Área Temática: Gestão Socioambiental Holismo na Administração: a perspectiva da sustentabilidade AUTORES

June 12, 2017 | Autor: Isak Kruglianskas | Categoria: Organizational Performance, Global Reporting Initiative, Point of View
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Área Temática: Gestão Socioambiental Holismo na Administração: a perspectiva da sustentabilidade AUTORES LILIAN ALIGLERI Universidade de São Paulo [email protected] SÍLVIO APARECIDO DOS SANTOS Universidade de São Paulo [email protected] FLAVIO HOURNEAUX JUNIOR Universidade de São Paulo [email protected] ISAK KRUGLIANSKAS Universidade de São Paulo [email protected] Resumo: A sociedade, em geral, tem usado uma visão de mundo fragmentada para entender a complexidade em que está envolvida. Com isso, diversos pensadores têm buscado reintegrar o que foi artificialmente separado, o que implica numa mudança de pensamento, percepção e valores que formam a visão da realidade. A partir desta perspectiva, surge o holismo, uma forma que busca entender os fatos dentro de um contexto, estabelecendo a natureza das relações e abrindo-se espaço para a transdisciplinaridade, necessária para o entendimento da complexidade. Esta nova visão tem sido aplicada também em estudos organizacionais, ampliando-se o horizonte de discussão e de compreensão do papel das organizações. Assim, este artigo tem por objetivo a discussão da sustentabilidade nas organizações como parte de uma visão holística. Para tanto propõe, a partir de indicadores econômicos, sociais e ambientais presentes no modelo de relatório sustentável da Global Reporting Initiative, analisar o envolvimento e a transparência das empresas nessas três dimensões, na tentativa de se consolidar uma visão mais holística para o desempenho organizacional. A pesquisa envolveu uma investigação documental, com dados secundários disponibilizados nos relatórios referentes ao exercício de 2006. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, com o uso de uma amostra por conveniência de acesso aos dados. A análise revelou que embora as organizações pareçam engajadas em sustentabilidade, em muitos indicadores as empresas omitiram informações, apresentaram dados incompletos ou fora do escopo especificado nas diretrizes propostas pelo modelo GRI. Abstract: Society, in general, has used a fragmented vision of the world in order to understand its inherent complexity. Thus, several authors have tried to rejoin what had been artificially split. This leads to a new trend of thought of what reality is. From this point of view, comes the holism, one way to understand facts within a context and to establish relationships among elements. This new vision has been also applied to organizational studies. This paper aims to discuss how sustainability in organizations can be seen from a holistic vision. To do so, from the Global Reporting Initiative list of indicators, the aim is to analyze the organizational performance from economic, social and environmental perspectives. The research comprehended a documental investigation, with secondary data 1

from reports related to the period of 2006. This is both a exploratory and descriptive research. The analysis revealed that, although the organizations seem to be engaged in sustainability, in many indicators they omitted information and presented data that were incomplete or inconsistent with the specified guidelines proposed by the GRI model. Palavras-chave: holismo; sustentabilidade; relatórios de gestão. 1

Introdução e Problema de Pesquisa Aquecimento global, efeito estufa, poluição, enchentes, incêndios, desmatamento, falta de água, epidemias, doenças infecciosas, onda crescente de violência, alcoolismo, consumo de drogas, distúrbios de comportamento e crimes são temas emergentes que tomam conta do cotidiano da sociedade. Uma crise sócio-ambiental mundial, ampliada nas últimas duas décadas, que afeta todos os aspectos da vida Todavia, segundo Capra (1982), quanto mais se estuda os principais problemas da sociedade mais se observa que eles não podem ser entendidos isoladamente uma vez que eles estão interligados e são interdependentes. Eles precisam ser percebidos como resposta a uma crise caracterizada pela percepção inadequada da realidade. A sociedade tem usado uma visão de mundo fragmentada para entender a complexidade. E, conforme Crema (1989), o modelo de pensamento moderno que gerou o progresso tecnológico, também proporcionou divisões artificiais da realidade e, por conseqüência, atitudes fragmentadas e fragmentadoras, geradoras de alienação, conflito e sofrimento. Nesse sentido, diversos pensadores têm buscado reintegrar o que foi artificialmente separado, o que implica numa mudança de pensamento, percepção e valores que formam a visão da realidade. Assim, tem-se ampliado termos como medicina holística, biologia organísmica, ecologia, administração integrada, psicologia da gestalt. E, em diferentes áreas do conhecimento discute-se visão e abordagem holística, sistêmica e organísmica. Busca-se entender os fatos dentro de um contexto, estabelecendo a natureza das relações e abre-se espaço para a transdisciplinaridade e múltiplas inteligências que abrangem o racional, emocional, intuitivo, social, cultural e planetário. Assim, uma nova estrutura conceitual infiltra-se na ciência, na filosofia, na educação e na terapia (WEIL, 1990) traduzindo a perspectiva de entrelaçamento e interdependência de todos os fenômenos. A administração, em estudos mais recentes, tem buscando integrar essa perspectiva a gestão. Atualmente verifica-se que não existe mais uma linha divisória entre problemas que estão fora e dentro das empresas. As ações e decisões empresariais devem contribuir e ser compartilhadas com a sociedade, sob o risco de serem questionadas, processadas e cobradas por sua estreita visão sistêmica (BORGER, 2001). Isso implica no redimensionamento de modelos de decisão e indicadores de medição do desempenho organizacional. Neste sentido, esse artigo objetiva discutir a sustentabilidade nas organizações como parte de uma visão holística. Para tanto propõe, a partir de indicadores econômicos, sociais e ambientais presentes no modelo de relatório da Global Reporting Initiative, analisar o envolvimento e a transparência das empresas nessas dimensões. 2

Referencial teórico

2.1

Holismo: conceitos e evolução A palavra holismo apareceu pela primeira vez no livro Holism and Evolution, em 1926, criada por Jan Smuts. A palavra é construída a partir da raiz grega holos, que significa completo, inteiro, todo (HALL e LINDZEY, 1973).

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O conceito sustenta que o organismo social, assim como o biológico, é algo maior do que simples soma dos seus membros ou das partes e desenvolve-se dentro de um todo evolutivo (SMUTS, 1926). Na definição da Universidade Holística Internacional, proposta em Paris no ano de 1986: “é uma visão na qual o todo e cada uma de suas sinergias são estreitamente ligadas em interações constantes e paradoxais” (WEIL, 1991, p.43). Capra (1997, p.40) contribui ao afirmar que o comportamento de um organismo não pode ser entendido somente a partir do estudo de suas partes. O holismo tem a ver como sistemas e “as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades do todo, que nenhuma das partes isoladas possui”. Randon (1991, p.44) complementa essa visão ao dizer que “vivo é também uma entidade biológica, física, espiritual e psíquica na qual nada está separado”. Assim, a abordagem holística não pode ser produto apenas de uma interpretação intelectual. Propõe-se, desta forma, não separar mais a natureza interior da natureza e imagem exterior das coisas o que implica em entender as relações existentes. Desta forma, a perspectiva holística é uma reação a visão newtoniana-cartesiana de um universo fragmentado, atomizado e desvinculado caracterizado pelo paradigma mecanicista que vê o mundo como uma máquina (CAPRA, 1997; CREMA, 1989). O holismo implica em premissas mais integrativas e orgânicas que retorna a visão da não separatividade dos présocráticos ao integrar sensação, sentimento razão e intuição. O pensamento sistêmico adotado pelo holismo implica em perceber o objeto de análise em um contexto de um todo mais amplo, ao contrário do pensamento analítico que busca isolar alguma coisa. Apresenta, portanto, a complexidade organizada em que “os objetos são redes de relações, embutidas em redes maiores” (CAPRA, 1997, p. 47). Na visão holística o indivíduo, a sociedade e a natureza formam um conjunto indissociável, interdependente e em constante movimento (BAUER, 1999). (...) o universo nos aparece como uma rede complexa de acontecimento na qual conexões de natureza diferente se alternam, se superpõem ou se combinam e, todavia determinam a estrutura do conjunto (D’AMBROSIO, 1991, p. 55).

Essa visão transcende o enfoque de disciplinas, aproximando vários campos de estudo e áreas de conhecimento que antes eram entendidos e pesquisados separadamente. Isso implica em novas formas de conhecer, de explicar, de saber e de fazer o que favorece a criação de modelos alternativos de conhecimentos em competição com aqueles que ocupam posição dominante no mundo moderno (D’AMBRÓSIO, 1991). Necessita-se de uma outra proposta de construção de conhecimento que passa pela redefinição de concepções, valores, percepção e práticas compartilhadas e tem profundas implicações não apenas para a ciência e para a filosofia mas também para as atividades comerciais, a política, a assistência, a saúde, a educação e a vida cotidiana (CAPRA, 1997, p. 23). A visão holística parece buscar explicar o mundo com a lógica de um cientista, questionando o mundo com as dúvidas de um filósofo, percebe-lo com a sensibilidade intuitiva de um artista, experimentar cada momento com um ritual de grande tradição (MIGLIORI, 2008). Na perspectiva de Cimbleris (1991, p. 102) o perfil do observador ideal é aquele que: (...) deverá ser filósofo e cientista completo. Enquanto cientista, deverá ser biólogo e engenheiro; físico, químico e médico; psicólogo, sociólogo e economista, com especialização em futurologia, ecologia e política global. E enquanto filósofo, ter a mente muito aberta para as religiões comumente excluídas do universo científicometafísico, misticismo, conexões transpessoais. Mas além disso, de preferência, deve falar todas as três mil línguas do planeta, ter estado em todos os países, ter assistido a todos os congressos importantes no decurso de sua vida, ter convivido com todos os homens e mulheres inteligentes; ter acompanhado todas as grandes tendências literárias e artísticas.

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Weil (1991) conclui que a perspectiva holística não é nenhuma nova corrente, mas uma cosmovisão de todas as correntes sob forma de complementaridade. Desta forma afirma que se trata de uma visão utópica, ou seja, como exprime a etimologia do termo grego utopeia, não tem lugar definido. Cimbleris (1991, p. 100) problematiza o tema ao afirmar que a multiplicidade de referenciais, bases de suporte e o entrelaçamento entre diversos ramos da ciência trazem dificuldade para o estudo da visão holística, principalmente porque trata-se de um “movimento de idéias e não um corpo de doutrina”. Todavia, estudiosos da perspectiva holística como Weil (1991), Capra (1982, 1997) e Crema (1989) afirmam que o novo paradigma terá um efeito benéfico no que se refere aos defeitos do modelo mecanicista em economia e em política. Na administração a visão holística tem sido privilegiada nos estudo da sustentabilidade quando reconhece que o papel e o desempenho da empresa está relacionado a um contexto complexo que inclui não apenas aspectos econômicos-financeiros, mas também considera fatores sociais, ambientais e a análise dos impactos atuais para a geração futura. Capra (1997, p. 24) chega a afirmar que “as únicas soluções viáveis são as soluções sustentáveis”. Essa abordagem está em consonância com a perspectiva do Holistic Management Internacional, uma organização não governamental fundada em 1984 e considerada referência na abordagem do gerenciamento holístico. Nesse sentido, propõe um conjunto de questões para que os empreendedores possam decidir na perspectiva holística, sendo elas: Estamos fixados no problema certo? Há outro motivo pelo qual o problema deve ser ocorrendo, além daquele que estamos fixados? Será que solução irá abordar as partes mais vulneráveis do todo? Será que estamos considerando o melhor custo em relação ao benefício? Estamos considerando o dispêndio de tempo e energia em relação ao resultado monetário com o qual alcançaremos nosso objetivo holístico? Será que a nossa decisão será benéfica para as gerações futuras? Será que a nossa decisão nos ajudará a conquistar metas de qualidade de vida afirmadas em nosso propósito holístico? (SUGARMAN, 2008). 2.2

A relação entre o holismo e a sustentabilidade Capra (1997), destaca a perspectiva holística na gestão, quando aborda os princípios da sustentabilidade, apontando a necessidade de introduzir valores e comportamento que privilegiem: a interdependência uma vez que todos os membros estão interligados numa vasta e intrincada rede de relações; o fluxo de recurso considerando a necessidade do ecossistema permanecer livre do resíduos; a formação de parcerias para estabelecer ligações, aprender e mudar; a flexibilidade para que o sistema seja dinâmico e; a diversidade da rede para que a comunidade seja elástica e capaz de se adaptar a situações mutáveis. Cavalcanti et al (2006, p. 111) corrobora este ponto, ao enfatizar que a visão holística cria uma cultura organizacional própria ao identificar todos os stakeholders, isto é, as organizações ou indivíduos que podem ser significativamente afetados pelas atividades, produção e/ou serviços da empresa e perante os quais os gestores tornam-se responsáveis – como fornecedores, clientes, governo, concorrentes, comunidades de entorno, entre outros. Os autores ainda enfatizam que os principais desafios colocados nesta abordagem referem-se a escolhas inovadoras e novas formas de pensar o que implica na revisão de crenças e valores aplicados ao processo decisório gerencial. A perspectiva holística está presente quando se observa que o novo modelo de gestão que se impõe para as empresas implica em eco-eficiência dos processos e ecodesign de produtos, contabilidade ambiental, avaliação da procedência e composição da matéria-prima, análise de alternativas de produtos recicláveis ou de menor impacto ambiental, seletividade de fornecedores e distribuidores ambientalmente corretos e com preocupação em relação à contratação de mão-de-obra infantil, manter em confidencialidade as informações de clientes, realizar campanha de mídia relacionada a questões de interesse público, diversidade de raça e 4

credos, ética empresarial, respeito aos direitos humanos, comércio justo, definição de diretrizes contra assédio; promoção de saúde e bem estar; controle, recuperação de gases e emissões gasosas geradas pelas atividades industriais, salário eqüitativo para homens e mulheres, recolocação de trabalhadores demitidos entre outros. Na perpectiva de Capra (1997) e Elkington (2001) um dos principais desacordos entre economia e sustentabilidade deriva do fato que a natureza é cíclica, enquanto os sistemas industriais são lineares e necessitam ser revistos numa perspectiva de rede. Portanto, a sustentabilidade tende a ultrapassar as relações clássicas da administração, impulsionando a co-responsabilidade em substituição à manipulação e o confronto entre os diversos agentes. Todavia, Elkington (2001) destaca que estamos apenas no começo do processo de reestruturação das empresas, pois há necessidade de um melhor entendimento não somente das formas financeira e física do capital, mas também do capital social, humano e natural (ELKINGTON, 2001). Compreender a sustentabilidade sob um sistema de gestão, envolvendo diferentes públicos de relacionamento, ocasiona reflexões envolvendo diversos níveis hierárquicos e setores organizacionais na medida em que se deve repensar as políticas internas bem como os fatores considerados na tomada de decisão. Na perspectiva de Savitz (2006, p. 138): O sinal mais evidente de que a empresa está falando sério é a existência de objetivos, metas e indicadores de desempenho específicos relacionados a sustentabilidade, além da mensuração do progresso com base em dados confiáveis.

Gerenciar a complexidade implica em ferramentas de gestão e relatórios de análise que suportem a decisão estratégica. Todavia, é importante observar os elementos analíticos que permitem a visualização das dimensões e relacionamento de uma empresa na perspectiva sócio-ambiental ainda não encontram-se consolidados. Muitos pesquisadores e organizações têm criado seus próprios indicadores, diversificando os temas referentes à sustentabilidade nas organizações, como os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, AA 1000, SA8000, Matriz de Stakeholders, Balanço Social modelo IBASE, Indicadores Calvert-Handerson de Qualidade de Vida, Norma ABNT NBR 16001 e mesmo a futura ISO 26000. Isso tem gerado uma diversidade de temas e níveis diferenciados de informações na apresentação dos dados de desempenho, fazendo com que a comparação seja dificultada. Elkington (2001, p.81) define a atual situação dos relatórios de gestão: Os níveis de detalhamento dos relatórios variam de empresa para empresa, em parte refletindo diferentes regimes de contabilidade, opiniões diferentes sobre o que é apropriado ser reportado e as diferentes necessidades dos usuários do relatório.

2.3 GRI (Global Reporting Initiative): Diretrizes para relatórios de sustentabilidade Para dar suporte à expectativa de comunicar de forma clara e transparente as ações realizadas pelas organizações é necessário compartilhar, globalmente, uma estrutura de conceitos, uma linguagem coerente e uma métrica. Somente assim os relatórios de desempenho sócio-ambiental elaborados pelas organizações serão rotineiros passíveis de comparação como os relatórios financeiros. Nesse contexto, destaca-se, entre os relatórios de gestão, o modelo do Global Reporting Initiative (GRI). Esse modelo foi desenvolvido com o objetivo de oferecer uma estrutura confiável para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, que possa ser usada por organizações de todos os tamanhos, setores e localidades. Se as milhares que voluntariamente divulgam seus impactos de sustentabilidade não recorressem a uma estrutura e relatório geralmente aceita, elas se arriscariam a produzir relatórios não comparáveis e/ou relatórios que abordam inadequadamente o leque de interesse dos stakeholders. Uma estrutura de relatório geralmente aceita também simplifica a preparação e avaliação do relatório, ajudando tanto relatores como usuários a se beneficiar dos relatórios de sustentabilidade (GRI, 2002).

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A Global Reporting Initiative foi criada em 1997 como um projeto do CERES (Coalition for Environmentally Responsible Economies) e do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e sua sede é em Amsterdam. Hoje é uma organização independente e global que conta com a colaboração de especialistas de vários países de todo o mundo e possui uma estrutura de governança multistakeholder proveniente de empresas, organizações não-governamentais, trabalhadores consultores, governos, universidades, institutos de pesquisa e associações empresariais. A estrutura de relatório de sustentabilidade GRI é desenvolvida e continuamente melhorada, consistindo em três tipos de conteúdo: − Perfil: essas informações ajudam a organização a estabelecer o contexto para que os leitores compreendam as questões de sustentabilidade e sua abordagem. As informações sobre perfil incluem:estratégia e análise, perfil organizacional, parâmetros para o relatório, bem como governança, compromissos e engajamento dos stakeholders. − Forma de Gestão: essas informações ajudam a organização a estabelecer o contexto para a compreensão de seus resultados de desempenho. As informações incluem: objetivos e desempenho, política, responsabilidade organizacional, treinamento e conscientização, monitoramento e acompanhamento, certificações e outras informações contextuais. − Indicadores de Desempenho: usadas para comunicar os resultados de desempenho por categoria de sustentabilidade – econômico, ambiental e social . Os indicadores, num total de setenta e nove, são categorizados em essenciais e adicionais. Os indicadores essenciais são pertinentes a maioria das organizações relatoras e de interesse para um grande número de stakeholders. Já os indicadores adicionais representam uma prática emergente ou fornecem informações de interesse a stakeholders que são especificamente importantes para algumas entidades relatoras. Conforme informações disponíveis no site do GRI, milhares de organizações, em mais de sessenta países, dos setores automotivo, empresas de serviço público, produtos de consumo, farmacêuticos, telecomunicações, transportes, energia e de substâncias químicas, além de órgãos públicos e organizações sem fins lucrativos declararam publicar relatórios que adotam as diretrizes, parcialmente ou em sua totalidade. Vários governos, assim como a União Européia, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o Fórum Econômico Mundial têm mencionado as diretrizes GRI nas comunicações com seus constituintes. Observa-se que, na perspectiva da Global Reporting Initiative, a elaboração de um relatório de sustentabilidade gera para as organizações relatoras benefícios como maior comparabilidade e redução de custos em sustentabilidade, melhor gestão, fortalecimento da marca e da reputação, diferenciação no mercado, proteção contra desgaste da marca resultante das ações de fornecedores ou da concorrência, bom relacionamento e comunicação. Além disso, o custo para a organização relatora é menor se a empresa optasse por desenvolver uma estrutura de relatório própria. Já para os públicos interessados no relatório, torna-se uma ferramenta útil de padrão de referência, uma ferramenta de governança corporativa e uma via de diálogo de longo prazo com as organizações relatoras (GRI, 2002). 3

Metodologia A pesquisa buscou analisar o envolvimento e a transparência econômica, social e ambiental das empresas já engajadas no discurso da sustentabilidade. O estudo tem natureza exploratória e descritiva uma vez que não existem muitos trabalhos que buscam analisar as informações contidas nos relatórios de sustentabilidade das empresas brasileiras. A pesquisa também pode ser caracterizada como um estudo de casos múltiplos, porém como questão de investigação e não como método de pesquisa.

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Para tanto, tomou-se como critério de seleção as empresas ganhadoras de dois concursos de relevância e reconhecimento nacional, sendo o Prêmio Valor Social 2007 promovido pelo Jornal Valor Econômico e as empresas modelo do Guia Exame de Sustentabilidade 2007 – suplemento da Revista Exame, num total de 28 organizações, conforme apresentado no quadro 1. Guia Exame de Sustentabilidade 2007 Prêmio Valor Social 2007 Empresas Modelo Accor, Acesita, Amanco, Aracruz, Arcelor, Basf, ABN Amro Real, Caixa Econômica Federal, Arcelor, Braskem, Caterpillar, CPFL, Elektro, IBM, Itaú, Laboratório Sabin, Coca-cola, Ambev, Laboratório Mapfre, Natura, Philips, Promon, ABN Amro Real, Pfizer, Celulose Irani, O Boticário e Clínica Jorge Serasa, Suzano e Unilever. Jaber Fonte: baseado em Revista Exame (2008) e Valor Econômico (2008)

Quadro 1 – Empresas Ganhadoras de Concursos Nacionais Dentre essas, optou-se por estudar apenas as empresas que já haviam publicado o relatório anual no modelo do Global Reporting Initiative, abrangendo um total de doze empresas de nove setores, conforme apresentado no quadro 2. A publicação do relatório pressupõe que a gestão, na perspectiva da sustentabilidade, está mais estruturada nessas empresas e, portanto, possivelmente mais engajadas. Foi escolhido o modelo GRI devido a maior acessibilidade e facilidade de comparação dos dados. Desta forma, a pesquisa envolveu uma investigação documental, com dados secundários disponibilizados nos relatórios referentes ao exercício de 2006, com exceção do Banco ABN Amro Real que publica o relatório bienalmente (2005-2006). Empresa Ambev Aracruz Celulose Banco ABN Amro Real Banco Itaú Celulose Irani CPFL Energia CST – Arcelor Brasil Natura Cosméticos Philips do Brasil Serasa Suzano Papel e Celulose Unilever

Natureza Jurídica S/A S/A S/A S/A S/A S/A S/A S/A Ltda S/A S/A Ltda

Setor Bebidas Papel e Celulose Banco Banco Papel e Celulose Energia Siderurgia Química Eletrônicos Tecnologia de Informação Papel e Celulose Multisetor

Quadro 2 – Empresas Ganhadoras de Concursos Nacionais e que Publicam Relatório no Modelo GRI

O método de abordagem utilizado foi o indutivo, pois se partiu do específico para o geral e a análise de conteúdo que é uma técnica de avaliação quantitativa de dados qualitativos, amplamente utilizada nas pesquisas sociais (GRAY, KOUTHY e LAVERS, 1995). Foi realizada uma análise textual, caracterizada pela identificação de informações divulgadas pelas empresas em comparação ao protocolo de indicador, disponibilizado pela GRI, que fornece informações básicas para a interpretação e compilação das informações (GRI, 2008). Optou-se, por conveniência, em analisar parte do conteúdo básico do relatório de sustentabilidade envolvendo 18 indicadores de desempenhos econômico, ambiental, social, práticas trabalhistas e trabalho decente, direitos humanos, sociedade e responsabilidade pelo produto. Os indicadores analisados correspondem a 28,6% do total de indicadores essenciais e 13,3% dos indicadores adicionais. Segue no quadro 3 um resumo dos tópicos investigados: 7

TÓPICO EC2 (essencial) EC5 (adicional) EN2 (essencial) EN5 (adicional) EN8 (essencial) EN10 (adicional) EN23 (essencial) EN28 (essencial)

LA07 (essencial) LA8 (essencial)

TEMA INDICADORES DE DESEMPENHO ECONÔMICO Implicações financeiras e outros riscos e oportunidades para as atividades da organização devido a mudanças climáticas. Variação da proporção do salário mais baixo comparado ao salário mínimo local em unidades operacionais importantes. INDICADORES DE DESEMPENHO AMBIENTAL Percentual dos materiais usados provenientes de reciclagem. Energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência. Total de retirada de água por fonte. Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada. Número e volume total de derramamentos significativos. Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não-monetárias resultantes da não-conformidade com leis e regulamentos ambientais. INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES A PRÁTICAS TRABALHISTAS E TRABALHO DECENTE Taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e óbitos relacionados ao trabalho, por região. Programas de educação, treinamento, aconselhamento, prevenção e controle de risco em andamento para dar assistência a empregados, seus familiares ou membros da comunidade com relação a doenças graves. Proporção de salário base entre homens e mulheres, por categoria funcional.

LA14 (essencial) INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES A DIREITOS HUMANOS HR1 Percentual e número total de contratos de investimentos significativos que incluam (essencial) cláusulas referentes a direitos humanos ou que foram submetidos a avaliações referentes a direitos humanos. HR4 Número total de casos de discriminação e as medidas tomadas. (essencial) HR6 Operações identificadas como de risco significativo de ocorrência de trabalho infantil e (essencial) as medidas tomadas para contribuir para a abolição do trabalho infantil. HR7 Operações identificadas como de risco significativo de ocorrência de trabalho forçado ou (essencial) análogo ao escravo e as medidas tomadas para contribuir para a erradicação do trabalho forçado ou análogo ao escravo. INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES À SOCIEDADE Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não-monetárias resultantes da SO8 não-conformidade com leis e regulamentos. (essencial) INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES À RESPONSABILIDADE PELO PRODUTO Número total de reclamações comprovadas relativas a violação de privacidade e perda de dados de PR8 clientes. (adicional) Valor monetário de multas (significativas) por não-conformidade com leis e regulamentos relativos PR9 ao fornecimento e uso de produtos e serviços. (essencial) Fonte: Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade, GRI, 2006.

Quadro 3 – Indicadores Investigados no Relatório Modelo GRI 4

Análise dos resultados

4.1

Resultados gerais A análise das informações relatadas pelas empresas nos indicadores propostos para estudo corrobora com os resultados encontrados por Gasparino (2006), de que as organizações apresentam informações incompletas em relação as diretrizes do modelo GRI. Mesmo 8

indicadores considerados essenciais pelo modelo de relatório, muitas vezes não foram descritos pelas empresas ou apresentaram informações não condizentes com o solicitado, conforme é apresentado nas seções seguintes, nos quadros 4, 5 e 6, a seguir. Além disso a métrica para a apresentação das informações variou entre as empresas dificultando a comparação dos dados entre as empresas pesquisadas. 4.2

Indicadores econômicos A primeira dimensão dos indicadores de sustentabilidade proposta pelo GRI é a econômica. Os indicadores estudados na amostra e sua freqüência estão apresentados no Quadro 4, a seguir. A partir da análise das informações apresentadas no indicador EC2 sobre as implicações financeiras, outros riscos e oportunidades para as atividades da organização devido a mudanças climáticas, observou-se que quatro das pesquisadas ainda não conseguiram avaliar os impactos sobre o seu negócio. Apenas duas empresas afirmaram ter realizado, no ano de 2006, o inventário de emissões, sendo que uma delas pretende tornar sua operação neutra na emissão de dióxido de carbono até ano de 2008. Verificou-se, contudo, que três empresas identificaram novas oportunidades de negócio como produtos ambientalmente corretos, co-geração de energia com a recuperação de gases emitidos e a participação na Bolsa de Carbono de Chicago. Parece que essas empresas estão conseguindo encontrar vantagens competitivas e novos mercados devido a avaliação dos impactos das mudanças climáticas. O protocolo do indicador pede que a organização relate se a gestão calculou implicações financeiras das mudanças climáticas, como custo de seguros e crédito de carbono. Nenhuma empresa destacou possíveis conseqüências, embora uma delas tenha afirmado que faz a análise de risco sócio-ambiental dos clientes antes do conceder empréstimos bancários. CARACTERIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES APRESENTADAS PELAS EMPRESAS EM RELAÇÃO AO PROTOCOLO DE INDICADOR

INDICADOR AVALIADO

INFORMAÇÃO SOLICITADA

EC2 (essencial)

Implicações financeiras e outros riscos e oportunidades para as atividades da organização devido a mudanças climáticas. EC5 Variação da proporção do salário mais (adicional) baixo comparado ao salário mínimo local em unidades operacionais importantes. Fonte: os autores, baseado em GRI (2008)

NÃO FORNECE A INFORMAÇÃO

APRESENTA INFORMAÇÃO FORA DO SOLICITADO

APRESENTA INFORMAÇÃO SOLICITADA PARCIAL OU TOTALMENTE

06

---

06

08

--

04

Quadro 4 – Resumo dos Resultados por Indicador Pesquisado O indicador EC5, considerado adicional, determina que a empresa especifique a variação da proporção de salário mais baixo comparado ao mínimo local. O objetivo do indicador é demonstrar como uma organização contribui para o bem estar econômico de seus colaboradores, o que pode ser um fator de construção de relacionamento mais sólido com a comunidade. O salário praticado pelas quatro empresas que relataram sua política de remuneração variou, positivamente, entre 13,43% e 150% em relação ao salário mínimo local vigente no ano de 2006. Ressalta-se que nenhuma empresa identificou, conforme proposto no protocolo do indicador, a variação nas proporções entre unidade operacionais. 4.3

Indicadores ambientais 9

De acordo com as diretrizes do GRI, a segunda dimensão dos indicadores de sustentabilidade é a ambiental. Os indicadores estudados na amostra e sua freqüência estão apresentados no Quadro 5, a seguir. O primeiro indicador analisado EN2, que solicita o percentual de materiais usados provenientes de reciclagem, permite considerar que as empresas estudadas parecem engajadas na redução do impacto ambiental. A capacidade da empresa de usar insumos reciclados é relevante pois o uso desses materiais ajuda na redução da demanda por material e contribui para a preservação de recursos ambientais globais. Três empresas relataram ter atingido, em 2006, índices acima de 90% na reciclagem de resíduos sólidos, reuso de água ou compra de papel reciclado. Todavia é importante destacar que as empresas apresentam informações diferenciadas e pontuais sobre as políticas de reciclagem, não especificando seu desempenho em mais do que dois produtos. Desta forma, pode estar ocorrendo impactos relevantes que não foram considerados e discriminados pelas organizações. Mais da metade das empresas estudadas não relatou o indicador adicional EN5 sobre a energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência ocasionada pelo redesenho de processos, conservação e modernização de equipamentos. Dentre as quatro empresas que relataram, a variação de redução do consumo de energia foi de 1,19% a 97%. Nesse sentido Elkington (2001, p. 338) enfatiza que “quanto mais sujo o negócio, mas fácil será a limpeza em estágios iniciais”. O total de retirada de água por fonte é discriminado no indicador EN8. O volume total extraído fornece indicação do tamanho e importância de uma organização como usuária de água e também oferece um valor de referência para outros cálculos relativos a eficiência e uso. No entanto, de um total de seis empresas que apresentou o consumo de água, apenas quatro delas relatou a fonte de extração – água de superfície, água subterrânea, água de chuva coletada, efluentes de outras organizações e abastecimento público. Não é possível totalizar o volume de água consumido pelas empresas estudadas uma vez que a métrica utilizada para a apresentação dos dados variou entre as relatoras. É interessante observar que uma única empresa utilizou, numa das unidades fabris, um total de 412.172.675 m3 de água do mar, representado aproximadamente 95,3% do seu consumo total. CARACTERIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES APRESENTADAS PELAS EMPRESAS EM RELAÇÃO AO PROTOCOLO DE INDICADOR

INDICADOR AVALIADO

EN2 (essencial) EN5 (adicional) EN8 (essencial) EN10 (adicional) EN23 (essencial) EN28 (essencial)

INFORMAÇÃO SOLICITADA

Percentual dos materiais usados provenientes de reciclagem. Energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência. Total de retirada de água por fonte. Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada.

Número e volume total de derramamentos significativos. Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não-monetárias resultantes da nãoconformidade com leis e regulamentos ambientais. Fonte: os autores, baseado em GRI (2008).

NÃO FORNECE A INFORMAÇÃO

APRESENTA INFORMAÇÃO FORA DO SOLICITADO

APRESENTA INFORMAÇÃO SOLICITADA PARCIAL OU TOTALMENTE

03

01

08

07

01

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06

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06

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Quadro 5 – Resumo dos Resultados por Indicador Pesquisado O percentual e volume total de água reciclada e reutilizada – indicador EN10, foi informado por seis empresas e somente três delas apresentaram o percentual e o volume em m3. A informação mais completa relatada e que apresenta um melhor desempenho indicou a reciclagem de 50% da água utilizada. O aumento na reutilização e reciclagem pode resultar na redução dos custos de insumos, tratamento e descarte de água, além de contribuir para os objetivos locais ou nacionais de gestão pública de abastecimento. O indicador EN23, considerado essencial, que se refere ao número e volume total de derramamentos significativos foi informado por metade das empresas estudadas. Dentre essas, cinco relataram que não houve derramamento e apenas uma empresa destacou que em 2006 ocorreu um incidente. Segundo o GRI (2008), o esforço para evitar derramamentos de materiais perigosos está diretamente vinculado ao cumprimento da legislação e minimiza riscos financeiros devido a perdas de matérias-primas, custos de limpeza e mitigação, bem como o risco de medidas regulatórias. O valor monetário de multas significativas e número total de sansões não monetárias resultantes da não conformidade com leis e regulamentos ambientais é apresentado no indicador EN28, considerado essencial. Na perspectiva econômica, o histórico de conformidade da organização pode afetar sua capacidade de ampliar as operações ou obter licenças. Dentre as empresas, seis apresentaram informações sobre o tema, sendo que três delas afirmaram não ter recebido qualquer penalidade. Já outras três empresas que relataram autuações não informaram o valor monetário das mesmas, conforme solicitado pelo protocolo do indicador. Uma empresa aproveitou o espaço destinado ao indicador para relatar seu compromisso ambiental, sem apresentar outras informações relevantes e afirmou que: “A manutenção de todas as licenças de operação e o atendimento às exigências de leis e normas, assim como das condicionantes ambientais, constitui uma prioridade da política de gestão ambiental”. 4.4

Indicadores sociais A terceira dimensão dos indicadores de sustentabilidade proposta pelo GRI é a econômica. O Quadro 6, a seguir, apresenta os indicadores estudados na amostra e sua freqüência. O desempenho em segurança e saúde está, geralmente, relacionado a tendências positivas no moral e produtividade dos colaboradores. O indicador LA7, considerado essencial, busca relatar as taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e óbitos relacionados ao trabalho. Dentre as empresas pesquisadas, duas não apresentaram informações referentes ao indicador LA7 e as outras relataram parcialmente as taxas solicitadas. A maioria das relatoras usou terminologia diferente da solicitada pelo GRI para descrever as informações, o que não possibilitou a comparação dos dados. Ressalta-se ainda que nenhuma empresa apresentou informações sobre a ocorrência de óbitos decorrentes de lesão ou doença relacionada ao trabalho no período coberto pelo relatório, conforme solicitado pelo protocolo do indicador. O indicador LA8 tem como objetivo apresentar programa de educação, treinamento, aconselhamento, prevenção e controle de risco em andamento para dar assistência a empregados, seus familiares ou membros da comunidade com relação a doenças graves. Esse indicador é relevante como parte de uma estratégia preventiva de gestão de segurança e saúde. Nenhuma empresa estudada relatou, conforme descrito no protocolo do indicador LA8, se existem trabalhadores envolvidos em atividades ocupacionais com alta incidência ou risco de doenças específicas. Todas elas, no entanto, descreveram programas organizacionais que estimulam e educam para práticas mais saudáveis entre os colaboradores e seus 11

familiares. Contudo, muitas das ações relatadas não estão diretamente relacionadas a doenças graves como HIV/Aids, diabetes, lesão por esforço repetitivo (LER) e estresse. A igualdade de remuneração é um fator de retenção de candidatos qualificados na organização. Quando há desequilíbrio, a empresa corre risco de ações judiciais, além de perda de reputação e credibilidade junto à sociedade. Nesse sentido o indicador HR4, considerado essencial, propõe que a empresa relate a proporção do salário base entre homens e mulheres da mesma categoria funcional. Um total de oito empresas não apresentou essa informação. O GRI (2002, p.38) determina que “caso sejam omitidas informações relevantes, o relatório deverá fazer uma clara indicação do fato e de suas razões”. Uma empresa relatou apenas o percentual de colaboradores homens e mulheres por categoria funcional e outra destacou somente o salário médio praticado, por gênero, no nível de liderança. Dentre as duas empresas que apresentaram a informação completa solicitada pelo protocolo do indicador, observou-se que, na grande maioria dos níveis hierárquicos, é praticado um salário menor para mulheres em relação aos homens que ocupam a mesma categoria.

CARACTERIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES APRESENTADAS PELAS EMPRESAS EM RELAÇÃO AO PROTOCOLO DE INDICADOR

INDICADOR AVALIADO

INFORMAÇÃO SOLICITADA

NÃO FORNECE A INFORMAÇÃO

APRESENTA INFORMAÇÃO FORA DO SOLICITADO

APRESENTA INFORMAÇÃO SOLICITADA PARCIAL OU TOTALMENTE

INDICADORES REFERENTES A PRÁTICAS TRABALHISTAS E TRABALHO DECENTE LA07 Taxas de lesões, doenças ocupacionais, (essencial) dias perdidos, absenteísmo e óbitos 02 10 relacionados ao trabalho, por região. LA8 Programas de educação, treinamento, (essencial) aconselhamento, prevenção e controle de risco em andamento para dar -02 10 assistência a empregados, seus familiares ou membros da comunidade com relação a doenças graves. LA14 Proporção de salário base entre homens 08 01 03 (essencial) e mulheres, por categoria funcional. INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES A DIREITOS HUMANOS HR1 Percentual e número total de contratos (essencial) de investimentos significativos que incluam cláusulas referentes a direitos 03 05 04 humanos ou que foram submetidos a avaliações referentes a direitos humanos. HR4 Número total de casos de discriminação 05 03 04 (essencial) e as medidas tomadas. HR6 Operações identificadas como de risco (essencial) significativo de ocorrência de trabalho infantil e as medidas tomadas para 03 03 06 contribuir para a abolição do trabalho infantil. HR7 Operações identificadas como de risco (essencial) significativo de ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo e as 06 02 04 medidas tomadas para contribuir para a erradicação do trabalho forçado ou análogo ao escravo. 12

INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES À SOCIEDADE Valor monetário de multas significativas e número total de sanções 09 -03 não-monetárias resultantes da nãoconformidade com leis e regulamentos. INDICADORES DE DESEMPENHO REFERENTES À RESPONSABILIDADE PELO PRODUTO PR8 Número total de reclamações (adicional) comprovadas relativas a violação de 06 03 03 privacidade e perda de dados de clientes. PR9 Valor monetário de multas (essencial) (significativas) por não-conformidade com leis e regulamentos relativos ao 05 02 05 fornecimento e uso de produtos e serviços. Fonte: os autores, baseado em GRI (2008). SO8 (essencial)

Quadro 6 – Resumo dos Resultados por Indicador Pesquisado

O indicador HR1 solicita o percentual e o número total de contratos de investimentos significativos que incluam cláusulas referentes a direitos humanos ou que foram submetidos a avaliações referentes aos direitos humanos. Essa medida é uma manifestação de como os direitos humanos estão sendo integrados nas decisões econômicas de uma organização, principalmente para aquelas que operam ou são sócias de empreendimentos em regiões onde a proteção dos direitos humanos é objeto de preocupação. Três empresas não apresentaram informações sobre o indicador HR1. Cinco empresas relataram informações fora do solicitado uma vez que destacaram valores organizacionais e compromissos já assumidos ou informaram a existência de clausulas específicas para o tema em contrato firmado junto a fornecedores. Dentre as quatro empresas que informaram possuir contratos de investimentos que contemplam avaliações referentes aos direitos humanos, nenhuma delas apresentou o número total firmado no período. Os direitos humanos vão além dos direitos dos empregados e a política de não discriminação é uma exigência das convenções internacionais. Nesse sentido, o indicador HR4 objetiva que a relatora apresente o número total de ações judiciais provenientes de discriminação, reclamações registradas junto à organização ou autoridades competentes, por meio de processo formal, como também a partir de monitoramento interno e as medidas tomadas. Quatro empresas apresentaram informações nesse indicador e todas elas relataram que não foi registrado nenhum caso de discriminação no ano de 2006. Três empresas destacaram apenas políticas de gestão, sem relatar detalhes sobre o seu desempenho no tema. Operações identificadas como de risco significativo de ocorrência de trabalho infantil e as medidas tomadas para contribuir para a sua abolição é apresentado no indicador HR6. Um total de seis empresas afirmou que possui cláusulas específicas, em contratos firmados junto a parceiros comerciais e fornecedores, proibindo o trabalho infantil. Destaca-se que apenas uma delas declarou monitorar, em todos os seus parques fabris, o cumprimento da idade mínima para o trabalho. O indicador HR7, considerado essencial, destaca operações identificadas como de risco significativo de ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo e as medidas tomadas para contribuir para a erradicação. Cinco empresas não mencionam informações referentes a esse indicador, talvez porque não possuam operações de risco. Uma empresa menciona que esse dado está disponível em outro documento, denominado RS2006. Todavia o documento não se encontra disponível no site da empresas para análise. A GRI (2006, p.38) enfatiza que: “Não devem ser citadas outras publicações como fonte de informações para um 13

item do conteúdo do relatório, a menos que se forneça o meio para que o stakeholder acesse diretamente a informação.” Quatro empresas afirmaram que os contratos com fornecedores possuem cláusulas proibindo o trabalho forçado. Outras duas empresas relataram apenas que possuem políticas de gestão. Embora o protocolo do indicador HR7 solicite que as relatoras destaquem as operações percebidas como de risco significativo para a ocorrência do trabalho forçado, nenhuma delas apresentou informações nessa perspectiva. O indicador SO8 pretende evidenciar multas significativas e sanções não-monetárias sob leis e regulamentos referentes à fraude contábil, discriminação no local de trabalho, corrupção, entre outros. Segundo a GRI, um histórico geral da conformidade da organização com as várias leis sob as quais deve operar ajuda a reduzir riscos financeiros através de multas ou impactos na reputação. Embora o indicador SO8 seja considerado essencial, um grupo de nove empresas não apresentou informações sobre o assunto. Duas organizações pesquisadas relataram que não receberam multas e sanções não monetárias por parte de órgãos fiscalizadores e apenas uma empresa reconheceu que recebeu autuação num valor total de R$ 816.097,31. O número total de reclamações comprovadas relativas a violação de privacidade e perda de dados de clientes é foco do indicador PR8, categorizado como adicional. Esse indicador, segundo o GRI, fornece uma avaliação do sucesso dos sistemas e procedimentos para a proteção da privacidade do cliente. Dentre as pesquisadas, seis empresas não apresentaram informações sobre o tema e aquelas que relataram afirmaram não ter havido reclamação relativas à violação ou perda de dados. O último indicador analisado, considerado essencial, é o PR9 que se refere ao valor monetário de multas por não conformidade com leis e regulamentos relativos ao fornecimento e uso de produtos e serviços. Do ponto de vista econômico, garantir a conformidade ajuda a reduzir riscos financeiros que ocorrem diretamente, através de multas, ou indiretamente, através de impactos na reputação. Cinco empresas não apresentaram informação sobre o seu desempenho no indicador PR9 e outras cinco afirmaram não ter recebido multa, embora uma delas relatou terem ocorrido 21 situações pontuais irregulares relativas à responsabilidade pelo produto (fornecimento e uso). É interessante destacar que uma empresa do ramo de papel e celulose declarou que o tema abordado nesse indicador não é aplicável a realidade da empresa, justificando a não divulgação da informação. 5

Considerações finais A partir da perspectiva deste trabalho, a visão holística requer uma preocupação com a sustentabilidade de modo que isto implicaria numa tomada de decisões que envolveria muitas outras variáveis além das tradicionalmente consideradas no processo em uma tomada de decisão, que geralmente segue os consagrados modelos com origens newtonianas e cartesianas. Porém, percebe-se que as empresas estão caminhando neste sentido e a simples disposição de fazer um esforço para juntar os dados para preencher um relatório global, embora com dados ainda incompletos, já fornece um indício desta tendência. As empresas estudadas apresentaram, nos seus relatórios do ano de 2006, informações caracterizadas, na maioria das vezes, como positivas sobre a operação e os resultados de gestão. Nesse sentido, Savitz (2007, p. 138) destaca que os bons relatórios de sustentabilidade são equilibrados, apresentando boas e más notícias, demonstrando que existem pontos positivos, mas ainda desafios a serem vencidos. Em função da complexidade organizacional, espera-se que haja este tipo de dificuldade. Ou ainda, nas palavras de DRUCKER (1992, pg. 5), “a crença de que toda instituição pode fazer tudo simplesmente não é verdadeira”.

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Acredita-se que uma mudança importante para a inserção efetiva de aspectos sociais e ambientais aos critérios de decisão implicaria na descrição de atribuições socioambientais nas funções dos principais executivos, bem como a disposição da empresa em instituir um plano de remuneração vinculada ao desempenho em indicadores ambientais e sociais, além do econômico. Este estudo tem naturais limitações, em função de seu caráter exploratório e de sua amostra não ser probabilística. A seqüência deste trabalho poderia avaliar uma quantidade maior de organizações e também um número maior de variáveis (indicadores), possibilitando se ter uma visão mais ampla do desempenho das organizações analisadas. 6 Referências BAUER, Ruben. Gestão da Mudança: caos e complexidade nas organizações. São Paulo: Atlas, 1999. BORGER, F. G. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. São Paulo, 2001. Tese de Doutorado – Universidade de São Paulo: Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. CAVALCANTI, M F., et al. A abordagem holística no processo de tomada de decisões na gestão de empresas. In: SANTOS, S. A.; LEITE, N. P. e DUTRA, I. S.(orgs). Coletânea “Fronteiras da Administração II teorias, aplicações e tendências”. Maringá:Unicorpore, 2006. CAPRA, F. O Ponto de Mutação: A Ciência, a sociedade e a cultura emergente. 25. ed. São Paulo: Cultrix, 1982. CAPRA. F A teia da vida. São Paulo: Cutrix, 1997 CIMBLERIS, B. Fronteiras e surposições do holicismo com alguns sistemas científicos. In: In: BRANDÃO, M. S.; CREMA, R. (orgs). O Novo Paradigma Holístico. São Paulo, Summus, 1991. CREMA, R. Introdução à Visão Holística. São Paulo: Summus, 1989. D’AMBRÓSIO. A ciência moderna em transição conceitual. In: BRANDÃO, M. S.; CREMA, R. (orgs). O Novo Paradigma Holístico. São Paulo, Summus, 1991. DRUCKER, P.F. Administração de Organizações sem Fins Lucrativos. São Paulo: Thomson Learnig, 1992. ELKINGTON, J. Canibais com Garfo e Faca. São Paulo: Makron, 2001. GASPARINO, M. F. Análise de Relatórios de Sustentabilidade, com Ênfase na GRI: Comparação entre Empresas do Setor de Papel e Celulose dos Estados Unidos e Brasil. In: In: Encontro da ANPAD, 30, 2006,Salvador-BA, Anais…, Rio de Janeiro: Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Administração, set. 2006. p 1-16. GRAY, R; KOUTHY, R.; LAVERS, S. Methodological themes: constructing a research database of social and environmental reporting by UK companies. Accounting, Auditing & Accountability Journal, v. 8, n. 2, 1995. GRI. Sobre a estrutura de relatórios da GRI. Global Reporting Initiative, 2002. Disponível em: http://www.globalreporting.org/Home/FAQsPortuguese.htm. Acesso em: jun, 2008. GRI. Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade. Global Reporting Initiative, 2006. Disponível em: http://www.uniethos.org.br/_Uniethos/documents/gri_g3_portugues.pdf. Acesso em: abril, 2008. GRI. Indicador Protocols: economic, environment, human rights, labor, product responsibility, society. Disponível em : http://www.globalreporting.org/ReportingFramework/G3Guidelines/. Acesso em: maio, 2008. HALL, C. S.; LINDZEY, G. Teorias da Personalidade. São Paulo: Edusp, 1973. JORNAL VALOR ECONÔMICO. Prêmio Valor Social 2007. Disponível em: http://www.valoronline.com.br/vsocial/7_home.aspx. Acesso em: abril, 2008.

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