Arquitectura \" Portoguesa \" – uma construção mediática

May 31, 2017 | Autor: João Penha Ferreira | Categoria: Arquitectura, Arquitecture, Porto
Share Embed


Descrição do Produto

Arquitectura “Portoguesa”– uma construção mediática João Casals Moreno de Penha Ferreira 2010/2011 Teoria 1, Turma 3, Grupo 4 - Pós-Modernismo

“A afirmação da arquitectura portuguesa através da mediatização revelou-se uma boa metáfora para explicar como os média acolhem, digerem, ampliam, apropriam e deitam fora” Pedro Gadanho in arquitectura em Público Introdução O presente ensaio pretende indagar ou simplesmente apontar a construção de uma realidade cultural através da mediatização, focando o caso com mais impacto no meio arquitectónico dos anos 80, a invenção de um conceito que foi sedimentando num curto espaço de tempo, a escola do Porto, uma arquitectura “Portoguesa” (Jorge Figueira 2011 1), inserido via Bernardo Secchi e Keneth Frampton, num contexto conceptual mais vasto, o do “regionalismo crítico”, que inscreveram a arquitectura do Porto, e de Siza em particular, no contexto internacional. Intento como objectivos deste ensaio indicar as relações entre a Arquitectura “Portoguesa” e as suas mediações, equacionando-as em três áreas de análise, comportando virtudes e malefícios na confluência das esferas do mediático e do arquitectónico. Com o fim de expor esta junção, foi organizado segundo os “media especializados” referenciadas por Gadanho: comunicativa, social e ideológica.

A mediatização no panorama da construção da arquitectura “portoguesa” Conforme o modelo Semiótico, comunicar é, mormente, “um processo de veiculação de significados”, pelo que se deduz que esta associação permitiria à arquitectura “pluralizar os seus sentidos” 2. Num uso consciente de mediação comunicativa para o material da arquitectura, em mutação imagética, como protagonista alvo a uma visão critica na esfera da discussão, entendido aqui, como espaço de fluidez e debate de ideologias. A arquitectura do Porto, enquanto escola no modo enquanto referência de uma maneira de pensar e fazer a pratica da arquitectura, e enquanto fenómeno mediático, expandiu-se largamente pelo impulso inicial de teóricos de arquitectura estrangeiros, como Frampton. A mediatização generalista e critica fazia alvo de critica a arquitectura da escola do Porto, tal como quando ganhou um impacto um não tinha até então, também usavam em seu bem-querer para apelar a atenção de certas problemáticas ou de outras. O caso dos cais do Chiado foi muito polémico, pois estava em causa lo centro histórico versus toda uma exaltação do pós modernismo, a verdade é que por um lado se haveriam criticas por desrespeitar o contexto, na altura dar-se-ia o oposto, queriase experimentar os mais bizarros, a a discussão na esfera pública era exactamente por esse lado. Paulo Varela Gomes explica que a geração deles tinham como obrigação não a problematização e a teorização de ideologias e conceitos, mas dar a explicar o que era a arquitectura, presente numa das poucos dispositivos media generalistas, o expresso, até surgir só mais tarde o público. O compremetimento era explicar o é isso da arquitectura e o que é boa arquitectura, e dessa forma traçavam-se as primeiras linhas para delinear o que era isso da arquitectura da escola do Porto ou arquitectura Portuguesa, mas no entanto, haveria sempre talvez uma tensão entre a produção arquitectónica real e aquela editada/mediatizada.

1 2

Notas da apresentação do lançamento do livro Arquitectura em Público de Pedro Gadanho Colomina 1994

Arquitectura “Portoguesa”– uma construção mediática João Casals Moreno de Penha Ferreira 2010/2011 Teoria 1, Turma 3, Grupo 4 - Pós-Modernismo

“os edifícios devem ser entendidos da mesma forma que os desenhos, as fotografias, a escrita, os filmes e a publicidade; não só porque são nestes media que regularmente os encontramos, mas porque os edifícios são eles próprios mecanismos de representação. Um edifício é afinal uma construção” B. Colomina

Os edifícios também são vistos como obras, arquitectónicas, que representam o objecto em questão no campo da mediatização a abordar, e toda a questão que envolve entre a realidade da obra e depois a realidade construída, ou da “imagem” que é vendida, assim em sentido lato, é o que Walter Benjamin afirma, onde a “singularidade da obra” só se dá conforme “o contexto e a tradição”, uma obra considerada singular pode não o ser noutro contexto, tendo claro como base, como aponta Umberto Eco fixar a relação fruitiva obra-consumidor. O poder mediático da forma construída, é seu carácter como a mediatização ideológica, onde o edifício pode ir muito além do que a simples figuração de uma analogia banal. A construção arquitectónica tem o poder comunicar aspectos ou mesmo sensações, não querendo ligar a fenomenologia, o consumidor/utilizador pode ser manipulação, seduzido, forçado, ou saber ler o seu carácter mais institucional, ou mais caseiro, ou mais industrial, mais agarrado, ou mais assumido, com força, ou frágil. A obra é que tem a capacidade suficiente de comunicar, o bastante para se criar uma marca, o conceito em causa, da arquitectura “portoguesa”, e o seu consumo como conjunto de identidade comum. Logo, a primeira forma de mediatização para a construção deste conceito surge na obra, forma construída anterior as novos dispositivos mediáticos, e sem dúvida que a arquitectura será o dispositivo mediatico mais antigo, lembrando os menires que marcavam o território. A arquitectura portuguesa nos anos 50 e 60 já tinha raízes identitárias e características idênticas as que são descobertas por Frampton já só nos anos 80, de modo que as consequências dos dispositivos de mediatização teórica na disciplina da arquitectura, fizeram de uma prática de alguns arquitectos, com qualidade inquestionável, advir um conceito de uma arquitectura “portoguesa”, na qual acabam por se inserir também alguns arquitectos de Lisboa. A forma construída em si já suscitava uma mensagem que veio a ser apreendida pela geração seguinte. Com a introdução de dispositivos media modernos, com carácter mais público e comunicativo, passou a haver uma maior abrangência e fluidez comunicativa no campo arquitectónico, onde Colomina afirma o poder de visibilidade que passou a ter todo o conteúdo de interesse a ser mediatizado. As novas representatividades vieram a dar também uma nova legitimidade, pelo que ao haver segundas e terceiras representatividades, ou seja sem suportes mediáticos no campo especifico critico da arquitectura ou na esfera pública de um jornal mais generalizado, vai ganhando novas legitimidades, pelo que também foi para a arquitectura portuguesa suporte de debate e discussão critica da arquitectura. O faseamento de um processo mediático de uma arquitectura vai construído uma nova imagem, essa nova legitimação, de maneira que com mais ou menos impacto e frequência ditará o número, a expansão e alcance na esfera pública. As publicações e a sua comunicação das publicações vão sendo compiladas, conteúdos a apropriar pelo público. Este processo actualiza o conhecimento da audiência e, simultaneamente, construía uma nova imagem ao que era a arquitectura “portoguesa” um património que vinha a ser construído mediaticamente. Esta construção conjugada com a visibilidade e determinação de conteúdos a serem incluídos na definição dessa “escola” – a editada. As publicações e a consciência social traçava um novo espaço de criação disciplinar, sendo mesmo responsável pela determinação da actual conceito de “escola do porto” e da arquitectura “Portoguesa”.

Arquitectura “Portoguesa”– uma construção mediática João Casals Moreno de Penha Ferreira 2010/2011 Teoria 1, Turma 3, Grupo 4 - Pós-Modernismo

Outra característica na mediatização é a sua posição social, no âmbito do edificado, que é capaz de ditar certas caracterizas psicológicas, mais a capacidade de ditar uma identidade a uma certa comunidade de consumidores dos específicos periódicos de arquitectura. Segundo Gadanho, verificou-se que na utilização de códigos restritos via os media podem reforçar a condição especializada da disciplina e identidade da comunidade, delimitando, por essa via, a fronteira com o público leigo na mediatização generalista. Quando também existe o uso para promoção de espaços, câmaras, ou primeiras páginas, mas do que uma arquitectura com capacidades de suscitar a mediatização, sendo ela própria comunicativa, como afirmava também Denise Scott Brown, Arquitectura é Comunicação, a apropriação dessas características para enfatizar a tão deliciosa polemica e discussão pelos dispositivos mediáticos. Outro modo para além do edifício, e mais que o edifício é ser associado a nome de uma arquitecto ou de uma escola de arquitectura, ou por outro lado a função de promoção interna arquitecto. Também tem sido o campo na arquitectura ao qual foi concedido mais espaço mediático para reflectir sobre as suas próprias questões disciplinares 3. Uma procura que distinguiu o “vocabulário corrente do texto da escola do porto deve ter-se em conta que, quando se falo no real, o sujeito é o projecto moderno, quando se falade sitio, tratamos de uma identidade (meta)física onde o projecto moderno pode encontrar o lugar.” 4 Esse Sentido moral da escola do porto e suas ideologias não eram consentidas pela restante arquitectura, da sensação imediata, no ícone ideológico, de uma arquitectura sensacionalista que se mediatiza a si próprio. A escola do Porto nunca necessitou de auto promover dessa forma, nem precisou de chamar a atenção, é no percorrer que se dá a subtileza do espaço arquitectónico, não precisava de uma palco mediático, mas pelo seu valor teve, e ao tê-lo foi para a discussão pública. Essa reflexividade permanente tendo tido benefícios no campo da discussão, mas também tem pontos negativos, pois há quase um constante olhar para o espelho, uma super-reflexão interna, uma endoscopia que vai progressivamente consciencializar a esfera pública, contudo há duvidas também quando a critica se dá apenas em casos de qualidade, e só mais recentemente começaram a apontar o que de mau se faz, concebendo sempre um certo ambiente de vocabulário e estilo que vai-se afinando no campo da mediatização e fora dele. Conclusão O fenómeno da arquitectura “Portoguesa”, ou escola do Porto, teve esse rápido implantação, por uma simples construção de identidade, que por consequências históricas não era nova, mas enquadrava-se no regionalismo critico, do já consagrado Keneth Frampton, e por aí, ganhou um maior impacto, a ponto de que a própria mediatização portuguesa advém da sua própria consagração de uma mediatização internacional e suas expansão.

3 4

Gadanho 2010 Jorge Figueira 2002

Arquitectura “Portoguesa”– uma construção mediática João Casals Moreno de Penha Ferreira 2010/2011 Teoria 1, Turma 3, Grupo 4 - Pós-Modernismo

5

6

7

Bibliografia: BENJAMIN, Walter; Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Politica; relógio de água Lisboa 1992 GADANHO, Pedro; (2007). Arquitectura e Mediatização Generalista, 1990-2005: Uma Crítica Cultural do Campo Arquitectónico. (Dissertação de Doutoramento em Arquitectura apresentada à Faculdadede Arquitectura da Universidade do Porto). GADANHO, Pedro; Arquitectura em Público; Dafne Porto 2010 DOVEY, Kim; Framing Places – mediating Power in built form; Routledge New York 1999 GRANDE, Nuno; “Internacionalismo crítico: o possível lugar de uma revista de arquitectura”, in: Nu, nº18, Março de 2004 CARVALHAL, Mário; “Abrir os Olhos”, in: Nu, nº30, Março de 2007 CARVALHAL, Mário; “domesticidade e Poder”, in: Nu, nº30, Março de 2007 RESENDE, Pedro; “Arquitectura e Poder na Cidade”, in: Nu, nº30, Março de 2007 BANDEIRA, Pedro; “Miragem”, in: Nu, nº6, Dezembro de 2002 MONTANER, Josep Maria; “A estética do consumo na Arquitectura – de Robert Venturi a Rem Koolhaas”, in: Nu, nº6, Dezembro de 2002 BANDEIRA, Pedro; “Efeito Chaterine: simulacros e sedução em arquitectura”, in: Nu, nº6, Dezembro de 2002 FURTADO, Gonçalo; “Transitoriedade e Apolítica”, in: Nu, nº8 Fevereiro de 2003 GONÇALVES, Fernando; “O Jornal e a Revista Arquitectos”, in: Jornal Arquitectos, nº100, Junho 1991 FERNANDES, José; “5 anos de J.A. – temas favoritos”, in: Jornal Arquitectos, nº50, Outubro 1986 Oliveira, Angela.; (2009). Arquitectura Mediada . Difusão através das Revistas Portuguesas da Especialidade (Dissertação de Mestrado em Arquitectura apresentada à Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto). ECO, Umberto; Obra aberta; trad. João Rodrigo Narciso Furtado; DIFEL-Difusão Editorial, Lisboa 1989. COLOMINA, Beatriz Privacy and publicity: modern architecture as mass media; Cambridge, The MIT Press, 1994 FIGUEIRA, Jorge; Escola do Porto: um mapa crítico; Coimbra Ed. DARQ 2002

5

Casa de Chá 1963 - Álvaro Siza Vieira Faculdade de arquitectura da Universidade do Porto 1986 - Álvaro Siza Vieira 7 Mercado Municipal de Braga 1980 – reconversão 1997 – Eduardo Souto Moura 6

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.