Arquivo Pessoal do conselheiro Camelo Lampreia

June 12, 2017 | Autor: I. Corrêa da Silva | Categoria: História Diplomática de Portugal, Arquivos Pessoais, Ralações Luso-Brasileiras
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Arquivo Pessoal do Conselheiro Camelo Lampreia Isabel Corrêa da Silva

As nomenclaturas e as fronteiras entre os conceitos de arquivos de família, espólios privados, acervos particulares, arquivos pessoais eram para mim pouco distintas, até recentemente. Tendo durante algum tempo explorado um arquivo de família(?)/ pessoal(?) para fins de investigação histórica, tornou-se a certa altura importante poder reflectir sobre o assunto1. A hipótese de me debruçar mais detidamente sobre a questão pareceu-me tanto mais sedutora quanto era débil o meu conhecimento axiológico e orgânico sobre um dos principais objectos do meu trabalho quotidiano: as fontes arquivísticas. Ao primeiro contacto com a literatura da arquivística detive-me no espanto de me descobrir diante de um gigantesco novo mundo que me era até então desconhecido. Uma espécie de universo paralelo, qual serena e profunda cripta a subsistir por debaixo do universo frenético e muitas vezes superficial em que se movimentam os historiadores e os cientistas sociais. Essa ignorância que me auto-reconheci, e que suspeitei ser partilhada por alguns dos meus camaradas de investigação, não dizia 1  Abordagens sintéticas e esclarecedoras sobre o assunto encontram-se, por exemplo, em: SILVA, Armando Malheiro – Arquivos Familiares e Pessoais. Bases científicas para aplicação do modelo sistémico e interactivo. Revista da Faculdade de Letras Ciências e Técnicas do Património. I Série. Vol. III (2004) pp. 55-84; PEIXOTO, Pedro de Abreu – Perspectivas para o futuro dos arquivos de Família em Portugal. Cadernos de Biblioteconomia Arquivística e Documentação Cadernos BAD. (2000) disponível em http://redalyc.uaemex.mx/pdf/385/38505207. pdf [consultado em Agosto de 2011]; DUCROT, Ariane – A Classificação dos Arquivos Pessoais e Familiares. Estudos Históricos. Vol. 11, nº. 21 (1998) pp. 151-168.

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respeito à exigência do patamar da pesquisa arquivística (sair da dimensão bibliográfica e ir ao documento) nem ao mandamento essencial da “críticas das fontes” que todo o investigador consciencioso tem naturalmente incorporado como um preceito ético do seu ofício. Era algo de mais profundo e complexo, mas ao mesmo tempo subtil. A profundidade da ignorância pareceu-me ser a esfera mais fácil de identificar pois que era essencialmente do foro da erudição. Do desconhecimento que me pareceu que os historiadores e os cientistas sociais, em geral, têm da teorização sobre as fontes desenvolvida por aqueles que têm as próprias como objecto de reflexão e trabalho: os arquivistas. Apercebi-me que, ao invés de qualquer tipo de desprezo pelo documento, substancial parte dessa ignorância era, na verdade, devida a uma espécie de embrutecimento causado pela sofreguidão insaciável do investigador pelas fontes: muitas, inéditas, de acesso rápido mas de preferência difícil (para os outros), e que acima de tudo sirvam para corroborar a tese almejada. Perante este cenário, pareceume ser legítimo perguntar se a atitude do investigador face à documentação não se aproximava, muitas vezes, à de um psicopata: a de pura instrumentalização impassível. Quando digo “instrumentalização” não quero dizer desonestidade, porque não é disso que se trata. Trata-se essencialmente de uma questão de insensibilidade. De uma incapacidade ou desinteresse em estar atento e ser conhecedor do Outro (neste caso das fontes) para lá daquilo em que ele nos é útil. E nesse sentido, pouco importa ao historiador o infinito leque de teorizações metodológicas, organizativas, conceptuais, taxionómicas feitas por arquivistas ou outros manejadores profissionais do documento sobre os fundos que ele precisa “consumir” para sustento do seu argumento. No limite, poder-se-ia dizer que, em certa medida, esta advertência também é aplicável a todos os subdomínios temáticos com que o investigador se depara no decurso da sua pesquisa e de cujo aprofundamento prudentemente se desvia a bem da exequibilidade do seu trabalho. O investigador tem inevitavelmente de ignorar. Mas acima de tudo tem de ter a sensibilidade necessária para saber ignorar e, ao mesmo tempo, para saber gerir a sua ignorância. Sintetizando: ao primeiro levantar do pano do mundo da arquivística, a erudição revelou-se-me como o primeiro problema. Como adquirir a erudição necessária para abarcar a produção académica sobre a própria epistemologia do documento e que poderia ser da maior utilidade ao trabalho de investigação do historiador? Se a primeira constatação de ignorância se deteve no âmbito da extensão deste universo epistemológico, a segunda prendeu-se essencialmente com o reconhecimento da complexidade da já referida insensibilidade do investigador face ao documento. Para além de um desinteresse teórico (em relação ao historial e a todo o universo de produção teorética sobre a natureza e origem do documento) muitas vezes o investigador revela também uma insensibilidade empírica na relação íntima e directa – no

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tête-à-tête – que desenvolve com o documento. Muitas vezes a própria automatização dos procedimentos crítico-metodológicos funciona no sentido inverso do que era desejável. Levando a que a crítica das fontes seja, amiúde, pouco mais que o cumprimento de um pró-forma desprovido de uma reflexão verdadeiramente séria. E neste ponto, para além de todos os dispositivos de desconfiança e verificação de que o investigador se possa valer, a sensibilidade e a vontade podem ter um papel fundamental. Ambos os requisitos implicando, naturalmente, disponibilidade. Disponibilidade para ver, para ouvir, para conhecer a fonte para além da mera recolecção de dados e, consequentemente, para tentar compreendê-la na sua essência. Neste patamar cognoscitivo, e em particular no que respeita às fontes arquivísticas, para além das informações passíveis de retirar de um determinado conjunto de documentos, o arquivo é em si mesmo uma fonte – ontologicamente: não no que ele tem, mas no que ele é. No caso dos arquivos privados essa questão é flagrante e tradicionalmente consensual2. Ao contrário dos arquivos institucionais, que estão sujeitos a regras mais rígidas e supostamente mais neutras de acumulação, os arquivos privados têm na liberdade de critério de acumulação de que dispõem o veneno que os perverte e os transforma em objectos necessariamente interpretáveis3. Os pessoais em particular resultam de tal forma de critérios incontroláveis – de arbitrariedade ou de intencionalidade – que faz todo o sentido que, mesmo antes do seu conteúdo, seja na compreensão da sua natureza que o investigador deva deter-se. Tudo isto são questões batidas e debatidas há muito tempo por muita gente, e o tom de descoberta e maravilhamento que perpassa das páginas precedentes deve ser entendido com a clemência devida a quem desde início fez um acto de contrição da 2   Sigo a este respeito a classificação utilizada por Terry Cook entre arquivos institucionais (públicos ou privados) e arquivos pessoais. Classificação que diverge, por exemplo, do tipo de distinção que se faz no Brasil entre arquivos públicos e privados. Ambos os modelos têm os seus defensores e os seus pontos fortes. Pelo que não é de ânimo leve que se opta por um deles, tanto mais que os arquivos de família se encontram precisamente num limbo que pode encontrar bons pontos de equilíbrio tanto num como noutro modelo. São várias as questões que se colocam: os arquivos de família são pessoais (uma acumulação de arquivos pessoais)? Ou são institucionais (pode a família ser entendida como uma instituição)? Não se coloca tanto a dúvida de que sejam privados, mas recuando a espaços societários do tipo de Antigo Regime, a distinção entre público e privado vai-se esboroando, ainda mais flagrantemente no caso de pessoas que exerceram funções políticas ou de representação. Cfr. por exemplo COOK, Terry – Arquivos Pessoais e Arquivos Institucionais: para um entendimento arquivístico comum da formação da memória em um mundo pós-moderno. Estudos Históricos. Vol. 11, nº. 21 (1998) pp. 129-149; e CAMARGO, Ana Maria de Almeida – Arquivos Pessoais são arquivos. Revista do Arquivo Publico Mineiro. Ano XLV, nº. 2 (2009) pp. 26-39. 3   Esta tem sido tradicionalmente uma distinção axiológica que separa arquivos institucionais (supostamente mais fiáveis) de arquivos pessoais (mais construídos, e por isso mais artificiais). Terry Cook tem-se empenhado em desfazer esta ideia, chamando a atenção para o imperativo de se ter em conta a historicidade dos critérios de acumulação e dos agentes que os põem em acção também ao nível institucional. E como esta consciencialização deve ser suficiente para fazer cair por terra essa tendência maniqueizante entre arquivos fiáveis e arquivos traiçoeiros… porque, no limite, toda a acumulação a que o historiador tem acesso é resultante de um processo selectivo para o qual concorrem agentes que não são em si mesmo indefectíveis. E por isso, todo o arquivo é traiçoeiro e ao mesmo tempo fiável, porque a memória (materializada ou não) é tudo o que se dispõe para a escrita da História. Cfr. COOK, Terry – Arquivos Pessoais e Arquivos Institucionais..., cit.

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sua ignorância sobre o assunto. No presente momento é para mim bastante claro que o meu objecto de estudo não é um arquivo de família, mas sim um arquivo pessoal (dividido entre 2 famílias). Este esforço de reflexão concedeu-me a oportunidade de ver a interdisciplinaridade para além do académico. Para lá das disciplinas e das infinitas possibilidade de interacção entre elas, revelou-se-me clara a utilidade do diálogo com a arquivística para ascender a níveis de maior intimidade com os instrumentos de escrita da História. Havendo disponibilidade para mútua interpelação, o contacto com o arquivo pode, e deve, ser bem mais do que a simples consulta das fontes.

a) Arquivo pessoal do conselheiro Camelo Lampreia: a pessoa4. João de Oliveira de Sá Camelo Lampreia nasceu na cidade do Funchal, ilha da Madeira, a 16 de Setembro de 1863, filho de D. Sindina d’Oliveira Lampreia e de Francisco Joaquim de Sá Camelo Lampreia (formado em medicina, figura de algum destaque no seio do partido Histórico, amigo do duque de Loulé, foi deputado entre 1864 e 1874). João Camelo Lampreia ingressou na carreira diplomática aos 19 anos, sendo nomeado adido à legação de Portugal na Suécia, cargo de que nunca chegou a tomar posse. Serviu, a seguir, na secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, na embaixada junto da Santa Sé, na legação de Espanha e na legação de Itália. Em 1896 foi enviado como encarregado de negócios para a legação do Rio de Janeiro, com a incumbência de mediar a questão da Ilha da Trindade em disputa entre o Brasil e a Inglaterra5. Em 1900 foi elevado a chefe da representação brasileira, como ministro 4   Os dados biográficos sobre o conselheiro João Camelo Lampreia resultam de uma síntese de recolhas de diferentes proveniências. Material publicado: nota biográfica em O Livro de Ouro, Comemorativo da visita de Sua Magestade El-Rei D. Carlos I aos Estados Unidos do Brazil e da Abertura dos Portos ao Comercio Mundial (1908); um pequeno opúsculo intitulado Homenagem ao senhor conselheiro Camelo Lampreia director da “Previsora Rio Grandense”, por occasião da data do seu anniversário natalício, a 16 de Setembro de 1921 (1921); Annuário Diplomático e Consular Portuguez, anos de 1896-1897 e 1898. Sobre o pai do conselheiro: MOREIRA, Fernando – Francisco de Sá Camelo Lampreia. In, MÓNICA, Maria Filomena – Dicionário Biográfico Parlamentar; Lisboa: Assembleia da República, 2004, Vol. II, pp. 487-489. Sobre os descendentes do conselheiro em LAMPREIA, Luiz Felipe – O Brasil e os Ventos do Mundo. Memórias de cinco décadas na cena internacional, Rio de Janeiro: Objectiva, 2010; e alguma informação dispersa de imprensa tal como: Conselheiro Camelo Lampreia. O Mundo Elegante, Revista quinzenal ilustrada. Paris, Ano VIII, nº. 6 (20 Março 1905) pp. 82-83. ou Exc. M. le Conseiller J. de Sá Camelo Lampreia. La Revue Diplomatique. Paris, Ano 32, nº. 42 (17 Outubro 1909) pp. 1-2. Outros recursos não públicos: notas biográfico-genealógicas sobre João Camelo Lampreia que se encontram guardadas com a restante documentação do espólio e que devem resultar de pesquisas feitas por Eugénio da Cunha Freitas; de informação recolhida pessoalmente junto do bisneto; de uma comunicação apresentada pelo embaixador Dário de Castro Alves à Academia Portuguesa da História intitulada: Os últimos tempos de vida do conselheiro Lampreia no Rio de Janeiro, em sessão evocativa do cinquentenário da sua morte, a 20 Outubro de 1993; e dos Apontamentos sobre a minha carreira (1932) da autoria do próprio conselheiro Camelo Lampreia. 5   A Ilha da Trindade é uma pequena ilha deserta, com uma área de menos de 10 km2, situada a cerca de 1200km da costa brasileira do Espírito Santo. Em finais de 1894 a Inglaterra ocupou a dita ilha com o propósito de aí instalar uma estação de carvão e de servir de base de apoio para o lançamento de cabo submarino até ao sul do

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de 1ª classe. Foi-lhe conferido o título de conselheiro em Fevereiro de 1902 e em 1906 foi-lhe concedida a mercê da Grã-Cruz da Ordem de Cristo6. Durante a sua estadia no Brasil, Lampreia foi uma figura de extraordinária influência na colónia, não só pelas fortes redes de contactos que tinha com a metrópole, por via do partido Regenerador, como pela extensa teia de relações que também dispunha no seio da política brasileira. Mas, a partir de 1906, o que passou a ser um activo de peso no currículo de Lampreia foi a sua amizade com João Franco e com o conde de Arnoso, secretário particular do rei D. Carlos. Desde cedo que Lampreia integrou, com Arnoso, o rol de apoiantes de João Franco, por isso, quando em 1906 se formou um governo franquista, a propaganda favorável ao franquismo junto dos portugueses no Brasil foi algo natural. É muito possível que Lampreia tenha sido um dos indirectos promotores da célebre mensagem talassa que a elite da colónia portuguesa no Rio de Janeiro enviou ao chefe do governo português em finais de 19077. Em 1908, na sequência da limpeza aos baluartes franquistas que se fez durante o governo de acalmação de D. Manuel II, Lampreia foi enviado para Haia onde, apesar dos vários manejos e esforços para regressar ao Rio, acabou por ficar até 1910. Com a implantação da república em Portugal, Lampreia abandonou a carreira diplomática e fixou-se com toda a família no Rio de Janeiro, onde sobreviveu inicialmente graças continente americano. O governo brasileiro só se apercebeu desta ocupação alguns meses depois, pela imprensa, e foi, portanto, só a partir de Julho de 1895 que se encetou a disputa entre o Brasil e a Inglaterra pela posse da ilha. A Inglaterra propôs o recurso a arbitragem internacional, mas o Brasil recusou esse instituto. A questão acabou por ser resolvida, em detrimento das pretensões britânicas, por mediação portuguesa, em particular de João Camelo Lampreia, enquanto encarregado de negócios da legação portuguesa no Rio de Janeiro. Sobre o assunto veja-se ARRAES, Virgílio Caixeta – A república insegura: disputa entre o Brasil e a Grã-Bretanha pela posse da ilha da Trindade (1895-1896). Cena Internacional, Ano 2, nº. 1 (Junho 2000) pp. 5-29. 6   Título de conselho por mercê de 6 de Fevereiro de 1902, Mercês de D. Carlos. Próprios. Lv. 16, p. 239v. Mercês de comendador e grã-cruz da Ordem de Cristo de 4 de Janeiro de 1906, Mercês de D. Carlos. Próprios. Lv. 22, p. 145 e Lv. 23, p. 67. 7  A mensagem, firmada por 30 mil subscritores, depois de alongados elogios à obra redentora do presidente do conselho terminava nos seguintes termos: «Talassa! Talassa! O mar! O mar! Eis o grito de entusiasmo com que os de Xenofonte saudaram, no ponto Euxino, a redenção. Um governo! Um governo! Eis o brado uníssono com que Portugal […] saúda, felicitando-se com V. Exa. a redenção no governo de Franco Castelo Branco», apud MARTINS, Rocha – João Franco e o seu tempo. Lisboa: Ed. Autor, 1925, p. 392. Quando a missiva foi enviada, Camelo Lampreia estava em Portugal a tratar dos preparativos para a viagem que o rei D. Carlos faria ao Brasil em Junho do ano seguinte, daí tenha dito que ele terá sido um dos “promotores indirectos”. Se a mensagem talassa não foi ideia sua, o terreno que a tornou possível e toda a onda de entusiasmo e devoção da colónia portuguesa no Brasil ao projecto político de João Franco, foram sem dúvida fruto do seu labor. A mensagem causou furor entre a opinião pública portuguesa, a imprensa das várias oposições notou, apregoou e explorou o seu tom grandiloquente e daí em diante nunca mais se escusou de se referir aos apoiantes de João Franco como os talassas. Depois de 1910 todos os monárquicos ou opositores da república foram cunhados de talassas, por conseguinte a expressão atravessou um século como sinónimo de conservador ou reaccionário. Cfr. SILVA, Isabel Corrêa da – A génese dos talassas: a colónia portuguesa do Brasil e o franquismo. In, Actas do XIX Colóquio de História Militar 100 anos de regime republicano. Politicas, rupturas e continuidades. Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2011 [no prelo]; e SILVA, Isabel Corrêa da – Talassas em trânsito: a colónia portuguesa no Brasil e a reacção monárquica em Portugal. In, Actas do Colloque International Ecrire le Passé et Construire l’avenir: Intellectuels, penseurs, écrivains, regards croisés Portugal-Brésil (1910-2010). Paris/Nanterre: 2012 [no prelo].

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ao apoio dos amigos e contactos que havia feito durante os seus mais dez anos ao serviço da Legação portuguesa. Foi presidente da companhia de seguros “Urania” e das “Loterias Esperança” e director-secretário da “Previsora Rio Grandense”. Depois de uma passagem de breves anos por Lisboa, em inícios da década de 30, durante a qual conseguiu obter a reintegração na carreira diplomática, morreu no dia em que completava 80 anos, a 16 de Setembro 1943. A sua descendência continuou no Brasil. O diplomata português foi matriz de uma estirpe de diplomatas brasileiros: seu filho, seu neto e seu bisneto fizeram todos carreira no Itamaraty, chegando o seu bisneto, Luiz Felipe Lampreia, a ministro das Relações Exteriores (1995-2001) durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso.

b) Arquivo pessoal do conselheiro Camelo Lampreia: o arquivo. O meu encontro com o arquivo pessoal do conselheiro Camelo Lampreia deu-se pela via bibliográfica: quando há uns anos atrás, ao dar início à pesquisa para a minha dissertação de doutoramento deparei, nas actas do colóquio da Académica Portuguesa da História A Diplomacia na História de Portugal (1980), com um artigo de Eugénio da Cunha Freitas8 intitulado «O conselheiro Camelo Lampreia, diplomata, um espólio valioso»9. Eugénio da Cunha Freitas não esclarece como o espólio lhe foi parar às mãos, explica apenas que foi «por um simples e feliz acaso» que foi possível salvá-lo da inteira destruição. Diz ainda saber que o espólio não está completo, mas concluí que «com certeza Camelo Lampreia levou a parte principal quando definitivamente retirou para o Rio», onde terá redigido as suas memórias – que Cunha Freitas diz nunca ter chegado a consultar por estarem na posse dos descendentes do conselheiro no Brasil.

8   Eugénio Andrea da Cunha Freitas, Lisboa (1912-2000). Formado em Direito, foi secretário da Câmara dos Administradores de Falências do Porto. Estudioso da História e da Genealogia, tem uma vasta obra publicada nessas áreas. Foi membro da Academia Portuguesa da História e, desde 1992, sócio de Mérito dessa instituição. 9   FREITAS, Eugénio da Cunha – O conselheiro Camelo Lampreia, diplomata. Um espólio valioso. In, A diplomacia na História de Portugal – Actas de Colóquio. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1990, pp. 311-332.

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Nesse artigo, Cunha Freitas enumera as assinaturas sonantes (portuguesas e brasileiras10) que constam no conjunto epistolar do espólio, bem como os principais grandes temas que dele ressaltam11: – conflito entre a Inglaterra e o Brasil sobre a Ilha da Trindade, decidido por mediação portuguesa, negociada por Camelo Lampreia (1896). – viagem de D. Carlos a Inglaterra (1904). – viagem da canhoneira Pátria ao Brasil (1905), em agradecimento à colónia portuguesa que a oferecera a Portugal depois do Ultimato. – projecto da viagem de D. Carlos ao Brasil (1908). – sucessos políticos de vária ordem (1892-1913). – minudências da vida diplomática. Mas ainda antes da publicação deste artigo, algures na década de cinquenta do século XX, Rodrigues Cavalheiro12 já tinha tido acesso ao arquivo e às memórias (ou cópia delas?) de onde retirou informações que utilizou para a escrita de alguns dos seus trabalhos: D. Carlos I e o Brasil (1957), A evolução espiritual de Ramalho (1962) e O regicídio de 1908 e a “rigorosa e implacável” lógica das suas consequências (1965). Neste último, Rodrigues Cavalheiro diz estar a preparar um ensaio documentado sobre a viagem de D. Carlos ao Brasil com base no referido espólio epistolar13. Infelizmente esse trabalho nunca veio a lume. 10   Eugénio da Cunha Freitas enumera as seguintes assinaturas de exemplares epistolares presentes no arquivo: «rainhas D. Amélia e D. Maria Pia, reis D. Carlos e D. Manuel II, príncipe Real D. Luís Filipe, João Franco, Tomás Ribeiro, Eduardo Vilaça, Venceslau Lima, Condes de Arnoso, de Sabugosa, de Paço Vieira, de Tarouca, de Paraty, de Bertiandos, da Ribeira Grande, dos Marqueses de Castelo Melhor, do Faial, de Lavradio, dos Duques de Palmela, Condes de Arnoso (João e Vicente), Viscondes de Pindela, de Santo Tirso, Conselheiros Martins de Carvalho, Matoso dos Santos, Rodrigo Pequito, José Luciano de Castro, Júlio Vilhena, António de Azevedo Castelo Branco, António Cândido, João Arroio, Jacinto Câncido, Hintze Ribeiro, Ferreira do Amaral, Gomes Teixeira, Barros Gomes, Carlos du Bocage, Alberto de Oliveira, Júlio de Castilho, José Dias Ferreira, Emídio Navarro, José Maria de Alpoim, João de Azevedo Coutinho, Comandante António Pinto Basto, António Sérgio, Sousa Monteiro, Aquile Machado, Antero de Figueiredo, Agostinho de Campos, Carlos Malheiro dias, Óscar da Silva, Artur Napoleão, Viana da Mota, Rui Ulrich, Virgínia de Castro Almeida, Manuel da Silva Gaio, António Feijó, Columbano, Jorge Colaço, Luciano Cordeiro, Campos Henriques, D. António Barroso José Malhoa, Veloso Salgado, Teixeira Lopes, José de Azevedo Castelo Branco, Espírito Santo Lima, Ramalho Ortigão, Costa Mota, Sousa Lopes, Aníbal Soares, Tomás Costa, Visconde de Alte, Luís Teixeira de Sampaio. Dos Brasileiros, Afonso Pena, Campos Sales, Oliveira Lima, Rui Barbosa, Rio Branco, Machado de Assis, Max Fleuiss, Ouro Preto, Olavo Bilac, Coelho Neto, Conde de Adonso Celso, Joaquim Nabuco, Ramiz Galvão, Rodrigues Alves e tantos outros» FREITAS, Eugénio da Cunha Freitas – O conselheiro Camelo Lampreia..., cit, pp. 311-312. 11   FREITAS, Eugénio da Cunha Freitas – O conselheiro Camelo Lampreia ..., cit., pp. 312-314. 12  António Rodrigues Cavalheiro, Lisboa (1902-1984). Formado em História e Geografia pela Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário. Foi deputado à Assembleia Nacional e exerceu vários cargos político-administrativos: procurador à Câmara Corporativa, pelos homens de letras; director do Serviço Cultural da Mocidade Portuguesa. Estudioso da História portuguesa, em particular da época contemporânea, publicou vasta obra sobre o assunto. Foi também sócio da Academia Portuguesa da História. 13   No referido artigo, Eugénio da Cunha Freitas confirma esta informação, dizendo que algumas cartas do arquivo (do conselheiro Luís de Magalhães, do conde de Figueiró e de Luciano Monteiro) foram emprestadas a Rodrigues Cavalheiro que nunca as chegou a devolver.

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Tudo isto me pareceu aliciante o suficiente para me pôr em campo em busca do dito arquivo. Numa primeira fase cheguei ao contacto com os descendentes de Eugénio da Cunha Freitas e actuais proprietários da componente portuguesa (Vila Nova de Gaia) do arquivo. Numa segunda, contactando directamente com os descendentes do conselheiro Lampreia no Brasil, tive acesso à componente brasileira (Rio de Janeiro) do arquivo que, surpreendentemente, é apenas composta pelas ditas memórias14. Uma sintética caracterização do arquivo poderia ser a seguinte: – É composto por 14 caixas (organizadas cronologicamente, apenas por anos) com uma média de 300 documentos cada, o que faz um cômputo total de mais de 4000 documentos (na sua grande maioria manuscritos) e umas memórias inéditas com cerca de 200 páginas dactilografadas. – O seu âmbito cronológico espraia-se, nos seus limites mínimo e máximo, entre 1883 e 1922, mas concentra-se preponderantemente entre os anos de 1898 a 1908; que correspondem à parte central da missão do conselheiro no Brasil (10 caixas e cerca de 80% das memórias). – O acervo que se encontra em Portugal é maioritariamente epistolar (correspondência recebida), mas contém também telegramas; bilhetes; cópias e esboços de relatórios de função ou outro tipo de documentação diplomática; recortes de jornais; fotografias etc. Contém ainda alguns raros rascunhos de correspondência expedida. – Se o que está em Portugal é essencialmente espólio passivo (ou seja material recebido), o que está no Rio de Janeiro é precisamente o contrário: uma versão de 200 páginas dactilografadas memórias pessoais do conselheiro (intituladas: Apontamentos sobre a minha carreira), com correcções à mão, aparentemente feitas pelo próprio (assim o sugere a caligrafia). Sugerindo também que ele as escreveu em primeira versão manuscrita, depois foi passada à máquina por outra pessoa. Entre Vila Nova de Gaia e o Rio de Janeiro, a documentação das 14 caixas do espólio organizado por Cunha Freitas e a versão dactilografada das memórias do conselheiro constituem uma unidade separada pelas vicissitudes do tempo. Devem ser necessariamente consideradas como um todo orgânico, como partes distintas do que poderia tratar-se de um projecto auto-biográfico. A dispersão e a própria 14   Para ambos os proprietários (que curiosamente não se conhecem) só tenho palavras do mais profundo agradecimento. Ao major Brito e Faro a cujo contacto cheguei em primeiro lugar e que desde o primeiro ao último momento se revelou sempre dotado de inesgotáveis paciência e simpatia: deve-se à sua generosidade ter sido possível criar condições para que, intermitentemente e ao longo de mais de um ano, eu conseguisse fazer uma consulta exaustiva das 14 caixas do arquivo que se encontrava em Vila Nova de Gaia. Ao embaixador Luiz Felipe Lampreia, palavras de igual gratidão pela confiança com que me disponibilizou os Apontamentos e outros materiais sobre o seu bisavô e uma nota particular de boa lembrança pelos gostos históricos partilhados.

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morfologia do arquivo apontam nesse sentido. Vejamos: das 14 caixas de que é composto o acervo documental, duas são de documentação sem data ou documentação avulsa; uma corresponde aos anos de 1888 a 1898; uma outra ao período entre 1911 e 1922. O grosso do arquivo, portanto, (10 caixas, cerca de 70%) concentra-se nos anos entre 1898 e 1910. O que, fazendo umas simples contas, quer dizer que, na verdade, o arquivo corresponde essencialmente a cerca 1/6 do tempo de vida do conselheiro, que viveu 80 anos. O que pensar disto? O arquivo de Vila Nova de Gaia corresponde (em termos temáticos e cronológicos), em grande medida, aos Apontamentos que estão no Rio. O arquivo é pois a massa documental das memórias e partilha, por isso, do mesmo sentido programático. Nos referidos Apontamentos, começados a escrever a 26 de Outubro de 1932, o conselheiro refere-se a Lisboa como «aqui», o que coicide com as informações biográficas que temos de que no início da década de 30 ele viveu alguns anos em Lisboa, na casa da família de sua mulher à Rua Saraiva de Carvalho. Quando regressou a Portugal para resolver as questões que tinha pendentes com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, decidido a obter reparação pela sua demissão sem justa causa decretada em 1911 por Bernardino Machado, trouxe consigo o material documental para suportar a sua demanda. Depois de várias negociações com o chefe de Governo, general Domingos de Oliveira, e com o então ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, em Janeiro de 1932 Lampreia foi finalmente reintegrado na carreira diplomática como ministro plenipotenciário de 1ª. Classe, para de seguida se aposentar15. Faz sentido que tenha sido neste ímpeto de desagravo que Lampreia tenha escrito as suas memórias, a que significativamente chamou Apontamentos sobre a minha carreira. Lampreia deve tê-los iniciado e terminado em Lisboa. E, regressando ao Brasil com a missão cumprida, deixou para trás a prova, ou seja as 14 caixas de documentação que ficaram em Portugal, na casa da família da sua mulher de onde fizeram o seu percurso até Eugénio da Cunha Freitas16. Acredito que estamos precisamente perante um exemplar daqueles arquivos “traiçoeiros”, diante de um efectivo acto autobiográfico, na expressão de Elisabeth Bruss17. A ideia de acto-autobiográfico, na linha do conceito de act of speech do linguistic turn, pode ser um precioso auxiliar interpretativo da produção memorialística, no sentido em que nos ajuda a fazer uma leitura da obra autobiográfica para lá da 15  João Camelo Lampreia foi reintegrado na carreira diplomática por decreto de lei nº 20388 publicado em Diário da República – nº. 23, Série I de 28 de Janeiro de 1932. 16   Ver árvore genealógica em anexo: Anexo 1. 17   BRUSS, Elisabeth- Autobiographical acts: the changing situations of literary genre. Baltimore: John Hopkins University Press, 1976. Sobre o aspecto «traiçoeiro» dos arquivos pessoais é particularmente esclarecedora a reflexão de GOMES, Ângela de Castro – Nas malhas do feitiço. Estudos Históricos. Vol. 11, nº. 21 (1998) pp. 121-127.

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representação ou da projecção18. À partida, não é difícil negar os dois extremos. Ou seja, que o discurso produzido por alguém sobre si próprio não corresponde a uma representação directa de um conteúdo intrínseco, nem tão pouco que não exista uma entidade prévia ao discurso do sujeito sobre si mesmo. Articuladamente posicionada entre tradicionalistas e desconstrutivistas, a noção de que «o repertório literário produzido por nós mesmos veio ocupar a mesma função orientadora que pertencia à tradição e às cosmologias perdidas» é, no mínimo, convidativa19. Convida, pelo menos, a tentar perceber como é que o autobiógrafo, como todo o homem moderno convencido do potencial infinito da sua acção individual, acredita poder criar-se (recriar-se) escrevendo sobre si próprio. Nesse sentido, a ideia de acto autobiográfico não se detém na natureza ontológica da memorialística, mas sim nas virtualidades da sua produção. Ou seja, na narrativa como dispositivo de significância e consistência do sujeito e consequentemente de identidade. Esta interpretação da produção autobiográfica como um performativo está longe ser um conceito desconstrutivista. Bem pelo contrário, é fruto de um voluntarismo bem concreto, que por sua vez também não deve ser confundido com desonestidade ou com revisionismo auto-direccionado. Ao indivíduo que recusa qualquer tipo de providência, não restam muitas alternativas senão tentar assumir o leme do seu próprio percurso. A partir de um determinado ponto da vida, pode fazer mais sentido que essa acção seja retrospectiva. Os Apontamentos que Lampreia escreve aos 70 anos de idade concentram-se essencialmente no período da sua permanência no Brasil. Mesmo que se considere que a proposta – sobre a minha carreira – se refira exclusivamente à sua carreira diplomática, o espaço ocupado pelos doze anos no Brasil (cerca de 80% tanto nas memórias como no arquivo) não é proporcionalmente representativo do total de vinte e oito anos de serviço no Ministério dos Negócios Estrangeiros, nem do restante tempo de vida activa em que ocupou vários cargos administrativos em empresas. Pelo que, tão pouco, é possível caracterizar este acervo como um arquivo de função. Este parece ter todos os atributos para ser visto como um arquivo subjugado a um sentido, a uma memória futura. A um futuro que, naturalmente, não era imune ao presente. A uma carreira diplomática frustrada pelas contingências políticas, Lampreia quis fazer ressalvar o tom da grandeza condicional com uns acordes de fatalidade. Autoproclamando-se como o condutor do percurso de resgate da fraternidade luso-brasileira, que poderia ter tido o seu clímax na viagem de D. Carlos ao Brasil em 1908. Tudo se frustrou com o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 e, como disse Agostinho de Campos, «ninguém sabe quando morre um rei o que é que morre 18   Cf.SKINNER, Quentin – Meaning and Understanding in the History of Ideas. History and Theory. Vol. 8, nº. 1 (1969), pp. 3-5. 19   CALLIGARIS, Contardo – Verdades de Autobiografias e Diários Íntimos. Estudos Históricos. Vol. 11, nº. 21 (1998), p. 48.

Arquivo Pessoal do conselheiro Camelo Lampreia

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com ele»20. Depois de 1908, muita gente procurou consolo nessa aura de virtualidade perdida, calcando o sempre reconfortante trilho do contra-factual. Essa espécie de sebastianismo invertido é claramente vislumbrável nos Apontamentos de Lampreia, mas no fundo, parece-me, que eles não são só um esforço de editing da sua vida. Estas memórias também se inserem numa concepção de certo modo tradicionalista da ideia de linhagem. Lampreia sentira-se traído e abandonado pela sua pátria. Em 1932 tinha toda a sua vida e descendência no Brasil, com um filho já integrado na carreira diplomática e um neto já funcionário do Itamaraty. O seu acto autobiográfico conferia sentido retro e prospectivo a esta sequência. Toda a sua dedicação à causa luso-brasileira, que ingratamente não lhe havia sido reconhecida em casa, podia no futuro vir a sê-lo no Brasil. Onde, quem sabe, a sua descendência poderia conseguir, como ele não conseguiu, alcançar a glória. Esta reflexão vale tanto para os Apontamentos como para o arquivo. Porque um e outro são parte do mesmo projecto pessoal. E nesse sentido deixa de ser importante perceber o que terá acontecido à restante documentação, aos outros quase quarenta anos de vida adulta praticamente ausentes deste espólio. Arquivo pessoal e pessoa são objectos de estudo distintos, mesmo que comuniquem connosco, e entre si, de forma cooperante. E, no entanto, julgo que a natureza performativa deste arquivo vale mais para a sua dimensão ontológica do que para o seu teor. Ou seja, não obstante estar ciente de que o arquivo corresponde à selecção – a uma fatia – de um determinado capítulo de uma narrativa de vida, isso não interfere com a «veracidade» dessa fatia, com a espontaneidade com que, dentro desse capítulo, a informação se revela. Isto é, parece-me que as doze caixas que constituem este dito capítulo têm demasiada documentação caótica, pessoal e irrelevante para terem sido, no seu próprio conteúdo, alvo de uma censura por parte de Lampreia. Para além da triagem natural a que toda a acumulação de papéis na vida de cada um é sujeita, a selecção do material actualmente constante no arquivo parece ter obedecido meramente a um critério temporal, correspondendo a uma idade de ouro que interessava destacar21. O conselheiro português que falhou em ser o protagonista do resgate da fraternidade luso-brasileira, seguiu construindo-se: amarrando o devir à virtualidade de um passado com sentido. Quase um século depois, o seu bisneto – brasileiro, embaixador e ministro – escreve as suas memórias políticas e edita-as no Brasil e em Portugal. Renovam-se os fios da mesma subjectividade luso-brasileira que continua a manter este acto autobiográfico suspenso entre Vila Nova de Gaia e o Rio de Janeiro.

 CAMPOS, Agostinho de – O homem, a ladeira e o calhau. Breviário de desencanto político. Lisboa: 1924.   Sobre a «veracidade» do documento em função da sua orgânica de proveniência veja-se CAMARGO, Ana Maria de Almeida – Os arquivos pessoais são arquivos..., cit., pp. 35-36. 20 21

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Anexos Árvore genealógica Maria Carolina Guimarães Palmeira Rio de Janeiro, 1909-1995

ф João Gracie Lampreia São Paulo, 1912-1995 Diplomata, MRE Brasil

Carolina de Souza Leão Gracie, Rio de Janeiro, 1886-?

ф

Luiz Felipe Lampreia Rio de Janeiro, 1941 Diplomata, MRE e Ministro das Relações Exteriores (1995-2001) Brasil

José Lima Camelo Lampreia Lisboa, 1885-? Diplomata, MRE Brasil

Funchal, 1863-1943 Diplomata, MNE Portugal

ф

MEMÓRIAS [Brasil]

João Oliveira de Sá Camelo Lampreia

Amélia Campos Ferreira Lima Lisboa, 1867-?

Amélia Augusta Campos Pereira 1841-?

ф José Ferreira Lima 1º visconde de Ferreira Lima Bragança, 1804-?

Júlia Campos Ferreira Lima Lisboa, 1869-?

ф

Eugénio da Cunha Freitas Lisboa, 1912-2000

ф

Leonor Cunha Freitas Lisboa, 1940-2009

Júlia Soares Andrea Oeiras, 1890-?

ф

João Brito e Faro Viseu, 1936

ф

ARQUIVO [Portugal]

Eugénio Soares de Almeida Lisboa 1857-?

Artur Vidal da Cunha Freitas Funchal, 1880-1951

Mª. Leonor Abranches Carvalho Lisboa, 1912-2008

Figura 1. Os quatro Lampreias: o ancião é o conselheiro, ao seu lado direito José Lampreia, à direita deste João Lampreia, o bebe é Luiz Felipe Lampreia [LAMPREIA, Luiz Felipe, O Brasil e os Ventos do Mundo. Memórias de cinco décadas na cena internacional. Rio de Janeiro: Objectiva, 2010, p. 18. Gentileza do embaixador Luiz Felipe Lampreia]

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