Aqui no pasa nada Notas sobre eleicoes em um Mexico de descrenca institucional Midia NINJA

May 31, 2017 | Autor: S. Da Silva Ribei... | Categoria: Mexico, México, Guerrero
Share Embed


Descrição do Produto

# Em parceria com

! " ​12 junho 2015 3:30 PM​ • Visualizações 590 • Pontuação: 1

Aqui "no pasa nada": Notas sobre eleições em um México de descrença institucional por NINJA

Sem a consolidação de um regime de garantia de direitos, o chamado a votar pareceu anacrônico, vide à falta de legitimidade dos partidos políticos, que recusaram uma vez mais uma vez o o diálogo e preferiram enfrentar a situação pela via militar. Por Simone Gomes (*) para Mídia NINJA.

Detalhe do Mural de Desiderio, de Hernández Xochitiotzin. Foto: Jesús Guzma-Moya

Narcoestado, narcoviolência, narcocultura, narcomanta, narcobloqueio, entre outras variações do prefixo mais conhecido por sua semântica ligada ao narcotráfico, são expressões correntes no México contemporâneo. O país de aproximadamente 110 milhões de pessoas é igualmente o atual cenário de mais de 990 mobilizações distintas — por conflitos magisteriais, sociais e por segurança pública, entre outras pautas. O consenso social no México é que a democracia à la mexicana trata fundamentalmente de reprimir violentamente os conflitos sociais, sem a menor tentativa de diálogo. Isso fica evidenciado, por exemplo, pelas imagens dessa semana, de tanques militares em direção aos estados de maior conflitividade social histórica, como Guerrero, Oaxaca e Chiapas. Nesse caldeirão é que ocorreram as eleiciones intermédias (no dia 7 de Junho de 2015, sucedidas a cada sexênio), cujo objetivo é eleger os representantes da Câmara dos Deputados, alguns governadores, prefeitos e chefes distritais. Em um contexto de descrédito das instituições, os grandes partidos (cuja figura máxima é o PRI – Partido Revolucionário Institucional), acompanhados de legendas como o PAN – Partido da Ação Nacional, Partido Verde, PRD – Partido Revolucionário Democrático, Morena, entre outras legendas de menor expressão de voto, jogaram suas mais altas cartas e, paradoxalmente, ganharam e perderam nesse jogo eleitoral. Ganharam, pois aconteceu o esperado, em uma das eleições mais caras da história, com o custo de cerca de 21 milhões e 634 mil pesos, mais de 30% em relação às últimas eleições parciais, ocorridas em 2009 no México contemporâneo, dado que o PRI segue hegemônico. Ao conquistar a maioria absoluta na Câmara dos Deputados, graças a alianças, que incluíram o fortalecimento do Partido Verde, em uma manobra legal (mas ilegítima) e das já habituais práticas coronelistas de compra sistemática de votos, demonstram sua capacidade de permanecer no poder a despeito das mobilizações de descontentamento que datam da eleição do

atual presidente, Enrique Peña Nieto, quadro do PRI, em 2012. No entanto, os grandes partidos políticos igualmente perderam, em um contexto eleitoral tido como o mais complicado dos últimos tempos segundo Lorenzo Córdova, presidente do INE- Instituto Nacional Eleitoral. Os números anunciam uma participação de 48% da população, de um país de voto não obrigatório, em que 30% votou pelo PRI, 22% pelo PAN, 11% pelo PRD, 7,5% pelo Verde e 9% pelo novo partido Morena. Em que pese a polissemia dos números e a variedade de interpretações que esses possibilitam, o desgaste das instituições governamentais fica como legado desse momento. Um exemplo é o alto número de denúncias de fraudes reportadas, com mais de 300 mil queixas registradas de propagandas que violavam a normatividade eleitoral, uso indevido de tempo televisivo de programas sociais e tentativas (?) de compra de votos. O Partido Verde, nesse sentido, foi o vencedor em denúncias de distribuição das onipresentes mochilas verdes com sua logo, mas também com a entrega de entradas para o cinema, pasta de dentes e kits alimentícios que incluíam cartas do partido. Perderam, igualmente, porque em um contexto de duopólio televisivo - Televisa e TV Azteca – concessões públicas amplamente criticadas pela sociedade a partir do movimento #YoSoy132, e sua massificação das propagandas a favor do esquecimento das feridas abertas mexicanas, foram muitas as manifestações contrárias as eleições. Um dos episódios marcantes desse momento foi um chamado ao boicote eleitoral, convocado por diversas associações, que incluem os familiares de Ayotzinapa, implicando não somente um rechaço institucional a um governo que se recusa a investigar as relações entre grupos criminosos e esferas governamentais e seu aparato repressor estatal, que inclui o exército, mas igualmente a falência de um modelo de pensar a política. Nesse sentido cabe recuperar o emblemático desaparecimento forçado dos estudantes normalistas em Iguala, no estado de Guerrero, um feito longe de ser isolado no México contemporâneo, mas uma situação emblemática do conluio entre a força do narcotráfico e a corrupção estatal, condensada na ideia de um narcogobierno. A fala dos familiares dos normalistas “não haverá eleições enquanto não aparecerem nossos filhos com vida”, sintetiza ambas tristeza e descontentamento com o governo príista. Em um comunicado lançado, afirmam ainda que a população pobre não deveria escutar os dirigentes partidários, munidos de seus grupos violentos e repressores contra quem protesta pelo aparecimento de jovens estudantes, desaparecidos a mais de 253 dias. No Estado de Guerrero, marcado por massacres históricos desde o início do século XX, mas cujo episódio dramático de Ayotzinapa reacendeu uma série de protestos desde Outubro do ano passado, foram desveladas processos sintomáticos antes dessas eleições. Junto ao chamado ao boicote eleitoral houveram, portanto, diversos enfrentamentos que reuniram tanto estudantes quanto professores em greve em todo o país, impedindo a instalação de alguns centros de votação, se apoderando de cédulas e urnas e queimando-as nas ruas. Os repertórios de ação dos grupos mexicanos incluíram o bloqueio de estradas, e nessas eleições, a queima de urnas, sobretudo na cidade de Tixla, onde as eleições foram anuladas, dado que mais de 20% dessas foram queimadas. Os enfrentamentos se deram entre as forças de segurança, normalistas e professores que já temiam a presença de grupos de choque nas ruas e incluso chegaram a abandonar suas casas por medo de reprimendas, tanto por sua participação ativa no boicote quanto por viverem perto de líderes priístas. Em um escalonamento da repressão, no município de Tlapa, em Guerrero, os confrontos ocasionaram vários feridos e a morte de um militante da UPN – Universidad Pedagógica Nacional, Antonio Vivar Díaz, e de vários feridos. Nessa mesma cidade, movimentos populares, sindicatos dos professores e cidadãos que saíram às ruas foram reprimidos violentamente. Já no Estado de Oaxaca, os enfrentamentos foram sobretudo entre as forças estatais e os professores grevistas. Em um vídeo rapidamente viralizado, se pode observar os professores grevistas da CNTE - Coordinadora Nacional de Trabajadores de la Educación, entonando um grito de guerra “venceremos”, e o subsequente retrocesso dos militares que os coagiam. Ainda em Oaxaca, em que a categoria em greve dos professores esteve à frente das mobilizações locais, os enfrentamentos contaram com episódios como a invasão de assembleias comunitárias por agentes armados no dia das eleições, anunciando um ambiente de repressão que incluiu o sobrevoo de helicópteros e a presença de um grande contingente militar nas grandes cidades. Os protestos nesse estado foram intensos, bloqueando algumas estradas, inclusive a rodovia de acesso ao aeroporto. O rechaço às instituições eleitorais nessa região contou com episódios incendiários, de queima de cédulas, urnas e inclusive a expulsão dos militares que mantinham urnas sob custódia por parte dos professores grevistas. A situação em Chiapas, reduto de maior crescimento do Partido Verde, alçado pelo PRI em sua faceta falsamente ecológica e verdadeiramente clientelista, foi igualmente de focos de enfrentamento e tensão. Em que pese a já esperada vitória da aliança príista-verde, sendo o último partido o campeão de transgressão das regras do jogo eleitoral, não deixa de surpreender a ausência dos votos de castigo aos partidos cujas raízes clientelistas causam um enorme dano à população local. Em Tuxla Gutiérrez, capital chiapaneca, ocorreram as maiores manifestações, que incluíram um bloqueio das estradas; interrupção das atividades da principal empresa petroleira PEMEX; queima de urnas e mais de dez ativistas presos por seu suposto envolvimento com os protestos. Grande parte da mídia hegemônica, no entanto, destacou o que considerava ser a violência por parte dos manifestantes dos chamados “focos vermelhos” mexicanos, negligenciando a violenta atuação dos cartéis de narcotráfico na região e dos governos

locais. A fala de uma jovem guerrense expõe a descrença e a inversão dos poderes em que vivem “se são os criminais que nos governam ao final, deveríamos votar nos cartéis e não nos partidos políticos”.

Outra fala, de uma fonte próxima ao cartel de narcotraficantes conhecido como Guerreros Unidos, em Guerrero, é emblemática: “aqui quem quer governar tem que fechar conosco, se não vem apadrinhado não consegue fazer nada, e se não fecha, os eliminamos. Só a gente decide quem governa e quem se torna nosso sócio”.

No bojo desse conflito, outras mortes resultados de enfrentamentos mais antigos, mas igualmente relativos ao narcotráfico ocorreram em Guerrero , sobretudo a partir de embates cujas raízes são mais profundas que a aparição às vésperas da eleição, como por exemplo, o conflito entre polícias comunitárias e oficiais governamentais. No pequeno município de Xolapa, próximo à Acapulco, por exemplo, foram dez mortes no período imediatamente pré-eleitoral. Nesse cenário de um início de século XXI mexicano sem a consolidação de um regime de garantia de direitos, o voto não parece ter convencido grande parte da população, sobretudo os jovens, de uma mudança feita por dentro do sistema que não creem capaz de mudanças estruturais. O chamado a votar, portanto, pareceu anacrônico, vide à falta de legitimidade dos partidos políticos, que recusaram uma vez mais uma vez o diálogo e preferiram enfrentar a sociedade de forma militarizada. Tal estado de desânimo cidadão com a violência relacionada às eleições só vistas em períodos específicos como nas eleições de 1940, 1952 e 1988, já se imaginava superado. Em um país onde uma quantidade significativa da população não crê na existência de uma democracia real, há um patente esvaziamento do significado eleitoral. Se em sexênios passados já se apresentavam as próximas candidaturas presidenciais, atualmente não se pode garantir nem mesmo que haverá eleições em 2018. Resta esperar e torcer pelo resultado das manifestações que vem movimentando a população mexicana, com e contra a política eleitoral, uma política das ruas. (*) Simone Gomes é Feminista, doutoranda em Sociologia pelo IESP-UERJ, e atualmente encontra-se no México pesquisando movimentos sociais. (**) Mensagens deixadas pelos cartéis de drogas em espaços públicos, geralmente estradas, em que justificam seus crimes ou enviam ameaças a grupos rivais, polícias, políticos, empresários, etc.

Leia mais: Chiapas | Eleição | Guerrero (Chihuahua) | México | Violência

MAIS ARTIGOS SUGERIDOS PARA VOCÊ Brasileiros de todo o mundo se unem contra o golpe Concremat: de “braço auxiliar” das remoções à queda da ciclovia

Estudante, professor, ativista e gestor público: quatro vozes sobre o Escola Sem Partido Redução de direitos trabalhistas é alvo de protestos no Co

Dose diária de vergonha do Jornalismo brasileiro Tribunal Internacional dá veredito: impeachment é golpe

O que vem depois da geração tombamento Fora Temer fura manifestação pró impeachment e toma as ruas

O Porto Maravilha é negro Canecão é ocupado por artistas em meio à preparativos para Olimpíadas

A coisa tá preta O fascismo enxuga o gelo

Porque devemos afrobetizar o Brasil A coroa é meu cabelo

BESbswy BESbswy BESbswy

BESbsw BESbswy BESbswy BESbswy

BESbsw BESbswy BESbswy BESbswy

BESbsw BESbswy BESbswy BESbswy

BESbsw

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.