Armas e cavalos: os arsenais e as coudelarias das Ordens Militares em Portugal na Idade Média

July 6, 2017 | Autor: Miguel Gomes Martins | Categoria: Military History, Military Orders
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Armas e cavalos: os arsenais e as coudelarias das Ordens Militares em Portugal na Idade Média Miguel Gomes Martins Instituto de Estudos Medievais / FCSH

É actualmente um facto incontestado que boa parte da importância das Ordens Militares em Portugal ao longo da Idade Média, resultava do elevado número de fortalezas que tutelavam, circunstância que lhes conferia um papel decisivo no contexto da defesa das fronteiras do reino. Recordemos os castelos templários da linha do Tejo (Cardiga, Almourol, Zézere, Ródão e Tomar); as praças-fortes hospitalárias de Moura, Mourão e Serpa, situadas na margem esquerda do Guadiana; ou os castelos santiaguistas do leste alentejano e do Sotavento algarvio (Mértola, Alcoutim, Castro Marim, Cacela e Tavira), apenas para citar alguns dos exemplos mais significativos. De facto, era na defensiva que estas instituições mais se destacavam, aliás, um pouco à imagem daquela que era a sua missão tanto nos outros reinos cristãos peninsulares, quanto na Palestina1. Porém, a importância destas instituições não pode ser avaliada, como sublinhou João Gouveia Monteiro, unicamente pelo número de praças-fortes que tinham à sua guarda, mas também pela sua capacidade para operar no terreno, em particular no desempenho de missões de natureza ofensiva2. Com efeito, a presença de contingentes fornecidos pelas Ordens Militares em campanhas conduzidas pela hoste régia verifica-se desde muito cedo. Veja-se a tomada de Santarém, em 1147, integrada por cavaleiros templários que, muito provavelmente, participaram também, poucos meses depois, no cerco a Lisboa; a conquista de Silves, em 1189, onde

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se regista a participação de efectivos disponibilizados pelas ordens do Templo e do Hospital; o cerco a Alcácer, em 1217, que contou igualmente com o contributo de contingentes das Ordens do Templo, do Hospital e de Santiago; ou a conquista de Faro em 1249, onde a estas três ordens se somou ainda a de Avis. Sinal dessa mesma capacidade ofensiva é também a disponibilidade para a realização de operações autónomas, isto é, sem o enquadramento da hoste régia, como nos casos do fulgurante avanço Santiaguista em direcção ao Algarve através do leste Alentejano durante a década de 1230; da conquista de Albufeira em 1249 ou 1250, conduzida pelas forças da Ordem de Avis; ou da ofensiva dos Hospitalários portugueses sobre o Andévalo, em meados da década de 1250. Apesar de a sua origem e evolução estarem intimamente ligadas a um quadro de luta permanente contra o Islão, nem por isso o final do processo da Reconquista portuguesa — pese embora alguns reajustamentos, nem sempre pacíficos, sublinhe-se3 — trouxe qualquer perda de importância do papel estratégico desempenhado pelas Ordens Militares, que continuam, depois de 1250, a tutelar um número significativo de fortalezas, verificando-se mesmo, em algumas regiões, um reforço da sua implantação, como no caso dos Templários na Beira Interior, onde recebem a fortaleza de Penha Garcia em 13044; dos Hospitalários a Sul de Belver, com a construção, em meados do século XIV, do castelo da Amieira5; ou da Ordem de Avis no Algarve, onde passam a tutelar, desde 1305, o castelo e a vila de Paderne6. Sinal de que após a conquista definitiva do Algarve a relevância das Ordens Militares se mantinha, de facto, praticamente inalterada é também a circunstância de continuarem a participar — quase sempre de forma destacada — nas principais acções armadas conduzidas pela monarquia. Veja-se o cerco a Portalegre, entre 27 de Abril e 25 de Outubro de 1299, onde se regista a presença das quatro ordens militares no exército mobilizado por D. Dinis; a ofensiva do Verão de 1336 contra Castela, para a qual Afonso IV contou com o contributo das Ordens de Cristo e de Avis; ou a Batalha do Salado, ferida no dia 30 de Outubro de 1340, que reuniu — algo que não sucedia desde 1299 — efectivos das Ordens Militares de Cristo, do Hospital, de Santiago e de Avis, comandadas respectivamente pelo Mestre Estêvão Gonçalves Leitão; pelo Prior Álvaro Gonçalves Pereira; pelo Mestre Garcia Peres Escacho e pelo Mestre Gonçalo Vasques7. Nem mesmo a sua capacidade de mobilização parece ter sido afectada após 1250. Recordemos o caso do corpo expedicionário enviado em 1330 pela Coroa portuguesa em apoio de Castela, formado por 500 lanças de cavalaria – entre freires e seculares – reunidas pela Ordem de Cristo e sob o comando do mestre D. Martim Gonçalves8; observe-se também a força de 600 cavaleiros comandados por Martim Martins do Avelar, mestre de Avis, e enviada em 1361 em auxílio do rei castelhano Pedro I, composta essencialmente por combatentes mobilizados pela ordem9; e atente-se ainda no exército formado por cerca de 300 a 500 lanças que, dois anos

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depois e sob a liderança de D. Gil Fernandes de Carvalho, mestre de Santiago, colaborou na campanha lançada por D. Pedro I de Castela, contra a cidade aragonesa de Tarragona10. Ora com um tão grande número de castelos sob a sua tutela, imbuídas de um forte pendor ofensivo e dotadas de uma notável capacidade de mobilização – como estes exemplos atestam –, seria de esperar que as ordens militares fossem constituídas por um total relativamente substancial de efectivos. Contudo, as fontes demonstram-nos precisamente o contrário, isto é, que em Portugal — aliás, tal como nos outros reinos cristãos peninsulares, conforme tem sido sublinhado, entre outros, por Philippe Josserand e Francisco García Fitz — estas instituições eram compostas por um número de freires relativamente reduzido11. De acordo com os dados disponíveis, numa situação ideal, a contribuição de cada uma das ordens para integrar a hoste régia, dificilmente ultrapassaria a meia centena de freires cavaleiros, cujo núcleo central seria constituído pelo mestre de cada uma delas, acompanhado pela sua escolta permanente, formada por 6 a 10 freires cavaleiros12. A estes somar-se-iam ainda alguns dos freires habitualmente destacados para a casa conventual ou para os diversos castelos e comendas da ordem e que poderiam, assim, fazer com que aquele número ascendesse a uma trintena de homens, no caso das ordens de Avis e do Hospital, e a 40-50 freires no caso das ordens do Templo / Cristo e de Santiago, porém, só em situações muito excepcionais13. Ora, perante estas limitações numéricas14, havia que recorrer a outras fontes de recrutamento, nomeadamente às milícias concelhias das localidades jurisdicionalmente sujeitas às ordens, um recurso precioso e de que estas instituições não pretendiam abdicar; mesmo que isso provocasse o desagrado das populações visadas, que não encaravam nunca com bons olhos a falta de autonomia municipal que uma situação deste tipo implicava, a disciplina rigorosa que lhes era imposta, ou a fiscalização apertada que os freires exerciam sobre os milicianos relativamente à posse de armas e de cavalo15. Para além das forças dos concelhos, algumas ordens militares – designadamente a de Santiago – recorriam também aos préstimos dos temidos almogávares16, a que se somavam ainda outros combatentes, muitos dos quais remunerados, e que, num regime próximo do permanente, asseguravam habitualmente – se bem que enquadrados sempre por freires cavaleiros — a defesa de algumas das fortalezas atribuídas a essas instituições, bem como o desempenho de outro tipo de tarefas de carácter militar e paramilitar17. A mobilização de homiziados — embora sem a expressão que viria a adquirir mais tarde18 — parece também ter sido corrente em algumas ordens militares, nomeadamente na de Avis, cuja fortaleza de Noudar terá sido o primeiro couto de homiziados (1308) instituído pela Coroa19. De qualquer forma, mesmo que muitos destes combatentes estivessem obrigados a apresentar-se com o seu próprio armamento e montada — como era o caso dos milicianos convocados

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no âmbito do recrutamento concelhio —, estas instituições necessitavam também de ter as suas próprias reserva de armas e de cavalos, não só para os seus contingentes de freires, mas também para garantir, em caso de necessidade, que esses outros guerreiros que, como vimos já, integravam os contingentes das ordens militares, se encontravam devidamente armados e montados. Neste sentido, assumem particular relevância os depósitos de armamento que as ordens mantinham nas suas praças-fortes e que, para além de assegurarem boa parte da sua capacidade de defesa, conferiam a essas fortalezas um factor acrescido de operacionalidade, já que muitas delas serviam igualmente como base para o lançamento de incursões sobre território inimigo. Relembre-se a esse respeito, a importância do arsenal do castelo santiaguista de Aljustrel e o papel desempenhado por esta fortaleza na submissão de diversas praças-fortes alentejanas e algarvias durante a década de 1230: “Item quod eisdem temporibus propter deffectum regiminis Magistrorum generalium predictorum, Castrum et villa de Aljustre quamquam predictum Castrum et villa predicta prouisione speciali custodia ac munitionibus indigentes nedum ratione Conuentus quod fratres parati cum equis, et armis ad deffensionem patrie ibidem continuo exercebant, sed etiam qui in tali situ consistant, ex quo illis temporibus expugnabantur infideles ortodoxe fidei inimici qui in locis circum morabantur uicinis, videlicet in Castris consistentibus in Campo qui dicitur Ourique et durat per XVeim leucas et ultra, et in castris Regni Algarbii”20. Era graças à existência de arsenais como este atestado em Aljustrel que as ordens militares garantiam a posse de um número de armas – ofensivas e defensivas — cuja quantidade, tipologia, qualidade e estado de conservação podiam controlar e, assim, efectuar um planeamento mais eficaz e rigoroso das campanhas em que se envolviam21. Assim, parece-nos evidente que todas as praças-fortes tuteladas pelas ordens militares deviam possuir um arsenal próprio, eventualmente proporcional à sua importância estratégica e dimensão, e destinado à guarnição respectiva e às forças que aí poderiam, eventualmente, vir a ser reunidas e ainda, em alguns casos, ao abastecimento de outras fortalezas. Talvez por isso os efectivos fornecidos pela Ordem de Cristo para a campanha de 1336 contra Castela tenham sido congregados, em Nisa — uma das fortalezas da ordem —, onde é possível, tudo o indica, que alguns dos combatentes que compunham essa força tenham recebido, pelo menos, algum do seu equipamento e armas22. Pela enorme importância de que se revestiam, estes arsenais encontravam-se quase sempre em locais bem guardados e protegidos, motivo pelo qual eram instalados nas zonas tidas como

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mais seguras e estrategicamente mais sensíveis das fortificações, designadamente nas torres de menagem e, por norma, nos seus pisos superiores, ao fim e ao cabo, os últimos a serem conquistados em caso de ataque inimigo. Era o caso da fortaleza de Noudar, cujo “almazem” estava situado precisamente no interior da torre de menagem erguida em 130823. Contudo, outras torres podiam servir esse mesmo propósito, desde que oferecessem boas garantias de segurança, como acontecia no castelo do Alandroal, construído entre 1294 e 1298 e pertencente também à Ordem de Avis24. Era nessas e noutras torres, convertidas assim em arsenais, que se guardavam as armas que tanto os responsáveis pelas praças-fortes quanto os freires que habitualmente os acompanhavam eram obrigados a possuir, aliás como se encontrava estipulado, por exemplo, na Ordenação de Ordem de Cristo, de 1321: “E queremos e ordinhamos que cada hũu dos freyres que ouverem as dictas comendas que mantenham cavalos e armas continuadamente como deven”25; e nos estatutos Santiaguistas de 1327, onde se determinava que “aja na dicta nossa ordem saseenta e huum freires como dicto he os quaes devem de seer cavaleiros guisados de cavallos e d´armas”26. Claro está que alguns dos castelos das ordens militares mais não teriam do que um pequeno depósito destinado ao armamento das escassas forças que compunham a sua guarnição, como seria o caso de Almourol que, em 1201, era defendido por apenas cinco freires Templários27. No entanto, a avaliar pelos dados de que dispomos, acreditamos que muitos outros castelos — talvez mesmo a maior parte deles — estivessem dotados de arsenais bem apetrechados, tanto quantitativa como qualitativamente28. É justamente à luz da existência destes depósitos de armamento de maior dimensão que se compreende a obrigatoriedade, por determinação de D. João I — já em inícios do século XV —, de as ordens militares fornecerem, em caso de mobilização da hoste régia, um número fixo de arneses completos: 50 a disponibilizar pela Ordem de Cristo, outros tantos pela de Santiago, 40 pela Ordem de Avis e 20 pela do Hospital29. Particularmente eloquentes quanto ao grande volume de armas, mas também de munições, que aí era guardado são os casos das fortalezas de Noudar, Veiros, Alandroal e Juromenha, da Ordem de Avis, cujos arsenais permitiam equipar um total de perto de oito dezenas de homens, como se verifica através do inventário elaborado pouco após a morte do mestre Martim do Avelar, ocorrida em finais de 1363 ou inícios de 136430. Assim, na torre de menagem do castelo de Noudar encontravam-se 37 escudos (30 dos quais novos), 29 protecções de cabeça, entre capelos e bacinetes de ferro (estes últimos um sinal inequívoco de que a ordem acompanhava de perto as novidades no campo do armamento defensivo), 30 gorjais de solha (peça de metal destinada a resguardar o pescoço e a garganta do combatente), 15 bestas (13 das quais com o cinto de armar respectivo31), 30 solhas (protecções de tronco conhecidas também como couraça, ou “brigandine”) e ainda uma quantidade não especificada, mas seguramente bastante elevada, de virotões32.

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Quanto ao arsenal do castelo de Veiros, situado a cerca de 140 km a nor-noroeste de Noudar, apresentava, entre outras armas defensivas e ofensivas, 19 bestas, uma “machadinha”, um maço de ferro, uma espada “gineta” e uma outra ricamente decorada com prata e esmalte (provavelmente destinada a uso cerimonial), 18 cambais revestidos de pano (um tipo de túnica acolchoada, geralmente com algodão, cuja principal função era amortecer os golpes desferidos sobre quem a envergava, mas que servia também para evitar o contacto directo entre o metal e a pele do guerreiro, sendo, por isso, usado sob a loriga), cinco pares de coxotes e caneleiras (peças de chapa de metal destinadas a proteger as pernas do combatente), umas luvas de aço, 32 gorgeiras “d’almazem” (isto é, em bom estado de conservação) e outras três de qualidade inferior, 36 solhas, 50 capelos de ferro, seis capelinas, seis lorigões e oito lorigas de corpo (protecções para o tronco e feitas de malha de ferro), duas mangas de loriga e uma fralda (recorde-se que se tratava de peças amovíveis), 13 coifas de linho (peça destinada a proteger a cabeça do guerreiro do contacto directo com a malha de ferro), 134 escudos grandes (provavelmente destinados a combatentes de cavalaria), quatro escudos pequenos (talvez broquetes), sete lorigas de cavalo compridas, vários arreios, perpontes e coberturas de cavalo ornamentadas com as armas da ordem, isto é, com a cruz verde flordelisada em campo prata (branco). Por seu lado, um pouco mais a norte, no castelo do Alandroal regista-se a existência, na mesma altura, de um número não especificado de solhas, três pares de sapatos de ferro, 18 capelos de ferro, um bacinete, dois elmos velhos, 15 gorjais, 30 solhas de armazém completas, um “elmo” de cavaleiro (provavelmente um elmo fechado em forma de tonel), 22 escudos, duas bestas com os respectivos cintos de armar, dois arcos e diversas coronhas de besta, um número não especificado de arreios e protecções de cabeça para os cavalos e 1100 virotões devidamente acondicionados e distribuídos por duas caixas, para além de outras caixas dessas munições guardadas sob o alpendre do “almazém”. Quanto ao castelo da Juromenha, localizado a nordeste do Alandroal e talvez o menos bem apetrechado destas quatro fortalezas alentejanas da Ordem de Avis, a mesma fonte menciona a existência de duas solhas velhas, 19 gorjais de solhas, dois capelos de ferro, dois cambais, três caixas de virotões e um torno para armar bestas, talvez uma polé33. No meio de uma tão grande quantidade e diversidade de armas, não deixa de ser notório o número irrisório de espadas guardadas nestes quatro arsenais, onde se regista apenas a presença, em Veiros, de uma espada decorada e de uma “espada gineta”. Contudo, isso não nos deve causar qualquer estranheza, já que a espada era uma peça de armamento que cada combatente adquiria às suas próprias custas e que, como tal, preferia manter sempre junto de si, sob a sua guarda, e não nos arsenais. Esta relação estreita entre o guerreiro e a sua espada resultava igualmente do facto de se tratar de uma peça extremamente dispendiosa, mas também de ser uma

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arma “nobre”, cavaleiresca, cristã, e como tal, carregada de simbolismo34. A tudo isto acrescia, em alguns casos, o seu valor afectivo, já que muitas dessas espadas haviam cruzado várias gerações dentro da mesma família, ao ponto de receberem nomes próprios35. Igualmente importante — como se deduz pelo volume de armamento arrolado em 1347, a propósito da nomeação do alcaide frei João Peres —, parece ter sido o arsenal do castelo de Castro Marim, tutelado pela Ordem de Santiago talvez entre 1240 e 1271–1272 e que em 1319 se convertera na primeira sede da Ordem de Cristo. Nesta fortaleza algarvia atestava-se então a existência de três bestas, duas das quais de torno, um bacinete, uma capelina, nove solhas e respectivos gorjais (ou gorgeiras), 28 lanças, três hastes de lanças, 1070 pontas de setas ou de virotões e 1500 setas ou virotões, para além de dois engenhos, muito provavelmente trabucos de contrapeso, “armas pesadas” já bastante comuns por essa altura. Porém, todo aquele armamento estava praticamente inutilizável devido ao seu mau estado de conservação, uma imagem, aliás, extensível à própria fortaleza, votada a um quase completo estado de abandono, reflexo provável dos dois cercos a que foi sujeita em 1337 e, acima de tudo, da perda de importância resultante da transferência do convento da ordem para Tomar36, mas que, ainda assim, nos revela o papel estratégico que tivera anos antes. De facto, manter em bom estado o armamento guardado nos arsenais não era uma tarefa fácil, porquanto exigia às ordens militares e em particular aos responsáveis pela gestão destas armarias, um grande número de cuidados para evitar a corrosão e o apodrecimento das armas, principais causas da sua deterioração e que, numa situação limite, as podiam tornar completamente inúteis. Mesmo nas fortalezas onde parece ter havido uma cautela especial com a conservação — como era o caso dos acima referidos castelos da Ordem de Avis — podiam encontrar-se algumas armas em mau estado, nomeadamente alguns cambais e algumas coronhas de besta. Daí a importância do papel desempenhado pelos encarregados destes depósitos, fossem eles os almoxarifes ou os alcaides das fortalezas onde essas armas se encontravam armazenadas, cuja missão era precisamente zelar não só pelo controlo do número de armas aí depositadas, mas também pela sua preservação, cuidados que certamente não passavam despercebidos ao olhar sempre atento dos visitadores que, frequentemente, inspecionavam os castelos das ordens37. Seriam, portanto, os alcaides e, acima de tudo, os almoxarifes os primeiros a zelar para que os arsenais fossem locais protegidos e abrigados das intempéries, e em particular da humidade, do frio e do calor. E quando isso não acontecia, as ordens procuravam, dentro das suas possibilidades, diligenciar para a melhoria das condições desses depósitos de armamento. Assim parece ter acontecido na praça-forte de Mértola, em meados do século XIV, onde se registam obras de melhoramentos que contemplaram a construção de um novo arsenal, algo que devemos também interpretar à luz da enorme importância estratégica desse castelo fronteiriço38.

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Mas mesmo com todos esses cuidados, as armas corriam o risco de se deteriorarem, pelo que era importante inspeccioná-las regularmente e assegurar a sua manutenção periódica, o u seja, lubrificá-las, limpá-las e, em caso de necessidade, desenferrujá-las, poli-las, afiá-las, contrariar os empenamentos, substituir as peças estragadas e, em última análise, repor o armamento perdido ou irrecuperável. Tratavam-se, no entanto, de operações complexas e que, por isso requeriam a intervenção de mão-de-obra especializada, designadamente de armeiros, alfagemes, açagadores e hasteeiros, embora não tenhamos qualquer testemunho documental que aponte para sua presença nestes arsenais39. As fontes são igualmente omissas a respeito da forma de aquisição de todo este armamento, mas acreditamos que uma parte significativa seria fabricada por aqueles mesmos oficiais – alguns deles, eventualmente, em regime de exclusividade – nas armaria existentes em alguns dos castelos e/ou comendas das ordens. Contudo, parece-nos seguro que muitas outras armas seriam obtidas, por compra, nos centros urbanos de Santarém, Coimbra, Évora e, acima de tudo, em Lisboa e no Porto, designadamente nos grandes “almazens” régios instalados — desde o reinado de D. Dinis — nestas duas últimas cidades40. Claro que as feiras e mercados regionais e locais podiam também, de certa forma, ajudar a suprir algumas das necessidades mais prementes, tal como os leilões que, periodicamente, tinham lugar em algumas vilas e cidades do reino e onde eram vendidas — a preços bastante acessíveis — as armas confiscadas pelos alcaides e pelos seus homens. Parece-nos, no entanto, que o armamento que assim era obtido seria meramente residual41. Uma parte significativa das armas entradas nos arsenais das ordens militares podia também resultar de legados testamentários, alguns dos quais particularmente generosos, como as 1 000 lorigas que Sancho II, no seu primeiro testamento, estipulou que deveriam ser entregues aos Templários, embora – como é sabido – tal não tivesse chegado a concretizar-se42. Contudo, a maior parte destes legados era, regra geral, bastante mais modesta, mas nem por isso negligenciável. Observem-se apenas três exemplos: em 1143, Mendo Moniz deixa à Ordem do Templo, a sua loriga e a sua “arma”, provavelmente uma espada43; em 1295, Silvestre Peres, cavaleiro de Santarém, deixa em testamento à Ordem de Avis a sua loriga e as suas brafoneiras44; e em altura que não é possível confirmar – mas que parece remontar a meados do século XIII, Pedro Fernandes determinava que a sua loriga deveria ser entregue, quando morresse, aos freires do Templo45. Para além disso, é muito possível que alguns dos indivíduos que ingressavam nessa instituição o fizessem com as suas próprias armas, mas também com os seus cavalos que, assim, continuariam a utilizar46. Mas a importância das ordens militares, enquanto forças com um elevado grau de eficácia, prontidão e — permitam-nos a expressão — “profissionalismo”, resultava também, para além da

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sua capacidade para apresentar contingentes bem equipados com armas defensivas e ofensivas, da aptidão para os dotarem de boas montadas, aliás, como a regulamentação interna dessas instituições insistia em sublinhar. Tanto as Ordenações da Ordem de Cristo, de 1321 — a que acima nos referimos, a propósito do armamento —, quanto as de 1323 e de 1326, são claras a esse respeito ao referirem a obrigatoriedade de cada freire cavaleiro possuir o seu cavalo, bem como as suas armas, tal como se encontra também expresso nos estabelecimentos Santiaguistas de 132747. Trata-se de um tipo de norma que se compreende inteiramente face ao papel central que o cavalo desempenhava na guerra, não só como participante directo nos combates — sobretudo depois do desenvolvimento, no século XI, do papel táctico da cavalaria como arma de choque —, mas também no transporte de homens e mesmo de cargas. Assim, cada uma das praças-fortes tuteladas pelas ordens militares teria, para além do seu arsenal, as suas próprias cavalariças, algumas das quais podiam mesmo alojar um elevado número de montadas, como parece ter sido o caso do castelo de Aljustrel — base de operações a partir de onde, como vimos já, foram lançadas, durante o reinado de Sancho II, diversas campanhas contra o Alentejo e o Algarve —, onde os Santiaguistas mantinham, para além de um número considerável de armas, uma importante reserva de cavalos48. Boa parte deles seria obtida — tal como sucedia com as armas — através de legados testamentários, alguns dos quais extremamente generosos, como no caso de Sancho I, que deixou aos freires de Évora — a futura Ordem de Avis — 5 000 morabitinos e “omnes alios equos et mullas de sella et azemalas”49. Também Sancho II deixou expressa no seu primeiro testamento, a vontade — ainda assim nunca concretizada — de entregar metade dos seus cavalos à Ordem de Avis e a outra à de Santiago50. Atente-se ainda no caso da infanta D. Mafalda, filha de Sancho I, que determinou a entrega aos freires de Avis de um número considerável de montadas51. Mas na maior parte das situações conhecidas, os legados eram bem mais modestos, como no caso de Mendo Moniz que, em 1143, deixou à Ordem do Templo, para além das suas armas defensivas e ofensivas, o seu cavalo52. Como sublinha Alain Demurger, o hábito de deixar o cavalo e/ou o armamento a uma ordem militar tinha, para quem legava, a dupla vantagem de saber que podiam continuar a ser utilizados na guerra e, simultaneamente, de servirem como pagamento pelos sufrágios que, como contrapartida, seriam celebrados pela alma do testador53. E embora um número substancial de cavalos fosse também obtido pelas ordens militares durante as incursões conduzidas contra território inimigo, o que deve ter assegurado importantes ingressos durante os períodos de actividade militar mais intensa — designadamente durante a Reconquista —, tudo indica que, muitos outros seriam comprados aos criadores e comerciantes. No entanto, por inícios de Trezentos seriam maioritariamente oriundos das coudelarias existentes nos próprios domínios das ordens, à semelhança aliás do que era

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praticado, desde cedo, em Leão e em Castela. Veja-se, por exemplo, o convento de Vilar das Donas — da Ordem de Santiago — que chegava mesmo a pagar as suas compras com cavalos, tal seria o elevado número de montadas que aí se criavam54. De facto, temos algumas indicações que permitem apontar para a existência de coudelarias nos domínios dos Santiaguistas, designadamente junto da fortaleza de Alcácer, como foi já demonstrado por Teresa Lopes Pereira55. Mas esta não seria a única ordem a fazê-lo. Veja-se também a Ordem do Hospital, que possuía uma coudelaria – sobre a qual nada mais se conhece – junto do castelo da Amieira56. Observe-se também o caso dos Templários, que é muito possível que se tivessem dedicado a essa mesma actividade, pelo menos em alguns dos seus domínios, eventualmente na região beirã, onde possuíam extensos senhorios e onde temos conhecimento da existência de diversas outras coudelarias57. Para isso aponta a menção, no testamento de Mem Gonçalves de Palmeira/Pereira, a um seu cavalo que foi “de militibus templi” e que terá sido deixado a Martim Fernandes Pimentel58. É mesmo possível que alguns dos cavalos criados nos domínios da Ordem do Templo tivessem como destino final a Palestina, como sucedia, aliás, em muitas outras comendas templárias espalhadas pela Europa e conforme é sugerido pela Regra dos Templários59. Mas é a Ordem de Avis que, pelo menos a avaliar pelas fontes de que dispomos, mais parece ter investido na criação de cavalos, designadamente de montadas destinadas a uso bélico, utilizando para isso alguns dos seus senhorios alentejanos; por um lado, porque era esta a sua principal região de implantação e, por outro, porque aí existirem vastas pastagens e importantes fontes de abastecimento de água (assinale-se que um cavalo consome entre 36 a 54 litros de água por dia), motivo que levou também à instalação no Alentejo de diversas outras coudelarias, como as de D. João Peres de Aboim60, ou de João Vicente, vedor das obras do rei em Campo Maior61. A ligação da Ordem de Avis à actividade coudélica parece remontar a meados do século XIII, como sugere o facto de em 1273 a viúva de Domingos Pestana afirmar ter recebido daquela ordem um poldro, certamente criado nesses domínios62. É mesmo possível que o grande impulso dado à criação de cavalos pelos freires de Avis se deva à intervenção da infanta D. Mafalda — filha de Sancho I — que através do seu testamento de 1256, deixou à ordem a eguada que possuía nos seus domínios de Antuã63. Um dos casos melhor documentados é o da coudelaria que precisamente esta mesma ordem militar tinha nas proximidades do seu castelo do Alandroal, na qual, em 1366, se registava a existência de “seis eguas pardas de potros machos deste ano nadas (...) oito eguas pardas de potros femeas deste ano nadas (...) çinco potros machos de doos anos (...) çinco potros machos de senhos anos (...) hum cavalo branco das eguas de cavalagem (...) dez e nove egoas (...) e quatorze potros e potras tenrreiras”64. Ou seja, tratar-se-ia de uma eguada composta por 14 éguas em idade

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adulta, um número ainda assim pouco expressivo se comparado, por exemplo, com as 60 éguas de ventre que hoje integram a Coudelaria de Alter do Chão. No entanto, todas aquelas éguas do Alandroal tinham consigo crias de um ano de idade, a saber, oito potros e seis potras, o que terá permitido nesse ano uma elevada taxa de renovação do efectivo, aliás, tal como nos anos anteriores. De facto, àquelas éguas e respectivas crias acrescentavam-se ainda 10 potros machos com dois anos e 35 outros potros, que supomos de criações anteriores e que teriam já sido separados de suas mães, o que acontecia por volta dos dois anos de idade. Para além disso, esta coudelaria contava ainda com um garanhão (que no caso era, registe-se apenas a título de curiosidade, de cor branca), o suficiente para uma eguada desta dimensão, pois como afirmava D. Duarte, no “Regimento dos Coudéis”, publicado nas Ordenações Afonsinas, um “cavallo de cavallagem que seja fromoso, e bem pensado (…) segura vinte éguas”65. Ou seja, somados todos estes números, verificamos a existência no Alandroal de um total verdadeiramente impressionante de 74 animais. Os elementos de que dispomos não permitem, todavia, perceber que tipo de cavalos eram estes, embora seja possível tratar-se de cavalos de guerra (os célebres e possantes destriers) ou, mais provavelmente, de cavalos lusitanos, animais cuja mobilidade e vigor, e não tanto a sua dimensão e força, faziam deles montadas mais indicadas para o tipo de guerra praticado na Península Ibérica e cujo valor rondava, durante o século XIV, as 100–150 libras, um preço ainda assim ligeiramente inferior ao do armamento defensivo de um cavaleiro66. Em função dos poucos dados disponíveis, também não é possível descortinar qual o tipo de criação praticado pela Ordem de Avis na coudelaria do Alandroal. Todavia, pela referência à presença de apenas um semental, parece-nos que consistiria em seleccionar um reprodutor que reunisse as características desejadas para transmitir à sua prole e deixá-lo cobrir o maior número possível de éguas durante a época do acasalamento; ou então um outro método, mais exigente, que passava pela permanência dos garanhões e das éguas em estábulos separados e que consistia numa reprodução selectiva — tanto dos machos como das fêmeas — para evitar o cruzamento com éguas de menor qualidade, hipótese para a qual nos inclinamos67. Claro que estas coudelarias de maior dimensão, como a do Alandroal, exigiam um grande número de oficiais especializados, designadamente eguariços, ferradores, estribeiros, alveitares, azeméis, cavalariços, cevadeiros, etc … pese embora a circunstância de – tal como no caso dos oficiais encarregados do fabrico, reparação e conservação de armas — as fontes nada adiantarem a respeito da sua actividade nos domínios das ordens militares. A estes “especialistas”, que nem sempre seriam fáceis de encontrar, como era o caso dos alveitares68 (responsáveis pelo tratamento das doenças e ferimentos das montadas), juntava-se ainda um número considerável – tanto maior quanto a dimensão da coudelaria — de trabalhadores encarregados da prestação dos cuidados diários necessários ao bem-estar dos animais e relacionados com

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a sua alimentação e limpeza (lavagem e escovagem), com a condução das manadas para os pastos e com a manutenção e higiene diária das cavalariças (relembre-se que cada animal produz diariamente 20 kg de fezes e 20 l de urina e que enquanto esta pode ser responsável pela deterioração dos cascos dos cavalos, as fezes podem provocar problemas sanitários de proporções verdadeiramente epidémicas). Como se compreende, tudo isto seria extremamente oneroso e, quanto mais bem-sucedido era o criador — ou seja, quanto maior fosse o número de cavalos, como no caso da coudelaria do Alandroal — mais avultadas seriam as despesas com o pessoal, mas também com a alimentação e com as instalações dos animais69. Talvez por isso se registem diversas queixas contra algumas das dignidades das ordens militares — designadamente, de Avis e de Cristo —, acusadas, por um lado, de ocuparem indevidamente cavalariças alheias e, por outro, de confiscarem abusivamente alimento e palha para os seus cavalos70. Porém, pelo menos no caso das ordens militares, e em particular a de Avis — sem dúvida que o exemplo melhor documentado, mas que não seria certamente caso único —, todo o investimento feito nas suas coudelarias foi, tudo o indica, bastante compensador, talvez até economicamente lucrativo, já que um bom cavalo podia atingir preços muito elevados, o que talvez ajude a explicar a circunstância de o Alandroal se tratar de uma das três comendas mais rentáveis da ordem, segundo as Definições de 132771. E essa comercialização tanto se fazia a nível nacional, quanto nos mercados internacionais, para onde era escoada uma parte significativa da criação de equídeos portugueses, ainda que ao arrepio das limitações impostas pela monarquia à sua exportação, designadamente para o Norte de África e para a vizinha Castela72. Mas mesmo que não se destinassem à comercialização, estas coudelarias — desde que minimamente bem-sucedidas — acabavam sempre por se revelar um excelente investimento, quanto mais não fosse, porque conseguiam dotar os contingentes das ordens militares de um número suficiente de cavalos de boa qualidade, de modo a que mantivessem a elevada capacidade ofensiva que caracterizava estas instituições. Será precisamente esta enorme aptidão para apresentarem contingentes bem armados e bem montados, conseguida graças à existência de importantes arsenais e coudelarias, que, em articulação com a posse e/ou tutela de um número considerável de fortalezas, explica grande parte do sucesso destas instituições. E se a tudo isto juntarmos o facto de serem compostas por combatentes bem adestrados, aguerridos em combate, com um elevado grau de prontidão, sujeitos a uma disciplina rigorosa e que não estavam abrangidos por quaisquer limitações de tempo de serviço, para além de liderados por comandantes bem preparados e com uma grande experiência de combate73, facilmente se percebe que as Ordens Militares se tivessem convertido nos verdadeiros “profissionais da guerra” do período medieval.

Armas e cavalos: os arsenais e as coudelarias das Ordens Militares em Portugal na Idade Média

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Armas e cavalos: os arsenais e as coudelarias das Ordens Militares em Portugal na Idade Média

Notas Inéditas

1

Martins, 2007, p. 189.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

2

Monteiro, 1998, p. 80.

Chancelaria de D. Dinis, Livros 1 e 3

3 Vejam-se, por exemplo, os conflitos entre a Ordem de

Leitura Nova, Beira, Livro 1 Ordem de Cristo, Chancelaria, Livro 234 Ordem de Cristo, Documentos Régios, M 1 Ordem de Cristo, Doc. Particulares, M 2 Ordem de Cristo, Convento de Tomar, M 80 Ordem de Avis, M 2, 4 e 5 Ordem de Santiago, Convento de Palmela, Doc. Régios, M 1 Ordem de Santiago, Livro das Tábuas Ferradas, fl. 3v, de 1327, Maio, 26 Colegiada de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, M 5 Mosteiro de Alcobaça, 2ª Inc., M 9 Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, 2ª Inc., M 48 e 58 Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, Doc. Régios, M 3 Mosteiro de Almoster, M 8 Sé de Coimbra, 2ª Inc., M 69 Colecção Especial, Cx. 33 Gaveta VII, M 3 Capelas da Coroa, Livro 6 Arquivo do Cabido da Sé de Évora Pergaminhos dos Bacharéis, Pasta 1

Santiago e Afonso III a propósito de algumas das praças-fortes que a ordem dominava em território algarvio, designadamente Tavira, Cacela e Castro Marim, que os Santiaguistas acabariam mesmo por perder em 1271– –1272 (Marques, 1994; Martins, 2007, pp. 209–210).

4 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Chan-

celaria de D. Dinis, Livro 3, fl. 28, de 1303, Setembro, 17; ANTT, Ordem de Cristo, Chancelaria, Livro 234, fl. 101v, de 1303, Setembro, 17.

5 Barroca, 2000b, pp. 206–207. 6 ANTT, Ordem de Avis, M 4, doc. 369, de 1305, Janeiro,

1; ANTT, Chancelaria de D. Dinis, Livro 3, fl. 36, 1305, Janeiro, 1.

7 Martins, 2011, pp. 246–247. 8 Estas forças participaram, entre outras acções arma-

das, na conquista da praça-forte de Teba (Monumenta Henricina, Vol. 1, doc. 78, pp. 167–168, de 1332, Setembro, 7). Sobre esta intervenção, cf. Sánchez, 1995, pp. 161–162; García Fernández, 1987, pp. 206–207. Porém, esta não terá sido a única presença dos freires da Ordem de Cristo em campanhas na fronteira de Granada: “E hi estevera o dicto meestre [D. Gil Martins, em Castro Marim] com outros quatro meestres que despois el forom guerreando e lidando contenuadamente per espaço de quarenta annos com os mouros de Graada e de belamarim” (ANTT, Colecção Especial, Cx. 33, doc. 3, de 1410, Outubro, 30).

9 Pero López de Ayala, “Cronica de Don Pedro Primero”,

Cap. I, p. 257. Este é um número apresentado também por Fernão Lopes que, muito provavelmente, se fundamentou nas cifras sugeridas pelo cronista castelhano: “E esto asesegado, no mes de janeiro de trezentos e noveenta e nove foi-sse el-rrei [de Castela] a Almançom, com muitas companhas que consigo levava, pera entrar no rreino d´Aragom; forom d´esta vez em sua ajuda seiscentos purtugueses, e hia por capitam d´elles o meestre d´Avis dom Martim do Avelaall” (Fernão Lopes, Crónica de Dom Pedro, Cap. XXXII, p. 232).

10 “E cercou [D. Pedro, rei de Castela] mais a cidade de

Taraçona e tomou-ha, e teendo-a cercada, chegou o meestre de Santiago de Purtugall dom Gill Fernandez de Carvalho com quinhentos cavalleiros e escudeiros mui bem guisados em sua ajuda, que lhe enviara el-rrei dom

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Pedro seu tio” (Fernão Lopes, Crónica de Dom Pedro, Cap. XXXIV, p. 240). Desta feita Fernão Lopes distancia-se de Ayala, que sugere um número um pouco mais modesto, na ordem das três centenas de cavaleiros (Pero López de Ayala, “Cronica de Don Pedro Primero”, Cap. IV, pp. 289–290). Este contingente, tal como o que foi reunido em 1361, contava com freires e seculares. Um dos que participou nesta campanha foi Pedro Rodrigues de Elvas, vassalo régio, atestado nesse ano como tendo ido em serviço do rei a Aragão (Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, doc. 859, p. 392, de 1363, Dezembro, 6). 11 García Fitz, 1994, pp. 168–169; Josserand, 2002,

pp. 194–198, entre outros. Para o caso português, veja-se Monteiro, 1998, p. 79; Martins, 2007, pp. 218–223.

12 Os “Estabelecimentos de D. Pedro Escacho”, de 1327,

estipulavam que “devemos nos meestre sobredicto e cada huum dos outros meestres que depos nos veerem tragam sempre continuadamente seis freires cavaleiros ao meos de cavalos e d´armas e nom seerem estes seis freires cavaleiros dos que teverem comendas nem dos do convento” (ANTT, Ordem de Santiago, Livro das Tábuas Ferradas, fl. 3v, de 1327, Maio, 26, pub. por Barbosa, 1998, p. 232). Muito naturalmente esta imposição resultava da necessidade de esses seis freires cavaleiros não terem qualquer outra função para, assim, se encontrarem disponíveis para acompanhar o mestre. Norma em tudo semelhante encontrava-se inscrita, por exemplo, na “Ordenação da Ordem de Cristo”, de 1321 (Monumenta Henricina, Vol. 1, doc. 73, p. 144, de 1321, Junho, 11).

13 A título comparativo, assinale-se que quando D. João

I — em inícios do século XV — pretendeu elaborar uma “hordenamça çerta” das lanças de que poderia dispor, estipulou que, no seu total, as ordens militares deveriam contribuir com 340 combatentes. A Ordem de Cristo caberia apresentar 100 lanças, tantas quanto a de Santiago, ao passo que a Ordem de Avis ficava incumbida de fornecer 80 lanças e a do Hospital apenas 60 (Monteiro, 1998, p. 83), o que revela que as duas primeiras teriam um número de freires superior à terceira e à quarta, sendo possível que essa hierarquização remontasse a períodos anteriores, pelo menos a finais do século XIII.

14 Paradigmático desta fragilidade do número de efecti-

vos é o caso da Milícia de Évora – que mais tarde viria a receber a designação de Ordem de Avis –, fundada por Afonso Henriques em 1175–1176 e que, no ano de 1195, em pleno processo de crescimento e de afirmação político-militar, perdeu um elevado número de

freires – entre os quais o seu primeiro mestre, Gonçalo Viegas de Lanhoso – na batalha de Alarcos. Esta situação parece ter conduzido a ordem a um longo período de dificuldades trazidas, não só pela desmoralização provocada por aquela derrota, mas acima de tudo pelo vazio de liderança e pela redução significativa dos seus efectivos. A própria concessão, em 1211, do lugar de Avis, com a condição de os freires aí erguerem um castelo – cláusula que terá sido integralmente cumprida até 1214 –, que viria a converter-se em sede da ordem, pode também ser entendida como consequência de uma certa fragilização, pois essa transferência implicava que os freires deixavam de ter como principal incumbência a prestigiante defesa da cidade de Évora, passando a centrar a sua missão numa região algo periférica, ainda que eminentemente fronteiriça (Martins, 2007, pp. 203–204). 15 Como parece indicar a ordem dada pelo mestre de Avis

aos moradores da comenda de Cabeço de Vide, determinando-lhes que substituíssem de imediato as montadas perdidas nas campanhas de 1336 e de 1337 (Chancelarias Portuguesas: D. Afonso IV, Vol. 2, doc. 105, pp. 199–200, de 1337, Julho, 21; Martins, 2005, p. 38). A este propósito, veja-se os agravos apresentados a D. Dinis pelo concelho de Tomar, em 1295, queixando-se do facto de as suas milícias concelhias serem mobilizadas pelas autoridades da Ordem do Templo e não pelos magistrados municipais (ANTT, Gaveta VII, M 3, doc. 10, de 1317, Setembro, 28), um problema que se reacendeu em 1335, durante o reinado de Afonso IV (ANTT, Ordem de Cristo, Chancelaria, Livro 234, Segunda Parte, fl. 133–134, de 1335, Março, 2). Situação semelhante foi vivida em 1324 com o concelho de Longroiva, desagradado com a forma abusiva como as suas milícias eram mobilizadas pela Ordem de Cristo (ANTT, Ordem de Cristo, Documentos Régios, M 1, doc. 11, de 1324, Junho, 12). Observem-se ainda os protestos da vila de Setúbal relativamente à Ordem de Santiago a respeito da jurisdição dos Santiaguistas sobre as milícias desse concelho (Marques, 1997, pp. 292–293).

16 Josserand, 2002: 200. 17 Seriam estes os indivíduos a que, por exemplo, os “Esta-

belecimentos de D. Pedro Escacho”, aludem identificando-os como os “outros homens sagraaes que comprirem pera servir a ordem” (ANTT, Ordem de Santiago, Livro das Tábuas Ferradas, fl. 2v–3, de 1327, Maio, 26, pub. em Barbosa, 1998, p. 232). No caso da Ordem de Cristo, talvez os possamos encontrar entre os “sergentes”,

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referidos, por exemplo, nas Ordenações de 1321 (Monumenta Henricina, Vol. 1, doc. 73, pp. 142–150, de 1321, Junho, 11. 18 Monteiro, 1998, pp. 88–90. 19 ANTT, Chancelaria de D. Dinis, Livro 1, fl. 61v, de 1308,

Janeiro, 16.

20 Veiga, 1940, pp. 164–165. 21 Monteiro, 2001, pp. 25–28. 22 ANTT, Ordem de Cristo, Doc. Particulares, M 2, doc. 20,

de 1336, Novembro, 29.

23 ANTT, Ordem de Avis, M 5, doc. 595, fl. 10v, de 1366,

Maio, 1; Monteiro, 1999, pp. 57–58; Barroca, 2000a (II/2), pp.1338–1339.

24 ANTT, Ordem de Avis, M 5, doc. 595, fl. 12, de 1366,

Maio, 1; Barroca, 1999 (II/1), pp. 1109–1113.

25 Monumenta Henricina, Vol. 1, doc. 73, p. 149, de 1321,

Junho, 11.

26 IAN/TT, Ordem de Santiago, Livro das Tábuas Ferradas,

fl. 3, de 1327, Maio, 26, pub. em Barbosa, 1998, p. 232.

27 Viterbo, 1965–1966, p. 585. Para que melhor se perce-

ba a dimensão dos contingentes destacados para cada uma das praças-fortes atribuídas às ordens militares, recorde-se os estatutos Santiaguistas de 1251, nos quais se determinava que em cada comenda da ordem deveria estar, pelo menos, um comendador acompanhado por um freire “residente”, dois homens de cavalo – provavelmente leigos – e cinco peões (Henriques, 2003, p. 63).

28 Monteiro, 1998, pp. 145 e 148–149. 29 Monteiro, 1998, p. 145. 30 Oliveira, 2009, pp. 234–235. 31 Estas bestas armavam-se da seguinte forma: o besteiro

curvava-se sobre a arma, prendendo, por um lado, o pé no estribo localizado no extremo posterior da besta e, por outro, a corda do arco no gancho que pendia do seu cinto. Para que a arma ficasse engatilhada bastava que endireitasse a perna que prendia o estribo e arqueasse um pouco o corpo para trás (Martins, 1997, p. 110).

32 ANTT, Ordem de Avis, M 5, doc. 595, fl. 10v, de 1366,

Maio, 1.

33 ANTT, Ordem de Avis, M 5, doc. 595, fl. 8–9, de 1366,

Maio, 1; Monteiro, 1998, pp. 148–149.

34 Bruhn de Hoffmeyer, 1988, p. 40.

35 Martins, 2007, p. 250. 36 De acordo com o novo alcaide, “o dicto castelo estava

faleçendo d´algũas coisas que lhy compriam e mostrou logo hũas cassas em que soo de poussar o alcaide, hũa cassa deanteyra toda descuberta de telha e a madeira deribada e quebrada a logares e a outra cassa que he descuberta de telha e diribada (…) huum cubelo do dicto castelo que sooya de seer cuberto peça dele descuberto e mal telhado e da telha meos peça dela (…) as escadas da tore grande da menagem bem a meadade sen degraaos que os nom tinha nem poderia nenhüa per ela sobrir acima (…) o sobrado da dicta tore de sobelo algube era velho e quebrado peça del de guissa que avia omem reçeeo d´andar em çiima del” (ANTT, Doc. Particulares M 2, doc, 26, de 1347, Julho, 4).

37 Monteiro, 2001, p. 13. 38 ANTT, Ordem de Santiago, Convento de Palmela,

Doc. Régios, M 1, doc. 26, de 1367, Novembro, 7.

39 Monteiro, 2001, pp. 36–38. 40 Martins, 2007, pp. 296–298. 41 Martins, 2007, p. 217. 42 Publicado em Monarquia Lusitana, Vol. 4, fl. 278. 43 Gomes, 2005, doc. 1, pp. 157–158, de 1143. 44 ANTT, Mosteiro de Alcobaça, 2.ª Inc., M 9, doc. 213,

de 1295, Dezembro, 10.

45 ANTT, Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, 2.ª Inc.,

M 58, alm. 10 dos Testamentos, M 5, doc. 9, da segunda metade do séc. XIII.

46 Ainda que as fontes portuguesas nada indiquem a esse

respeito, um exemplo proveniente do cartório da Ordem de Alcântara dá-nos essa indicação de forma clara: Fernán Sanchez, ao entrar naquela ordem, renunciou a todos seus bens, que entregou à instituição que o acolhia, excepto ao seu cavalo e respectiva loriga e às suas brafoneiras e loriga de corpo, que mantém na sua posse com autorização especial do mestre da ordem. Para além disso, fez ainda entrega à ordem de três lorigas de cavalo e duas lorigas de corpo com brafoneiras (Colección Diplomática Medieval de la Orden de Alcántara (1157?–1494), doc. 282, p. 171, de 1257, Maio, 2).

47 Monumenta Henricina, Vol. 1, doc. 73, p. 149, de 1321,

Junho, 11; Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Ordem de Cristo, Doc. Particulares, M 2, doc. 5, de 1323, Fevereiro, 1; Monumenta Henricina, Vol. 1, doc. 74, p. 151, de 1326, Agosto, 16; ANTT, Ordem de Santiago,

327

328

v – fortificações, processos de territorialização e de militarização

Livro das Tábuas Ferradas, fl. 3, de 1327, Maio, 26, publicado em Barbosa, 1998, p. 232. 48 Veiga, 1940, pp. 164–165. 49 Monarquia Lusitana, Vol. 4, p. 260v. 50 Monarquia Lusitana, Vol. 4, p. 169v. 51 Publicado por Coelho, 2005, doc. 16, pp. 77–80,

de 1256.

52 Publicado por Gomes, 2005, doc. 1, pp. 157–158,

de 1143.

53 Demurger, 2005, pp. 189–190. 54 Lomax, 1965, p. 136. 55 Pereira, 2000, p. 147. 56 Conde, 2000, Vol. 1, p. 94. 57 ANTT, Leitura Nova, Beira, Livro 1, fl. 63, de 1352,

Janeiro, 16; Martins, 2007, p. 313.

58 Publicado por Gomes, 1997, pp. 175–177, doc. 8, da pri-

meira metade do século XIII.

59 Upton-Ward, 2006, p. 224. 60 Livro dos Bens de Dom João de Portel, doc. V,

p. LXXVII, de 1291, Março, 26, em traslado de 1305, Maio, 21.

61 Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, doc. 1097,

pp. 515–516, de 1366, Abril, 20.

62 ANTT, Ordem de Avis, M 2, doc. 167, de 1273, Janeiro. 63 Publicado por Coelho, 2005, doc. 16, pp. 77–80,

de 1256.

64 ANTT, Ordem de Avis, M 5, doc. 595, fl. 11v, de 1366,

Maio, 1.

65 Ordenações Afonsinas, Vol. 1, Título LXXI, Cap. VII,

p. 493.

66 Martins, 2007, pp. 322–324 e 288–289. 67 Davis, 1989, pp. 36–37 e 40–41. 68 As fontes não dão a conhecer um número muito ele-

vado de alveitares, o que pode ser entendido como um indicador da dificuldade sentida, quer por criadores quer por proprietários, em encontrar indivíduos habilitados para o tratamento das doenças e dos ferimentos das montadas. No entanto, parece-nos que seriam raras as grandes cidades que não tinham, pelo menos, um destes “especialistas”. Em Coimbra, por exemplo, encontramos Estêvão Anes, com actividade

registada entre 1315 e 1337 (ANTT, Sé de Coimbra, 2.ª Inc., M 69, apenso ao doc. 2528, de 1315, Março, 13 e ANTT, Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, Doc. Régios, M 3, doc. 32, de 1337, Maio, 7); em Évora encontramos Mestre Nicolau, em 1334 (Arquivo do Cabido da Sé de Évora, Pergaminhos dos Bacharéis, Pasta 1, doc. 21, de 1334, Novembro, 20); em Santarém, as fontes apontam-nos os nomes de Domingos Mendes, em 1337 (ANTT, Colegiada de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, M 5, doc. 81, de 1337, Abril, 6), e de João Afonso, registado entre 1353 e 1363 (ANTT, Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, 2.ª Inc., M 48, doc. do alm. 34, m. 9, n. 29, de 1353, Abril, 22; ANTT, Capelas da Coroa, Livro 6, fl. 156–157v, de 1363, Maio, 26); enquanto em Lisboa temos conhecimento – para além de João Bartolomeu, alveitar do rei (ANTT, Mosteiro do Salvador de Lisboa, M 25, doc. 493, de 1307, Dezembro, 16, em traslado de 1334, Junho, 13) – de Domingos Peres, em 1344 (ANTT, Mosteiro de Almoster, M 8, doc. 2, de 1344, Setembro, 28). 69 Davis, 1989, pp. 44–45. 70 Chancelarias Portuguesas: Reinado de D. Afonso IV;

Vol. 1, doc. 374, pp. 385–386, de 1330–1336; ANTT, Ordem de Cristo, Convento de Tomar, M 80, doc. 6, de 1325, Junho, 16.

71 Oliveira, 2012, Vol. 1, pp. 377–378. 72 Monteiro, 1998, pp. 161–162; Martins, 2007, pp. 320–321. 73 Carlos de Ayala Martínez considera que para o su-

cesso das ordens militares contribuíam, em primeiro lugar, “a sua estrutura hierarquizada, fundamentada no compromisso sagrado do voto de obediência, que se traduzia por elevados níveis de disciplina. Em segundo lugar, uma qualificada especialização em determinadas acções de risco, baseada num adestramento permanente, do que não temos provas evidentes, mas pressupõe-se. Por último, a projecção de uma imagem perfeitamente identificada com o mais agressivo dos ideais de Cruzada, muito rentável tanto pela atracção que representava para os cristãos, como pela desmoralização que podia exercer nos adversários” (Ayala, 2005, pp. 24–25).

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