ARQUÉTIPOS E MITOS: FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE LITERATURA EM SALA DE AULA

June 4, 2017 | Autor: F. Mota Diniz | Categoria: Literature, Archetypes, Ensino, Myths, Arquetipos, Mitos
Share Embed


Descrição do Produto

ARQUÉTIPOS E MITOS: FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE LITERATURA EM SALA DE AULA.

Fábio Gerônimo Mota Diniz*

RESUMO: O objetivo deste trabalho é recuperar, através de alguns elementos da cultura pop, os arquétipos e mitos que interligam o imaginário do aluno e a literatura e, a partir disso, elaborar procedimentos e estratégias metodológicas para o ensino de literatura em sala de aula. Partimos do pressuposto de que nossa cultura pop é extremamente referencial, fundamentada na intertextualidade e, portanto, trabalha sobre um arcabouço de elementos comuns que encontramos repetidas vezes e que remetem à nossa tradição artística e cultural. Ou seja, se os alunos são fascinados por personagens populares como os das histórias em quadrinhos, super-heróis e heróis de livros infantis, esse pode ser o ponto de partida para introduzi-los aos heróis literários e, de tal modo, à literatura, sem perder de vista o valor de seu próprio arcabouço cultural. ABSTRACT: The main objective of this paper is to restore, through some elements of the pop culture, the archetypes and myths that link the student’s imaginary to literature and, from this, to elaborate methodological procedures and strategies for literature teaching in the classroom. We begin from the assumption that our pop culture is extremely referential and, as it’s grounded in intertextuality, therefore, it works on a framework of general elements that we find several times and that refer to our artistic and cultural tradition. In other words, if the students are fascinated with popular characters as the ones of the comics, superheroes and the children’s book heroes, this could be the starting point to introduce them to literature heroes and, in this way, to literature, without losing sight the value of their own cultural framework.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Educação. Arquétipo. KEYWORDS: Literature. Education. Archetype.

INTRODUÇÃO Um dos problemas mais comuns enfrentados por professores de literatura, em quaisquer níveis, é o da falta de interesse dos jovens pela leitura. A literatura, para muitos alunos, apresenta-se como algo estranho, e é observada por eles como algo distante da realidade da qual fazem parte. Isso se deve muito à própria linguagem literária, que possui especificidades que, se por um lado a definem como arte, por outro se impõem como obstáculo para sua compreensão mais profunda àqueles que ainda são parcialmente leigos na lida com as ferramentas de abordagem textual. Além disso, outro fator gerador desse distanciamento é a incapacidade de compreensão por parte dos alunos da relação entre o ensino de literatura e seu aprendizado em seu nível mais prático e objetivo. É INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

1

fato que, cada vez mais, a necessidade da presença da literatura no ensino escolar vem desabando diante da recusa à leitura por parte dos alunos – posto que não se problematiza nem a presença, tampouco a necessidade, diante de uma sociedade estabelecida sob os ditames do imediatismo e do utilitarismo. Não raro, ouvir-se-ão vindos destes estudantes questionamentos sobre a literatura: “para que serve”, ou “qual a utilidade disso na minha vida”, ou “por que estudar isso”. Nesse sentido, alguns materiais didáticos, especialmente os apostilados, já vêm há muito tempo construindo um discurso reducionista que encaixa o conteúdo de literatura em pequenos grupos de épocas e autores, cujos trechos mais importantes substituem a leitura de grandes obras, bem como se apresentam resumos que dão conta dos textos que não serão lidos. Além disso, em favor do que os exercícios vestibulares exigem, muitos tem apostado mais nas capacidades e competências de leitura gerais que na compreensão específica de um grande autor do cânone. Diante desse quadro, qual seria o papel da literatura em sala de aula nos dias de hoje? Antônio Candido, em O direito à literatura, compara a literatura ao sonho, pois sem este não seria possível haver equilíbrio psíquico. Para ele, o “sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade”. Da mesma forma, a literatura seria o tipo de manifestação que garantiria o equilíbrio social por recuperar nosso elo com a humanidade, pois “cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo com os seus impulsos, as suas crenças, os seus sentimentos, as suas normas, a fim de fortalecer em cada um a presença e atuação deles” (CANDIDO, 2011, p.174-175). De tal modo, considerando as observações de Candido, há uma lacuna que a literatura preencheria. Essa lacuna, em nosso modo de ver, não se restringe, porém, à obra literária, mas parece ser preenchida pela arte como um todo. A pulsão para a arte como representação de todos os aspectos da vida que significam algo para o ser humano não parece ser algo difícil de reconhecer. Uma sequência hieroglífica em um templo do antigo Egito corresponde diretamente ao anseio religioso de religare, ou seja, de entrar em contato com o transcendente. Uma sequência que conta a história de um faraó falecido e enterrado naquele monumento não era escrita na pedra por qualquer homem, mas pelo escriba, que possuía importância tal que era alçado ao status de membro da corte. De tal modo, sua arte servia não apenas como uma narrativa em honra ao morto, mas como um ato de intermediação, que ao mesmo tempo presentifica o regente ausente, mantendo-o vivo na memória dos homens, e serve de ponte entre o mundo da realidade terrena e o mundo dos mortos. E se, ao mesmo tempo, o humano encontra nessa transcendência um imaginário que compartilha com o outro e que o religa a si, o que falta ao aluno, diante da possibilidade da transcendência, para cruzar essa mesma ponte? Falta a identidade. A identidade contemporânea, mediada pela era da informação e pelo advento das novas tecnologias deu origem a um indivíduo cada vez mais utilitarista e apegado a uma materialidade efêmera. São fenômenos palpáveis, como as redes sociais, os aparelhos celulares smartphone e outros que sustentam essa nossa afirmação – quase um clichê, de tanto que já se tornou corriqueira. Porém, é impossível ignorar esse fato quando o professor se posiciona diante de uma sala de aula em busca da atenção de INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

2

jovens para a literatura. E se, como afirma Candido, “cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo com os seus impulsos”, talvez o caminho para o docente seja buscar quais os impulsos e manifestações que se apresentam no contexto imediato da sala de aula, para que a dinâmica se estabeleça em prol da convergência entre o conteúdo programático – sobre o qual estabeleceríamos maiores críticas, se houvesse espaço para tal – e o universo do aluno. Ao fim, a proposta aqui apresentada equilibra o que acreditamos já estar em pé de igualdade: as manifestações impulsivas que movem a literatura e as que movem os alunos, em sua essência mais primordial, no seu imaginário. 1. CULTURA POP E O CÂNONE A cultura pop1, desde seu desenvolvimento mais massificado até a pop art de Andy Warhol, é altamente referencial. Ao selecionamos qualquer exemplo do caldo cultural contemporâneo mais mercadológico, encontraremos uma gigantesca gama de referências a diversos elementos da cultura humana, literária ou não. Isso acontece não apenas porque a arte é em si um processo referencial, impossível de ser dissociada de sua tradição e da(s) cultura(s) de que emerge, mas porque a arte chamada de pop está mergulhada em referencialidade. E, nesse sentido, ela possui elementos que se relacionam diretamente com o universo jovem, mesmo que não voltados a esse público, como observa Velasco: O pop é uma cultura jovem, mas não necessariamente voltada aos teenagers. As hibridações, a desterritorialidade e a ausência de fronteiras e limites bem definidos tornam o pop universal. Analogamente, não se pode mais falar de um público jovem atrelado a uma faixa etária pré-estabelecida, com limites bem demarcados. Culturalmente determinado, o conceito de jovem se dilatou de tal forma que não é mais possível dizer objetivamente quando se começa a juventude e quando se termina. Para Canevacci (2005, p.28) a elasticidade do conceito, ou, em suas palavras, “os jovens intermináveis”, se dá pelas mudanças que os ritos de passagem e os indicadores que apontam o fim da juventude vêm sofrendo na contemporaneidade e fazem com que haja esta elasticidade na autopercepção da condição de juventude. No pop, Peter Pan é o paradigma (VELASCO, 2010, p.128).

De tal modo, essa ausência de limites acaba por dar origem a um elemento cultural cuja delimitação é difícil, mas que permite um diálogo com quaisquer elementos da cultura, contemporâneos ou não. A cultura pop, no contexto da informação globalizada e imediata, acaba se tornando uma imensa “colcha de retalhos” de referências diversas, a partir das quais imaginamos ser possível traçar estratégias de identificação que construirão as pontes com o universo da literatura em sala de aula. Antes de mergulhar no procedimento, contudo, é de singular importância considerar o tipo de relação estabelecida entre o professor e o aluno no que diz respeito ao conteúdo apresentado em sala. A literatura dos currículos regulares ainda é, em larga escala, aquela considerada como parte de um cânone que, por seus valores intrínsecos, históricos e estéticos, serve de referencial cultural para a arte. Em suma, são apenas alguns autores mais valorizados pela academia e historicamente tidos como fundamentais para o florescimento das chamadas Escolas Literárias que são INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

3

apresentados ao aluno como sendo A Literatura – e aqui as iniciais maiúsculas não apenas fazem referência à disciplina em si, mas ao destaque diferencial em relação a outras manifestações artísticas. Essa postura de certa parcela da crítica literária – pois há algum tempo vários autores viram seu olhar para outra direção – é um dos motivos que afasta, pela nossa perspectiva, o aluno da literatura. Ao tratar a literatura apenas pelo viés do cânone e restringir a arte ao valor histórico e estético supostamente inerente a certos expoentes escolhidos pelos críticos, toda manifestação artística que não pertença a esse cânone é excluída, especialmente as que os alunos consomem. De tal modo, por mais que entendamos o valor da literatura e a possibilidade do estabelecimento de uma tradição, parece-nos que essa postura não se fundamenta em outro discurso que não o do elitismo cultural, que delimita quais seriam os discursos a serem valorizados em detrimento de outros para a constituição de uma ideia de cultura. Como observa Teixeira, ao comentar a famosa obra de Leyla Perrone-Moisés Altas Literaturas, essa postura, “aparentemente, é autoritária, na medida em que, em sua área de atuação – a crítica literária acadêmica – descarta a fluidez dos discursos” (2007, p.88). A chamada “alta literatura”, que ainda é o epicentro da educação literária escolar no Brasil, “não é democrática; ao contrário, é sectária e restritiva por circular, apenas, entre membros de uma elite, além de constantemente ser usada como arma de dominação” (2007, p.89-90). Ao ignorar o seu tempo, ao se posicionar diante do aluno a partir dessa perspectiva, o professor ignora o receptor da literatura, o leitor em potencial, e perde a possibilidade de efetivamente construir o espaço para a formação desse leitor. De tal modo: Sustentados por esse parecer, podemos afirmar que o ensaio Altas literaturas não leva em conta o cotidiano – sobretudo brasileiro – e impossibilita aos leitores (bem como aos amantes da literatura, em geral), a perspectiva de, pela sua subjetividade, organizar uma consciência política e a própria experiência de “estar no mundo”. Noutras palavras, Perrone-Moisés não parece atinar para o fato de haver outros discursos, outras formas de abordagens literárias. Todas elas, a serem expostas como vozes destoantes, e que atravessam o “seu” discurso, num processo, em amálgama, de consciência e de consistência. Diante de tais possibilidades, vemos que a teoria crítica não pode ser vista como um sistema fechado de verdades estabelecidas por quem escreve, lançando mão de seus próprios critérios de crítica. Mais do que isso, ela precisa ser vista como uma rede de interligações que se ramifica, provocando o pesquisador diante de seus objetos de apreciação, dado o compromisso que ele deve demonstrar pelo campo de sua inserção social (TEIXEIRA, 2007, p.89).

Considerando o que apontamos acerca do texto de Cândido, quando essa postura que Teixeira critica nega a subjetividade do leitor, ela se distancia justamente do fator humanizador da literatura, que se constrói “no subconsciente e no inconsciente”. De tal modo, o material didático, os vestibulares e os currículos ainda privilegiarem esse recorte da literatura pelo cânone é um impedimento ao usufruto do leitor à sua própria literatura. Destacamos aqui, ao lado do embate de Teixeira contra a postura elitista da crítica, a formação dos professores de literatura dentro das universidades, que ainda é INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

4

mediada pela concepção dicotômica que opõe “alta” e “baixa” literatura, ignorando toda a pluralidade de vozes que caracteriza sobremaneira a contemporaneidade e a era da informação. Assim, propor que nos utilizemos de instrumentos da cultura pop para a construção de leitores e para permitir o acesso à literatura, em nossa perspectiva, não é apenas construir uma escada que vai do “baixo” para o “alto”, mas uma ponte, que une elementos sem contaminar essa relação com juízos de valor elitistas. É fazer o aluno compreender que, guardadas suas características específicas e singulares, a cultura que ele consome e a cultura que lhe é apresentada como parte de uma tradição dialogam porque são parte da mesma cultura. Se o professor se utiliza do referencial pop tão somente para o acesso à literatura canônica, a estratégia de formação de um leitor naufraga no mesmo discurso elitista que criticamos anteriormente. Nossa proposta para concretizar a tarefa de estimular a leitura sem desconsiderar essas reflexões é buscar justamente na cultura pop essa referencialidade, ou seja, elementos que permitam (re)estabelecer a relação entre o pop e o erudito, tendo em vista essa perspectiva mais horizontal de ambas as manifestações artísticas. Acreditamos que um procedimento que pode ter boas consequências é um investimento nos personagens de ficção, especificamente em seu nível arquetípico. 2. MITOS, ARQUÉTIPOS E ARQUETIPOLOGIA A palavra arquétipo origina-se do grego antigo ἀρχή (arché), que significa „princípio‟, tanto no sentido de origem das coisas como no sentido de referencial, e τύπος (tipos), „impressão‟, „marca‟. Ou seja, é uma marca antiga, um elemento primordial que serve de referência, de ponto de partida. Foi um termo utilizado por filósofos neoplatônicos, e como tal designava os modelos ideais de todas as coisas existentes. Com a apropriação do termo feita pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que fundamentou nele boa parte de sua reflexão, se desenvolveu o conceito de inconsciente coletivo, que seria a parcela mais profunda da psique humana onde residiriam aqueles elementos que foram herdados por nós, como algumas imagens virtuais que seriam coletivas, ou seja, que seriam compartilhadas de maneira similar por todos os seres humanos. De tal modo, o inconsciente coletivo é compreendido como um grande arcabouço desses arquétipos, que influenciam de maneira determinante a psique humana. Para Jung, “no concernente aos conteúdos do inconsciente coletivo, estamos tratando de tipos arcaicos - ou melhor primordiais, isto é, de imagens universais que existiram desde os tempos mais remotos” (JUNG, 2000, p.16). Quando nos referimos aos elementos referenciais compartilhados pela cultura pop e erudita estamos justamente lidando com esses traços arquetípicos, que se identificam de maneira bastante clara em alguns produtos da cultura pop por possuírem um grande caráter imagético, pelo qual é possível encontrar símbolos que constituem esses arquétipos. Jung compreendia que, antes de herdar ideias ou conceitos abstratos, o inconsciente coletivo possui uma herança de símbolos, de imagens:

INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

5

[...] O arquétipo é um elemento vazio e formal em si, nada mais sendo do que uma facultas praeformandi, uma possibilidade dada a priori da forma da sua representação. O que é herdado não são as idéias, mas as formas, as quais sob esse aspecto particular correspondem aos instintos igualmente determinados por sua forma. Provar a essência dos arquétipos em si é uma possibilidade tão remota quanto a de provar a dos instintos, enquanto os mesmos não são postos em ação in concreto. [...] O modo pelo qual, por exemplo, o arquétipo da mãe sempre aparece empiricamente, nunca pode ser deduzido só dele mesmo, mas depende de outros fatores (JUNG, 2000, p.91).

O processo de representação simbólico que reside no arquétipo, de tal modo, remete para uma imagem que faz parte desse imaginário coletivo humano. E, tendo em vista reconhecer esses elementos funcionalmente, ou seja, para utilizá-los como ferramentas para o nosso trabalho com a literatura, enxergamos uma boa possibilidade de trabalho com o retorno aos mitos. O filósofo Gilbert Durand afirma que o mito é o discurso diretor da realidade, que reside no seu conteúdo simbólico indizível, ou seja, “mais que uma forma literária usual da Antiguidade, o mito é a rede de relações simbólicas que complementam – condicionam e dão sentido a – os horizontes mentais de toda cultura” (DURAZZO, 2013, p. 27). De tal modo, acreditamos que os mitos cumprem o mesmo papel humanizador da literatura, como observado por Candido, e mais que isso: são essencialmente as primeiras manifestações humanas capazes atuar no subconsciente e no inconsciente. E disso deriva sua relação intrínseca com o inconsciente coletivo. Ao observarmos em um dicionário a entrada referente à palavra μῦθος, podemos observar sua relação íntima com o discurso e a narrativa: “1 palavra; discurso; matéria de um discurso; [...] 3 narrativa; [...] 9. objeto do discurso ou da conversa; [...] 11. narrativa não-histórica; lenda; mito; 12. narrativa fabulosa ou mentirosa (op. a ἀληθές)” (DEZOTTI, M. C. C.; MALHADAS, D.; NEVES, M. H. de M., 2008, p.185). Ou seja, o mito é primordialmente palavra, mas não somente isso: ele é a palavra posta em movimento, tornada discurso, enunciação. Esse verbete nos apresenta sobremaneira o papel do mito diante do inconsciente coletivo pois, como narrativa, o mito é o último estágio de racionalização do imaginário, configurando-se como discurso e ressignificando o arquétipo – que em sua origem é, como observa Jung, apenas forma, imagem. Para Durand o mito nada mais é que “um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema, tende a compor-se em narrativa” (DURAND, 2002, p. 63). O mito dá origem ao procedimento metodológico de Gilbert Durand chamado de mitodologia, que se divide em mitocrítica – um método de crítica do texto literário, de um grupo textual de um autor ou de uma época que revela, por intermédio da repetição de certos mitemas2, uma narrativa fundamental e o(s) mito(s) que a movimentam – e a mitanálise – método de análise científica dos mitos, que busca “desvelar os grandes mitos diretivos, isto é aqueles responsáveis pela dinâmica social ou pelas produções individuais representativas do imaginário cultural, no tempo e no espaço. (NEVES, 2001, s/n)”. Como observa Bittencourt: A mitocrítica, portanto, refere-se a um método de crítica de discurso que centra o processo de compreensão no relato de caráter mítico para significar o emprego de um método de crítica literária, de crítica do discurso. Percebe-se, INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

6

por exemplo, a proximidade entre o discurso literário e o “texto cultural” do mito, destacando suas metáforas obsessivas e interpretando-as mediante o mito pessoal do autor. A mitanálise, por sua vez, é um método de análise científica dos mitos diretores, patentes e latentes, configurados nos fenômenos socioculturais. Trata-se, pois, do desvelamento dos movimentos míticos nas sociedades, considerando o contexto social, buscando pensar os mitos diretivos de uma dada sociedade, em um período de tempo (BITTENCOURT, 2011, p.163).

À nossa análise, essencialmente, interessa a mitocrítica, como uma possibilidade de encontrar esse “texto cultural” do mito que se desvela a partir da leitura do discurso da cultura literária e que, como observamos anteriormente, põe em diálogo a cultura consumida pelo aluno e a literatura tida como “canônica”, que faz parte do conteúdo curricular. Acreditamos que um método que parta da identificação dos arquétipos, do estabelecimento de mitos diretores e da compreensão desses elementos como parte do imaginário coletivo, unindo as pontas aparentemente distantes que separam o imaginário do aluno da literatura pode, sobremaneira, permitir a construção da ponte que buscamos. Assim, o que propomos fundamentalmente é uma arquetipologia, ou seja, um estudo e organização dos arquétipos que fundamentam os mitos que permeiam as narrativas culturais produzidas pelo imaginário humano. No caso específico da sala de aula, uma arquetipologia mitodológica trabalhará os arquétipos e mitos que fundamentam as literaturas, tanto aqueles que se relacionam com o contexto de produção, quanto aqueles que permeiam o imaginário coletivo ao longo de milhares de anos. Para tanto, ela se valerá de processos metodológicos fundamentados na mitocrítica e permitirá, acreditamos, a reunião entre o universo do aluno e da literatura sem juízos de valor que menosprezem um ou outro.

3. APLICAÇÃO PARA UMA ARQUETIPOLOGIA METODOLÓGICA Como exemplo de elemento da cultura pop atual que pode servir como ferramenta para esse trabalho, selecionamos uma obra recentíssima, o filme Os Vingadores (The Avengers, 2012), de Joss Whedon, baseado nos icônicos personagens da editora americana de histórias em quadrinhos Marvel Comics. É uma obra que, a priori, já trabalha num nível mais profundo de referencialidade, pois se trata de uma adaptação de um meio para outro, com uma distância de no mínimo 40 anos desde o surgimento nos quadrinhos dos personagens que participam do filme. De tal modo, podemos jogar com a iconografia de cada um dos personagens, em busca de como se constitui aquela imagem apresentada na tela do cinema, mesmo que fazendo uso de uma imagem comum de divulgação do filme, facilmente encontrada em buscadores na internet.

INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

7

Figura 1: Imagem de divulgação do filme Os Vingadores, disponível em: http://www.comingsoon.net/movies/news/88883-check-out-another-dozen-new-wallpapers-for-marvels-theavengers

A imagem dos personagens traz, imediatamente, várias referências visuais que apontam para múltiplos referenciais heroicos que fazem parte do imaginário humano. Há traços evidentes na iconografia dos Vingadores que abrem possibilidades de comparação com outros personagens da tradição literária, mítica e cultural humanas: Em primeiro lugar, vemos a centro o Capitão América, o símbolo do herói nacional (que ostenta as cores da bandeira de seu país), que se posiciona com sua “arma” à frente. A arma do personagem, o escudo, possui duas simbologias particulares: em primeiro lugar, não é em si uma arma, mas um item de defesa, o que pode representar o papel do Capitão como o defensor da nação e dos ideais dessa nação; os círculos concêntricos podem trazer à memória a clássica descrição do escudo de Aquiles na Ilíada de Homero (Il. XVIII, v.478-613), que trazia uma representação de todo o mundo helênico, especialmente das cidades em dias de paz – uma relação interessante entre o escudo como símbolo da nação, que traz à memória ainda as insígnias das famílias, casas e reinos em escudos medievais. Thor, em contrapartida, segura o famoso martelo Mjolnir da mitologia nórdica, pelo qual já é possível identificar o seu mais importante elemento: a profusão de raios, que indica – em contraste com o personagem anterior – que ele possui dons sobrenaturais e que esses dons serão sua principal característica. O protagonismo dos superpoderes de Thor na imagem reflete a natureza do próprio personagem, um deus, que está acima dos homens comuns e que é capaz de feitos extraordinários. Mesmo sem sabermos de quem se trata, a imagem traz esse conteúdo explícito no martelo. O Gavião Arqueiro, em contraponto ao Thor, aparece curvado, numa posição que denota um comportamento furtivo e, talvez, ousado na abordagem. Pensando-os como INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

8

um grupo de combate, a postura do Gavião antecipa seu papel diferenciado, de um personagem que se vale mais da habilidade furtiva que de poderes ou armas para combater. E, como a imagem demonstra, se trata de um arqueiro, um personagem que possui um histórico ligado à furtividade e à esperteza: mais uma vez voltando a Homero, encontramos no protagonista da Odisseia um habilidoso arqueiro que usa da esperteza e da furtividade para sobrepujar desafios muito maiores que ele. Atrás vemos o gigante Hulk, no qual dois traços se destacam imediatamente – além da pele verde, que denota mais uma vez a presença de um elemento fora da realidade natural: a testa franzida, transparecendo uma expressão de fúria que, combinado ao seu tamanho descomunal, trazem um ar de violência e brutalidade para o personagem. Porém, ao identificarmos o personagem além da iconografia, sabemos que essa brutalidade remete a uma tragédia pessoal, posto que o lado “heroico” de Hulk deriva de um acidente, uma situação indesejável, que traz diversos problemas para a vida de seu alter ego, Bruce Banner. De tal modo, esse personagem e encaixaria muito melhor na descrição de um herói trágico que a de um super-herói, por exemplo. Nick Fury se destaca pelo fato de ser o único afrodescendente da imagem, bem como pelo seu tapa-olho. O tapa-olho é um item da cultura associado normalmente à imagem do pirata, e não é algo distante da figura do líder da S.H.I.E.L.D. Além de ser um comandante de um porta-aviões voador (uma embarcação), Fury passa com o tapa olho um ar de mistério sobre seu passado – o que aconteceu em seu passado para que ele perdesse um dos olhos? – bem como traz um indicativo de sua habilidade – é um personagem que se destaca no combate ao lado de seres poderosos mesmo tendo um defeito que o causaria sérios problemas. Como os famosos piratas, Nick possui um passado misterioso, muita habilidade e um senso de liderança e autoconfiança que o garantem no papel de homem por trás da iniciativa Vingadores. A Viúva Negra, única mulher do grupo, destaca-se por dois aspectos fundamentais: o primeiro é seu cabelo avermelhado, que contrasta com a roupa negra e remete à figura que ela simboliza, a aranha que tem como hábito matar e devorar o próprio macho com o qual acasala e que, por isso, ganhou a alcunha de “viúva-negra”; o segundo são os seios avantajados, que apresentam uma das armas dessa viúva: a sedução. É impossível ignorar o conteúdo sexista da representação da femme fatalle como uma assassina cuja principal arma seriam suas curvas, mas é um estereótipo tão comum quanto funcional num grupo diversificado como este, e que remete a toda uma gama de personagens femininas que aliam sedução e letalidade3. O Homem de Ferro é o único personagem da imagem que cobre o corpo inteiro com uma armadura, que pode remeter de alguma forma a um cavaleiro de armadura, como os das trovas medievais. Porém, diferente dessa referência, uma das principais características do personagem Tony Stark é a confrontação com os códigos éticos e morais, pela sua personalidade indisciplinada e arredia, pelo seu envolvimento com o álcool e seu comportamento libidinoso. Quase um herói em formação, apesar de sua idade, Tony Stark apresenta características típicas de um anti-herói.

INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

9

O que podemos perceber, analisando a imagem de divulgação acima, é que somos plenamente capazes de depreender apenas pela iconografia as principais características desses personagens, sendo a única exceção a essa regra o Homem de Ferro. Mas esta exceção confirma a regra, por se tratar justamente de um anti-herói, que apresenta uma imagem heroica, mas que esconde uma série de características não heroicas. Mesmo assim, podemos pensar que o acesso a uma armadura pode representar ao mesmo tempo um ícone da fragilidade, já que ele é o único dentre seus companheiros a utilizar esse recurso para realizar os seus feitos heroicos, algo que nem personagens humanos comuns como a Viúva Negra, Nick Fury ou o Gavião Arqueiro fazem. A relação entre o exterior forte e o interior frágil, se não pode ser identificada imediatamente pela iconografia, pode ser depreendida facilmente em relação aos personagens que formam a equipe. Essa representatividade na iconografia, de tal modo, é um dos elementos que permitem facilmente identificar cada um dos membros dos Vingadores com vários outros personagens da cultura, seja literária ou não. Por intermédio dessas referências particulares a certos topoi heroicos, é possível recuperar certas obras que constituem ou a construção do personagem em si ou o imaginário que o circunda: Vingador

Topos heroico

Referências

Capitão América

Herói nacional

Aquiles (mitologia/Ilíada); Vasco da Gama (Os Lusíadas); Peri (O Guarani)

Thor

Super-herói

Thor (Mitologia); Aquiles (mitologia/ Ilíada); Hércules (mitologia)

Gavião Arqueiro

Herói astuto

Odisseu (Odisseia); Robin Hood (cultura popular);

Hulk

Herói trágico

Dr. Jeckyl/Mr. Hyde (O Médico e o Monstro); Gregor Samsa (A Metamorfose)

Nick Fury

Pirata

Long John Silver (A Ilha do Tesouro)

Viúva Negra

Femme fatale

Circe (mitologia/Odisseia); Morgana le Fay (crônicas arturianas); Salomé (Salomé)

Homem de Ferro

Anti-herói

Odisseu (Odisseia); Dom Quixote (Dom Quixote)

A sedimentação na figura dos Vingadores desses topoi, de tal modo remete a uma constituição de uma série de outras figuras que compartilham certos traços específicos e, de tal modo, representam toda uma gama de personagens sob a alcunha de “heróis”. Não obstante se tratarem de personagens da cultura pop – na verdade, justamente por conta disso –, os super-heróis compartilham características que os associam com toda a tradição em torno da figura do herói, e que apresentam, da mesma forma e ao mesmo tempo, a multiplicidade dessa figura e sua recorrência. Esses personagens que fazem parte de nossa cultura, muitas vezes, remetem ao universo dos mitos justamente por sua INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

10

raiz arquetípica. De tal modo, esses personagens nos conduzem a uma percepção arquetípica da figura heroica, que fundamenta a nossa metodologia. Assim, como deve proceder o educador para estabelecer o contato entre o universo do pop e do erudito? Apresentaremos a seguir, esquematizada em quatro estágios fundamentais, o procedimento metodológico realizado acima e, acreditamos, capaz de ser desdobrado em outras situações similares: a. A busca por um referencial jovem: assumindo o universo da cultura do aluno como referência, o docente deve tentar identificar o que o jovem consome e o que ele valoriza, especialmente os elementos da cultura pop; b. Exemplos de aproximação: selecionado o objeto da cultura do aluno que será trabalhado, o professor deve buscar exemplos que aproximem aquele objeto e o conteúdo que se deseja passar – no caso, as obras literárias – e é nesse momento que se pode utilizar como ferramenta a arquetipologia metodológica, como exemplificada acima; c. Leituras Compartilhadas: não apenas o professor deve sugerir aos alunos a leitura das obras evocadas pelo objeto selecionado, mas o professor deve se comprometer a ler ou, na medida do possível, tentar compreender o objeto; acreditamos que se faz necessário um movimento de humildade por parte do docente, que pode eliminar a distância entre educador e estudante, no sentido de criar laços de empatia; d. Atividades pedagógicas: o final do processo é a produção de atividades que tenham por fim trabalhar essas relações entre os textos culturais, tanto o literário quando o não literário; no caso do exemplo dado no texto, dos Vingadores, poder-se ia propor a leitura coletiva de O médico e o monstro de Robert Louis Stevenson em busca de elementos que foram utilizados na construção do personagem Hulk. Esse processo não é fechado, no entanto, pois pode-se originar da última fase outras possibilidades de trabalho, como a produção por parte dos alunos de um outro texto a partir dos arquétipos heroicos, por exemplo, ou mesmo o estímulo à interação com outras disciplinas. O importante é o professor, durante o processo, abrir diversas possibilidades de interação, como reflexos reais da interação entre os próprios textos culturais, que servirão de possibilidades múltiplas de travessia da mesma ponte que foi construída em conjunto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim, o que podemos observar a partir de nossa proposta, é que mesmo figuras do cotidiano, que não são personagens fictícias, possuem traços arquetípicos capazes de estabelecer essas pontes. Tendo em vista o arquétipo do herói dentro dos mitos, um INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

11

jovem jogador de futebol que sai da pobreza extrema e, com seu talento, consegue chegar ao topo é um exemplo de um mito tradicional, o mito da superação dos limites impostos ao herói. Jovens costumam ter nesse tipo de personagem um referencial de ídolo, seja pela origem simples, seja pela pouca idade, seja pela visibilidade. Em outra possibilidade, aquele jovem que sai às ruas e enfrenta o sistema, o black bloc por exemplo, é um tipo de herói rebelde, que diante das injustiças que vivencia desafia o status quo mesmo sendo alguém mais frágil e enfrentando a máquina opressora do Estado. O herói rebelde e anárquico, que é mal visto pelo sistema e por parte da população, mas que se entrega em prol de um bem coletivo maior, tem uma evidente ligação com diversas figuras da história, da cultura e da literatura, como o escravo grego Spartacus, Jesus Cristo, Ghandi, Joanna D‟Arc, Che Guevara, Luke Skywalker, Homem-Aranha, Katniss Everdeen, etc. Esse alargamento do conceito de mito permite a construção de várias relações prolíficas entre o aluno e o professor e, acreditamos, ajuda no encurtamento dessas distâncias estabelecidas pelo engessamento da prática docente e dos currículos escolares. Todos esses exemplos são possibilidades que permitem ao professor um contato mais íntimo com o aluno e, de tal modo, a construção de um elo empático que tornará muito mais agradável a entrada no universo da literatura. É necessário, nessa perspectiva, um movimento de humildade por parte do educador, no sentido de buscar entrar em contato com o universo do aluno para, assim, identificar elementos que possam ser utilizados nesse diálogo. Esse movimento exige que o educador não assuma uma postura arrogante, que ele não encare a cultura do aluno como algo inferior ao chamado cânone literário, mas sim como algo equivalente, que compartilha os mesmos elementos significativos – e por isso nossa crítica ao próprio conceito de cânone. Assim, o professor poderá apresentar o material literário não como ponto de partida, como costumeiramente se faz com a exclusão do que não é tido como canônico, nem como chegada, ou seja, estabelecendo que a única função do material fornecido pelo aluno seja permitir chegar ao conteúdo programático, o que efetivamente seria importante. De fato, valorizar o universo do aluno implica em compreendê-lo numa relação horizontal, algo por vezes complexo para educadores treinados por anos para trabalhar em uma relação hierárquica e verticalizada. A literatura só poderá ser humanizadora de fato se não for imposta a partir de rígidos modelos elitistas e opressores, mas sim compartilhada a partir do reconhecimento das suas múltiplas vozes, e das possibilidades de contato entre elementos que não estão culturalmente tão distantes quanto pensamos, mas que fazem parte sim de um mesmo imaginário. REFERÊNCIAS BITTENCOURT, Roberto Nunes. “Mitocrítica portuguesa: na crise finissecular, o reflorescer de mitos”. In: SOLETRAS, Ano XI, Nº 22, jul./dez.2011. São Gonçalo: UERJ, 2011, p. 161 177. Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/22/11.pdf. Último acesso em: 19/03/2015. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 2011. INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

12

DEZOTTI, M. C. C.; MALHADAS, D.; NEVES, M. H. de M. (Coord.). Dicionário Grego-Português. Cotia: Ateliê Editorial, 2008. Vol. 3. DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. Tradução de Hélder Godinho. São Paulo: Martins Fontes, 2002. DURAZZO, Leandro Marques. Gestação de Orfeu: profecia e transcendência na poesia de Jorge de Lima. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2013. JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Tradução de Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Petrópolis: Vozes, 2000. NEVES, Joselia. Reflexões sobre a Ciência do Imaginário e as contribuições de Durand: um olhar iniciante. In: Revista Labirinto. Universidade Federal de Rondonia, 2000. Disponível em: http://www.cei.unir.br/artigo23.html. Último acesso em: 26/02/2015. PESSOA, Fernando. Poesias Inéditas (1930-1935). Nota prévia de Jorge Nemésio. Lisboa: Ática, 1990 (1955). TEIXEIRA, Izabel Cristina dos Santos. “Das “altas” e das “baixas” literaturas: possibilidades de leituras críticas numa perspectiva interdisciplinar”. In: Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis. Florianópolis: Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, V.4, jul./dez. 2007, p. 83 100. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/view/631/10861. Último acesso em 19/03/2015. VELASCO, Tiago. “Pop: em busca de um conceito”. In: Animus - revista interamericana de comunicação midiática. Santa Maria: Programa de Pós-graduação em Comunicação. v.17, jan-junho 2010. p. 115-133. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/animus/article/download/2376/2466 . Último acesso em 18/03/2015. * Doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Ciências e Letras - UNESP de Araraquara (FCLAr) e bolsista de pós-doutorado pelo PNPD (Capes) junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da FCLAr.

1

Apesar de muitos autores tratarem cultura popular e cultura pop como sinônimos, chamaremos aqui de cultura pop especificamente o tipo de produção que se origina da massificação promovida pela expansão dos meios de comunicação, promovida como produto a ser comercializado, e que por isso é um tipo de produção característica do capitalismo do século XX e XXI. 2

O mitema, termo que Durand empresta de Lévi-Strauss, seria a menor unidade mítica, por analogia a “fonemas, morfemas e semantemas”. INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

13

3

O tema do sexismo presente na representação de algumas personagens como a Viúva Negra não será trabalhado com a devida profundidade no presente texto pelo nosso enfoque não ser esse, mas é importante salientar que esse é um tema excelente para uma discussão em sala de aula, não apenas pela sua importância diante das conquistas de movimentos feministas e de direitos humanos, mas pelo próprio ambiente escolar ser palco de dezenas de exemplos de atitudes machistas. Estimular esse tipo de discussão a partir de um elemento da cultura pop, muito mais acessível ao aluno, pode gerar frutos que vão além da compreensão dos conteúdos em sala de aula.

INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 5, Edição número 23, Março/Setembro 2016 - p

14

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.