Arquitectura em Terra: alguns exemplos da freguesia de Beduido -Estudo preliminar

June 4, 2017 | Autor: Susana Temudo Silva | Categoria: Historia de la Arquitectura, Historia y Teoria del Arte y la Arquitectura
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Arquitectura em Terra: alguns exemplos da freguesia de Beduido - Estudo preliminar Susana Temudo* | Diana Cunha**

Resumo O património histórico edificado pode e deve ser visto como um artefacto, na medida em que corresponde a uma construção humana feita e/ou transformada pelo Homem. Tal como define Leroi-Gourhan (1985:7), o artefacto percebe-se como o produto que é inscrito dentro dos seus usos e das suas utilizações, ou seja, um meio para atender as necessidades que são determinadas pela pessoa que o utiliza, não importando a sua função primeira. Deste modo, a arquitectura em terra surge como uma dessas evidências. Conhecida e utilizada desde a origem do homem e da sua consciência enquanto construtor, ela têm vindo, nas últimas décadas, a deixar de ser utilizada no nosso território, entrosando a perda do saber que a acompanha. Em meados do séc. XX, arquitectos e antropólogos assinalaram esta técnica construtiva. Contudo, as vicissitudes do desenvolvimento e as suas consequências têm vindo a desencadear o seu desaparecimento e destruição, o que suscitará uma lacuna na sua compreensão e estudo, sendo por isso a sua documentação e registo importante. A prática da construção em terra em Portugal foi comum até relativamente pouco tempo, localizando-se sobretudo no sul do país e nas zonas litorais onde a pedra escasseava, pelo que as reminiscências destas construções na freguesia de Beduído, concelho de Estarreja, se assumem como um dos exemplares ainda preservados nesta parte do país, apesar do seu estado de conservação debilitado, em muito provocado pelo abandono que se verifica. Pelo que, alertar, sensibilizar, conservar, preservar e salvaguardar os exemplares que restam, deve ser uma medida a adoptar de modo em que percebendo o passado podemos e conseguimos melhorar o futuro.

Edificando espaços «A Arquitetura só ganha existência concreta quando dá forma apropriada aos materiais de construção (…)» (DETHIER, 1992:7).

*Licenciada em Arqueologia e Pós-graduada em Museologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Aluna do segundo ano de mestrado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. **Licenciada em Arqueologia e Pós-graduada em Museologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Desde cedo que as matérias-primas disponíveis no meio ambiente sempre foram um elemento condicionador na forma como o Homem materializou a sua maneira de estar e de pensar. Logo, o recurso a elas e o seu constante manuseamento, no estado natural ou transformadas, permitiram a apropriação/concretização dos espaços disponibilizados e nos quais se pode observar o produto dessa humanização da paisagem. Uma ação fruto da criação de novas dimensões, sejam elas de carácter funcional,

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social, económico ou cultural, mas que no conjunto não são mais do que a materialização do pensamento resultante da apreensão do seu meio e da qual provêm toda a nossa herança cultural latente no nosso passado histórico. Pelo que esta paisagem “balizada” (atendendo que nela se encontram elementos caracterizantes e identificativos daquele ambiente e através dos quais ela se distingue das existentes na sua envolvência), fruto de uma capacidade de adaptabilidade humana, permitiu que a terra, enquanto elemento materializador do espaço, obtivesse a importância que lhe é hoje reconhecida histórica e culturalmente. E por isso, o uso da terra é o elemento de construção que se impôs como uma das múltiplas possibilidades existentes, sobretudo nos locais onde a pedra não era recurso frequente. Pelo que desde cedo, a terra foi uma opção viável na medida em que permitia uma rápida e eficaz edificação dos espaços. O que possibilitou a realização de diversas estruturas, pelo que logo, também ela foi e pode ser considerada como um elemento arquitetónico construtivo. E assim, tal como as “outras” arquiteturas de pedra, considera-se ARQUITETURA EM TERRA toda e qualquer construção edificada em terra crua.

Todas as construções que a utilizam como matéria-prima sem alteração das suas características mineralógicas.

Maqueta de uma casa em Lião, segundo os esquissos realizados por Cointeraux nos inícios do séc, XIX.

Tratado sobre a construção em terra publicado em 1787 por François Cointeraux.

Diz-nos a história que desde que o Homem constrói, a terra é o material mais utilizado em todas as civilizações, ocorram elas em meio rural ou urbano. Sejam elas erguidas para fins militares ou civis. O importante é a criação de espaços que satisfaçam as necessidades funcionais impostas e que essas estruturas sejam detentoras de todos os requisitos arquitetónicos que permitam a habitabilidade e usufruto de forma confortável, estável e acima de tudo, funcional. Até ao séc. XIX, este tipo de arquitetura incorporava matérias-primas no seu estado natural e disponíveis na região. No entanto com a Revolução Francesa, no âmbito dos novos ideais modernistas, os sistemas tradicionais de construção são revistos e este tipo de construção sofre um novo impulso. Um novo olhar, cujo responsável e mentor foi o arquiteto François Cointereaux, um erudito e pensador francês que se dedicou aos estudos e problemáticas da arquitetura rural, e o qual publicou em 1787, o tratado sobre este tipo de construção. Uma publicação através da qual pretendia explicar e expor as técnicas construtivas da arquitetura em terra, tipologias e vantagens. No entanto, apesar deste novo olhar, este tipo de arquitetura nunca foi objeto de uma ação comercial ou de um grupo de pressão económica, restringindo-se apenas a construções locais.

Fig. 1 - Distribuição da Arquitetura de Terra No Mundo .

Com o alvorecer do séc. XX e todas as transformações e inovações tecnológicas, nomeadamente na área da construção, com a introdução do aço, do betão e do tijolo, a utilização da terra como matéria-prima caiu em desuso, tendo sido completamente abandonada, sobretudo no nosso país, salvo em alguns pontos geográficos onde se manteve até ao momento da introdução do gosto pelas linhas arquitetónicas do movimento modernista, sobretudo na arquitetura civil. No entanto, nos anos 80, com o desenvolvimento de novos conhecimentos e práticas assistiu-se a uma nova fase, atestada não só pela economicidade da construção em terra crua, como também pela fiabilidade e interesse, por parte de alguns estudiosos, nas arquiteturas delas resultantes.

e seminários resultantes dos estudos encetados pela Universidade de Aveiro no norte e pela Universidade de Évora no sul.

Mais recentemente, na Europa, desenvolveram-se pesquisas sobre esta matéria, sendo o seu objectivo a política de assistência aos países do terceiro mundo, tendo a França encabeçado esta ideia. Uma iniciativa que levou à criação em 1979 do CRATerre (Centro de Investigação e Aplicação de Arquitectura de Terra).

A nível Mundial, a arquitectura de Terra está espalhada por todas as regiões, existindo vastas zonas onde este tipo de construções teve expressão. Tais como: no deserto Médio Oriente, Vales da China e América do Norte, América Central, América do Sul e na Mesopotâmia, onde a construção em adobe se assume como o material de construção mais significativo, sendo inclusive a matéria-prima mais antiga na história da construção. Estudos arqueológicos indicam edificações de terra com 10.000 anos na aldeia de Jericó, sendo exemplo disso a abóbada do templo de Ramsés II, erigida em barro, em Gourna, Egipto. Sabe-se igualmente que a muralha da China, com 4000 anos, inicialmente foi construída apenas em terra batida e só mais tarde foi revestida de pedra e tijolo. Na Europa, o exemplar mais antigo é o Fort Heureburg na Alemanha e remonta ao séc. VI a.c.

Em Portugal são várias as iniciativas que se tem vindo a registar, nomeadamente a realização conferências

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HOUBEN, Hugo; ORNADO, Sebastien d’, p. 80.

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Arquitetura em Terra – Caso Nacional O uso da Terra na construção em Portugal documentase até datas recentes, praticando-se ainda hoje, embora pontualmente, uma vez que, por norma, sucede de programas de reabilitação urbana (esporadicamente) e/ ou inseridos em projetos de investigação desencadeados por associações articuladas com centros de investigação ou por universidades, como é o caso das já mencionadas universidades de Évora e Aveiro. Historicamente, a arquitetura em terra, é um tipo de construção que se consegue documentar desde a pré-história até aos nossos dias, embora não de forma generalizada. Cremos com isto dizer, que os modelos arquitetónicos nem sempre foram semelhantes dentro do mesmo período cronológico. A diversidade de estilos e formas de construir apesar de terem por base a mesma matéria, não foi fator condicionante nem homogéneo. Ou seja, desde sempre, ao longo do nosso território, foi possível diferenciar as construções erguidas no Norte, Centro e Sul, através não só das suas tipologias construtivas, mas também pela técnica e método. Diferenças que, de certo modo marcaram e através das quais hoje conseguimos distinguir dois tipos de construção. A Norte do país com uma forte presença da técnica de construção em adobe, em contraste com a utilização da taipa no Sul, sendo a zona do Centro uma área onde se poderá encontrar ambas as construções. Como se fosse uma espécie de fronteira.

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Uma clara e distinta divisão dentro do mesmo tipo arquitetónico e que historicamente nos leva quase a acreditar que esta diferença possa estar relacionada com a presença árabe no nosso território. Sobretudo a construção em taipa, pois perdeu-se no tempo a introdução do adobe em Portugal. Existem teorias que colocam a sua introdução durante a ocupação muçulmana (séc. XI) (TORRES,2005). No entanto, há quem acredite que o adobe foi introduzido pelos romanos, sendo só posteriormente aprofundado pelos muçulmanos. No enanto, nos relatos de Plínio-o-Velho, aquando as suas viagens na Península Ibérica durante o séc. I, menciona que: “viam-se torres e atalaias de terra de remotíssima antiguidade”, o que reforça a teoria e os vestígios

Fig. 2 - Distribuição da Arquitetura em Portugal1 ..

arqueológicos que demonstram a introdução ou a prática da arquitectura em terra na Península Ibérica seja anterior, não se conseguindo porém baliza-la cronologicamente.

A arquitetura de terra pode expressar-se nas mais variadas formas, estando por isso presente na arquitetura industrial, pública, viária e ainda em outros elementos como muros de propriedade, fornos de cal e revestimentos de poço, etc. No entanto é na arquitetura civil, que hoje ela adquire maior expressividade no nosso país. Pois é ela que melhor representa os valores paisagísticos, arquitectónicos, históricos, construtivos e sociais da sociedade em que se insere, tal como também foi através dela que nos chegaram alguns exemplares bem preservados. Mas por outro lado, foi também nela que ocorreram mais alterações, fazendo com que edifícios que hoje se encontram nas nossas cidades, nos dificultem a sua leitura efetiva em termos históricoscronológicos.

O uso da Terra A terra pode ser usada sob três formas: monolítica e portante; alvenaria portante; enchimento e/ou proteção de estruturas de suporte. Cada uma destas formas tinha várias técnicas de execução: blocos prensados, blocos cortados, torrões de terra; adobe, entre muitos outros. Em todas estas técnicas a terra era a principal matéria-prima, podendo ser misturada com água em percentagens diferentes. Os diversos métodos do uso da terra não podem ser dissociados da materialidade e expressões culturais específicas entre ação construtiva e artística. Tanto que ela adapta-se a múltiplas variações, condições particulares do meio social, geográfico, económico e climático, e com uma multiplicidade de formas e dimensões arquitetónicas presentes desde as casas rurais a cidades inteiras. A partir de uma matéria-prima, inicialmente frágil, é possível manufaturar materiais com resistências consideráveis e erguer estruturas independentemente da sua altura ou volume. Pois não esqueçamos que quando associada a outros materiais, a terra consegue aumentar a solidez e estabilidade das construções. Ela é igualmente utilizada como material de acabamento (associada a outros materiais e/ou processos de construção), sobretudo no revestimento de estruturas ou paredes (reboco2), permitindo

assim a sua conservação ou isolamento térmico e acústico, ou como parede secundária. Sob o acabamento da parede de terra, esta seria caiada, podendo nalguns casos recorrerse a policromia que estaria dependente do gosto artístico do proprietário, arquitecto ou construtor. A arquitetura em terra, desde sempre é e foi condicionada pelo material do local onde é executada, o que origina diversidade de trabalho de matérias-primas expressas nos diversos tipos de aparelho apresentados nesta linguagem arquitetónica. Caracteristicamente, o adobe é de natureza arenosa e argilosa. É um material que exige pouco tratamento e de fácil obtenção, uma vez que apenas requer a adição de água a fim de a misturar com a terra até obter uma massa semiconsistente e que de seguida se molda (manualmente ou através de moldes) de modo a produzir pequenos blocos em forma de paralelepípedo. Normalmente juntavam-se fibras vegetais – palha ou outro vegetal3. O adobe aparece muito em casas com estilos arquitetónicos importados, como é o caso das casas vitorianas e afrancesadas construídas no séc. XIX pelos emigrantes brasileiros4. Neste tipo de arquiteturas são características: inclinações acentuadas das coberturas, ferro forjado nas varandas e revestimento de fachadas com azulejos e rebocos em terra com cal lisos ou coloridos, sendo que na região em estudo é característico o amarelo-torrado. Para além do adobe, na região em estudo, a edificação em alvenaria apresentou-se igualmente como solução construtiva. Sempre que se verificou a ocorrência desta O revestimento mais comum é feito pelo sistema de reboco obtido através da aplicação de múltiplas camadas de argamassa. Por norma seriam três camadas de modo a que as fendas que ocorressem por retração fossem descentradas, dificultando assim a entrada de água. 3 Na região de Aveiro, em concreto, concelho da Murtosa, existem adobes de cor castanho muito escuro, os quais se sabe que foram moldados com os lodos oriundos da ria de Aveiro, e nos quais se pode visualizar a presença não só de fauna marinha como também de flora. 4 Não deixa de ser curioso o facto de existirem muitos exemplares das ditas “casa dos Brasileiros” cujos proprietários nunca estiveram no Brasil. Inúmeros construtores locais rendiam-se aos modelos arquitetónicos “brasileiros” que se construíam na região, reproduzindo para outros “clientes” casas com os mesmos estilos arquitetónicos. Uma imitação que não alterava o método e técnica de construção, como fazia prevalecer a aplicação do sistema construtivo local em adobe contra a importação de estilos arquitetónicos tradicionalmente construídos em pedra e tijolo. 2

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metodologia, os métodos implicavam a conjugação da terra com a pedra, por norma xisto, sendo que nestes casos a terra serviu sempre como ligante, bem como material de revestimento. A aplicação desta técnica não se relacionou com nenhum tipo específico de construção, sendo por isso possível encontra-la nas mais variadas formas arquitetónicas, sendo inclusive um método de construção comum na edificação da arquitetura civil, industrial e funcional como por exemplo, na construção de poços e delimitação de arruamentos.

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Caso de estudo5 Tendo consciência das potencialidades patrimoniais existentes na freguesia de Beduído no que confere ao património edificado e na tentativa de o salvaguardar, - ainda que pelo registo científico - foi objectivo da comunicação expor alguns exemplos do património edificado em terra existente numa parte da freguesia. Deste modo seleccionaram-se alguns dos imóveis existentes dentro do centro da cidade, concretamente nos arruamentos: R. Dr. Dionísio de Moura, Travessa do Outeiro da Marinha, R. Dr. António de Abreu Freire, R. Dr. Manuel Barbosa, R. Dr. Souto Alves.

Fig. 3. Localização das ruas onde foram registados os edifícios construídos em terra (Esc.1:1000).

Apesar da grande diversidade funcional que este tipo de construções erigiu, na presente comunicação apenas expusemos as de carácter civil. Um universo com graves problemas do ponto de vista da conservação e preservação desta tipologia construtiva e que hoje se destacam pelo facto de serem os últimos testemunhos dessa forma de construir. São imóveis que em tempos se inseriram dentro de um modelo arquitectónico que durante décadas serviu de base à construção civil de grande parte da Beira Litoral e com grande expressividade no distrito de Aveiro. Sendo este estilo arquitetónico o mais presente na paisagem do concelho de Estarreja e neste caso em concreto, na freguesia de Beduído. Falamos de casas essencialmente edificadas em banda, junto do caminho/rua ou “à face da estrada”, marcando os vários arruamentos que perfazem o núcleo urbano da cidade. Podemos mesmo afirmar que é através delas que conseguimos depreender uma parte da evolução urbanística de Estarreja, sobretudo no que concerne à tentativa de delimitação do espaço urbano mais antigo, pois não podemos esquecer que o que hoje define o perímetro urbano da cidade Estarreja não corresponde ao seu espaço no passado. Apesar de ser um tipo arquitectónico, do ponto de vista estilístico, comum nesta região, a utilização da terra como matéria-prima é uma particularidade que marca esta zona ribeirinha da Ria de Aveiro, onde sabemos que a ausência da pedra levou a que se recorresse ao uso do adobe ou da alvenaria miúda em xisto montado em terra, tornando-a numa realidade construtiva. Deste modo, surgem os exemplos aqui expostos, os quais apresentaram várias características comuns e que nos permitem estabelecer uma “tipologia” identificativa (quando comparada com as construções mais recentes e principalmente, quando comparadas com as construções contemporâneas inseridas no movimento de “arquitectura moderna”6). Contudo a ela não estava subjacente qualquer tipo de carácter funcional - apesar de sabermos que nesta parte da freguesia, as O presente Caso de Estudo decorre do estudo do Património Construído em Terra na freguesia de Beduído, concelho de Estarreja. Este estudo encontra-se ainda na primeira fase: identificação e caracterização dos elementos. 6 Vid TAVARES, Domingos - Francisco Farinhas: realismo moderno. [S.l.] : Dafne Editora , 2008. 5

habitações apresentadas inseriam-se dentro de um grupo de moradias citadinas, não tendo um carácter rural visível a priori, conforme acontece com algumas das habitações existentes noutras partes da freguesia7. Das principais características identificadas e que fazem com que estes exemplares se distingam dos restantes edifícios, destaca-se, inicialmente, a utilização da terra como principal recurso, tanto no que diz respeito ao método e técnica construtiva como no que confere aos revestimentos e elementos decorativos. Uma utilização que se acredita ser a mesma matéria-prima face às características perceptíveis através de uma avaliação superficial e visual. Acredita-se ser terra oriunda do mesmo centro de exploração, atendendo que a coloração das terras ser sempre a mesma e dominada pelo tom amarelado. Uma cor que se mantém também nas argamassas de revestimento das fachadas dos edifícios, embora se encontre igualmente os tons rosados e a cor branca. A primeira (amarela) e a última (branca) são as cores dominantes. Uma justificação plausível se pensar na rentabilidade económica que poderá estar inerente. Estas duas cores estão associadas às matérias-primas utilizadas na construção. Refira-se que em alguns casos a cor branca da fachada não era mais do que o resultado de uma caiação do reboco de forma a dar um melhor aspecto à superfície, uma vez que permitia ocultar a porosidade da argamassa assim como possibilitava uma melhor consolidação e protecção do reboco da alvenaria e/ ou adobe, assim como também se tornava mais resistente com as constantes caiações de restauro a que era sujeita. Outra particularidade é a presença de casas cobertas por telhados de duas ou quatro águas, compostos pela designada telha portuguesa de meia-cana. Telhados por A grande parte das casas rurais existentes no concelho contém na sua fachada alguns elementos característicos deste tipo de habitações. Como é o caso da porta de carro, um dos principais elementos caracterizantes das fachadas principais da casa. Rasgadas num dos lados e que permitia a entrada do carro-de-bois e, posteriormente, já nos dias de hoje, do tractor. Para além desta característica, estas habitações seriam com um único andar – casa térrea, embora também encontremos alguns exemplares com dois pisos – casa-bloco, mas neste caso o espaço habitacional situava-se no piso superior, sendo o andar térreo destinado à arrumação das alfaias agrícolas ou até de armazém (onde se encontravam guardados os bens alimentícios para o gado ou outros bens relacionados com a actividade agrícola, ou por último, como zona de celeiro). Ao contrário de Trás-osMontes, nesta região o gado não se encontrava por debaixo da área habitável.

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vezes encimados por chaminés de formato rectangular e de expressividade modesta, com os remates pronunciados das suas extremidades, sendo o seus cantos rematados à moda desta região. Uma parte importante na casa uma vez que são estes telhados de inclinação proeminente que ocultavam um segundo ou terceiro andar destinada à arrumação da casa (sótão), e cujo acesso seria muitas das vezes feito pelo interior da habitação.

Obviamente não se encontram as duas matérias-primas no mesmo edifício. Ou se tem granito ou não. Assim como no caso dos socos. Sempre que estamos na presença de socos argamassados, é sinal que os mesmos foram erguidos em alvenaria de xisto montada em terra. Uma funcionalidade evidente, uma vez que este ainda faz parte do alicerce da casa. Aliás, refira-se que a maior parte dos alicerces deste tipo de construções, são em xisto e nunca em adobe. Não nós podemos esquecer que os terrenos onde se localizam a maior parte dos edifícios encontram-se em depósitos geológicos correspondentes a níveis de praias antigas, ou seja, sobre terrenos arenosos, e portanto, bastante permeáveis. Quanto à coloração das fachadas e cantarias destes edifícios, predominam as cores de tom pastel, sendo o amarelo-torrado e a cor branca, as colorações dominantes.

Fig. 4 – Exemplo de remate do telhado, Estarreja

Outra característica dentro deste modelo é a forma geométrica dos vãos, com a presença de janelas e portadas com cantarias rectangulares, sendo que as janelas alternam entre a tipologia de duas folhas ou em guilhotina, enquanto as portas são quase sempre em duas folhas lisas ou de moldura simples. Quando isto não acontece ostentam um postigo protegido por uma pequena grade em ferro forjado, também podendo acontecer em algumas habitações com portadas de duas folhas. Um gosto de tradição oitocentista e que permanece até aos dias de hoje, uma vez que é uma forma de permitir a entrada de luz natural na habitação, assim como forma de ventilação.

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Ainda relativamente a estes elementos, será de mencionar a questão das cantarias. Um pormenor que nem sempre foi coincidente no que diz respeito ao tipo de material utilizado. Ou seja, se em alguns casos temos cantarias em granito, noutros esses elementos estão igualmente representados mas são feitos com argamassa – designada cantaria fingida. Tal como os seus beirais, cunhais e socos, onde a alternância entre estes dois tipos de materiais também foi uma opção.

A primeira muito próxima da cor das argamassas e a segunda relacionada com a caiação a que estas paredes eram sujeitas. Em alguns exemplares, a cor branca patente nos alçados é fruto desse trabalho, não correspondendo por isso à pintura a que eram sujeitas. O pormenor reside no facto de esta denunciar vários momentos de caiação. Talvez

Fig. 5 – Exemplo de porta em duas folhas com postigo guarnecido de grades em ferro forjado, Estarreja

fruto de constantes restauros a que estas paredes eram alvo. É comum o gosto pela pintura do beiral, cunhais e socos sempre que estes elementos são de argamassa. A cor é a mesma para todos eles, excepto as molduras dos vãos que em alguns casos podem surgir pintadas de branco, embora não seja a regra comum. Quando se encontram pintados, a cor destes é sempre diferente da cor apresentada na fachada, de forma a fazer sobressair estes elementos. A cor mais vezes registada

foi a cor cinza escuro quando a cor da fachada é branca ou amarelo-torrado. Quando a fachada apresenta uma cor rosada, os restantes elementos, caso estejam evidenciados, são pintados de cor branca. Ou seja, sempre que o beiral, os cunhais, socos e molduras dos vãos se encontram pintados, a coloração será sempre diferente da cor existente no paramento da fachada. Uma forma de evidenciar os mesmos, tal como acontece nas casas onde estes são em granito. Por último, do ponto de vista ornamental das fachadas, os edifícios destacam-se pela simplicidade das formas, onde o aspecto geométrico se assume como a principal gramática de construção. Um tipo de linguagem arquitetónica que marca este estilo mais rudimentar e onde o formato rectangular é a forma de excelência. No entanto, se por um lado temos uma arquitectura dominada por esta, também se encontraram outros exemplares distintos deste grupo. Foi o caso dos imóveis assinalados na rua Dr. Manuel Barbosa, ao quais denunciam elementos decorativos de gosto neoclássico. No primeiro a presença de uma balaustrada de cor branca a encimar o beiral da casa, ocultando por isso o telhado, e ladeada por duas grandes jarras, aparentemente de faiança branca; e o segundo pela tipologia dos seus vãos e jardim. Um estilo que parece transparecer um patamar intermédio de construção entre as designadas casas de estilo brasileiro e o grupo acima apresentado. Casas com estilo modesto, longe do fausto que as casas apalaçadas brasileiras contêm, mas que de certo modo se destacam das restantes pela introdução de elementos de tradição vintista. Em termos de conclusão, do grupo apresentado temos um conjunto de edifícios com características arquitectónicas semelhantes, mas que ao mesmo tempo apresenta pequenas singularidades, as quais somos obrigados a distinguir e dividir em dois conjuntos. Assim, do geral para o particular, num primeiro grupo temos um tipo de habitação composto por edifícios com dois andares, ou seja prédios em bloco – as casa-bloco e num segundo grupo, de aparência mais modesta e com apenas um piso – a casa térrea.

Fig. 6 – Moradia R. Dr. Manuel Barbosa de gosto neoclássico

Duas observações legítimas que nos permitiram perceber que não é por estas habitações serem compostas por um

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ou mais andares que nos deixam perceber quem eram os seus moradores. Pois tanto podemos ter uma habitação de um andar com cantarias em granito, como poderemos ter igualmente esses elementos feitos com argamassa e pintados. Apenas deixa que caracterizemos somente quanto ao tipo de habitação, assim como também nos poderá lançar para outras questões relacionadas com o porquê da opção por este tipo de espaço doméstico, ou se não estaremos na presença de uma reminiscência das construções citadinas de tradição medieval, onde o espaço térreo era destinado ao armazém/espaço comercial, e o piso superior a habitação. Será que estas são o que resta dessa tradição? Ou será simplesmente uma opção funcional? Certo é que apenas por uma observação ao seu exterior não podemos visualizar na plenitude as suas propriedades, pelo que esta nossa observação é apenas especulativa. A presença de alguns materiais, como o granito, levanta algumas questões uma vez que sabemos que esse material provém de fora. Assim como também é de realçar que os edifícios de características mais modestas se localizam

numa área da cidade próxima do antigo Esteiro e que permitem colocar a hipótese destas habitações terem pertencido a uma comunidade laboral relacionada com a actividade que se desenvolvia no Esteiro8. Obviamente que questões como esta só através da pesquisa histórica e do estudo de fontes documentais nos poderão elucidar melhor acerca disto, pelo que se impõe a necessidade de aprofundar informações e pesquisas de modo a conseguir-se um melhor enquadramento histórico, social, cultural e económico para estes vestígios arqueológicos. Para que assim possamos reafirmar e dignificar a sua importância enquanto elemento portador de informação patrimonial. Para além destas modestas habitações, fica também a possibilidade dos edifícios, onde o investimento em termos materiais foi mais elevado, pertencerem a um outro estrato social, com algum poder económico, quiçá, uma pequena burguesia endinheirada, geradora de riqueza local, com negócios locais ou até com influências sobre a actividade comercial na região, ou então recém-chegada de outras paragens9.

Fig. 7 – Diferentes tipos de cantarias. O Esteiro de Beduído ou Esteiro de Estarreja foi aberto artificialmente no século XIX e corresponde a um canal de ligação à ria de Aveiro e que noutros tempos teve uma forte importância na economia local relacionada com o comércio do sal, moliço (recolhido na região e usado como fertilizante nos terrenos agrícolas e cuja apanha mantinha os canais limpos e navegáveis), o peixe proveniente da Ria com destaque para as enguias, os adobes e a areia utilizados na construção civil, o junco (Juncus sp.) colhido nas praias de junco da Ria e utilizado nas camas do gado ou para fazer

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as típicas esteiras, ou ainda para atar os ramos das árvores ou videiras depois de efectuar a poda, entre outros bens produzidos na região. 9 Tal como aconteceu em outros sítios do país, também Estarreja foi desde muito cedo uma terra de emigrantes. Sabemos por várias fontes que desde os inícios do século XX que a cidade recebia e deixava partir as gentes da sua terra. Quando voltavam, ainda que periodicamente, mandavam construir as suas residências na sua terra natal.

Conclusão De uma primeira análise, ainda que superficial, uma vez que os estudos ainda se encontram numa fase muito embrionária, pode-se dizer que esta parte da freguesia de Beduído apresenta um forte potencial patrimonial, sendo as construções em terra um desses principais elementos. A volta destes edifícios existem outros com igual valor ou mais, embora exemplares representativos de uma outra época construtiva e que, de certo modo, baliza-nos cronologicamente as construções em terra. Contudo deixamos para a conclusão do levantamento de todos os edifícios as considerações cronológicas afectas a esta forma de construir nesta área por nós agora balizada geograficamente. Para conservarmos este património é necessário que exista uma consciencialização da sua existência e reconhecimento deste enquanto elemento portador de valor patrimonial, dos seus atributos arquitectónicos e construtivos. Sendo então necessário que estes edifícios sejam tratados com documentos históricos possuidores de informação, na medida em que este tipo de património pode e deve ser entendido como um artefacto arqueológico, porque é fruto de uma vivência e de um conhecimento passado. Portadores de valores artísticos representados de diferentes formas e por conseguinte com importâncias igualmente distintas, estas estruturas arquitectónicas representam um testemunho de uma forma de construir que marca uma região onde sabemos existir uma tradição construtiva. O recurso aos materiais existentes na região, conciliados com outros provenientes de outras paragens, permitiu a criação de um tipo arquitectónico marcado pela diversidade dos materiais construtivos e que no conjunto assumem uma arquitectura regional do ponto de vista construtivo. Para além disso, não podemos esquecer que a esta estaria subjacente todo um conhecimento técnico empírico, que face à evolução dos tempos e das tecnologias, se tem vindo a desvanecer, visto que há muito que se deixou de construir desta maneira.

obter os seus testemunhos e conhecimentos para que no presente e no futuro se possa compreender melhor a arte de um saber, visto este tipo de construção ser um testemunho que se transmitia oralmente e de mestre-construtor para mestre-construtor. Ou seja, um conhecimento que assentava numa experiência, de tradição oral e que por isso, facilmente cai no esquecimento. Assim sendo, é necessário reter o máximo possível deste tipo de conhecimentos caso queiramos salvaguardar este património. Portugal e no caso em discussão, a região de Aveiro e em particular, o concelho de Estarreja-Murtosa, têm um vasto património habitacional edificado em terra. Um património muito danificado e desintegrado relativamente aos sítios onde se insere. Um abandono provocado pelo desinvestimento, desconhecimento e desinteresse neste tipo de estruturas. As povoações erguidas em Terra, consolidadas durante centenas de anos, deveriam ser consideradas como um investimento, na medida em que as mesmas acarretam várias vantagens não só do ponto de vista técnico ou económico, mas igualmente energéticas, ecológicas, políticas, sociais e culturais. Para além destas, com a sua reabilitação estaríamos não só a promover a sua conservação e preservação, como também estaríamos a contribuir e promover a continuidade habitacional dos nossos centros cívicos. Uma medida que poderá ser uma das formas de revertermos a tendência promocional que visa a expansão dos aglomerados urbanos, acarretando a desertificação dos nossos núcleos históricos. Uma realidade que já conseguimos constatar no nosso pequeno centro da cidade de Estarreja e o qual ainda é possível travar. Porque com a inovação técnica associada ao conhecimento popular, “ajudaremos a preservar o passado e lançaremos a base para o futuro, que se quer mais equilibrado” (PINTO, 1992:38).

Ainda hoje se encontram vivos alguns dos “mestresconstrutores”, pelo que será extremamente importante e vital 223

Bibliografia

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Anexo Registo Fotográfico de alguns dos imóveis estudados

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