Arqueologia de Género: uma breve introdução / Gender Archaeology: a brief introduction (2012)

June 4, 2017 | Autor: Tiago Gil | Categoria: Gender Archaeology, ARQUEOLOGIA DE GENERO
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TIAGO GIL

Vénus de Brassempouy Vénus de Willendorf

Vénus de Laussel

Vénus de Dolní Vestonice

Vénus de Moravany

Vénus de Savignano

“La Femme n’est pas inferieur a l’Homme” (1750) - Madeleine de Puisie

O que é o Género?

«Gender is best understood as a set of values that assign gendered meaning to behaviour and affect that behaviour. Through such meaning, culturally specific notions of femininity and masculinity, of what it means to be woman or a man… are constructed». (Sørensen 2000, 52)

Arqueologia de Género 1ª onda feminista: - Desafiar construções tradicionais do conhecimento do passado (papel social da mulher). - Tornar o género visível no registo arqueológico. - Reclamação da mulher enquanto sujeito activo. - Expôr e corrigir inadequações entre homem / mulher e a prevalência do Androcentrismo.

2ª onda feminista: - Desenvolvimento da Queer Theory (performance). - Emergência de uma perspectiva “Masculinista”. - Diferenciação cultural do género (ultrapassa a prevalência da biológica). 3ª onda feminista: - Adopção do género como uma categoria analítica na organização do registo arqueológico. - Ênfase na natureza fluída do género. Hodder (1997: 75): “this can give the impression of changing one bias (male sexist) for another (female centred)”.

“Archaeology and the study of Gender” (1984) - Margaret Conkey e Janet Spektor

«The following review of archaeology and the study of gender should make it clear how' archaeology has substantiated a set of culture specific beliefs about the meaning of masculine and feminine, about the capabilities of men and women, about their power relations, and about their appropriate roles in society» (p.11) «We illustrate that archaeologists, consciously or not, are propagating culturally particular ideas about gender in their interpretations and reconstructions of the past.» (p. 12)

«The research problems that have been emphasized are not inherently more important than others nor are they necessarily relevant in many of the cultural contexts examined. They do reflect the perspective of the dominant gender, race, and class of the researchers.» (p.14) Conkey M., Spector JD. 1984. Archaeology and the study of gender. Adv. Archaeol. Meth. Theory 7:1–38

Socio-politics and the woman-athome ideology (1985) -Joan Gero «We are alerted to certain strong parallels between the male who populates the archaeological record-public, visible, physically active, exploratory, dominant, and rugged, the stereotypic hunter-and the practicing field archaeologist who himself conquers the landscape, brings home the goodies, and takes his data raw! Not only does the public uphold this image of the archaeologist, but the archaeologist himself concurs. Corresponding, then, to the stereotyped male, we expect to find the female archaeologist secluded in the base-camp laboratory or museum, sorting and preparing archaeological materials, private, protected, passively receptive, ordering and systematizing, but without recognized contribution to the productive process.

The woman-at-home archaeologist must fulfil her stereotypic feminine role by specializing in the analysis of archaeological materials, typologizing, seriating, studying wear or paste or iconographic motifs. She will have to do the archaeological housework.» (p344) Gero, J. (1985) - "Socio-Politics and the. Woman-at-Home Ideology," American Antiquity, 1985, 50:342-350

«We argue that the archaeological "invisibility" of females is more the result of a false notion of objectivity and of the gender paradigms archaeologists employ than of an inherent invisibility of such data.»

«There has been no rigor in the archaeological analysis of gender» (p. 15)

Man-the-Hunter , 1968 (Washburn, Lancaster e Laughlin) Este modelo inclui um conjunto de pressupostos acerca do homem e da mulher – as suas actividades, capacidades, relações um com o outro, posição social, o seu valor relativamente ao outro e a sua contribuição para a evolução humana – que reflectem os problemas do androcentrismo. O sistema de género é apresentado num modelo que suporta alguns dos, ainda, estereótipos de género contemporâneos.

1. Reconstruções exclusivas do passado humano; 2. Divisão sexual rígida (relação com espaços e artefactos ou actividades); 3. Diferente valor atribuido às actividades de cada género.

Gender and Archaeology - Roberta Gilchrist (1999)

Muito frequentemente os arqueólogos tendem a associar o género com espaços específicos e domínios fixos. Um desses exemplos é a divisão binária e exclusiva do espaço que relaciona o espaço doméstico com o género feminino e os espaços públicos com o género masculino (criando conceitos universais e estáticos de espaço) (Diaz-Andreu, 2005: 36).

A forma como o espaço é organizada e é investido de significado fornece aos arqueólogos informação acerca de como as categorias de género interagem e agem sobre ele. Essa estruturação e divisão espacial podem ser usadas para criar e manter uma hierarquia de género. É através da sua análise que os arqueólogos podem descrever e caracterizar as relações de poder e subordinação entre géneros. Gilchrist, R. (1999). Gender and Archaeology: Contesting the past. London: Routledge

O trabalho de Gilchrist (1994) em conventos e mosteiros ilustra como espaços específicos se podem relacionar com categorias de género específicas e o papel do espaço na manutenção de «identidades religiosas, mobilidade pessoal e percepções de sexualidade» (Gilchrist, 1994: 192).

Ao comparar a organização do espaço e as características arquitectónicas tanto dos conventos (nunneries) como dos mosteiros, Gilchrist identifica diferenças substanciais entre os géneros, sobretudo no que concerne à saúde, hierarquia espacial e o grau de seclusão (Gilchrist, 1994: 192). Noutra obra (1999: capítulo 6), a autora analisa a relação entre género e espaço num castelo medieval inglês, o ênfase é colocado na percepção do espaço pelos individuos e em compreender como essa percepção varia de acordo com o género, status social e idade.

Gilchrist, R. (1994). Gender and Material Culture: the archaeology of religious women. London: Routledge

Judith Butler e o conceito de

performance ► Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity (1990) ► Bodies that Matter: On the Discursive Limits of ‘Sex’ (1993) Questiona os pressupostos da existência inequívoca de um mundo bipolar (two-gendered world) nas sociedades do passado. Assume que o género não nos é dado, é produzido (ou concebido), um processo em constante mutação.

Judith Butler na Teoria da Arqueologia Rosemary Joice, tendo subjacente o trabalho de Butler, no seu artigo ‘Girling the girl and boying the boy’, analisa numa perspectiva etnohistórica e arqueológica o processo de formação do género na Mesoamérica Antiga (baseando-se no conceito de childhood). Daqui emergem várias temáticas como a de ‘pessoalidade’ (personhood), que se encontram no cerne da questão:

«Is the person a given entity or is a person ‘made’?» Ver: Fowler, C. (2004) The Archaeology of personhood . London: Routledge.

Resumindo… O género é socialmente construído, não apenas biologicamente (não negando as diferenças biológicas, mas reconheçendo que elas não são totalmente perscriptivas).

Mesmo se as relações de género entre homem e mulher são divididas biologicamente, temos que entender a importância social dessas diferenças e como se articulam O género é representado (performed) ; é uma construção social.

Existem mais do que dois géneros.

Em jeito de conclusão… Como podemos observar, tendo em conta o supracitado, o estudo de género não se resume a uma única metodologia ou abordagem, como Sara Nelson advoga «it has become a growing and difersifying subject within archaeology» (Nelson, 2006: 2).

Um dos exemplos que tem por base o grande desenvolvimento dos estudos de género em arqueologia nos últimos anos é o incremento de novas áreas de pesquisa, como por exemplo o estudo da infância (childhood) (Sofaer, 1997). A utilização dos estudos de género na interpretação dos vestígios arqueológicos provou ser bastante útil na compreensão das identidades sociais do passado (e a sua acção – ‘agency’).

O conceito de género mudou consideravelmente nas últimas décadas e as concepções binárias e essencialistas foram substituídas por abordagens mais amplas e multidimensionais.

Os recentes desenvolvimentos no estudo do sexo e da sexualidade numa respectiva não-biológica e o desafio do discurso normativo do passado, fornecido pelo aparecimento da Queer Theory, poderão vir a ter um impacto maior na forma como os arqueólogos interpretam os vestígios do passado e aconselham uma abordagem mais holística que tenha em conta a complexidade das identidades de género e a sua variação, tanto cultural quanto temporal.

Muito Obrigado!

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