiro semestre de 2015, a saber: 1º, 3º, 5º, 7º e 9º; a escolha dos participantes ocorreu de maneira aleatória, sendo o questionário aplicado à metade dos alunos regularmente matriculados em cada turma, respeitando a escolha daqueles que por qualquer motivo não aceitaram participar, totalizando 65 indivíduos que colaboraram com a pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Focando primeiramente as informações coletadas referentes à caracterização do gênero e à religiosidade dos sujeitos participantes, ao todo, 65 estudantes do Curso de Licenciatura

em

(FACEDI/UECE)

Ciências

Biológicas

colaboraram

com

a

da

Faculdade

presente

de

Educação

pesquisa

e

de

Itapipoca

compartilharam

seus

conhecimentos através do questionário que lhes foi proposto, indicando o grau de concordância com cada assertiva e justificando o mesmo, de modo que pudéssemos, a partir da investigação de suas concepções acerca das explicações criacionistas e evolucionistas sobre a origem da vida, identificar sua aproximação e compromisso com tais ideias. Dessa forma, responderam 44 pessoas do gênero feminino (67,7%) e 21 do gênero masculino (32,3%). Em relação às crenças religiosas, a maior parte dos licenciandos, 44 no total (67,7%), se autodenominaram católicos, seguida de evangélicos, 16 (24,6%), adventistas, 2 (3%) e ainda aqueles que se identificaram como não sendo adeptos à nenhuma religião, 3 (4,7%). Resultado que reflete a composição religiosa da população de Itapipoca, segundo o último censo demográfico realizado pelo IBGE em 2010. Na primeira afirmativa, procurou-se identificar o grau de concordância dos estudantes com a explicação cristã acerca da origem da vida. No 1º semestre, os alunos que concordam totalmente (46,6%) (7) com o surgimento da vida na Terra por criação divina

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justificaram acreditar na existência de Deus e em suas ações que teriam dado origem aos seres vivos, mas não precisariam explicar o porquê, apenas acreditavam. Os que concordam parcialmente (46,6%) (7) apontaram para a crença em uma interferência divina na criação do primeiro ser vivo e, que este, em interação com o meio que habitava, conseguiu evoluir. Já no 3º semestre, 85,8% (6) concorda totalmente com a afirmação, justificando que o homem ainda não foi capaz de estabelecer de forma irrefutável uma teoria sobre a origem da vida, e complementam ao dizer que creem na existência de um ser supremo que criou tudo que existe, inclusive as primeiras estruturas moleculares que originaram os primeiros organismos. A maior concordância foi encontrada no 5º semestre, 56,3% (9) dos estudantes concordam totalmente com a criação divina, ressaltando que os seres vivos são tão perfeitos que não poderiam ter se originado por acaso. Apesar do último semestre, o 9º, também apresentar um alto nível de concordância, principalmente de forma total (47,3%) (8), na qual os alunos atribuem a Deus o ato da criação, afirmando também acreditar no que está escrito na Bíblia sagrada cristã a respeito da origem da Terra e da vida, podendo ser caracterizados como „criacionistas da Terra Jovem‟. (SOUZA, 2009) É interessante destacar alguns discursos nos quais os alunos defendem que, como futuros professores de Biologia, acreditam que suas crenças pessoais não irão interferir no ensino de assuntos relacionados à origem da vida. De todos os semestres, o 9º é o único que possui alunos que discordam totalmente (17,6%) (3) da explicação para a criação divina, justificando apenas que acreditam nas teorias evolucionistas. Na segunda afirmativa, procuramos identificar o grau de veracidade atribuído pelos estudantes às explicações religiosas para o fenômeno da origem da vida, de modo a compreender o espaço ocupado por essas narrativas no repertório explicativo dos futuros professores de Ciências e Biologia. No 5º semestre, 31,2% (5) concorda parcialmente com a veracidade das escrituras sagradas sobre a origem da vida, justificando que nem todas as explicações para os processos que acontecem no mundo podem ser encontradas nos livros bíblicos. 25% (4) dos alunos concordam totalmente, relatando que a Bíblia mostra não só como surgiram os animais e as plantas, como também a espécie humana. 18,7% (3) discorda totalmente dessa afirmação, julgando haver muitas contradições nessas fontes consideradas sagradas; outros dizem que não são verdades, mas sim informações apresentadas para que as pessoas possam interpretar e escolher acreditar ou não. O 9º semestre mostra que 29,4% (5) dos alunos concordam totalmente com a afirmação, justificando que os livros sagrados transmitem as palavras de Deus para o homem e que Ele nos permitiu conhecer como a Terra e os seres vivos foram criados. Ainda realizam

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uma comparação entre o livro “A Origem das Espécies” e a Bíblia sagrada, dizendo que o primeiro reflete uma das formas de compreender o evolucionismo e o segundo é uma fonte para entender o criacionismo. 29,4% (5) concorda parcialmente, relatando crer nos escritos bíblicos, mas ressaltando o papel da ciência e de suas evidências para a evolução das espécies, aproximando-se do conjunto de ideias do criacionismo evolutivo, que permite interpretações entre as ciências e a Bíblia (SOUZA, 2009). Outros 23,5% (4) dos alunos discordam totalmente, justificando que a Bíblia apresenta o fato em si, sem explicar o „modus operandi‟ de Deus, ou seja, como ele teria criado os primeiros seres vivos, o processo em si, deixando perguntas sem respostas, com as quais a ciência poderia contribuir. A terceira assertiva é importante no contexto de nossa investigação, pois procuramos, através dela, identificar as ideias dos estudantes a respeito dos espaços que devem ocupar as diferentes explicações acerca da origem da vida, no ensino desse assunto e, por conseguinte, o grau de aproximação e compromisso dos estudantes com tais explicações. 33,5% (5) dos alunos do 1º semestre não souberam responder a esta afirmação, enquanto 26,6% (4) concorda totalmente e parcialmente com a afirmação. Suas justificativas convergem na consideração das diferentes explicações para a origem da vida como formas válidas de conhecimento e que, por isso, deveriam ser ensinadas na escola. No 3º semestre, 57,1% (4) dos alunos concordam totalmente com o compartilhamento do espaço dedicado ao ensino dos conhecimentos científicos sobre a origem da vida com outras explicações, como as religiosas. Em suas justificativas, acreditam que para obter uma boa compreensão sobre a temática, é necessário conhecer e comparar diferentes correntes de pensamento. Outras respostas destacam que ambas as explicações se complementam. Aqui, segundo Barbour (2004), surgem as relações de diálogo e integração. No 5º semestre, 56,3% (9) dos alunos concordam totalmente, justificando a importância de conhecer as diferentes explicações e pontos de vista referentes à origem da vida para os indivíduos se posicionarem criticamente sobre o assunto e ressaltando que o processo de ensino não deve se deter em apresentar apenas uma visão de mundo. Os que concordam parcialmente (18,7%) (3) dizem que deve existir um equilíbrio ao ensinar essas distintas vertentes. Apenas 6,2% (1) discorda totalmente, alegando que a escola é o local para aprender ciência e que o ensino religioso poderia ser inserido em disciplinas optativas, pois nem todos os estudantes são adeptos à alguma corrente religiosa. O 7º semestre mostra que 60% (6) dos alunos concordam totalmente, justificando ser essencial compreender todas as explicações para a origem da vida; algumas respostas ressaltam que ciência e religião não devem caminhar separadamente, mas formar uma unidade

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onde os conhecimentos poderiam ser discutidos sem a necessidade de conflitos. Nesse caso, os ensinamentos científicos e religiosos poderiam seguir uma linha de integração, no qual as duas vertentes contribuem para o desenvolvimento de novos conhecimentos (BARBOUR, 2004). Para procurar melhor compreender as respostas dadas à terceira afirmativa, com a quarta procuramos identificar se os estudantes associam a ciência e a religião como distintos campos de conhecimento com autoridade sobre aspectos distintos da vida humana. No 1º semestre, 40% (6) concorda totalmente que a Ciência tenta explicar os fenômenos do mundo físico e a Religião aborda questões de valor moral de cada indivíduo, ressaltando que deve haver um respeito para com os diferentes conhecimentos e também deve ser estabelecida uma relação saudável entre as ideias a serem discutidas. Os alunos que concordam totalmente (40%) (4) no 7º semestre, disseram que tanto Ciência quanto Religião trazem conhecimentos que atendem aos valores referentes a cada uma, sendo desnecessário criar conflitos colocando as ideias de uma esfera contra a outra. Gould (2002) corrobora ao afirmar que o objeto de estudo da ciência é o mundo empírico, que busca explicar os fenômenos do mundo natural, e a religião preocupa-se em questões de valor moral e espiritual de cada indivíduo, portanto, constituem esferas de conhecimentos distintos, podendo as duas vertentes coexistirem de forma pacífica. No 9º semestre, 41,1% (7) dos alunos concordam totalmente, justificando que deveria existir uma relação de interação entre os conhecimentos, evitando os conflitos e promovendo discussões construtivas para entender a complexidade da origem da vida, buscando responder as questões levantadas a respeito. 23,5% (4) concorda parcialmente, ressaltando que as ideias não precisam estar em conflitos, mas quando uma esfera tenta explicar o que a outra postula, os debates mais intensos são quase inevitáveis. Outros 23,5% (4) discordam totalmente da afirmação, dizendo que por tentarem explicar os mesmos fatos apresentando ideias diferentes, Ciência e Religião irão sempre se confrontar. Oliveira (2011a, 2011b, 2014) indica que fatores ligados a aspectos pessoais e profissionais dos professores podem estar dificultando a abordagem do assunto origem da vida no ensino de Biologia, tais como: “deficiências na formação inicial, equívocos sobre os principais conceitos envolvidos no entendimento da origem e evolução dos seres vivos, falta de domínio dos conteúdos e falta de formação continuada sobre os mesmos”. (OLIVEIRA, 2011a, p.124) Na quinta afirmação, procuramos identificar se os estudantes tiveram oportunidade, em sua formação inicial, de discutir sobre as diferentes explicações acerca da

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origem da vida. No 1º semestre, 60% (9) dos estudantes não souberam responder a esta afirmação, o que se explica pelo fato de se tratarem de estudantes que ingressaram recentemente no curso universitário e ainda desconhecem se terão ou não oportunidade de realizar essas discussões ao longo de sua formação. 13,3% (2) discorda totalmente, alegando que ainda não participaram de debates sobre a origem da vida. No 7º semestre, 60% (6) discorda totalmente da afirmação, alegando não terem participado de momentos nos quais a temática origem da vida foi efetivamente debatida. Já no último semestre (9º), 35,3% (6) discorda totalmente, dizendo que em nenhum momento ao longo da jornada acadêmica tiveram a oportunidade de expor e ouvir opiniões acerca das explicações para a origem da vida. 29,4% (5) concorda parcialmente, relatando que, apesar de estar em um curso de Biologia, houve um contato superficial sobre assuntos relacionados ao surgimento dos seres vivos. Na última afirmação do questionário aplicado, procuramos identificar o desejo e anseio dos estudantes em debater, ao longo de sua formação inicial, sobre as explicações criacionistas e evolucionistas acerca da origem da vida. Ficou evidente o alto grau de concordância com a afirmativa, entre os estudantes de todos os semestres investigados, variando entre 60% e 100% das respostas apresentadas. Aliado às respostas apresentadas na afirmativa anterior, é preocupante a carência da abordagem do assunto „origem da vida‟, fundamental tanto na história da Biologia quanto na própria constituição da Biologia como ciência autônoma, na formação inicial dos futuros professores de Ciências e Biologia da faculdade investigada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o objetivo de investigar as concepções de estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da FACEDI/UECE acerca das explicações criacionistas e evolucionistas sobre a origem da vida, verificamos a presença da crença dos estudantes na criação divina dos seres vivos, fortalecida, em alguns casos, por uma leitura literal da bíblia cristã. Sobre as diferentes vertentes que explicam a origem da vida, como a científica e a religiosa, identificou-se uma tendência de interação e complementariedade no compartilhamento desses conhecimentos, mesmo admitindo-se a possibilidade de conflitos ao se debater ideias de naturezas distintas. Os alunos se posicionaram destacando a importância de um ensino integrado, possibilitando conhecer os diferentes ensinamentos acerca do surgimento dos seres vivos e desenvolver o lado crítico para poderem debater esse e outros

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assuntos relacionados, o que mostra um forte compromisso com suas crenças religiosas, a despeito do conhecimento das explicações científicas da „origem da vida‟. Os estudantes reconhecem a fundamental importância desses conteúdos como professores em formação; entretanto, seus relatos apontam para a carência do ensino em uma disciplina específica, ou mesmo transversalmente, e da abordagem desses assuntos dentro da universidade, identificando-se um problema sério no contexto de um curso de formação de professores de Ciências e Biologia. Essa deficiência no ensino, muitas vezes é em decorrência de algumas disciplinas não estarem abordando o assunto de maneira adequada para a construção de conhecimentos, não abrangendo discussões que possam aprofundar a temática. Finalmente, destacamos que com essa pesquisa não tivemos a pretensão de encerrar o debate acerca do ensino de „origem da vida‟, e da discussão sobre o papel e o espaço das diferentes explicações acerca desse fenômeno. Estamos cientes da importância do tema origem da vida para os professores em formação inicial no curso de licenciatura em Ciências Biológicas da FACEDI, de modo que novos caminhos podem ser seguidos dando continuidade a esta investigação, tais como, investigando o impacto da carência identificada na formação inicial dos estudantes em relação à aprendizagem acerca da origem da vida, podendo contribuir para uma deficiência no seu ensino no exercício da profissão docente; como também, como a possibilidade de se investigar a relação com as explicações científicas acerca da origem da vida, aqueles estudantes com forte compromisso com suas crenças religiosas. REFERÊNCIAS BARBOUR, I.G. Quando a ciência encontra a religião. São Paulo: Cultrix, 2004. FREUND, P. Mitos da criação. São Paulo: Cultrix, 2008. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ______. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GLEISER, M. A dança do universo. 2. ed. São Paulo: Companhia das letras, 1997. GODOY, A.S. Pesquisa qualitativa. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, n. 3, v. 35, p. 20-29, mai./jun. 1995. GOULD, S.J. Pilares do tempo: ciência e religião na plenitude da vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. LIKERT, R. A technique for the measurement of attitudes. Archives of psychology, New York, jun. 1932.

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APÊNDICE – Questionário de Pesquisa

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA – TCC SEMESTRE: _________ IDADE: __________ SEXO: ( ) Masc ( ) Fem RELIGIÃO: _____________________________ PRATICANTE: ( ) Sim ( ) Não A seguir, leia cuidadosamente cada assertiva e indique seu grau de concordância com cada uma delas, segundo a escala que varia de Concordância Total a Discordância Total. Caso você julgue não ter elementos para avaliar a assertiva, assinale a opção “Não sei responder”.

ASSERTIVA 1. O surgimento da vida na Terra ocorreu por Criação Divina, ou seja, os seres vivos foram criados por uma divindade onipotente, sendo essa uma das explicações do Criacionismo. Concordo Concordo Discordo Discordo Não Sei Indiferente Totalmente Parcialmente Parcialmente Totalmente Responder Justifique sua resposta: 2. As escrituras/textos sagrados (Ex.: Bíblia, Alcorão) fornecem as explicações verdadeiras sobre a origem e diversidade dos seres vivos. Concordo Concordo Discordo Discordo Não Sei Indiferente Totalmente Parcialmente Parcialmente Totalmente Responder Justifique sua resposta: 3. O espaço dedicado ao ensino dos conhecimentos científicos sobre a Origem da Vida deve ser compartilhado com outras explicações, como as religiosas. Concordo Concordo Totalmente Parcialmente Justifique sua resposta:

Indiferente

Discordo Parcialmente

Discordo Totalmente

Não Sei Responder

4. Os conhecimentos oriundos da Ciência tentam explicar os fatos e fenômenos que ocorrem no mundo físico, enquanto a Religião engloba questões de valor moral de cada indivíduo. Portanto, são esferas da sociedade que não precisam estar necessariamente em conflito. Concordo Concordo Discordo Discordo Não Sei Indiferente Totalmente Parcialmente Parcialmente Totalmente Responder Justifique sua resposta: 5. Durante minha formação inicial na Universidade, participei de debates/discussões em aulas/palestras/cursos sobre a Origem da Vida na Terra, sob o ponto de vista das explicações criacionistas e evolucionistas. Concordo Concordo Discordo Discordo Não Sei Indiferente Totalmente Parcialmente Parcialmente Totalmente Responder Justifique sua resposta: 6. Como futuro(a) professor(a), gostaria de ter ou fortalecer debates sobre temas como Origem da Vida, Criacionismo e Evolucionismo. Concordo Concordo Discordo Discordo Não Sei Indiferente Totalmente Parcialmente Parcialmente Totalmente Responder Justifique sua resposta:

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