ARQUITETURA E PATRIMÔNIO NO ENSINO DE ARTE: CIDADE, UM LIVRO ABERTO

June 19, 2017 | Autor: Samantha Ávila | Categoria: Historia, Patrimonio Cultural, Fotografia, Ensino De Artes
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Samantha Ávila Pinto

ARQUITETURA E PATRIMÔNIO NO ENSINO DE ARTE: CIDADE, UM LIVRO ABERTO

FURG Instituto de Letras e Artes 2013

Samantha Ávila Pinto

ARQUITETURA E PATRIMÔNIO NO ENSINO DE ARTE: CIDADE, UM LIVRO ABERTO

Trabalho de conclusão curso apresentado ao Curso de graduação em Artes Visuais Licenciatura e Bacharelado, da Universidade Federal do Rio Grande, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciando. Orientadora: Profa. Dra. Vivian da Silva Paulitsch

FURG Instituto de Letras e Artes 2013

Pinto, Samantha Ávila Arquitetura e Patrimônio no Ensino da Arte: cidade um livro aberto/ Samantha Ávila Pinto. - Rio Grande, RS: [s.n.], 2013

Orientadora: Vivian da Silva Paulitsch Monografia – Universidade Federal do Rio Grande. 1. Arte educação. 2. Arquitetura. 3. Patrimônio Cultural. I. Paulitsch, Vivian da Silva. II. Universidade Federal do Rio Grande. III. Arquitetura e Patrimônio no Ensino da Arte: cidade um livro aberto

Esta monografia foi julgada suficiente como um dos requisitos para obtenção da Graduação em Artes Visuais e aprovada em sua forma final pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande.

Rio Grande, Março de 2013.

Dra. Vivian da Silva Paulitsch Coordenadora do Curso de Graduação de Artes Visuais Licenciatura e Bacharelado _______________________________________________________________

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Vivian da Silva Paulitsch________________________________ Orientadora e Presidente da Banca Profa. Dra. Elizabeth Schmidt Brandão_____________________________ MSc. Rita Patta Rache____________________________________________

Agradecimentos

Meu Deus, meu Refúgio e Fortaleza. Minha família e amigos pela compreensão e amor. Arte-educadoras, amigas e colegas, Thays Oliveira e Juliana Silveira, obrigada pela paciência e parceria, vocês são para sempre. Grupo PIBID Artes, este trabalho foi feito com vocês, obrigada! Todos os mestres do Curso de Artes Visuais que de uma forma ou de outra, após estes quatro anos de graduação, colaboraram com esta conquista. Queridas professora Rita Rache e Elizabeth Schmidt, inspiração desde o primeiro contato. Sempre as levarei como exemplo de amor inabalável pela educação. Vivian Paulitsch, orientadora, mestre e conselheira. Sem palavras para externar meu agradecimento por todo o aprendizado que me proporcionas, espero agradecer a cada aula em que eu estiver à frente e a cada aluno alcançado. Todos que em algum momento destes quatros anos sorriram e choraram comigo, me ouviram e me aconselharam. Muito Obrigada.

"Como grãos de areia que compõe imensas dunas, como pequenas gotas que formam as chuvas, gestos de compreensão, ternura e respeito são partes de um amor maior. Muito obrigada."

Dedicatória

Dedico esta monografia a todos os professores e professoras que estão em luta diária pela valorização da educação em nosso país, em especial os arteeducadores. Aos que correm e se cansam, mas não desistem!

Epígrafe

A cidade é feita de lugares e pensamentos. De lugares e emoções. É feita de gente. Porque, vendo bem, a cidade, é produto das atitudes de quem a usufrui. Gente concreta, nas situações cotidianas que se constroem, o mistério de viver. HELDER, Pacheco.

RESUMO Esta monografia apresenta a experiência prática e pessoal deste autor no ensino de Arte, durante o ano de 2011 e 2012, com base na atuação enquanto bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, em duas escolas: no CAIC e no Instituto Juvenal Muller. Os objetivos deste trabalho consistem em delinear e refletir acerca da pesquisa, das ações realizadas e dos processos da constituição como educadora durante atuação no programa, através da metodologia de pesquisa-ação. As ações foram desenvolvidas a partir do subprojeto intitulado O Ensino das Artes Visuais na Sociedade da Informação e do Conhecimento e tem por eixo central a arquitetura da cidade do Rio Grande, com foco direcionado ao ensino de Artes, à pesquisa investigativa, à história da Arte, à arquitetura, à identidade cultural, aos lugares de memória e ao patrimônio. O trabalho está estruturado em três capítulos: o primeiro é dedicado a conhecer o, contexto histórico e arquitetônico e a iconologia da Igreja do Carmo, fruto da extensa pesquisa realizada em 2011 como tarefa do subprojeto. O segundo aborda a experiência no CAIC, em uma das três oficinas, na qual a Igreja do Carmo foi utilizada diretamente nas ações planejadas nessa escola. No terceiro capítulo, delineia-se a experiência em ensino de Arte no Instituto Juvenal Muller, de modo a tecer reflexões com o aporte do referencial teórico e a prática artística na experiência em foco, no ensino médio. Concluindo com as impressões acerca deste trabalho, suas significâncias na formação docente e suas implicações na valorização e (re) significação do ensino de Artes.

PALAVRAS-CHAVE: Arte-educação. Arquitetura. Patrimônio.

Imagem 1: Igreja Nossa Senhora do Carmo.......................................................................................... 18 Imagem 2: Antiga Capela do Carmo. .................................................................................................... 21 Imagem 3: Cemitério do Carmo. ........................................................................................................... 22 Imagem 4: Vista Aérea Igreja do Carmo, construção em formato de cruz latina. ................................ 29 Imagem 5: Igreja do Carmo Uruguaiana. .............................................................................................. 32 Imagem 6: Catedral de Amiens.Fonte: http://igrejas-catedrais.blogspot.com; ..................................... 32 Imagem 7: Interior da Catedral Saint-Cntl. Fonte: L’Arte Gothic em France l’Architecture et la decoration e Interior Igreja do Carmo. Fonte: Arquivo pessoal. .......................................................... 33 Imagem 8: Rosácea, exterior da igreja. ................................................................................................. 34 Imagem 9: Imagens do Cristo carregando a cruz e Maria; Imagem do Cristo morto. .......................... 35 Imagem 10: Via crucis. ......................................................................................................................... 36 Imagem 11: Nossa Senhora do Rosário e São Domingos; Nossa Senhora da Conceição..................... 37 Imagem 12: Exemplo de planta esquemática de Catedral.A área acinzentada representa o Cruzeiro. . 37 Imagem 13: Cruzeiro............................................................................................................................. 38 Imagem 14: Altar-mor........................................................................................................................... 38 Imagem 15: Pia batismal. ...................................................................................................................... 40 Imagem 16: Construção das torres, 1938. ............................................................................................. 41 Imagem 17: Apresentação pesquisa histórica. ...................................................................................... 46 Imagem 18: Produção de trabalhos em técnica de pintura. ................................................................... 47 Imagem 19: Produção de trabalhos em técnica de pintura. ................................................................... 48 Imagem 20: Diário de bordo. ................................................................................................................ 48 Imagem 21: Atividade de escrita nos diários de bordo. ........................................................................ 49 Imagem 22: Autorretrato com a Orelha Cortada, Vincent van Gogh, 1889.......................................... 51 Imagem 23: Cenas do filme O corcunda de Notre Dame, com imagens da Catedral. .......................... 52 Imagem 24: Gárgulas. ........................................................................................................................... 52 Imagem 25: Power-Point com as imagens utilizadas na aula................................................................ 56 Imagem 26: Prática no pátio da escola. ................................................................................................. 57 Imagem 27: Prática no laboratório de informática. ............................................................................... 57 Imagem 28: Ben Heine, Pencil Vs Camera – 32. .................................................................................. 58 Imagem 29: Em aula com os alunos durante a atividade. ..................................................................... 59 Imagem 30: Trabalho dos discentes. ..................................................................................................... 59 Imagem 31: Trabalho dos discentes. ..................................................................................................... 60 Imagem 32: Trajeto. .............................................................................................................................. 61 Imagem 33: Trajeto 2ª aula no centro histórico. ................................................................................... 62 Imagem 34: Aula em frente ao Paço Municipal. ................................................................................... 63 Imagem 35: Aluna produzindo postal da Igreja do Carmo. .................................................................. 64 Imagem 36: Postal Igreja do Carmo e Postal Igreja Nossa Senhora da Conceição. ............................. 64 Imagem 37: Postais da Banca do Peixe, estrutura anexa ao Mercado Público. .................................... 64 Imagem 38: Alunos na produção do molde de stencil sob orientação do bolsista Bruno. .................... 66 Imagem 39: Produção do graffiti em stencil. ........................................................................................ 67 Imagem 40: Produção do graffiti em stencil. ........................................................................................ 67 Imagem 41: Graffiti finalizado. ............................................................................................................. 68 Imagem 42: Graffiti finalizado. ............................................................................................................. 68

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1. Lista dos párocos que participaram da comunidade da Igreja do Carmo.

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Anexo 2. Plano de trabalho, aulas do Instituto Juvenal Miller.

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Anexo 3. História de Sala de aula.

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Anexo 4. Relatório das reuniões com a coordenadora e supervisora.

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Anexo 5: Relatos do portfólio do CAIC/2011 e Juvenal Miller/2012.

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Anexo 6: Frente e verso folder da igreja do Carmo, material didático grupo PIBID ARTES. 91 Anexo 7: Páginas da Plataforma Moodle, demonstrando a organização do subprojeto, onde se faz o armazenamento do material produzido dentro do Programa.

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Sumário RESUMO .............................................................................................................................................. VIII LISTA DE ANEXOS .................................................................................................................................... X INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 12 1. LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO – PESQUISA INDIVIDUAL ENQUANTO BOLSISTA ................................................................................................ 18 1.1 HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA: GÓTICO COMO UM ESTILO .......................... 18 1.2. RIO GRANDE – EXPANSÃO URBANA E HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA DO CARMO ......................................................................................................................................... 20 2 ESCOLA CAIC – TERCEIRA OFICINA ........................................................................................... 45 2.1 DESENVOLVIMENTO DA OFICINA – O QUE HÁ NO CENTRO HISTÓRICO? .................... 45 2.2 OBSERVAÇÕES REFERENTES À APLICAÇÃO DA OFICINA ............................................ 50 3 INSTITUTO JUVENAL MILLER ....................................................................................................... 54 3.1 DESENVOLVIMENTO DA OFICINA ........................................................................................ 54 3.2 OBSERVAÇÕES REFERENTES À APLICAÇÃO DA OFICINA ............................................ 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 73 ANEXOS ................................................................................................................................................. 78 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 95

INTRODUÇÃO

O presente trabalho baseia-se na experiência prática e pessoal deste autor no ensino de Arte, durante o ano de 2011, quando ingressei como bolsista no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, em duas escolas: no CAIC e no Instituto Juvenal Muller. Constituíram objetivos do trabalho em questão delinear e refletir acerca da pesquisa, das ações realizadas e da minha formação durante o período em que fui bolsista do subprojeto. O referido subprojeto é intitulado O Ensino das Artes Visuais na sociedade da informação e do conhecimento1 e encontra-se estruturado em torno de um eixo central, qual seja, a arquitetura da cidade do Rio Grande. Portanto, as atividades desenvolvidas são relacionadas ao tema, com foco direcionado ao ensino de Artes, à pesquisa investigativa, à história da Arte, à arquitetura, à identidade cultural, aos lugares de memória e ao patrimônio. Durante os anos de 2011 e 2012, passamos a registrar as situações de ensino e aprendizagem vivenciadas nas escolas onde o subprojeto Pibid/Artes atuou, realizando atividades do projeto institucional e do subprojeto: reuniões semanais com a coordenação, reuniões semanais de planejamento de aulas, registro fotográfico e videográfico das oficinas e da produção dos alunos, escrita em portfólio coletivo, produção de uma história de sala de aula semestral, elaboração de material didático e de relatórios semanais, desenvolvimento de tarefas na plataforma moodle, apresentação de comunicações orais em eventos nacionais e internacionais, produção de relatos de experiências para o evento Investigação na Escola e planejamento de Oficinas para o Encontro Anual do Projeto Institucional do Pibid/FURG. A monografia está dividida em três capítulos: o primeiro é dedicado a conhecer o histórico, o contexto, os ornamentos arquitetônicos e a iconologia da Igreja do Carmo, fruto da extensa pesquisa que realizei em 2011 e que teve continuidade até 2012. O segundo capítulo aborda a minha experiência no CAIC, concentrando a minha reflexão na terceira oficina2, na qual o tema da Igreja do Carmo foi utilizado primeiramente nas ações planejadas nessa escola.

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O subprojeto Pibid/Artes tem como coordenadora a Profª. Dra. Vivian Paulitsch desde o ano de sua implementação, em 2010. O subprojeto está vinculado ao Pibid Institucional 2009/2012 da FURG, coordenado pela Profª. Drª. Maria do Carmo Galiazzi. 2 As anteriores já foram abordadas em um Trabalho de Conclusão de Curso de autoria de Andressa Azevedo Vargas, no ano de 2009, cujo título é Redescobrindo o espaço escolar.

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No terceiro capítulo, desenvolvo a experiência em ensino de Arte no ensino médio no Instituto Juvenal Muller, de modo a tecer reflexões com o aporte do referencial teórico e a prática artística na experiência em foco, no ensino médio. Destaco que o subprojeto com o tema da “Arquitetura da cidade do Rio Grande” sempre buscou, na medida do possível, uma articulação entre teoria e prática e ação/reflexão. Em vista de um projeto realizado no cotidiano e no espaço de duas escolas, optamos por utilizar a metodologia pesquisa-ação. A metodologia escolhida tem sido utilizada em algumas áreas de aplicação, entre as quais a formação permanente de professores e se caracteriza como uma espiral de mudança3. Segundo Sandín Esteban, A pesquisa-ação apresenta-se como metodologia de pesquisa qualitativa com métodos orientados à tomada de decisões, envolvendo uma reflexão sistemática na ação, além de abarcar a colaboração das pessoas. (2010, p.131) Parece-me importante ressaltar que a experiência de pesquisa na qual me detive durante o primeiro ano como bolsista PIBID e que, assim como as pesquisas4 de meus colegas relativas a outras edificações da cidade, serviram de base para nossa atuação docente nas escolas em que o PIBID Artes, nosso subprojeto, estava inserido. O uso da pesquisa individual5 solicitada pela coordenadora do projeto constituía o elemento primário para a preparação dos próximos passos do planejamento: ação, observação (escrita nos portfólios) e reflexão. Em 20116 estávamos inseridos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Cidade do Rio Grande, o CAIC7, e elaboramos uma proposta em que fosse possível uma abordagem do patrimônio cultural coletivo, levando em consideração a realidade da escola e dos educandos que a integram. Tal proposta, posta em prática ao longo de todo o ano letivo8, caracterizou-se por uma abordagem de ensino, implicando nas representações do passado, na expansão urbana da cidade, na arquitetura escolar e na memória coletiva, permitindo a construção de vínculos bem como a noção de pertencimento por meio do viés do patrimônio cultural e da arquitetura. 3

SANDÍN ESTEBAN, M.P. Pesquisa qualitativa em educação: fundamentos e tradições. Porto Alegre: AMGH, 2010. p. 131,177,178 e 179. 4 A pesquisa individual em que cada bolsista é encarregado faz parte da metodologia de trabalho utilizada no subprojeto do Pibid-Artes. 5 A pesquisa individual estava dialogando com o Triângulo de Lewin. Elementos essenciais da pesquisa-ação: informação, pesquisa e ação. 6 Alunos que também compunham o grupo PIBID Artes no CAIC em 2011: Andressa Vargas, Janaína Faria, Gegliane Corrêa, Érika Oliveira e Maria Cristina Pastore. 7 Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente. FURG. Av. Itália, Km 8 – Campus Carreiros – Rio Grande. 8 Classes trabalhadas: turmas regulares do 6º ao 9º ano, com média de 28 alunos por turma.

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Ao todo, foram planejadas três oficinas, nas quais procuramos preparar os educandos para refletir acerca do patrimônio Cultural de que fazemos parte, focando na cidade do Rio Grande. Na primeira oficina, trabalhamos com o bairro e as casas de cada discente; já na segunda, apresentamos o projeto nacional da construção da escola, o arquiteto e concepções da sua arquitetura funcional, (re) significando-a. O trabalho desenvolvido no CAIC começou a partir do fragmento casa/bairro para, logo após, contemplar a escola e, por último, a cidade e seus patrimônios históricos. A segunda oficina era uma aula teórica direcionada às edificações históricas do centro da cidade, voltando a atenção diretamente para o patrimônio arquitetônico da coletividade. A terceira e última oficina, que consistiu na visitação ao centro histórico, onde as edificações apresentam-se tanto ao conhecimento visual dos prédios quanto à aplicação prática do conteúdo. No entanto, em algumas das oficinas aplicadas nas escolas, fez-se necessário, em razão de uma aproximação ao tema do subprojeto, o uso da metodologia de educação patrimonial9, tomando por base os preceitos de Horta, quando afirma que: A Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. (HORTA, 1999, p. 06)

As duas primeiras oficinas foram essenciais para o reconhecimento e a valorização dos bens culturais da coletividade, uma vez que estes têm por base questões como identidade e pertencimento, inerentes ao indivíduo e imprescindíveis para a valorização do patrimônio cultural. Apesar de ter acompanhado as três oficinas, a presente monografia abordará apenas a metodologia e aplicação da terceira, intitulada Aprendendo sobre o patrimônio rio-grandino10 e o ano de 2012, período em que participei e acompanhei as aulas no Instituto Juvenal Miller, nas quais irei me deter mais.

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A Educação Patrimonial enquanto disciplina faz parte do nosso QSL como disciplina optativa e foi cursada por mim em função de me identificar com as questões acerca do patrimônio e da memória. 10 As outras oficinas já foram abordadas exaustivamente na monografia da colega de curso Andressa Vargas, no ano de 2011.

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No ano letivo de 2012, nosso grupo PIBID Artes estava inserido no Instituto Juvenal Miller, localizado no centro histórico da cidade. Éramos cinco bolsistas 11, divididos em um trio e uma dupla, atuando em duas turmas cada grupo. Via-me agora em uma nova realidade, levando, ainda por meio do subprojeto, a temática da arquitetura e do patrimônio rio-grandino para adolescentes do primeiro ano do ensino médio, através da disciplina de Artes. Valendonos ainda das pesquisas realizadas acerca das edificações da cidade, o primeiro capítulo, dedicado à pesquisa histórica que realizei envolvendo a Igreja Nossa Senhora do Carmo, aborda sua história e arquitetura, tal qual foi apresentado aos educandos das duas instituições nas quais estivemos inseridos. A relevância de apresentá-la se dá pelo fato de que a minha atuação docente no PIBID foi construída simbolicamente nos alicerces dessa edificação, pois ela me acompanhou em todas as aulas, referenciando-a, seja nos diálogos relativos às teorias apresentadas aos educandos, seja nas práticas artísticas elaboradas por nós, bolsistas PIBID, e executadas pelos discentes. Sendo assim, o estudo acerca da Igreja do Carmo faz parte da minha constituição como professora-pesquisadora de Artes e esta monografia, ao final, caracteriza-se como um apontador da importância das práticas elaboradas no PIBID no ensino de Artes e que colaboraram para um processo de ensino de arte transformador e reflexivo, principalmente no que diz respeito a minha formação em Artes Visuais na FURG. Ao longo desta monografia serão apresentados os processos propostos pelo subprojeto Pibid Artes, a exemplo da pesquisa individual já mencionada anteriormente, bem como sua contextualização. Também serão observadas as práticas elaboradas pelo grupo, o modo como elas se deram e de que forma contribuíram para minha formação docente inicial. Enquanto grupo PIBID Artes, cada bolsista estava em um processo de construção intelectual. Em decorrência disso, sou professora-aluna e pesquisadora, pois o PIBID funcionou como um lócus de aprendizagem além do espaço oficial que temos na graduação. Cumprimos carga-horária em sala de aula, mas também fazemos mais duas reuniões semanais: uma com a professora-supervisora titular da disciplina de Artes da escola onde estávamos inseridos, e outra com a coordenadora do subprojeto. Em nossas reuniões com a coordenadora do subprojeto, temos um espaço semelhante ao da formação continuada. A partir delas, obtemos embasamento teórico com vistas a prover subsídios para a atuação em sala de aula. Todas as teorias com as quais entramos em contato, 11

Thays Lemos de Oliveira, Caroline Dias, Bruno Souza e Letícia Seba e a autora deste trabalho, Samantha Ávila Pinto.

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principalmente no âmbito da história da arte e da arquitetura, patrimonial e do ensino de Artes, se deram nessas reuniões com a mediação da coordenadora. Além de estudar os textos, realizei apresentações para o grupo, sob a forma de seminários, compartilhando a síntese das ideias absorvidas, de modo que, enquanto em um dia estava à frente de uma turma, em outro, me encontrava também em processo de formação, assim como meus alunos. Essas tarefas, desempenhadas de acordo com a demanda das reuniões, serviram para articular as teorias estudadas com a nossa prática, (re) significando nossa ação docente e proporcionando mais segurança. Com respeito à postura do educador, as referidas reuniões também foram de grande valia, uma vez que inúmeras vezes dialogamos acerca da ética profissional, trocando experiências com a coordenadora do subprojeto. A reunião com a coordenadora configurava-se ainda em um momento de junção do grupo PIBID Artes em sua totalidade – já que o grupo divide-se em duas escolas –, o que traz grande contribuição, pois enquanto um grupo atua no ensino fundamental, o outro atua no ensino médio. São duas realidades muito diferentes e o interessante é justamente o fato de aplicarmos o mesmo subprojeto em ambas. Para tanto, cada grupo desenvolve sua proposta através dos planos de trabalho, cuja metodologia é adequada para a instituição e para os alunos que nela convivem. Acredito que o processo educativo se torna possível a partir de uma relação dialógica entre professor, aluno e suas práticas. E, conforme ensina Freire, “não há docência sem discência” (2003, p. 21-46). Trata-se de uma relação interdependente, na qual um contribui para o desenvolvimento do outro. Tal qual a dinâmica que encaminha as reuniões do grupo, de acordo com a instituição em que o mesmo está inserido, nos reunimos semanalmente para discutirmos e elaborarmos nosso plano de trabalho. Cada integrante tem suas próprias convicções e ideias, as quais são levadas para o grupo e, assim, discutidas para o melhor andamento da ação a que nos propomos e com que estamos comprometidos. Paulo Freire afirma que “viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como objetivo da reflexão crítica deveria fazer parte da ação docente” (FREIRE, 1996, p. 153). Percebo que estou no caminho certo, pois se o ensino e a educação tiverem suas raízes fixadas nas trocas e de forma dialógica, alunos e professores sairão ganhando.

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Por esse motivo, reconheço a importância dos encontros para a elaboração das propostas de forma coletiva. Talvez se cada bolsista tivesse que elaborar suas propostas de forma individual e atuar em sala de aula da mesma maneira, o retorno para a nossa formação não tivesse sido o mesmo com o qual nos deparamos hoje e a qualidade do ensino e aprendizagem, distinta, da mesma forma. Senti como se trabalhássemos em um rizoma que se expande a cada ação executada, de forma a expandir também os resultados positivos. É o que Gallo caracteriza como educação menor que, segundo ele, é:

rizomática, segmentada, fragmentária, e não está preocupada como nenhuma falsa totalidade. Não interessa à educação menor criar modelos, propor caminhos, impor soluções. Não se trata de buscar uma unidade perdida. Não se trata de buscar a integração dos saberes; importa fazer rizoma. Viabilizar conexões e conexões; conexões sempre novas. Fazer rizomas com os alunos, viabilizar rizomas com projetos de outros professores, manter os projetos abertos... (GALLO, 2003, p. 82).

É a isso que nos propomos e o que venho buscando já no início da carreira: uma educação que não separe os conhecimentos, mas que os amplie; que não trabalhe em linha do tempo fechada, mas que, de forma interdisciplinar, crie rizomas, dispondo de inúmeras possibilidades e teias de conhecimento, já que assim é a vida: um cruzamento constante de conhecimento, ideias e fatos, e a educação faz parte da vida e, portanto, não deveria ser abordada de forma diferente. Durante esses quase dois anos de atuação no PIBID, tornei-me uma defensora do programa e, se for possível, gostaria de compartilhar com todos os licenciandos a oportunidade que temos no PIBID, qual seja, a de fazer parte desse projeto que a mim proporciona – pelo menos até abril de 2013, enquanto estou vinculada à universidade – um fazer docente investigativo e reflexivo. A cada aula posta em prática, somos convidados a refletir acerca de seu alcance, e me encontro em um estágio no qual essa reflexão flui naturalmente. Com toda certeza, esse alcance será um dos pontos que caminharão comigo na docência em decorrência da participação no PIBID. .

1. LEVANTAMENTO HISTÓRICO DA IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO – PESQUISA INDIVIDUAL ENQUANTO BOLSISTA 1.1 HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA: GÓTICO COMO UM ESTILO

Sabemos que muitas cidades ao longo dos anos sofrem uma descaracterização com a chegada do “progresso”, sob a alegação de que certas construções arquitetônicas destoam da nova estética da sociedade. Igrejas católicas, como é o caso da Igreja Nossa Senhora do Carmo, bem cultural da cidade do Rio Grande e assim classificada por integrar um patrimônio cultural representado pelas edificações, tem-se perpetuado.

Imagem 1: Igreja Nossa Senhora do Carmo. Fonte: Arquivo PIBID Artes

Frente a isso podemos observar que, em um espaço de tempo de mais de dois mil anos, não aconteceram modificações significativas nos rituais da igreja católica, o que certamente colaborou no que se refere à arquitetura, para a permanência do processo de repetição. Nesse processo autofágico implacável por que passam nossas cidades, é observado que somente os templos católicos atravessam as décadas sem sofrerem adaptações, perseverando-se, assim, sua arquitetura original. Hoje situada na Rua General Bacellar nº 224, no centro da cidade do Rio Grande – a princípio chamada Vila de São Pedro –, a Igreja do Carmo é um exemplo magnífico das

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construções católicas. Seu templo majestoso possui as dimensões de 38 metros de comprimento e 17 metros de largura, enquanto sua altura interna é de 16 metros e a altura desde a base até a ponta das agulhas é de 56 metros. Popularmente considerada uma construção de estilo gótico12 ou neogótico, opto pela definição do estilo historicista, no que se refere ao âmbito arquitetônico. Alguns elementos arquitetônicos e decorativos projetados na igreja do Carmo verdadeiramente dialogam com o estilo gótico. No entanto, não podemos caracterizá-la como uma construção unicamente gótica, mas ainda se pode afirmar que, para uma construção contemporânea ser puramente gótica, ela deveria ter sido construída no espaço-tempo onde o gótico predominou – meados do século XII e XVI, o que certamente não é o caso da Igreja do Carmo em Rio Grande. Outros pesquisadores defendem ainda que, por se tratar de uma construção com elementos arquitetônicos provindos de outros estilos, a Igreja do Carmo pode ser caracterizada como uma construção eclética. O ecletismo é também um movimento arquitetônico e surgiu na Europa no final do século XVIII, predominando até o início do século XX. Caracteriza-se por diferentes manifestações arquitetônicas provindas de épocas e regiões igualmente distintas, concentrando-se no emprego de elementos decorativos, já que eles podiam ser escolhidos em catálogos, originados do fato de os ornamentos terem passado a ser produzidos em série. O movimento chegou ao Brasil nas primeiras décadas do século XIX, em grande parte devido ao intercâmbio de influências europeias e à entrada no país de produtos europeus industrializados europeus, introduzindo também novas possibilidades e inovações nos métodos de construção. O movimento modernista reservou inúmeras críticas ao ecletismo; uma delas relacionada à prática do uso de vários estilos, o que julgava superficial e desprovido de valor arquitetônico. No entanto, a posição aqui escolhida para definir o estilo arquitetônico da Igreja do Carmo, conforme já mencionado, é o estilo historicista. Ele é caracterizado pela revivescência de diferentes estilos arquitetônicos empregados na Europa, especialmente no século XIX, assim defendido por Günter Weimer como sendo o método de concepção e realização arquitetônicas dominantemente empregado durante o século XIX e a primeira metade do século XX e que se caracteriza pelo uso de uma linguagem extraída de realizações pretéritas. 12

O estilo gótico iniciado em meados do século XII teve seu estilo de arte desenvolvido ao longo do século XIII com a construção das grandes catedrais. Este estilo caracteriza-se pela utilização de alguns elementos como Arcos ogivais, Abóbodas, Pilares.

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O historicismo traz à música, à pintura e à poesia novas formas estilísticas, partindo de concepções da natureza e história, sem, contudo, criar um novo estilo. Eis, em parte, a diferença entre o termo historicista e o conceito trazido pelo ecletismo. No historicismo, as formas referenciadas em estilos arquitetônicos anteriores são realçadas e ganham nova significação. Kock (1998) afirma que “o historicismo é a expressão de um profundo respeito pela história pátria e pelos ‘antigos mestres’ e demonstra uma consciência religiosa e social”.

1.2. RIO GRANDE – EXPANSÃO URBANA E HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DA IGREJA DO CARMO

Anteriormente à construção da Igreja do Carmo, a cidade do Rio Grande13, então vila de São Pedro, não era portadora de um templo de tal magnitude arquitetônica. Foi no ano de 1777 que o Comissário Geral da Ordem no Rio de Janeiro autorizou a fundação da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, na vila do Rio Grande de São Pedro, fazendo com que a cidade tivesse uma presença significativamente maior de religiosos católicos. No dia 15 de julho de 1780, foi proferida a bênção na Igreja de São Pedro, que lhes servia de berço, em honra de Nossa Senhora do Carmo, aumentando, a partir desse momento,

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Esta deu-se quando o Brigadeiro José da Silva Paes, em 1737, transpôs a Barra e desembarcou no extremo norte da península. Iniciou-se assim o povoamento da região com a formação do Presídio Jesus-MariaJosé. A drenagem do cais e a construção do Porto em 1823 permitiram a passagem de navios de maior porte, que até então somente atracavam no porto de São José do Norte. No início do século XIX a então Vila do Rio Grande possui uma característica mais comercial do que militar. Em 1835, a Vila do Rio Grande de São Pedro, passou à denominação de Cidade do Rio Grande. Desde as últimas décadas do século XIX em Rio Grande iniciam as atividades industriais. O momento histórico coincide com os investimentos feitos no Porto e na Barra. Nos anos de 1950 e 1960 ocorreram fases de grande crescimento e outras de estagnação. O crescimento horizontal da cidade acompanha estas fases e se estagna depois do fechamento dessas fábricas.A década de 1970 é um período próspero para o município com a construção do Distrito Industrial do Rio Grande: a área portuária transformou-se em terminal marítimo servindo como corredor de exportação para toda produção gaúcha. As obras foram iniciadas com a construção da infra-estrutura viária e instalação do primeiro terminal graneleiro. Nos anos de 1970, ocorre a fundação da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Na mesma época, junto à rodovia Rio Grande/Pelotas, é implantado um grande loteamento de alto padrão. Na década de 1980, tem-se planejamentos de mais loteamentos, com características populares. A partir de 1980, o limite urbano é ultrapassado e em janeiro de 1987 – com a aprovação do plano diretor de desenvolvimento integrado – a área urbana legal reconhece a área urbana até o Cassino, abrangendo o Distrito Industrial e Super Porto, ampliando-se assim consideravelmente a área de jurisdição urbana. Este histórico faz parte da trajetória de pesquisa sobre o patrimônio da cidade do Rio Grande. Fonte: PAULITSCH,Vivian S. Rheingantz: uma vila operária em Rio Grande. Rio Grande: ed. da FURG, 2009.

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a devoção à Virgem na vila de São Pedro. Porém, os frades pleiteavam a sua própria sede em devoção à Nossa Senhora do Carmo, desejo que, após inúmeras tentativas e pedidos, foi realizado, segundo nos mostra o seguinte relato: Os Irmãos Terceiros, coagidos em parte naquele ambiente, numerosos e ativos, tentaram alcançar plena independência e lugar próprio para o culto e desobrigados deveres religiosos. Em terreno já próprio à Rua Marechal Floriano, esquina da Rua 16, lançou a pedra fundamental do novo templo da Ordem em 1800... Aos seis dias do mês de novembro de 1809 o Padre Francisco Inácio da Silveira, Delegado ‘ad hoc’, benze solenemente o novo e formoso templo do Carmo. (Fr. Caio de S. José: Apontamentos históricos das fundações carmelitanas no Brasil, p. 10, arquivo, Rio Grande).

Construído em estilo românico14, a estrutura do templo causou admiração para a época, somado ao fato de ser de procedência da Terceira Ordem. No entanto, o templo ficou conhecido pelos moradores da vila por “capela da ordem”, devido ao seu tamanho e simplicidade, características da arquitetura românica. O templo tinha 10 metros de largura, 40 metros de comprimento e 12 metros de altura, sendo a capela-mor ladeada por tribunas e consistórios e ainda uma sala superior para reuniões. O templo serviu de moradia durante seis meses para as monjas carmelitas que, ao se estabelecerem na cidade, estiveram em casa alugada por cerca de três anos.

Imagem 2: Antiga Capela do Carmo. Fonte: projetocuriosidadesderiogrande.blogspot.com

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Nasce, no final do séc. X, dividida em dois períodos: a primeira arte românica e a segunda arte românica, representando sua gênese e maturidade, respectivamente. Sua construção é caracterizada por uma estrutura maciça, pesada, de linhas simples e com um interior sombrio, devido à precária iluminação.

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Os sócios da Igreja do Carmo mantinham um cemitério, localizado nos fundos da igreja, que na época se encontrava na rua Benjamim Constant com Marechal Floriano, hoje conhecida por “esquina dos quatro bancos”. Esse cemitério ostentava a mesma magnitude emprestada ao templo, construído com muros ao redor. Os túmulos ficavam encravados, de igual modo como são dispostos hoje no cemitério municipal local. A sua estrutura era de 25mx30m, contendo 96 catacumbas para adultos e 19 para crianças. No centro do pátio, havia uma torre quadrangular com quatro sinos de bronze que ascendiam da torre.

Imagem 3: Cemitério do Carmo. Fonte: projetocuriosidadesderiogrande.blogspot.com

A partir daí, a Ordem Terceira exercia forte influência na sociedade rio-grandina. A Ordem também foi responsável, em 1872, pela construção de um hospital em uma velha casa que, ao ficar pequena para suprir as necessidades do povo, foi reconstruída com a ajuda dos cidadãos. Anos mais tarde, o hospital foi desativado por falta de recursos. Foi então no século XX, precisamente no ano de 1912, frente à necessidade de mais paróquias, que a capela do Carmo recebe status paroquial, desligando-se da Paróquia de São Pedro, conforme vemos na citação a seguir: Da única Paróquia nesta cidade de Rio Grande, criada por provisão de 06/08/1736, sob invocação de São Pedro, a nova Paróquia do Carmo foi desmembrada por decreto, datado de 01/11/1912. Faz limite somente com a antiga Paróquia de São Pedro, sendo divisa a Rua Marquês de Caxias e a prolongação dela, pertencendo esta ainda, de ambos os lados, à Paróquia de N. S. do Carmo. Compreende também, provisoriamente, a Ilha dos Marinheiros. (idem p. 08).

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Após tal avanço, os carmelitas acabariam por fixar-se na cidade. Frei Constâncio – Vicário Provincial – manteve contato com D. Francisco Barreto, então bispo de Pelotas, solicitando-lhe licença para uma fundação, conforme o seguinte registro: Com data de 18 de dezembro e desde a cidade de Montevidéo, Uruguai, o P. Constâncio do Sdo. Coração de Jesus, então Vigário Provincial do Uruguai e Brasil, solicita ao Bispo de Pelotas, D. Francisco Campos Barreto autorização para fundar uma residência dos PP. Carmelitas na cidade de Rio Grande. Sua Excia. lhe responde benevolamente, dando-lhe a cura de almas da Paróquia de N. Sra. do Carmo. O Definitório de Navarra aprovara a fundação em 02/05/1917. O governo da República havia autorizado à licença em 18/04/1917. (Fr. Redento: Apontamentos para a história dos conventos dos PP. Carmelitas no RS, p. 169).

Então, “reuniram-se os freis extraordinariamente em Montevidéu e concluíram que os termos do pretendido lhes eram favoráveis e decidiram autorizar a fundação de Rio Grande como o serviço paroquial e ainda incluindo mais três capelanias” (Livro de Atas do Vicariato Provincial, p.19). Recebendo a resposta favorável, frei Constantino indicou alguns freis especificamente das comunidades de Uruguaiana e Alegrete para comporem a nova comunidade. Recebendo o chamado, eles rumaram de Montevideo a Rio Grande no dia 16 de janeiro, conforme narram os monges de São José nesta crônica: Em 1917, quando o mundo emergia de um mar de sangue, pondo fim a guerra cruenta de 1914, desembarcaram no Porto de Rio Grande os primeiros Descalços, no dia 18 de janeiro; entre eles vieram os Padres Frei Serafim, primeiro superior e pároco; frei Paulino de São José, Frei Roberto de Jesus Maria e o Ir. Nicolau da Virgem do Carmo, sendo então recebidos por D. Francisco de Campos Barreto. (Idem, p.17).

Com a chegada dos descalços carmelitas, Dom Francisco Barreto empossou o novo pároco da paróquia do Carmo, que até então era administrada pela Terceira Ordem, no dia 21 de janeiro. Já no ano de 1918, o Vicário Provincial eleva a fundação do Rio Grande à categoria de vicariato15, sendo nomeado provisoriamente Frei Serafim como pároco da casa. Devido à saúde debilitada, Frei Paulino de S. José foi nomeado em seu lugar, ficando nesse

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O vicariato é uma circunscrição eclesiástica equiparada a uma igreja particular ou a uma prefeitura, governada em nome do Papa, por um vigário, por se tratar de uma diocese ainda em formação. Em linhas gerais, trata-se do agrupamento de certo número de fiéis – aproximados geograficamente – a fim de serem melhor atendidos e colaborar para com o trabalho evangelístico e as relações pastorais.

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encargo até 1924. Para que a fundação permanecesse na categoria de vicariato, era preciso manter um número suficiente de religiosos – cinco professos solenes – que, de imediato, chegam à cidade para compor o vicariato de Rio Grande. A comunidade não possuía uma casa própria para a instalação do vicariato que, no primeiro momento, hospedou-se em residências de padres jesuítas, em uma casa nos fundos da igreja e, posteriormente, em uma casa bastante afastada da Matriz. Era visível a necessidade de que os religiosos se acomodassem em uma casa própria. Permaneceram assim por muito tempo até que adquiriram uma casa na Rua Bacelar, onde se acomodaram por mais um tempo. Porém, essa residência também passou a ser inadequada ao vicariato e relativamente distante do templo. Resolveram transferir-se para outra residência na mesma rua, onde permaneceram por muitos anos, até a construção do novo convento. Foi então que os freis viram naquele entorno o melhor lugar para se fixarem, principalmente por se encontrarem próximo à sede paroquial. Decidiram realizar a compra da casa, o que consta em um apontamento de 1920: 24 de Junho: Em reunião capitular da comunidade, se aprova a compra da casa em que moram, pela quantia de 20$000. O Pe. Provincial autoriza a compra. Mas em 11/05/1922, consta outra nota: “A comunidade propõe a venda da casa em que moram os padres e compra de outra para a fundação. É aprovada a proposta. E em 03/10: O Definitório Provincial autoriza nossos padres a vender a casa da sua moradia para comprar outra, em cujo prédio tenciona-se levantar a nova igreja e residência. Uma seguinte anotação esclarece mais ainda: A comunidade, no mês de abril (1926), aprovou definitivamente o lugar para a igreja e o convento da Ordem, nos prédios que estão na Rua Bacellar, até a esquina com a Rua Benjamin Constant, Nº 228, e sobrado: 232, 236, 240. (Idem, p. 175; 178; 284).

Assim como a população rio-grandina, o vicariato esperava que a Ordem Terceira – com a aprovação do bispo – lhe cedesse a propriedade da igreja juntamente com o cemitério anexo. Para que isso se concretizasse, foram feitos inúmeros pedidos formais, condicionando em grande parte seus compromissos pastorais e investimentos materiais. Sabe-se que tal pedido foi aceito e concretizado devido a um contrato firmado entre o bispo diocesano e a Ordem dos Carmelitas, em início de 1929. Entre outras cláusulas, podemos tomar conhecimento das seguintes16: 16

Entre outras cláusulas, consta ainda: o terreno voltará à propriedade da Mitra Diocesana se os Carmelitas “não edificarem nele sua igreja, ou se edificada a igreja, deixarem de residir na cidade do Rio Grande”; o pároco será apresentado pelo Provincial e terá os mesmos direitos e obrigações dos párocos de clero secular; o compromisso

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I.

O Exmo e Revmo. Sr. Bispo de Pelotas reserva aos Padres Carmelitas Descalços do Rio Grande, por quarenta anos, a ocupação da paróquia de Nossa Senhora do Carmo da mesma cidade;

III. O Exmo. Bispo

Diocesano... cede gratuitamente aos Rvdos. Padres Carmelitas Descalços do Rio Grande o terreno que escapou a desapropriação da antiga Matriz de Nossa Senhora do Carmo e do cemitério a ela anexo. (Livro Tombo I, Paróquia do Carmo, p. 42/43)

O bispo de Pelotas mostrava-se disposto e emitia encorajamento aos freis para a construção da nova igreja e convento. Estes, influenciados pelo ânimo e apoio dos seus superiores, decidiram investir em infra-estrutura e patrimônio. A paróquia do Carmo foi, então, crescendo, e os padres tiveram de aumentar seus campos de trabalho, atendendo até mesmo as capelas de São José do Norte, pois chegou um tempo em que a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Rio Grande tinha anexas três paróquias, cujo território de ponta a ponta, tinha a distância de 300 quilômetros. Este mesmo autor consta que no tempo em que os freis atenderam estas paróquias e comunidades, foram levantadas as seguintes capelas: Na Quinta, as do Areal e a da Ilha do Leonídio; em S. José do Norte, a do Capão do Meio; e em Mostardas, a de Tavares. Na paróquia do Carmo, a de Marambaia, a de Cristo Rei e Sta. Teresa. Estas paróquias e comunidades foram deixadas a partir de 1948 e, especificamente, a partir de 1951, quando foram criadas novas paróquias na cidade de Rio Grande. (Frei Redento da Eucaristia, Ordem dos Carmelitas Descalços... p. 100).

A paróquia do Carmo também se preocupou com questões sócio-culturais e, ao longo dos anos, foi fundando inúmeros grupos e associações17, tais como uma escola primária para meninos carentes – a Escola Paroquial Santa Teresa de Jesus, entidade com fins caritativos, criada em 1923. A escola foi sustentada por meio de contribuições dos fiéis e sob a dedicação dos freis, funcionando com duas professoras e com média de 55 a 60 alunos, inicialmente. dos Carmelitas não abandonarem a paróquia nos primeiros 25 anos, nem do bispo afastá-los (a não ser por acordo mútuo e por motivos razoáveis e ponderosos); a autorização ao pároco para que empregue, sem juros, a quantia de duzentos contos de reis (200:000$000) do patrimônio da referida paróquia (na nova igreja). Esse valor deveria ser devolvido em 30 anos, contanto que fosse construída a igreja em cinco anos ou se pusesse a funcionar em dez anos. (Apontamentos para a história dos Conventos dos Padres Carmelitas, p. 42) 17 Alguns dos grupos e associações criadas devido à fundação da paróquia do Carmo em Rio Grande: Apostolado da Oração das Senhoras (1912); Congregação Mariana para Homens (1912); Pia União das Filhas de Maria (1914); Confraria de Nossa Senhora do Carmo (homens e mulheres); Ação Católica Brasileira (Liga dos Homens, Liga Feminina, JEC, JOC, SAC, HAC, JCM, JFC, Benjaminos/Benjaminas); Coral Santa Teresinha.

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Uma escola de catequese também foi providenciada e, no ano de 1938, já havia doze centros de ensino, totalizando 1097 crianças atendidas. Na década de 40, devido ao desemprego, muitas pessoas aglomeraram-se na vila operária Santa Teresa, onde atualmente está situado o bairro Santa Teresa. Quem se responsabilizou por tal feito foi o Frei Caio que, preocupado, reuniu autoridades, recursos e o povo, a fim de discutirem a organização, tornando-se, assim, um pioneiro no campo de planejamento habitacional em Rio Grande. Propôs também aos moradores do bairro que fosse criada uma associação, o que foi concretizado em 1946, ano em que se constitui a Sociedade Amigos da Vila Operária Santa Teresa, conforme noticia o jornal Cruzeiro do Sul: de 07/1978, página de capa e Livro de Atas da mesma Sociedade, ata inicial. Numa síntese biográfica que se lhe dedica, se diz: Ao Pe. Caio se deve a organização da Vila de Santa Teresa e a recuperação de muitos marginalizados, que lá se instalaram em procura de um cantinho onde podem levantar uma pequena maloca, mais tarde melhorada pelo apoio das autoridades civis. (Livro Tombo I Paróquia do Carmo)

Para os religiosos católicos, é fato que a maior parte das atividades evangelizadoras se deu ao redor da Igreja do Carmo, originalmente Capela da Ordem Terceira do Carmo, constituída centro de culto de 1809 a 1928, atuando dezesseis anos como paróquia e onze sob os cuidados dos freis carmelitas. Com o passar do tempo, chega à cidade o plano de adequação urbana para fins de “embelezamento” municipal. Observou-se a necessidade de demolição da velha Igreja do Carmo e também a remoção e transferência do cemitério anexo a ela. A igreja e o cemitério localizavam-se no Beco do Carmo, assim chamado pelos rio-grandinos. Na realidade, tratavase do estreitamento da atual Benjamim Constant, um verdadeiro beco, pois permitia apenas a passagem de pedestres. A fachada principal da igreja tinha sua frente voltada para a Rua Marechal Floriano. O cronista da época dá esses detalhes encontrados no livro Apontamentos para a história dos conventos dos padres carmelitas no RS: Desde o princípio projetava (o novo prefeito) o alargamento e urbanização da Rua Benjamim Constant, que era obstruída pelo cemitério e Igreja da Ordem Terceira do Carmo, apenas deixando um beco com passagem à Rua Marechal Floriano. O Sr. Intendente e o Sr. Bispo combinaram alguma coisa e este último acedeu bondoso a ceder para o Padres Carmelitas edificarem a igreja da Ordem no que restasse do cemitério e da igreja, depois do acordo com a Intendência.

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Localizado este templo no centro, na estreita ruela Dezesseis, o Governo do Município concertou a desapropriação desse imóvel em 1920, para endireitar e transformar a velha Dezesseis na linda e larga Avenida Benjamin Constant (Flores do Carmelo, 1938, p. 103).

Noutro documento, assim está dito: “a Intendência se compromete a remover os restos mortais do cemitério para o cemitério católico da cidade” (op.cit p. 187). Nesse mesmo ano, não se sabe o porquê, foi extinta sob o aval do bispo diocesano a Ordem Terceira do Carmo. Então, foi solicitado ao pároco que zelasse pelos bens da Ordem. Em se tratando disso, os serviços paroquiais precisavam manter sua continuidade independentemente da nova situação, que apontava para a já decretada e anunciada demolição da igreja matriz. Os freis receberam uma provisão do bispo, que facultava o culto público em um salão situado na Rua Bacellar nº 191, com pleno direito de guardar o Santíssimo Sacramento. Nesse momento, a população fez um pedido para que a capela N. Sra. da Conceição, situada a menos de duas quadras da matriz paroquial e próxima de onde a comunidade residia, fosse transformada em um templo paroquial. Entretanto, não houve o aceite da proposta. Pelas anotações posteriores, conclui-se que o salão/capela deveria ter um tamanho razoável: diz-se que a celebração dos cultos era realizada normalmente com “grande concorrência de fiéis. Na missa de quinta-feira santa de 1929 fala-se em 600 comunhões” (Livro Tombo I, p.34). Tornara-se oficial, era preciso despedir-se e ver desaparecer a histórica ‘Capela do Carmo’: No dia 13 de maio (de 1929) foi celebrada missa solene de despedida da velha Igreja do Carmo às 10 horas, sendo oficiada pelo R. P. vigário, Fr. Sigismundo de S. L. Gonzaga, servindo de ministros os Padres Fortunato da Purificação e Henrique Mª. de Jesus e fez o sermão de despedida o P. Patrício da S. Família”. Diz uma crônica de 03/01/1995: O templo do Carmo ou o ‘armazém dos altares’, como irreverentemente o classificou o General Andréa, foi demolido em 1928 e quase nos fundos se ergueu a majestosa Matriz de Nossa Senhora do Carmo. (Livro do Tombo I, Paróquia do Carmo, p.32)

Como a igreja e o cemitério foram doados aos freis, estes começam a pensar alto, o que incluía o recuo exigido pela prefeitura da cidade, possibilitando a construção do templo e da moradia para a comunidade. O Conselho Superior, em 1926, já expressava a confiança de fixação definitiva na cidade do Rio Grande. Falava-se ainda da compra de uma casa e do anseio de adquirir outras duas, “e da boa disposição em que se encontrava o Sr. Bispo para

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facilitar-lhes a construção da nova Igreja e do convento” (Livro de Atas do Vicariato Provincial, p. 51). O cemitério anexo à igreja foi transferido para o cemitério católico municipal, juntamente com todos os túmulos e restos mortais em 1930. E tão logo se findou a demolição da antiga capela do Carmo, iniciaram-se as obras do novo convento, ao lado da casa onde os freis já residiam. O projeto inicial do convento consistia em dois pisos; no entanto, perceberam-nos insuficientes e, em menos de um ano, estavam concluídas as obras do novo convento/capela, solenemente inaugurado no dia 16 de fevereiro de 1930. E já no dia 12 de fevereiro desse mesmo ano, o jornal Echo do Sul noticiava à população a inauguração da nova capela, anunciada na seguinte notícia, Nos próximos sábbado e domingo, realizar-se-á, com toda a solenidade, a inauguração da nova capella e convento dos Carmelitas, recentemente construídas, à rua General Bacellar, bem assim, o lançamento da pedra fundamental de sua projectada igreja [...] Às 10 horas translada-se solenemente o S.S. Sacramento para a nova capella, começando imediatamente a missa solene cantada pelo coral Santa Terezinha, e ocupando o púlpito do Ver. Padre Mariano de São João da Cruz. Pelas 17 horas o exmo. Sr. Bispo Diocesano lançará a pedra fundamental da projectada igreja do Carmo, com discurso oficial a cargo do Dr. J.P. Carneiro Pereira.

O bispo, ressarcido pela demolição da igreja e pela transferência do cemitério, decide, com isso, instigar os padres e a população rio-grandina, por meio de muitos elogios, a edificarem uma nova igreja junto à que fora recentemente demolida. O fr. Sigismundo pensou ser favorável a ideia e quis realizar o projeto. E no mesmo dia da inauguração da nova capela/convento, cerimônia presidida pelo vicário provincial, também ocorreu a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da nova igreja, onde de imediato foi possível observar canteiros de obra, segundo o que está descrito a seguir: Com esmolas do povo, cavamos os alicerces, subimos os muros vagarosamente a 25 metros, com tijolos amassados todos com o cimento de inúmeros sacrifícios dos frades e povo, distendemos arquitraves e nervos, cruzamos os arcos em três naves e cúpula central, e sobre eles, continuamos a rasgar o firmamento mais 15 metros com finas e caprichosas arestas a mostrarem as almas desiludidas da terra, em anseios celestes, a verdade do céu... (Flores do Carmelo, 1938, p. 103)

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O projeto arquitetônico da igreja, bem como o do novo convento, foi idealizado pelo Ir. Cyríaco de S. José – espanhol Navarro – cujas obras estavam a encargo do também espanhol irmão Mariano. As obras estavam sendo acompanhadas pelos párocos frei Sigismundo, Florentino e Caio. Entretanto, no ano de 1932, as construções tiveram de ser interrompidas e permaneceram estagnadas até 1934. Uma crônica relata o motivo da interrupção: Lançados todos os alicerces e levantados os muros a altura das naves laterais, foram as obras suspensas para atender ao pedido dos nossos Padres de Uruguaiana, que precisavam urgentemente de uma nova capela provisória, em cujo trabalho demorou o Irmão Mariano seus dois longos anos; e pela dificuldade econômica criada pela falência do Banco Pelotense, onde a comunidade tinha depositado os vinténs, destinados à construção do novo templo, pedidos e concedidos pela cúria Diocesana...conforme contrato anterior. (Livro Tombo I, Paróquia do Carmo, p.54).

Com a volta do irmão Mariano e retomadas as obras, a nova Igreja do Carmo foi concluída no ano de 1938. Foi solenemente inaugurada no dia 22 de abril do mesmo ano, com a presença dos bispos Joaquim F. de Melo, Antonio Reis, ambos de Santa Maria; a cerimônia contava também com a presença dos superiores das residências carmelitas e de grande parte do povo rio-grandino. Em sua inauguração, a igreja causou grande encanto e deleite aos olhos daqueles que a observavam. Em sua totalidade são 40x18 metros em estilo historicista, com imensa riqueza de detalhes e construída no formato de uma cruz latina. É composta por três naves e possui um altar de mármore multicolorido, o nicho principal da imagem de N. Sra. do Carmo.

Imagem 4: Vista Aérea Igreja do Carmo, construção em formato de cruz latina. Fonte: GoogleMaps

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Os jornais destacaram a construção, esgotando suas palavras frente a tantos elogios. Um deles, o diário Rio Grande, assim destaca a opulência do templo: Esse templo, incontestavelmente, se não é o maior, pelo menos é o de mais linda estampa da cidade, de impressionante estilo gótico, elegantíssimo nas suas linhas gerais, altamente apreciável em todas as suas minúcias, bela no seu conjunto interno e externo, reveladora de acendrado culto à arte... Não há na cidade edifício que sobrepuje o monumento em apreço, porque em nenhum outro se agrupam nem se emparelham tantos atributos de lindeza e de opulência, tantos requintes de inspiração e de bom gosto. (Jornal ‘Rio Grande’ de 20/04/1938, apud, Livro Tombo I Igreja do Carmo).

Segundo consta nos jornais da época, muitos elogios foram direcionados também ao irmão Mariano, o construtor, que fez jus a todas aquelas palavras de reconhecimento de seu trabalho e dedicação ao templo. E pensar a gente que tudo aquilo, na sua extraordinária grandeza, se deve, principalmente a um só homem, modesto, habitualmente enrolado no seu burel do seu hábito de irmão carmelita. Mariano, o arquiteto daquele colosso, a ‘alma mater’ daquela maravilha, a figura relevante por excelência daquele conjunto esplendoroso! (Periódico ‘Rio Grande’, 20/04/1938, reportagem de capa, apud. idem).

É dito, nos apontamentos dos freis, que, mesmo o projeto sendo do frei Cyríaco, o gênio por detrás daquela magnífica construção era o Irmão Mariano de S. José, que “a remodelou e modificou e, sobretudo, a realizou administrativamente, sendo arquiteto e escultor da obra” (Frei Redento: Apontamentos para a história dos conventos dos Carmelitas Descalços no RS, p. 169). Embora o templo tenha sido inaugurado e acolhido com grande entusiasmo, o acabamento total se deu somente no início de 1939, fato que se deve, principalmente, a um detalhe essencial, do ponto de vista estético: as agulhas18. Elas foram erguidas na parte superior das torres somente entre 1950/1952, sendo o encarregado pela construção o engenheiro Huch, juntamente com Ribeiro, o construtor19. O templo passou a ter a altura interna de 16 metros e externa de 56 metros, considerando da base até a ponta das agulhas. A 18

Arremate em forma piramidal ou cônica de pequena base e grande altura, disposto no ponto mais alto de torres, sobretudo de igrejas, aumentando seu efeito de esbeltez. ALBERNAZ, M.P. Dicionário ilustrado de arquitetura. 2ª ed. São Paulo: ProEditores, 2000. 19 Pesquisas foram realizadas, no entanto, nenhuma informação adicional além dos nomes do engenheiro e do construtor foi encontrada.

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primeira missa após o término da construção das agulhas foi celebrada pelo neo-sacerdote carmelita frei Higino de Jesus Maria.

1.3. ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS E DECORATIVOS

O projeto arquitetônico da igreja é de autoria do irmão Cyríaco de S. José, e a execução é atribuída ao irmão Mariano, ambos de origem espanhola. Com isso, observa-se as influências espanhola e francesa inspirando o projeto da igreja, já que a mesma possui em sua arquitetura elementos que remetem ao gótico. Não há registros nos apontamentos da igreja que mencionem a formação de ambos; assim, infere-se que Mariano e Cyríaco de São José teriam o que Gunther Weimer (1987) chamou de “formação empírica”, ou talvez formação em escolas de Belas Artes, bastante recorrente antes da criação das escolas de engenharia. Mariano projetou e executou outros templos da Ordem da Nossa Senhora do Carmo. Além de Rio Grande, podemos encontrá-los em Porto Alegre, Montevidéu, Uruguaiana e Quito, onde executou seu último projeto antes de ali falecer, em 1954. Com base nos registros históricos referentes ao templo projetado e construído por ele em Uruguaiana, constatou-se o motivo para terem sido paralisadas as obras na Igreja do Carmo em Rio Grande no ano de 1932. Nesse ano, Mariano de São José foi chamado pelos freis de Uruguaiana, a fim de realizar um projeto. Trabalhou nessa obra durante dois anos, retornando a Rio Grande e dando continuidade às obras da Igreja do Carmo em 1934.

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Imagem 5: Igreja do Carmo Uruguaiana. Foto: Cristiane Adiala, 2005.

Há ainda outros templos, europeus, com os quais podemos traçar um paralelo de semelhanças arquitetônicas: - Catedral de Amiens; França. 1220-1288. Torres não concluídas. - Catedral de Chartres; França. 1194-1220 - Catedral de Notre-Dame; Paris/França. Concluída no século XIV.

Imagem 6: Catedral de Amiens.Fonte: http://igrejas-catedrais.blogspot.com; Notre Dame. Fonte: L’Arte Gothic em France l’Architecture et la decoration.

Todas as catedrais citadas possuem elementos arquitetônicos que remetem ao gótico e ao neogótico, tal como a Igreja do Carmo e suas portas com arcos ogivais, rosáceas, torres e

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agulhas. No interior das catedrais, também notamos semelhanças, como é o caso da Catedral de Saint-Cntl, cujas naves laterais são estruturadas em abóbodas, de modo idêntico à Igreja do Carmo.

Imagem 7: Interior da Catedral Saint-Cntl. Fonte: L’Arte Gothic em France l’Architecture et la decoration e Interior Igreja do Carmo. Fonte: Arquivo pessoal.

Traçando uma espécie de roteiro imagético e arquitetônico, um dos primeiros elementos recém-citados e que se destaca na fachada da igreja é a rosácea, a qual, segundo Albernaz e Lima, trata-se de uma

abertura circular envidraçada, dividida em muitas partições, formando desenhos. Foi usada sobretudo em igrejas. Sua vidraça era muitas vezes constituída por vitrais. Ornato circular com forma aproximada de uma rosa ou de uma estrela com muitos raios, (...). Quando possui forma que lembra a da rosa, é também chamada de roseta. (2000, p. 551)

Também conhecida como “o olho da igreja”, a rosácea, na Igreja do Carmo, é uma estrutura composta por vitrais coloridos. Elas deixam a luz passar de forma longitudinal para o interior das igrejas, iluminando, assim, o altar-mor ao fundo da igreja. Mesmo sendo um elemento arquitetônico funcional, a rosácea também tem seus simbolismos relacionados às igrejas.

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Imagem 8: Rosácea, exterior da igreja. Fonte: Arquivo PIBID Artes

A sua forma circular remeteria a dois símbolos: ao sol, representando Cristo, e à rosa, associada a Maria. Ainda no que tange à iluminação das igrejas, a luz que a rosácea direciona para o interior do templo é filtrada, comedida e multicolorida, criando, assim, uma atmosfera de recolhimento para os indivíduos.

1.4. DEAMBULANDO PELO TEMPLO: ANÁLISE DOS ELEMENTOS DECORATIVOS

Ao percorrer o interior da Igreja do Carmo, deparamo-nos com duas imagens em tamanho natural do Cristo: uma mostrando-o com a sua cruz, de joelhos aos pés de Maria e, em outra, já morto, após a crucificação. Ambas se encontram dispostas em uma estrutura de madeira e vidro, onde não consta o nome do escultor. Os cabelos que compõem a imagem são de fiéis que fizeram promessas e, ao alcançarem a graça, cortavam os cabelos, os quais, posteriormente, eram entregues aos responsáveis da igreja para serem depositados na imagem20.

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Informação colhida através de história oral, em entrevistas com indivíduos que compõem a comunidade do Carmo.

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Imagem 9: Imagens do Cristo carregando a cruz e Maria; Imagem do Cristo morto. Fonte: Arquivo pessoal.

Seguindo pela nave lateral, à direita, onde se encontram as imagens do Cristo, encontramos imagens escultóricas da Via Crucis, ou Via Sacra, que significa caminho sagrado. Trata-se de quatorze esculturas pintadas que iniciam na nave lateral direita e terminam na nave lateral esquerda, representando, para os cristãos, o sofrimento da caminhada que Jesus trilhou, do Tribunal de Pôncio Pilatos até o calvário. 21

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BÍBLIA, N.T. Lucas. Português. Bíblia Sagrada. Tradução revista e ampliada de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil. Cap. 23.

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Imagem 10: Via crucis. Fonte: Arquivo pessoal.

Também se denomina Via Sacra o caminho que um fiel católico faz em estado contemplativo. Percorrem-se espaços contendo quatorze quadros e/ou cruzes representativos, com a finalidade de meditar a respeito dos acontecimentos vividos por Cristo. Tal prática, segundo os católicos, teria iniciado com Maria, mãe de Jesus, que percorreu inúmeras vezes o caminho feito por Cristo até o sepulcro. Outros fiéis, então, uniram-se a ela, dando origem à devoção pela Via Crucis. Por esse motivo, tais esculturas são encontradas no interior das igrejas, a fim de que os fiéis de hoje possam, simbolicamente, percorrer o mesmo caminho que fizera Jesus, meditando, assim, em seu sacrifício. Ainda na nave lateral, à direita da fachada da igreja, nos deparamos com duas imagens de santas, separadas por uma porta que dá acesso à sacristia, ficando uma das santas, à esquerda, bem próxima ao altar-mor. As duas santas têm origem holandesa e estão colocadas em uma mesa. A primeira é a imagem de Nossa Senhora do Rosário, acompanhada de São Domingos, a qual passou por uma restauração aparentemente não profissional, tendo sido apenas improvisadas algumas partes que ruíram, por se tratar de uma escultura em pedra. A segunda, que fica além da porta e próxima ao altar-mor, trata-se da imagem de Nossa Senhora da Conceição.

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Imagem 11: Nossa Senhora do Rosário e São Domingos; Nossa Senhora da Conceição Fonte: Arquivo pessoal.

Em frente à mesma, olhando para a outra extremidade do templo, encontra-se o cruzeiro, que é um espaço visível situado no encontro da nave central com o transepto22 das igrejas e catedrais, frequentemente com cobertura abobadada, dando, assim, o formato de cruz percebido nas plantas das igrejas. Nesse sentido, Albernaz e Lima explicam: “nas igrejas, espaço transversal que separa a nave da capela-mor, algumas vezes forma em planta os braços de uma cruz” (2000, p. 634).

Imagem 12: Exemplo de planta esquemática de Catedral.A área acinzentada representa o Cruzeiro. Fonte: Wikepedia, 2005.

A estrutura arquitetônica do transepto é coberta por uma abóboda chamada de abóbada estrelada ou de terciarão. Tem a forma de uma estrela e é composta por inúmeras nervuras que podem ser fechadas com pedra, a que denominamos pano, ou com vitrais. O transepto na 22

É o espaço transversal que separa a nave da capela-mor.

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Igreja do Carmo não é constituído por vitrais: têm apenas suas nervuras vazadas e, ao todo, são oito pontas na estrela.

Imagem 13: Cruzeiro. Fonte: Acervo pessoal.

Nos limites do transepto temos três altares. No centro, o altar-mor, onde se encontra a imagem da padroeira e, dois altares abaixo, à esquerda e à direita do altar-mor, dois outros, confeccionados em Porto Alegre – Casa J.Aloys Friederich – feito em mármore multicolorido. Neles estão dispostas inúmeras imagens, como as de Santa Teresa e de S. João da Cruz, Via Sacra, juntamente com outras, todas confeccionas em Porto Alegre por um escultor espanhol, em Casa de Bartolomeu Llul. Há ainda mais imagens, mas que foram trazidas do Rio de Janeiro. “O artístico púlpito foi projetado pelo Irmão Mariano, confeccionado em madeira de cedro e produzido em Montenegro pelas mãos de Jacob Krindens” (Livro Tombo I, Paróquia do Carmo, p. 58/59).

Imagem 14: Altar-mor. Fonte: Acervo pessoal.

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A imagem da principal padroeira do templo, Nossa Senhora do Carmo, foi fabricada em Buenos Aires, na Casa de Luis Barra, tem 4 metros de altura e pesa 600 kg. A imagem era esperada para que compusesse, juntamente com o altar, a benção solene na festa do Carmo. Entretanto, devido a mal-entendidos e entraves burocráticos, a imagem só foi disposta em seu nicho no dia 7 de setembro, acabando com parte da alegria da aguardada festa, bastante divulgada pelos diferentes meios de comunicação.

A imagem fora mandada confeccionar em 09/1937. Acertadas as cláusulas com a Casa de Luis Barra de Buenos Aires, o pároco encaminhou a isenção das taxas alfandegárias de importação (da imagem maior e outra caixa de imagens e objetos da nova igreja) diretamente com o presidente da República, Getúlio Vargas, no que foi prontamente atendido. Contudo, a encomenda foi despachada em nome de uma firma local (Cia. Leal Santos) quando teria que ser a nome pessoal (a encomenda aportou na alfândega de Rio Grande em 10/07/1939). Este encaminhamento incorreto fez incidir a taxa de importação: sessenta contos de reis (quando a imagem custara vinte contos de reis). Novo apelo ao presidente e ministro da fazenda, com os devidos esclarecimentos, isentou as taxas e a imagem foi liberada e vivamente aclamada pelos devotos. (Flores do Carmelo, 1939, p. 2-3).

O responsável pela encomenda da imagem e quem também possuía autorização para a sua retirada sem taxas era o Frei Caio de São José, vigário do Carmo. A imagem chegara ao nosso porto no dia 9 de julho de 1939, ficando retida no armazém A-3 do Porto Novo, sendo cobrado pela sua retirada três vezes mais em tributos do que o valor doado 23 para a sua aquisição. Frei Caio buscou os cidadãos influentes que residiam em Rio Grande, os quais, negociando diretamente com o então presidente da época, Getúlio Vargas, conseguiram a isenção de todos os tributos, incluindo os de nível federal. Em 19 de agosto a santa foi transportada para a igreja, onde ficou exposta para o público a partir do domingo de 27 de agosto de 1939.

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Doação feita por Francisco José de Faria, comerciante português, representante de importantes indústrias aqui na cidade, entre elas a Companhia Antarctica Paulista; grupo que originalmente produzia cerveja e, com o tempo, expandiu sua produção no ramo de bebidas, passando a industrializar refrigerantes. Disputava no mercado com a marca Brahma, até que as duas se fundiram, originando a Ambev, em 1999.

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Na inauguração do templo – 22 de abril de 1938 –, foi colocada provisoriamente outra imagem de Nossa Senhora do Carmo, em menores proporções, oriunda da extinta Paróquia do Carmo e que hoje se encontra no interior da igreja, à direita da entrada. A imagem esperada e que, por tanto tempo ficou retida, foi colocada no seu nicho e recebeu a bênção em uma solenidade no dia 7 de setembro de 1939. Um dos últimos elementos encontrados no interior da igreja, agora pela nave lateral esquerda, é uma pia batismal24, confeccionada em mármore claro, com cerca de um metro de altura.

Imagem 15: Pia batismal. Fonte: Acervo pessoal.

Por volta da década de 70, foram observados problemas nas torres da igreja, pedaços de enfeites de cimento estavam se desprendendo, tornando-se uma ameaça aos transeuntes. Após estudos e segundo informações da época, “encontraram uma solução viável, não comprometendo em nada a estética e a beleza da igreja” (Livro de Atas da Delegacia Provincial II, Arquivo Provincial, p. 62). Como ficou explícito anteriormente, não se tem conhecimento do método utilizado para solucionar o problema; porém, no início dos anos 80, constatou-se infiltração de salitre e gazes poluentes nas agulhas da igreja, apontando o estado de corrosão contínua e irreversível.

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A pia batismal contém água benta, para que, quando os fiéis entrem na igreja, possam receber a bênção do padre, ao fazer o sinal da cruz com os dedos embebidos nessa água.

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Durante dezoito meses as agulhas ficaram sob constante monitoramento. Após esse período, um laudo técnico impunha a demolição das mesmas. Para uma avaliação segura, ergueu-se um andaime para saber qual seria o passo a ser dado – restauração ou demolição. Após o laudo definitivo, tomaram-se providências para a demolição das agulhas, concluída em maio de 1985. A igreja ficou, durante certo tempo, sem qualquer atitude em relação ao reerguimento da torre. Somente em 1987 iniciaram-se os estudos para que o restauro fosse feito. Detalhes como material, formato, segurança, prazos e etc foram acertados e a firma DIMTEC assumiu e pôs em andamento a reconstrução das agulhas, seguindo os moldes originais. Em 1989 as agulhas estavam totalmente reconstruídas em seu belo estado original. Atualmente, encontra-se guardado, nas dependências da igreja, parte dos moldes que serviram para o reerguimento das torres.

Imagem 16: Construção das torres, 1938. Fonte: projetocuriosidadesderiogrande.blogspot.com

Também na década de 70 observou-se a necessidade de um salão multiuso na igreja, com vistas a abrigar as reuniões e tornar os serviços pastorais mais funcionais e práticos. Esse foi, então, adaptado ao lado da igreja, contendo salas, banheiros e uma cozinha. Pretendeu-se aqui resgatar a história dessa magnífica edificação, que é a Igreja Nossa Senhora do Carmo, a fim de lembrar-nos sua importância enquanto patrimônio histórico, através de dados que apontam até mesmo para a data de chegada daqueles que um dia viriam a ser colaboradores, mesmo que de forma indireta, dessa obra que até hoje enche nossos olhos.

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O percurso que fizemos é semelhante àquele que se constata ao estudar cidades e comunidades que, conforme sabemos, não se formam por completo, como que saindo de uma caixa com um manual – salvo Brasília. Ao contrário, elas se constituem com o tempo, quando são acrescentados elementos e descartados outros, existindo em constante mutação e (re) significação. Para entendermos o processo de construção da Igreja do Carmo, temos de estar cientes de todas as relações que a envolvem, tendo conhecimento também do juízo de valor amparado em critérios estético-históricos que destacam sua importância como bem cultural.

1.5. IGREJA DO CARMO: VALORIZANDO O PATRIMÔNIO RIOGRANDINO

Conhecer e reconhecer este critérios, é atribuir um valor ao objeto, ao bem cultural e, à medida que o fazemos, estamos reconhecendo sua importância, construída por diversos elementos relevantes para a nossa sociedade, em diferentes tempos históricos. Reconhecendo a Igreja do Carmo como um bem cultural, consequentemente, estamos (re) significando-a, mudando nossas concepções e visões e mantendo sua história viva, perpetuando-a. Embora não percebamos atos de depredação física no templo, o distanciamento dos moradores da cidade com relação à igreja faz com que o reconhecimento devido à mesma não seja emerso, o que, segundo González-Varas, escritor espanhol, se caracteriza por ser uma das grandes causas para o ‘esquecimento’ de tantos bens culturais. Sendo assim, podemos afirmar que a relação entre a população e o patrimônio cultural é um dos pontos a serem tocados quando se fala em medidas de preservação de bens culturais. No que tange a bens materiais, sempre existiram conflitos, conforme afirma Machado:

Não que o nível de consciência (da população) tenha atingido um estágio tal que tenham sido eliminados os conflitos da cidade com a preservação do seu patrimônio cultural: - estes conflitos existiram sempre, uma vez que seu pano de fundo é o conflito maior que é o limite entre interesse individual e interesse coletivo. Ainda que a comunidade manifeste uma aceitação racional dos valores do patrimônio coletivo, cada iniciativa individual de intervenção – seja a ampliação de uma edificação, seja a simples colocação de uma placa comercial, o desmembramento de um lote ou parcelamento de um

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vazio urbano – carrega, potencialmente, contradições com o interesse coletivo. Machado et al. (1995, p.160) Ao contrário da construção anterior, em estilo românico, caracterizado pelas linhas simples, robustas e com interiores de pouquíssima iluminação, a Igreja do Carmo em Rio Grande, marcada pelo estilo historicista com elementos que remetem ao gótico, tem por objetivo daqueles que a idealizaram a elevação aos céus como uma oração, de acordo com a filosofia medieval. Sua magnitude e beleza transcendem o homem e tocam o intangível. A catedral gótica

não é mais que uma estrutura esqueléctica de pedra coberta por vitrais, cuja complexidade de equilíbrios exigiu do “mestre-construtor” um conhecimento matemático muito mais exigente do que aquele que lhe fora exigido pelo estilo arquitectónico românico, o qual por ser muito avançado para o conhecimento medieval releva-o para mais um elemento preponderante à tese de que a arquitectura gótica tenha surgido na Europa através de um conhecimento secreto, adquirido no Oriente, na altura uma cultura mais evoluída que a Ocidental. (Oliveira Pereira, Blog Catedrais Góticas, 2008) Dessa forma, a presente pesquisa também pretendeu enfatizar a valorização de bens culturais a partir do exemplo da Igreja do Carmo e relembrar a importância de cada indivíduo nesse processo de valorização e preservação de nosso patrimônio cultural. Mais ainda, esta pesquisa integra a metodologia do Pibid, no que tange à pesquisa individual, primeira responsabilidade de cada aluno, ao ingressar no programa. Cada bolsista adota um patrimônio de Rio Grande e se debruça sobre ele alguns meses; no meu caso, com a Igreja do Carmo, foram cerca de três meses de pesquisa, somado ao tempo de organização e escrita. A pesquisa em foco proporcionou-me, e acredito que com meus colegas tenha ocorrido da mesma forma, um conhecimento efetivo dessa edificação e uma preparação maior para a atuação em sala de aula. Foi igualmente importante a elaboração da pesquisa no sentido de, no período da graduação, ter sido um dos trabalhos mais relevantes no quesito escrita acadêmica e, com certeza, colaborou para uma escrita mais tranquila da monografia. Por se tratar de uma pesquisa extensa e com uma transversalidade de áreas, pude ter contato com diversos conhecimentos que talvez não viesse a ter de outra forma. As experiências foram diversas, no âmbito da história da cidade, que me proporcionaram conhecer fatos pré-Igreja do Carmo e que fizeram parte da constituição de Rio Grande

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enquanto município. Também novos e primeiros conhecimentos na área da arquitetura, através do estudo da estrutura da igreja, essenciais para o entendimento da sua presença na cidade. No capítulo seguinte, abordarei uma das oficinas aplicadas no CAIC: a primeira a tratar dos edifícios históricos do Rio Grande. As pesquisas individuais de cada bolsista fundamentam essa oficina e dão início ao meu processo de maior identificação com a adoção da Igreja do Carmo.

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2 ESCOLA CAIC – TERCEIRA OFICINA25

A terceira oficina é a última do planejamento elaborado para o CAIC e a primeira a abordar de forma direta o patrimônio cultural do Rio Grande, através das pesquisas individuais dos bolsistas. Ela é de suma importância na minha caminhada de bolsista, pois quando ingressei no PIBID ela estava apenas nascendo e pude colaborar com sua elaboração. A mesma foi posta em prática em 2011 e não irei me deter muito nela, mas considero importante trazê-la por ter sido nessa oficina que efetivamente estreitei minha relação com a pesquisa da Igreja do Carmo, por meio da relação com os educandos do CAIC. Foram trabalhadas todas as turmas do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, sendo duas de cada série, com dois a três períodos de cinquenta minutos cada.

2.1 DESENVOLVIMENTO DA OFICINA – O QUE HÁ NO CENTRO HISTÓRICO?

A oficina em questão, intitulada Um olhar sobre o patrimônio rio-grandino, foi dividida em três diferentes momentos e, conforme indica o título, o foco foi a materialidade das edificações culturais encontradas no centro histórico da cidade. O que buscamos nas primeiras oficinas foi oferecer ao discente “subsídios para que ele veja dentro de sua comunidade os patrimônios que são significativos de sua identidade” (SOARES, 2008, p. 31). Como já foi mencionado anteriormente, cada licenciando-bolsista possui, ao longo do projeto, uma extensa pesquisa histórica referente às edificações da cidade ou aos monumentos e, para dar início à oficina, cada licenciando apresentou sua pesquisa, em uma aula de história da arte, aos discentes, que vieram a conhecer um pouco sobre a história, a arquitetura e o porquê dessas construções na cidade do Rio Grande. Imagem 17:

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Esta monografia abarca somente uma das quatro oficinas trabalhadas no Caic durante o ano de 2011. Porém, as duas que a antecedem são de significativa importância, pois eram alicerçadas com base em uma tríade, a saber, a casa, o bairro e a escola dos educandos, com vistas a disseminar os valores de pertencimento e identidade, através daquilo que está perto da realidade de cada educando, a fim de, ao chegarem ao centro histórico, tenham entendimento mais amplo e não se vejam forçados a valorizar o patrimônio coletivo.

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Imagem 17: Apresentação pesquisa histórica. Fonte: Acervo PIBID Artes

Os prédios históricos da cidade apresentados através da pesquisa dos licenciandosbolsistas foram os seguintes: Igreja Nossa Senhora do Carmo, situada na Rua General Bacellar nº 224, no centro de Rio Grande e inaugurada no dia 22 de abril de 1938; Alfândega do Município de Rio Grande, tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –, construída em três etapas, concluídas, respectivamente, em 1804, 1846 e 1879; Mercado Público Municipal, situado na Rua General Osório s/nº, protegido e classificado como Edificação de Interesse Sócio-cultural pela Lei Municipal 4556-90; Biblioteca Rio-Grandense e, por fim, a Igreja Nossa Senhora da Conceição, situada junto à Praça Sete de Setembro, construída em 1874. Em seguida, os educandos foram divididos em grupos, a fim de trabalharem uma prática artística com base no estudo dos prédios culturais. A prática utilizada para a produção das atividades foi a técnica de pintura. Devido à conformação da cidade, com calçadas estreitas, optamos por disponibilizar aos alunos ilustrações prontas dos prédios, em vez de produzirem desenhos de observação no centro histórico. As ilustrações foram retiradas do livro Desenho das edificações da cidade de Rio Grande, do autor Schifino, reconhecido como referência de desenhos de observação dos principais edifícios históricos da cidade do Rio Grande. Os grupos coloriram utilizando têmpera, também conhecida como tinta guache, material disponível na escola e de fácil acesso. Guache – têmpera – é um termo originado do italiano guazzo, que significa “tinta de

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água”. O termo original, no entanto, foi cunhado na França no século XVIII. Embora a técnica da pintura seja consideravelmente mais antiga, ela vem acompanhando a humanidade em toda a sua história. Mesmo que tenha ficado ofuscada pela escultura durante o período grego clássico, a pintura permanece como uma das formas de representação dos povos medievais mais utilizadas, estendendo-se do Renascimento ao século XX. Com o tempo, essa tinta tornou-se material essencial nas escolas e, desde que comecei a vida escolar, ainda não vi lista de materiais em que não fosse solicitada aos alunos a aquisição das usuais têmperas. Tendo esse material tão presente em nossas escolas e no imaginário, optamos por mediar o primeiro contato prático dos educandos com as edificações fazendo uso dele, já que, conforme foi dito, trata-se de uma ferramenta de fácil acesso, no que se refere aos materiais que a escola dispunha para livre uso dos discentes em sala de aula, ao menos nas aulas de Artes.

Imagem 18: Produção de trabalhos em técnica de pintura. Fonte: Arquivo PIBID Artes

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Imagem 19: Produção de trabalhos em técnica de pintura. Fonte: Arquivo PIBID Artes

O terceiro e último momento da oficina foi a entrega dos diários de bordo 26 para que, individualmente, os alunos descrevam as atividades realizadas durante a aula, pontuando suas percepções e opiniões sobre ela.

Imagem 20: Diário de bordo.

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Caderno disponibilizado individualmente aos educandos como forma de registro reflexivo acerca das atividades realizadas, que acompanhou os discentes desde o início das oficinas e foi utilizado ao findar de cada aula. Esse diário funciona para nós, professores, também como ferramenta de avaliação e de reflexão de nossa prática docente a partir das percepções dos alunos.

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Imagem 21: Atividade de escrita nos diários de bordo. Fonte: Acervo PIBID Artes

Nota-se imediatamente nos relatos a ansiedade em que os educandos se encontravam para a chegada da quarta oficina – que consistia na saída de campo para o centro histórico, possibilitando um contato mais próximo com as edificações estudadas e trabalhadas –, conforme observamos no relato de uma aluna do 9º ano, extraído de seu diário de bordo:

Hoje, às 10:45 da manhã, nós tivemos aula com o Pibid Artes. Eles nos apresentaram palestras sobre prédios culturais que nós iremos visitar. Nós vimos a Alfândega, o Mercado Público, a praça, etc. Nós também tivemos outra atividade. Essa foi uma que nós tivemos que fazer 4 grupos de 5 pessoas para pintar 4 figuras dos monumentos que nós havíamos visto na palestra anterior. Eu e meus colegas ganhamos a figura do Mercado Público, onde pintamos a parte de cima e a parede e logo após essa tarefa pegamos os cadernos e escrevemos um texto sobre tudo (...).

Os portfólios e os diários de bordo foram uma tentativa de ferramenta rica de pesquisa qualitativa, com a qual buscaríamos dados para a avaliação, que vez ou outra, podem ficar esquecidos e, ao retornarmos a ele, deparávamo-nos com informações relativas às nossas vivências e ações que podem contribuir para o nosso fazer do hoje.

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2.2 OBSERVAÇÕES REFERENTES À APLICAÇÃO DA OFICINA

Embora me deparasse com um processo em andamento ao ingressar no grupo PIBID Artes, ou seja, com as oficinas, incluindo a mencionada, já elaboradas pela professorasupervisora e por minhas colegas, sinto como se tivesse feito parte de todo o processo, mas a verdade é que eu e ela – a oficina – crescemos juntas, com a sua aplicação para e com os educandos do CAIC. O público atendido pelo CAIC, em sua maioria, reside nos bairros periféricos da escola, também no entorno da universidade, fazendo-se, assim, presente no cotidiano de todos os universitários da FURG. Muitos dos estudantes vivem em condições sociais precárias e, por tal motivo, uma proposta pela busca da valorização do patrimônio coletivo pode caracterizar-se como algo imposto. Eu, porém, defendo o contrário: acredito que conhecer a história do nosso povo é um ato de cidadania. Mesmo que parte dessa história seja de conhecimento apenas de um pequeno público, não se pode ignorá-la, passar uma borracha ou menos ainda privar os indivíduos que estão se constituindo como cidadãos de ter conhecimento dela e decidir por essa história, percebendo seu papel nela. Nossa metodologia de educação para o patrimônio foi aliar a transversalidade da área de artes visuais à arquitetura e aos bens considerados não eruditos, mas que integram a cultura visual dos alunos, culminando na diversidade de olhares. Para tanto, antes de trabalharmos os bens da coletividade nas duas primeiras oficinas27 já citadas, trabalhamos com o pertencimento e a identidade de cada educando, para que eles pudessem primeiramente perceberem-se, na condição de indivíduos, produtores de história, agentes na sociedade. Com isso, foi propiciada aos educandos a oportunidade de obterem conhecimento nas questões relativas ao pertencimento e compreendê-las para, então, compreender também o patrimônio da cidade. Durante a apresentação das pesquisas envolvendo as edificações da cidade, os educandos mostravam-se curiosos e atentos às curiosidades. Sabemos, como professores, os resultados positivos que colhemos ao ligar fatos curiosos relevantes ao conteúdo. É como quando se fala do artista pós-impressionista holandês Vincent van Gogh, por exemplo: ao explicar sua arte sem necessariamente mencionar sua biografia, mas, em algum momento em 27

1ª oficina: Identidade Criativa – abordou o reconhecimento do espaço urbano, diversidade cultural e moradia (identidade); 2ª oficina: Redescobrindo o espaço escolar – importância da escola, pertencimento em relação a ela.

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que se perceba relevante citar o fato de o artista ter cortado a própria orelha e tempo depois produzido um autorretrato28, fazendo referência ao incidente. São pequenas informações cruzadas que colaboram para a aprendizagem dos educandos e para a aquisição do conhecimento, ainda que seja para, quando o aluno se deparar com uma pintura de Van Gogh, mesmo não lembrando o nome do artista, reconheça naquela obra as cores utilizadas, o traço e alguns elementos como característicos daquele artista louco que cortou a própria orelha só para se pintar, e que um dia estudou sobre ele na escola, nas aulas de Artes.

Imagem 22: Autorretrato com a Orelha Cortada, Vincent van Gogh, 1889. Fonte: Blog Zazzle

Tais ligações não constituem novidades. Nosso cérebro está em constante processo de armazenamento e associação de dados. Quando vemos algo rapidamente o ligamos a outra coisa, fato ou lembrança. A relevância disso foi que a utilização desse processo na aplicação da oficina, no que se refere à minha atuação docente, foi de extrema importância. Ao mencionar a Igreja do Carmo, inúmeras referências cinematográficas vieram à tona e, quando compartilhei pela primeira vez as fotografias da igreja com os alunos do ensino fundamental do CAIC, indaguei a eles sobre o filme O Corcunda de Notre Dame, produzido pela Disney em 1996 e exibido inúmeras vezes na Sessão da Tarde. Buscava que eles relembrassem a obra cinematográfica, levando em consideração que a maioria assiste aos filmes que passam à tarde na TV aberta – no horário inverso ao que estão 28

Autorretrato com a Orelha Enfaixada ou Autorretrato com a Orelha Cortada, Vincent van Gogh, 1889. Óleo sobre tela, 60 cm x 49 cm, Instituto Courtauld de Arte, Londres.

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na escola. A igreja em que Quasímodo, personagem principal da história, ficava recluso aos cuidados do pároco, é a que dá nome ao filme: a Catedral de Notre Dame, na França.

Imagem 23: Cenas do filme O corcunda de Notre Dame, com imagens da Catedral. Fonte: http://baixandogratis002.blogspot.com.br/2012/07/filme-o-corcunda-de-notre-dame-dublado.html

Após alcançar meu objetivo, mostrava a eles fotografias da catedral em questão para um reconhecimento mais realista, já que o filme se trata de uma animação e não de uma produção com locações reais. O intuito aqui era o de que percebessem as semelhanças entre Notre Dame e a Igreja do Carmo. O ponto mais citado foi a rosácea, encontrada na fachada das duas edificações. Em seguida, outras catedrais situadas na Europa – referidas no Capítulo 1 – foram abordadas mais profundamente nos elementos arquitetônicos, fazendo-se referência à Igreja do Carmo. Citamos as gárgulas e muitos alunos compartilharam as construções dos seus imaginários referentes a tais esculturas.

Imagem 24: Gárgulas. Fonte: Arquivo PIBID Artes.

Lembro-me de um aluno, amante de rock e de filmes de ação e terror. Logo quando mostrei a fotografia de uma das gárgulas da igreja, explicou à turma que se tratava de um animal/demônio de pedra que à noite se tornava vivo e protegia a igreja dos espíritos malignos; explicou ainda que, em alguns filmes, sob a ordem de algum vilão, as gárgulas e

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outras criaturas de pedra que ornamentavam castelos, transformavam-se e se juntavam nas batalhas contra o bem. Essas pequenas informações mudam o rumo da aula, mas, se conduzidas de forma a não perder o foco, são de grande valia e contribuem, como já mencionado, para a assimilação do conteúdo pretendido. O processo educativo aludido, a meu ver, “compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente” (LIBÂNEO, 2003, p. 17). Não se pode ignorar o fato de que os indivíduos também se formam social e intelectualmente nas ruas, o que é caracterizado como Educação não intencional e refere-se às influências a que os indivíduos estão constantemente expostos no seu contexto social e meio ambiente. O que deve ser feito é, ao contrário de descartar tais referências, trazê-las para a sala de aula de forma a qualificar o ensino e contribuir para o desenvolvimento dos educandos. Com essa oficina, percebi o quanto é necessário e positivo ligar os novos conhecimentos pretendidos em sala de aula com aqueles da cultura popular que os alunos já possuem. Foi um marco nos meus primeiros passos, acompanhado das teorias de história da arte aliadas às teorias de arquitetura e estudos patrimoniais, fornecendo-me suporte, maior preparo e domínio de classe e das teorias ao me deparar com a nova realidade da nossa atuação de bolsistas no Instituto Juvenal Miller, algo que me deterei no capítulo que segue.

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3 INSTITUTO JUVENAL MILLER 3.1 DESENVOLVIMENTO DA OFICINA

A proposta elaborada para o Instituto Juvenal Miller desenvolveu-se em um plano de trabalho constituído de várias aulas dentro da disciplina de Artes, sob a regência da professora Débora Barnes, uma vez por semana em cada turma29, com dois períodos de aula de cinquenta minutos cada, entre os meses de abril e dezembro de 2012. Nas turmas de primeiro ano, os educandos têm entre 14 e 16 anos incompletos. Para aplicar as oficinas, buscamos práticas artísticas que lhes chamassem a atenção e que pudessem ter o mesmo alcance para o entendimento dos conceitos patrimoniais da proposta realizada no CAIC. Pensando nisso, elegemos a prática fotográfica, aliada à pós-produção em ferramentas on-line de edição de imagens, considerando o título do subprojeto30, fundamentado, por sua vez, também nos passos que levaram a sociedade a autodenominar-se “civilização da imagem”, segundo explica Kossoy (2001, p.134): A chamada “civilização da imagem” começa a se delinear de fato no momento em que a litografia, ao reproduzir em série as obras produzidas pelos artistas do princípio do Oitocentos, inaugura o fenômeno do consumo da imagem enquanto produto estético de interesse artístico e documental. Com esse bombardeio de imagens, o papel da fotografia na educação se torna mais desafiador na medida em que se utiliza dessa prática tão próxima do cotidiano dos discentes, ao mesmo tempo receptores e reprodutores, fotografando com celulares em qualquer lugar e a qualquer hora. Ana Mae Barbosa, através da metodologia Abordagem Triangular, apresenta uma arte-educação alicerçada em três ações: a criação, a leitura e a contextualização. E as três ações apontam, a meu ver, diretamente para o que Barthes31 pontua na relação entre indivíduo-fotografia, uma relação de identidade e revisitação. Pensando nisso, aliamos essa prática ao entendimento do patrimônio coletivo como ferramenta de aproximação dos 29

Turmas alcançadas 101, 102, 104 e 106, em dois períodos de 45 minutos cada. O ensino das artes visuais na sociedade da informação e do conhecimento. 31 Para Barthes, “a fotografia é o aparecimento de eu próprio como outro, uma dissociação artificiosa da consciência de identidade”. (BARTHES p. 20) 30

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educandos, primeiro com ambiente escolar – que também é coletivo, mas tem uma relação diferenciada para cada discente – e também com os bens culturais da cidade. Ainda fazendo referência à proposta de Barthes, quando ele diz que “no fundo, a fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa” (BARTHES, p. 47), percebemos que a fotografia é decisiva no processo de construção de um diálogo visual influenciador e desencadeador de discussões acerca de algum contexto social, por exemplo. Sendo assim, ela serve como forte aliada ao reconhecimento do patrimônio arquitetônico e cultural da cidade, fazendo a intermediação entre este e o indivíduo. A nossa metodologia, utilizada como início da proposta do ensino da história da arquitetura na disciplina de Artes, na escola, buscava deslocar os educandos do comodismo das aulas da referida disciplina. Isso não significa que as aulas ministradas até então fossem menos interessantes do que as que propúnhamos, mas nós buscávamos tal deslocamento, possível somente devido ao aceite da professora frente a esse novo desafio. E com essa proposta estive desde o início, já que integrava o projeto desde 2011, com a mesma sendo elaborada e posta em prática em 2012. As reuniões entre bolsistas e professora-supervisora funcionavam como reuniões de planejamento e discussão e nelas nasciam nossas propostas, com a contribuição de cada professor em formação que ali estava. Na primeira semana em que iniciamos o projeto, no Juvenal Miller, a professora Débora estava concluindo a explicação sobre perspectiva, como parte do conteúdo de desenho. Foram dois períodos em duas turmas e, como todos ainda estavam um tanto tímidos – bolsistas, professora-supervisora e alunos –, participamos da aula aos moldes de uma imersão, a fim de conhecer os alunos e o andamento da turma. Ainda nas teorias de perspectiva, colaborávamos com os alunos, que já começavam a solicitar nossa ajuda. Nas semanas seguintes, iniciamos a atuação em aula, colocando em prática os planos de aula por nós elaborados e principiamos a primeira aula, falando sobre patrimônio. Primeiramente solicitamos aos educandos uma pequena escrita envolvendo a representatividade da palavra patrimônio para eles. Em um segundo momento, foram recolhidas as escritas e seguimos com a apresentação de um Power Point que continha imagens ilustrativas de carros, casas, cidades, animais, desenhos animados, entre outras coisas, com o intuito de desencadear uma discussão acerca da origem da palavra patrimônio. A atividade foi muito válida e acredito ter fomentado a reflexão para grande parte da turma.

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Imagem 25: Power-Point com as imagens utilizadas na aula.

Porque eu ficara com a parte da explanação teórica, usava as respostas redigidas dos educandos em contraponto com as imagens e, baseada nelas, vinha trazendo o contexto do que iríamos trabalhar a partir da palavra patrimônio, isto é, o conceito de patrimônio cultural. Essa primeira parte da aula acabou por ser uma conversa bastante prazerosa com os alunos, que culminou em um diálogo sobre a depredação do patrimônio público escolar – algo que muitos deles praticavam, riscando e quebrando classes e cadeiras da escola – bem como sua importância no que se refere ao patrimônio cultural tombado ou não por órgãos de proteção. Finalizadas por ora as discussões, os educandos dividiram-se em grupos e expunham quais os lugares do prédio da escola com que mais se identificavam ou permaneciam por mais tempo quando não se encontravam em sala de aula. Concluída tal atividade, com equipamento fotográfico disponibilizado por nós, professoras, convidamos os integrantes dos grupos a fotografarem uns aos outros nesses espaços com os quais se identificavam. Os alunos se sentiram muito livres nessa atividade, pois estavam no seu espaço, mesmo vendo aquele momento com um olhar diferenciado. No meu entender, parte do entusiasmo devia-se também ao deslocamento da sala de aula para o pátio.

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Imagem 26: Prática no pátio da escola. Fonte: Acervo PIBID Artes

Após a prática fotográfica no espaço escolar, nos dirigimos para o laboratório de informática, onde as imagens produzidas foram descarregadas nos computadores e, ainda fazendo uso delas, trabalhamos com as mídias e as ferramentas on-line de edição. Optamos pela pós-produção na internet porque se trata de um meio que, de alguma forma, faz parte também do cotidiano dos educandos, através de redes sociais como o Facebook. Por meio delas, é uma prática comum o tratamento amador das fotografias antes de serem postadas na rede, principalmente por adolescentes e jovens.

Imagem 27: Prática no laboratório de informática. Fonte: Acervo PIBID Artes

Em contrapartida às mídias on-line, na semana letiva que se seguiu, a prática artística escolhida para abordar o conteúdo foi a do desenho. Iniciamos com um diálogo acerca da história e do contexto da fundação do I.E.E. Juvenal Miller, que se deu com a apresentação da pesquisa histórica da colega Thays Oliveira. Como já havíamos discutido a importância da

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escola na aula de teoria sobre patrimônio cultural, essa aula aconteceu de forma instigante para os alunos, que comentavam conosco o que sabiam sobre a escola. Uma das curiosidades que surgiram durante a aula foi a do chamado corredor da morte, que é um dos corredores do prédio da escola, situado no segundo andar. Os alunos contavam uns aos outros que ali acontecera algum incidente misterioso – provavelmente, segundo eles, a morte de algum aluno – bem no local onde há uma espécie de rachadura que separa ao meio o corredor, terminando em uma parede pouco iluminada. Na verdade, conforme consta na pesquisa, o corredor da morte é um anexo, ou seja, uma continuação da estrutura da escola construída em 1973, razão que explicaria a “rachadura”, marco de uma construção posterior. Em seguida, expôs-se a biografia do artista belga Ben Heine (1983)

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e suas obras

como forma de introdução e motivação à atividade prática proposta, na qual retomamos as fotografias realizadas na aula anterior. O trabalho de Ben Heine é um delicado e simples, mas causador de encantamento na maioria dos indivíduos que com ele entram em contato, ainda mais para os adolescentes e jovens, pois suas produções são bem-humoradas e dialogam com o imaginário criativo.

Imagem 28: Ben Heine, Pencil Vs Camera – 32.

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Ben Heine (1983) é um artista visual multidisciplinar belga, que trabalha com fotografia e ilustração, acrescentando elementos que são desenhados em papel branco, inseridos no ambiente e assim fotografados, criando uma montagem. Ver: http://www.benheine.com/

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Fonte: Galeria de Ben Heine, http://www.flickr.com/photos/benheine/4918260582/in/set-72157623723956821

Depois de conversarmos a respeito do trabalho do artista, individualmente os educandos receberam impressas suas fotografias pós-produzidas na aula anterior, juntamente com uma folha de ofício, onde, fazendo referência ao trabalho de Ben Heine – e utilizando sua técnica de desenho –, continuaram a imagem observada na fotografia, estendendo-a no papel ofício, conforme imagens 29, 30 e 31.

Imagem 29: Em aula com os alunos durante a atividade. Fonte: Arquivo PIBID Artes

Imagem 30: Trabalho dos discentes. Fonte: Arquivo PIBID Artes

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Imagem 31: Trabalho dos discentes. Fonte: Pibid, março, 2012

A maioria dos trabalhos realizados foi muito interessante. A orientação dada aos educandos era a de que não necessariamente deveriam seguir a realidade observada por cada um deles no espaço fotografado, o que acabou por render trabalhos bem criativos, que incluíam elementos inexistentes ao espaço em torno da escola e muitos deles, inclusive, de forma surreal. Assim que, finalizada essa atividade, solicitamos aos alunos redigirem um pequeno texto reflexivo sobre as atividades realizadas nas últimas aulas e também acerca de sua relação com o I.E.E. Juvenal Miller, aos moldes de um memorial, que nos foi entregue ao final da aula. Na semana seguinte, dividimos a turma em grupos e nós, professores- bolsistas, formamos duplas para acompanhar cada um deles enquanto a professora-supervisora acompanhava outro. Dirigimos-nos, então, ao centro histórico da cidade, onde o colégio está inserido, para uma exposição dialogada acerca da história e das características arquitetônicas de edificações33, seguindo um trajeto ilustrado na Imagem 31.

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Prédios históricos abordados na aula: Igreja Nossa Senhora do Carmo, situada na Rua General Bacellar nº 224, no centro de Rio Grande e inaugurado no dia 22 de abril de 1938; Alfândega do Município de Rio Grande, tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –, construído em três etapas, concluídas, respectivamente, em 1804, 1846 e 1879 e Igreja Nossa Senhora da Conceição, situada junto à Praça Sete de Setembro e construída em 1874.

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Imagem 32: Trajeto.

Cada grupo deslocou-se para um prédio específico, sobre o qual nós, professoresbolsistas, iríamos explanar acerca da pesquisa individual realizada. Foi uma aula muito prática, que possibilitou o contato visual e físico com o objeto de estudo. Solicitamos aos alunos que fotografassem o que encontrassem de interessante na arquitetura das edificações, levando em consideração a explanação feita sobre a história desses monumentos e sobre o reconhecimento visual deles, aproximando ainda mais os estudantes do patrimônio da cidade. Encerrando a aula e em retorno à escola, os alunos foram orientados com relação às atividades do próximo encontro, caracterizado pela apresentação de seminários sob a responsabilidade de cada grupo, fazendo uso livre de ferramentas e mídias34, incluindo as fotografias realizadas durante a aula, a apresentação dos prédios históricos que os alunos visitaram e estudaram. Isso com vistas a que o conhecimento fosse compartilhado com os colegas, o que significava exercer a transmissão de saberes acerca do patrimônio rio-grandino, aproveitando o fato de que cada grupo visitou uma edificação diferente. Para que o circuito de edificações culturais previstos na proposta e as pesquisas realizadas pelos bolsistas fossem contemplados, em outro encontro os educandos foram

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Os grupos escolheram a forma de apresentação: alguns fizeram uso do Power Point, produziram apostilas, enquanto outros documentaram em horário extraclasse as edificações através da fotografia e do vídeo.

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conduzidos novamente para uma saída no entorno da escola. Porém não mais divididos em grupos, mas com a turma em sua totalidade, bem como com os cinco bolsistas e a professorasupervisora, percorrendo um novo trajeto, conforme Imagem 6, pelo centro histórico em direção às outras edificações não visitadas na aula anterior, a saber: Mercado Público Municipal, situado na Rua General Osório s/nº, protegido e classificado como Edificação de Interesse Sócio-Cultural pela Lei Municipal 4556-90; Banca do Peixe, contígua ao prédio do Mercado Público, com colunas de Ordem Toscana e de construção datada no ano de 1853; e Prefeitura Municipal de Rio Grande, tombada pelo IPHAE – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, construção datada do séc. XIX.

Imagem 33: Trajeto 2ª aula no centro histórico.

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Imagem 34: Aula em frente ao Paço Municipal. Fonte: Acervo PIBID Artes

Terminadas as saídas ao centro histórico, na aula seguinte apresentamos aos educandos uma nova proposta prática, a fim de dar mais significado à última saída ao centro histórico. Apresentamos à turma o conteúdo sobre Arte-Postal, prática inúmeras vezes considerada corriqueira, mas também desconhecida para muitos. De início questionei-os em relação ao seu conhecimento sobre um postal: o que era, para que servia e quando servia. Foram poucos os que conheciam tal prática e não me refiro aqui à arte, mas, sim, ao ato de enviar postais pelo simples motivo de mandar lembranças a alguém. Após a discussão, prosseguimos com a exposição dialogada sobre o contexto histórico da Arte-Postal, bem como sua forma de disseminação, precursores, artistas nacionais e internacionais e suas produções no âmbito dessa prática artística. Após a abordagem teórica, os alunos foram encaminhados ao laboratório de informática, onde foram dispostos em grupos aos computadores, como continuação da aula. Elegeram uma das edificações apresentadas e visitadas no centro histórico da cidade. Partindo dessa premissa, iniciaram o processo de produção de um cartão-postal. Essa produção, no entanto, foi um pouco diferenciada, pois a intenção era propor algo que fizesse uso das mídias eletrônicas, mas que, ao mesmo tempo, não fosse dotado de uma complexidade grande, ou que necessitasse de uma orientação maior ou profissional. Logo lembramos do Paint35, ferramenta usada por muitos dos educandos para desenhar e/ou editar imagens. Trata-se de um programa que todos que possuem computador têm acesso e também é de fácil entendimento, uma vez que até crianças bem menores conseguem fazer uso dele. Uma vez produzidos, os postais ilustravam o patrimônio cultural do Rio Grande, trazendo informações sobre ele. Alguns educandos utilizaram as fotografias feitas nas aulas anteriores, recortando elementos arquitetônicos das edificações e inserindo-os no desenho produzido com a ferramenta Paint, conforme Imagens 35, 36 e 37.

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Software utilizado para a criação de desenhos e edição de imagens. O programa é incluso, como um acessório, no sistema operacional Windows.

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Imagem 35: Aluna produzindo postal da Igreja do Carmo. Fonte: Acervo PIBID Artes

Imagem 36: Postal Igreja do Carmo e Postal Igreja Nossa Senhora da Conceição.

Imagem 37: Postais da Banca do Peixe, estrutura anexa ao Mercado Público.

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A prática artística escolhida para concluir o trabalho no ano letivo de 2012 na escola Juvenal Miller, foi o graffiti, algo que tem muita proximidade com a realidade de alguns alunos e, com certeza, afirmo que, por diversas motivações, atrai pessoas distintas; assim, logo de início tive a convicção de que seria uma aula muito proveitosa e agradável. Como ocorre em todas as aulas, o contexto teórico é apresentado e situamos os discentes no que diz respeito à arte contemporânea, com a apresentação do documentário Quem tem medo de Arte Contemporânea36. Após assistirmos ao documentário, discutimos a respeito da ideia absorvida e do entendimento sobre essa corrente da Arte, o que, com toda a certeza, desencadeou inúmeras manifestações, devido às imagens e às obras de arte contemporânea observadas no vídeo. Em seguida, apresentamos dialogicamente aos educandos a Arte Urbana, focando na prática de graffiti em stencil, bem como artistas que dão significativas contribuições para a mesma, como é o caso dos artistas Bansky37 e Os Gêmeos38. Discussões envolvendo a arte urbana também foram levantadas pela turma, devido, é claro, pela dicotomia arte urbana/vandalismo. Em outro encontro introduzimos a atividade prática. Nela, os educandos trabalhariam novamente com as edificações do patrimônio da cidade. Utilizamos as mesmas imagens dos desenhos de Schifino trabalhadas no CAIC. Projetamos tais imagens uma por vez na parede da sala de aula e os alunos, divididos em grupos, seguindo os traços da imagem projetada, passaram-na para o papel em tamanho A3, utilizando lápis preto. O desenho no todo era formado por quatro folhas de papel A3, conforme observado na Imagem 38.

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Produzido em 2005 sob a direção de Cecília Araújo e Isabela Cribari, com duração de 26 min. Graffiteiro britânico nascido em 1974, que utiliza a técnica de stencil para marcar paredes por todo o mundo, deixando mensagens críticas sobre política e desigualdades. 38 Otávio e Gustavo Pandolfo, irmãos gêmeos grafiteiros de São Paulo, nascidos em 1974. Formados em desenho pela Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, começaram a graffitar em 1987, no bairro onde cresceram, o Cambuci, e gradualmente se tornaram um dos mais influentes na cena paulistana, acabando por ajudar a definir um estilo brasileiro de graffiti. 37

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Imagem 38: Alunos na produção do molde de stencil sob orientação do bolsista Bruno. Fonte: Arquivo PIBID Artes

Em outro encontro39, reunimos novamente os grupos para que, sob nossa instrução, continuassem a produzir o molde do stencil, porém, finalizando com o vazamento da imagem, utilizando estiletes escolares. Feito isso, já em outra aula, os educandos se dirigiram ao pátio interno do colégio, onde havia uma parede previamente preparada, com um fundo de tinta branca, na qual deveriam aplicar o molde de stencil. Os moldes foram fixados à parede com fita adesiva e, pouco a pouco, os alunos, individualmente, participavam do processo de aplicação da tinta spray sobre os moldes de stencil, definindo, com isso, a imagem dos prédios culturais de Rio Grande. No processo em questão, duas das quatro turmas trabalhadas participaram – enquanto as duas restantes cumpriam outras atividades dentro do plano de trabalho – e demoramos três semanas para a conclusão do mural com stencil, com todos os seus detalhes e acabamentos, conforme observamos nas Imagens 39, 40, 41 e 42.

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Em dois períodos de 50 minutos cada. Todos os encontros em sala de aula configuravam-se em um encontro semanal, por turma, com a mesma duração citada anteriormente.

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Imagem 39: Produção do graffiti em stencil. Fonte: Arquivo PIBID Artes

Imagem 40: Produção do graffiti em stencil. Fonte: Arquivo PIBID Artes

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Imagem 41: Graffiti finalizado. Fonte: Arquivo PIBID Artes

Imagem 42: Graffiti finalizado. Fonte: Arquivo PIBID Artes

3.2 OBSERVAÇÕES REFERENTES À APLICAÇÃO DA OFICINA

O Instituto de Educação Juvenal Miller está inserido no centro histórico da cidade. No entanto, ao pôr em prática essas propostas, abordando o patrimônio rio-grandino, as minhas impressões junto ao grupo foram as de que, mesmo levando em consideração que os

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educandos transitam ao redor das edificações históricas da cidade quase que diariamente, de fato eles não conhecem o patrimônio do qual teoricamente fazem parte. Tenho ciência de que é um tanto utópico pensar que cada cidadão conhece verdadeiramente as edificações que deram início ao processo de construção da cidade, e as aulas só confirmaram tal pensamento. Entretanto, foi surpreendente o interesse dos educandos em aprender e conhecer sobre o patrimônio cultural do Rio Grande, mesmo aqueles alunos que nasceram em outros estados, como é o caso de alguns, vindos do Rio de Janeiro. Através dos relatos solicitados a eles, ao término das aulas, também percebemos esse interesse: Sempre é bom aprender um pouco sobre a cidade onde vivemos. Uma das curiosidades que fiquei sabendo sobre patrimônio é que as dunas da cidade fazem parte dos patrimônios riograndino. (P.G. Turma 101) Aprendi muito com cada trabalho feito neste trimestre. Além de aperfeiçoar meus desenhos aprendi um pouco da história de Rio Grande e da história da arte com tantos detalhes e riquezas do passado. Gostei de saber tudo. Aliás, aprendi o que é tombado, o que eu não sabia. Gostei muito de saber um pouco de cada prédio histórico e conhecer eles por dentro [...] e olhando detalhes que se eu olhasse pessoalmente não teria percebido. (L. Turma 101) A última frase do relato anterior, para mim, definiu em parte os resultados das aulas, com a constatação da aluna, reconhecendo que sozinha e pessoalmente não teria percebido certos detalhes e que somente com as atividades realizadas em aula isso se tornou possível. Ainda mais instigante foi quando apresentamos a aula de Arte-Postal. Alguns alunos tinham uma vaga ideia do que era um postal, enquanto outros tiveram de ser estimulados a recordarem do que se tratava. É incrível como com o passar das gerações – que eram assim consideradas a cada 25 anos, mas que, segundo estudiosos, devido às rápidas mudanças sociais, esse tempo vem se reduzindo – algumas coisas ficam, além de obsoletas, esquecidas. Preservadas apenas por saudosistas e colecionadores, caso semelhante ao das fitas cassetes que, na minha infância, precisavam de uma caneta para que fosse rebobinada, ou ainda os discos de vinil, dos quais, para ouvirmos todas as canções nele contidas, precisávamos virá-lo de lado. E com os postais não foi diferente: todos os educandos sabem o que é uma carta, julgo eu só pelo fato de ainda recebermos cobranças através dos correios, mas, ao questionarmos acerca do que era um cartão-postal e o que continha neles, praticamente toda a turma ficou calada. Eis uma das inúmeras belezas existentes na profissão de educador: a de transpor barreiras e ampliar o campo de visão dos educandos, proporcionando-lhes maiores

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oportunidades de crescimento e desenvolvimento social e intelectual. Esse é mais um ponto qualificador do ensino de arte, não como um gabinete de curiosidades40, mas um ensino que vai além de linhas do tempo ou memorização de fórmulas. É um ensino livre, capaz de unir teoria aos fatos do cotidiano de uma sociedade, tendo como premissa o desenvolvimento de um indivíduo crítico. Na atividade em que utilizamos a obra de Ben Heine, tive grata surpresa ao perceber que os educandos estavam sentindo prazer de trabalhar com aquela proposta. Era uma atividade de desenho, mas ao mesmo tempo não era uma simples atividade fazendo uso dessa técnica. Para aquela turma, tratou-se de uma atividade nova, que não envolvia apenas papel e lápis, mas sim um novo conhecimento de um artista, uma técnica revisitada com um material já produzido anteriormente. Envolvia também imaginação para transpor os limites daquela fotografia, usando, caso quisessem, apenas lápis preto. Não constituía simples releitura41, pois, como defende Anamelia Bueno Buoro (2002),

Por releitura entende-se aqui a tradução da significação do objeto como fundamento para uma nova construção, buscando-se nessa ação a ressignificação do mesmo objeto: reler para aprofundar significados, ressistematizando-os. Dessa forma considera-se que toda nova produção oriunda de uma imagem referente é construção de um novo texto, no qual o sujeito produtor elabora uma interpretação, podendo até mesmo partir para a criação. (p. 23)

Embora os educandos não tenham feito diretamente uma releitura da obra de Ben Heine, tomaram-na como ponto de partida para a criação de uma nova imagem, referenciando-a para apropriarem-se de um saber, qualificando, mais uma vez, o ensino de arte, uma vez que, produzindo, refletiam acerca dos conceitos de patrimônio cultural e identidade. Outra atividade dessa oficina que contribuiu bastante para os educandos foi a que consistia na apresentação de um seminário relativo às edificações visitadas. A intenção nesse momento não era a de que os alunos assumissem a aula por nós, mas que exercessem diversas 40

Ou Quarto das Maravilhas designam lugares em que eram armazenados, colecionados diversos objetos de diferentes procedências. Em suma, era uma exposição de curiosidades e achados, podendo ser os precursores dos museus. Surgiram durante o Renascimento na Europa e desapareceram durante os séculos XVIII e XIX, sendo substituídos por instituições oficiais e coleções privadas. 41 Palavra que, no Brasil, no contexto do ensino de arte com leitura de imagem, refere-se na maioria das vezes apenas à cópia.

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capacidades intelectuais e as desenvolvessem. Grande parte da turma fez um trabalho impecável de registro, de pesquisa e apresentação e o mais importante: estavam aptos para serem transmissores do saber que obtiveram. Acredito que esse seja um dos melhores frutos que a profissão proporciona a um educador: o de ver um indivíduo repassando aquilo que ouviu e que foi mediado com carinho e afinco, não como uma verdade, mas com respeito ao seu conhecimento, prova de que a educação ainda é a melhor fonte para o desenvolvimento de alguém. Ainda em relação às práticas realizadas, o graffiti foi a última tarefa do ano letivo de 2012, realizada com as turmas de primeiro ano do Juvenal Miller. Ela tem intrincada em si mesma muitas significações para nós, professores e alunos. É uma prática vista nas ruas, em nosso cotidiano e sabíamos que moveria positivamente a sala de aula. Conforme estava previsto, foi geral a euforia para a produção do stencil. O processo durou algumas aulas, já que nos encontrávamos apenas uma vez por semana. Todos nós ansiávamos pelo resultado final. Os alunos participaram de todos os processos da produção do stencil, o que, com certeza, proporcionou uma experiência única a muitos deles. Esse sentimento ficou registrado em uma das histórias de sala de aula 42 no Anexo 3. A prática referida nos deixava com a certeza de que teríamos êxito, ao menos no que abarca o que eu gosto de chamar de sedução do aluno, mas que Alencastro (1989) chama de ensino-aprendizagem com motivação e incentivo, pois a motivação influi na aprendizagem e vice-versa. Dessa forma, a própria proposta de trabalho era o incentivo, pois sabíamos que ela “seduziria” a turma, já que, ainda segundo Alencastro, a motivação está condicionada às forças externas, ou seja, ao ambiente. Ao elaborar as propostas de trabalho com base em uma metodologia de pesquisa-ação, nos posicionamos simbolicamente frente a um espelho que reflete em nosso campo de visão a turma para a qual a proposta será destinada. Grande parte dos alunos do Juvenal – principalmente no ensino médio – está condicionada ao universo jovem do rap, hip hop e, consequentemente, do graffiti e da pichação. Sendo atuantes ou não em tais práticas, a influência é grande e percebemos visivelmente que transitam nesses meios, refletidos nas roupas que usam, no modo de falar e até no que rabiscam nas classes e cadeiras.

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O PIBID produz um livro contendo histórias de bolsistas, narrando experiências que tiveram na atuação em sala de aula através do projeto. Cada bolsista do PIBID Artes escreve uma história por semestre. Ao final de cada ano, as histórias são selecionadas de acordo com os critérios dos avaliadores e publicadas em um livro ilustrado, que se encaminha para sua terceira edição.

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Sendo assim, a presente proposta utilizou elementos do cotidiano desses educandos, de forma a retirá-los do conforto, mas não excluindo os saberes e vivências que possuíam sobre o assunto. Trabalhou-se com o intuito de aprender arte, reconhecê-la no cotidiano e dar mais sentido ao conteúdo que vem sempre precedendo as práticas artísticas, a saber, a arquitetura e o patrimônio cultural da cidade. Mário Quintana escreveu em um pequeno poema as seguintes palavras: “o que mata um jardim não é abandono. O que mata um jardim é esse olhar vazio, de quem por ele passa indiferente”. Através desse olhar distanciado que direciono às oficinas, após a conclusão das mesmas, é com satisfação que sei que um jardim a menos morrerá, pois tenho a convicção de que os alunos, que antes transitavam pelo centro da cidade sem dispensar um minuto que seja para refletir sobre a sua conformação, ao menos, nessas oficinas, lançaram à cidade e às suas edificações um olhar não vazio e indiferente, mas carregado de sentido e conhecimento e, graças a isso, mais um jardim vive!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A monografia empreendida buscou refletir a respeito da minha formação e atuação no período como bolsista no Pibid/Artes da FURG, abrindo as portas para a minha formação inicial, embasada nas reflexões, na colaboração e no trabalho coletivo. Em vista das ações planejadas com o grupo, não buscava, com as propostas pedagógicas escolhidas, salvar o mundo, mas, de certa forma, todo o educador, a meu ver, anseia e idealiza sua prática como uma ação transformadora. Acredito que minhas ações ao longo do exercício de docência no PIBID foram relevantes, tanto no âmbito educacional quanto no social, demonstrando não se tratar de uma missão impossível para uma arte-educadora transformar seu ensino e prover para seus educandos meios de reflexões e de mudança social. As contribuições que foram proporcionadas a esse público, no que diz respeito às experiências poéticas e estéticas, a partir do contato com a arquitetura e a história da nossa cidade, juntamente com linguagens e técnicas artísticas, não limitaram os educandos a olhar somente o patrimônio histórico do centro da cidade. A tal propósito, reforço o escrito de Eduardo Galeano, encontrado em O livro dos abraços:

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada. Que não são, embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões,praticam superstições. Que não fazem arte,fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, e sim folclore. Que não têm cara,têm braços. Que não têm nome,têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.[...]. (GALEANO, 2010, p, 71. Grifos meus)

Frente a isso, penso que não há limitação ou favoritismo, não queríamos manter os ninguéns descritos por Galeano como eternos ninguéns. Sem cara, apenas com braços, que não escrevem história, mas que são apenas matéria para que alguém a escreva. Acredito que este trabalho do qual fiz parte quebrou uma das paredes que separa os ninguéns dos alguéns perpetuadores de desigualdades. Enquanto educadora em formação inicial e participante desse projeto, acredito que, na esteira de Soares, “aos educadores cabe o papel de incentivadores para que os educandos possam refletir sobre a escolha de seus patrimônios. Dessa forma, estarão dando valor a sua História e a sua memória” (2007, p. 71).

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Há uma pequena frase dita por Gerald Thomas, dramaturgo brasileiro, afirmando que “quem não sabe o que veio antes não sabe dizer adiante”. Tomo esse pensamento como uma das justificativas para a proposta sobre a qual me debrucei durante muitos meses. Repito: conhecer a própria história é um ato de cidadania; saber o que os antecedeu e, por diversos fatores, culminou na identidade de cada um deles hoje é muito importante para a compreensão do indivíduo e do espaço que o rodeia. Logo, tal ato contribui para o desenvolvimento de um indivíduo crítico e atuante na sociedade, além de multiplicar as ações de preservação ao patrimônio cultural das cidades. Penso que fazer parte do ensino de arte, muitas vezes, é mais desafiador do que lecionar qualquer outra disciplina. Porém, visualizo seu poder transformador e uma chance de mudar tais concepções. Kasimir Malevich (1910) disse certa vez que

É certo que, tanto quanto antes, o público continua convencido de que o artista cria coisas desnecessárias, inúteis; ele não pensa que estas coisas inúteis sobrevivem através dos séculos e mantêm-se “atuais”, ao passo que as coisas necessárias, úteis, não duram muito tempo.

Após os dois anos de atuação no PIBID Artes, percebo ainda mais a realidade sobre a qual Malevich se refere e, com toda a certeza, tal afirmação reflete o ensino da arte. Conforme mencionei anteriormente, se o artista cria coisas desnecessárias, quão desnecessário seria também estudar sobre as respectivas criações? Em uma das aulas aplicadas, um dos alunos da turma 101, que se mudou para Rio Grande provindo de outro estado, registrou, em seu texto reflexivo, que as aulas haviam sido monótonas por se tratar da apresentação de dados históricos e do contexto social de uma edificação antiga da cidade. Ainda assim, esse mesmo aluno, conforme discorria em seu texto, acabara por perceber que, por mais simples que a aula pudesse ter sido, havia gostado e finalizara seu relato dizendo o quanto havia aprendido. E é nessa última palavra que eu gostaria de chegar. Enquanto refletia as palavras escritas desse educando, pensava: afinal, estou aqui para que minhas aulas sejam uma extensão do recreio? Graduo-me e revejo todo o conteúdo, acrescentando novas informações a cada aula elaborada, tudo isso com o único fim de entreter meus alunos com belas obras de arte? No primeiro momento, admito não ter ficado feliz com as palavras do aluno, mas revisitando-as, tomo ciência de que foram importantes para rever a forma como aquela aula foi oferecida aos alunos, não esquecendo também que o modo como eles a recebem também influencia no resultado, é claro.

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Esse é o processo de pesquisa-ação do qual nos valemos. É estando no campo de trabalho, com embasamento, que se apontam os problemas a que devemos dedicar atenção e que contribuem para a nossa formação docente e discente também. Como já fiz referência ao longo do texto, o tema do nosso subprojeto nos posiciona para um ensino de Artes Visuais na sociedade da informação e do conhecimento e também aborda o desafio que é, para os educadores, atuarem frente a essa realidade. Há, por isso, a preocupação com a banalização do uso da imagem, já que somos seres visuais e, no ensino de arte, a análise de imagens se faz essencial e se torna desafiante atuar em uma sociedade caracterizada pelo bombardeio de imagens, sobre a qual Calvino tece a seguinte afirmação: Vivemos sob uma chuva ininterrupta de imagens; os media todo-poderosos não fazem outra coisa senão transformar o mundo em imagens, multiplicando-o numa fantasmagoria de jogos de espelhos-imagens que em grande parte são destituídas da necessidade interna que deveria caracterizar toda imagem, como forma e como significado, como força de impor-se à atenção, como riqueza de significados possíveis. Grande parte dessa nuvem de imagens se dissolve imediatamente como os sonhos que não deixam traços na memória; o que não se dissolve é uma sensação de estranheza e mal-estar. (1990, p. 73. Apud Buoro, p. 48)

Esse mal-estar a que Calvino se refere provém em parte da impossibilidade de ler imagens. Como seria possível isso, ficamos pensando, se vivemos bombardeados por elas? Ao fim, chega-se à conclusão de que se essas imagens emergem, mas logo se dissolvem sem deixar resquício ao menos na memória, resultaríamos em um estágio no qual somos incapazes de ler uma imagem sequer quando necessário. Calvino ainda se questiona:

(...) que futuro estará reservado à imaginação individual nessa que se convencionou chamar a “civilização da imagem”? O poder de evocar imagens in absentia continuará a desenvolver-se numa humanidade cada vez mais inundada pelo dilúvio das imagens pré-fabricadas? Antigamente a memória visiva de um indivíduo estava limitada ao patrimônio de suas experiências diretas e a um reduzido repertório de imagens refletidas pela cultura (...). Hoje somos bombardeados por uma tal quantidade de imagens a ponto de não podermos distinguir mais a experiência direta daquilo que vimos há poucos segundos na televisão. Em nossa memória se depositam, por estratos sucessivos, mil estilhaços de imagens, semelhantes a um depósito de lixo, onde é cada vez menos provável que uma delas adquira relevo. (1990, p. 107, apud Buoro, p. 51)

Durante a atuação no Pibid, não nos valemos dos trabalhos dos alunos como material de análise artística – embora possam caracterizar-se assim, de acordo com o rumo de uma pesquisa. Os trabalhos foram, na verdade, o resultado de um ensino formador, tanto docente quanto discente, e designam a produção qualitativa, fruto desse fazer.

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Entretanto, ainda assim se configurou como um desafio ensinar por meio de imagens. Inúmeras vezes competíamos em sala de aula com os celulares dos alunos, que possuem acesso à internet, o que os fazem portadores de todas as imagens e informações passíveis de serem localizadas pelo simples uso de uma palavra e um clic em um botão. Professores e estudantes convivem e consomem, inevitavelmente, grande parte das imagens lançadas na sociedade, de modo que se torna difícil o ensino através delas, mas não impossível. Pensando nisso, buscamos utilizá-las durante as aulas de forma investigativa, instigando os educandos a olharem-nas criticamente e solicitando que apontassem elementos contidos nelas, pois, como consequência de tal exercício, aprontaríamos,

[...] os alunos para a compreensão da gramática visual de qualquer imagem, artística ou não, na sala de aula de artes, ou no cotidiano, e que torná-los conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-los para compreender e avaliar todo o tipo de imagens, conscientizando-os do que estão aprendendo com essas imagens. (PILLAR apud MEDEIROS, p. 286, 2010)

Esse ato, se obtido com sucesso, acaba com aquele temor descrito por Calvino, citado anteriormente, de consumir imagens para que logo se esvaiam como fumaça em nossas mentes. Se proporcionarmos a nossos educandos tal experiência de avaliação imagética, eles não serão afetados negativamente pelo bombardeio da civilização da imagem. Ao contrário, aprenderão a usufruir delas, filtrando o que elas têm a oferecer no âmbito do conhecimento. O que fica desta proposta, além de tudo que já foi mencionado, são as diversas possibilidades que há para um ensino qualificado de arte, transpondo o desenho livre e da linha do tempo fechada, conhecidos por mim, devido à experiência discente no ensino básico. Mais ainda: julgo ter obtido êxito em se tratando da junção que fizemos entre ensino de arte, patrimônio e arquitetura. Não foi um trabalho social, mas que, sem sombra de dúvidas, desencadeou uma mudança cultural e social na vida de cada educando das duas instituições que participaram conosco dessa formação – algo que se deu em ambos os lados. Fica para mim a possibilidade de o docente ver a cidade como livro aberto, lócus de aprendizagem e que provê material e vivências suficientes para qualificar o ensino e contribuir para a formação intelectual e social dos educandos, bem como para promover a (re) significação do patrimônio cultural da cidade do Rio Grande. Todo o esforço e estudo feitos para o desenvolvimento das ideias aqui apresentadas só reafirmam o fato da importância de prover oportunidades de um licenciando exercer a docência, que vão além do estágio supervisionado, requisito para a graduação. Conforme já

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mencionei, um fazer docente (re) significado que possibilite uma formação continuada: ao mesmo tempo em que se está cursando a graduação, é de um aproveitamento riquíssimo. Concluo este trabalho, mesmo sendo ele o marco do início de minha trajetória docente, com a fala do educador dos educadores, Paulo Freire. O trecho, extraído de um dos seus escritos, define o porquê desta monografia, das afirmações de que foi um processo mútuo de formação e que esse processo não termina, mas é constante e repleto de significações, em razão das trocas dialógicas estabelecidas. Estamos diante de uma conclusão, mas que não significa um fim: é só um começo!

[...] quem forma se forma e reforma ao formar, e quem é formado forma-se ao ser formado. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender. Não há docência sem discência. (FREIRE, 1998, p.25)

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ANEXOS ANEXO 1 PARTICIPARAM DA COMUNIDADE DO CARMO EM RIO GRANDE

Sob a função de párocos/superiores 1. Fr. Serafim de S. Teresa (1917/18); 2. Fr. Paulino de S. José (1918/24); 3. Fr. Sigismundo S. L. Gonzaga (1924/33); 4. Fr. Florentino de S. José (1933/36); 5. Fr. Caio de S. José (1936/46); 6. Fr. Higino de Jesus Maria (1948/50; 1952; 59/63; 76/79); 7. Fr. José Maria de Jesus (1952/53; 58/59; 66/68); 8. Fr. Redento da Eucaristia (1953/58; 1963/66); 9. Fr. Rodrigo de S. Teresa (1951); 10. Fr. Geraldo de S. Teresa (1968/1969); 11. (1973/76); Fr. Antonio do Ssmo. Sacramento (1969/73 – 88/89); 12. Fr. Guilherme da I. Conceição (1979/81); 13. Fr. Aloisio da Virgem do Carmo (1982/87; 90/95); 14. Fr. Geraldo de Santa Teresa (1988/89); 15. Fr. Herminio Gil de S.José (1996); 16. Fr. Francisco Geriboni (1997/98 – 2002/07); 17. Fr. Davi A. Soares de M. Imaculada (1999/01); 18. Fr. Paulo Prigol do E. Santo (2007); 19. Fr. Ari de Souza de S. Francisco (2008/10).

Alguns deles exerceram o encargo de párocos por pouco tempo (como Fr. Rodrigo e Fr. Geraldo); no entanto, residiram a maior parte de suas vidas nessa comunidade. Também foram membros dessa comunidade, ao longo desses cem anos (completos em 2011):

20. Fr. Roberto (1917/20); 21. Fr. Theodósio (1917/19); 22. Fr. Stephano (1918/20);

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23. Fr. Estêvão de S. Teresa (1918/19); 24. Fr. Patrício (1919/24; 28/29; 31/34; 47/48; 25. Fr. Robustiano (1920/23); 26. Fr. Rufo da S. Família (1920); 27. Fr. Gerardo (1921/22); 28. Fr. Isaac (1925/28; 34/46); 29. Fr. Fillippe de S. Teresa (1923/25); 30. Fr. Adolpho (1924/27); 31. Fr. (Fausto (1925/26); 34/36); 32. Fr. Teófilo (1926; 72/88); 33. Fr. Abelardo (1927); 34. Fr. Inocêncio (1928); 35. Fr. Fortunato (1928); 36. Fr. Aurélio (1928/29); 37. Fr. Henrique de J. Maria (1928/34; 36/37); 38. Fr. Mariano de S. J. da Cruz (1928/32); 39. Fr. Basilio (1928; 1963); 40. Fr. Luis Maria (1929/32); 41. Fr. Honório; (1930/33); 42. Fr. Emanuel (1930; 36/39); 43. Fr. Emilio (1933/35); 44. Fr. Felix Maria (1940/41; 49/50; 56/57); 45. Fr. Domênico (1943/46); 46. Fr. Ricardo (1946/48); 47. Fr. Rodrigo (1946/59; 6062; 66/80); 48. Fr. Zacarias (1949/53); 49. Fr. Daniel (1953); Fr. Geraldo (1953/56; 60/2009); 50. Fr. Gonçalo (1957/59; 63/69); 51. Fr. Felix (1966/71); 52. Fr. Francisco (Chico- 1968- 2010); 53. Fr. Teófilo (1972/88); 54. Fr. Julio (1988/89); 55. Fr. Sidney (1996); 56. Fr. Jorge (1998); 57. Fr. Davi (1998/01); 58. Fr. Alceu (1999/01);

80

59. Fr. Canisio (2002/04); 60. Fr. Pedro Paulo (2008/09). Devem ainda ser lembrados alguns Irmãos, testemunhos vivos43, que participaram dessa comunidade:

61. Nicolau da V. do Carmo; 62. Paulino de N. S. do Carmo; 63. Mariano de S. José 64. Ciríaco de S. José; 65. João da V. do Carmo; 66. Cirilo de N. S. do Carmo; 67. Antonio Soler; 68. Francisco L. de Oliveira. Atualmente, a comunidade compõe-se por: 69. Irmão Luis Maria; 70. Dércio Lang; 71. Frei Ari Souza; 72. Irmão Francisco de Oliveira.

43

Dados coletados em 2010.

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ANEXO 2

1. Introdução ao patrimônio cultural Objetivos: Estabelecer relações com o conhecimento individual acerca do conceito de patrimônio e dos bens culturais do Rio Grande. Aplicar o entendimento sobre patrimônio cultural no seu cotidiano, principalmente quando se trata da relação com o colégio e sua estrutura física. Conteúdos: Conceito base de patrimônio cultural Metodologia - Solicitação aos alunos que escrevessem o seu entendimento em relação à palavra patrimônio - Apresentação de imagens representativas do conceito base/inicial de patrimônio - Exposição dialogada acerca das imagens vistas e de sua relação com o conceito abordado, partindo para o conceito de patrimônio cultural e nosso papel frente a esses bens - Atividade prática no ambiente escolar; escolha de um dos espaços com que mais se identifica, fotografá-lo e a seguir trabalhar a foto, fazendo alterações, na ferramenta de edição on-line Be Funky. - Explanação da atividade da próxima aula, fazendo uso da fotografia realizada. Referências: LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2006. Coleção Primeiros Passos; 51. Site BeFunky: http://www. Befunky.com

1. Juvenal Miller – Bem Cultural Objetivos: Aprender um pouco mais sobre a história do Colégio Juvenal Miller, desencadeando uma (re) significação do mesmo a partir do conhecimento de novos fatos na história do prédio. Conhecer o trabalho do artista Ben Heini e produzir com referência a ele. Conteúdo: Patrimônio Cultural

82

Metodologia - Apresentação do contexto histórico do Colégio Juvenal Miller bem como de imagens da trajetória do prédio na cidade - Apresentação, em multimídia, do trabalho do artista Ben Heini - Atividade prática: a partir das imagens feitas na aula anterior, realizar a ampliação da foto em papel A4, utilizando materiais básicos, como lápis, lápis de cor, régua. - Fechamento: reflexão individual acerca das atividades realizadas e principalmente da relação de cada discente com o colégio Juvenal Miller.

Referências: SOARES, André Luiz Ramos; Klamt, Sérgio Célio (Orgs.). Educação Patrimonial: Teoria e Prática. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2007. Ben Heine, web site: www.benheine.com. Acesso em 12 de julho de 2012.

3. Saída centro histórico – Conhecendo nosso patrimônio cultural Objetivos: Aprender sobre a história e os aspectos arquitetônicos de alguns prédios da nossa cidade e (re) significá-los assim como conhecimento de seu próprio bem cultural. Conteúdo: Patrimônio Cultural Metodologia: - Apresentação da proposta de trabalho - Divisão da turma em três grupos - Divisão da turma em grupos, para que em tal conformação visitem apenas um dos seguintes prédios: Alfândega, Igreja Nossa Senhora da Conceição e Igreja do Carmo - Exposição dialogada sobre o histórico e os elementos arquitetônicos de cada prédio. – Retorno à sala de aula e explanação da atividade para a próxima aula, referente a essa saída.

Referências: SOARES, André Luiz Ramos; Klamt, Sérgio Célio (Orgs.). Educação Patrimonial: Teoria e Prática. Santa Maria: Ed.da UFSM, 2007. DUCHER, Robert. Características dos estilos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

83

4. Seminário Referente aos Prédios Visitados na Saída ao Centro Histórico Objetivos: Conhecer aspectos históricos, arquitetônicos e identificar qual o conhecimento dos alunos sobre os prédios visitados na saída ao Centro Histórico. Conteúdos: Patrimônio Cultural Metodologia: - Apresentação da proposta de trabalho - Apresentação de seminários, referentes aos prédios visitados (Alfândega, Igreja Nossa Senhora da Conceição e Igreja Nossa Senhora do Carmo), realizados pelos grupos formados na aula anterior, para que toda a turma conheça os prédios abordados. - Análise dialogada e reflexiva sobre o seminário apresentado. Referências:

DUCHER, Robert. Características dos estilos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. HORTA, Maria de Lourdes P.; Grunberg, Evelina; Monteiro, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN Museu Imperial, 1999.

5. Seminário Referente aos Prédios Visitados na Saída ao Centro Histórico Objetivos: Conhecer aspectos históricos, arquitetônicos e identificar qual o conhecimento dos alunos sobre os prédios visitados na saída ao Centro Histórico. Conteúdos: Patrimônio Cultural Metodologia: - Apresentação da proposta de trabalho - Apresentação de seminários, referentes aos prédios visitados (Alfândega, Igreja Nossa Senhora da Conceição e Igreja Nossa Senhora do Carmo), realizados pelos grupos formados na aula anterior, para que toda a turma conheça sobre os prédios abordados. - Análise dialogada e reflexiva sobre o seminário apresentado.

Referências: DUCHER, Robert. Características dos estilos. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. HORTA, Maria de Lourdes P.; Grunberg, Evelina; Monteiro, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN Museu Imperial, 1999.

84

6. Arte-Postal

Objetivos: Aprender o que é Arte-Postal – suas origens e significações Conhecer artistas e postais de artistas como Ray Johnson e Paulo Bruscky Produzir um postal utilizando essa forma de arte.

Conteúdo: Arte-Postal

Metodologia: - Apresentação da proposta de trabalho - Apresentação em multimídia do conteúdo - Mostra de postais - Atividade prática na sala de informática, criação de um postal, realizado através de desenhos dos prédios (visitados nas saídas ao centro histórico), no programa Paint, software de edição e criação de imagem.

Referências: Museu de Arte-Postal: www.museudeartepostal.com.br/ Site Portal São Francisco: http://www.portalsaofrancisco.com.br

7. Arte-Postal Objetivos: Terminar a atividade dos postais Analisar os mesmos prontos e Realizar uma discussão acerca do trabalho. Conteúdo: Arte-Postal Metodologia:

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- Apresentação da proposta de trabalho - Continuação da atividade no laboratório de informática - Término dos postais e discussão sobre os mesmos

Referências: Museu de Arte-Postal: www.museudeartepostal.com.br/ Site Portal São Francisco: http://www.portalsaofrancisco.com.br

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ANEXO 3

O ano estava encerrando, o calor já se aproximara, os alunos começavam a inquietarem-se e os professores do PIBID Sol, Alê, Marco e Andi queriam encerrar as atividades com uma prática que canalizasse toda a euforia para uma boa produção e render um novo conhecimento. Pensando nisso, escolheram o graffiti. Já em aula, todos ouviam a explicação da teoria e, lá do fundo da sala, um aluno, Milow, gritou: - Sora, e aí, quando é que vamos pichar? Sorrindo, a professora respondeu: - Nós não vamos pichar nada, mas em algumas aulas vamos preparar o material para grafitarmos usando o stencil, que é diferente. E já vamos ver o porquê dessa diferença. Enquanto alguns alunos riam do colega, a professora retomava o conteúdo e explicou essa diferença prática entre graffiti e pichação. Milow ficara agora entusiasmado com a ideia de que a disciplina de Artes poderia ir bem além do que muitos estão acostumados por aí e que ele poderia ver na sala de aula coisas que lá fora, na rua, lhe chamavam a atenção. Na semana seguinte, com o material pronto para produzir o graffiti com stencil, alunos e professores foram até o enorme pátio interno de cor amarela do colégio. Lá, uma parede branca lhes esperava para aplicação do stencil, que produziram com imagens de edificações do centro histórico da cidade. Quase no fim da aula, quando os alunos ainda estavam grafitando a imagem, um aluno de outra turma se aproxima e observa surpreso o que os professores de Artes e colegas de escola estavam fazendo e exclama: - Bah, que legal! Também quero fazer pichação! Como num reflexo, a turma inteira se direciona a ele e, em coro, fala: - Pichação não, graffiti! Os professores ficaram orgulhos do aprendizado daqueles alunos, pois perceberam que, por mais cansativo que possa ser, devem procurar tornar suas aulas tão agradáveis quanto for possível e, com certeza, haverá aquisição de conhecimento e, o mais importante: seus alunos irão transmitir aquilo que apreenderam. Samantha Ávila Pinto

87

ANEXO 4

Relatório Semanal mês 06/2012

Data:

14 de Junho

Local:

Colégio Juvenal Miller

Horário:

9h30min às 11h

Bolsistas presentes:

Pablo Pinho, Samantha Pinto e Thays Oliveira

Bolsistas ausentes:

Pedro Gonçalves (Dispensado)

DESCRIÇÃO DA(S) ATIVIDADE(S): Em reunião com a professora Débora, foram tratados os seguintes assuntos: - Organização do horário de aula dos bolsistas, relativo à terceira semana de junho

-Organização dos planos de aula referentes aos conteúdos Perspectiva, Patrimônio e Pertencimento

-Estabelecer próxima reunião, a ser realizada dia 19 de junho às 17h30min no Colégio Juvenal Miller

88

Data:

14 de Junho

Local:

Prédio Artes/FURG

Horário:

17h30min às 19h

Bolsistas presentes:

Adrise de Souza, Érika Oliveira, Elisabeth Oliveira, Gegliane Corrêa, Pablo Pinho, Patrícia Pinto, Pedro Gonçalves, Samantha Pinto e Thays Oliveira.

Bolsistas ausentes:

Evandro Santos (Dispensado por questões médicas)

DESCRIÇÃO DA(S) ATIVIDADE(S): Em reunião com a Coordenadora Vivian Paulitsch e a professora-supervisora Débora, foram tratados os seguintes assuntos: - Organização para o Evento Investigação na Escola, nos dias 13 e 14 de julho, em Bagé.

- Apresentação, pela bolsista Adrise Ferreira, do seminário Deambulações sobre a contemporaneidade e o ensino das Artes Visuais e da Cultura Visual, do livro Abordagem Triangular (...). Ana Mae Barbosa.

Samantha Ávila Pinto Rio Grande, 17 de Junho de 2012 Bolsista Pibid-Artes Visuais FURG Responsável pelo relatório

89

ANEXO 5

90

Transcrição: Acredito que a cada aula decorrida, professores e alunos apreendem novos conhecimentos, mas também se veem frente a novos desafios. Enquanto nós bolsistas observamos os alunos em aula, rapidamente identificamos aqueles que se parecem conosco, ou seja, um aluno que tenha um comportamento semelhante àqueles que tínhamos quando na escola estávamos. Refletindo acerca disso, percebi que tal percepção é contribuinte para o nosso ensino. Quando olho para as turmas em que estamos à frente. Enxergo meus colegas do ensino médio através das atitudes destes alunos. Não é uma metodologia, mas é um pensamento que nos ajuda a entender certos fenômenos da sala e que parecem repetir-se nas escolas ao decorrer dos anos. E que, por conseguinte nos ajudam a entender alguns alunos, ao invés de ignorar os chamados “alunos problema’’ ir ter com eles, direcioná-los de uma forma que os ajude em seu desenvolvimento e não os censurando com a desculpa de “este ou aquele não tem mais jeito”. Maria Carmem, professora e pesquisadora da UNB, diz que “o professor precisa identificar as estratégias que se constituam em formas de compreender o pensamento do aluno para poder intervir nele”.

91

Sendo assim, a capacidade de identificar-se não é regra, mas é uma estratégia que em certos momentos da docência faz muito sentido e contribui para uma abordagem melhor recebida pelos alunos.

ANEXO 6

92

93

ANEXO 7

94

95

REFERÊNCIAS ALENCASTRO, Veiga Lima Passos. A prática pedagógica do professor de didática. Campinas. São Paulo: Papirus, 1989. ALVES, Cecília Pescatore; Sass, Odair (Orgs.). Formação de professores e campos do conhecimento. São Paulo: Casa do Pscicólogo, 2004. Apontamentos históricos das fundações carmelitanas no Brasil, Rio Grande. BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil. São Paulo: editora Perspectiva, 2010. _____________ (org). Arte / Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. 3ª ed. São Paulo: editora Cortez, 2010 BARTHES, Roland. A câmara clara. Lisboa: Edições 70, 2006. La chambre Claire (Note sur la photographie). Tradução: Manuela Torres. BESSEGATTO, Maurí Luiz. O patrimônio em sala de aula: fragmentos de ações educativas. Santa Maria: Evangraf, 2004. BÍBLIA, N.T. Lucas. Português. Bíblia Sagrada. Tradução revista e ampliada de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil. Cap. 23. BITTENCOURT, Circe. O Saber Histórico na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2003. CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume, 2009. CAO, Marián López F. Lugar do outro na Educação Artística – olhar como eixo articulador da experiência: uma proposta didática. In: BARBOSA, Ana Mae (org). Arte / Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. 3ª ed. São Paulo: editora Cortez, 2010. CAVALCANTI, Zélia [org]. Arte na sala de aula. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. CHING, Francis D. K. Dicionário visual de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. 3ed. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2006. CORRÊA, Ayrton Dutra (org). Ensino das Artes Visuais. Santa Maria: editora da UFSM, 2008. DUCHER, Robert. Características dos estilos. 2ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

96

Echo do Sul, Rio Grande, 12 de fevereiro de 1938. ESTEBAN, Maria Paz Sandín. Pesquisa qualitativa em educação: fundamentos e tradições. Porto Alegre: AMGH, 2010. EISNER, Elliot. Estrutura e mágica no ensino da Arte. In: BARBOSA, Ana Mae. (Org.) Arteeducação: leitura no subsolo. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2008. FABRIS, Annateresa. (Org.). Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel; Editora da Universidade de São Paulo, 1987. FERRAZERI, Celso Junior. Guia do trabalho científico: do projeto à redação final: monografia, dissertação e tese. São Paulo: Contexto, 2011. FUNARI, Pedro Paulo de Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. Flores do Carmelo, 1938. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. GALLO, Silvio. Educação Anarquista: paradigma para hoje. Piracicaba: Editora da Unimep, 1995. GONZALEZ-VARAS, Ignacio. Conservación de Bienes Culturales, Teóría, historia, principios y normas. Madri. Ediciones Cátedra, S.A., 1999 HICKMANN, Gilberto. Amigos Fortes de Deus; Província Nossa Senhora do Carmo Freis Carmelitas Teresinos 1911-2011- ocd 2010. HORTA, Maria de Lourdes P.; Grunberg, Evelina; Monteiro, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN Museu Imperial, 1999. IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO. Livro Tombo da Paróquia do Carmo. Livro I. Rio Grande. IGREJAS E CATEDRAIS. Disponível em:

http://igrejas-catedrais.blogspot.com/search?updated-

max=2011-0327T12%3A49%3A00%2B01%3A00&max-results=10. Acesso em: 26 de maio de 2011.

KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos arquitetônicos. 2ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2006. Coleção Primeiros Passos; 51.

97

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2003. LOBATO, Francisco Ollero (Coord.). Patrimônio cultural, identidad y ciudadanía. Quito: Ediciones Abya-Yala, 2010. MACHADO, Jurema de Souza et al. Ouro Preto hoje; a opção pelo patrimônio cultural. In: ZANCHETTI, Sílvio et al. Estratégias de intervenção em áreas históricas: revalorização de áreas urbanas centrais. Recife: UFPE/MDU, 1995. MARTIN, Camille. l’Art gothic em France, l’Architecture et la decoration. Paris, Librairie Centrale d’Art et d’ Architecture, Ancienne Maison Morel. POSSAMANI, Zita Rosane (org.). Leituras da cidade. Porto Alegre: Evangraf, 2010. PROJETO

CURIOSIDADES

DE

RIO

GARNDE.

Disponível

em:

http://projetocuriosidadesderiogrande.blogspot.com/2009/10/cemiterio-do-carmo.html. Acesso em 26 de maio de 2011. Jornal ‘Rio Grande’ de 03/05/1983, capa. SIMÃO, Maria Cristina Rocha. Preservação do patrimônio cultural em cidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. SOARES, André Luiz Ramos; Klamt, Sérgio Célio (Orgs.). Educação Patrimonial: Teoria e Prática. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2007. WEIMER, Günter. A vida cultural e a arquitetura na República Velha Rio-grandense 1889-1945. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. Páginas eletrônicas: http://catedraisgoticas.blogspot.com.br http://baixandogratis002.blogspot.com.br http://www.mariamaedaigreja.net http://pt.scribd.com/doc/103280349/Ecletismo http://www.retis.igeo.ufrj.br http://sanctaearchitecture.blogspot.com.br/2010/10/catedral-de-amiens.html http://www.zazzle.com.br

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