APS – Atividade Prática Supervisionada DIRETRIZES PROJETUAIS DE RESTAURAÇÃO DE MOLDURAS DA DÉCADA DE 40: ANÁLISE E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E TEMPORAL SOBRE OS OBJETOS EM MADEIRA

July 4, 2017 | Autor: Renata Cemin | Categoria: Restauration and Conservation
Share Embed


Descrição do Produto

APS – Atividade Prática Supervisionada DIRETRIZES PROJETUAIS DE RESTAURAÇÃO DE MOLDURAS DA DÉCADA DE 40: ANÁLISE E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E TEMPORAL SOBRE OS OBJETOS EM MADEIRA Renata Ceminª ªCurso de Tecnologia em Conservação e Restauro, Faculdade Técnica da Serra Serra Gaúcha, 2015. Professor Supervisor da APS Patrícia Pasini Arquiteta e Urbanista Especialistaem Restauração de Patrimônio Edificado.

Resumo O objetivo deste presente trabalho é ressaltar a importância das molduras em quadros como parte da obra de arte, integrada à pintura ou fotografia. Constatar, analisar e comparar a ação da temporalidade e espaço, sobre o processo de conservação de molduras em madeira da década de 40.

Palavras-chave: Moldura. Madeira. Restauro. Conservação.

1 INTRODUÇÃO Moldura do Latim modulus, medida, modelo, de modus, maneira, medida, modo. Saliência que completa, protege ou ornamenta. Decoração em volta de, cuja finalidade é acentuar ou destacar. Houve um período em que as molduras passaram a ser retiradas das obras restauradas como na exposição de ocorrida de 1942 no Instituto de Restauração, onde deixam o fundo de tecido das pinturas a mostra, neste período acreditava-se que a moldura não tinha a importância. Hoje a visão da moldura como parte da história da obra de arte e até mesmo como obra de arte é uma realidade em peças históricas. Este trabalho visa retratar, constatar e analisar o efeito, ação da temporalidade, passagem do tempo, e espaço, localização, no processo de conservação de molduras em madeira da década de 40, com o objetivo de definir diretrizes projetuais de restauração. Serão considerados objetos deste artigo, duas peças pertencentes à Arthuro Andrea Rotta e Alberto Luís Cemin, residentes na cidade de Caxias do Sul. As molduras estudadas neste trabalho só foram retiradas dos locais em que estavam

2 expostas após o falecimento de seus proprietários. Os objetos sujeitos desse estudo são retangulares em talha e gesso, com folhas de prata, está mesma técnica empregada no douramento com folhas de ouro, produzidas pela empresa P Alles S/A, da cidade de Novo Hamburgo especializada no ramo cujas atividades foram encerradas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO Ao pensar na obra de arte como um todo, uma unidade de elementos singulares, não é possível isolá-la da moldura. A moldura faz parte da obra ao delimitar o espaço entre o que é interno e externo. Esta, ao mesmo tempo que organiza e harmoniza a obra ao espaço, é responsável por um corte violento com a continuidade, e delimita o que é interno e externo. “A função da moldura define-se , acima de tudo, como a ligação espacial: o seu ofício revela-se muito mais secreto e substancial do que aquele cumprido manifestamente pelo contorno ou pela douração” (KLEINER, 2005)

Cesare Brandi traz a tona a importância da consistência física da obra de arte, e sua dúplice polaridade estética e histórica, ele dissertou sobre o respeito que estes dois fatores devem receber para que as obras possam ser corretamente interpretadas no futuro.(BRANDI, Teoria da Restauração , Cotia – SP, Ateliê Editorial, 2005. A moldura mais obra de arte deve ser visualizada como um todo, e que é esta integralidade que fará a obra uma peça completa. “Assim, se a obra de arte for composta de partes que são, cada uma delas em si, uma obra de arte, na realidade devemos concluir que ou aquelas partes, singularmente , não são tão autônomas como se gostaria, e a partição tem valor de ritmo, ou que, no contexto em que aparecem, perdem o valor individual para ser reabsorvidas na obra que as convém.” (BRANDI, 2005)

É possível pensar em qualquer obra de arte pela analise e compreensão de uma edificação. Esta é formada por um conjunto de partes importantes, necessárias para constituir a sua integralidade, uma edificação sem janelas ou portas se descaracteriza e sua compreensão se perde, assim como a história que carrega. Preservar um bem cultural significa revelar e valorizar o todo e suas partes, que estão intimamente conectados, e respeitar os elementos que o compõem. Neste contexto a moldura e a obra que ela emoldura são um conjunto e não devem ser vistas de forma separada. Ao separar a moldura da obra perde-se a mensagem estética que é a obra na sua integralidade. A importância do contexto total da peça é a chave para o entendimento de sua historicidade e de seu valor estético. A moldura liga o quadro a um período. Sua individualidade está ligada a um período histórico. Brandi afirma que as obras de arte

3 possuem dupla polaridade, estética e histórica e a moldura situa o quadro dentre do período estético em que foi produzida a foto ou pintura, está inevitavelmente ligada ao “gosto” do tempo. (BRANDI, 2005) O uso de uma determinada moldura vincula o quadro à uma época e por isso faz parte do conjunto da obra, por este motivo não é uma questão individual. A moldura como parte do mobiliário decorativo remete a um estilo, enquanto em uma obra de arte esta questão é colocada em primeiro plano em casos de molduras esta pergunta é raramente feita com a exceção de peças muito antigas. (SOUZA e ÖELZE, 1998) Subjugada à categoria de coadjuvante, erroneamente a moldura muitas vezes pode ser mais importante que a obra que delimita e ao retirá-la compromete-se a história da obra como um todo, assim como sua autenticidade, já que qualquer modificação nesse sentido irá transformar toda a integralidade da peça criando uma nova visão estética. Pode-se então afirmar que há a criação de um falso histórico, desvirtuando o entendimento e até propósito da moldura como delimitação e ornamentação da pintura, espelho ou fotografia. A falta da compreensão da importância da totalidade da obra acarreta em armazenamento precário e sem nenhum cuidado que muitas vezes danificava as peças encurtando a vida útil das mesmas. Devido à má conservação, muitas peças necessitam de intervenções de restauro que devem seguir os princípios éticos da restauração moderna: distinguibilidade, reversibilidade e mínima intervenção. (BRANDI, 2005). O princípio básico da distinguibilidade dita que todo e qualquer acrescento ou intervenção deve ser claramente perceptível. “A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo” (BRANDI,2005) p 33

A reversibilidade é a possibilidade de desfazer qualquer procedimento de restauração realizada sobre a obra de arte, assim qualquer equívoco pode ser desfeito. A mínima intervenção tem como objetivo preservar o máximo do original, pois o restaurador não pode interferir na obra. “restaura-se somente a matéria da obra de arte” (BRANDI, 2005 p. 31)

4 3 METODOLOGIA Com o intuito de caracterizar a significância das molduras como parte da integralidade de uma peça, definir seu valor no contexto visual e histórico e a importância da sua preservação e conservação foi efetuada uma pesquisa qualitativa que teve como primeira etapa a localização dos herdeiros das molduras estudadas contactando os familiares do Sr. Arthuro Andrea Rotta e o Sr. Alberto Antônio Cemin e determinar qual dos membros da família havia ficado em posse das molduras. Através de conversas telefônicas foram localizados: como herdeira do quadro do Sr. Arthuro sua neta, Sra. Fabiana Rotta Pozza, e como herdeiros do quadro do Sr. Alberto, seus filhos Sr. Renato Joe Cemin e Sra. Rejane Inês Cemin Rech. O quadro do Sr. Alberto foi desmembrado. O retrato ficou com sua filha e a moldura com seu filho. Após determinar os novos proprietários dos objetos de estudo foi efetuado um levantamento fotográfico com o intuito de documentar o estado atual das peças. Em posse da moldura do Sr. Renato foi contatado o Sr Hermínio Bassanesi, especialista em molduras da cidade de Caxias do Sul e proprietário da empresa Molduras Caxiense. O Sr. Bassanesi identificou como fabricada pela empresa P Alles e comercializada em Caxias do Sul por Studio Geremia. Realizaçou-se pesquisa bibliográfica sobre esta temática a procura de documentação sobre as empresas citadas e busca em jornais locais e da região do Vale dos Sinos. Por indicação do Sr. Bassanesi foi contatado o Sr. Paulo, profissional da área de emolduração de Caxias do Sul que esclareceu o processo de fabricação das peças. Com o objetivo de constatar a influência temporal e espacial sobre as molduras em madeira foram buscadas as plantas das residências onde ficaram expostas por cerca de cinqüenta anos, esta busca resultou negativa e para determinar o ambiente em que estas se encontravam foram escutados os familiares dos proprietários originais das molduras que esboçaram e narraram a disposição dos cômodos das casas e os posicionamentos dos retratos nas mesmas. Com conhecimento destes dados foram realizados croquis das plantas baixas onde são apontadas as localizações das molduras. Para determinar a ação da temporalidade e espaço nas peças, as mesmas foram analisadas, foram realizados diagnósticos de seus estados de conservação atuais e um estudo comparativo das mesmas. Com a realização dos diagnósticos definiu-se diretrizes projetuais de restauração que seguem as normas básicas determinadas pelo teórico da área Cesari Brandi.

5 4 HISTÓRICO

4.1 A arte de fotografar

Diferentemente das pinturas, as fotografias não eram consideradas uma arte e sim a mera reprodução da imagem sem a interferência criativa do fotógrafo, esta visão acarretou na falta de reconhecimento de muitos artista. Retratos antigos não costumam possuir a assinatura do fotógrafo e nem a data em que foram realizadas. Fotografias também não eram comuns e eram reservadas para momentos especiais como fatos históricos, festividades, retratos de família e bustos. Posar para um retrato era uma rara ocasião e motivo para grandes preparações. A importância dada aos retratos fotográficos de bustos acaba por criar a necessidade de imagens perfeitas nem sempre alcançadas. Com esta preocupação surge o retoque fotográfico. O retoque fotográfico é a introdução da pintura sobre os retratos e possibilita a correção de imperfeições e a utilização da cor. Filmes coloridos só passam a ser utilizados a partir da década de 30, mas só passa a se difundir em meados da década de 60. Com a interferência direta sobre a fotografia esta passa a ser vista por um novo ângulo e o retoque ou coloração, ofício que necessita habilidade artística, faz com que muitos destes profissionais passam a assinar seus trabalhos É a partir desse reconhecimento que os estúdios fotográficos começam a ter o seu nome vinculado ao trabalho que produzem e é por este motivo que foi possível identificar as peças temas deste artigo. Ambas as fotos pertencentes as molduras em questão são assinadas por Ulysses Geremia.

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Em conversa informal com a Sra. Rejane filha do Sr. Alberto foi possível encontrar o paradeiro da moldura pertencente a seu pai. A Sra Rejane esclareceu que estava em posse da fotografia e que a moldura foi herdada por seu irmão o Sr. Renato Joe Cemin, pois por motivo de falecimento de seu pai foi decidido em comum acordo que o quadro seria desmembrado, para que o retrato ficasse em sua posse e a moldura ficasse com seu irmão. Rejane deixou à disposição a fotografia que foi analisada na tentativa de identificar o fabricante da moldura.

6 Ao contactar o Sr Renato Joe Cemin foi constatado que a moldura em questão estava armazenada em sua casa. O Sr. Renato cedeu a moldura para que esta fosse transportada até a loja e fábrica Molduras Caxiense onde foi examinada pelo Sr. Hermínio Bassanese, renomado profissional caxiense na área de emolduração de quadros atuante no mercado local há mais de cinco décadas. Ao analisar a peça, o Sr. Bassanesi questionou sobre a imagem que se encontrava junto à moldura, pois devido a sua experiência acreditava que se trataria de um trabalho realizado pelo Studio Geremia na década de 40. O Studio Geremia especialista caxiense em retratos comercializava molduras prontas da empresa P Alles de Novo Hamburgo. O Sr. Bassanesi sugeriu o contato com Sr. Paulo, que solicitou para que seu nome e local de trabalho não fossem identificados. O Sr. Paulo atua na área de emolduração a mais de 30 anos e esclareceu a maneira como as molduras desse período eram confeccionadas. Segundo ele o material aplicado sobre a madeira uma mistura de gesso com cola animal que preparava a peça para a aplicação do prateamento. Após o prateamento betume era aplicado para dar o efeito de envelhecimento da peça. Com o intuito de certificar a autoria do retrato do Sr. Alberto, Sra. Rejane foi novamente contatada e colocou a disposição a imagem em questão. O retrato do Sr. Alberto é assinada pelo Studio Geremia o que confirmou as afirmações do Sr. Bassanesi. Foi realizado um comparativo das assinaturas encontradas nos retratos apresentes nas Figuras 1, 2 e 3.

Figura 1: Assinatura retrato de Sra. Nadir e filha.

Figura 2: Assinatura retrato Sr. Alberto.

Figura 3: Assinatura Sr. Geremia.

Para localizar a segunda moldura foi contatado o Sr. Rafael Rotta Pozza, neto do Sr. Arthuro Andrea Rotta, primeiro proprietário do quadro, que disse não estar em posse da

7 peça, mas que seria possível que sua irmã, a Sra. Fabiana Rotta Pozza residente na cidade de Chopinzinho, Paraná a tivesse herdado. Em ligação telefônica Sra. Fabiana confirmou ter consigo o quadro e narrou que este teria chegado até ela transportado por seu falecido pai Sr. Felix Antônio Pozza, em viagem de ônibus à sua residência há alguns anos. Segundo a Sra. Fabiana o quadro estaria armazenado em um depósito de madeira localizado nos fundos de sua residência em armário de madeira com outros quadros de família herdados e trazidos por seu pai. A Sra. Fabiana fotografou o quadro em detalhes e enviou as fotos do mesmo via e-mail. Com as fotos foi possível averiguar que o retrato da Sra. Nadir Maria Gubert Rotta e filha, Sra. Eliana Lourdes Rotta Pozza era obra do Studio Geremia. Ambas molduras foram identificadas como resultado do trabalho de P Alles durante a década de 40, esta empresa fornecia suas molduras ao Studio Geremia que as comercializava em tamanho pré determinados para emoldurar os retratos que fotografava e revelava. Em tentativa de localizar a empresa P Alles foi constatado que está não atua mais no mercado assim como a empresa Studio Geremia que encerrou seus trabalhos em 1997. Ao não existirem plantas das residências do Sr. Arthuro e Sr. Alberto devido à data de construção das mesmas, os familiares de ambos descreveram o local, ao narrarem a disposição dos cômodos e posição dos retratos. Em conversa com Sr. Paulo que atua no ramo de molduras na cidade de Caxias do Sul há 30 anos e que preferiu não ser citado neste artigo, foi possível determinar o processo de confecção, materiais e estilo das peças que são objetos deste estudo. O conhecimento destes detalhes foi crucial para a tomada de decisões na elaboração das diretrizes projetuais de restauração pra este artigo.

5.1 Studio Geremia

Giácomo Geremia, filho de imigrantes italianos abre na Av. Júlio de Castilhos, 1872, atelier de “photographia” Studio Geremia. Autodidata, Giácomo havia trabalhado como fotógrafo itinerante e vê uma grande oportunidade nesta área com o crescimento da cidade de Caxias do Sul. Em 1930, seu filho Ulysses passa a trabalhar com o pai, é dele as assinaturas encontradas em muitas das fotografias realizadas pelo Studio Geremia. Com o costume de emoldurar os retratos de família surge a necessidade de fornecer a peça pronta para ser exposta nas paredes das residências de Caxias do Sul e o Studio Geremia também passa a oferecer o serviço de emolduração. A impressa comprava as

8 molduras prontas em tamanhos padrões e revelava as imagens na medida correspondente a esta.

5.2 P. Alles S.A. - Fábrica de Molduras

As peças estudadas neste artigo não possuíam selo de seu fabricante para possível identificação de data e procedência para descobrir estes dados entrou-se em contato com a empresa Molduras Caxiense que atua no mercado caxiense a mais de sessenta anos e conversado com o Sr. Hermínio Bassanesi, fundador da mesma. Como grande conhecedor do ramo de molduras o Sr Bassanesi facilmente identificou a peça. O fato da fotografia ter sido realizada nos Studio Geremia, é identificável pela assinatura do trabalho e tornou possível nomear o fornecedor das molduras utilizadas pela empresa de fotografia. Sr. Hemínio indicou a empresa P. Alles de Novo Hamburgo como a fabricante das molduras em questão. A P Alles S/A Fábrica de Molduras foi fundada por Pedro Alles que abriu um estúdio de fotografia em Porto Alegre na década de 10 ao perceber que as pessoas gostavam de moldurar suas fotografias e que molduras eram escassas na época. Com a ideia de aprender a técnica mudou-se para a Alemanha em 1910, ao retornar em 1912 funda a empresa P Alles S/A Fábrica de Molduras. O conhecimento de Sr. Bassanesi foi fundamental para a identificação do fabricante e confirmação da data aproximada de sua manufatura.

6 DESCRIÇÃO DAS MOLDURAS

Moldura de Pinús com medida interna de 30cm X 39cm e externa de 39cm X 48cm em estilo Luís XV também conhecido Medalhão. Desenho com medidas Figura 4. Com aplicação de ornatos em formas de folhas em suas quatro extremidades confeccionados em moldes de cilíndricos de bronze de mistura de gesso in natura e cola de boi. Encaixes em ângulo de 45 graus fixados com cola bovina e pregados a mão. Anverso com a aplicação da técnica de prateamento sobre mistura de gesso e cola animal e aplicação de betume para efeito de envelhecimento. Trabalhado em sancas. Verso liso. Modura1 apresenta gancho triangular em metal enquanto a moldura dois possui corrente em metal.

9

Figura 4: Desenho cotado.

6.1 Localização e exposição

Ambas as molduras estudadas neste trabalho emolduravam fotografias familiares e de vínculo afetivo com os proprietários das casas onde estavam expostas.

6.2 Moldura 1

O 1º quadro encontrava-se na residência de Alberto Luís Cemin, localizada na rua Ernesto Alves, 610, bairro Lourdes em Caxias do sul. Onde permaneceu desde sua fabricação até 2004, ano em que o proprietário da casa veio a falecer. Pendurada em parede de madeira que fazia divisória com o banheiro da casa estava em local de grande visibilidade entre a parede que dava acesso ao quarto principal e sala de jantar. Há alguns metros à sua frente encontrava-se uma janela com frente oeste permitindo que os raios de sol a atingissem diretamente, ao cair da tarde. A falta de portas entre a cozinha, sala de jantar e a peça onde se encontrava pendurada contribuiu para a sua exposição a substâncias como a gordura produzida ao cozinhar alimentos. Com o falecimento de Alberto Antônio Cemin seus bens foram distribuídos entre seus filhos. O quadro foi desmontado dividindo a foto e moldura. A foto de patriarca da família ficou com sua filha Rejane Inês Cemin enquanto a moldura foi herdada por seu filho Renato Joe que a manteve

10 armazenada em armário de madeira longe da luz e umidade, mas sem cuidados maiores para sua preservação, até os dias de hoje. A localização da moldura é apresentada na Figura 5.

Figura 5: Esquema da Planta da Residência do Sr. Alberto Luís Cemin.

6.3 Moldura 2

O quadro com a foto de Nadir Maria Gubert Rotta e Eliana Lourdes Rotta Pozza, consecutivamente esposa e filha de Arthuro Andrea Rotta permaneceu na ante sala de sua casa localizada na Rua Marechal Floriano, 412, Bairro Centro, Caxias do Sul desde de sua confecção até o falecimento do proprietário da casa no ano de 2006. Pendurada em parede de divisão externa da casa em alvenaria frente oeste, não possuía incidência de luz direta, pois o cômodo onde se encontrava possuía uma janela com frente sul com pouca entrada de luz solar. Este cômodo da casa era pouco utilizado, pois a habitação possuía mais duas entradas externas. Com o falecimento do Sr. Arthuro seus filhos e genro começaram a divisão dos móveis e peças de decoração do mesmo. Sr. Felix Antônio Pozza viúvo de Sra. Eliana Lourdes Rotta Pozza e genro do Sr. Arthuro fica com a posse dos quadros com as fotos da família o que inclui o objeto de estudo neste trabalho. O Sr. Pozza toma a decisão de

11 presentiar sua filha Sra Fabiana Rotta Pozza transportando-o até a cidade de Jopinzinho, localizada no interior do estado do Paraná. A maneira como o Sr. Felix Antônio Pozza procedeu no transporte da peça não pode ser esclarecido por motivo de seu falecimento. Sua filha Sra Fabiana Rotta Pozza tão pouco soube elucidar tal processo em detalhes, mas afirmou que seu pai viajou de ônibus até o local de sua residência no Paraná. A Sra. Fabiana de posse do quadro o armazenou em um depósito de madeira nos fundos de sua moradia juntamente com outros quadros com imagens de sua família. Segundo ela não houveram maiores cuidados para conservar a peça que foi deixada em um armário sob outros quadros. A localização da moldura é apresentada na Figura 6.

Figura 6: Esquema da Planta da Residência do Sr. Arthuro Andrea Rotta.

7 DIAGNÓSTICO

7.1 Diagnóstico moldura1

Foram retirados o vidro e o retrato da moldura que se encontra em bom estado de conservação. Tanto verso e anverso apresentam sujidades, pó, manchas, acúmulo de produtos domésticos para madeira e excrementos de insetos, mas não existe a presença de organismos fúngicos. O anverso possui craquelamento homogênio, desgaste da camada pictórica por ação

12 mecânica (possível higienização excessiva), que deixou visível a camada de gesso preparatória e a madeira, Figura 7. Verso com resquícios do papel utilizado na emolduração e marcas da ação de animais xilófagos, visível na Figura 8. Corrente em metal apresentando oxidação homogênia e superficial e presa por grampos.

Figura 7: Detalhe craquelê e perda pictórica

Figura 9: Ação de xilófagos, resquícios de papel.

Figura 8: Anverso moldura Sr. Alberto.

Figura 10: Verso moldura Sr. Alberto.

13

7.2 Diagnóstico moldura 2

O retrato e vidro estão integrados a moldura que se encontra em bom estado. O que pode ser constatado na Figura 11. Intenso craquelado em toda a superfície da peça com perda de camada pictórica. A perda pictórica é mais intensa em áreas específicas e deixa à mostra a camada de gesso aplicada sobre a madeira para a aplicação das lâminas de prata. Figura 12.

Figura 11: Detalhe craquelê.

Figura 12: Retrato emoldurado.

O anverso apresenta sujidades, excrementos de insetos e poeira. Não encontrou-se ação de agentes fúngicos nem marcas da ação de umidade ou de animais xilófagos. O verso da madeira não é aparente e está protegido pelo papel original da época do emolduração. O papel é esverdeado e não apresenta perfurações de animais xilófagos nem marcas de umidade e possui o selo que constata o uso de folhas de prata na moldura, onde se pode ler BelPrata, apresentado na Figura 13. O papel está desgastado nas bordas laterais. Gancho de metal triangular em bom estado.

14

Figura 13: Verso do quadro com detalhe do selo.

8 DIRETRIZES PROJETUAIS

8.1 Diretrizes projetuais moldura 1

Limpeza mecânica com pincel seguida de limpeza química no verso. Retirada da corrente de metal do anverso da peça. O papel no anverso da moldura é umedecido e raspado com espátula. Com à constatação da atividade dos animais xilófagos após limpeza, a moldura será embalada em plástico e deixada descansar para a verificação se os xilófagos estão ainda a agir na peça. Devido à deterioração do prateamento optou-se pelo uso de um decapante para retirar os resquícios da camada pictórica e mistura de gesso e cola animal com o propósito de deixar a madeira no osso. Após aplicação de bolo armênio e novas folhas de prata, envelhecimento com betume e como finalização no intuito protetivo um verniz fosco.

15 8.2 Diretrizes projetuais moldura 2

Limpeza mecânica com pincel seguida de limpeza química no verso e anverso da peça. Com o retrato e vidro em ótimo estado integrados a obras e protegidos com o papel original de sua emolduração seguindo o princípio da mínima intervenção optou-se por não interferir com a retirada da moldura. Com esta decisão o vidro deve ser devidamente protegido com papel jornal e plástico com a intenção de evitar danos. Após limpeza química optou-se por lixar com lixa fina as áreas com grande perda da camada pictórica, aplicando uma leve camada da mistura de gesso com cola animal, seguida de uma aplicação de bolo armênio e sobre este novas folhas de prata, envelhecendo estas áreas com betume integrando-as ao restante da peça. Finalização com verniz fosco protetivo. Retirada do plástico e papel jornal.

9 CONCLUSÃO

Ao efetuar esta pesquisa foi possível concluir a importância da escolha de uma moldura adequada ao determinar que esta traz valor visual a um quadro. A moldura não deve chamar mais atenção que a obra que enquadra e o ideal é que esta forme uma totalidade harmônica com a pintura ou fotografia. Mas como parte de uma obra pronta não deve estar submetida ao gosto pessoal de um novo proprietário, pois esta deve ser vista como parte importante para a integralidade da obra e para que o quadro possa ser situado em um determinado período temporal. Outra conclusão foi a da importância do local onde são mantidas em exposição ao ter finalidade decorativa para o processo de seu conservação, assim como os procedimentos de limpeza efetuados durante o passar dos anos. É notória que a limpeza excessiva sofrida pela moldura1 foi determinante para o seu desgaste, é uma ação mecânica de fricção que é a causa mais provável da perda da camada de prata aplicada sobre a moldura. Ao estar localizada em local de grande circulação e próxima a cozinha exigia maior manutenção de limpeza. A incidência direta dos raios do sol é um fator importante na retração e dilatação da moldura e decisiva para o ressecamento da mistura de gesso e cola bovina e causadora do craquelamento acentuado da peça e anula o possível efeito que o vapor de umidade produzido no banheiro cuja a parede em que se encontrava fazia divisa. O fato de as divisórias internas da residência serem em madeira pode ter sido o fomento para o ataque de animais xilófagos a moldura.

16 Pode-se concluir que a moldura2 ao estar exposta em um cômodo da casa pouco freqüentado tenha sofrido menor número de intervenções de limpeza, assim como menor ação do meio em que se localizava ao estar em parede de alvenaria e não sofrer o efeito direto dos raios solares. É possível determinar que tanto quando em uso, neste caso, uso decorativo quando armazenada, sem exercer a função para a qual foi criada a moldura1 não sofreu graves interferências que pudessem prejudicar o seu estado de conservação. Ao contrário a moldura 2 quando em uso encontrava-se menos propensa a ação do tempo e espaço, mas ao perder este estatos sofreu com o mau manuseio, transporte e armazenamento que são os possíveis responsáveis pelos danos que apresenta. É presumível afirmar que a manutenção e conservação de um bem pode se dar enquanto este se encontra em uso. Como conclusão geral é possível afirmar que com a conservação adequada se pode colocar em prática o princípio básico da mínima intervenção e que o desconhecimento dos proprietários com relação a importância da moldura para a integralidade de um quadro assim como os procedimentos adequados de conservação são os grandes vilões da perpetuação das molduras de madeira e que o descaso de seus herdeiros é o ponto determinante no veredicto de sua existência.

10 REFERÊNCIAS BRAGA, M. Conservação e restauro: arquitetura. Rio de Janeiro. Ed. Rio, 2003. BRANDI, C. Teoria da Restauração. Cotia, São Paulo; Ateliêr Editorial, 2004.? CABRAL, M. F.; MIRO, E. P. Restauração de Madeira. In: Artes e ofícios coleção.? 1 ed. Portugal: Editora Estampa, 2009. KLEINER, L. M.. Os solventes. In: Restauração Ciência e Arte. Rio de Janerio. Editora UFRJ; Iphan, 2005. LOPES, R. Memória. Jornal Pioneiro. Edição On Line, 2015. Disponível em: . Acesso em: 24 de abril 2015.

MACALOSSI, Â. M.; BACHETTINI, A. L.; MORAES, F.; SCOLARI, K.;TORINO H. C. I.; "Espelho oval do museu da baronesa, pelotas-rs: estudo de caso sobre o restauro da moldura de madeira trabalhada em talha, gesso e folhas de ouro”. Disponível em:. Acesso em: 03 de abril 2015.

17 MICELI, E. Restauro em madeira. PALESTRA FTSG. Caxias do Sul: 2015. MICHAELIS. Disponível em:. Acesso em: 11 de abril 2015. MÜHLBAUER, C. F.; RAZEIRA, P. F. Conservação e restauração de madeira na arquitetura brasileira autora. Disponível em:. Acesso em: 05 de ab. 2015. SCHEMES, C. Pedro Adams Filho: empreendedorismo, indústria calçadista e emancipação de Novo Hamburgo. Tese. PUCRS. Porto Alegre, 2006. Disponível em:. Acesso em: 05 de abr. 2015. SOUZA, J., ÖELZE, B. Simmel e a modernidade. Brasília: UnB. 1998. p. 121-128. A MOLDURA. UM ENSAIO ESTÉTICO (1902) ["Der Bildrahmen. Ein asthetischer Versuch"] Georg Simmel. Disponível em: . Acesso em: 10 de abr. 2015.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.