Área Temática: Globalização e internacionalização de empresas A Demarcação Taxonômica Acerca do Fenômeno das Born Globals e a Busca por Novas Evidências Empíricas

July 6, 2017 | Autor: Jonas Venturini | Categoria: Competitive advantage, Survey data, Southern Brazil
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Área Temática: Globalização e internacionalização de empresas A Demarcação Taxonômica Acerca do Fenômeno das Born Globals e a Busca por Novas Evidências Empíricas AUTORES BRENO AUGUSTO DINIZ PEREIRA Universidade Federal de Santa Maria [email protected] MARLON DALMORO UFSM [email protected] JONAS CARDONA VENTURINI UFSM [email protected] Resumo O presente estudo explora as bases paradigmáticas acerca de teoria da internacionalização no âmbito do fenômeno das empresas Born globals e identifica a atual taxonomia definida pelos estudos em empresa Born Global. Posteriormente, objetiva-se identificar as empresas sulbrasileiras que passaram por um processo de internacionalização nos seus três primeiros anos de vida. Para isto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e levantamento em dados de caráter secundários em fontes documentais junto às empresas exportadoras sul-brasileiras que desenvolveram atividade exportadora no ano de 2006. A visão taxonômica, predominante no âmbito teórico, classifica as empresas Born Globals como companhias que no mínimo 25% do seu faturamento são fruto de vendas ao mercado externo em até três anos depois da criação da empresa, e desde sua concepção busca vantagens competitivas no uso de recursos e de vendas em vários países. As empresas analisadas, que são predominantemente de micro e pequeno porte, possuem características diferentes em cada estado analisado. Na identificação das empresas sediadas na região sul do Brasil identificou-se uma singularidade em algumas empresas, denominadas no estudo de empresa empresas com inserção internacional prematura. Palavras-chaves: Born Globals, internacionalização, inserção internacional Abstract This study explores the basis about paradigmatic internationalization theory in the phenomenon of Born Globals enterprises and identifies the current taxonomy defined by Born Global studies. Subsequently, aims to identify south-Brazilian companies that passed by a internationalization process in its first three years of life. For this, a has done a literature research and survey data collection from a secondary date about South Brazilian export companies that have developed export activity in 2006. The vision taxonomic, under prevailing theory, classifies Born Globals as companies that at least 25% of its turnover is the result of sales to foreign markets in up to three years after the creation of the company, since its design and competitive advantages in using resources and sales in several countries. Companies analyzed, which are predominantly of micro and small size, have different characteristics in each state analyzed. The identification of companies based in southern Brazil identified a singularity in some companies, called in this study how business enterprises with international insertion premature.

Keywords: Born Globals, internationalization, international insertion 1. Contextualização O processo de internacionalização da firma tem sido alvo de investigação nas últimas quatro décadas, e no decorrer dos últimos anos tem aumentado o interesse da academia pelo fenômeno da internacionalização. Este interesse está relacionado com a importância que os negócios internacionais vêem ganhando ao longo do tempo no contexto organizacional. Os primeiro conceitos de internacionalização surgiram na década de 1960, quando as pesquisas sobre empresas que atuam internacionalmente romperam o foco econômico e passaram e analisar também aspectos comportamentais, se tornando um campo de pesquisa independente. A teoria tradicional tem se baseado principalmente no modelo de internacionalização desenvolvido por Johanson e Vahlne (1977), conhecido como Modelo de Uppsala. Por meio de diversos trabalhos realizados, os pesquisadores da Universidade de Uppsala desenvolveram um modelo de como as empresas suecas escolhiam mercados e formas de entrada em mercados estrangeiros. Segundo o modelo de Uppsala, é provável que a empresa inicie suas vendas externas via exportação e com um comprometimento limitado frente a estes mercados, normalmente geograficamente próximos ao país sede da empresa. Na medida em que a empresa vai ganhando experiência vai aumentando seu comprometimento com o mercado externo, dando um passo a frente no seu processo de internacionalização, ou seja, o processo de internacionalização ocorreria de maneira gradativa ao longo do tempo de existência da empresa (JOHANSON e VAHLNE, 1977; 1990). No entanto, nos últimos anos uma série de estudos tem mostrado o crescimento de casos de empresas que estão envolvidas em atividades internacionais desde seus primeiros anos de vida (RENNIE, 1993; OVIATT e MCDOUGALL, 1994; BELL, 1995; COVIELLO e MUNRO, 1997; MADSEN e SERVAIS, 1997; JONES, 1999; CRICK e JONES, 2000; ANDERSSON e WICTOR, 2003). Estas empresas seguem um caminho contrário daquilo proposto pelo Modelo de Uppsala. Em particular, estas empresas não seguem o caminho incremental e gradual de expansão internacional, muitas delas já nascem com perspectiva de atuação no mercado mundial (RENNIE, 1993). Desta maneira, Rennie (1993) chamou estas empresas de Born Global, e desde então diversos outros autores têm adotado esta nova nomenclatura na busca de um entendimento sobre este fenômeno. Segundo Kuhn (2001), quando os fenômenos não se encaixam dentro deste padrão ou modelo, ocorrem as anomalias, gerando crise na ciência, condições para as revoluções científicas. Decorrentes do sinal de maturidade científica surgem as novas descobertas que podem gerar o surgimento de um novo paradigma. As empresas Born Globals diferem da forma tradicional de internacionalização e desta forma não podem ser analisadas sob o ponto de vista da teoria tradicional, o que implica na definição de novas bases paradigmáticas para estudos em empresas com características Born Globals. Desta forma, desde o surgimento do fenômeno a academia vem propondo diversos conceitos acerca das Born Globals. Isto remete à seguinte questão problema: existe uma taxonomia predominante nos estudos acerca do fenômeno das Born Globals? Em complemento, existem empresas que se enquadram nas novas bases propostas no âmbito teórico, visto que as empresas Born Globals possuem características diferentes das empresas que passaram por processos de internacionalização tradicionais? A partir destas questões, a presente pesquisa possui dois objetivos distintos, um a nível teórico e outro ao nível empírico. Teoricamente, busca-se explorar as bases paradigmáticas acerca de teoria da internacionalização no âmbito do fenômeno das empresas Born global e identificar a atual taxonomia definida pelos estudos em empresa Born Global. Empiricamente, objetiva-se identificar as empresas sul-brasileiras que passaram por um processo de internacionalização nos seus três primeiros anos de vida.

Para o alcance destes objetivos, o estudo está dividido em seis partes, incluindo esta parte introdutória. Na segunda parte busca-se um entendimento sobre o fenômeno das Born Globals junto à literatura. Posteriormente, são apresentadas as diferentes taxonomias sobre as empresas, bem como a visualização de uma taxonomia predominante. No quarto tópico é detalhado o método utilizado para a realização da pesquisa empírica e no quinto tópico são apresentados os resultados desta, seguido pelas considerações finais. 2. Entendimento do fenômeno O campo da pesquisa acerca do entendimento do processo de internacionalização dividiu-se em duas vertentes no decorrer da década de 90: Primeiro, estão os estudos das denominada International New Venture, Born Global e Born Start-ups, as quais analisam o desenvolvimento de atividades internacionais que ocorrem logo no surgimento de uma organização. Na segunda vertente estão os estudos acerca do entendimento da atividade internacional em empresas que seguem um processo gradual de internacionalização (ZAHRA e GEORGE, 2002). O surgimento deste novo modelo de organizações, que permitiu esta bifurcação no âmbito dos estudos deve-se a conjuntura na qual o ambiente econômico mundial passou nos últimos anos. Simões (1999) destaca que a liberação da economia em diversos países, o aumento do investimento internacional e o movimento de capitais ocorrido nos últimos anos reduziu os obstáculos para o acesso de mercados externos. Outro fator levantado pelo autor é o significativo aumento de recursos informacionais e de tecnologias de comunicação. A redução de custos de comunicação, a facilidade de transmissão de dados e acesso a informações de nível global veio a contribuir com o processo de atuação internacional das organizações. A inovação tecnológica e fusão de tecnologias tornaram fácil a obtenção de informações sobre mercados externos. A internet e as agências governamentais tornaram disponíveis informações básicas que permitem o primeiro contato com organizações estrangeiras, além do aumento de pessoas com qualificação internacional, por meio de cursos, viagens e vivência no exterior. Este novo contexto surge em duas bases conceituais diferentes. Por um lado à figura do empreendedor internacional, que traz a tona o papel do empreendedor como um fator decisivo no entendimento desde novo fenômeno (MCDOUGALL, 1989). Noutro lado, estão os conceitos do marketing internacional (RENNIE, 1993). As duas bases conceituais dão suporte ao entendimento do fenômeno. Em complemento, Oviatt e McDougall (1995) destacam a importância da intensidade de conhecimento de recursos competitivos nestas empresas, pois, estas empresas pertencem a indústrias onde os produtos têm curtos ciclos de vida, demandando constante inovação, especialidade e de difícil imitação. O fenômeno das Born Global poderia ser visto em áreas que passam por um aumento da demanda global, no qual as empresas usam criatividade, design, agilidade e diferenciação como uma vantagem competitiva. A conjuntura externa que se moldou no início da década de 1990, aliado a fatores comportamentais interno as organizações, criou o ambiente que Rennie (1993), realizando estudos em empresas australianas, detectaram como Born Globals. Em complemento, o autor percebeu que os gerentes destas empresas vêem o mundo como seu mercado, diferente das empresas tradicionais, eles vêem mercados estrangeiros como simples adições do mercado doméstico. O cenário de “diminuição” das distâncias mundiais, aumento da similaridade dos desejos de consumo e de vida no âmbito global, a liberalização de marcados e mudanças tecnológicas, e especialmente em comunicações e processamento de informação geram o contexto que permitiu o desenvolvimento de empresas Born Global. Este cenário, associado ao acesso de recursos como conhecimento e relacionamento, bem como competências

empreendedoras existentes nas empresas contemporâneas (SIMÕES e DOMINGUINHOS, 2001). Desta maneira, os autores propõem o seguinte modelo (Figura 1): Na concepção de Simons e Dominguinhos (2001) nas empresas Born Global destacam-se três características. A primeira centra na figura do empreendedor, especificamente, seu conhecimento, nível de qualificação, experiência em negócios, vivencia internacional e capacidade de coordenar recursos ao nível global. A rede de contato que as empresas possuem também é uma característica das Born Globals, especialmente contatos localizados em várias partes do mundo. Por fim, a terceira característica das Born Globals é o investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos com conhecimento intensivo. Essas três características devem estar aliadas a um produto/serviço fruto de uma idéia única ou distinta e que possui um nicho de comercialização no âmbito global. Aliado a estes requisitos, o fenômeno das Born Globals passa por um ambiente propício fruto da globalização, liberalização de mercados e mudanças tecnológicas. Ambiente: globalização + liberalização de mercados + mudanças tecnológicas

Capacidade de empreender Recursos Intensivos de Conhecimento

Idéia única / distinta

Nicho de mercado global

Capital Relacional

Figura 1: Criação e Desenvolvimento de Born Globals Fonte: Adaptado de Simons e Dominguinhos, 2001, p. 09

Esta visão de Born Global surgiu em uma pesquisa desenvolvida pela McKinsey e Co., realizada em pequenas e médias empresas exportadoras que produziam produtos de alto valor adicionado na Austrália (RENNIE, 1993). Posteriormente a este estudo que introduziu o conceito de Born Global surgiram diversos outros trabalhos que visavam entender este fenômeno em diferentes contextos: Born Globals (KNIGHT e CAVUSGIL, 1996; MADSEN e SERVAIS, 1997; MADSEN, RASMUSSEN e SERVAIS, 2000), Global Start-ups (OVIATT e MCDOUGALL, 1995); International New Ventures (MCDOUGALL, 1989), e Exportadores Instantâneos (MCAULEY, 1999). O relato de surgimento de Born Globals em diversos países indica a importância do fenômeno, principalmente com o desenvolvimento de empresas de alta tecnologia, como por exemplo; eletrônicos, software, biotecnologia e instrumentos médico. No entanto, o fenômeno das Born Globals também evolve indústrias tradicionais, afetando países com tradição de exportação de produtos mais maduros (SIMÕES e DOMINGUINHOS, 2001). Desde o trabalho seminal de Rennie (1993), as pesquisas buscam uma clara definição do que significa ser uma empresa Born global. Diversas conceitualizações surgiram na literatura, contudo, não há um consenso por parte dos pesquisadores. Os critérios propostos

por Knight (1997) e Knight e Cavusgil (2004) têm permeado nas mais diversas definições para o fenômeno. Os critérios propostos pelos autores são: • Medida de tempo: o tempo tem sido o elemento chave na distinção entre estudos de Born Global e estudos focado no processo de internacionalização de empresas tradicionais. O espaço de tempo entre a fundação da empresa e o início das operações internacionais, e a velocidade de desenvolvimento da atividade internacional, são as principais questões acerca das Born Global (AUTIO e SAPIENZA, 2000; JONES e COVIELLO, 2005). • Medida de Escala: a medida de escala de internacionalização relata a extensão das operações internacionais da firma. Os estudos destacam a necessidade de dimensionar a parcela do faturamento da empresa fruto de operações internacionais. A literatura tem dimensionado esta parcela em ao mínimo 25% (KNIGHT e CAVUSGIL, 1996, 2004; MADSEN, RASMUSSEN e SERVAIS, 2000; MOEN, 2002). • Medida da extensão de mercado: em termos de extensão de mercado, dois tipos de estratégias são discutidos na literatura: estratégia de concentração de mercado e estratégia de diversificação de mercado. O modelo tradicional de internacionalização incremental sugere que as empresas iniciam as operações internacionais em países próximos e com uma estratégia de concentração de mercados (JOHANSON e VAHLNE, 1977). Com o ganho de conhecimento de mercado, as empresas ampliam a extensão de seus mercados alvos. Por outro lado, uma estratégia Born Global as empresas desde o inicio das operações internacionais operam em múltiplos países (OVIATT e MCDOUGALL, 1994). No entanto, não existe uma definição do número de países ou onde eles estão localizados que uma empresa deve operar par ser definida uma estratégia de diversificação de mercados. O surgimento de empresas com características Born Global afeta diretamente a coordenação de empreendimentos ao nível internacional. Madsen (1989) coloca que empresas exportadoras com atividades em países mais distantes e uma direção compromissada com as atividades internacionais geram um impacto positivo na performance da empresa. As empresas Born Globais enfrentam questões diferentes no âmbito financeiro como não financeiro diante da atual conjuntura mundial (ZAHRA, IRELAND e HITT, 2000). Na tocante da performance de empresas Born Globals, Kuivalainen, Sundqvist e Servais, (2007) colocam que as empresas do tipo Born Global enfrentam falta de fluxo de caixa, visto ter altos custos em desenvolvimento de produtos, sendo que a demanda por financiamentos funciona como passos para auxiliar no desenvolvimento gradual da organização. As características de Born Globals por si só exigem grandes somas de capital para financiar o rápido crescimento requerido por este tipo de organização e a necessidade de financiamento fora do tradicional exige destas empresas uma grande capacidade administrativa em gerenciar recursos e promover o desenvolvimento internacional para assim obter uma performance satisfatória. O surgimento das Born Globals passa pela influência de quatro fenômenos: globalização, empreendedorismo, rede de contatos e indústria. A seguir é detalhada cada uma delas: • Globalização: passa pelo desenvolvimento de tecnologias de comunicação e transportes, globalização de demandas de mercado e estratégias de marketing e diminuição de barreiras de mercado (LEVITT, 1983). Estes fatores facilitam o surgimento de Born Globals (KNIGHT e CAVUSGIL, 1996), mas sozinhos não podem explicar o fenômeno. Cultura, linguagem e canais de marketing diferem entre países e regiões e muitas empresas ainda focam o mercado doméstico. A globalização tende a promover grandes oportunidades para as empresas, mas isto não é suficiente para criar um empreendimento internacional bem sucedido (ANDERSSON, 2000; ANDERSON e WICTOR, 2003).



Empreendedores: a denominação mais comum em pesquisas de Born Global é a importância do empreendedor e o comportamento empreendedor por parte da alta direção da empresa (RENNIE, 1993; MCDOUGALL, SHANE e OVIATT, 1994; KNIGHT e CAVUSGIL, 1996; MADSEN e SERVAIS, 1997; MADSEN, RASMUSSEN e SERVAIS, 2000; ANDERSON e WICTOR, 2003). • Rede de Contato: uma rede de contatos internacionais, tanto ao nível pessoal como organizacional, é importante para o desenvolvimento de empresas internacionais. Esta rede de contato assume um papel maior no caso de Born Global (ANDERSON e WICTOR, 2003). Novas empresas são dependentes das relações para obtenção de financiamentos, fornecedores e clientes (OVIATT e MCDOUGALL, 1995; ZHOUL, WU e LOU, 2007). • Indústria: as empresas Born Globals estão inseridas nas mais diversas indústrias, no entanto, as características da indústria são importantes para o desenvolvimento internacional. As companhias inovadoras têm um foco global e estas empresas não estão restritas a sabedoria da indústria (SPENDER, 1989). No entanto, estas empresas tentam criar nichos no qual eles podem atuar com a ignorância da indústria. Pesquisas têm analisado que Born Globals são mais especializadas e orientadas para nichos de mercado que outras empresas (MADSEN e SERVAIS, 1997). O conceito das Born Globals surgiu há mais de uma década na Austrália, enraizado em diversos fatores, como a capacidade inovativa das organizações, visão empreendedora e conhecimentos administrativos em combinar recursos e promover o desenvolvimento internacional. Aliado a isto, o contexto internacional da globalização, acesso a tecnologias e acesso a mercados existentes na década de 1990. No entanto, desde então, diversas Taxonomias acerca de Born Globals surgiram para tentar classificar o fenômeno. 3. As taxonomias acerca do fenômeno As empresas Born Globals surgiram fruto de um contexto existente a partir da década de 90, contudo, no decorrer dos últimos anos, a academia busca uma taxonomia para as empresas do tipo Born Global. Para alcançar este objetivo, é necessário analisar desde o surgimento do conceito de Born Global no primeiro estudo do gênero realizado na Austrália até a as pesquisas atuais. As empresas que estão voltadas para as atividades internacionais desde seu nascimento são chamadas pela literatura por diversos nomes: Born Global, International New Ventures, Global Start-Ups, Infant Multinationals, entre outros. O conceito de Born Global foi inventado em uma pesquisa para a The Australian Manufacturing Council por McKinsey & Co. (1993) e Rennie (1993). O conceito se desenvolveu com o artigo acadêmico desenvolvido por Tamer Cavusgil em 1994: “Está emergindo na Austrália um novo tipo de empresas exportadoras, qual contribui substancialmente para a exportação de capital da nação. A emersão destes exportadores não é fruto da economia australiana, mas reflete um fenômeno da década de 1990: pequeno é bonito e internacionalização gradual está morta” (CAVUSGIL, 1994, p.18).

Os estudos de McKinsey & Co. na Austrália detectaram que entre as empresa Born Globals estão principalmente empresas de alta tecnologia. Estas empresas vivenciaram altas taxas de crescimento em relação a outras indústrias na Austrália e um grande crescimento em suas exportações comparado com suas vendas no mercado domestico. Knight e Cavusgil (1996, p. 11) definem uma empresa Born Global como sendo “pequena, tecnologicamente orientada e que operam nos mercados internacionais desde os primórdios de sua criação”. Cavusgil (1994) destacou que a internacionalização gradual está em declínio visto que todas as empresas – inclusive pequenas empresas – têm acesso a informações sobre mercados estrangeiros e podem começar exportando desde o surgimento da firma.

Anteriormente ao conceito de Born Global, já surgiam conceitos similares como Leapfrogging, International New Ventures – INV e Global Start-Ups. A percepção que algumas empresas fugiam dos modelos tradicionais de internacionalização foi obtida no trabalho de Levit (1983), no entanto, naquele momento o fenômeno percebido não foi posto em evidência. Posteriormente Hedlund e Kverneland (1985) detectaram um fenômeno nomeado de Empresas Leapfrogging, classificado como empresas que pulam alguns estágios do modelo tradicional de internacionalização proposto pelo modelo de Uppsala. Em 1992, Jolly, Alahuta e Jeannet estudaram o fenômeno das High Tecnology Start-Ups, classificadas como empresas de alta tecnologia que desde o seu surgimento tem sua estratégia voltada para mercados estrangeiros. Já as Global Start-Ups são as firmas internacionais mais radicais, quais estão voltadas para o mercado externo desde a sua fundação. Estas empresas coordenam algumas atividades além das fronteiras nacionais e regionais, com uma única história e usando o conhecimento por meio de várias redes de contato através do mundo (OVIATT e MCDOUGALL, 1994). Nesta linha temporal, em 1993 o trabalho de Rennie estabeleceu o termo Born Global para este fenômeno que já estava sendo captado anteriormente. Desta forma, no decorrer da década de 1990 o termo Borns Globals tem sido popularizado por diversos trabalhos (RENNIE, 1993; KNIGHT e CAVUSGIL, 1996; MADSEN e SERVAIS, 1997; BELL e MCNAUGHTON, 2000; MADSEN, RASMUSSEN e SERVAIS, 2000; RASMUSSEN, MADSEN e ENVAGELISTA, 2001; LARIMO, 2001; ASPELUND e MOEN, 2001; MOEN, 2002). Outros estudos abordaram a mesma temática, no entanto, utilizando uma nomenclatura diferente, como o termo Global Start-ups abordado por Oviatt e McDougall (1995), Instant Internationals (FILLIS, 2001), e International New Ventures -INVs- (MCDOUGALL, 1989; OVIATT e MCDOUGALL, 1994; MCDOUGALL, SHANE e OVIATT, 1994; OVIATT e MCDOUGALL, 1997; SERVAIS e RASMUSSEN, 2000), ou mesmo analisando especificidades de diferentes setores, como o caso de High Technology Start-ups definido por Burgel e Murray (2000), Global High-Tech desenvolvido por Roberts e Senturia (1996). Contudo, é possível observar as várias denominações para o fenômeno das Born Globals, as quais por algumas vezes divergem e até mesmo confundem-se, visto o uso de sinônimos para descrever o ato de as empresas se internacionalizarem desde o seu surgimento. Na busca de uma definição para este fenômeno surgem os vários conceitos presentes na literatura. O trabalho de Oviatt e McDougall publicado em 1994 propõe uma tipologia para empresas Born Globals: pequenas empresas que apresentam uma rápida internacionalização, baseada no número de países envolvidos, intensidade da exportação (fatia do faturamento fruto de exportação), distância dos mercados e tempo de internacionalização. Madsen, Rasmussen e Servais (2000) delimitaram que empresa Born Global é uma firma de produção com uma porcentagem de exportação (comparada com o total de vendas) de 25% ou mais, qual tenha começado com três anos antes da fundação da empresa. Andersson e Wictor (2003, p.5) corroboraram com os autores supracitados, e definiram as Born Globals como “companhias que tem no mínimo 25% das vendas fruto de mercado externo em até três anos após seu nascimento, e, desde seu surgimento, procura obter uma vantagem competitiva por meio de recursos e vendas em múltiplos países”. Mais recentemente, Kuivalainenet, Sundqvist e Servais (2007) também reafirmaram este conceito. Por outro lado, para o relatório de McKinsey & Co (1993), as Born Globals começam exportando um ou mais produtos em até dois anos depois da fundação e tendem a exportar no mínimo um quarto do total de vendas. Estas empresas tendem a serem pequenas empresas manufatureiras, com uma venda média anuais não excedendo 100 milhões de dólares. A maioria das empresas Born Globals são formadas por empreendedores ativos e tendem a

emergir como resultado de um significativo avanço em algum processo ou tecnologia e os produtos envolvem substancial valor adicionado (MCKINSEY & CO., 1993). Como visto, a definição de Born Global gera algumas controvérsias, especialmente quanto ao vão temporal entre o surgimento da empresa e sua internacionalização, geralmente mensurado em anos. Alguns pesquisadores destacam um período de seis anos o tempo para a sua internacionalização após o surgimento (OVIATT e MCDOUGALL, 1997). Já Rennie (1993) reduz este tempo em dois anos e uma parcela do faturamento de 76% fruto do mercado externo. Já Knight e Cavusgil (1996), Madsen, Rasmussen e Servais (2000), e Servais e Rasmussen (2000) definem Born Globals como empresas que se estabeleceram depois de 1976 e tem obtido no mínimo 25% do seu faturamento por meio de vendas ao mercado externo em até três anos após seu nascimento. Knight (1997) também usa essa definição quantitativa. Para Moen (2002) para se caracterizar como Born Global uma empresa deve ter mais de 25% do seu faturamento por meio de vendas externas e ter surgido após 1990. No entanto, Madsen e Servais (1997) colocam que a perspectiva do tempo de ser estendida para antes do surgimento legal da empresa. Para os autores, muitas das características da organização são frutos de experiências anteriores do empreendedor, ou seja, a Born Global pode ser considerada uma empresa nova, mas o conhecimento e suas capacidade são anteriores ao seu surgimento. A percepção de que algumas empresas fugiam do modelo tradicional começou com o trabalho de Hedlund e Kverneland (1985) e tem avançado significativamente principalmente após 1993 com os trabalhos de McKinsey & Co. (1993), Rennie (1993), Cavusgil (1994) e Oviatt e McDougall (1994). Contudo, a questão chave no entendimento do fenômeno está centrada no vão temporal entre a data de fundação da empresa e o inicio das atividades internacionais. A visão predominante no âmbito teórico (ANDERSSON e WICTOR, 2001; KNIGHT e CAVUSGIL, 1996 OVIATT e MCDOUGALL, 1994; MADSEN, RASMUSSEN e SERVAIS, 2000; ANDERSSON e WICTOR, 2003; KUIVALAINEN, SUNDQVIST e SERVAIS, 2007) classifica as empresas Born Globals como companhias que no mínimo 25% do seu faturamento são fruto de vendas ao mercado externo em até três anos depois do seu surgimento, e desde sua concepção busca vantagens competitivas no uso de recursos e de vendas em vários países. Neste cenário, o elemento chave na visualização de empresas Born Globals, passa inicialmente pelo enquadramento no vão temporal de até três anos entre a data de fundação de empresa e o inicio das atividades internacionais. A visualização no âmbito pragmático de empresas que possuem estas características é o que vai transpor o fenômeno de uma situação teórica para uma situação real no âmbito organizacional, possibilitando uma melhor compreensão do fenômeno das Born Globals. Desta forma, a seguir é detalhado o método utilizado para detectar a existência de empresas sul-brasileiras que se enquadram nesta taxonomia. 4. Método do Estudo No plano conceitual, o corte epistemológico utilizado inicialmente focalizou uma visão longitudinal sobre as abordagens teóricas do tema em questão. Para tanto, realizou-se uma abordagem qualitativa através de pesquisa bibliográfica, visto que esta tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno. Este método permite explorar não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente, proporcionando o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras (DENZIN e LINCOL, 2000). Posteriormente, foi utilizada uma abordagem quantitativa por meio de levantamento em dados de caráter secundários junto a empresas exportadoras. O método aplicado na realização desta pesquisa possui natureza descritiva, considerando que a pesquisa descritiva

apenas captura e mostra um cenário de uma situação, expressa em números e que a natureza da relação entre variáveis é feita na pesquisa correlacional (LOCKE et al., 1998). Esta abordagem busca responder o segundo objetivo da pesquisa, de identificar as empresas que passaram por um processo de internacionalização nos seus três primeiros anos de vida. Ao longo do estudo, estas empresas foram denominadas de empresas com inserção internacional prematura, visto que não foram analisados todos os elementos propostos nas atuais taxonomias das Born Globals, limitando-se a análise do vão temporal entre a fundação da empresa e o início das operações internacionais, utilizando como ano base o ano de 2006. O termo inserção internacional prematura é proposto para representar o fenômeno das empresas que se internacionalizam nos seus três primeiros anos de vida, ou seja, estas empresas não passam por um processo de maturidade no mercado interno para posteriormente se lançar para o mercado externo. Para levantamento dos dados empíricos, foi utilizada a base de dados das empresas exportadoras por unidade da federação, fornecida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, disponível no site . Inicialmente, foram buscadas todas as empresas que desenvolveram alguma atividade com o exterior no ano de 2006, situadas na região sul do Brasil, especificamente: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Posteriormente, de posse do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ destas empresas buscou-se a data de fundação e o ramo de atividade destas empresas, junto a Receita Federal. Desta forma, é possível levantar quais empresas sul-brasileiras que tiveram atividade internacional em 2006, iniciaram o seu processo de internacionalização nos três anos anteriores, o que as configuram como possíveis empresas Born Globals. Para uma análise mais fidedigna, decidiu-se pela exclusão das empresas registradas como unidades filiais, visto que a empresa matriz poderia já estar desempenhando alguma atividade internacional anteriormente a sua fundação. Após o levantamento dos dados empíricos, estes passaram por tratamentos estatísticos, utilizando as seguintes técnicas: • Distribuição de freqüência: é uma distribuição matemática cujo objetivo é obter uma contagem do número de respostas associadas a diferentes valores de uma variável e expressá-las em porcentagem. De acordo com Malhotra (2001), é uma técnica indicada para quantificar respostas atribuídas a uma questão composta de duas ou mais alternativas; • Média: é calculada somando-se todos os elementos de um conjunto e dividindo-se a soma pelo número de elementos. Indicada quando a variável é de escala intervalar ou de razão (MALHOTRA, 2001). • Qui-quadrado: Teste estatístico para avaliar hipótese sobre a relação entre duas variáveis categóricas (SAMPIERI, COLLADO e LUCIO, 2006). 5. Análise dos Resultados O levantamento dos dados das empresas localizadas na região sul do Brasil, que desenvolveram atividade exportadora no ano de 2006 resultou num total de 5.788 empresas. Destas, 2.565 estão localizadas no estado do Rio Grande do Sul, 1.463, localizam-se em Santa Catarina e 1.760 no Paraná. Após a verificação do vão temporal entre a data de fundação da empresa e o início das atividades internacionais, observou-se que das empresas sul-brasileiras que tiveram alguma atividade internacional no ano de 2006, 567 empresas possuem inicio nas atividades internacionais de maneira prematura, ou seja, a data de fundação destas empresas ocorreu nos últimos três anos (2004, 2005 ou 2006). Dentre os estados, o que apresenta maior destaque é o Rio Grande do Sul, com 42% das empresas sul-brasileiras com inserção internacional prematura, seguido do Paraná com 35,8%. No entanto, quanto a participação das empresas com início prematuro no total de empresas com atividade internacional, o estado do Paraná foi o que apresentou maior índice, onde 11,53% das empresas que desempenharam atividade exportadora em 2006, foram

fundadas até três anos antes. Na média geral das empresas sul-brasileiras, 9,79% das empresas tiveram uma inserção internacional prematura. A Tabela 01 apresenta uma síntese destes resultados: TABELA 01 – Empresas com atividade exportadora em 2006 e com inserção prematura Estado

Total de Empresa

Rio Grande do Sul 2.565 Santa Catarina 1.463 Paraná 1.760 Total 5788 Fonte: Elaborado pelos Autores

Empresas com % em Relação Participação de Empresas Inserção Prematura ao Estado com Inserção Prematura 238 42,00% 9,27% 126 22,20% 8,61% 203 35,80% 11,53% 567 100,00% 9,79%

Ao analisar a localização destas empresas, observa-se que as empresas com inserção internacional prematura sediadas no Rio Grande do Sul, 111 estão localizadas na região metropolitana de Porto Alegre, com destaque para as cidades de Novo Hamburgo com 30 empresas e Porto Alegre com o mesmo número de casos. As demais 127 empresas estão sediadas em cidades do interior do estado, com destaque para o setor coureiro-calçadista, setor moveleiro e o setor de máquinas e equipamentos. Já no estado de Santa Catarina, apenas sete empresas das 126 analisadas estão localizadas na Região Metropolitana da Capital do Estado. No entanto, destacam-se as cidades de Joinville com 16 empresas e Itajaí com 21 empresas com inserção prematura. Neste estado, a atividade que apresenta maior número de empresas é a atividade de Comércio Atacadista. No estado do Paraná, de um total de 203 empresas com inserção prematura, 90 destas estão localizadas na Região Metropolitana de Curitiba. Mais especificamente, destas, 55 estão sediadas no município de Curitiba. No interior do estado, se destacam os municípios de Foz do Iguaçu, com 18 empresas e Paranaguá, com 17 empresas. Dentre as atividades com maior destaque estão o Comércio Atacadista e Varejista, bem como Serviços de Manutenção no município de Paranaguá, visto o porto marítimo localizado neste município. No que tange ao vão temporal entre a fundação da empresa e o início das atividades internacionais nas empresas com inserção prematura analisadas, 16,20% destas deram início às atividades logo no seu primeiro ano de vida, 37,40% no segundo ano e 46,40% das empresas foram fundadas em 2004, o que representa que deram início às atividades internacionais no seu terceiro ano de vida, conforma pode-se visualizar na Tabela 02: TABELA 2 - Ano de fundação das empresas com inserção prematura Ano 2006 2005 2004 Total Fonte: Elaborado pelos Autores

Número de Casos 92 212 263 567

Percentual 16,20% 37,40% 46,40% 100,00%

Para melhor entendimento dos espaços temporais entre a fundação da empresa e o seu processo de internacionalização, a Tabela 03 apresenta o ramo de atividade das empresas estudadas. Destaca-se que 41,30% das empresas atuam no ramo Comércio Atacadista, especificamente, observa-se que estas empresas em sua maioria possuem em sua razão social a denominação de Exportadora, ou seja, são organizações que já nasceram visando desempenhar atividades internacionais. TABELA 03 – Ramo de Atividade das empresas com inserção prematura Ramo de Atividade Comércio Atacadista Indústria em Geral Indústria Metal Mecanica Indústria Moveleira / Madereira

Número de Casos 234 69 63 57

Percentual 41,30% 12,20% 11,10% 10,10%

Comércio Varejista / Representações Indústria Coureiro Calçadista Indústria Alimentícia Setor de Serviços Setor Primário Indústria Eletro-Eletronica Total Fonte: Elaborado pelos Autores

49 41 17 15 11 11 567

8,60% 7,20% 3,00% 2,60% 1,90% 1,90% 100,00%

Outro elemento analisado nas empresas é o faturamento anual que a empresa possui. Conforme a Tabela 04 observa-se que 35,4% das empresas possuem um faturamento anual entre R$ 10.000,00 a R$ 100.000,00, posteriormente aparece com 31,2% das empresas a faixa de faturamento de R$ 100.001,00 a R$ 1 milhão de Reais. Isto demonstra que o tamanho predominante das empresas com inserção internacional prematura são de micro e pequenas empresas, seguindo a classificação da Lei Complementar Federal que regulamente o Simples Nacional.

TABELA 04 – Faturamento das empresas com inserção internacional prematura Faixa de Faturamento Até R$ 10.000,00 De R$ 10.001,00 a R$ 100.000,00 De R$ 100.001,00 a R$ 1.000.000,00 Acima de R$ 1.000.001,00 Total Fonte: Elaborado pelos Autores

Número de Casos 99 201 177 90 567

Percentual 17,5 35,4 31,2 15,9 100,0

Para visualizar se há relação entre as variáveis de características das empresas com inserção internacional prematura, foi realizado o teste do Qui-quadrado. Analisando a relação de ano de fundação e o estado não demonstrou uma relação significante, mesmo resultado obtido na relação entre ano de fundação e faturamento. No entanto, observa-se relação entre o estado que a empresa está localizada e a faixa de faturamento. Nos três estados o ocorrem um predomínio de empresas de pequeno porte, com uma faixa de faturamento anual de R$ 10.000,00 a R$ 100.000,00. Contudo enquanto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a existência de micro empresas possui uma participação maior, no estado do Paraná ocorre uma situação inversa, com uma participação maior de empresas de médio e grande porte. O ramo de atividade da empresa também apresentou relação com a variável de onde a empresa está localizada. Enquanto que no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a predominância é por empresas que trabalham na indústria de transformação, no estado do Paraná a predominância é por empresas que atuam no comércio. Tabela 05 – Qui-quadrado entre Ramo de Atividade x Estado Ind. Transformação Serviço Comércio Total Fonte: Elaborado pelos Autores

RS 125 10 103 238

SC 61 7 58 126

PR 72 9 122 203

Total 258 26 283 567

Em relação ao faturamento e o ramo de atividade das empresas analisadas, não foram encontrada relação entre as variáveis. Por outro lado, o ramo de atividade mostrou existir uma relação com o ano de fundação da empresa. As empresas que atuam no setor da indústria de transformação se internacionalizaram predominantemente no terceiro ano de fundação, fenômeno percebido também no setor de comércio, contudo neste com menor intensidade. Já as empresas do setor de serviço se internacionalizaram predominantemente no segundo ano de fundação.

Tabela 06 – Qui-quadrado Ramo de Atividade x Ano de Fundação Ind. Transformação Serviço Comércio Total Fonte: Elaborado pelos Autores

2006 40 6 46 92

2005 88 16 108 212

2004 130 4 129 263

Total 258 26 283 567

6. Considerações Finais Este artigo teve como objetivo principal explora as bases paradigmáticas acerca de teoria da internacionalização no âmbito do fenômeno das empresas Born Globals e identificar a atual Taxonomia definida pelos estudos em empresa Born Global. Para tanto, realizou-se um levantamento teórico para entendimento do fenômeno. É possível observar que a base do surgimento do fenômeno das Born Globals se deu em meados da década de 1980, quando se observou que algumas empresas fugiam dos modelos tradicionais de internacionalização propostos pelo Modelo de Uppsala (LEVIT, 1993; HEDLUND e KVERNELAND, 1985; JOHANSON e VAHLNE, 1977). Foi detectado que algumas empresas buscavam os mercados internacionais desde os seus primeiros anos de vida, dando inicio assim a um novo formato de internacionalização, denominado pela literatura de diversas formas, como Born Globals, International New Ventures, Globals StartUps, entre outras. Enraizado neste fenômeno encontra-se fatores que propiciaram o desenvolvimento deste tipo de organização. No âmbito ambiental, o contexto internacional favorece a internacionalização, visto o advento da globalização, facilidade no acesso a tecnologias e a novos mercados. Juntamente com os fatores ambientais, um perfil empreendedor internacional, conhecimentos administrativos apurados, características e comportamentos organizacionais propícios à internacionalização, também auxiliam no entendimento do fenômeno. Na busca de uma Taxonomia para o fenômeno das Born Globals, não existe um consenso na literatura, principalmente quanto ao vão temporal entre o surgimento da empresa e sua internacionalização para configurar uma Born Global. No entanto, é possível destacar que a visão predominante é a de que empresas Born Globals são aquelas que se internacionalizaram nos seus primeiros anos de vida (até três anos depois do surgimento da empresa) e mantém uma regularidade na atuação externa (25% ou mais do faturamento da empresa fruto do mercado externo) (OVIATT e MCDOUGALL, 1994; MADSEN, RASMUSSEN e SERVAIS, 2000; ANDERSSON e WICTOR, 2003; KUIVALAINEN, SUNDQVIST e SERVAIS, 2007). Contudo, esta taxonomia não deve ser encarada de maneira rígida, visto que o entendimento de fenômenos que se diferenciam da maneira gradual de internacionalização pode exigir adaptações para viabilizar as análises. Visando a identificação das empresas que se enquadram no fenômeno das Born Globals, foi proposta a identificação inicial das empresas com inserção internacional prematura. Ou seja, esta denominação foi utilizada para representar as empresas que estão em um estágio mais amplo que as Born Globals, se enquadrando na tocante do vão temporal entre a fundação da empresa e o início das atividades internacionais de até três anos. A identificação de empresas com inserção internacional prematura fornece uma base ainda mais sólida para o desenvolvimento de Born Globals, visto que solidifica a visão de que fruto de mudanças no cenário mundial e na percepção dos empreendedores, as empresas estão rompendo a visão tradicional de internacionalização, e passando a atuar internacionalmente logo nos seus primeiros anos de criação, anterior ao alcance de uma maturidade no mercado interno.

Na busca de identificação de empresas com inserção internacional prematura, na região sul do Brasil, observou-se que este fenômeno representa uma parcela significativa das empresas que atuam internacionalmente, com quase 10% das empresas, somente no ano de 2006. O Rio Grande do Sul foi o estado que apresentou maior parcela das empresas com inserção internacional prematura (42%), no entanto proporcionalmente ao número total de empresas, o estado do Paraná se destacou com 11,53% do total. Estas empresas atuam principalmente no setor de Comércio (41,30%), com destaque para a atividade de comercial exportadora. Destaca-se também que enquanto as empresas analisadas que atuam no comércio tendem a se internacionalizar já no seu primeiro ano de vida, ou seja, já são criadas para desenvolverem atividades internacionais, as empresas que atuam na indústria de transformação possuem uma dinâmica de internacionalização gradativa, ocorrendo com maior ênfase no terceiro ano analisado, correspondendo a uma visão mais tradicional de consolidação no mercado interno, para posteriormente atuar internacionalmente, contudo, em um processo mais acelerado que a visão tradicional do Modelo de Uppsala. As empresas analisadas, que são predominantemente de micro e pequeno porte, possuem características diferentes em cada estado. Enquanto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a um predomínio de empresas que atuam na indústria de transformação, no estado do Paraná ocorre um predomínio de empresas que atuam no comércio. Estas diferenças demonstram um fenômeno existente, que são as empresas com inserção internacional prematura, ou seja, estas empresas não se enquadram nas explicações teóricas tradicionais apresentadas por modelos como o de Uppsala, visto que iniciam suas atividades internacionais logo nos primeiros anos de vida, contudo não necessariamente possuem todas as características necessárias para se configurar como Born Globals. A literatura sobre Born Globals encontra-se em franca expansão, o que dificulta a análise plena em termos do estado da arte no assunto. O presente estudo buscou usar diversas fontes porem longe de esgotar a análise do tema, ficando de fora outras visões e trabalhos que também podem ser importantes para um entendimento completo do fenômeno. A análise empírica com base em dados secundários e com um corte temporal limitado ao ano de 2006 não permite maiores generalizações, bem como conclusões mais significativas. No entanto, as proposições aqui apresentadas, de uma nova configuração estratégia, formada por empresas com inserção internacional prematura, abrem uma linha de pensamento para estudos futuros, na busca de um melhor entendimento das organizações que não se enquadram nos modelos tradicionais de internacionalização, e por sua vez não se enquadram plenamente no fenômeno das Born Globals. Desta forma, fechar estudos como este passa a ser uma tarefa difícil, assim, este estudo deve ser visto como uma tentativa de entendimento do fenômeno das Born Globals, e longe de esgotar o tema, visa estimular o desenvolvimento de trabalhos na área, para assim, no desenvolver da ciência, criar uma teoria de base sobre o tema sólida na sua plenitude. Referências Bibliográficas: ANDERSSON, Svante. The internationalization of the firm from an entrepreneurial perspective. International Studies of Management and Organization. n. 30, v. 1, p. 63-92, 2000. ANDERSSON, Svante e WICTOR, Ingemar. Innovative Internationalisation in New Firms: Born Globals – the Swedish Case. Journal of International Entrepreneurship. n. 1, v. 1, p. 249-276, 2003. ASPELUND, A. e MOEN, O. A generation perspective on small firms’ internationalization from traditional exporters and flexible specialists to born globals. In. AXINN, C.N. e MATTHYSSENS, P. Reassessing the internationalization of the firm. Amsterdam: JAI/Elsevier Inc, 2001.

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