Arqueologia dos Sentidos / Archaeology of the Senses (2012)

June 4, 2017 | Autor: Tiago Gil | Categoria: Archaeology of the Senses, Arqueologia dos Sentidos
Share Embed


Descrição do Produto

INTRODUÇÃO A Arqueologia dos Sentidos… - não se reporta à tentativa de 'reconstrução' dos sentidos e experiências sensoriais das comunidades do passado ou procurar sentir como as comunidades do passado sentiram o mundo e os outros seres que os rodeavam (HAMILAKIS, 2011: 208) - nem tão pouco uma tentativa de produzir uma história de longo termo sobre as modalidades sensitivas da Humanidade, desde a Pré-história ao Presente. - Uma vez que as experiências sensoriais são histórica e socialmente específicas e os nossos corpos e modalidades sensitivas são produtos do próprio tempo em que vivemos e da sociedade em que nos inserimos. - não se trata de uma subdisciplina da Arqueologia, uma vez que os sentidos não ocupam o mesmo substrato ontológico que, por exemplo, a cerâmica (HAMILAKIS, 2011: 208).

INTRODUÇÃO A Arqueologia dos Sentidos …

- também passa pela tentativa de chegar às experiências sensoriais do passado; - mas procura entender como as comunidades do passado produziram as suas subjectividades, as suas identidades colectivas fundadas na experiência do que as rodeava; como elas viveram as suas rotinas diárias e construíram as suas próprias histórias, através das experiências sensoriais da matéria, de outros seres animados e inanimados, humanos, animais, plantas, entre outros (HAMILAKIS, 2011: 208).

A Arqueologia dos Sentidos procura atingir a «pele e a carne do próprio mundo» (HAMILAKIS, 2011: 208).

“The senses form a bridge between the inwardness of the individual consciousness and the material and social worlds in which he or she exists” (Jackson 1996, Ingold 2000)

Percepção: “not a passive activity, patterns of action deeply influence the manner in which we are sensitized to the “ (Lakoff and Johnson 1999;Clark 1997). “People learn how to use their senses rather than deploying natural capabilities of the body” (Howes 1991, 2003;Classen 1993) “Human senses are part of the set of physiologically grounded human skills which render a world intelligible and workable.”

A FILOSOFIA E OS SENTIDOS

“The forming of the five senses is a labour of the entire history of the world down to the present” - Karl Marx, Economic and Philosophical Manuscripts (1844)

Sentidos – parte animal Mente – superioridade epistemológica e metafísica

Acreditavam que o corpo e os sentidos deviam ser aproveitados com moderação.

Antirippus: “Pleasure is an end in itself” Empedokles : “The senses are only one way and all ways may be valid”

Aristóteles: “for even apart from their usefulness they are loved for themselves” – discute os 5 sentidos, hierarquizando-os: Visão Audição Olfacto

Paladar Tacto

Humanos

Animal

CRISTIANISMO O ‘bom’ foi criado por Deus. Os sentidos conduzem ao pecado, ao inferno e à desgraça. Sentidos vs Espírito ou Corpo vs Mente S. Paulo: “Bodily desires lead to hell”

RENASCENÇA Montaigne – conjuga os contributos dos antigos e dos do seu tempo

Thomas Hobbes: “there is no conception in a man's world which has not at first, totally, or by parts, been begotten upon the organs of sense” Rene Descartes – desacreditou os sentidos - “it is easier not to trust entirely to any thing by which we have once been deceived” - “Cogito ergo sum” (Penso, Logo existo) representação do dualismo corpo-mente.

Locke – descreveu entusiasticamente os sentidos como “this great source of most of the ideas we have” Hume – foi o primeiro a reverter a filosofia tradicional da dominação da razão sobre os sentidos - “The senses do not necessarily imply Hedonism; they may simply imply sense: common Sense”

Hegel – na senda de Platão não menciona o tacto enquanto sentido, para ele os sentidos não são fenómenos morais, mas sistemas de sobrevivência física. Like. Marx – é através dos sentidos e do corpo, num trabalho produtivo e reprodutivo, que as pessoas produzem e se reproduzem a elas próprias

Os sentidos noutras disciplinas: anthropology of the senses, material culture studies, psychology, critical museology, history and art history. Há uma grande controvérsia e discussão em torno da redefinição dos sentidos: - individualmente; - em interacção, um com o outro; - em interacção com o ambiente; - em interacção com a cultura material.

- Visão: o sentido primário? * a pesquisa e interpretação dos objectos possibilitou a classificação dos artefactos; * a importância e o simbolismo da cor (Thedeen in Fahlander and Kjellstrom 2010). * as qualidades estéticas dos artefactos, separando artefactos masculinos e femininos (Hinnersson-Berglund 2005). - Audição: o segundo sentido. * Sinos de Igrejas como marcadores territoriais (Alain Corbin 1994). * Arte rupestre e o som da água em Namforsen (Joakim Goldhahn 2002). ‘Soundscapes’: interesse nasce da fenomenologia da paisagem.

Os sentidos secundários: - Olfacto: • Usualmente mencionado num contexto negativo (Fahlander and Kjellstrom 2010, Nilsson-Stutz 2004). • Pode reflectir o controlo de um ambiente (Regner 2009). • O Olfacto e o sentido de espaço ou etnicidade (Fahlander and Kjellstrom 2010). - Tacto: * uso na investigação arqueológica * o sentido dos megálitos (Tilley 2004). * transmissão de poder através do toque em objectos sagrados. - Paladar: * investigações acerca do consumo de comida e bebida (Hamilakis)

- São estes sentidos por eles próprios ou uma amálgama de todos os outros sentidos?

- Casos de estudo: Richard Bradley (1993): alterações dos sentidos de tempo e espaço através da alteração da paisagem durante o Neolítico. Peter Wilson (1988): argumento similar, baseado na domesticação humana.

- “The aim is not to explain the world (in terms, say, of physical causality or historical events or psychological dispositions) but to describe the world as precisely as possible in the manner in which human beings experience it.” Tilley 2004. - Dimensão subjectiva (cognição, emoções) – diferentes densidades da experiência humana (corpo) – variável;

- “Human body is a focus for the perception of a humanized world” (TILLEY,

1994: 12)

‘Fazer sentido do mundo que nos rodeia’ captura a relação essencial entre os objectos e a experiência corporal humana.

- A cultura material afecta-nos através dos nossos sentidos;

- A apreensão do mundo não é puramente fisiológica; - Cada cultura apreende o mundo de diferentes formas; - As formas culturais instituídas educam os sentidos;

- Os corpos humanos são objectos materiais com propriedades físicas; - Os objectos interferem na condução das relações sociais (index da acção humana); - Cada cultura cria o seu próprio ambiente sensorial, tanto físico através da construção

do mundo material com o seu conjunto de propriedades sensoriais, como cultural, através do ênfase de certos sentidos em detrimento de outros; Gosden, C. 2001. Making sense. World Archaeology 33(2): 163-67.

«The attempt to appreciate the sensory worlds of others, distant in time and place, necessitates an unlearning: that we subject to scrutiny our sensory education, of which the prejudice towards vision is only one part.» (GOSDEN, 2001: 166)

«Each cultural form creates cultural difference through an education of the senses which links people to objects and to each other in particular ways. Social life is composed in large part of the links between people and things in which the values attached to objects are a crucial means by which values are attached to relationships.» (GOSDEN, 2001: 167)

«The experiences of pleasure, pain, comfort or sensory over-load are all culturally specific and

derive from a complex interaction between our bodies and the world around us. The exact experiences of people in the past may well elude us, but the ways in which they set up worlds that made sense to them is available to us through an appreciation of the sensory and social impacts of the objects that formed the fabric of past lives.» (GOSDEN, 2001: 167) Gosden, C. 2001. Making sense. World Archaeology 33(2): 163-67.

Algumas ideias essenciais a (re)pensar… O que falta… - Estudo integrado de todos os sentidos, dando a todos o mesmo nível de

importância; - A Fenomenologia continua a privilegiar a visão e a audição;

- Introduzir capacidades de percepção sensorial na prática arqueológica; - Mais ênfase na função dos nossos

sentidos em conjugação com outros (Hamilakis, 2002);

REFERÊNCIAS Bacci, F. and Melcher, D. (eds) 2011. Art and the Senses. Oxford: Oxford University Press. Bennett, T. 1998. Pedagogic objects, clean eyes and popular instruction: on sensory regimes and museum didactics. Configurations 6(3): 345-71.

Brück, J. 2005. Experiencing the past? The development of phenomenological archaeology in British Prehistory'. Archaeological Dialogues 12: 45-72. Csordas, T.J. (ed) 1994. Embodiment and Experience. Cambridge: Cambridge University Press Edwards, Elizabeth, Gosden, Chris, and Ruth B. Philips, eds., 2006. Sensible Objects: Colonialism, Museums and Material Culture. Oxfrod: Berg. Especially the Introduction. Falk, P. 1994. The Consuming Body. London: Sage. Gheorghiu, G. 2009. Artchaeology: A Sensorial Approach to the Materiality of the Past. Buchaerst: Unarte.

referências Gosden, C. 2001. Making sense. World Archaeology 33(2): 163-67. (plus other articles from the same volume). Howes, D. 2003. Sensual relations: Engaging the Senses in Culture and Social Theory. Ann Arbor, MI: Michigan University Press. (ed.), 2005. Empire of the Senses: The Sensual Culture Reader. Oxford: Berg. (ed.), 2009. The Six Sense Reader. Oxford: Berg. Esp. the Introduction. Hamilakis, Y. Anagnostopoulos, A. and Ifantidis, F. 2009. Postcards from the edge of time: archaeology, photography, archaeological ethnography (a photo-essay). Public Archaeology 8(2/3): 283-309. Hamilakis, Y. Pluciennik, M. and Tarlow, S. (eds). 2002. Thinking Through the Body: Archaeologies of Corporeality. New York: Kluwer . Especially the Introduction. Hamilakis, Y. 2011. Archaeologies of the senses. In Insoll, T. (ed). The Oxford Handbook in the Archaeology of Ritual and Religion. Oxford: Oxford University Press. Ingold, T. 2000. Stop, look and listen: vision, hearing, and human movement. In The Perception of the Environment. London: Routledge, pp. 243-287. Jones, A. 2001. “Drawn from Memory: The Archaeology of Aesthetics and the Aesthetics of Archaeology inEarlier Bronze Age Britain and the Present”. World Archaeology, Vol. 33, No. 2, Archaeology and Aesthetics, pp. 334-356

REFERÊNCIAS Merleau-Ponty, M. 1962. Phenomenology of Perception. London: Routledge. “Preface” and the “Sense Experience”. Jütte, Robert 2005. A History of the Senses: From Antiquity to Cyberspace. Cambridge: Polity. Seremetakis, N. 1994. The Memory of the Senses, Part I: marks of the transitory. In (ed.) The Senses Still: Perception and Memory as Material Culture in Modernity. Chicago: Chicago University Press. Pp. 1-22. Skeates, R. 2008. Making sense of the Maltese Temple period: an archaeology of sensory experience and perception. Time and Mind 1(2): 207-238. 2010. An Archaeology of the Senses: Prehistoric Malta. Oxford: OUP. Thomas, J. 1993. The politics of vision and the archaeologies of landscape. In Bender, B. (ed). Landscape: Politics and Perspectives. Oxford: Berg. Thomas, J. and Oliveira Jorge, V. (eds) 2008. Archaeology and the Politics of Vision in a Post-modern Context. Cambridge: Cambridge Scholars Publishing. Tilley, C. 2004. The Materiality of Stone: Explorations in Landscape Phenomenology. Oxford: Berg. 2008. Body and Image: Explorations in Landscape Phenomenology 2. Walnut Creek, CA: Left Coast Press.

Muito obrigado!

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.