Arquivo 17: um exercício de montagem e repetição

May 19, 2017 | Autor: Fernanda Grigolin | Categoria: Feminist Theory, Contemporary Art, "Marian Apparitions" of Fatima, 1917
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Arquivo 17: um exercício de montagem e repetição [V Minicurso GMarx - Cem anos da Greve de 1917] 4 de maio de 2017. FFLCH/USP.

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Arquivo 17 é um projeto de artes visuais, idealizado pela artista Fernanda Grigolin, que parte do seu levantamento de pesquisa e documentação sobre o universo das pessoas trabalhadoras no Brasil no início do século XX, passando pela Primeira Grande Greve Operária, ocorrida no ano de 1917. Uma mulher (a mulher do canto esquerdo do quadro) é narradora que expressa sua subjetividade por meio de um arquivo: fatos históricos são convertidos em vivências interiores.

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Pressuposto: O ativista contemporâneo constrói ações que questionam as lógicas preestabelecidas do capitalismo e também as desigualdades de gênero, classe, raça, porém, ele ultrapassa lógica combativa ou de atuações em nichos. Há um potencial transidentitário no contemporâneo, e as práticas de intervenção e ação não são as mesmas que foram construídas anteriormente com a redemocratização ou mesmo com as lutas contra a ditadura. Hoje, o artista que é ativista deslocou o campo combativo da militância e presentifica a própria produção como campo político. “O artista de hoje deve ter, entre seus objetivos, o de criar ativamente um espaço que sugira um ambiente reflexivo, contestado, não como luta, mas como presença, o local da produção” (GEYER, p. 131, 2008).

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A narradora: Sou Aquela Mulher do Canto Esquerdo do Quadro A imagem (no nosso caso, a imagem técnica) pode ser vista como um ato, um lugar para a manifestação em corpo carnal de um fantasma. Um ato, um lugar para a manifestação de algo não palpável, não mais existente. Ela pode ser gatilho de uma exposição, de um trabalho de arte, que usa do artifício, da montagem, para se construir uma narrativa em fragmentos, em repetições.

A imagem da mulher me faz recordar o punctum barthesiano, ela me entrega como feminista, como artista que busca montar e remontar temas ainda urgentes, de lutas e conquistas que continuam a ser bandeiras, mesmo depois de cem anos . Punctum, para Barthes (1984), é o que punge, é o que tem força de expansão. Essa força, segundo Barthes, é quase sempre metonímica. Assim, a imagem da mulher com a mão na boca remete a outras muitas mulheres, múltiplas e diversas, que viveram naquela época como operárias e costuraram seus próprios vestidos.

Reconhecer, MONTAR e ARQUIVAR/EXPOR são as três ações essenciais para desenvolver Arquivo17. - Reconhecer fotografias, vídeos e documentos produzidos, pertencentes ao universo dos operários da Primeira República; - editar esse material, dando-lhe sentido contemporâneo por meio de um projeto artístico e trazendo à tona questões históricas e sociais do país; - exibir o arquivo formado, dando retorno ao cotidiano para fotografias, relatos e vídeos de uma dada época, ressignificados pela arte contemporânea.

A relevância dos referidos documentos da Primeira República e o valor dos arquivos e das publicações de artista — como meios de exposição da arte contemporânea e como fontes de informação fundamentais para a preservação das memórias pessoais e históricas —, bem como minha experiência e conhecimentos quanto a eles, justificam o projeto Arquivo 17. Os objetos e as imagens se sustentam dentro de um contexto, de um projeto. Frames de um filme existente, carteiras de trabalho são elementos encontrados no cotidiano. Eles não foram produzidos por mim, mas reconhecidas como pertencentes a um universo, ao projeto.

Há, na montagem, como observa Georges Didi-Huberman (2008, p. 159), uma exposição anacrônica das coisas que são habitualmente separadas. Todavia, é importante ressaltar que, para Didi-Huberman (2008), as imagens por si não dizem nada até o momento em que alguém tome tempo para analisá-las, remontá-las e as decompor além dos clichês linguísticos e visuais.

O Impresso, a arte Impressa. É a imprensa a instância decisiva, pois é nela que surge a comparação do artista com o intelectual. E torná-la um espaço de produção válida para o artista é uma necessidade, já que ela está vinculada ao capital (BENJAMIN, 1994, p. 125).

Fernanda Grigolin e-mail: [email protected] site: www.arquivo17.com instagram: @arquivo17

Bibliografia:

DIDI-HUBERMAN, Georges. Cuando las imágenes toman BARTHES, Roland. A câmara posicion. Madrid: A. Machado clara. Rio de Janeiro: Nova Libros, 2008. Fronteira, 1980. DIDI-HUBERMAN, Georges. A __________. A morte do imagem sobrevivente: história autor. In: __________. O da arte e tempo dos fantasmas rumor da língua. São Paulo: segundo AbyWarburg. Rio de Martins Fontes, 2004. Janeiro: Contraponto, 2013.

DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo – uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. GEYER, Andrea. Now Then and How. Notes on Artistic Practice. In: SCHMIDT- WULFFEN, S t e phan (Ed.). The Artist as Public Intellectual? Viena: Schiebruegge, 2008.

SCHMIDT-WULFFEN, Stephan. Introduction. SCHMIDT-WULFFEN, Stephan (Ed.). The artist as public intellectual? Viena: Schiebruegge, 2008.

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