Arquitetura capixaba desde 1535: Modernismo e tardomodernismo na Região Metropolitana da Grande Vitória

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Arquitetura capixaba desde 1535: Modernismo e tardomodernismo na Região Metropolitana da Grande Vitória

Coordenação: Dra. Clara Luiza Miranda Silvia Caser Spolaor (Bolsista FAPES) Larissa oliveira de Araújo (Bolsista FAPES) Agnes Leite Thompson Dantas Ferreira (arquiteta participante) Recursos: FAPES - Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito

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Introdução

Arquitetura capixaba desde 1535: Modernismo e tardomodernismo na Região Metropolitana da Grande Vitória Coordenação Clara Luiza Miranda Bolsistas: Silvia Spolaor, Larissa Araújo, Agnes Ferreira (arquiteta participante) Neste anexo mostramos parte da produção feita com os recursos obtidos com FAPES. O objeto da pesquisa aborda um período entre o Movimento Moderno e o Tardomoderno. Foram estabelecidos recortes que consistem o desenvolvimento da ideologia do moderno no Espírito Santo: “Os arquitetos modernistas na Grande Vitória. Linguagem Internacional e projeto nacional da arquitetura”; e os desdobramentos e novas perspectivas do movimento moderno no estado: “Arquitetura e arquitetos do Tardomodernismo, do milagre brasileiro à abertura política”. A parte da pesquisa “Os arquitetos modernistas na Grande Vitória. Linguagem Internacional e projeto nacional da arquitetura” foi tratada na perspectiva traçada no plano apresentado inicialmente à qual ao final inseriu-se a metodologia de análise do processo projetual. Esta parte da pesquisa é detalhada nos tópicos (ver sumário): Arquitetura Moderna Capixaba: Modernismo, cultura, ideologia e política 1930–1965; Cronologia do Modernismo: cultura, ideologia e política; Processo criativo e linguagem da Arquitetura Moderna Capixaba; Os arquitetos modernistas na Grande Vitória. Linguagem Internacional e projeto nacional da arquitetura; Edifícios educacionais anos 1920 aos anos 1980. Na parte da pesquisa “Arquitetura e arquitetos do Tardomodernismo, do milagre brasileiro à abertura política” além das metodologias previstas de análise morfológica, tendo em vista os tipos de estudos realizados pelos historiadores, tratamos dentro da mesma perspectiva temática. Visa-se cortejar a produção da arquitetura ao contexto sócio-econômico e cultural, assim como abordar um grande conjunto de obras das temáticas selecionadas para serem estudadas nesta fase da pesquisa: edifícios educacionais, setor institucional e habitação coletiva. Explicações sobre a abordagem historiográfica temática encontram-se no texto Considerações sobre a metodologia da abordagem do período Tardomoderno (Pós Brasília) na pesquisa Arquitetura Capixaba e o próprio projeto da bolsista tratando mais especificamente questões sobre habitação.

3 Sumário

Arquitetura Moderna Capixaba: Modernismo, cultura, ideologia e política 1930– 1965

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Cronologia do Modernismo: cultura, ideologia e política Processo criativo e linguagem da arquitetura moderna na pesquisa “arquitetura capixaba desde 1535 Processo criativo e linguagem da Arquitetura Moderna Capixaba Os arquitetos modernistas na Grande Vitória. Linguagem Internacional e projeto nacional da arquitetura Edifícios educacionais anos 1920 aos anos 1980

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14 254

42

Considerações sobre a metodologia da abordagem do período Tardomoderno (Pós Brasília)

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Arquitetura e arquitetos do Tardomodernismo, do milagre brasileiro à abertura política: arquitetos e habitação

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Anexos exemplos de fichas dos arquivos produzidos (sintético)

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4 Arquitetura Moderna Capixaba: Modernismo, cultura, ideologia e política 1930–1965 (Texto introdutório do Catálogo da exposição feita no Congresso de Arquitetura Capixaba em março de 2009, no prelo) A modernidade foi produto de processos globais de racionalização que se deram na esfera econômica, política e cultural. A racionalização econômica formula a mentalidade empresarial moderna, baseada no planejamento e na contabilidade. Entre as promessas da modernidade, constava que todos os indivíduos e nações deveriam ter condições concretas de autonomia política, de economia e de pensamento. No contexto dessa racionalização, modernização significava, sobretudo, aumento de eficácia, visando à ampliação da autonomia (emancipação). No fim da Primeira Guerra Mundial, adveio uma situação social, econômica e tecnológica profundamente modificada. Acelerou-se o desenvolvimento industrial, com a propagação de plantas, de infra-estruturas e de redes, gerando postos de trabalho e inovações tecnológicas. Isso resultou na multiplicação mundial das populações urbanas. A arte assumiu um papel de crítica a tudo que reificasse a vida, e atuou na vanguarda da programação cultural metropolitana. Articulou uma rica interlocução com a arquitetura, que se baseava numa nova plástica, compartilhando novas espacialidades e temporalidades. Em conseqüência disso, emergiram novos aspectos de percepção e fruição do mundo: “ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor”, como o disse Marshall Berman. A burguesia profissional se transformou em “classe” de técnicos dirigentes; a classe operária tornou-se um componente forte da comunidade urbana densa, congestionada e poluída pelas emanações das instalações fabris. Devido às mudanças em seu dinamismo funcional e à crescente mecanização dos serviços e dos transportes, a estrutura da cidade do Século XIX não respondia às novas exigências sociais e técnicas. Na concepção do movimento moderno, a cidade foi considerada um organismo produtivo, de modo que o problema do urbanismo deveria preceder o projeto de arquitetura e a construção civil. Nesse contexto, entre 1928 e 1956 organizaram-se os Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna (CIAMs), a fim de racionalizar a construção e adequar a estrutura da cidade à função produtiva social urbana, observando que as soluções da construção civil se alinhavam à escala urbanística e à tecnologia industrial. A Carta de Atenas (produto do IV CIAM, de 1933) apontou a especificação espacial das funções de habitar, trabalhar, circular e recrear como uma das soluções para a organização urbana. No Segundo Pós-Guerra, algumas posturas do CIAM foram reavaliadas. Ocorreu a revalorização do coração da cidade e a difusão da integração das artes, para romper com a padronização construtiva e rearticular a função educativa da Arte. Nesse período que, também, coincidiu com o início da Guerra Fria, verificaram-se manifestações paradigmáticas expressionistas da arquitetura, com certo grau de regionalismo.

5 O Brasil, entre 1930-1946, possuía base econômica agro-exportadora, industrialização nascente, maioria da população rural, alto índice de analfabetismo e cultura dominante superficial. Desde os anos 30, os investimentos na formação de uma estrutura industrial, de um mercado nacional e de um campo cultural mais fértil foram massivos. Constituiu-se a luta para sair do subdesenvolvimento, o que fortaleceria a indústria de base e levaria a uma relativa autonomia cultural. A lógica instaurada pelo projeto modernista brasileiro definia-se na interação entre a necessidade de renovação cultural e de reforma social, para ingressar na modernidade e gerar a modernização do país. Tratava-se de construir uma identidade (nunca de recuperá-la) baseada na paisagem local e no novo homem brasileiro. Em toda parte, os modernistas brasileiros, artistas e arquitetos, praticaram suas ações forçosamente orientadas para a política cultural. Essas modalidades de ações culturais verificam-se em trabalhos de Mário de Andrade, Villa Lobos, Lúcio Costa, Affonso Reidy, Oscar Niemeyer, Maria do Carmo Schwab, Élio Vianna, Ary Garcia Roza, Burle Marx, Carmen Portinho, Rino Levi, Vilanova Artigas, Pagú, Portinari e outros. Os aspectos estratégicos para condução desse projeto modernizador por artistas e arquitetos foram as articulações entre o Modernismo e o Estado. Por seu turno, a indústria da construção civil capturou da Arquitetura Moderna Brasileira aporte para uma nova imagem plástica da cidade. O resultado implicou a expansão do tecido urbano e a verticalização dos centros das cidades. A Arquitetura Moderna colaborou com o incremento da produção de equipamentos e materiais de construção, sobretudo o concreto armado, e com o desenvolvimento de técnicas do cálculo estrutural (em que nos tornamos craques entre os anos 1960 e 1970, com Emílio Baumgarten, Joaquim Cardoso, Ernesto Walter, Hélio Cyrino, Jorge Minassa), promovendo conjuntamente a difusão de novas tipologias e modos de habitar. Nossa cronologia relaciona o Modernismo com alguns aspectos da cultura, da ideologia e da política, constituindo uma trama entre essas esferas a partir de dados não-homogêneos que se põem ora cotejáveis ou afins, ora contraditórios, ora desdobrados em cadeias de causa e efeito ou redes de relações mais ou menos autônomas. A cronologia inclui um momento precursor (1922-1930) e alguns poucos desdobramentos do período que enfocamos mais diretamente entre 1930 e 1965. A elucidação das manifestações concretas da Arquitetura Moderna exige uma série de premissas e condicionantes socioeconômicos e culturais, sobretudo relacionados à instalação da indústria de base; ao desenvolvimento de uma classe média numerosa, com formação acadêmica; à constituição de uma classe operária considerável; à composição de um campo cultural relativamente autônomo; à concepção de produção acadêmica e artística; e ao incremento de uma circulação crítica de idéias (via mídia, instituições, grupos e encontros). A constituição de um estilo, de uma linguagem ou de uma escola (como foi chamada a manifestação carioca, ocorrida entre 1940 e 1960), dependeu da colaboração de muitos arquitetos, artistas, urbanistas, construtores, calculistas, críticos e teóricos –, desvelando em obra e discurso, problemas técnicos, construtivos, morfológicos, tipológicos e paisagísticos, a fim de propor soluções e materializá-las. Uma escola nunca é trabalho de um indivíduo,

6 embora dependa de insights individuais, para dar visibilidade às melhores sintaxes e composições. A Escola Carioca não foi bem a expressão inerente de uma identidade carioca. Ela teve aportes internacionais, e construiu-se para além das fronteiras dos vários Estados brasileiros: Nova York, Paris, Milão e Argel. A particularidade da interpretação carioca da Arquitetura Moderna constituiu-se da partilha de um medium histórico da linguagem, cuja intercessão viabilizou a difusão de conceitos-chave para o desenvolvimento dos afazeres dos arquitetos, inclusive para a compreensão dos produtos de seus trabalhos. Enfim, seria contraditório e excessivo cobrar a manifestação da identidade capixaba nesse conjunto de obras modernistas. A Arquitetura Moderna realizada no Espírito Santo se emoldura com valorosas obras no quadro amplo da Arquitetura Moderna Brasileira - AMB. Os modernistas capixabas recorreram aos códigos da AMB, às sintaxes coerentes, seguras e adequadas ao sítio em relação às localidades onde construíram. A qualidade inerente (que está, por natureza, inseparavelmente ligado a alguma coisa ou pessoa) distingue-se do atributo autenticidade. Autêntica, genuinamente moderna e brasileira, esses são os atributos da Arquitetura Moderna Capixaba.

7 Cronologia do Modernismo: cultura, ideologia e política:

1928

As primeiras obras da Arquitetura Moderna Brasileira são projetadas por Gregori Warchavchik (1928-30). Fundação do Congresso Interncional de Arquitetura Moderna em La Sarraz, Suíça- CIAM.

1929

Crise econômica mundial, crise da monocultura do café no Brasil. Le Corbusier visita São Paulo e Rio de Janeiro. Art Déco também chamado de Protomodernismo se difunde no Brasil a partir do RJ. Difusão do muralismo mexicano O imigrante alemão Henrique Meyerfreund funda a fábrica de balas, em Vila Velha, mais tarde conhecida como Chocolates Garoto.

1930

Início da Era Vargas, estruturação do setor industrial brasileiro. O Governador do Espírito Santo é o militar mineiro Punaro Bley (1930-43). Tem início a estruturação da base rodo-ferroviária e portuária estadual. Reforma da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro sob a direção ne Lúcio Costa, afastado em 1931. Difusão do uso do concreto armado na construção civil brasileira.

1931

Criada a Revista da Prefeitura do Distrito Federal (1931-71), a primeira publicação que divulga projetos de arquitetura moderna no RJ. A principal editora é a engenheira e urbanista Carmen Portinho. Inaugurado o Edifício Empire State em Nova York, 102 andares, estilo Art déco, a estrutura mais alta do mundo até 1971. Visita de Frank Lloyd Wright ao Rio de Janeiro. Villa Savoye, projeto de Le Corbusier em Poissy, França

1932

Os nazistas fecham a Escola Bauhaus. Premio Nobel de Física é dado a Werner Heisenberg, enunciador do “Princípio da Incerteza”. A nova legislação de Nova York preconiza o isolamento dos vizinhos, influência do CIAM. Exposição “Estilo Internacional, arquitetura desde 1922” no MoMA, Nova York. Inauguração do Cine Teatro Glória, considerado o primeiro edifício em altura de Vitória.

8 1933

É regulado o estatuto profissional do arquiteto no Brasil, considerado insatisfatório pelos arquitetos. Os grupos do Construtivismo Russo são atacados por grupos partidários de Stalin. O Realismo Socialista se torna o estilo oficial soviético. Presidente Roosevelt instaura o New Deal, programa de recuperação econômica americana. IV CIAM organiza a “Carta de Atenas”, publicada por Le Corbusier em 1946. Corbusier também propõe a Ville Radieuse em 1933.

1934

Stalin expurga dirigentes políticos da URSS Criação da Universidade de São Paulo

1935

Marcello Piacentini projeto da Universidade de Roma Filme do Ano: Tempos Modernos de Charles Chaplin. John Keynes publica “Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda".

1936

Projeto do Edificio do Ministério da educação e Saúde Publica no Rio de Janeiro, sob a consultoria de Le Corbusier, equipe coordenada por Lúcio Costa. Criação da Associação Brasileira de Cimento Portland Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright Filme do ano: E o vento levou, Criação do Fusca na alemanha

1937

Guernica de Picasso. Vila Mairea, Finlândia, Alvar Aaalto. Entra em operação o avião a jato. Estado Novo (1937-42).

1938

Invenção da xerox nos EUA Invenção da Fórmica e da luz fluorescente. Início da perseguição do judeus na alemanha

1939

Exposição Universal de Nova York, o Pavilhão do Brasil tem projeto de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Eclosão da Segunda Guerra Mundial.

1940

Criação da Associação Brasileira de Normas técnicas – ABNT. Vitória é um porto comercial de projeção nacional. . O Expressionismo Abstrato se difunde na pintura americana. Invenção do radar. O Brasil tem 41 milhões de habitantes, 30% da população é urbana. A

9 população do ES é de 750 mil. 1941

O Japão bombardeia Pearl Habor. Sigfried Giedion publica Espaço, tempo e Arquitetura. Filme do ano: Cidadão Kane Orson Welles

1942

Inaugurado o Centro Rockefeller em Nova York, espaço da “Indústria Cultural”: Time, Life, Radio City Music Hall, NBC Projeto da Pampulha de Oscar Niemeyer na gestão do prefeito Juscelino Kubtscheck. A CVRD foi instituída pelo presidente Getúlio Vargas e encampa a Estrada de Ferro Vitória Minas.

1943

Publicação do Livro Brazil Builds pelo MoMA de Nova York. Afirmação da “Escola Carioca” da Arquitetura Moderna Brasileira.

1945

Bruno Zevi publica Arquitetura Orgânica. Os EUA bombardeiam Hiroshima e Nagasaki. Criação da ONU. Getúlio Vargas é deposto. Entra em operação o alto-forno da Companhia Ferro e Aço de Vitória, COFAVI

1946

O presidente Eurico Dutra, eleito em clima de reeestabelecimento da democracia no Brasil, se alinha aos Estados Unidos. Trava-se a “política de boa vizinhança” entre os EUA e o Brasil. Criação da Fundação Casa Popular pelo Presidente Dutra. Casa Fansworth por Mies Van der Rohe. Guerra Fria, do Segundo Pós Guerra à extinção da URSS (1991).

1947

Início do Planejamento Regional de Nova York. Unidade de Habitação em Marselha, projeto de Le Corbusier. Jackson Pollock formula a poética seus principais trabalhos. O Partido Comunista é colocado na ilegalidade no Brasil.

1947

Criada a Faculdade de arquitetura do: Instituto Mackenzie. Elaborado o primeiro Plano Diretor do Centro de Vitória com a supervisão do urbanista francês Donat Alfred Agache (não foi promulgado). ONU aprova a partilha da Palestina entre judeus e árabes, contra a vontade de palestinos e dos outros países árabes. Lina Bo Maria Bardi cria a Revista Habitat, em São Paulo.

1948

Plano Marshall de ajuda americana à reconstrução da Europa

10 Norbert Wiener publica Cibernética e Sociedade É inventado o LP. 1º Censo Oficial de Favelas. Criação da FAUUSP. 1949

Projeto da Sede da ONU, Nova York, por Le Corbusier, Oscar Niemeyer e Wallace Harisson. George Orwell publica 1984.

1950

Jean Dubuffet, Art Brut Inauguração do Estádio do Maracanã, RJ, projeto de Pedro Paulo Bastos e equipe. Arquiteto, a profissão liberal convive com duas novas perspectivas de atuação: o assalariado e o “homem de negócios”. A população do Brasil é de 60 milhões, 36 % é urbana, o ES tem 870 mil habitantes.

1951

Início do governo de Jones Santos Neves - 1951-54, “O Coração da Cidade” é o.tema do VIII CIAM, realizado em Hoddeston, Inglaterra. Entre 1951 e 1955 as Bienais de Arquitetura estabelecem novos pontos de contato entre a arquitetura brasileira e o movimento moderno. Complexo do Parque Ibirapuera (SP) por Niemeyer, Zenon Lotufo, Hélio Uchoa e Eduardo Kneese de Mello. Edificio Copan (SP) por Oscar Niemeyer.

1952

A fundação Rockfeller apóia a criação do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro - MAM - projeto de Affonso Reidy. Conjunto Pedregulho, Projeto de Reidy, RJ. Edifício Marques de Herval dos MMM Roberto, RJ.

1953

Museu Guggenheim, Nova York, Frank Lloyd Wright. Descoberta do DNA.

1954

Richard Buckminster Fuller cria a cúpula geodésica. Casa de Canoas de Niemeyer, RJ. Aterro da esplanada Capixaba e de Bento Ferreira. IV Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado em São Paulo com o tema: A Arquitetura no Brasil - O Urbanismo no Brasil. A crítica acompnha o debate entre “formalistas” e “realistas”.

1955

Revista Módulo, Rio de Janeiro, fundada por Oscar Niemeyer, tem como

11 diretores: Joaquim Cardoso, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Rubem Braga, Vinícius de Morais entre outros. É fechada durante o regime militar. Os Smithson declaram que o “Novo Brutalismo” é o único desenvolvimento possível para o Movimento Moderno. Le Corbusier projeta a Igreja Rochamp. 1956

Lançamento do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. O concurso para o Plano Piloto de Brasília é vencido por Lúcio Costa. Criado o COSU - Conselho Superior do IAB, na gestão de Ary Garcia Roza com a participação de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. O artista Pop Inglês Richard Hamilton exibe a colagem "O que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?". No CIAM de Dubrovnik, o Team X dissemina a contestação sistemática dos princípios doutrinários do urbanismo funcionalista.

1957

John Utzon projeta a Ópera de Sidney. Forma-se a Internacional Situacionista. A URSS lança o Satélite Sputinik. Jack Kerouac publica On the Road. A orientação básica do realismo socialista no Brasil é “a democratização da herança cultural e o fortalecimento da cultura do povo”

1958

Niemeyer anuncia mudanças em seu trabalho para um “sentido de maior pureza e simplicidade”.

1959

Alvar Aalto projeta a Igreja de Imatra Jean Luc Godard dirige Acossado Fidel Castro assume o poder em Cuba

1960

Brasília, a nova capital, é inaugurada por JK. Show de Bossa Nova na Praia Vermelha, RJ.. A população do Brasil é de 70 milhões, 45% é urbana, o ES tem 1.188 mil hab. Vitória tem 85 mil hab., é a 4ª. cidade, Colatina tem 154 mil é a mais populosa.

1961

Série latas da sopa Campbell's de Andy Warhol. Yuri Gagarin, astronauta russo, é o primeiro homem a passear no espaço Jane Jacobs publica Morte e Vida das Grandes Cidades. Acordos MEC/USAID para reforma do ensino selam a “Aliança” com os EUA, iniciado em 1949. Janio Quadros renuncia à presidência da república.

1962

Estréiam as bandas Beatles e Rolling Stones.

12 Edificio da TWA do Aeroporto JFK, Nova York, projeto de Eero Saarinen. Última visita de Le Corbusier ao Brasil. Prédio da FAUUSP inaugurado, projeto de Vilanova Artigas. Nelson Mandela é preso na África do Sul. Elaboração do programa para erradicação dos cafezais que provoca desemprego no setor agrícola e êxodo rural no ES. 1963

Assassinato de J. F. Kennedy. Seminário de Habitação e Reforma Urbana no Rio de Janeiro. Primeiro vôo do Boeing 727-100. Lançamento do satélite de comunicações Syncon. Desenvolvimento da linguagem BASIC de computador.

1964

João Goulart é deposto pelos militares. Surge a Jovem Guarda. Criação do BNH. Criada a OLP (Organização Para a Libertação da Palestina). Ron Herron propõe a Walking City.

1965

Plano Diretor de Curitiba, PR, Jaime Lerner e equipe. Guerra do Vietnã, envio das primeiras tropas dos EUA. A TV Globo começa a operar no Rio de Janeiro através do canal 4. Os partidos políticos brasileiros são cassados pelo Ato Institucional número 2.

1966

Nova lei regula o exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-Agrônomo. Outro Decreto lei dispõe sobre a remuneração profissional. Aldo Rossi publica Arquitetura da Cidade. Robert Venturi publica Complexidade e Contradição em Arquitetura.

1967

Manifesto de Hélio Oiticica no MAM-RJ, a obra Tropicália, que desencadeou o Movimento Tropicalista. Aprovada a Comissão de planejamento do Campus Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. É criado o IAB-ES, o primeiro presidente é Élio de Almeida Vianna.

13 1968

Maio de '68, uma greve geral na França se torna uma insurreição popular em escala mundial, O Ato Institucional Número Cinco, ou AI-5, constitui-se o instrumento de poder absoluto do regime militar. O Congresso Nacional fica fechado por quase um ano. No dia 26 de junho, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro para protestar contra a ditadura militar.

1969

Festival de Woodstock, festival de música, marca o início da era hippie e da contracultura. 55% da população brasileira é urbana. A construção civil reduz sua participação no PIB de 9,5 % para 5,2 % enquanto a indústria de transformação amplia de 13,9 % para 18,6 %. Se difunde no Brasil o slogan “Ninguém segura este país”.

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Processo criativo e linguagem da arquitetura moderna na pesquisa “arquitetura capixaba desde 1535 (Texto aceito na Manuscrítica [Crítica Genética] 16. IFLH-USP)

O texto apresenta a introdução na pesquisa Arquitetura Capixaba da análise do processo criativo de arquitetos do movimento moderno. Tem-se grande expectativa de que esta metodologia auxilie a ampliar a compreensão sobre os meios materiais e os imateriais da produção das obras de arquitetura do corpus da pesquisa, possibilitando a reflexão sobre os seus problemas e quiçá acessar sentidos compartilhados entre pares (e a sociedade), incluindo a verificação sobre os limites da atuação social e profissional.

Esta pesquisa (2002-2009) traça um panorama histórico da Arquitetura capixaba desde a colonização pelos portugueses (1535) até o ano de 1990. O recorte geográfico foi estabelecido na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), tratando destes segmentos arquitetônicos da colonização: Historicismo, Protomodernismo, Arquitetura Moderna e Tardomoderna. As obras são destacadas por seu valor histórico para a cultura regional e disciplinar. A meta é selecionar, catalogar e analisar um número representativo de obras, a fim de distinguir uma história inédita: a da Arquitetura capixaba, no campo historiográfico nacional. Uma história de longa duração apresenta os problemas inerentes às teses panorâmicas. Tais problemas se experimentam desde a delimitação dos recortes, em termos de enunciados, até à seleção dos dados das matérias avaliadas. Umberto Eco (1983) adverte que o aprofundamento é mais seguro do que a abrangência, pois esta se expõe a toda sorte de contestações possíveis. No caso de uma história de longo período cronológico, é prudente considerar que não se trata de um trabalho que se possa fazer individualmente em poucos anos. A pesquisa, entretanto, consiste propriamente na distinção de conjunturas históricas, cujas transformações se dão num processo de longa duração. Isso diz respeito à subdivisão de períodos e à enunciação de seus respectivos contextos, deduzidos, por sua vez, da seleção de documentos e da promoção de diálogos entre uns e outros. A articulação de tais contextos nasce do jogo interpretativo, baseado em determinadas teorias e metodologias. Estas se afirmam como mecanismos de mediação do discurso “entre meios alternativos para codificar a realidade” (WHITE, 1994). A operação histórica refere-se à combinação entre um lugar social, as práticas científicas e uma escrita (CERTEAU, 1984). Para Michel de Certeau, o corte é o postulado da interpretação. Esse mecanismo da pesquisa separa aquilo que será interpretado, que poderá ser compreendido, daquilo que será esquecido. Nesta pesquisa, o corte tem eminentemente a finalidade interpretativa. Ele não se coloca como uma clivagem rigorosa e definitiva, sobretudo porque o processo de concepção de projetos e obras de Arquitetura articula a memória, a crítica, a ideologia e a imaginação (ARGAN, 1993), contestando cortes peremptórios. O confronto de diversas historicidades no método da História da Arte ao mesmo tempo em que

15 reafirma a singularidade dos acontecimentos, contrapõe-se à unidirecionalidade e à univocidade do processo histórico. O percurso passado da Arte e da Arquitetura pode ser considerado uma virtualidade aberta, posto que aloque, para a cultura vivida, sedimentações, canalizações, ligações conscientes e inconscientes entre fenômenos (ARGAN, 1992), ou seja, um dado período articula uma diversidade de historicidades entre si (FOUCAULT, 1995). Essa concepção reforça a noção de que as práticas artísticas e arquiteturais incidem num campo de relações de forças que, por sua vez, é passível de ser analisado e desmontado. A periodização histórica proposta está relacionada ao termo conjuntura, que é a concorrência de acontecimentos para uma determinada situação. A narrativa, assim constituída, articula-se num campo de “rebotes”, no qual os encaixes, as inércias, as polarizações, os cruzamentos e as inflexões dos cursos de acontecimentos se convertem em objeto de registro e categorização. O tratamento das matérias consideradas efetua um corte ao largo. Abarcam-se e compreendem-se dados, projetos, personagens, modos de fazer, produtos e contextos. O processo é análogo ao scanneamento: uma sucessão topológica de registros epurizados (representados no mesmo plano). As permanências e mudanças de curso na História da Arquitetura regional são abordadas mediante as respectivas formações paradigmáticas e os regimes de visibilidade. Os critérios de análise propostos visam a promover o conhecimento dos procedimentos projetantes das edificações selecionadas, distinguindo sua posição disciplinar, cultural, apontando os procedimentos compositivos-morfológicos e a dimensão construtiva (material e cognitiva) da obra. Trata-se do inventário de procedimentos que fundamentam a criação projetual da Arquitetura regional. A descrição sintática das características construtivas e simbólicas das obras selecionadas é epistemológica e hermenêutica, no seu duplo sentido de explicação e de compreensão. A descrição analítica torna-se didática, pois o objetivo é apresentar um repertório histórico para quem vê, interpreta e vivencia essas obras na cidade. Mas o produto da análise também pretende descrever em cada período um sensorium espaço-temporal, que indique os modos do estar junto ou separado, fora ou dentro, distante ou próximo. Seguindo os passos de Jacques Rancière (2005), os recortes conjunturais da pesquisa tentam demarcar as formas de ocupação dos tempos e dos espaços, como estes posicionam os sujeitos e os objetos, o privado e o público, como manifestam ou acatam as competências e as incompetências que definem o que ele chama de “comunidade política”. A política associada à Arte (Arquitetura), para Rancière (2005), não se restringe ao exercício do poder. Trata-se do recorte de um espaço específico de “ocupações comuns”; do “conflito para definir os objetos que fazem ou não parte dessas ocupações, os sujeitos que participam ou não delas etc.” A associação entre política e estética, Rancière a designa como “partilha do sensível”. Esta constitui, ao mesmo tempo, um comum partilhado (a cultura, os direitos civis, a liberdade) e partes exclusivas, baseadas na diversidade das atividades humanas, definidas pelas “competências ou incompetências” para a partilha. Essa partilha do sensível, segundo o autor,

16 constitui não apenas os meios técnicos, mas, também, os tipos de difusão, de crítica, de interpretação, de recepção e de mercantilização pelos lugares de disposição. Nesse quadro, uma problemática a ser explorada é a relação entre cidade e cultura, manifestada como urbanidade.

IDEOLOGIA, OPÇÃO DE ESTILO E URBANIDADE NA GRANDE VITÓRIA O Espírito Santo ficou numa situação de extremo isolamento nos primeiros 300 anos de existência, sobretudo quando se tornou barreira de defesa da região da exploração do ouro de Minas Gerais. Na República, os Governos de Muniz Freire (1892-1894), de Jerônimo Monteiro (1908-1012) e de Florentino Avidos (1924-1928) recorreram a várias formas de diálogo com o exterior: o sanitarismo, o embelezamento, o ecletismo, a infra-estrutura ferroviária, portuária, a navegação e a imigração. A Arquitetura era produzida como opção de estilo. Essas operações fundamentaram a criação de uma imagem do lugar, efetivando contatos com a retórica do mundo civilizado e expressando um determinado padrão do gosto e de status cultural. As configurações representativas do ecletismo e o crescimento econômico confrontavam-se com a Arquitetura da cidade colonial, que, de acordo com as autoridades e os engenheiros, não tinha ordem nem estilo. Nos anos de 1930, ocorreram mudanças no regime oligárquico das famílias que dominavam a política estadual. Tal regime foi substituído pela ditadura de Getúlio Vargas. Nesse período, incidiu uma mudança do papel do Estado, que se converteu em disciplinador de interesses coletivos. O interventor Punaro Bley (1930-1943) reorganizou a máquina financeira e administrativa, edificou vários prédios de uso público; também modernizou o porto e a infraestrutura rodo-ferroviária. Nessa ocasião, constata-se em Vitória o crescimento da construção civil, a difusão do uso do concreto armado e a verticalização do centro principal. Surgia uma nova elite no comércio urbano e imobiliário. A clientela e os construtores adotavam a vida social urbana de grandes metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, como padrão de status. A Arquitetura Moderna surgiu quando seus pressupostos foram encaminhados no início dos anos 1950, com a instalação da infra-estrutura de energia, de circulação e de transportes, com a entrada da industrialização de grande porte, com a chegada de arquitetos conhecedores dos conceitos modernos e com grupos difusores da ideologia Moderna desenvolvimentista. Entre 1951 e 1955, o advento da Arquitetura Moderna em solo capixaba deu-se no governo de Jones Santos Neves. Partidário de Vargas, Jones aliou-se ao princípio de racionalização e industrialização da arquitetura moderna, pois seu governo partilhava a sua “mentalidade de planejamento” que se disseminava no Brasil. Esse governo contou com trabalhos dos arquitetos Francisco Bolonha (RJ), Ari Garcia Roza, Élio Vianna e Maria do Carmo Schwab. Alguns exerceram suas funções na Secretaria de Viação e Obras Públicas do seu governo. Os anos 1960 constituíram um momento de euforia cultural e artística na Região Metropolitana da Grande Vitória, cujos valores e modelos são difundidos agora pela Universidade e pelos meios de comunicação de massa (LOPES, 1997).

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PROCESSO CRIATIVO E MEDIUM HISTÓRICO DA LINGUAGEM DA ARQUITETURA

O objetivo principal da pesquisa é desvelar a lógica construtiva, material e cognitiva da obra enquanto produto, sem julgar as intenções do autor. A aproximação com o processo criativo ocorre na caracterização das particularidades das concepções lingüísticas, formuladas na atividade criativa do arquiteto. A enunciação comunicativo-expressiva de uma ideológica visão de mundo e o juízo sobre a sociedade situam o arquiteto numa rede de relações, remetida a uma “contextualidade de pertença” (CRISPOLDI, 2004). Esse aspecto fenomenológico de uma elaboração particular da linguagem envolve o seu medium histórico. Esse medium é chave para a concepção do arquiteto (que dialoga direta ou indiretamente com seu contexto, eventualmente, confrontao) e, também, para a compreensão da obra por parte de quem a habita. O medium da linguagem arquitetônica é o conceito, que não deve ser entendido apenas como “uma elaboração mental prévia, destinada a ser substituída pelo projeto”. Tal medium, “não é apenas o instrumento que permite o contato entre os universos do arquiteto e do público: ele é constituinte intrínseco tanto do pensamento daquele quanto das condições da compreensão deste” (BRANDÃO, 2005). O conceito consiste na própria representação e na própria construção, segundo Carlos Antônio Brandão. Para ele, ao crítico interessa compreender os conceitos no projeto enquanto enunciado, e não a idéia original (intenção) do autor. Esta sofre variações e desvios no processo, próprias do modo particular da formação da imagem arquitetônica e sua representação, que são intrinsecamente ligados. Segundo Brandão, o conceito tem a ver com pensamento visual cristalizado do autor no projeto e na obra. Se, prioritariamente, interessam o projeto e a obra construída para análise do conceito, os registros do desenvolvimento da concepção também interessam para o entendimento dos meios alternativos considerados até o momento da configuração final. Estes podem ser acatados como parte não apenas do processo criativo, mas, inclusive, da atividade produtiva do autor e do médium histórico da linguagem. A compreensão do médium da linguagem arquitetônica em dado momento e lugar, que se expressa no “pensamento visual” do arquiteto orgânico e complexo, pode ser efetuada mediante exame de relações processuais entre diversas produções de arquitetos pertencentes ao mesmo momento histórico da atividade do autor (CRISPOLDI, 2004). O exame deve abarcar os vários procedimentos da elaboração do projeto, tais como: os problemas e as soluções paradigmáticas de projeto; o savoir faire constituído pelos meios construtivos cognitivos e materiais; a ética ambiental; os recursos plásticos; os gráficos; e ainda, os discursivos. Esse exame se torna instigante, quando focaliza um conjunto de obras da Arquitetura Moderna brasileira dos anos 1950-1960. Muitos acusam tais obras de proceder indiferenciadamente, destacando a “impossibilidade” de se enquadrá-las “em qualquer sistema orgânico de projetação” – estilo, escola. Essa asserção de Ernesto Rogers (1954) diz

18 respeito a um momento particular do trabalho de Niemeyer. Não pode ser referida ao conjunto da produção do movimento moderno brasileiro, ao qual pertencem os trabalhos de Maria do Carmo Novaes Schwab e de Élio de Almeida Vianna – arquitetos que foram estudados mais detalhadamente no ano de 2008, em nossa pesquisa. Tal tipo de exame (das relações processuais entre obras do período) poderia ajudar a entender a degeneração sofrida pela Arquitetura Moderna brasileira, cuja qualidade se reconheceu entre os anos de 1940 e 1960. Nos anos de 1970, esta se aproxima da Arquitetura comercial comum, denominada “Arquitetura de carregação” (QUEIRÓS, 1987). Por que essa desqualificação da arquitetura? Há algumas hipóteses levantadas por historiadores a ponderar. Há quem afirme que a Arquitetura brasileira vanguardista, muito ligada à intenção plástica, dificulta a criação de uma escola (sua socialização). O trabalho dos arquitetos modernistas capixabas contraria essa hipótese. Há ainda, outras hipóteses não analisadas profundamente sobre a corrupção da linguagem da Arquitetura Moderna brasileira dos anos de 1950 e 1960. A técnica do concreto armado facilmente assimilada (nos seus aspectos básicos) produz um funcionalismo vulgar, e, somada à especulação da construção, conduz à desqualificação dos ambientes na maioria das cidades brasileiras. A análise do processo criativo de um conjunto de obras num estudo panorâmico de História da Arquitetura é impraticável. Entretanto, isso é possível e relevante num conjunto específico de obras como as destes dois arquitetos: Maria do Carmo Schwab e Élio Vianna. Essa intenção esbarra na dificuldade de encontrar os documentos que registram o processo de projetação, tais como os esboços, as anotações e os estudos de projetos realizados entre os anos 1950 e 1960. Nesse período, observa-se que os arquitetos preocuparam-se pouco com o arquivo da documentação das obras (fotografias, maquetes, perspectivas, anteprojetos e projetos executivos) e não guardaram material significativo referente ao método de concepção do projeto. Muitas vezes, esse processo foi apagado ou “passado a limpo” (oferecido na forma de memorial descritivo). Outras vezes, não foi considerado relevante para ser exposto ao pesquisador mais “indiscreto”, interessado na documentação e compreensão do seu processo criativo. No entanto, os arquitetos inquiridos ora na disponibilização de textos e desenhos, ora contando “casos”, acabam apontando alguns rastros preciosos de suas ações criativas e dos processos de colaboração perpetrados com os outros profissionais que afetam tanto o procedimento conceptivo quanto a construção da obra. Se não é possível observar “cada índice” e captar os elementos que reconstituam globalmente os passos da concepção do projeto, os arquitetos evocam os elementos de certa “continuidade metodológica” dos seus trabalhos. Esta tem a função do paradigma como modelo e exemplo em comunidades científicas.

19 O paradigma atua como uma constelação de crenças e valores que se destacaram no período de 1950 a 1960, conjugando estes condicionantes contextuais e disciplinares: o estado da arte, da técnica, da abordagem dos programas; as referências teóricas, morfológicas e éticas em relação ao ambiente e à cultura local; os “antiquados” instrumentos de desenho e seus suportes (que se tornaram raridade no mundo dos softwares e hardwares); os recursos projetivo-gráficos; os modos de interação com outros profissionais: arquitetos, desenhistas, calculistas, especialistas em acústica, técnicos que os auxiliam na realização de programas arquitetônicos complexos tais como os industriais e os hospitalares (por exemplo). Os chamados “colaboradores externos” (BIASI apud CIRILLO & ELOY& CAMARGO, 2008) são inerentes ao modo de produção arquitetural. Os arquitetos relatam, ainda, a interferência, nem sempre profícua, de clientes e executores das obras no processo de construção. Seus depoimentos apontam uma determinada partilha do sensível e a ação de suas competências no quadro dessas partilhas. Os arquitetos Maria do Carmo Schwab e Élio Vianna formaram-se na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Élio Vianna formou-se entre 1943 e 1947; Maria do Carmo, entre 1949 e 1953. Ambos, embora se possam observar, numa e noutro, algumas referências de projetações distintas, partilham posturas e repertórios da chamada Escola Carioca (acatando essa denominação da manifestação carioca de linguagem moderna da Arquitetura, ocorrida entre 1940 e 1960). Pode-se notar a formação de posturas paradigmáticas que veiculam conceitos configurando um medium lingüístico mediante a conjugação de posturas ideológicas e éticas distintas, como as de Affonso Eduardo Reidy, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, para citar os mais influentes. A junção da obra desses arquitetos em colaboração com muitos outros arquitetos, artistas, urbanistas, técnicos das áreas de projetos complementares, construtores, calculistas, críticos e teóricos desvela em obra e discurso problemas e soluções técnicas, construtivas, morfológicas, tipológicas e paisagísticas. Uma escola nunca é trabalho de um indivíduo, embora dependa de insights individuais, para dar visibilidade às melhores sintaxes e composições. No quadro dessa veiculação conceitual, as primeiras providências de Maria do Carmo Schwab, ao retornar a Vitória após a conclusão do curso de graduação, consistiram em fazer o gráfico de insolação, “definir” os caminhos do sol nos solstícios e assimilar os outros conhecimentos do clima e os ventos dominantes. Tais conhecimentos seriam as “armas” para o início do trabalho: “foi a época da chamada ‘Arquitetura Racional’. Vitória aceitava bem a ‘técnica’ daquele tempo. Essa adesão ao racionalismo arquitetônico trás componentes da “maneira reidyana de trabalhar”, marcada pelo estudo do sítio, do meio urbano e da paisagem, pelo rigor construtivo, pela atenção ao conforto, pela preocupação com os detalhes e a atenção ao programa (SCHWAB, 1997). Maria do Carmo estagiou por um período de três anos no Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal sob coordenação de Affonso Eduardo Reidy, entre os projetos podem ser citados a elaboração e o detalhamento do projeto do Pedregulho do Rio de Janeiro. Maria do Carmo ainda disse isto em 1997:

20 A arquitetura que fizemos sempre se valeu dos recursos naturais e da possibilidade de climatização artificial. Foi sempre uma constante a integração dos jardins à arquitetura. Era a presença da ecologia na linha do planejamento (SCHWAB, 1997).

Figura 1 – Estudos de insolação para implantação do Colégio Polivalente de Colatina, nos anos de 1970. A figura acima mostra estudos de insolação para implantação do Colégio Polivalente de Colatina, nos anos de 1970. Na construção dos colégios Polivalentes (modelos MEC-PREMEM), os arquitetos capixabas colaboraram na implantação das escolas que foram planejadas pelo escritório Croce, Aflalo & Gasperini Arquitetos (São Paulo), destinados a vários municípios do Espírito Santo. A arquiteta relata que recebiam “o projeto arquitetônico detalhado, a planta e topografia do terreno. [Iam] ao local para determinar a posição em que devia ficar o prédio, situar as quadras, a piscina etc..., Procurando sempre a implantação correta, de acordo com a orientação e a ventilação de cada lugar.”

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Figura 2 – O primeiro gráfico solar elaborado para Vitória, por Maria do Carmo, 1954.

Figura 3 – Esboço da Residência de Aristóteles Lyrio, indicado como exemplo de integração dos jardins ao ambiente doméstico.

Élio Vianna, por um período significativo de sua carreira, ocupou-se da questão educacional, elaborando projetos de escolas e teses sobre educação. Isso se deve à sua admiração pela temática e à necessidade em face do grande número de escolas que projetou. Nos anos de 1950, o arquiteto procurou adequar os edifícios educacionais aos métodos pedagógicos mais modernos, distanciando-se dos métodos que vigoravam até então. Nesse trabalho, sua ação cultural se converteu em política cultural.

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Figura 5 – Crítica à sala de aula tradicional e nova Figura 4 – Diagrama elaborado por Élio Vianna.

proposta

de

espacialização

das

atividades didáticas por Élio Vianna.

Figura 6 – Estudo de ambiente para “escola de

Figura 7 – Jardim de infância Maria Lindemberg

integração”.

Queirós, 1951.

Abaixo está apresentado um diagrama elaborado por Élio Vianna, que demonstra seu conceito de espaço escolar transcende à linguagem construtiva e formal, ajustando-se a um “programa orgânico que satisfaz integralmente o espírito amorfo da criança e a conduz a seu desenvolvimento na vida pela vida.” Élio Vianna critica a organização de salas de aula tradicionais e propõe salas abertas para atividades múltiplas. Para o arquiteto, as escolas primárias, deveriam ser somente uma grande cobertura, com professores que dirigissem

23 atividades diferenciadas e lúdicas, escolhidas livremente pelas crianças. O arquiteto acreditava que esse método instigaria o interesse do aluno e, conseqüentemente, seu intelecto. Esse pensamento tem afinidades com os métodos pedagógicos, defendidos por Anísio Teixeira, um pensador e pedagogo com grande influência no Brasil no período de 1952 a 1964. No entanto, teve inúmeras dificuldades de implantar suas idéias nas escolas que projetou. Topou com velha dificuldade dos modernos; a defasagem entre o horizonte de expectativas e a realidade de atuação. Esse material obtido nos levantamentos do ano de 2008 ainda foi muito recentemente somado ao corpus desta pesquisa. Não há sedimentação de crítica sobre isso, e a metodologia é nova para os pesquisadores. Há muito que examinar para seu relacionamento no percurso de cada um dos arquitetos objeto deste estudo. Há muito mais ainda que verificar no que concerne à relação desse material com a configuração paradigmática da linguagem da Arquitetura Moderna. Entretanto, é mais satisfatório poder contar com esses vestígios à luz da metodologia da análise do processo criativo do que deduzir, totalmente no escuro, os aspectos relativos à concepção do projeto de arquitetura no passado. Há que consolidar a busca de embasamento teórico e obter familiarização com os instrumentos de análise no escopo da pesquisa, a fim de se compreenderem seus limites e alcances. Pesquisadores da crítica genética sugerem interagir com as suas redes de pesquisadores. Desse modo, pretende-se ainda entrar em contato com trabalhos similares e com as dificuldades semelhantes de reunir material sobre o processo criativo. As expectativas e os questionamentos que se colocam acerca desse material, no entanto, são enormes.

REFERÊNCIAS

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24 LAWSON, Bryan. How Designers think: the Design Process Demystified. 4. ed. Massachusetts: Architectural Press Elsevier, 2005. LOPES, Almerinda da Silva. Arte no Espírito Santo do século XIX à Primeira República. Vitória, Ed. do Autor, 1997. MIRANDA, Clara Luiza; FERREIRA, Agnes Leite Thompson Dantas; SPOLAOR, Silvia Caser. Análise sobre edifícios educacionais realizados na Pesquisa “Arquitetura Capixaba”. Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Artes, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, 2008 (Paper). QUEIRÓS, Mauricio Vinhas de. Arquitetura e Desenvolvimento. In. XAVIER, Alberto. Depoimento de uma geração. São Paulo: ABEA: FVA: PINI, 1987. p. 155-177. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: EXO Experimental / Editora 34, 2005. ROGERS, Ernesto. Towards a non-formalist criticism. Casabella (200), 1954. SCHWAB, Maria do Carmo Novaes. Considerações sobre Arquitetura e Ecologia. Vitória, 1997 VIANNA, Élio de Almeida. A criança e a evolução dos interesses – esquema de trabalho para o estabelecimento de uma doutrina escolar. [Cidade? Editora?], 1954. WHITE, Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: Edusp, 1994. Todas as imagens são do acervo da pesquisa Arquitetura Capixaba cedidas pelos arquitetos.

25 Os arquitetos modernistas na Grande Vitória. Linguagem Internacional e projeto nacional da arquitetura Silvia Caser Spolaor bolsista FAPES Introdução

O Modernismo está situado em um contexto de transformações sociais e culturais relacionadas as formas produtivas, as técnicas e as tecnologias industriais. O Eclético não era mais capaz de representar a nova identidade da sociedade, em vias de aderir a cultura de massas e sob grande influência da industrialização. O advento do aço e do concreto armado permite obras mais ousadas, com maiores possibilidades de variação estrutural, morfológica e de organização do espaço, produzindo novos efeitos plásticos. Antes do advento da Arquitetura Moderna propriamente dita, ainda houve uma fase Protomodernista (no sentido de primeiro), na qual os edifícios não se desvinculam totalmente do historicismo, mas já estão livres dos ornamentos, uma limpeza visual, semelhante a efetuada nos tecidos urbanos pelo sanitarismo, articulada a noção difundida por Adolf Loos de que “ornamento é crime”. No Brasil, a Semana de Arte Moderna de 1922 prepara as novas idéias capazes de traduzir essa nova sociedade. A necessidade de um estilo que denotasse a modernização almejada e para a construção de uma identidade brasileira renovada contribuíram para a proliferação da Arquitetura Moderna no Brasil. A atuação de arquitetos como Lucio Costa, no ensino, na teorização e na prática, e de outros como Afonso Reidy, Oscar Niemeyer, os irmãos Roberto e ainda, as visitas de Le Corbusier ao Brasil em 1929 e 1936, também foram essenciais para absorção da linguagem moderna. No Rio de Janeiro, o primeiro paradigma da Arquitetura Moderna Brasileira será o edifício projetado para abrigar o Ministério da Educação e da Saúde Pública, durante a gestão de Gustavo Capanema, em 1936. Em Belo Horizonte, em 1942, é construído o complexo da Pampulha, na gestão municipal de Juscelino Kubistchek. Estes edifícios foram publicados em revistas do mundo inteiro, afirmando a manifestação brasileira da arquitetura moderna.

Procedimentos Metodológicos e operativos Para elaboração desta pesquisa foi utilizada como base a bibliografia metodológica para elaboração de critérios de pesquisa historiográfica em história da arquitetura, pesquisa sobre a Arquitetura Moderna e material iconográfico dos Instituto Jones Santos Neves, da Biblioteca da UFES e acervo pessoal dos arquitetos Elio Vianna e Maria do Carmo Schwab. Foram utilizados Projetos Finais de Graduações do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES, como o “Guia da Arquitetura Moderna Capixaba” de Luciana Mello Murta, concluído no ano de 2000, e o “Memória da Arquitetura Capixaba” de Ana Cristina Lage da Silva e João Bosco Silva Mattos, concluído em 1987 e o trabalho “Elio de Almeida Vianna e Maria do Carmo Schwab: arquitetos modernistas”, de Claudia Emília Lobato Pedrosa Beber, de 1991, todos orientados

26 pela professora Clara Luiza Miranda. Para entendimento do panorama brasileiro no período da Arquitetura Moderna foram utilizados os livros: Arquiteturas no Brasil de Hugo Segawa, A República Bossa-Nova e a Democracia Populista 1954-1964 de José Dantas Filho e Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, Moderno e Brasileiro de Lauro Cavalcanti, além de artigos da revista Projeto. Trabalhos acadêmicos produzidos na graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES também foram utilizados para a pesquisa, assim como, modelos, plantas, volumetrias e diagramas digitais elaborados pelos alunos. Para compreensão da linguagem e dos métodos de projeto e de criação utilizados dos arquitetos foram realizadas entrevistas com Maria do Carmo Schwab, Elio Vianna e com sua filha, Ligia Vianna. Foi realizada a digitalização de arquivos da SEDEC – Prefeitura de Vitória, da Prefeitura Universitária da UFES e dos acervos dos arquitetos, para que pudesse ser formado um arquivo de plantas, imagens, modelos, croquis. Para facilitar esse arquivamento foi elaborado um modelo de arquivo digital do corpus desta pesquisa, separadas por obras arquitetônicas contendo suas informações (arquiteto, data, localização, estado atual, etc) e estabelecendo hiperlink com imagens e dados em arquivo. Para realização das análises foram elaborados modelos tridimensionais, diagramas e fotografias. Foram visitados arquivos e obras dos arquitetos durante a elaboração da pesquisa para obtenção de material: Arquivo Público do Estado, SEDEC da Prefeitura de Vitória, Prefeitura Universitária da UFES, Arquivo da fábrica Real Café em Viana, Arquivo da Sede do Clube Libanês, Biblioteca do IPES, Acervo Especial da Biblioteca da UFES.

Arquitetura Moderna Capixaba Em uma região como a Grande Vitória, aonde não se contava com a infra-estrutura de estradas e energia plenamente desenvolvida, e nem industrialização de bens e serviços que necessita destes condicionantes. Na ausência dessas premissas e de uma mentalidade de planejamento foi necessário um maior tempo para que as cidades pudessem se modernizar. No Brasil as forças produtivas industriais desenvolveram-se concomitantemente com a arquitetura moderna, que antes de ser aceita pelo mercado, primeiro atua mediante a construção de monumentos estatais, na discussão de conceitos, na difusão de técnicas, na criação de novas formas e possibilidades construtivas, tanto quanto na construção da arquitetura popular e de equipamentos públicos. Durante as duas primeiras décadas do século XX são realizadas obras de infra-estrutura como a construção do porto e distribuição de serviços de água, luz e esgoto. O governo de Florentino Avidos deu prosseguimento a modernização da cidade entre 1924-28. Em 1929 a crise cafeeira abalou a economia do estado que era, até então, dependente da exportação do café. Esta crise abriu precedentes para o mercado imobiliário, se que torna uma solução para o investimento do capital.

27 Com o mercado imobiliário formado e desenvolvido a cidade passa por um processo de verticalização devido, principalmente, à demanda residencial, ligada a presença da CVRD, que é criada em 1942. No ano de 1947 foi proposto (mas não foi implantado plenamente) o primeiro plano diretor urbano de Vitória, desenvolvido pelo urbanista francês Alfred Agache, durante o governo de Carlos Lindemberg, gerando uma valorização dos chamados “espaços de poder” através de demolições, criação de novos alinhamentos e novas ruas.

Durante o governo de Jones Santos Neves, Vitória passa por melhorias nas condições de saneamento, de infra-estrutura urbana e produtiva. O governo Jones ainda reafirma a expansão da cidade através do aumento de áreas edificáveis e da densificação de zonas comerciais. Executam-se vários aterros na sua gestão, como o da Esplanada Capixaba e de Bento Ferreira que visado pela atuação do mercado imobiliário. O governante abrirá as portas da cidade para receber obras da Arquitetura Moderna, contratando arquitetos como Francisco Bolonha, Ary Garcia Roza, Elio Vianna para elaborar projetos importantes. Os primeiros projetos de caráter modernista na Grande Vitória foram escolas e edifícios de órgãos públicos, depois passam a incluir prédios sedes de empresas, clubes e também residências privadas e coletivas. Os principais arquitetos modernistas, considerando o longo período de atuação e o impacto regional de suas obras, que atuaram foram Elio Vianna e Maria do Carmo Schwab.

Figura 01- Vista Centro de Vitória anos 50 Através do levantamento de obras e de análises das obras modernistas produzidas em nosso estado podemos encontrar várias afinidades entre os projetos e obras dos arquitetos Maria do Carmo Schwab e Élio Vianna, apesar de ambos possuírem suas particularidades. Isso denuncia a partilha de códigos comuns do modo de projetar da chamada “escola carioca”, mais próxima de Reidy do que Niemeyer, no entanto, mais “racionalista” do que “formalista”.

Elio Vianna Élio de Almeida Vianna nasceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1921. Estudou no Espírito Santo e no Rio Grande do Sul durante sua formação pré-universitária. Cursou Arquitetura na

28 Faculdade Nacional de Arquitetura na Universidade do Brasil no Rio de Janeiro, entre 1943 e 1947. Veio para Vitória, após a graduação, onde lhe foi oferecida a oportunidade, por Jones Santos Neves, de realizar projetos junto ao governo do Estado. A partir de 1948, ocupou o cargo de engenheiro da Secretaria de Viações e Obras Públicas do Espírito Santo (SVOPES). Ainda dentro do SVOPES, criou a seção de Planejamento, da qual foi designado chefe, ocupando-se então da questão educacional, elaborando projetos de escolas e teses sobre educação. Durante o ano de 1966, Elio freqüentou um curso de Instalações Industriais na PUC do Rio de Janeiro. A partir deste curso produziu diversos projetos industriais como a fábrica da Real Café e da CCPL em Viana, redirecionando o foco de sua carreira. Elio Vianna considera como sua fase mais madura arquitetonicamente aquela dedicada a elaboração de projetos industriais. Apesar de considerar todos os seus projetos como bons – especialmente devido às pesquisas realizadas relacionadas a cada tipo de projeto concebido – considera como suas melhores obras aquelas dedicadas à indústria.

Figura 02 – Elio Vianna em atuação nos projetos na Figura 03 – Desenho de Elio Vianna SVOPES para a fábrica da Real Café

Figura 05 - Politécnica Figura 04 – Colégio Estadual

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Figura 07 – Volumetria do edifício escolar

Figura 06 – Projeto de Elio Vianna para edifício escolar Figura 08 – Um dos diagramas para organização do programa escolar Maria do Carmo de Novaes Schwab Maria do Carmo Schwab nasceu em Vitória no ano de 1930. Em 1947, Maria do Carmo tem a oportunidade de estar em contato com Alfred Agache, urbanista francês, que havia vindo a Vitória na ocasião de elaboração do Plano Diretor para a cidade. Maria do Carmo fica fascinada com o trabalho do urbanista e influenciada por sua presença em Vitória decide cursar uma faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Muda-se para o Rio de Janeiro onde estuda Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes – EMBA - da Universidade do Brasil. Por um período de três anos estagia no Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal sob coordenação de Affonso Eduardo Reidy, com Ligia Fernandes, Francisco Bolonha, entre outros, entre os projetos podem ser citados a elaboração e o detalhamento do projeto do Pedregulho do Rio de Janeiro. Maria do Carmo diz: “Passei uma temporada no meio de gente muito boa”. Em 1953, após a graduação, retorna a Vitória onde começa a atuar como arquiteta elaborando diversos projetos para particulares. Em 1958 sai vitoriosa do concurso para a construção da Sede Social do Clube Libanês. Trabalhou também na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Espírito Santo entre 1954 e 1957, juntamente com Élio Vianna e Marcelo Vivacqua. Também foi Diretora da Planta Física da Universidade Federal do Espírito Santo. O trabalho de Maria do Carmo não se restringe a elaboração do projeto, ela acompanha a obra em todo o processo. O processo de concepção preza pelo racionalismo no qual “nada é proposto ou construído sem uma razão”, sem fundamento. Segundo, ela a inserção do trabalho dos modernistas não foi imediata no contexto cultural “que importava idéias do Rio e de São Paulo” e ostentava casas com lareiras por exemplo. Foi aos poucos que a ação dos arquitetos modernistas modificou a cultura local. Além, de professar a lógica racionalista em seu trabalho,

30 Maria do Carmo, também, preocupa-se com a preservação de prédios históricos e da paisagem urbana e natural da Grande Vitória.

Figura 10 – Residência projetada por Maria Figura 09 – Gráfico de insolação da cidade de do Carmo Schwab para o Eng. Marco Aurélio Vitória, elaborado por Maria do Carmo Schwab Gomes A arquiteta teve importante papel na implantação do IAB no estado, sendo uma de seus fundadores. Neste momento era um dos departamentos mais atuantes do Brasil, participando da criação do COSU - Conselho Superior do IAB, na gestão de Ary Garcia Roza junto com São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Análise Sede Social do Clube Libanês A sede social do Clube Libanês é um edifício moderno, com construção concluída em 1958, localizada na Alameda Mumi Hilal, Praia da Costa, no município de Vila Velha com projeto de Maria do Carmo Novaes Schwab. O Edifício está relacionado ao contexto cultural da época, utilizando diversos elementos da linguagem moderna – o pano de vidro, a plataforma e também a escada em espiral que propõem um “passeio arquitetônico” com vista para o mar – presente em várias obras do mesmo período. Pode-se observar as influências nesta obra de arquitetos como Corbusier e Mies Van der Rohe, em diversos aspectos. O edifício apresenta alguns dos pontos determinados por Corbusier como essenciais para a arquitetura moderna: pilotis, planta livre, fachada livre e longas janelas corrediças horizontais (Cinco Pontos da Arquitetura). Em relação à inserção na paisagem, expressa princípios que constam de obras da chamada escola carioca de arquitetura. Em suma, os princípios projetuais demonstram o recurso crítico e atualizado da linguagem da arquitetura moderna brasileira.

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Figura 11 e 12 – Foto Clube Libanês (arquivo alunos) O uso da plataforma, que foi comum nos anos 1960, pode ser visto no Congresso Nacional em Brasília, estabelecendo uma horizontalidade na parte inferior do edifício, assim como no projeto do Clube Libanês. A escada em espiral que pode ser vista no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, segundo a própria arquiteta, serviu de referência para elaboração este projeto.

Figura 13 – Escada MAM (Reidy)

Figura 14 - Escada do Clube Libanês (Schwab e cálculo estrutural do Engenheiro Hélio Cyrino.

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Este edifício se relaciona com o local onde está inserido o que denuncia uma característica da arquitetura brasileira de valorização do sítio, referências que podem ser observadas em projetos de Oscar Niemeyer e de Affonso Reidy. No projeto de Niemeyer da Casa das Canoas percebe-se a valorização do sítio imposta através da implantação do edifício, utilizando-se das rochas que afloram no terreno. A forma do terreno somada a posição da via de acesso (alameda) define a inserção longitudinal da fachada principal do edifício. A topografia define os planos horizontais que acompanha o terreno em aclive, acomodando-o de modo a aproveitá-lo da melhor forma possível, com o terraço localizado sobre um platô rochoso, com vista para o mar. Além disso a rocha é utilizada também como elemento espacial e de composição, por fazer parte do ambiente compondo o paisagismo e podendo ser utilizada pelos usuários do edifício. Essa relação com a rocha é reincidente na obra da arquiteta (vide Catetinho).

Figura 15 – Catetinho UFES

Figura 16 – Clube Libanês – relação com a pedra

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O edifício nas áreas de uso social apresenta planta livre (com estrutura independente do fechamento) e fachadas de vidro, o que acentua a intenção de continuidade entre interiorexterior e a relação com o entorno. A planta livre é delimitada em alguns pontos por diferenças de níveis nos quais os acessos são feitos por escadas. A relação entre vertical e horizontal entre os pisos se dá de forma sutil tendo vários patamares intermediários entre um pavimento e outro. Esta relação estabelecida entre os pavimentos pode ser associada ao conceito de Raumplaun, designado pelo arquiteto Adolf Loos, no qual os ambientes são diferenciados espacial e hierarquicamente através de níveis diferentes.

Figura 17 – Casa Fansworth (Modelo digital)

Figura 18 – Raumplan no Clube Libanês (arquivo alunos)

A hierarquização, ambientação e disposição dos espaços internos se dá através da utilização de diferentes níveis, escalas, dimensões, localização e gradação da iluminação. A arquiteta também utiliza planos de separação entre as áreas de lazer e social, com acabamentos diferentes indicando espaços de transição onde se estabelecem relações de hierarquia entre eles. O uso predominante da cor branca, além de ser uma característica da arquitetura moderna, também traz leveza e elegância ao edifício, principalmente quando associado ao uso da pedra, como o mármore branco. O mármore também é utilizado por Mies Van Der Rohe e por Adolf Loos com o mesmo príncipio da simplicidade sem deixar de lado a elegância.

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Figura 19 – Clube Libanês – Fachada revestida em Figura 20 – Clube Libanês – Vista interna mármore branco. mostrando revestimento diferenciado indicando um dos planos de separação. Quanto aos elementos construtivos, a arquiteta dá preferência à transparência, portanto, esquadrias com vedação de vidro são utilizadas para o fechamento da fachada principal. O edifício possui estrutura independente das vedações e das paredes. A inexistência de arestas maciças proporcionada pelas membranas transparentes amplia o campo visual. Essas características proporcionam a obra maior visibilidade, acessibilidade, fluidez interna; aproveitamento da iluminação e ventilação natural; espaços amplos; vista desimpedida da paisagem. O edifício possui forma predominantemente horizontal, aproveitando dessa forma, ao máximo a frente do terreno voltada para o mar. As dimensões grandes das vigas em relação às dimensões dos pilares marcam a horizontalidade do edifício. O uso da plataforma, a proteção das varandas e a projeção da varanda na parte frontal – que abriga e enfatiza a entrada do edifício – também destacam a horizontalidade da obra.

Figura 21 – Clube Libanês – Esquadrias leves com vedação em vidro

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Figura 23 – Modelo Tridimensional do Clube Libanês

Figura 22 – Clube Libanês – Volumetria Explodida (elaborado por alunos da graduação) Figura 24 – Modelo Tridimensional do Clube Libanês

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A análise volumétrica da composição mostra a adição de três volumes (com base retangular e menor altura em relação ao comprimento) um sobre o outro. A planta baixa se configura através da disposição de uma malha estrutural, as paredes e vedações seguem rigorosamente a malha, em todos os três pavimentos. A planta também pode ser analisada de acordo com aspectos de modulação: percebe-se a repetição de elementos retangulares adicionados que a configuram. A circulação é feita de forma tanto linear como radial: a circulação pelos espaços é linear, porém a circulação através dos espaços é feita de forma radial, distribuída a partir de um acesso comum que são as escadas. O sistema modular também pode ser identificado na fachada, que apresenta duas modulações maiores e apenas uma delas é modulada em partes menores, sendo três delas iguais, mostrando a importância dada pela arquiteta a proporção do conjunto da obra, tanto em planta baixa, como na fachada.

Figura 25 – Clube Libanês – Sistema modular das fachadas

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Os elementos construtivos utilizados são: o vidro disposto em esquadrias leves de alumínio, o fechamento das paredes em alvenaria na parte posterior da edificação ou na transição de ambientes, brises, usado discretamente em uma lateral, colunas com seção circular, escadas helicoidais, mezaninos e lajes vazadas que conferem monumentalidade, riqueza espacial e plástica à obra. Análise Jardim de infância Maria Queiroz Lindemberg O Jardim de Infância Maria Queiroz Lindemberg se apresenta como dois blocos em forma de L, cada um contendo um tipo de atividade: um concentra a parte de serviços e o outro salas de aula e auditório. Cada um desses blocos está subdividido em duas partes, o bloco de serviços divide-se em refeitório e sanitários (acesso geral) e cozinha e depósito (acesso restrito a funcionários). O outro bloco apresenta-se dividido hierarquicamente, a primeira parte, na qual se encontra o acesso ao edifício, contem o auditório e a recepção, estando localizado na fachada principal, e na outra porção estão situadas as salas de aula.

Figura 26 – Jardim de Infância Maria Queiroz Lindemberg – Desenho elaborado por alunos da graduação.

Os volumes são divididos de acordo com o uso, assim como os espaços. Cada atividade apresenta um tratamento formal que demarca os diferentes usos através da utilização de elementos arquitetônicos. O arco é um elemento de presença marcante no edifício, sendo utilizado diversas vezes e de diferentes formas para demarcar as diferentes funções apresentadas pelo edifício. O prédio foi projetado para abrigar um jardim de infância, portanto se preocupa em manter os equipamentos na escala infantil, com ergonomia compatível com a criança.

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Figura 28 - Jardim de Infância Maria Figura 27 – Jardim de Infância Maria Queiroz Queiroz Lindemberg – Mesas do Lindemberg - Elementos compositivos que indicam a refeitório com altura compatível a altura diferenciação dos espaços – Desenho elaborado por das crianças. alunos da graduação.

6. Conclusão A arquiteta Maria do Carmo utiliza princípios de projetação baseados na planta livre e sem excessos, nos quais “nada é proposto ou construído sem uma razão”, como afirma a própria arquiteta. Esta tendência está alinhada a linguagem moderna utilizada internacionalmente por arquitetos como Mies, Loos, Corbusier e Reidy, como pode ser verificado na análise realizada do sede do Clube Libanês. O próprio Oscar Niemeyer anuncia, em 1958, mudanças em seu trabalho para um “sentido de maior pureza e simplicidade”, mostrando uma aproximação a simplificação defendida por Mies na máxima “menos é mais”. A linguagem utilizado em seus projetos é internacional, porém sem nunca deixar de lado o contexto geográfico local de inserção do edifício (topografia, paisagem, orientação), uma fusão de características que conferem qualidade, elegância e beleza nas obras da arquiteta.

Referências Bibliográficas BEBER, Cláudia Emília Lobato Pedrosa. Arquitetos Modernistas: Elio Vianna e Maria do Carmo Schwab. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000. CAMPOS JÚNIOR, Carlos Teixeira de. A história da construção e das transformações da cidade. Vitória: Cultural-es, 2005. CAVALCANTI, Lauro. Moderno e Brasileiro. São Paulo: Jorge Zahar, 2006. CHING, Francis. Arquitetura, Forma, Espaço e Ordem. São Paulo: Martins Fontes, 2002. COMAS, Carlos Eduardo . Arquitetura Moderna 1930 a 1960. In: Roberto Montezuma. (Org.). Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE, 2002, v. 1, p. 182-238.

39 DANTAS FILHO, José & DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. A República Bossa-Nova e a Democracia Populista 1954-1964. São Paulo: Atual, 1991. MATOS, João Bosco Silva e SILVA, Ana Cristina Lage da. Arquitetura Moderna Capixaba: Elio Vianna e Maria do Carmo Schwab. PG. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000. MURTA, Luciana Mello. Guia da Arquitetura Moderna Capixaba. PG. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1999.

40 Edifícios Educacionais anos 1920 aos anos 1980

INTRODUÇÃO Ao ser apreendido como linguagem, o ambiente escolar explicita suas várias dimensões. Questões como o caráter educativo, as dimensões simbólicas, as tecnologias de controle físico e mental unem-se à racionalidade funcional, às tipologias construtivas, ao emprego e ao uso dos espaços como forma de compor essa metalinguagem chamada “escola”1. Segundo Antonio Viñao (2005), a leitura dessas diversas dimensões permite a compreensão das diferentes instituições educativas ao longo da história, “(...) uma vez que a análise sendo intrinsecamente relacional põe em destaque a intencionalidade da gramática escolar articulada com a construção da escola como processo histórico, cultural e social”. (VIÑAO, 2005, p. 8) Sendo assim, propomos o estudo de instituições escolares (usos) que possuíram e ainda possuem significância arquitetônica para a arquitetura capixaba, periodizadas entre a década de 1920 e 1980, denotando as relações históricas, políticas e sociais vigentes em cada período com a organização espacial, o programa, a tipologia construtiva empregada em cada período. O método utilizado para a pesquisa baseou-se na coleta de dados iconográficos em arquivos pessoais dos arquitetos envolvidos, de instituições públicas e privadas, trabalhos acadêmicos e de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, revistas especializadas, livros e artigos publicados na Internet. Foram utilizados arquivos da SEDEC da Prefeitura de Vitória, setor de Coleções Especiais da biblioteca da UFES, biblioteca do IPES Instituto de Apoio Pesquisa Desenvolvimento – Jones dos Santos Neves, acervos pessoais do arquiteto Élio de Almeida Vianna, biblioteca do Sistema Findes (SESI), acervo da Secretaria Estadual da Educação – DERTES e IPHAN-ES. Para a coleta de materiais foram necessárias algumas visitas ao acervo da Secretaria Estadual de Educação – DERTES, onde contamos com a ajuda de José Marcos Rodrigues Gomes e Marinete Nico para a obtenção dos projetos das escolas Maria Horta, polivalente Carlos Xavier Paes Barreto, Colégio Estadual e Vasco Coutinho. No Sistema Findes foram visitadas a biblioteca e o departamento de projetos, onde contamos com o auxílio das bibliotecárias Maria Conceição Heringer Daher e Eliana Maria Dantas. Nesse acervo foram obtidos os projetos originais dos Sesis de Porto de Santana, Cobilândia e Campo Grande, além de artigos a respeito dessas escolas e da Escola Técnica em alguns números da revista Indústria Capixaba, publicada pelo Sistema Findes. Foram feitas fotos por David Protti do SESI Porto de Santana e do Polivalente da Leitão da Silva (não utilizadas aqui, pois o Escritório Croce, Aflalo & Gasperini ainda não nos respondeu as solicitações de envio dos desenhos originais e do esquema básico.

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Entendemos a escola como uma metalinguagem devido às várias possibilidades de leitura em diferentes esferas do conhecimento, a saber: política, social, pedagógica, arquitetônica, cultural.

41 No setor de Coleções Especiais da biblioteca da UFES e na biblioteca do IPES Instituto de Apoio Pesquisa Desenvolvimento – Jones dos Santos Neves foram adquiridas imagens digitais e escaneadas das obras analisadas e do contexto urbano em que se inseriam. Foram utilizados, ainda, da SEDEC, projetos e documentos como inventário de imóvel de interesse de preservação de algumas obras pesquisadas; e trabalhos produzidos por alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES na disciplina THAU II, ministrada pela professora Clara Luiza Miranda. Foram analisados os seguintes projetos: Grupo Escolar Gomes Cardim, jardim de infância Maria Queiroz Lindemberg, jardim de infância Ernestina Pessoa, Escola Politénica, Colégio Estadual, antiga Escola Normal (atual sede administrativa do SENAI), escola Irmã Maria Horta, Sesi Porto de Santana, Sesi Cobilândia, Sesi Campo Grande, Sesi Guaranhuns. Além dessas obras, foram obtidos para documentação materiais da Escola Técnica, do Polivalente Carlos Xavier Paes Barreto, projeto de reforma do Vasco Coutinho. Também tentamos conseguir informações e documentação sobre a escola em estilo eclético Alvimar Silva, localizada em Santo Antônio, e que também era de nosso interesse. Contundo não foi possível documentá-la, pois o escritório responsável por sua reforma não nos respondeu as solicitações de envio dos desenhos. Através de uma linha do tempo podemos perceber que com o “vigor” cafeeiro e os processos iniciais de industrialização e urbanização da década de 1920 surgiram grupos escolares como sinal de progresso e fator de modernização cultural e educacional; acompanhados por estilos importados como o neoclássico e o eclético, aliados a uma pedagogia tradicional, sendo exemplo disso o Grupo Escolar Gomes Cardim (1925). A cidade, que é como um organismo vivo, vive em constante mutação em sua arquitetura, numa relação constante de causa e efeito. Nesse contexto, mudam também as ideias que embasam os valores sociais e culturais; em especial, aqueles que nos remetem à educação seja no aspecto físico, seja no ideológico. Os anos 1950 corresponderam a um período que tentou consolidar a educação no país. A Constituição de 1946 obrigou a União, Estados e Municípios a investirem uma percentagem mínima dos recursos arrecadados na educação primária, que até então era a mais beneficiada pelo poder público, deixando para o ensino particular, as graduações superiores. Nessa década, governadores como Jones dos Santos Neves, tiveram seu governo pautado em mudanças estruturais no Estado junto ao modelo nacional desenvolvimentista do país. Nessas mudanças, a educação tinha valor estimado, já que a educação era considerada um dos pilares da sociedade. Corroborando com os ideais progressistas das políticas nacional e estadual, os projetos escolares da época eram mais ousados em sua arquitetura, utilizando-se da prestigiada mundialmente “arquitetura moderna brasileira”. Utilizar-se dessa arquitetura era prerrogativa para o desenvolvimento político, social e cultural do estado e do país, uma vez que, segundo Gian Carlo Gasperini, suas regras se fundamentavam na “conscientização do papel social da

42 intervenção arquitetônica e na autonomia do projeto como instrumento de uma ideologia” (GASPERINI, 1991, p.20).

Nesse foram construídas muitas das obras analisadas: jardim de infância Maria Queiroz Lindemberg (1952), jardim de infância Ernestina Pessoa (1952), Escola Politécnica (1954), Colégio Estadual (1954), antiga Escola Normal (atual sede administrativa do SENAI) (anos 1950), Escola Irmã Maria Horta (década de 1951-53). À exceção do Jardim de infância Ernestina Pessoa, de autoria de Francisco Bolonha, os demais projetos são do arquiteto Élio de Almeida Vianna, que se destacou no cenário estadual como o arquiteto de projetos educacionais. De forma árdua e constante busca a racionalidade e a funcionalidade em seus projetos como expressão da política vigente. A década de 1970 é marcada pela ditadura no Brasil e também pelo “milagre econômico”, fazendo da educação parte de extrema importância no seu projeto de ordem. Junto com os grandes projetos do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), vieram propostas para escolas que vislumbravam um país mais industrializado. Os projetos escolares contavam não só com um projeto pedagógico que implantasse tais anseios, mas com projetos arquitetônicos que permitissem e corroborassem com a implantação desses valores. Em 1968 e 1971 a educação sofreu grandes reformas baseadas em acordos do MEC com a agencia para desenvolvimento internacional dos Estados Unidos (Usaid), em que o Brasil receberia suporte técnico e financeiro para implementar as reformas. Vale salientar que essas reformas tinham como objetivo vincular o sistema educacional brasileiro a um modelo econômico dependente do interesse norte-americano.Além disso, são extintas entidades de representação estudantil e criadas disciplinas de caráter ideológico e manipulador, no caso do ensino superior a disciplina EPB (Estudos de Problemas Brasileiros) e para o ensino fundamental, as disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, que tinham a finalidade de atender as ideias políticas vigentes na época. Dessa forma, os centros de atividades (CATs) do Sistema Sesi, que tinham como público–alvo os filhos de trabalhadores industriários e seus familiares, atendiam às reformas educacionais criadas pelo governo. Existia uma dicotomia em seu programa pedagógico-social: ao mesmo tempo em que ensinava atividades que seriam importantes para o cotidiano dos alunos, como cozinhas, costurar, entre outros, “fabricava proletários” para atenderem à demanda industrial suscitada pelos novos programas do país. O fato de o programa pedagógico-social dos CATs contar com políticas assistencialistas para alunos e famílias exigiu dos arquitetos Élio de Almeida Vianna (projeto dos Sesis Porto de Santana e Cobilândia) e Bebeto Vivácqua (Sesi Campo Grande) uma racionalização dos projetos ainda maior. A escola deixou de ser um edifício com uma área de lazer ao redor para se transformar em um complexo educacional, social e recreativo. A preocupação ideológica dos Sesis vai do arranjo espacial na implantação até a escolha dos materiais e a forma empregada. Já o Sesi Guaranhuns (1988), de autoria dos arquitetos Ione Marroquim e João Fernando Marroquim, um conjunto esportivo, recreativo e de

43 aperfeiçoamento profissional, representa a tentativa de se estabelecer um sistema de ciência e tecnologia no estado, com ênfase na melhoria tecnológica da indústria, que por hora apresentava-se defasada. Arquitetonicamente, essa situação se apresentava por meio da linguagem dos materiais. Estruturas metálicas foram eleitas as “molas mestras” do projeto. Diante disso, as análises apresentadas pretendem, além de documentar a produção de projetos escolares no Espírito Santo, permitir uma maior compreensão das relações existentes entre arquitetura, pedagogia, política e sociedade.

REFERÊNCIAS AMORIM, Luiz Manuel do Eirado. Modernismo recifense: uma escola de arquitetura, três paradigmas e alguns paradoxos. Disponível em: . Acesso em 21 nov. 2008. Arquivo do Projeto Memória Visual da Baía de Vitória- DAUUFES BARBOZA, Fabiana. Construindo ou reformando a escola. In: Revista Construir notícias, n.19, novembro/dezembro 2004, p. 38-43. BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: rumos da arquitetura brasileira. São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2003. BEBER, Claudia Emília Lobato Pedrosa. Élio de Almeida Vianna e Maria do Carmo Novaes Schwab: arquitetos modernistas. 1991. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000. BETTARELLO, Fernando Augusto Barros; BOSSI, Paulo Vieira. Arquitetura Bebeto Vivácqua. Vitória: Santo Antônio, 2001. Biblioteca do IPES Instituto de Apoio Pesquisa Desenvolvimento – Jones dos Santos Neves BUFFA, Ester; PINTO, Gelson de Almeida. Arquitetura e Educação: organização do espaço e propostas pedagógicas dos grupos escolares paulistas, 1983-1971. São Carlos: Brasília : EdUFSCar, INEP, 2002. CALDEIRA, Rafaela; POTRATZ, Raphael; GUERRA, Tatiana; CHIABAI, Vivian. Análise dos edifícios: eclético – Palácio Nestor Gomes, moderno – jardim de infância Ernestina Pessoa. Trabalho da disciplina THAU II (apresentação em power point), 2008. CAMPO Grande: comida para os pobres. Revista Indústria Capixaba, Espírito Santo, n.157, p.15-17, dez. 1981. CAMPO Grande: fator de estabilidade social. Revista Indústria Capixaba, n.157, p. 17-19, dez. 1981. CENTRO DE ATIVIDADES Arlete Zorzanelli Buaiz (Projeto de Élio de Almeida Vianna). Vitória: Sistema Findes. CENTRO DE ATIVIDADES Arnaldo Magalhães Filho (Projeto de Élio de Almeida Vianna). Vitória: Sistema Findes. CENTRO de atividades Arnaldo Magalhães Filho: Porto de Santana, Cariacica. Revista Indústria Capixaba, n.176, p. 14-15, jul. 1983. CENTRO DE ATIVIDADES Bárbara Monteiro Lindenberg (Projeto de Bebeto Vivácqua) Vitória: Sistema Findes

44 CENTRO de atividades Bárbara Monteiro Lindenberg: Campo Grande, Cariacica. Revista Indústria Capixaba, Espírito Santo, n.176, p.13-14, jul. 1983. COBILÂNDIA: onde nasceu o Pré-Escolar – Papes. Revista Indústria Capixaba, Espírito Santo, n. 157, p.19-21, dez. 1981. COLÉGIO Estadual (Projeto de Reforma) Vitória: SEDU. DELLABIANCA, Alice; CANAL, Flávia; DASSIE, Kamila; Mota, Rafaela. Jardim de Infância Maria Queiroz Lindemberg. Trabalho da disciplina THAU II (apresentação em power point), 2006. EMPRESÁRIOS visitam centro social do Sesi em Cobilândia. Revista Indústria Capixaba, Espírito Santo, n.53, p.10-11, abr. 1973. ESCOLA Irmã Maria Horta (Projeto de Élio de Almeida Vianna) Vitória: DERTES. FIGUEIREDO, Erika Suruagy A. de. Reforma do Ensino Superior no Brasil: um olhar a partir da história. Disponível em: . Acesso em 28 abr. 2009. FORSSMAN, Erik. Dórico, Jônico e Coríntio: na arquitectura dos séculos XVI-XVIII – Tradução – Margarida Calado – Lisboa: Editorial Presença, 1990. (coleção dimensões) GRUPO ESCOLAR Gomes Cardim (Projeto de Joseph Pitlik). Vitória: SEDEC. HULLE, Patrícia Dias. Inventário analítico-didático de obras arquitetônicas do Ecletismo (sécul XIX) até os anos 1930. Relatório Final de Iniciação Científica PIBIC/UFES, 2007. Imagens IPHAN-ES JARDIM DE INFÂNCIA Maria Queiroz Lindemberg (Projeto de Élio de Almeida Vianna) Vitória: SEDEC. MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil – Tradução – Paulo Pedreira – Rio de Janeiro: Aeroplano Editora/IPHAN, p. 158-159, 2000. MINISTRO Júlio Barata vem falar a industriais e presidir inaugurações. Revista Indústria Capixaba, n.24, p.1, nov. 1970. MURTA, Luciana Mello. Guia da Arquitetura Moderna Capixaba. 2000. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000. O NOVO CAT do Sesi em Campo Grande. Revista Indústria Capixaba, Espírito Santo, n.163, p.18, jun. 1982. POPPE, Márcia. Para dentro da concha. Um olhar sobre a produção do arquiteto Francisco Bolonha. In: Vitruvius, Nº. 080.01, janeiro, São Paulo, 2007. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq080/arq080_01.asp. Acesso em 18 set. 2008. Projetos SEDEC/DPU/RU. Inventário do imóvel de interesse de preservação: E20. Vitória, 2006. SEDUR-PMV SEGAWA, Hugo. Sesi Vila Velha. In: Revista Projeto, nº.145, setembro 1991, p. 60-63.

45 SESI - CAT Arnaldo Magalhães Filho: Porto de Santana, Cariacica. Revista Indústria Capixaba, n.178, p. 17, set. 1983. SESI terá mais atividades educacionais êste ano. Revista Indústria Capixaba, n.26, p. 23-24, jan. 1971. Setor de Coleções Especiais da Biblioteca da UFES VIÑAO, Antonio. Espaços, usos e funções: a localização e disposição física da direção escolar na escola graduada – Tradução – Deise Cristina de Lima Picanço. In: BENCOSTTA, Marcus Levy A. (org.). História da Educação, Arquitetura e Espaço Escolar. São Paulo: Cortez Editora, 2005, p.15-47.

46 Edifícios Educacionais anos 1920 aos anos 1980

INTRODUÇÃO Ao ser apreendido como linguagem, o ambiente escolar explicita suas várias dimensões. Questões como o caráter educativo, as dimensões simbólicas, as tecnologias de controle físico e mental unem-se à racionalidade funcional, às tipologias construtivas, ao emprego e ao uso dos espaços como forma de compor essa metalinguagem chamada “escola”2. Segundo Antonio Viñao (2005), a leitura dessas diversas dimensões permite a compreensão das diferentes instituições educativas ao longo da história, “(...) uma vez que a análise sendo intrinsecamente relacional põe em destaque a intencionalidade da gramática escolar articulada com a construção da escola como processo histórico, cultural e social”. (VIÑAO, 2005, p. 8) Sendo assim, propomos o estudo de instituições escolares (usos) que possuíram e ainda possuem significância arquitetônica para a arquitetura capixaba, periodizadas entre a década de 1920 e 1980, denotando as relações históricas, políticas e sociais vigentes em cada período com a organização espacial, o programa, a tipologia construtiva empregada em cada período. O método utilizado para a pesquisa baseou-se na coleta de dados iconográficos em arquivos pessoais dos arquitetos envolvidos, de instituições públicas e privadas, trabalhos acadêmicos e de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, revistas especializadas, livros e artigos publicados na Internet. Foram utilizados arquivos da SEDEC da Prefeitura de Vitória, setor de Coleções Especiais da biblioteca da UFES, biblioteca do IPES Instituto de Apoio Pesquisa Desenvolvimento – Jones dos Santos Neves, acervos pessoais do arquiteto Élio de Almeida Vianna, biblioteca do Sistema Findes (SESI), acervo da Secretaria Estadual da Educação – DERTES e IPHAN-ES. Para a coleta de materiais foram necessárias algumas visitas ao acervo da Secretaria Estadual de Educação – DERTES, onde contamos com a ajuda de José Marcos Rodrigues Gomes e Marinete Nico para a obtenção dos projetos das escolas Maria Horta, polivalente Carlos Xavier Paes Barreto, Colégio Estadual e Vasco Coutinho. No Sistema Findes foram visitadas a biblioteca e o departamento de projetos, onde contamos com o auxílio das bibliotecárias Maria Conceição Heringer Daher e Eliana Maria Dantas. Nesse acervo foram obtidos os projetos originais dos Sesis de Porto de Santana, Cobilândia e Campo Grande, além de artigos a respeito dessas escolas e da Escola Técnica em alguns números da revista Indústria Capixaba, publicada pelo Sistema Findes. Foram feitas fotos por David Protti do SESI Porto de Santana e do Polivalente da Leitão da Silva (não utilizadas aqui, pois o Escritório Croce, Aflalo & Gasperini ainda não nos respondeu as solicitações de envio dos desenhos originais e do esquema básico.

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Entendemos a escola como uma metalinguagem devido às várias possibilidades de leitura em diferentes esferas do conhecimento, a saber: política, social, pedagógica, arquitetônica, cultural.

47 No setor de Coleções Especiais da biblioteca da UFES e na biblioteca do IPES Instituto de Apoio Pesquisa Desenvolvimento – Jones dos Santos Neves foram adquiridas imagens digitais e escaneadas das obras analisadas e do contexto urbano em que se inseriam. Foram utilizados, ainda, da SEDEC, projetos e documentos como inventário de imóvel de interesse de preservação de algumas obras pesquisadas; e trabalhos produzidos por alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES na disciplina THAU II, ministrada pela professora Clara Luiza Miranda. Foram analisados os seguintes projetos: Grupo Escolar Gomes Cardim, jardim de infância Maria Queiroz Lindemberg, jardim de infância Ernestina Pessoa, Escola Politénica, Colégio Estadual, antiga Escola Normal (atual sede administrativa do SENAI), escola Irmã Maria Horta, Sesi Porto de Santana, Sesi Cobilândia, Sesi Campo Grande, Sesi Guaranhuns. Além dessas obras, foram obtidos para documentação materiais da Escola Técnica, do Polivalente Carlos Xavier Paes Barreto, projeto de reforma do Vasco Coutinho. Também tentamos conseguir informações e documentação sobre a escola em estilo eclético Alvimar Silva, localizada em Santo Antônio, e que também era de nosso interesse. Contundo não foi possível documentá-la, pois o escritório responsável por sua reforma não nos respondeu as solicitações de envio dos desenhos. Através de uma linha do tempo podemos perceber que com o “vigor” cafeeiro e os processos iniciais de industrialização e urbanização da década de 1920 surgiram grupos escolares como sinal de progresso e fator de modernização cultural e educacional; acompanhados por estilos importados como o neoclássico e o eclético, aliados a uma pedagogia tradicional, sendo exemplo disso o Grupo Escolar Gomes Cardim (1925). A cidade, que é como um organismo vivo, vive em constante mutação em sua arquitetura, numa relação constante de causa e efeito. Nesse contexto, mudam também as ideias que embasam os valores sociais e culturais; em especial, aqueles que nos remetem à educação seja no aspecto físico, seja no ideológico. Os anos 1950 corresponderam a um período que tentou consolidar a educação no país. A Constituição de 1946 obrigou a União, Estados e Municípios a investirem uma percentagem mínima dos recursos arrecadados na educação primária, que até então era a mais beneficiada pelo poder público, deixando para o ensino particular, as graduações superiores. Nessa década, governadores como Jones dos Santos Neves, tiveram seu governo pautado em mudanças estruturais no Estado junto ao modelo nacional desenvolvimentista do país. Nessas mudanças, a educação tinha valor estimado, já que a educação era considerada um dos pilares da sociedade. Corroborando com os ideais progressistas das políticas nacional e estadual, os projetos escolares da época eram mais ousados em sua arquitetura, utilizando-se da prestigiada mundialmente “arquitetura moderna brasileira”. Utilizar-se dessa arquitetura era prerrogativa para o desenvolvimento político, social e cultural do estado e do país, uma vez que, segundo Gian Carlo Gasperini, suas regras se fundamentavam na “conscientização do papel social da

48 intervenção arquitetônica e na autonomia do projeto como instrumento de uma ideologia” (GASPERINI, 1991, p.20).

Nesse foram construídas muitas das obras analisadas: jardim de infância Maria Queiroz Lindemberg (1952), jardim de infância Ernestina Pessoa (1952), Escola Politécnica (1954), Colégio Estadual (1954), antiga Escola Normal (atual sede administrativa do SENAI) (anos 1950), Escola Irmã Maria Horta (década de 1951-53). À exceção do Jardim de infância Ernestina Pessoa, de autoria de Francisco Bolonha, os demais projetos são do arquiteto Élio de Almeida Vianna, que se destacou no cenário estadual como o arquiteto de projetos educacionais. De forma árdua e constante busca a racionalidade e a funcionalidade em seus projetos como expressão da política vigente. A década de 1970 é marcada pela ditadura no Brasil e também pelo “milagre econômico”, fazendo da educação parte de extrema importância no seu projeto de ordem. Junto com os grandes projetos do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), vieram propostas para escolas que vislumbravam um país mais industrializado. Os projetos escolares contavam não só com um projeto pedagógico que implantasse tais anseios, mas com projetos arquitetônicos que permitissem e corroborassem com a implantação desses valores. Em 1968 e 1971 a educação sofreu grandes reformas baseadas em acordos do MEC com a agencia para desenvolvimento internacional dos Estados Unidos (Usaid), em que o Brasil receberia suporte técnico e financeiro para implementar as reformas. Vale salientar que essas reformas tinham como objetivo vincular o sistema educacional brasileiro a um modelo econômico dependente do interesse norte-americano.Além disso, são extintas entidades de representação estudantil e criadas disciplinas de caráter ideológico e manipulador, no caso do ensino superior a disciplina EPB (Estudos de Problemas Brasileiros) e para o ensino fundamental, as disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, que tinham a finalidade de atender as ideias políticas vigentes na época. Dessa forma, os centros de atividades (CATs) do Sistema Sesi, que tinham como público–alvo os filhos de trabalhadores industriários e seus familiares, atendiam às reformas educacionais criadas pelo governo. Existia uma dicotomia em seu programa pedagógico-social: ao mesmo tempo em que ensinava atividades que seriam importantes para o cotidiano dos alunos, como cozinhas, costurar, entre outros, “fabricava proletários” para atenderem à demanda industrial suscitada pelos novos programas do país. O fato de o programa pedagógico-social dos CATs contar com políticas assistencialistas para alunos e famílias exigiu dos arquitetos Élio de Almeida Vianna (projeto dos Sesis Porto de Santana e Cobilândia) e Bebeto Vivácqua (Sesi Campo Grande) uma racionalização dos projetos ainda maior. A escola deixou de ser um edifício com uma área de lazer ao redor para se transformar em um complexo educacional, social e recreativo. A preocupação ideológica dos Sesis vai do arranjo espacial na implantação até a escolha dos materiais e a forma empregada. Já o Sesi Guaranhuns (1988), de autoria dos arquitetos Ione Marroquim e João Fernando Marroquim, um conjunto esportivo, recreativo e de

49 aperfeiçoamento profissional, representa a tentativa de se estabelecer um sistema de ciência e tecnologia no estado, com ênfase na melhoria tecnológica da indústria, que por hora apresentava-se defasada. Arquitetonicamente, essa situação se apresentava por meio da linguagem dos materiais. Estruturas metálicas foram eleitas as “molas mestras” do projeto. Diante disso, as análises apresentadas pretendem, além de documentar a produção de projetos escolares no Espírito Santo, permitir uma maior compreensão das relações existentes entre arquitetura, pedagogia, política e sociedade.

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Considerações sobre a metodologia da abordagem do período Tardomoderno (Pós Brasília) na pesquisa Arquitetura Capixaba Dra. Clara Luiza Miranda (coordenação do projeto) O objeto da pesquisa contemplada pelo Edital de Cultura 2007/2008, com prorrogação para 30 de abril 2009 aborda um período entre o Movimento Moderno e o Tardomoderno. Foram estabelecidos também recortes conceituais para tratamento específico dos períodos e divisão de trabalho entre as duas bolsistas. A divisão consiste: no desenvolvimento da ideologia do moderno no Espírito Santo: “Os arquitetos modernistas na Grande Vitória. Linguagem Internacional e projeto nacional da arquitetura”; e os desdobramentos e novas perspectivas do movimento moderno no estado: “Arquitetura e arquitetos do Tardo-Modernismo, do milagre brasileiro à abertura política”. Em todo o caso, a pesquisa restringe-se à Região Metropolitana da Grande Vitória, recorte regional da pesquisa. A região abrange os municípios de: Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão. O termo Tardomoderno, tomado de Charles Jenks, refere-se ao período posterior a inauguração de Brasília até os anos 1985, estendendo-se quando necessários aos anos 1990. Este artigo tem a intenção de cobrir a lacuna de material divulgado no período de desenvolvimento da pesquisa 2008-09 sobre a arquitetura Tardomoderna que tem sido preterida quantitativamente em relação à arquitetura moderna face o “seu” estado da arte estar mais avançado neste estágio do trabalho. Desde o início contava-se com mais fortuna crítica sobre o período de hegemonia da Arquitetura Moderna no Brasil (1950-65): monografias pregressas, sobretudo, sobre a obra dos arquitetos Élio de Almeida Vianna, Maria do Carmo Novaes Schwab e Marcello Vivacqua. O levantamento sobre a Arquitetura Moderna no âmbito estadual foi iniciado com o trabalho de João Bosco Matos e Ana Cristina Silva (1987), que foi revisto por BEBER (1991). A maior produção bibliográfica em escala nacional sobre o período constitui um referencial analítico importante, possibilitando a sua boa compreensão. Obtivemos após esta pesquisa um conjunto de outras informações: textos, depoimentos, desenhos e dados, sobre o trabalho de arquitetos do Movimento Moderno, e, em menor quantidade, sobre o Tardomoderno. Isso possibilitou inclusive novos encaminhamentos em relação à metodologia de análise e à historiografia, que foram tratados no texto enviado a Revista Manuscrítica3 (em anexo) e referido no relatório técnico. O período do Tardomoderno conta também com alguns trabalhos monográficos sobre Bebeto Vivacqua feitos por SOUSA (1990); e por BETARELLO (2003) e sobre Ione e Fernando Marroquim por SOUSA (2000), mas ainda, face ao grande número de obras do período, este material ainda é insatisfatório para constituir um contexto ou um campo regional da arquitetura. Pois esta é a meta da pesquisa é destacar tanto a produção coletiva quanto as obras significativas, apontando a sua posição na história da configuração da estrutura urbana,

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Manuscrítica, Revista de Crítica Genética da Associação de pesquisadores de Crítica Genética. Editora Humanitas, sediada na Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O nosso artigo foi aceito para o número 16 deste ano.

53 da paisagem regional e sua situação no campo da arquitetura. As obras serão destacadas por seu valor histórico para a cultura regional e disciplinar.. Trata-se o período 1950-85 como um “conjunto de experiências estratificadas e difusas” (ARGAN, 1992), para fins de análise, descrição ou interpretação, apresenta-se como “situação problemática”; cuja definição diz respeito à análise da relação de forças, que agem em determinado campo. Levando a acatar a justaposição entre as noções de campo e problema. O conceito de campo de Pierre Bordieu (1968) descreve uma estrutura específica formada pela relação de forças entre agentes ou sistema de agentes. A posição que estes ocupam no campo determina o que Bordieu denomina de “peso funcional”, isto é, a hierarquia de poder que depende da sua forma de inserção no “sistema de relações entre temas e problemas” (idem. Ibidem, p. 105-06). Em Michel Foucault, os campos tornam-se estratos ou “formações históricas”, “camadas sedimentares feitas de coisas e palavras”, ou ainda “campos de legibilidades” ou de visibilidades (FOUCAULT, 1988, p. 57). A partir do conceito de Bordieu, deduz-se que devido diferenças de peso funcional a arquitetura regional participa (quase sempre) da estruturação do campo de maneira subordinada relativamente às práticas prototípicas e difusoras de linguagem e técnicas. A partir de Foucault infere-se que esta produção faz parte da formação histórica da arquitetura brasileira, cujo sentido específico depende das relações de forças históricas que se expressam no campo da arquitetura. A ausência de um discurso constituinte (publicado), enfim, a ausência de crítica, dificulta, mas, não impossibilita ligar idéias e lugares. Na pesquisa, em termos pragmáticos, decidiu-se abordar o período Pós Brasília pela caracterização do contexto disciplinar, por seus arquitetos expoentes e por temáticas (enfatizando-as): habitação, edifícios educacionais (desde os anos 1920 aos anos 1990) e institucionais. A abordagem da produção da arquitetura dos anos 1980 por meio dos problemas pode ser verificada na produção teórica de Ruth Verde Zein, Hugo Segawa e no livro de Maria Alice Junqueira Bastos. Esta autora trata especificamente do período Pós Brasília, mostra a coincidência cronológica entre duas reversões a política (1964) e a arquitetônica. “O golpe de 1964 representou o fim da conciliação ideológica. (...). Não se difundia mais a produção nacional, não havia mais interesse internacional sobre nossa arquitetura”. A abordagem temática sobre a arquitetura brasileira é observada, sobretudo, nos artigos de análise crítica da produção Pós-Brasília, que foram veiculados na Revista Projeto nos anos 1980. As análises temáticas foram conduzidas pelos arquitetos e pesquisadores Ruth Verde Zein e Hugo Segawa. Essas análises têm parentesco com a metodologia iconológica da história da arte e tipológica da arquitetura, porém, têm suas especificidades. A diferença em relação a iconologia e os estudos temáticos sobre a arquitetura brasileira Pós Brasília referem-se a não enunciação de bases científicas. E está distante da consideração da arte em seu “sentido de essência”, para além do seu sentido fenomênico e de significação como faz a iconologia de Warburg. A iconologia convergia à “pretensão à essencialidade” da

54 arte moderna. Os estudos veiculados na Revista Projeto não dão conta da unidade com a história da cultura perpetrada pelos difusores do método iconológico. Em relação ao parentesco entre iconologia e esses estudos temáticos da arquitetura pode-se dizer que ambos abrem mão de enfatizar a intenção individual do projetista e abordam um quadro territorial e cultural amplo. Mesmo com esta proximidade superficial alguns aspectos importantes da iconologia podem ser verificados nos estudos temáticos brasileiros. Mesmo que intuitivamente, é “montado” um programa histórico do período e são apresentados indícios importantes das “instituições”. Como explica Ruth Zein (2001) as análises propostas exploram o “conceito de contexto tomado de maneira não restritiva e amplificada”. Nosso parecer sobre o parentesco entre a abordagem “contextual” temática da arquitetura Pós Brasilia e a iconologia se apóia principalmente na especificação da função da iconologia. Segundo Ernest Gombrich, uma análise iconológica não deve se prender à mera identificação do “texto”, enfatizado a representação visual; “é preciso reconstruir todo o programa histórico que autoriza a imagem. A iconologia deve começar com um estudo das instituições, ao invés de um estudo dos símbolos” (Gombrich apud NEIVA, 1986). Ruth Verde Zein descreve o contexto marcado pela dificuldade de debate diante do dramático fechamento político e a negação da realidade por parte de professores e teóricos, ou seja, “nenhum” trabalho teórico de compreensão da realidade. “Se a realidade não confere é porque a teoria precisa ser revisitada” (ZEIN, 2001, p 23). Como conseqüência da socialização da arquitetura moderna em face à passagem do exercício isolado à prática de grande escala, em primeira instância, Ruth Zein atribui ao cumprimento das prerrogativas de repetição, universalidade e tipologização (ou modelização) da própria Arquitetura Moderna (ZEIN, 2001). “O crescente número de obras – e não a um possível desvio de rota – pôs em evidência tendências variadas”. Mas a conseqüência mais grave e duradoura pode ser considerada o mercantilismo, o entendimento da “arquitetura como pura mercadoria, eludindo seu papel e importância como fato de cultura dos mais significativos em qualquer civilização” (ZEIN, 2001, p. 19). Nos anos 1970, esta aproximação entre a arquitetura de “elite” e a arquitetura comercial comum foi denominada “arquitetura de carregação”. Este “conceito” constata a degeneração sofrida pela Arquitetura Moderna Brasileira de qualidade reconhecida entre os anos 1940 e 1960. (QUEIRÓS, 1987). Há algumas hipóteses levantadas por historiadores a ponderar sobre esta desqualificação da arquitetura brasileira a partir dos anos 1970. Há críticos que afirmam que a arquitetura brasileira vanguardista, muito ligada à intenção plástica, dificulta a criação de uma escola (sua popularização). O trabalho dos arquitetos modernistas capixabas contraria esta hipótese. Ruth Verde Zein corrobora para desmentir a hipótese, de tais críticos para ela: “A arquitetura moderna sempre se caracterizou por sua intenção ‘exemplar’, pelo didadismo, os grandes mestres pioneiros foram além de arquitetos, professores e divulgadores das novas concepções”. Há ainda, outras hipóteses não analisadas profundamente sobre a corrupção da linguagem da arquitetura moderna brasileira. A técnica do concreto armado facilmente assimilada (nos seus

55 aspectos básicos) produz um funcionalismo vulgar, que somada à especulação da construção conduz a desqualificação dos ambientes na maioria das cidades brasileiras. Esta última hipótese deve ser investigada com cuidado à luz das revisões críticas relativas à sustentabilidade social e ecológica dos projetos. Esta deve ser aprofundada na próxima etapa da pesquisa que vai manter a pesquisa na temática habitação e incluir novos arquitetos, assim como incluir os anos 1990-2000. As primeiras críticas ao Movimento Moderno partiram dos chamados Pós-Modernos, como Paolo Portoghesi (1999), Sérgio Ferro (este no viés marxista, portanto, materialista-dialético) entre outros. Esses críticos ferrenhos afirmam que a industrialização tem custo econômico, social e ambiental muito alto; não melhora as condições de vida da população, nem as condições de trabalho do operário da construção. A industrialização é ainda, acusada de praticamente destruir as técnicas artesanais de construção, que vinham respondendo as necessidades construtivas, ambientais a milhares de anos dentro de suas regiões. Os materiais básicos dos edifícios modernos: cimento, aço e alumínio causam intenso impacto ambiental em seu processo de produção e embora trabalhem os esforços diferentemente (dilatam diferentemente) são empregados conjuntamente, o que afeta a vida útil da edificação. E finalmente, os críticos do movimento moderno dizem que o zoneamento funcionalista - que disciplina o uso do solo, determina o parcelamento do solo e de edificar volumes através dos Planos Diretores das cidades - destruiu o tecido urbano tradicional, que possuía as funções misturadas e a volumetria construída contínua. O zoneamento funcionalista é também acusado de criar uma cidade de mosaicos de especialidades homogêneas, que ainda segregam ricos e pobres. Tais críticos ainda sustentam que esta prática normativa urbana funcionalista, tem servido muito bem a lógica da especulação e do lucro do capital imobiliário. A tecnologia industrial é “molar”, considera as coisas em massa de maneira entrópica diz Pierre Lévy. A indústria transforma a matéria em grande quantidade, baseada em tecnologia térmica, tem alto custo energético em geral, são poluidoras e grandes produtoras de dejetos (LÉVY, 2003). Este aspecto torna a pesquisa com os materiais e sistemas construtivos uma fronteira importante de pesquisas de análise crítica e pesquisas propositivas. Vários artigos e livros versam sobre o processo de regionalização da arquitetura brasileira no período Pós Brasília, Sylvia Ficher e Marlene Milan Acayaba em sua publicação constituem as regiões: sul (que inclui São Paulo), nordeste, norte e; Rio de Janeiro e Brasília. Segundo as autoras, o novo contexto em que surgem as diferenças regionais se configura devido diferenças econômicas, climáticas, tecnológicas segundo as autoras. Para elas, no período Pós Brasília a arquitetura perde seu caráter monumental (coisa que não se comprova totalmente); a cidade se torna foco de interesse e os arquitetos passam atuar no planejamento urbano. “Deixa de existir uma expressão dominante para a arquitetura brasileira a qual vai dar lugar a uma produção diferenciada cuja lógica deve ser procurada em cada região” (FICHER & ACAYABA, 1982, p 48). Afora os exemplos que constam na publicação de Ficher e Acayaba, sobretudo em obras institucionais de Brasília e obras industriais do Nordeste; na Grande Vitória, nos anos 1980 verifica-se a monumentalidade em obras institucionais estatais, as obras da Prefeitura

56 Municipal de Vitória (Bebeto Vivacqua-ES), da Biblioteca Central (José Galbinsky- DF) e da Reitoria (Carlos Faet-RS) construídas na Universidade Federal e as megaestruturas de habitações coletivas como Atlantica Ville (Afonso Junqueira Acorsi-RJ), Mirante da Praia (Ione e Fernando Marroquim, arquitetos pernambucanos que atuam no estado) obras privadas Palácio do Café (Bebeto Vivacqua-ES), Hotel Porto do Sol (Paulo Casé) . Hugo Segawa no capítulo “Episódios de um Brasil Grande e Moderno” do seu livro Arquiteturas do Brasil 1900-1990, traça o contexto sócio econômico do período que após o golpe militar passa por uma intensa centralização administrativa e financeira na esfera federal. O vetor dominante da economia se torna a concentração em aglomerados fortes nos setores econômicos estratégicos da energia, siderurgia, bancos, transportes, comércio. A intenção de Segawa, e a nossa, ao tratar desses aspectos econômicos é traçar paralelos e transversalidades com a produção arquitetônica. A construção civil perde terreno para outros setores industriais. Em 1968, a construção civil reduz sua participação no PIB de 9,5 % para 5,2 % enquanto a indústria de transformação amplia de 13,9 % para 18,6 %. Hugo Segawa informa que entre 1968 e 1974, o crescimento médio da economia brasileira foi de cerca de 10% ao ano. Os investimentos internacionais ingressavam no Brasil em grandes fluxos. As multinacionais e o grande capital local se tornam a base de sustentação do Estado. Nesta fase o estado do Espírito Santo, começa a aparecer no cenário econômico nacional. No Espírito Santo, segundo Haroldo Correa Rocha e Ângela Morandi (1991), a transição da economia capixaba da monocultura agrícola à hegemonia do grande capital ocorre no período de 1955 a 1985, em duas fases. Na primeira fase, de 1955 a 1975, o processo de acumulação estadual é sustentado por pequenos capitais locais amparados por políticas estaduais. A segunda fase, a partir de 1975, caracteriza-se pela afirmação da hegemonia do grande capital nacional ou estrangeiro. Porém, nem sempre foi assim, o estado manteve-se numa situação aparte do sistema de circulação territorial e da economia brasileira por muitos anos. No início do século XIX, há menos de uma dezena de cidades no Espírito Santo. A população de 24 mil habitantes (cerca 1820) concentra-se no litoral. A base econômica é a agro-indústria açucareira. A introdução da cultura de café é decisiva na economia estadual no século XIX, pois promove a colonização da faixa sul e serrana central do estado e, por conseguinte, o desenvolvimento econômico. A cultura do café possibilita a instalação de infra-estrutura de navegação de cabotagem, rodoviária e ferroviária (a dos dois últimos foi paulatina). Os melhoramentos dos serviços públicos nas principais cidades também foram financiados pelos rendimentos do café. Por causa da imigração, em 1879, o estado somava mais de 105 mil habitantes, distribuídos em 13 municípios, Vitória e Cachoeiro do Itapemirim destacam-se bastante dos demais, em número populacional (Bittencourt apud MIRANDA, 2004). Neste período, a manifestação predominante da arquitetura é o Historicismo, ou a arquitetura como opção de estilo. Os governantes recorrem a várias formas de diálogo com o ‘mundo exterior’: o sanitarismo, o embelezamento, o historicismo, a infra-estrutura ferroviária, portuária, a navegação, a imigração. Estas operações fundamentaram a criação de uma imagem do lugar, efetivando

57 contatos com a retórica do mundo civilizado, expressando um determinado padrão do gosto e de status cultural. Na Era Vargas, em que estrutura as bases do setor industrial brasileiro e dá início a produção massiva de habitação, projetos e ações importantes ainda não alcançam o estado. O Governador do Espírito Santo é o militar mineiro, Punaro Bley (1930-43), que reorganiza o aparelho financeiro e administrativo estadual. Mas são ações que preparam a estruturação da base rodo-ferroviária e portuária estadual. Nos anos 1940, ocorre a instalação de indústrias ligadas a mineração e metalurgia (CVRD e COFAVI) que consolida uma classe média até então inexistente. Surge uma nova elite de imigrantes no comércio. Clientela e construtores possuem a vida social urbana de grandes metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, como padrão de status. Neste período, constata-se em Vitória o crescimento da construção civil, a difusão do uso da técnica do concreto armado além de mudanças na legislação da construção, incentivando a verticalização do centro principal. Em 1951, Vitória ingressa no mercado imobiliário, a Construtora Delmar lança o primeiro prédio para venda de unidades em 24 prestações.

Nesse período, as famílias mais abastadas mudam-se para a Praia Comprida, nome dado ao bairro que surge do Novo Arrabalde, projeto de 1994, Saturnino de Brito. Os pobres começam a ocupar os interstícios das vias de ligação entre o centro e os bairros como Jucutuquara, a Ilha de Santa Maria, as áreas menos nobres: os mangues e íngremes dos morros. Adelpho Monjardim diz que esse amontoado de casebres, sem ordem e alinhamento, é o “pesadelo da prefeitura”. O primeiro Plano Diretor da cidade, o transformaria, segundo Monjardim, num dos mais belos arrabaldes da cidade. Esse Plano Diretor de Vitória, elaborado em 1947, teve a supervisão do urbanista francês, Alfred Agache, que trabalhou em outros estados brasileiros, entre elas a remodelação do centro do Rio de Janeiro. Esse plano serve de referência para a maior parte das intervenções na ilha no início dos anos 50, sobretudo no porto, prevendo novo aterro nesta área, mas não foi aplicado como lei. A arquitetura dessa época se distingue pela composição de massas estereométricas, pela marcação das modenaturas e pela eliminação dos ornamentos. O art decó predomina nesta fase. A arquitetura moderna surge apenas quando as condições de possibilidades são encaminhadas com: a captação de energia elétrica, a exploração de rochas e calcários, a instalação e funcionamento da infra-estrutura rodoviária, ferroviária e portuária, o início da industrialização de grande porte, a chegada de arquitetos conhecedores dos conceitos modernos e com grupos difusores da ideologia moderna desenvolvimentista. O estado tem 750 mil habitantes em 1940, 870 mil habitantes em 1950. Nos anos 1960, a integração do mercado nacional e a expansão da infra-estrutura estadual forjam as condições necessárias à incorporação da economia capixaba ao processo de industrialização brasileiro. É um período de euforia cultural e artística em Vitória, os valores e os modelos são difundidos pela Universidade e pelos meios de comunicação de massas.

58 Nas décadas de 1940 a 1960, em conjunto com o governo federal, investe-se nos sistemas de engenharia dos setores energético, viário e portuário, inserindo o Espírito Santo no eixo de expansão do capitalismo avançado, garantindo-lhe uma posição na divisão inter-regional, nacional e internacional da produção (ABE, 1992). O conjunto industrial implantado, somado à constituição de um mercado de trabalho e consumidor, converte a Grande Vitória em um pólo de atração de novos investimentos nas décadas que se seguem (MORANDI & ROCHA, 1991). O setor industrial recebe grandes investimentos, reestruturando-se com a implantação e desenvolvimento de atividades mais dinâmicas e complexas, relacionadas à mineração e à siderurgia. Indústrias dotadas de dinamismo suficiente para fomentar um “pólo de desenvolvimento”, impondo um crescimento com um novo padrão de acumulação. Estas possibilidades representariam a abertura da economia capixaba, até então isolada dos centros econômicos mais dinâmicos (MORANDI & ROCHA, 1991). A evolução econômica do Espírito Santo nas últimas quatro décadas advém de transformações econômicas para uma base produtiva diversificada, em substituição àquela economia predominantemente primário-exportadora, basicamente de café enquanto produção local e de minério-de-ferro sob a forma de exportação em trânsito. O governo de Jones Santos Neves (1951-54) visava transformar Vitória em um grande centro exportador e econômico e foi o momento conciliador entre arquitetura moderna e política assim como governo de Carlos Lindemberg (1959-62). Esses governos buscaram na linguagem da arquitetura moderna a expressão de seu programa "modernizador". Este colocava o Estado como instância de transformação social e cultural, atuando no setor de habitação, educação e urbanização. A época de Jones foi radical na ampliação vertical e em extensão de Vitória. O aterro de mangues, em menos de dois anos (51-53), apropriou-se do dobro de áreas conquistadas em outros períodos. Estes aterros somam áreas urbanizáveis da Ilha de Santa Maria, Bento Ferreira e da Capixaba (área central)4. A Secretaria de Viação e Obras Públicas do governo Jones teve a atuação dos arquitetos modernistas: Élio Vianna, Maria do Carmo Schwab e Marcelo Vivacqua, formados no Rio de Janeiro. Esses arquitetos, inicialmente, atuam dentro de uma linha liberal, de certo modo descomprometida com as condições de mercado e dependente das solicitações do Estado. Enfim, a arquitetura moderna teve um papel relevante no desenvolvimento da construção civil, na verticalização e na urbanização capixaba nos anos 50 e 60. Se o historicismo rompeu com o alinhamento, o traçado urbano e as tipologias configuradas na cidade colonial. Com a verticalização moderna, descaracterizava-se, dessa vez, a densidade, a volumetria e a relação com o relevo que são mantidas até então no centro fundacional. A arquitetura moderna capixaba iniciou-se com programas institucionais e públicos, também edificou prédios industriais (arquitetos Élio Vianna, Alexandre Feu Rosa), comerciais (nos anos 4

O projeto do aterro de mangues e acesso a ilhas, em menos de dois anos conquista o dobro de áreas conquistadas em outros períodos. Os aterros somam áreas urbanizáveis à ilha: (em 1953) 400 000 m2 ligando Bento Ferreira à Praia do Suá e, 45 000 m2 ligando a Capixaba ao centro. O Campinho, chamado de Parque Moscoso, aterro realizado na época de Jerônimo Monteiro, acrescenta 255 000 m2 de áreas urbanizáveis ao centro de Vitória. O plano considerado “devaneios de visionário”, em 1953, tem concluída a quarta parte da área a ser conquistada ao mar, do total de 1 600 000 m2 previstos

59 1960 e 70) e residenciais. Os programas colocados procuravam uma correspondência espacial moderna, foi o caso do projeto dos projetos do Colégio Estadual, projeto de Élio Viana, e do Campus Universitário de Goiabeiras.

Indústria Realcafé, projeto de Élio Vianna, coordenador industrial, Dr João Nascif

A garantia de qualidade das obras modernas estava na referência a um repertório formal e procedimentos de projeto relativos ao programa, ao sítio, ao clima, aos elementos e aos materiais, que permitiam composições variadas. A escolha que instituía a composição vinculava estética e ética. Nesse momento, reverberava o dito de Lúcio Costa - a essência da arquitetura está no valor das escolhas do projetista, não na demanda, no gosto ou no mercado. O desgaste do movimento moderno e a truculência dos anos de ditadura militar desvanecem políticas globais, relacionadas à cultura e à transformação social, e o projeto da arquitetura moderna brasileira perde o sentido. Os arquitetos modernos tiveram que se contentar em ser menos atuantes politicamente. Alguns mantiveram o rigor compositivo moderno evoluindo dentro de seus programas ideológicos, como Maria de Carmo Schwab e Élio Vianna, outros voltaram ao ecletismo da velha prática da opção de estilo e em resposta à demanda do cliente. Hugo Segawa descreve os desdobramentos do crescimento econômico do milagre brasileiro5 no campo da arquitetura listando um conjunto de obras no território nacional ligadas às temáticas da arquitetura industrial, hidrelétricas, terminais rodoviários de passageiros, aeroportos, centrais de abastecimento, escolas (ver texto específico) e espaço universitário (tratado nos painéis da exposição), centros político-administrativos e burocracia oficial, habitação coletiva e popular, planejamento territorial-físico de cidades, novas cidades.

5

Período da história do Brasil particularmente entre 1969 e 1973, no governo Médici. Marcado por um intenso desenvolvimento econômico, um brutal aumento da concentração de renda e da pobreza, assim como ampliação da defasagem regional brasileira.

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Rodoviária de Vitória, projeto Carlos Maximiniano Faet. Fonte: IPES-IJSN

Publicidade da Empresa Mannesman com base nas estruturas espaciais aplicadas na construção da Rodoviária de Vitória. Revista Projeto n. 42, 1982

61 Neste quadro é construída a nova Rodoviária de Vitória (Carlos Faet); o Campus Universitário de Goiabeiras da Universidade Federal (Ufes). Ocorre o deslocamento da burocracia do centro da cidade para os novos bairros construídos sobre aterros construídos do Governo de Jones Santos Neves. Também neste período, planos para a habitação coletiva são encaminhados no estado com a criação da COHAB e INOCCOP em 1965. Inclusive, aparecem os primeiros planos territoriais (relatados adiante). O primeiro plano diretor torna-se lei de fato em Vitória em 1984. O planejamento e a construção do Campus Universitário de Goiabeiras da Ufes, entre 1966 e 1980, tornaram-se um laboratório de experimentos racionalistas e funcionalistas em escala urbana. O campus teve sucessivos projetos: um de Rudolph Atcon, que foi consultor na reforma do ensino superior para o Acordo MEC-USAID (1966), mas destaca-se o projeto de Marcelo Vivacqua (1968). Para a intervenção geral, criou-se uma comissão de planejamento com a coordenação de Marcelo Vivacqua. Esse arquiteto elaborou o plano das Células Modulares Universitárias (Cemunis) – módulos com pátios centrais articulados por circulações. Esses prédios foram executados entre 1968 e 1972. O plano diretor físico nos dois estudos concebeu a separação entre tráfego pedestre e motorizado (radburns), estabelecendo uma circulação periférica e a implantação em setores (zoneamento). Nas duas propostas, as edificações aparecem isoladas sobre o espaço aberto contínuo, imagens típicas do urbanismo funcional. Houve ainda dois diferentes estudos não considerados: um do arquiteto Diógenes Rebouças, com a participação de Maria do Carmo Schwab, e um do arquiteto José Magdalena. O estudo seguinte, denominado de Plano Integrado de Desenvolvimento, rompeu com a tipologia das Cemunis, configurando as tipologias laminares dos ICs, e alterando, também, a concepção anterior das vias de circulação entre os diferentes setores. Em 1976, com a assessoria do arquiteto Maurício Castro, desenvolveu-se uma nova proposta arquitetônica, remetendo-se à identidade modular estrutural das Cemunis, que não foi acatada. Em 1982, novas proposições criaram um setor central comunitário, esboçando a noção de fórum, mediante a construção dos edifícios do Restaurante Universitário, Administração Central, Centro de Vivência, Biblioteca Central e Teatro Universitário.

Maquete da implantação da proposta de Maurício Castro. Fonte Biblioteca da UFES

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Campus Universitário da UFES. Projeto CEMUNIs onde funciona hoje o Centro de Artes e Centro de Educação Física. Fonte BCUFES

Construção da Reitoria da UFES. Projeto Carlos Maximiliano Faet. Fonte BCUFES

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Biblioteca da UFES. Projeto José Galbinsky. Fonte BCUFES A opção do tipo de desenvolvimento estadual foi “planejada” com base em um diagnóstico sobre a situação do Estado do Espírito Santo, elaborado em 19666, deduz que as possibilidades de crescimento industriais poderiam derivar de atividades relacionadas à mineração e à siderurgia. Indústrias dotadas de dinamismo suficiente para fomentar um “pólo de desenvolvimento”, impondo um crescimento com um novo padrão de acumulação. Estas possibilidades representariam a abertura da economia capixaba, até então isolada dos centros econômicos mais dinâmicos (MORANDI & ROCHA, 1991) O crescimento metropolitano, manifesto no aglomerado de cidades médias em torno da capital Vitória nos anos 1970, foi concomitante à consolidação econômica e à repercussão migratória da implantação de grandes empresas mineradoras, siderúrgicas, de celulose e exportadoras em Vitória e municípios próximos. Este aglomerado de municípios: Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão - passa a abrigar as instalações técnicas do sistema portuário, ferroviário e rodoviário interposto com a urbe. Esta região configura-se como um dispositivo territorial infra-estrutural de comércio exterior. Neste quadro, Vitória se firma como a principal cidade, que domina e organiza o espaço regional. Vitória influencia funcional, econômica e culturalmente as outras cidades da região metropolitana. Porém, pode-se considerar frágil a hierarquia entre as cidades da região (MIRANDA, 2004).

Vitória se transforma em corredor de exportação entre os anos 1950 e 1960, lugar de passagem, o “arquétipo do não-lugar”, de acordo com Marc Augé. Em um contexto urbano marcado pela presença de cidades médias, estas assumem o papel de suprimento imediato de informação para as atividades agrícolas e mineradoras da periferia, podendo também, se afirmar como locais de tradução, de filtragem e 6

Cf. Morandi e Rocha (1991) citando José Artur Rios (coordenador). Diagnóstico para o Planejamento econômico do Espírito Santo.

64 retenção de técnicas. Entretanto, as cidades médias restringem-se aos aspectos técnicos de produção básicos, pois são as grandes metrópoles que assumem o papel de coordenação da produção e de conexão imediata com as “metrópoles” coordenadoras. Nestas condições, as cidades médias geram “visões de mundo, do país e do lugar elaboradas na colaboração e no conflito” (Milton Santos apud MIRANDA, 2004). Enfim, o papel das cidades médias no processo político fica limitado ao de elo especializado, porém incompleto. Para as questões culturais talvez a tarefa de “tradução” de linguagens técnicas e artísticas seja ainda mais difícil, devido dificuldades da formação de um contexto cultural e de uma rede de conhecimentos, práticas, ambientes, instalações artísticas em plena ditadura. O pequeno relato da história estadual tem a intenção de formar o contexto onde os programas do “Brasil Grande” se forjam. A arquitetura capixaba neste período mantém as referências da linguagem de arquitetura nos estados vizinhos Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Não há até os anos 1980 escolas de arquitetura. Os arquitetos mais conhecidos formam-se no Rio e em Minas, trazendo consigo suas “formações”. As referências são individuais, desconectadas entre si. Outras referências sobre arquitetura instalam-se mediante as obras construídas do quadro de referências dos por arquitetos de outros estados que atuam esporadicamente ou permanentemente na região metropolitana. Ou seja, a arquitetura da Grande Vitória não tem identidade com nenhuma das regiões designadas por Ficher e Acayaba de modo determinante.

Ruth Zein e Hugo Segawa referem-se a inserção do planejamento territorial-físico de cidades como problemática que os arquitetos assumem decisivamente no período Pós Brasília e de fato, isso também se observa na Grande Vitória. No final dos anos 1950, os aterros permanecem como modo de ampliação do tecido urbano, desta vez, a projeto visa anexar a ilha do Príncipe à ilha de Vitória, interligadas pela ponte de ferro. A arquiteta argentina Adina Mera elabora o projeto de urbanização, no governo de Carlos Lindemberg (1959-62). O plano executado posteriormente, até hoje tem áreas não incorporadas à vida urbana, são terras de ninguém em pleno centro da cidade. Nos anos 1960 e 1970, os planos parciais e descontínuos: Novo Arrabalde (Saturnino de Brito, 1895); Plano Agache, 1947, Plano de Aterro da Ilha do Príncipe (Adina Mera), são substituídos por uma visão mais globalizada do planejamento urbano. Fundam-se órgãos estatais de planejamento regional, COPI, para desenvolvimento de Planos de Desenvolvimento Integrado, PDI, visando amadurecer uma idéia de região metropolitana. A COMDUSA, Companhia de Melhoramentos e Desenvolvimento S/A, para contratar empresas de efetuar o planejamento físico e territorial. A COMDUSA executa aterros e o projeto da nova Rodoviária na Ilha do Príncipe (já referido o projeto de Carlos Faet). O PDI foi elaborado pelos escritórios Planorte e Maurício Roberto7, no início da década de 1970, no período da ditadura militar, entre os governos de Christiano Dias Lopes e 7

ROBERTO, M. &PLANORTE. Plano de Desenvolvimento Integrado. Termo de Referência. Vitória: Governo do Estado do Espírito Santo; COMDUSA: Brasília: SERFHAU, 1971

65 Arthur Gerhard Santos. O PDI busca dar coesão entre planos setoriais dos municípios da grande Vitória, propiciar instrumental de planejamento e coordenar um desenvolvimento harmonioso. Dirigir os critérios para novas expansões e loteamentos; produzir normas “originais” de ocupação das praias e morros, para valorizar as belezas naturais; controlar o gabarito das edificações do centro, para valorização do patrimônio histórico, artístico e natural; e coloca preocupações em relação ao ambiente natural da Grande Vitória: o canal de Camburi, as praias, a ilha, os manguesais, as montanhas. A visão de planejamento, contida no plano de Maurício Roberto e Planorte, coloca questões sobre o papel do urbanista e do planejamento, que devem ser expressos, não obstante, ter sido engavetado, diante dos grandes empreendimentos industriais empresariais, implantados nos anos 70. Segundo o texto do PDI, o urbanista deve tomar partido nas interpretações da realidade que lhe é proposta e na correspondente ação respectiva de planejamento. O plano é, pois, marcado pelas visões de seus formuladores e reflete a multiciplidade teórico-científica dos respectivos campos profissionais. O plano fixa no tempo, conclusões de expectativas, que admitem outros enfoques, estão sujeitos á mutabilidade, dos que vierem desenvolvê-lo. O processo interativo de ajustamentos entre realidade urbana no seu todo e as interpretações dos seus analistas8 O problema ambiental (tratado no PDI) só é absorvido pelo planejamento, nos anos 80, quando se questiona sobre as conseqüências possivelmente nefastas do excesso de aterros na baía de Vitória (SIMÕES, 1978). O PDI foi engavetado diante dos grandes empreendimentos industriais empresariais, implantados nos anos 70. A preocupação com a imagem urbana e a conceituação de planejamento dentro de uma visão estratégica, que consta neste plano, só se verifica no Plano Vitória do Futuro, elaborado pela Prefeitura Municipal de Vitória, nos anos 90. Em 1967, foi criado o Conselho de Desenvolvimento Integrado da Grande Vitória, em consonância com o extinto Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU). A partir dai foram elaborados Planos nas áreas de transportes, patrimônio histórico e natural, plano de “controle” de resíduos sólidos, inclusive planos diretores urbanos, creditados como conseqüência do Plano de Estruturação do Espaço da Grande Vitória - PEE em 1976. Diz-se que o PEE institui o processo de planejamento urbano no estado, com a participação do economista Arlindo Vilaschi Filho e dos arquitetos Jolindo Martins e Maria do Carmo Schwab. Em virtude do crescimento populacional decorrentes de correntes migratórias (nos anos 196070) em face da mudança da escala de investimentos por causa dos chamados “Grandes Projetos” o PEE propôs um modelo de organização espacial para a “micro-região” de Vitória. Neste período a Grande Vitória concentrava cerca de 30% da população estadual. Os O intenso fluxo migratório ocasiona problemas urbanos. A malha urbana apresentava formação descontínua, intercalando faixas de alta e baixa densidade. O centro principal apresentava 8

ROBERTO, M. &PLANORTE. (1971). Plano de Desenvolvimento Integrado da Micro-região de Vitória. Relatório Final. (1973). Vitória: Governo do Estado do Espírito Santo; COMDUSA: Brasília: SERFHAU

66 “excessiva” concentração de atividades e os bairros mantinham “estreita dependência em relação ao centro” segundo o diagnóstico do PEE. O PEE visa uma organização espacial da Grande Vitória polinucleada, e propôs “unidades urbanas semi-autônomas, dotadas de suficiente individualização e caráter”. Os planos diretores dos municípios visavam contribuir para consolidação do “zoneamento” proposto pelo PEE. Este plano também propôs a definição de “centros de animação” que correspondem ao “conceito comum de centro de cidade, isso lugares onde haja uma densidade demográfica mais alta, fácil acesso, localização em nó de comunicações, zona de comércio principal e de prestação de serviços, dispondo de equipamentos de saúde, ensino, cultura e lazer. O PEE identificou que tinham esta vocação o centro de Vila Velha, Carapina em Serra e Campo Grande em Cariacica, mas necessitavam de incentivo. Os incentivos propostos foram a definição de um sistema viário e adoção de uma política de transportes. Nesta época agrega-se ao transporte rodoviário urbano o sistema aquaviário (que vinga por poucos anos), constrói-se a Terceira Ponte, o que define um novo eixo de crescimento em direção a Vila Velha. O PEE constitui marcos de referência no sítio físico, a paisagem natural é um deles, entre outros estão a ocupação do sítio físico, a aglomeração, a população, a atividades estabelecidas e as cogitadas. O esquema de estruturação do espaço em contraposição ao crescimento espontâneo propôs os conceitos de adensamento, desconcentração, minimização, preservação e valorização. Assim, planeja: o adensamento dos eixos rodoviários da BRs 101, 262 e da Rodovia do Sol; a “desconcentração” de equipamentos coletivos visando a configuração dos centros de animação programados e descongestionamento do centro principal de Vitória; a minimização das distâncias entre trabalho-moradia e lazer, adequando transporte de massa e equipamentos voltados ao convívio social e a recreação; a preservação de áreas alagáveis, alagadas, encostas íngremes, paisagens e monumentos históricos; e ainda a valorização da posição litorânea regional. O PEE recorre aos instrumentos de zoneamento visando principalmente ocupar interstícios vagos, institui modelos de assentamento provenientes dos seguintes “fatores” afastamentos frontais e laterais, taxa de ocupação, índice de aproveitamento, índice de conforto habitacional, disciplina das vagas de estacionamento. Município Cariacica Guarapari Serra Viana Vila Velha Vitória Grande Vitória GV Espírito Santo GV/ES (%)

1960 39.608 14.861 9.192 6.571 55.589 83.351 209.172

1970 101.422 24.105 17.286 10.529 123.742 133.019 410.103

1980 189.089 38.500 82.581 23.440 203.406 207.747 744.763

1991 274.532 61.719 222.158 43.866 265.586 258.777 1.126.623

2000 323.807 88.216 322.518 53.372 344.935 291.889 1.424.737

1.418.348 14,75

1.599.333 25,64

2.023.340 36,81

2.802.707 44,89

3.093.171 46,06

Tabela baseada nos dados apresentados por PERRONE & MOREIRA (2003), confirma a desconcentração da população para os municípios de Serra, Vila Velha e Cariacica, e a concentração percentual da população da Grande Vitória em relação ao estado.

67 O que se observa que a aplicação do planejamento, a concretização de seus indicativos tais como o desenvolvimento polinucleado para Campo Grande, Centro de Vila Velha, Carapina e depois Laranjeiras (Serra) não foi acompanhado por planos diretores urbanos em todos os municípios, e quando foi a reavaliações apostavam no adensamento de áreas “lucrativas” ao capital imobiliário, os indicativos para a preservação do ambiente natural, da paisagem natural e construídas, dos monumentos foram ignorados parcialmente ou totalmente. Tal como preconizava o movimento moderno, que considerava a cidade um organismo produtivo, que o problema do urbanismo deveria preceder o projeto de arquitetura e a construção civil, isso começa a ocorrer nos anos 1970, no entanto, com o cumprimento pacial de suas proposições. No entanto, o que é mais agravante é que a arquitetura não fez parte de seus pressupostos. Da habitação aos projetos comerciais a arquitetura cedeu aos poucos à chamada produção de “carregação” não obstante a atuação isolada de bons arquitetos. Apenas adequação aos índices e taxas (densidade e retorno do investimento) basicamente eram seguidos. Os critérios e valores das influências físicas, modelos e morfologias, na paisagem e na aglomeração não foram levados em conta. Não havia pesquisa para desenho do edifício relativamente a materiais, as condições climáticas, problemáticas de densificação e mudanças (em extensão ou de vocação de uso). Isso ocorre no Brasil neste período, e uma comprovação da desvalorização dos aspectos conceituais-qualitativos em relação aos quantitativos pode ser cortejada ao desaparecimento da questão dos periódicos especializados. Foi feito um estudo preliminar nos artigos publicados na Revista Projeto (1977-1990) e na Revista AU (Arquitetura e Urbanismo – 1985-1990), com as temáticas: COHABs, BNH, políticas de desenvolvimento urbano; tecnologia, sistemas e técnicas construtivas, industrialização; qualidade e infra-estrutura: saneamento, mobilidade, circulação, serviços, equipamentos coletivos, preservação; invasões e posse; habitação coletiva: projetos, conjuntos habitacionais, habitação popular, comunidades, mercado e produção privada; teoria da habitação (casa, usuário); habitação no exterior. Não obstante preterir o tema em relação à arquitetura privada e internacional, a AU lançou em novembro de 1985, um número especial sobre habitação, que tratava dos principais tópicos abaixo. TEMA

Projeto

AU

COHABs, BNH, política de desenvolvimento urbano Tecnologia e industrialização Qualidade e infra-estrutura Habitação coletiva de interesse social Mercado e produção privada; Teoria da habitação Habitação no exterior

(diferença por contraste e por número de artigos relevantes) 7 artigos 1 11 2 1 0 17 19 4 24 6 4 26 45

Nosso interesse é manter, aprofundar e ampliar este estudo sobre habitação em novos estudos bibliográficos, novas publicações (incluindo livros) e incluir anos 1990 e 2000. Ampliar o conjunto de

68 arquitetos, de obras e sistemas construtivos. Perspectivas de continuidade de estudos em 2009-10:  Revisão/Pesquisa bibliográfica nacional e estrangeira sobre Habitação com ênfase nos assuntos relacionados à política, metodologia e técnica (1970-2000).  Revisão da Pesquisa concluída (sobretudo a parte da bolsista Larissa Araújo “Arquitetura e arquitetos do Tardo-Modernismo, do milagre brasileiro à abertura política” e novas inserções: Mapeamento e estudo da produção do INOCOOP e de ocupações ilegais/ mercado incorporador.  Pesquisa sobre Habitação (na Grande Vitória) de 1985 a 2000.  Estudo de caso de alguns projetos habitacionais de relevância local, nacional e internacional. Aprofundamento política, metodologia e técnica.  Estudos sobre cultural popular x cultura acadêmica com prospecções em habitação popular em Vitória.  Pesquisa sobre legislação, economia, propriedade e direito urbanístico em ocupações irregulares.

Os projetos de desenvolvimento social, nos anos 1980, foram suplantados por políticas de interesse privado e de empresas. Neste período não importavam os interesses que baseavam a produção da arquitetura. A atuação de Bebeto Vivacqua se destaca nesse momento. O valor da arquitetura, mais uma vez usada para dar a aparência simbólica dos grupos dominantes, se colocava no caráter inovativo formal e técnico. Longe das regras ortodoxas de projetação, as referências da arquitetura moderna misturavam-se às outras fontes. A intuição formulativa acata a mimese novamente como metodologia. A recepção pelo mercado pesava muito nas referências arquitetônicas. Muitas vezes arquitetura torna-se mais objeto de consumo do que fato cultural e urbano.

Edifício do Palácio do Café, projeto de Bebeto Vivacqua (esquerda) e Hotel porto do Sol projeto de Paulo Casé (direita). Fonte: DAUUFES

O plano Diretor Urbano de Vitória, aprovado apenas em 1984, criou zonas funcionais específicas, controle de volumetria, gabaritos e densidade de ocupação de solo, através de modelos de assentamento, que desenham o layout da cidade desde então. Os instrumentos do plano tratam homogeneamente áreas distintas da cidade: de diferentes topografias, ambientes naturais e modificações antrópicas. Em contrapartida, o zoneamento tem apontado os filões para o investimento da incorporação imobiliária, criando áreas super valorizadas e outras abandonadas.

69 O centro histórico de Vitória padeceu do abandono de investimentos e da evasão do comércio nos anos 1980 e 90. Como vimos o processo de descentralização foi igualmente induzido pelo PEE. Ainda tem como causa o fato de a cidade tradicional “desaparecer” para dar lugar aos investimentos massivos em espaços intramuros: clubes, cerimoniais, shoppings, condomínios verticais e mais recentemente condomínios horizontais. Nesse processo, tem colaborado o empobrecimento da civilidade urbana, fato que esvazia o imaginário, sustentáculo da vida nos centros urbanos. A dispersão da vida coletiva nega a noção de cidade capital como centro de poder. Nesse problema, o funcionalismo tem uma dose de responsabilidade. Pois, configura um espaço tipo patchwork, com seu “pedaço por pedaço” homogêneo, ignora ou não proporciona possibilidades das redes ou novas direções de crescimento a não ser as indicadas na lei. A metropolização (polinucleada) da região da Grande Vitória começa a ser esboçada no período em que circulam imagens e opiniões sobre os impactos da pós-industrialização nos EUA e Europa (veiculadas em artigos e livros da época), devido desindustrialização de suas zonas industriais, que por sua vez são transferidas para países como o Brasil. No mesmo período constata-se a concomitante crise da centralidade generalizada (ao mesmo tempo devido processos de suburbanização e desurbanização naqueles países) que deixava perplexos os arquitetos: Como devemos tratar esta perda gradual do centro? Devemos tentar recuperar novamente sua unidade perdida? Isto é possível ou desejável? Pois, qualquer tentativa de reunificação parece anti-histórica: a perda do centro é uma conseqüência física da fragmentação social. Certamente, não vai ser com a pureza formal que poderemos reverter essa tendência, visando à reunificação física da cidade. (WAISMAN, 1995).

Há quem comemore a nova situação da liberação do “cativeiro do centro, da camisa de força da identidade” e constate que o centro é demasiado pequeno para desempenhar as novas funções designadas (KOOLHAAS, 2004). O diagnóstico do problema é conhecido, reside na incapacidade de difundir novos instrumentos de compreensão de multiescalas e de ordem nas cidades. Françoise Choay (1996) diz que se deve admitir sem sentimentalismo o desaparecimento da cidade tradicional, contudo interrogar-se sobre a “natureza da urbanização” e sobre a “não-cidade” das sociedades avançadas.

No contexto da globalização, da produção flexível, da sociedade das redes ou do capitalismo cognitivo, seja qual for a designação dada ao novo período que se firma nos anos 2000, as cidades e as redes das novas tecnologias da informação e comunicação exercem papéis complementares. É a estrutura física do território que assegura a combinação de diversas formas de comutação e interação dos sistemas de comunicação. E esta é uma dimensão que apenas começa a ser explorada: “Para a compreensão dos papéis complementares entre as cidades e a telemática será útil considerarmos como ambas facilitam a comunicação econômica, social e cultural, embora de formas diferentes. De um lado, as cidades podem ser consideradas como concentrações físicas que auxiliam na superação das restrições de tempo pela minimização das limitações de espaço. Por último, e principalmente, concentração nas cidades significa que a proximidade física

70 possibilita a operação de mercados de serviços, propriedade, trabalho e produção já que os elementos de uma cidade podem ser acessados e integrados sem grandes perdas de tempo. (...); e a vida social e cultural das cidades ocorre através de contatos face a face.” (Graham, 1996). A questão que se coloca os arquitetos modernos conseguiram traduzir os modelos de cidade industrial com sucesso lingüístico e algum insucesso social e ambiental, como fazer convergir a cidade física (e biológica) e a cidade das redes eletrônicas. Uma questão que os arquitetos se colocam interncionalmente. Por outro lado, a arquitetura do período 1970-85 no Brasil ( e regional) não fez o dever de casa que foi rever o problema do sentido da arquitetura, e redefinir os termos em que se define a disciplina (NESBITT, 2006) e ao mesmo tempo cometeu as mesmas tergiversações que os arquitetos do campo interncional de transformar a arquitetura em negócio e despolitizar a arquitetura (temporariamente).

Siglas BCUFES: Biblioteca Central da UFES DAUUFES: Departamento de Arquitetura e Urbanismo IPES: Instituo de Pesquisa do Espírito Santo

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73

Relatório “Arquitetura e arquitetos do Tardo-Modernismo, do milagre brasileiro à abertura política”. Larissa oliveira de Araújo (Bolsista FAPES)

1. CARACTERIZAÇÃO DO PERÍODO

Os ideais modernos que surgiram na Europa começaram a ser difundidos no Brasil na década de 20 com a construção da Casa Modernista de Gregori Warchavchik em 1927 e a indicação de Lucio Costa para diretor da Escola de belas Artes do Rio de Janeiro. Começou a se projetar uma arquitetura racionalista, mas com preocupações regionais. Surgiu no Rio de Janeiro, como resultado da associação dos princípios do Movimento Moderno europeu com características locais, uma arquitetura com uma grande expressividade plástica. A arquitetura brasileira começou a ter reconhecimento internacional na exposição do Museum of Modern Art de Nova York e com a publicação do Brazil Buildsd em 1943. Foi uma época em que várias revistas estrangeiras publicaram artigos ou edições criticando a arquitetura brasileira. Revistas como L’architecture d’aujourd’hui, Architectura Fórum, Nuestra Arquitetura, RIBA journal, Domus, etc. Na década de 50, surgiu em São Paulo uma escola paralela à carioca. Seu maior mentor foi Vilanova Artigas. Artigas se aproxima da arquitetura carioca “corbusieriana”, mas insere nela a preocupação de criar modelos. Mais tarde essa arquitetura foi classificada como “brutalista” pelo “enxugamento” no uso dos materiais e pelos volumes compactos. Na década de 60 com o inicio do regime militar, os arquitetos encontravam grandes dificuldades na realização de seus projetos devido à censura que atingia todas as áreas da cultura nacional. Os paulistas foram criticados pelo maneirismo na implementação de seus princípios. O “endurecimento” do regime militar e a economia em baixa dificultaram a concretização das transformações sociais. Na década de 70 observa-se o esgotamento do repertório moderno e uma busca por novas soluções arquitetônicas. Na década de 70 reinicia o debate arquitetônico através dos Depoimentos organizados pelo IAB-RJ em 1976. A falta de critica dentro do campo da arquitetura devido ao fechamento das revistas pelo regime militar e a abertura de escolas de arquitetura formando uma massa de projetistas de uma arquitetura de “carregação”, e a dificuldade de romper com o rígido repertório moderno enfraqueceu os debates nacionais e propiciou a transformação da arquitetura nacional em uma reprodução de soluções pós-modernas que se encerram no campo formal. A arquitetura nacional saía da rigidez moderna e seguia em direção ao pluralismo.

74 Os projetos fundiam características da arquitetura moderna com características da arquitetura brutalista, inserindo neles elementos regionais que situavam os edifícios no contexto local. Essa inserção era feita através de analogias formais com o lugar ou com o uso de materiais que refletissem a cultura e a história local, mas sempre inovando tecnologicamente. Os edifícios fugiam do até então decorrente bloco único sem revestimento e os edifícios comerciais que seguiam o estilo internacional passaram a ter mais movimentação na fachada. Nos anos 60 e 70 houve uma ampliação da área de atuação do arquiteto. Além da elaboração do projeto arquitetônico, o profissional começou a atuar na cidade através da elaboração de planos diretores e de desenvolvimento integrado das cidades.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Na década de 1970 o Espírito Santo passava por uma de mudança de base econômica, a produção do café começou a ser substituída por outros cultivos que necessitavam de menos mão-de-obra e indústrias nacionais começaram a se instalar no estado. Isso acelerou o processo de urbanização que se concentrou na cidade de Vitória. A indústria da construção civil foi a que mais produziu no setor secundário. Nesse período o Espírito Santo recebeu vários arquitetos nacionais, formados principalmente no Rio de Janeiro e Nordeste, como Bebeto Vivácua, Carlos Faé, Ione e Fernando Marroquim e Paulo Casé, que trouxeram as mudanças que aconteciam no campo da arquitetura em todo o Brasil.

3. ARQUITETOS E OBRAS

ARQUITETO

OBRA

DATA

CIDADE

Afonso Junqueira Accorsi

Atlantica Ville

1979

Vitória

Bebeto Vivácqua

Prefeitura Municipal de vitória

1974

Vitória

Bebeto Vivácqua

Palácio do Café

1983

Vitória

Bebeto Vivácqua

Posto de abastecimento e garagem de barcos

1971

Vitória

Bebeto Vivácqua

Palas Center

1976

Vitória

Bebeto Vivácqua

Residência Graciano Espídula

1977

Guarapari

75

Bebeto Vivácqua

Centro da Praia Shopping

1977

Vitória

Bebeto Vivácqua

Rede Gazeta de Comunicações

1978

Vitória

Bebeto Vivácqua

Sesi Campo Grande

1978

Cariacica

Bebeto Vivácqua

Condomínio dos Pássaros

1980

Nova Guarapari

Bebeto Vivácqua

Rede Tribuna de Notícias (reforma)

1982

Vitória

Bebeto Vivácqua

Agência da Caixa Ecômica Federal

1984

Guarapari

Bebeto Vivácqua

Centro Cívico de Cariacica

1984

Cariacica

Bebeto Vivácqua

Parque Tancredão

1985

Vitória

Bebeto Vivácqua

Residência de Bebeto Viváqua

1984

Vitória

Bebeto Vivácqua

Junta Comercial

1985

Vitória

Bebeto Vivácqua

Cheim Transportes S.A.

1977

Serra

Bebeto Vivácqua

Praia Shopping

1982

Vitória

Carlos Faé

Reitoria da UFES

Vitória

Carlos Faé

Rodoviário de Vitória

Vitória

Dirceu Carneiro

DER

José Galbinsky

Biblioteca Central da UFES

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

FINDES

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Centro de educação e Treinamento Dr. João Batista

1982

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

AEST

1981

Manguinhos

Ione e Fernando Marroquim

Ed Mônica

1977

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Ed Mirante da Praia

1978

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Ed. Sir. Isaac Newton

1979

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Ed. Paola

1982

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Residência Marroquim.

1978

Vitória

1968

Vitória

76

Paulo Casé

Hotel Porto do Sol

Guarapari

Paulo Casé

Casa na Ilha do Boi

Vitória

Paulo Vargas

Hotel Praia

Nova Almeida

Zanine Filho

Ninho da Rochinha

Vitória

4. BEBETO VIVACQUA E IONE E FERNANDO MARROQUIM

4.1 BIOGRAFIA BEBETO VIVÁCQUA Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Carlos Alberto Vivácqua Campos iniciou seus estudos de arquitetura em Belo Horizonte e mais tarde se transferiu para o Rio de Janeiro, onde se graduou em 1968. Trabalhou associado ao arquiteto Irencyr Brandão no Rio de Janeiro até 1977. Em 1973 eles venceram o concurso público da elaboração e construção da Prefeitura Municipal de Vitória. Nesse período recebeu várias premiação do IAB. A primeira em 1970, juntamente com o arquiteto Glauco Gianccobe, obteve o primeiro lugar, na categoria Edifícios para Fins Diversos, pelo projeto de um posto de serviços no Rio de Janeiro. Concorreu novamente em 1974 com um projeto não executado, para Rodoviária de Vitória, obtendo Mensão Honrosa. Em Vitória realizou mais de duzentas obras caracterizadas pela plasticidade dos volumes e a flexibilidade dos espaços. Na década de 70 os projetos de destaque são a Prefeitura de Vitória, o Palas Center, o Centro da Praia Shopping, a Rede Gazeta de Comunicações e o SESI Campo Grande. Nos anos 80 destacam-se os projetos da Junta Comercial de Vitória, o Parque Tancredão e o Palácio do Café. Bebeto faleceu aos 43 anos, no auge de sua carreira.

4.2 BIOGRAFIA IONE E FERNANDO MARROQUIM

Ione e Fernando Marroquim iniciaram o seu curso de Arquitetura e Urbanismo na UFPE na década de 70, grande promotora do Movimento Moderno no Brasil. A escola contava com grandes nomes no corpo docente como Acácio Gil Borsoi e Delfim Amorim, importantes na formação da nova geração de arquitetos. Em 1971, Fernando transferiu-se para a UNB onde concluiu o curso e estagiou na firma de engenharia Projectum, onde conheceu João Figueiras Lima (Lelé) e trabalhou com projetos de Oscar Niemeyer. Ione permaneceu em Recife e estagiou com a arquiteta Janete Ferreira Costa,

77 que trabalhava na arquitetura de interiores com uma linguagem moderna e a inserção de elementos da cultura local. Ione e Fernando se formam em 1973 e em 1975 foram trabalhar na equipe do projeto de um Centro Cívico em Argel, de Oscar Niemeyer, na Argélia. Em 1977 voltam para Recife, mas devido à baixa perspectiva de emprego se mudaram para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, Fernando foi contratado pelo Grupo CIEC para trabalhar em Vitória. Quando vieram morar em Vitória, Fernando começou a trabalhar na construtora e Ione foi convidada a trabalhar no Plano Diretor do Campus Universitário da UFES no Escritório Técnico Administrativo (atual Prefeitura Universitária). Em 1981 Ione passou no concurso para professora da UFES. No mesmo ano eles venceram o concurso para o projeto do Clube de Lazer dos funcionários da CST. Em 1986 o escritório do casal começou a projetar para grandes construtoras, com projetos principalmente em Vila Velha. Em 1998, com a inauguração do Hotel Sete Colinas, propriedade do casal em Olinda, os arquitetos passam a ter uma vida itinerante.

5. HABITAÇÃO

5.1 ASPECTOS HISTÓRICOS: AGENTES POLÍTICOS, SOCIAIS E

ECONOMICOS.

No Brasil, desde o séc. XIX a questão habitacional esta em pauta com a construção das vilas operarias que abrigavam os operários da indústria. Nesse período se caracterizavam como projetos de particulares que buscavam diminuir as distâncias entre o seu funcionário e a indústria. As vilas operarias ofereciam diversos serviços além de moradia, como barbearias e mercadinhos, aglomerando diversas funções na mesma estrutura. A habitação coletiva no Espírito Santo não teve o mesmo tipo de desenvolvimento no Brasil. As vilas operárias características da República Velha, na ausência da industrialização e de um mercado imobiliário, inicialmente foi provida pelo Estado. São exemplos pequenos conjuntos de casas para funcionários públicos no Parque Moscoso, na Rua Gama Rosa no governo Jerônimo Monteiro (1908-12) e no governo Florentino Ávidos a Vila Operária de Jucutuquara. No Governo Vargas houve o primórdio da implantação da política de habitação social, mas no Espírito Santo, o interventor Punaro Bley (1930- 43) que reorganizou a máquina financeira e administrativa não realizou este tipo de empreendimento. O governador Bley construiu escolas, hospitais, presídios, o quartel de Maruípe, entre outras. Também construiu estradas, modernizou o porto para receber minério e fez obras de renovação urbana em praças e parques. Entre os quadros deste governo estavam engenheiros como Asdrúbal Soares que fez o projeto do Bairro de Maruípe e o cadastro territorial de Vitória.

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FIGURA 1: Projeto de loteamento para localização da pobreza, anos 1930. Engenheiro Asdrúbal Soares. Fonte DAUUFES

A política habitacional do Governo Vargas recomendava a padronização dos projetos, “objetivando sempre economia em todos os pontos não essenciais ao dimensionamento da habitação”, indicando que “as instalações devem ser simples, padronizadas e duráveis”. Embora não tenha sido implantada no estado, os modelos dos conjuntos de habitação unifamiliar, com desenho urbano com modelos cidade-jardim ou subúrbio americano, ou de edifícios coletivos, seguindo modelos siedlungs alemãs, unités d’habitacion, modelos racionalistas do segundo pós-guerra, bairros-jardim, se difundiram aqui desde os anos 1950 e

79 mais tarde com a atuação da COHAB (1965-85) e INOCOOP (1964-98), e ainda nos anos 2000, em menor proporção. O primeiro conjunto, nos moldes de habitação social, que surgiu na Grande Vitória foi o atual bairro IBES. O núcleo residencial popular Alda Santos Neves, o IBES, foi concebido para famílias pobres, com 812 unidades planejadas. O IBES, instituto criado para planejar e administrar empreendimentos voltados para o desenvolvimento social, contou com a participação de vários órgãos financiadores no Governo de Jones dos Santos Neves (1951-54): IAPI, IAPC, IJM.

80 FIGURAS 2 e 3 : Implantação do projeto IBES de Renato Sá Construção. Firma Construções Populares Ltda.

FIGURAS 4: Foto área das unidades de habitação unifamiliares do IBES. Fonte IPES.

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FIGURAS 5: Vista das unidades de habitação unifamiliares do IBES. Fonte IPES.

A Fundação da Casa Popular, RJ, planejou, construiu e vendeu as unidades do núcleo urbano do IBES. O arquiteto Renato Sá utilizou um modelo prévio da fundação. O plano geral consiste numa figura hexagonal centrípeta, o espaço central era reservado para uma ampla praça com serviços e lazer, unido por uma via principal a Rodovia Carlos Lindemberg. O plano geral consiste numa figura hexagonal centrípeta, que remete ao diagrama da cidade jardim inglesa de Howard, 1898. Pode-se citar, ainda o conjunto Plácido Barcellos, projeto da arquiteta Maria do Carmo Schwab, que embora de iniciativa privada e de pequeno porte, acolhe modelos e procedimentos do urbanismo racionalista: radburns.

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FIGURAS 6, 7 e 8: Conjunto Plácido

Barcellos,

arquiteta

Maria do Carmo Schwab, Vila Velha, 1961

O Espírito Santo até o fim dos anos 1960 predominantemente rural, só vindo a população urbana ultrapassar a rural em 1970 (dados do INOCOOP), chegando em 67% em 1980. Várias

83 foram os empreendimentos na tentativa de constituir um mercado imobiliário no estado ou simplesmente expandir a malha urbana. Até a década de 50 os construtores capixabas só trabalhavam por encomenda. A partir daí constrói-se edifícios para aluguel. Os quatro primeiros foram no centro de Vitória. Posteriormente foram erguidos vários edifícios para venda. Em 1964, durante a ditadura militar, foi criado o Banco Nacional de Habitação que inicialmente financiava habitações para os moradores retirados das favelas, com uma renda de um a três salários mínimos, mas a inadimplência mudou o foco do banco que subiu os critérios de renda passando a financiar as classes médias. No Espírito Santo, houve um pequeno aumento de área construída com a criação do BNH, mas o maior crescimento foi registrado entre 1975 e 1982 (INOCOOP). As habitações de interesse social eram feitas predominantemente na Serra e em Vila Velha. O valor da terra também interferia bastante na produção imobiliária. A cada ano as habitações se distanciavam mais dos centros e urbanizavam as periferias desprovidas de infra-estrutura urbana. Alguns desses loteamentos funcionavam paralelos ao trabalho do BNH e se apresentavam como uma alternativa para a população de baixa renda. Estudos da urbanista Sarah Maria do Santos (e outros) distinguem três períodos da construção dos condomínios na Grande Vitória (1993): Até 1974, em Vitória, os conjuntos se concentram em um raio de até 7km do centro. Principalmente em Vila Velha. São geralmente conjuntos de pequeno porte, que foram absorvidos pelo contexto urbano; De 1975 a 1982 os conjuntos ainda são feitos predominantemente em Vila Velha, mas se verticalizam e o alcance chega até a Serra. De 1983 a 1988 os conjuntos financiados são de grande extensão e localizados na Serra.

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FIGURA 9: Mapa da ocupação dos conjuntos habitacionais.

Do ponto de vista tecnológico, o setor da construção civil, segundo Bolaffi, não acompanhou a modernização da indústria e continuou a produzir de forma tradicional com mão-de-obra pouco especializada e mal remunerada. Mas Ronaldo Frechiani aponta uma grande utilização de placas pré-moldadas de concreto na construção de casas pela PMV. A estrutura, porém, é gradativamente substituída pela alvenaria tradicional nas expansões feitas pelos moradores. A falta de domínio de outras técnicas restringe a produção aos materiais e técnicas construtivas convencionais.

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FIGURA 10: Unidade de fabricação de blocos de cimento da COHAB, ES.

Outra atividade bastante freqüente era a auto-construção. O morador substituía o investimento financeiro pelo investimento em trabalho, construindo sua própria casa no seu tempo livre. Bolaffi critica a visão romântica da favela por achar q o morador está ocupando um papel que seria do governo e os custos posteriores com supervisores técnicos seria maior. Arquitetos como Borsoi e Lucio Costa, na época, apresentaram estudos dentro desse tema, como a construção de estruturas de taipa modulados, ou o uso do tijolo de solo-cimento, projetos que alimentaram o debate sobre a auto-construção no setor habitacional. No Espírito Santo, na década de 80, a alta da inflação causou a crise da indústria da construção civil. Uma alternativa encontrada pelas empresas foi reajustar as prestações das moradias na mesma medida que a inflação subia, índice porém que não correspondia ao reajuste dos salários, causando protestos que depois contribuíram para a extinção do BNH. A crise levou os empresários a investirem no mercado de alta renda e nos condomínios fechados. Buscou-se também novas áreas de expansão facilitadas com a construção da 3ª ponte. Depois de esgotar o mercado de alta renda, voltaram-se para a classe média. Para viabilizar os empreendimentos, as empresas passaram a cobrar juros em cima dos imóveis e a trabalhar com o escambo de mercadorias tanto com os compradores como com os fornecedores. Eram feitos grandes empreendimentos em terrenos baratos para diminuir os custos. Em todo Brasil, na década de 70 e 80 o tipo “condomínio fechado” se tornou moda para todas as camadas sociais. A idéia de se isolar do caos urbano em uma estrutura que oferece todos os serviços necessários para o cotidiano do morador atraiu várias pessoas. Mas, segundo Almada, os condomínios fechados se encaixam no tipo “progressista” ou “racionalista” que criam um usuário tipo que vai morar no local. Isso leva à dedução de “necessidades tipo” e ao

86 zoneamento da área, diferente da cidade figurativa que trabalha com a complexidade de usos e apropriações do espaço. Essa dificuldade de adaptabilidade é o que limita a eficiência do sistema de condomínios fechados. A década de 1970 foi um período de grande discussão sobre a temática da habitação. As revistas especializadas em Arquitetura e Urbanismo discutiam bastante sobre políticas habitacionais, planejamento urbano, técnicas construtivas, apresentavam conjuntos e realizavam vários debates sobre a produção nacional. Na década de 1980, o debate esmaeceu e as revistas analisavam mais as tipologias privadas do que a política e a questão social. Observa-se também a ampliação da abordagem da produção internacional. Hoje sofremos com ausência de discussões sobre habitação e com o mercado imobiliário que fortaleceu e conduz a inovação na área visando apenas o lucro e eficiência econômica.

FIGURA 11 e 12: Conjunto de casas para funcionários públicos no Parque Moscoso, construído no governo Jerônimo Monteiro (1908-12). Fonte DAUUFES

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FIGURA 13: Conjunto de casas (demarcado em vermelho) na Rua Gama Rosa construído no governo de Florentino Avidos 1924-28. Fonte DAUUFES

5.2 ANÁLISE TIPOLÓGICA: CASAS, CONJUNTOS DE EDIFÍCIOS E CONJUNTOS DE CASAS O período estudado é caracterizado pela expansão da malha urbana na Grande Vitória. A demanda habitacional, tanto das classes baixas como das altas, fez surgir um grande número de condomínios de casas e edifícios, tipologia que entrou na moda em todo o Brasil na época. A dificuldade de adaptação dos moradores aos projetos padronizados levava à realização de modificações nas unidades que por vezes descaracterizavam o projeto como um todo. Várias tipologias eram implantadas em todo país na busca soluções para viabilizar habitações com áreas mínimas que suprissem as necessidades dos moradores. Le Corbusier teve grande influência na produção habitacional brasileira. Seu modelo da Unité d’Habitation inspirou projetos no Rio de Janeiro, como os conjuntos Pedregulho e a Gávea de Affonso Eduardo Reidy, e o conjunto Residencial Japurá de Eduardo Kneese de Melo, em São Paulo. Segundo BONDUKI, esses “blocos laminares”, como são chamados os blocos com acesso vertical chegando a extensos corredores coletivos, não foram uma tipologia bastante difundida no período de produção habitacional dos Institutos de Pensão e Aposentadorias devido à grande perda de área para circulação, apesar de possibilitar uma grande variação de programas no seu interior. Bonduki classifica as tipologias dos edifícios verticais de acordo com a localização da caixa circulação e o número de unidades que ela acessa em cada piso. O tipo de bloco composto por uma caixa de escada para cada duas unidades foi o mais freqüente na produção de habitações populares e foi o tipo adotado nas siedlung alemãs dos anos 20. Um segundo tipo é o tipo H que tema a vantagem de atender o dobro de unidades do modelo anterior com a mesma caixa de escada. O autor observa também uma grande recorrência dos “blocos laminares” da Unité d’Habitation. Outro tipo seria o bloco de pátio central que pode ser associado à Hof vienenses, mas só é apresentado um exemplo em Belo Horizonte. O último tipo é o bloco em Y que otimiza ventilação e iluminação, mas necessita de uma grande área para ser implantado. Em

88 Vitória podemos citar como exemplo o Conjunto Centro Residencial da Praia, no bairro Santa Luiza em Vitória, do arquiteto Bebeto Vivácqua. No contexto da pesquisa, dois dos edifícios analisados nesse trabalho, O edifício Mirante da Praia e o Conjunto Atlântica Ville, são “blocos laminares”. O modelo corbuseriano possibilitou uma grande variação na planta das unidades, possibilitando aos usuários escolher a unidade de mais se adequa ao seu estilo de vida. Nos projetos de condomínio de casas observa-se um afastamento maior dos centros que os condomínios verticalizados. Isso se deve a necessidade maior de espaço que é limitado pelo valor do terreno que aumenta à medida que se aproxima dos centros. Eles foram um dos responsáveis pela expansão da malha urbana. Alguns conjuntos de casas seguiram a implantação das cidades jardins de Ebenezer Howard, Raimund Unwin e Barry Parker. A cidade de São Paulo foi pioneira, com a construção dos bairros Jardim Europa e Jardim América, na primeira década do século XX, pelo urbanista Barry Parker, mesmo projetista da cidade jardim de Letchwork (junto com Unwin). Na grande Vitória, podemos citar como exemplo o conjunto Serra III construído pela COHAB. Esses projetos mostram uma preocupação em propor espaços residenciais tranqüilos com um fluxo controlado de carros. Dentro desses conjuntos alguns terrenos foram reservados para equipamentos urbanos como escolas, postos de saúde e comércio, criando unidades de vizinhança e oferecendo aos moradores alguns serviços, diminuindo a necessidade de se deslocar para os centros. Um número estrito de modelo de casas foram implantadas. A unidade embrião e a de dois quartos foram as mais recorrentes. Aparecem nos conjuntos Feu Rosa e Marcílio de Noronha, construídos pela COHAB. As residências unifamiliares (privadas, sobretudo) continuam no Século XXI os laboratórios profissionais dos arquitetos, projetos sem restrições institucionais, concebidos para um usuário específico e não padronizado.

FIGURAS 14 e 15: Conjunto José de Anchieta, COHAB, Serra, 1117 famílias atendidas, casas unifamiliares, 1979

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FIGURA 16: Conjunto Bairro das Flores, denominação anterior Feu Rosa, Serra, 3300 unidades na primeira fase e 400 na segunda fase, casas e embriões, COAHB, 1984

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FIGURA 17: Embrião do Bairro das Flores (Feu Rosa). Abaixo Escola e Centro Comunitário. COHAB.

FIGURAS 18: Conjunto André Carloni, 684 casas e 1504 apartamentos, Serra, 1984

FIGURAS 19: Conjunto André Carloni, 684 casas e 1504 apartamentos, Serra, 1984

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FIGURAS 20, 21 e 22: Tipologia da casa e tipologia H dos apartamentos (abaixo planta do edifício com apartamentos de dois quartos), COHAB.

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FIGURA 23: Variações da arranjo espacial dos cômodos do embrião e das casas COHAB.

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FIGURA 24: Disposição da escada nos blocos de André Carloni e de Atlântica Ville

5.3 ANÁLISES MORFOLÓGICAS: EDIFCIO MIRANTE DA PRAIA. O Edifício Mirante da Praia, situado na Rua Moacyr Avidos no bairro Praia do Canto em Vitória, foi projetado em 1978, pelos arquitetos Ione e Fernando Marroquim. Adaptou-se ao terreno

95 em “L”, estreito e com aclive aproveitando todo espaço para acomodar uma grande quantidade de apartamentos. O projeto é formado por vários módulos que se adéquam às necessidades do morador. São cinco módulos distribuídos nos 11 pavimentos tipo além dos 4 pavimentos de garagem e o pavimento térreo. O volume do edifício é a soma de dois volumes na vertical: os pavimentos tipo e os pavimentos garagem. O volume dos pavimentos garagem é, na verdade, uma justaposição de planos que formam um volume vazado e quebrado pela topografia. Os pavimentos tipo apresentam-se como um bloco curvado erguido pelos planos da garagem. À distancia só é possível ver o bloco curvo de fachada modular. Os arquitetos usaram colunas de concreto em “U” no exterior do edifício e o bloco de elevadores para conectar o bloco com a garagem.

Figura 25: Localização Figura 26: Módulo de apartamentos FONTE: Google earth FONTE:

A fachada do Edifício Mirante da Praia é formadabr.geocities.com/mirantedapraia pela repetição dos módulos de varanda dando ritmo á fachada. Algumas varandas possuem medidas diferentes, na inflexão da curva, mas a similaridade entre elas faz com que elas sejam percebidas como iguais, e frontalmente o observador não percebe a curvatura. As paredes e os guarda-corpos formam uma grelha sobreposta na fachada branca com as aberturas de vidro.

Figura 27: Mirante da Praia, 1980 FONTE: br.geocities.com/mirantedapraia

Figura 28: Mirante da Praia, 2008.

96 Da Rua Moacyr Avidos é possível ver a fachada voltada para praia devido à curvatura que o edifício possui. A rampa para carro localiza-se na lateral, na frente da fachada com varandas e possibilita ao transeunte ver os módulos de apartamentos. Da orla o edifício dá a falsa impressão de um bloco uniforme modular pela semelhança entre as varandas que passam uma idéia de continuidade.

FIGURA 29: Rampa de acesso à garagem.

O acesso de veículos é pela lateral do edifício onde estão localizadas as rampas. O acesso de pedestres é pelo meio do terreno. O pavimento garagem se projeta além da entrada, formando uma marquise convidativa no térreo. O hall de entrada que acessa os elevadores é em “L”. O pé-direito diminui à medida que se entra no edifício direcionando o visitante e tornando-se um espaço mais íntimo. Os moradores evidenciaram o caminho em “L” em reformas posteriores, modificando a portaria de lugar e construindo um jardim interno no hall de entrada. Por ser um espaço fechado só com esquadrias de vidro na frente, a entrada carece de iluminação e ventilação. No projeto original os arquitetos fizeram uma abertura para os fundos do terreno, criando uma ventilação cruzada e iluminando o ambiente.

FIGURA 30: Hall de entrada

97 O morador entra pela porta central e acessa os apartamentos pela circulação vertical localizada à direita do edifício. Nos pavimentos tipos, a circulação é feita por um extenso corredor fechado por cobogós que pode ser acessado de dois pontos: dos elevadores que saem do térreo e acessam todos os pavimentos; e dos elevadores que saem dos pavimentos garagem e acessam os pavimentos tipo. A via fechada e relativamente estreita encoraja o movimento para frente e ao longo do corredor. Os apartamentos são organizados de forma linear, estando todos voltados para a mesma fachada. No térreo observamos uma divisão da planta por usos: Á esquerda do edifício estão localizados as dependências de zelador e sala de administração do condomínio, sub-estação e rampa de acesso aos pavimentos-garagem; À direita fica o jardim e o acesso aos apartamentos. O Edifício Mirante da Praia se destaca na paisagem pela sua extensa fachada voltada para o mar, diferente dos outros prédios que se voltam para a rua, e destaca-se também pela inovação na planta-baixa abrindo um leque de possibilidades para a escolha do apartamento, com a opção de diversos módulos na planta.

FIGURA 31: Modelo digital Mirante da Praia

FIGURA 32: Modelo digital Mirante da Praia

5. RFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMADA, Mauro. Condomínios fechados saúdam o povo e exigem passagem. Revista Projeto 51. (p. 40) BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: Rumos da arquitetura brasileira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003. BETTARELLO, Fernando Augusto Barros. Arquitetura Bebeto Vivácqua. Vitória, ES. Ed. Do autor. 2001. BOINA, Maria das Graças Dalvi. Atlântica Ville. “Mergulhe nessa nova vida.”.Um estudo da concepção do desenho, do lugar e dos modos de vida que abriga. Projeto de Graduação. UFES. 1991.

98 BOLAFFI, Gabriel. Produção de habitações, construção civil e mercado de trabalho. Revista Projeto 51. BONDUKI, Nabil Georges. Origem da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESB, 1998. BONDUKI, Nabil, KOURY, Ana Paula, MANOEL, Sálua Kairus. Análise Tipológica da Produção de Habitação Econômica no Brasil (1930-1964) disponível em: http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/115R.pdf. BRUAND, Yves. A Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo. Perspectiva. 3 a edição. 1999. CABRAL, Cláudia Piantá Costa. De volta ao futuro: revendo as megaestruturas. Arquitextos 082. março de 2007. disponível em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp409.asp FICHER, Silvia e ACAYABA, Marlene Milan. Arquitetura Moderna Brasileira. São Paulo. Editora Projeto, 1982. FRECHIANI, Ronaldo Volmer. A casa - Aproximações em torno de sua complexidade. Progeto de Graduação. UFES. 1996/01. JUNIOR, Carlos Teixeira Campos. A construção da cidade: Formas de produção imobiliário em Vitória. Flor & Cultura editores. Ilha de Vitória, 2002. JUNIOR, Carlos Teixeira Campos, NEVES, Luiz Guilherme Santos. A casa edificada. INOCOOP-ES. Rona Editora-BH. Vitória, 1998. QUEIRÓS, Mauricio Vinhas de. Arquitetura e Desenvolvimento. In. XAVIER, Alberto. Depoimento de uma geração. São Paulo: ABEA/FVA/PINI, 1987. p. 155-177 SANTOS, Sarah Maria dos; GONÇALVES, Wilson Rodrigues & RODRIGUES, Adenis Cruz. Os conjuntos habitacionais do BNH da aglomeração de Vitória: Sua inserção no espaço urbano da capital (reconhecimento da situação atual dos conjuntos). Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Seminário de PRPPG-UFES, 1993. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999. SOUZA, Bethania Gonçalves. Dialogando com a arquitetura de Ione e Fernando marroquim. Projeto de Graduação, 2000. ZEIN, Ruth Verd. Arquitetura Brasileira Atual. Revista Projeto 53 (p. 86 – 126)

99 Relatório “Arquitetura e arquitetos do Tardomodernismo, do milagre brasileiro à abertura política”. Larissa oliveira de Araújo (Bolsista FAPES)

1. CARACTERIZAÇÃO DO PERÍODO

Os ideais modernos que surgiram na Europa começaram a ser difundidos no Brasil na década de 20 com a construção da Casa Modernista de Gregori Warchavchik em 1927 e a indicação de Lucio Costa para diretor da Escola de belas Artes do Rio de Janeiro. Começou a se projetar uma arquitetura racionalista, mas com preocupações regionais. Surgiu no Rio de Janeiro, como resultado da associação dos princípios do Movimento Moderno europeu com características locais, uma arquitetura com uma grande expressividade plástica. A arquitetura brasileira começou a ter reconhecimento internacional na exposição do Museum of Modern Art de Nova York e com a publicação do Brazil Buildsd em 1943. Foi uma época em que várias revistas estrangeiras publicaram artigos ou edições criticando a arquitetura brasileira. Revistas como L’architecture d’aujourd’hui, Architectura Fórum, Nuestra Arquitetura, RIBA journal, Domus, etc. Na década de 50, surgiu em São Paulo uma escola paralela à carioca. Seu maior mentor foi Vilanova Artigas. Artigas se aproxima da arquitetura carioca “corbusieriana”, mas insere nela a preocupação de criar modelos. Mais tarde essa arquitetura foi classificada como “brutalista” pelo “enxugamento” no uso dos materiais e pelos volumes compactos. Na década de 60 com o inicio do regime militar, os arquitetos encontravam grandes dificuldades na realização de seus projetos devido à censura que atingia todas as áreas da cultura nacional. Os paulistas foram criticados pelo maneirismo na implementação de seus princípios. O “endurecimento” do regime militar e a economia em baixa dificultaram a concretização das transformações sociais. Na década de 70 observa-se o esgotamento do repertório moderno e uma busca por novas soluções arquitetônicas. Na década de 70 reinicia o debate arquitetônico através dos Depoimentos organizados pelo IAB-RJ em 1976. A falta de critica dentro do campo da arquitetura devido ao fechamento das revistas pelo regime militar e a abertura de escolas de arquitetura formando uma massa de projetistas de uma arquitetura de “carregação”, e a dificuldade de romper com o rígido repertório moderno enfraqueceu os debates nacionais e propiciou a transformação da arquitetura nacional em uma reprodução de soluções pós-modernas que se encerram no campo formal. A arquitetura nacional saía da rigidez moderna e seguia em direção ao pluralismo. Os projetos fundiam características da arquitetura moderna com características da arquitetura brutalista, inserindo neles elementos regionais que situavam os edifícios no contexto local.

100 Essa inserção era feita através de analogias formais com o lugar ou com o uso de materiais que refletissem a cultura e a história local, mas sempre inovando tecnologicamente. Os edifícios fugiam do até então decorrente bloco único sem revestimento e os edifícios comerciais que seguiam o estilo internacional passaram a ter mais movimentação na fachada. Nos anos 60 e 70 houve uma ampliação da área de atuação do arquiteto. Além da elaboração do projeto arquitetônico, o profissional começou a atuar na cidade através da elaboração de planos diretores e de desenvolvimento integrado das cidades.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Na década de 1970 o Espírito Santo passava por uma de mudança de base econômica, a produção do café começou a ser substituída por outros cultivos que necessitavam de menos mão-de-obra e indústrias nacionais começaram a se instalar no estado. Isso acelerou o processo de urbanização que se concentrou na cidade de Vitória. A indústria da construção civil foi a que mais produziu no setor secundário. Nesse período o Espírito Santo recebeu vários arquitetos nacionais, formados principalmente no Rio de Janeiro e Nordeste, como Bebeto Vivácua, Carlos Faé, Ione e Fernando Marroquim e Paulo Casé, que trouxeram as mudanças que aconteciam no campo da arquitetura em todo o Brasil.

3. ARQUITETOS E OBRAS

ARQUITETO

OBRA

DATA

CIDADE

Afonso Junqueira Accorsi

Atlantica Ville

1979

Vitória

Bebeto Vivácqua

Prefeitura Municipal de vitória

1974

Vitória

Bebeto Vivácqua

Palácio do Café

1983

Vitória

Bebeto Vivácqua

Posto de abastecimento e garagem de barcos

1971

Vitória

Bebeto Vivácqua

Palas Center

1976

Vitória

Bebeto Vivácqua

Residência Graciano Espídula

1977

Guarapari

Bebeto Vivácqua

Centro da Praia Shopping

1977

Vitória

Bebeto Vivácqua

Rede Gazeta de Comunicações

1978

Vitória

101

Bebeto Vivácqua

Sesi Campo Grande

1978

Cariacica

Bebeto Vivácqua

Condomínio dos Pássaros

1980

Nova Guarapari

Bebeto Vivácqua

Rede Tribuna de Notícias (reforma)

1982

Vitória

Bebeto Vivácqua

Agência da Caixa Ecômica Federal

1984

Guarapari

Bebeto Vivácqua

Centro Cívico de Cariacica

1984

Cariacica

Bebeto Vivácqua

Parque Tancredão

1985

Vitória

Bebeto Vivácqua

Residência de Bebeto Viváqua

1984

Vitória

Bebeto Vivácqua

Junta Comercial

1985

Vitória

Bebeto Vivácqua

Cheim Transportes S.A.

1977

Serra

Bebeto Vivácqua

Praia Shopping

1982

Vitória

Carlos Faé

Reitoria da UFES

Vitória

Carlos Faé

Rodoviário de Vitória

Vitória

Dirceu Carneiro

DER

José Galbinsky

Biblioteca Central da UFES

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

FINDES

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Centro de educação e Treinamento Dr. João Batista

1982

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

AEST

1981

Manguinhos

Ione e Fernando Marroquim

Ed Mônica

1977

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Ed Mirante da Praia

1978

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Ed. Sir. Isaac Newton

1979

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Ed. Paola

1982

Vitória

Ione e Fernando Marroquim

Residência Marroquim.

1978

Vitória

Paulo Casé

Hotel Porto do Sol

Guarapari

Paulo Casé

Casa na Ilha do Boi

Vitória

1968

Vitória

102

Paulo Vargas

Hotel Praia

Nova Almeida

Zanine Filho

Ninho da Rochinha

Vitória

4. BEBETO VIVACQUA E IONE E FERNANDO MARROQUIM

4.1 BIOGRAFIA BEBETO VIVÁCQUA Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Carlos Alberto Vivácqua Campos iniciou seus estudos de arquitetura em Belo Horizonte e mais tarde se transferiu para o Rio de Janeiro, onde se graduou em 1968. Trabalhou associado ao arquiteto Irencyr Brandão no Rio de Janeiro até 1977. Em 1973 eles venceram o concurso público da elaboração e construção da Prefeitura Municipal de Vitória. Nesse período recebeu várias premiação do IAB. A primeira em 1970, juntamente com o arquiteto Glauco Gianccobe, obteve o primeiro lugar, na categoria Edifícios para Fins Diversos, pelo projeto de um posto de serviços no Rio de Janeiro. Concorreu novamente em 1974 com um projeto não executado, para Rodoviária de Vitória, obtendo Mensão Honrosa. Em Vitória realizou mais de duzentas obras caracterizadas pela plasticidade dos volumes e a flexibilidade dos espaços. Na década de 70 os projetos de destaque são a Prefeitura de Vitória, o Palas Center, o Centro da Praia Shopping, a Rede Gazeta de Comunicações e o SESI Campo Grande. Nos anos 80 destacam-se os projetos da Junta Comercial de Vitória, o Parque Tancredão e o Palácio do Café. Bebeto faleceu aos 43 anos, no auge de sua carreira.

4.2 BIOGRAFIA IONE E FERNANDO MARROQUIM

Ione e Fernando Marroquim iniciaram o seu curso de Arquitetura e Urbanismo na UFPE na década de 70, grande promotora do Movimento Moderno no Brasil. A escola contava com grandes nomes no corpo docente como Acácio Gil Borsoi e Delfim Amorim, importantes na formação da nova geração de arquitetos. Em 1971, Fernando transferiu-se para a UNB onde concluiu o curso e estagiou na firma de engenharia Projectum, onde conheceu João Figueiras Lima (Lelé) e trabalhou com projetos de Oscar Niemeyer. Ione permaneceu em Recife e estagiou com a arquiteta Janete Ferreira Costa, que trabalhava na arquitetura de interiores com uma linguagem moderna e a inserção de elementos da cultura local. Ione e Fernando se formam em 1973 e em 1975 foram trabalhar na equipe do projeto de um Centro Cívico em Argel, de Oscar Niemeyer, na Argélia. Em 1977 voltam para Recife, mas

103 devido à baixa perspectiva de emprego se mudaram para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, Fernando foi contratado pelo Grupo CIEC para trabalhar em Vitória. Quando vieram morar em Vitória, Fernando começou a trabalhar na construtora e Ione foi convidada a trabalhar no Plano Diretor do Campus Universitário da UFES no Escritório Técnico Administrativo (atual Prefeitura Universitária). Em 1981 Ione passou no concurso para professora da UFES. No mesmo ano eles venceram o concurso para o projeto do Clube de Lazer dos funcionários da CST. Em 1986 o escritório do casal começou a projetar para grandes construtoras, com projetos principalmente em Vila Velha. Em 1998, com a inauguração do Hotel Sete Colinas, propriedade do casal em Olinda, os arquitetos passam a ter uma vida itinerante.

5. HABITAÇÃO

5.1 ASPECTOS HISTÓRICOS: AGENTES POLÍTICOS, SOCIAIS E

ECONOMICOS.

No Brasil, desde o séc. XIX a questão habitacional esta em pauta com a construção das vilas operarias que abrigavam os operários da indústria. Nesse período se caracterizavam como projetos de particulares que buscavam diminuir as distâncias entre o seu funcionário e a indústria. As vilas operarias ofereciam diversos serviços além de moradia, como barbearias e mercadinhos, aglomerando diversas funções na mesma estrutura. A habitação coletiva no Espírito Santo não teve o mesmo tipo de desenvolvimento no Brasil. As vilas operárias características da República Velha, na ausência da industrialização e de um mercado imobiliário, inicialmente foi provida pelo Estado. São exemplos pequenos conjuntos de casas para funcionários públicos no Parque Moscoso, na Rua Gama Rosa no governo Jerônimo Monteiro (1908-12) e no governo Florentino Ávidos a Vila Operária de Jucutuquara. No Governo Vargas houve o primórdio da implantação da política de habitação social, mas no Espírito Santo, o interventor Punaro Bley (1930- 43) que reorganizou a máquina financeira e administrativa não realizou este tipo de empreendimento. O governador Bley construiu escolas, hospitais, presídios, o quartel de Maruípe, entre outras. Também construiu estradas, modernizou o porto para receber minério e fez obras de renovação urbana em praças e parques. Entre os quadros deste governo estavam engenheiros como Asdrúbal Soares que fez o projeto do Bairro de Maruípe e o cadastro territorial de Vitória.

104

FIGURA 1: Projeto de loteamento para localização da pobreza, anos 1930. Engenheiro Asdrúbal Soares. Fonte DAUUFES

A política habitacional do Governo Vargas recomendava a padronização dos projetos, “objetivando sempre economia em todos os pontos não essenciais ao dimensionamento da habitação”, indicando que “as instalações devem ser simples, padronizadas e duráveis”. Embora não tenha sido implantada no estado, os modelos dos conjuntos de habitação unifamiliar, com desenho urbano com modelos cidade-jardim ou subúrbio americano, ou de edifícios coletivos, seguindo modelos siedlungs alemãs, unités d’habitacion, modelos racionalistas do segundo pós-guerra, bairros-jardim, se difundiram aqui desde os anos 1950 e

105 mais tarde com a atuação da COHAB (1965-85) e INOCOOP (1964-98), e ainda nos anos 2000, em menor proporção. O primeiro conjunto, nos moldes de habitação social, que surgiu na Grande Vitória foi o atual bairro IBES. O núcleo residencial popular Alda Santos Neves, o IBES, foi concebido para famílias pobres, com 812 unidades planejadas. O IBES, instituto criado para planejar e administrar empreendimentos voltados para o desenvolvimento social, contou com a participação de vários órgãos financiadores no Governo de Jones dos Santos Neves (1951-54): IAPI, IAPC, IJM.

106 FIGURAS 2 e 3 : Implantação do projeto IBES de Renato Sá Construção. Firma Construções Populares Ltda.

FIGURAS 4: Foto área das unidades de habitação unifamiliares do IBES. Fonte IPES.

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FIGURAS 5: Vista das unidades de habitação unifamiliares do IBES. Fonte IPES.

A Fundação da Casa Popular, RJ, planejou, construiu e vendeu as unidades do núcleo urbano do IBES. O arquiteto Renato Sá utilizou um modelo prévio da fundação. O plano geral consiste numa figura hexagonal centrípeta, o espaço central era reservado para uma ampla praça com serviços e lazer, unido por uma via principal a Rodovia Carlos Lindemberg. O plano geral consiste numa figura hexagonal centrípeta, que remete ao diagrama da cidade jardim inglesa de Howard, 1898. Pode-se citar, ainda o conjunto Plácido Barcellos, projeto da arquiteta Maria do Carmo Schwab, que embora de iniciativa privada e de pequeno porte, acolhe modelos e procedimentos do urbanismo racionalista: radburns.

108

FIGURAS 6, 7 e 8: Conjunto Plácido

Barcellos,

arquiteta

Maria do Carmo Schwab, Vila Velha, 1961

O Espírito Santo até o fim dos anos 1960 predominantemente rural, só vindo a população urbana ultrapassar a rural em 1970 (dados do INOCOOP), chegando em 67% em 1980. Várias

109 foram os empreendimentos na tentativa de constituir um mercado imobiliário no estado ou simplesmente expandir a malha urbana. Até a década de 50 os construtores capixabas só trabalhavam por encomenda. A partir daí constrói-se edifícios para aluguel. Os quatro primeiros foram no centro de Vitória. Posteriormente foram erguidos vários edifícios para venda. Em 1964, durante a ditadura militar, foi criado o Banco Nacional de Habitação que inicialmente financiava habitações para os moradores retirados das favelas, com uma renda de um a três salários mínimos, mas a inadimplência mudou o foco do banco que subiu os critérios de renda passando a financiar as classes médias. No Espírito Santo, houve um pequeno aumento de área construída com a criação do BNH, mas o maior crescimento foi registrado entre 1975 e 1982 (INOCOOP). As habitações de interesse social eram feitas predominantemente na Serra e em Vila Velha. O valor da terra também interferia bastante na produção imobiliária. A cada ano as habitações se distanciavam mais dos centros e urbanizavam as periferias desprovidas de infra-estrutura urbana. Alguns desses loteamentos funcionavam paralelos ao trabalho do BNH e se apresentavam como uma alternativa para a população de baixa renda. Estudos da urbanista Sarah Maria do Santos (e outros) distinguem três períodos da construção dos condomínios na Grande Vitória (1993): Até 1974, em Vitória, os conjuntos se concentram em um raio de até 7km do centro. Principalmente em Vila Velha. São geralmente conjuntos de pequeno porte, que foram absorvidos pelo contexto urbano; De 1975 a 1982 os conjuntos ainda são feitos predominantemente em Vila Velha, mas se verticalizam e o alcance chega até a Serra. De 1983 a 1988 os conjuntos financiados são de grande extensão e localizados na Serra.

110

FIGURA 9: Mapa da ocupação dos conjuntos habitacionais.

Do ponto de vista tecnológico, o setor da construção civil, segundo Bolaffi, não acompanhou a modernização da indústria e continuou a produzir de forma tradicional com mão-de-obra pouco especializada e mal remunerada. Mas Ronaldo Frechiani aponta uma grande utilização de placas pré-moldadas de concreto na construção de casas pela PMV. A estrutura, porém, é gradativamente substituída pela alvenaria tradicional nas expansões feitas pelos moradores. A falta de domínio de outras técnicas restringe a produção aos materiais e técnicas construtivas convencionais.

111

FIGURA 10: Unidade de fabricação de blocos de cimento da COHAB, ES.

Outra atividade bastante freqüente era a auto-construção. O morador substituía o investimento financeiro pelo investimento em trabalho, construindo sua própria casa no seu tempo livre. Bolaffi critica a visão romântica da favela por achar q o morador está ocupando um papel que seria do governo e os custos posteriores com supervisores técnicos seria maior. Arquitetos como Borsoi e Lucio Costa, na época, apresentaram estudos dentro desse tema, como a construção de estruturas de taipa modulados, ou o uso do tijolo de solo-cimento, projetos que alimentaram o debate sobre a auto-construção no setor habitacional. No Espírito Santo, na década de 80, a alta da inflação causou a crise da indústria da construção civil. Uma alternativa encontrada pelas empresas foi reajustar as prestações das moradias na mesma medida que a inflação subia, índice porém que não correspondia ao reajuste dos salários, causando protestos que depois contribuíram para a extinção do BNH. A crise levou os empresários a investirem no mercado de alta renda e nos condomínios fechados. Buscou-se também novas áreas de expansão facilitadas com a construção da 3ª ponte. Depois de esgotar o mercado de alta renda, voltaram-se para a classe média. Para viabilizar os empreendimentos, as empresas passaram a cobrar juros em cima dos imóveis e a trabalhar com o escambo de mercadorias tanto com os compradores como com os fornecedores. Eram feitos grandes empreendimentos em terrenos baratos para diminuir os custos. Em todo Brasil, na década de 70 e 80 o tipo “condomínio fechado” se tornou moda para todas as camadas sociais. A idéia de se isolar do caos urbano em uma estrutura que oferece todos os serviços necessários para o cotidiano do morador atraiu várias pessoas. Mas, segundo Almada, os condomínios fechados se encaixam no tipo “progressista” ou “racionalista” que criam um usuário tipo que vai morar no local. Isso leva à dedução de “necessidades tipo” e ao

112 zoneamento da área, diferente da cidade figurativa que trabalha com a complexidade de usos e apropriações do espaço. Essa dificuldade de adaptabilidade é o que limita a eficiência do sistema de condomínios fechados. A década de 1970 foi um período de grande discussão sobre a temática da habitação. As revistas especializadas em Arquitetura e Urbanismo discutiam bastante sobre políticas habitacionais, planejamento urbano, técnicas construtivas, apresentavam conjuntos e realizavam vários debates sobre a produção nacional. Na década de 1980, o debate esmaeceu e as revistas analisavam mais as tipologias privadas do que a política e a questão social. Observa-se também a ampliação da abordagem da produção internacional. Hoje sofremos com ausência de discussões sobre habitação e com o mercado imobiliário que fortaleceu e conduz a inovação na área visando apenas o lucro e eficiência econômica.

FIGURA 11 e 12: Conjunto de casas para funcionários públicos no Parque Moscoso, construído no governo Jerônimo Monteiro (1908-12). Fonte DAUUFES

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FIGURA 13: Conjunto de casas (demarcado em vermelho) na Rua Gama Rosa construído no governo de Florentino Avidos 1924-28. Fonte DAUUFES

5.2 ANÁLISE TIPOLÓGICA: CASAS, CONJUNTOS DE EDIFÍCIOS E CONJUNTOS DE CASAS O período estudado é caracterizado pela expansão da malha urbana na Grande Vitória. A demanda habitacional, tanto das classes baixas como das altas, fez surgir um grande número de condomínios de casas e edifícios, tipologia que entrou na moda em todo o Brasil na época. A dificuldade de adaptação dos moradores aos projetos padronizados levava à realização de modificações nas unidades que por vezes descaracterizavam o projeto como um todo. Várias tipologias eram implantadas em todo país na busca soluções para viabilizar habitações com áreas mínimas que suprissem as necessidades dos moradores. Le Corbusier teve grande influência na produção habitacional brasileira. Seu modelo da Unité d’Habitation inspirou projetos no Rio de Janeiro, como os conjuntos Pedregulho e a Gávea de Affonso Eduardo Reidy, e o conjunto Residencial Japurá de Eduardo Kneese de Melo, em São Paulo. Segundo BONDUKI, esses “blocos laminares”, como são chamados os blocos com acesso vertical chegando a extensos corredores coletivos, não foram uma tipologia bastante difundida no período de produção habitacional dos Institutos de Pensão e Aposentadorias devido à grande perda de área para circulação, apesar de possibilitar uma grande variação de programas no seu interior. Bonduki classifica as tipologias dos edifícios verticais de acordo com a localização da caixa circulação e o número de unidades que ela acessa em cada piso. O tipo de bloco composto por uma caixa de escada para cada duas unidades foi o mais freqüente na produção de habitações populares e foi o tipo adotado nas siedlung alemãs dos anos 20. Um segundo tipo é o tipo H que tema a vantagem de atender o dobro de unidades do modelo anterior com a mesma caixa de escada. O autor observa também uma grande recorrência dos “blocos laminares” da Unité d’Habitation. Outro tipo seria o bloco de pátio central que pode ser associado à Hof vienenses, mas só é apresentado um exemplo em Belo Horizonte. O último tipo é o bloco em Y que otimiza ventilação e iluminação, mas necessita de uma grande área para ser implantado. Em

114 Vitória podemos citar como exemplo o Conjunto Centro Residencial da Praia, no bairro Santa Luiza em Vitória, do arquiteto Bebeto Vivácqua. No contexto da pesquisa, dois dos edifícios analisados nesse trabalho, O edifício Mirante da Praia e o Conjunto Atlântica Ville, são “blocos laminares”. O modelo corbuseriano possibilitou uma grande variação na planta das unidades, possibilitando aos usuários escolher a unidade de mais se adequa ao seu estilo de vida. Nos projetos de condomínio de casas observa-se um afastamento maior dos centros que os condomínios verticalizados. Isso se deve a necessidade maior de espaço que é limitado pelo valor do terreno que aumenta à medida que se aproxima dos centros. Eles foram um dos responsáveis pela expansão da malha urbana. Alguns conjuntos de casas seguiram a implantação das cidades jardins de Ebenezer Howard, Raimund Unwin e Barry Parker. A cidade de São Paulo foi pioneira, com a construção dos bairros Jardim Europa e Jardim América, na primeira década do século XX, pelo urbanista Barry Parker, mesmo projetista da cidade jardim de Letchwork (junto com Unwin). Na grande Vitória, podemos citar como exemplo o conjunto Serra III construído pela COHAB. Esses projetos mostram uma preocupação em propor espaços residenciais tranqüilos com um fluxo controlado de carros. Dentro desses conjuntos alguns terrenos foram reservados para equipamentos urbanos como escolas, postos de saúde e comércio, criando unidades de vizinhança e oferecendo aos moradores alguns serviços, diminuindo a necessidade de se deslocar para os centros. Um número estrito de modelo de casas foram implantadas. A unidade embrião e a de dois quartos foram as mais recorrentes. Aparecem nos conjuntos Feu Rosa e Marcílio de Noronha, construídos pela COHAB. As residências unifamiliares (privadas, sobretudo) continuam no Século XXI os laboratórios profissionais dos arquitetos, projetos sem restrições institucionais, concebidos para um usuário específico e não padronizado.

FIGURAS 14 e 15: Conjunto José de Anchieta, COHAB, Serra, 1117 famílias atendidas, casas unifamiliares, 1979

115

FIGURA 16: Conjunto Bairro das Flores, denominação anterior Feu Rosa, Serra, 3300 unidades na primeira fase e 400 na segunda fase, casas e embriões, COAHB, 1984

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FIGURA 17: Embrião do Bairro das Flores (Feu Rosa). Abaixo Escola e Centro Comunitário. COHAB.

FIGURAS 18: Conjunto André Carloni, 684 casas e 1504 apartamentos, Serra, 1984

FIGURAS 19: Conjunto André Carloni, 684 casas e 1504 apartamentos, Serra, 1984

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FIGURAS 20, 21 e 22: Tipologia da casa e tipologia H dos apartamentos (abaixo planta do edifício com apartamentos de dois quartos), COHAB.

118

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FIGURA 23: Variações da arranjo espacial dos cômodos do embrião e das casas COHAB.

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FIGURA 24: Disposição da escada nos blocos de André Carloni e de Atlântica Ville

5.3 ANÁLISES MORFOLÓGICAS: EDIFCIO MIRANTE DA PRAIA. O Edifício Mirante da Praia, situado na Rua Moacyr Avidos no bairro Praia do Canto em Vitória, foi projetado em 1978, pelos arquitetos Ione e Fernando Marroquim. Adaptou-se ao terreno

121 em “L”, estreito e com aclive aproveitando todo espaço para acomodar uma grande quantidade de apartamentos. O projeto é formado por vários módulos que se adéquam às necessidades do morador. São cinco módulos distribuídos nos 11 pavimentos tipo além dos 4 pavimentos de garagem e o pavimento térreo. O volume do edifício é a soma de dois volumes na vertical: os pavimentos tipo e os pavimentos garagem. O volume dos pavimentos garagem é, na verdade, uma justaposição de planos que formam um volume vazado e quebrado pela topografia. Os pavimentos tipo apresentam-se como um bloco curvado erguido pelos planos da garagem. À distancia só é possível ver o bloco curvo de fachada modular. Os arquitetos usaram colunas de concreto em “U” no exterior do edifício e o bloco de elevadores para conectar o bloco com a garagem.

Figura 25: Localização Figura 26: Módulo de apartamentos FONTE: Google earth FONTE:

A fachada do Edifício Mirante da Praia é formadabr.geocities.com/mirantedapraia pela repetição dos módulos de varanda dando ritmo á fachada. Algumas varandas possuem medidas diferentes, na inflexão da curva, mas a similaridade entre elas faz com que elas sejam percebidas como iguais, e frontalmente o observador não percebe a curvatura. As paredes e os guarda-corpos formam uma grelha sobreposta na fachada branca com as aberturas de vidro.

Figura 27: Mirante da Praia, 1980 FONTE: br.geocities.com/mirantedapraia

Figura 28: Mirante da Praia, 2008.

122 Da Rua Moacyr Avidos é possível ver a fachada voltada para praia devido à curvatura que o edifício possui. A rampa para carro localiza-se na lateral, na frente da fachada com varandas e possibilita ao transeunte ver os módulos de apartamentos. Da orla o edifício dá a falsa impressão de um bloco uniforme modular pela semelhança entre as varandas que passam uma idéia de continuidade.

FIGURA 29: Rampa de acesso à garagem.

O acesso de veículos é pela lateral do edifício onde estão localizadas as rampas. O acesso de pedestres é pelo meio do terreno. O pavimento garagem se projeta além da entrada, formando uma marquise convidativa no térreo. O hall de entrada que acessa os elevadores é em “L”. O pé-direito diminui à medida que se entra no edifício direcionando o visitante e tornando-se um espaço mais íntimo. Os moradores evidenciaram o caminho em “L” em reformas posteriores, modificando a portaria de lugar e construindo um jardim interno no hall de entrada. Por ser um espaço fechado só com esquadrias de vidro na frente, a entrada carece de iluminação e ventilação. No projeto original os arquitetos fizeram uma abertura para os fundos do terreno, criando uma ventilação cruzada e iluminando o ambiente.

FIGURA 30: Hall de entrada

123 O morador entra pela porta central e acessa os apartamentos pela circulação vertical localizada à direita do edifício. Nos pavimentos tipos, a circulação é feita por um extenso corredor fechado por cobogós que pode ser acessado de dois pontos: dos elevadores que saem do térreo e acessam todos os pavimentos; e dos elevadores que saem dos pavimentos garagem e acessam os pavimentos tipo. A via fechada e relativamente estreita encoraja o movimento para frente e ao longo do corredor. Os apartamentos são organizados de forma linear, estando todos voltados para a mesma fachada. No térreo observamos uma divisão da planta por usos: Á esquerda do edifício estão localizados as dependências de zelador e sala de administração do condomínio, sub-estação e rampa de acesso aos pavimentos-garagem; À direita fica o jardim e o acesso aos apartamentos. O Edifício Mirante da Praia se destaca na paisagem pela sua extensa fachada voltada para o mar, diferente dos outros prédios que se voltam para a rua, e destaca-se também pela inovação na planta-baixa abrindo um leque de possibilidades para a escolha do apartamento, com a opção de diversos módulos na planta.

FIGURA 31: Modelo digital Mirante da Praia

FIGURA 32: Modelo digital Mirante da Praia

5. RFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMADA, Mauro. Condomínios fechados saúdam o povo e exigem passagem. Revista Projeto 51. (p. 40) BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: Rumos da arquitetura brasileira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003. BETTARELLO, Fernando Augusto Barros. Arquitetura Bebeto Vivácqua. Vitória, ES. Ed. Do autor. 2001. BOINA, Maria das Graças Dalvi. Atlântica Ville. “Mergulhe nessa nova vida.”.Um estudo da concepção do desenho, do lugar e dos modos de vida que abriga. Projeto de Graduação. UFES. 1991.

124 BOLAFFI, Gabriel. Produção de habitações, construção civil e mercado de trabalho. Revista Projeto 51. BONDUKI, Nabil Georges. Origem da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESB, 1998. BONDUKI, Nabil, KOURY, Ana Paula, MANOEL, Sálua Kairus. Análise Tipológica da Produção de Habitação Econômica no Brasil (1930-1964) disponível em: http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/115R.pdf. BRUAND, Yves. A Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo. Perspectiva. 3 a edição. 1999. CABRAL, Cláudia Piantá Costa. De volta ao futuro: revendo as megaestruturas. Arquitextos 082. março de 2007. disponível em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp409.asp FICHER, Silvia e ACAYABA, Marlene Milan. Arquitetura Moderna Brasileira. São Paulo. Editora Projeto, 1982. FRECHIANI, Ronaldo Volmer. A casa - Aproximações em torno de sua complexidade. Progeto de Graduação. UFES. 1996/01. JUNIOR, Carlos Teixeira Campos. A construção da cidade: Formas de produção imobiliário em Vitória. Flor & Cultura editores. Ilha de Vitória, 2002. JUNIOR, Carlos Teixeira Campos, NEVES, Luiz Guilherme Santos. A casa edificada. INOCOOP-ES. Rona Editora-BH. Vitória, 1998. QUEIRÓS, Mauricio Vinhas de. Arquitetura e Desenvolvimento. In. XAVIER, Alberto. Depoimento de uma geração. São Paulo: ABEA/FVA/PINI, 1987. p. 155-177 SANTOS, Sarah Maria dos; GONÇALVES, Wilson Rodrigues & RODRIGUES, Adenis Cruz. Os conjuntos habitacionais do BNH da aglomeração de Vitória: Sua inserção no espaço urbano da capital (reconhecimento da situação atual dos conjuntos). Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Seminário de PRPPG-UFES, 1993. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999. SOUZA, Bethania Gonçalves. Dialogando com a arquitetura de Ione e Fernando marroquim. Projeto de Graduação, 2000. ZEIN, Ruth Verd. Arquitetura Brasileira Atual. Revista Projeto 53 (p. 86 – 126)

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