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May 27, 2017 | Autor: Patricia Costa | Categoria: Ethnography, Migration Studies
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Arranjos domiciliares resultantes das migrações: uma análise da comunidade de haitianos residentes em Contagem, Minas Gerais Household arrangements stemming from migrations: an analysis of the Haitian community residing in Contagem, Minas Gerais

Patrícia Rodrigues Costa de Sá (1) Duval Magalhães Fernandes (2) 1. Doutoranda em Geografia, Pesquisadora do GEDEP-Grupo de Estudos Distribuição Espacial da População (Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial, PUC Minas); [email protected] 2. Professor do Programa de Pós Graduação Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas; Pesquisador do GEDEP-Grupo de Estudos Distribuição Espacial da População (Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial, PUC Minas); [email protected] Artigo originalmente submetido ao Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios para apresentação no seminário Mobilidade Humana Hoje: abordagens de direitos humanos (GT3- Migração, Parentesco e Família), Brasília, 7 a 9 de junho de 2016.

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Resumo Este artigo é resultado de estudo etnográfico iniciado em 2014 e tem como objetivo discutir os arranjos domiciliares dos imigrantes haitianos residentes nos bairros Nacional e Petrolândia, em Contagem, Minas Gerais. Baseia-se nas contribuições teóricas de laços fortes e fracos, capital social e redes sociais, para abordar as repercussões que a configuração de domicílios no local de destino acarretam para os imigrantes e para suas famílias que permanecem no país de origem. Valendo-se de metodologia qualitativa de observação participante conduzida no país de destino, retrata a realidade dos atores que habitam os domicílios e utiliza relatos dos imigrantes para revelar e discutir suas percepções. A partir de uma análise de redes sociais, examina os laços que permeiam as estruturas domiciliares e revela os sentimentos dos imigrantes diante da nova realidade, bem como em relação às dificuldades que encontram para financiarem reunião familiar que restabeleça os arranjos domiciliares originais, articulados em torno de laços fortes e modificados pela experiência migratória. Palavras-chave: Etnografia; migrações; haitianos; família; domicílios.

Abstract The discussion presented in this paper stems from an ethnographic approach started back in 2014 and investigates the household arrangements of Haitian migrants residing in Bairro Nacional and Bairro Petrolândia, in the outskirts of the city of Contagem, Minas Gerais. It relies on the underpinnings provided by the theories of strong and weak ties, social capital and social networks to discuss how migrants´ household arrangements impact on their lives and on the lives of their families. Based on qualitative method carried out in the country of destination, it addresses the reality facing migrants in their households and relies on reports collected under techniques of participant observation to present and discuss their perceptions. Relying on the analysis of social networks, it examines the social ties based on which the household arrangements are established and presents the migrants´ feelings in relation to such arrangements, as well as the difficulties they face to finance family reunification and reestablish their original households, formerly built around strong social ties, but modified on accounts of migration. Key words: Ethnography, migrations, Haitians, family, households.

Introdução O fluxo de haitianos em direção ao Brasil cresceu a partir de 2011, impulsionado pelas condições precárias de emprego, renda, saúde e infraestrutura do Haiti, bem como pelas perspectivas de trabalho e concessão de visto humanitário aos haitianos por parte do Brasil. Os primeiros migrantes chegaram em 2010, em pequenos grupos, totalizando menos de duas centenas de pessoas, mas em fins de 2013 o número já ultrapassava 20.000 imigrantes, a maioria dos quais solteiros, do sexo masculino, com idades entre 20 e 44

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anos1. As elevadas despesas com moradia, somadas à necessidade de apoio entre os imigrantes no Brasil, levaram à configuração de arranjos domiciliares diferentes daqueles deixados no país de origem. Paralelamente, desde a chegada dos primeiros haitianos, alguns arranjos espaciais foram se consolidando na região Metropolitana de Belo Horizonte, sobretudo em torno dos bairros Petrolândia e Nacional, no município de Contagem, que concentra a maior parte das residências onde vivem os imigrantes. No bairro Petrolândia, a presença da comunidade imigrante levou à necessidade de uma representação do grupo, o que se concretizou com a criação da associação Kore Ayisyen. No mesmo bairro, há ainda uma igreja presidida por pastor de nacionalidade haitiana, em torno da qual parte dos imigrantes, adepta do mesmo culto, se reúne semanalmente. Menos articulada e um pouco mais dispersa, a comunidade do bairro Nacional congrega também imigrantes residentes em domicílios dos bairros Jardim Laguna, Ressaca e imediações, ali estabelecidos em função da proximidade com o Ceasa, primeiro local de trabalho de muitos deles. A recessão que teve início no Brasil por volta de 2014 afasta as perspectivas dos imigrantes de recuperarem a estrutura domiciliar original. Para os que permanecem no Brasil, o custo associado à migração dos parentes próximos os leva a adiar a reunificação familiar. Mesmo para os que decidem se arriscar para outros destinos, tais como o Chile, onde a oferta de trabalho e a remuneração são maiores, o recomeço noutra cultura tende a adiar a perspectiva de reunião em decorrência do tempo necessário para readaptação2, além de impactar sobre as redes de relacionamentos dos imigrantes. Este artigo foi dividido em quatro partes. Na primeira parte, são discutidas as contribuições teóricas relacionadas ao tema, notadamente sobre redes e laços sociais, família e domicílio. Na segunda parte, são apresentados os métodos de pesquisa utilizados com os grupos de haitianos do bairro Petrolândia e da região do bairro Nacional, que viabilizaram o levantamento de percepções sobre a organização dos domicílios. Na terceira parte, são discutidos os resultados encontrados e, finalmente, a quarta parte apresenta as conclusões e propostas de continuidade de estudos baseados na mesma abordagem metodológica aqui utilizada. Contribuições teóricas Embora as migrações de haitianos estejam fortemente associadas a fatores de expulsão e de atração, as redes têm se mostrado determinantes da consolidação e do crescimento do fluxo para o Brasil, no período compreendido entre 2011 e 2015. A influência das redes sociais nos fluxos migratórios internacionais é fartamente abordada na literatura3. As migrações estão inseridas em estruturas sociais já estabelecidas e alimentadas por laços de parentesco ou amizade. À medida que os fluxos de migrações internacionais se intensificam, fatores de ordem econômica revelam-se 1

FERNANDES, Duval, CASTRO, Maria da Consolação, A migração haitiana para o Brasil: resultado da pesquisa no destino, p. 52 e 55. 2 SANT´ANNA, Emilio, PRADO, Avener, Para fugir da crise, haitianos trocam o Brasil pelo Chile. 3 TILLY, Charles, BROWN, Harold C., On uprooting, kinship, and the auspices of migration, p. 142-143.

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insuficientes para entender o processo, que passa a sofrer influência da acumulação de capital social relacionado à migração, sob forma de conexões de rede4. As redes ajudam a reduzir as despesas de viagem e de estabelecimento no destino, bem como as dificuldades emocionais para os migrantes recém-chegados5. Manifestando-se sob forma de laços interpessoais, as redes ligam migrantes, ex-migrantes e não migrantes, tanto na origem quanto no destino,6 e têm sido determinantes para a configuração dos domicílios formados nas comunidades dos dois locais observados neste estudo. As redes sociais permitem que os migrantes acessem recursos intangíveis, denominados capital social7, dentre os quais destacam-se a informação e a assistência material, proporcionando aos migrantes acesso a empregos, moradia e infraestrutura física8. Relacionamentos formam a base do capital social e podem compensar a perda de capital humano do imigrante9, já que este não é integralmente transferido ao país de destino10. A mensuração do capital social, no entanto, impõem desafios metodológicos, embora o estudo das redes possa servir como referências para sua análise11. A atuação das redes está particularmente associada aos processos migratórios em cadeia, movimento pelo qual migrantes em potencial obtêm acesso a informações, meios de acesso ao país de destino, ao seu mercado de trabalho e às opções de acomodação, através de relações sociais com aqueles que já migraram12. A partir de fins de 2014 o fluxo de migrantes haitianos para o Brasil começou a perder força, em larga medida em decorrência do agravamento da crise macroeconômica no país de destino e do consequente aumento do custo de vida e da redução das ofertas de emprego. No entanto, da mesma forma que as redes estimularam as migrações de haitianos na fase de intenso crescimento do fluxo, elas também tiveram um papel a desempenhar como instrumento de informações sobre as dificuldades enfrentadas pelos migrantes já estabelecidos no Brasil. Desse modo, as redes continuaram a influenciar os fluxos migratórios, seja alertando conhecidos e parentes sobre a realidade do país em termos de renda e emprego, seja reordenando os fluxos em direção a destinos como o Chile. Diante das mudanças na mobilidade dos grupos, é natural que as redes sofram adaptações, reforçando alguns laços e enfraquecendo outros.

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MASSEY, Douglas, et al., Theories of international migration: a review and appraisal. GUNATILLEKE, Godfrey, The role of networks and community structures in international migration from Sri Lanka, p. 76-79. 6 MASSEY, Douglas, Economic development and international migration in comparative perspective, p. 396. 7 LIN, Nan, Building a network theory of social capital. 8 THIEME, Susan, Social networks and migration: Far West Nepalese labour migrants in Delhi. 9 WOOLCOCK, Michael, The place of social capital in understanding social and economic outcomes. 10 SIMÓN, Hipólito, RAMOS, Raúl, SANROMÁ, Esteban, Occupational mobility of immigrants in a low skilled economy: the Spanish case. 11 XUE, Lee, Social capital and employment entry of recent immigrants to Canada: evidence from the longitudinal survey of immigrants to Canada (LSIC). 12 MAC DONALD, John S., MAC DONALD, Leatrice D., Chain migration, ethnic neighborhood formation and social networks, p. 82. 5

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Estas adaptações reforçam a estrutura dinâmica e relacional das redes, sujeitas a reorganização e criação de novas categorias ao longo do tempo 13 14 15. Parte das mudanças nas redes se deve à reconfiguração de laços entre os atores, tanto dos que ficam no país de origem quanto dos que se estabelecem no destino16. A frequência das relações entre os atores permite classificar os laços existentes nas redes como fortes, médios ou fracos17. A consolidação de laços fracos é característica das migrações de trabalho e de refugiados, enquanto nas migrações entre familiares predominam laços fortes18. Laços entre parentes e conhecidos, sem relações de consanguinidade, são classificados como fracos, apesar de decisivos para o encaminhamento ao mercado de trabalho19. Dentre os migrantes do sexo feminino, os laços fortes exercem maior influência sobre a migração do que os laços fracos, enquanto para os migrantes do sexo masculino as redes de amizade parecem desempenhar um papel central20. As redes que operam na dinâmica migratória, determinando-a e sendo também influenciadas por ela, englobam portanto relações de parentesco e amizade, além daquelas que se processam no âmbito mais restrito da própria família. Em virtude dos laços que se processam no âmbito familiar, a discussão sobre as redes remete também à discussão sobre a definição e a amplitude da estrutura da família migrante. O conceito de família comumente adotado pelas Nações Unidas coincide com a ideia de família nuclear, na qual se destaca a formação de uma prole. Configura-se uma família estendida quando agrega outra ou outras estruturas nucleares que mantém entre si laços de consanguinidade, algo típico de sociedades rurais ou menos desenvolvidas. Já o domicílio, pressupõem a reunião de pessoas com objetivos relacionados à conveniência ou necessidade econômica21. O fortalecimento de laços com atores outros que aqueles da família original parece caracterizar a experiência migratória de muitos homens haitianos. Este fortalecimento decorre da frequência com que as interações passam a ocorrer com pessoas exteriores à família original, concomitantemente à redução da frequência das interações com a família nuclear. O conceito de família apresenta variações de acordo com os costumes e a estrutura socioeconômica de cada lugar. Assim, a família nuclear constituída em torno de laços 13

BOURDIER, Pierre, The forms of capital. TILLY, Charles, Transplanted networks. 15 SOARES, Weber, Análise de redes e os fundamentos teóricos da migração internacional. 16 FAZITO, Dimitri, Análise de redes sociais e migração: dois aspectos fundamentais do retorno. 17 GRANOVETTER, Mark, The strength of weak ties. 18 GRIECO, E.M, The effects of migration on the establishment of networks: caste disintegration and reformation among the Indians of Fiji. 19 HERMAN, Emma, Migration as a family business: the role of personal networks in the mobility phase of migration journal compilation. 20 LIU, Mao-Mei, M i g r a n t n e t w o r k s a n d i n t e r n a t i o n a l m i g r a t i o n: testing weak ties, p. 19. 21 UNITED NATIONS POPULATION DIVISION, Manual 7, Chapter 1. 14

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fortes de consanguinidade mostra-se determinante do arranjo domiciliar de muitos países tradicionalmente receptores de migrantes, cujas origens remetem a culturas nas quais a concepção de família incorpora outras relações22. Este pareça ser o caso da estrutura familiar do Haiti, na qual as famílias estendidas são muito frequentes. No entanto, em que pese esta característica, as interações sociais dos migrantes observados no Brasil e a estrutura de domicílios que eles consolidam no país divergem desta concepção familiar, como será discutido adiante. Outro aspecto que merece reflexão no âmbito das migrações e suas relações com a estrutura familiar é o vínculo que se estabelece a partir da separação física da família com a saída de um ou mais membros, já que existe um arranjo contratual implícito entre o imigrante e sua família que permanece no país de origem 23. Os elos afetivos e a responsabilidade material em relação ao provimento da família que fica no país de origem são bastante abordados na literatura24 25 pela ótica de famílias transnacionais, bem como a condição dos filhos que ficam na origem26. Esta discussão, que remete ao conceito de família transnacional, surgiu a partir do reconhecimento de que a migração não termina com o estabelecimento de um ou mais membros em outro país, bem como pelo fato de que os migrantes estabelecidos noutro país mantêm contatos regulares com a família que fica na origem27. As remessas realizadas pelo imigrante à família contribuem para a preservação de laços de consanguinidade e asseguram a representação, ainda que simbólica, da parte ausente, sob forma de bens materiais adquiridos28. Consolida-se assim uma parte geograficamente distante do núcleo familiar (household shadow) que, embora não conviva presencialmente com os demais atores deste núcleo, apresenta compromissos e obrigações em relação a eles, numa estrutura domiciliar bi-local ou multi-local29. Remessas enviadas por migrantes são prioritariamente alocadas para fins de investimento e tendem a ser revertidas para a educação, moradia e atividades produtivas dos membros da família que permanecem na origem30. Sob a designação de remessas, devem ser também considerados ativos intangíveis, tratados como remessas sociais, e que correspondem a ideias, comportamentos, identidades e capital social que os migrantes exportam para suas comunidades de origem. As remessas sociais diferem dos 22

BARTMAN, David, POROS, Martsa V., MONFORTE, Pierre, Key concepts in Migration, p. 66. 23 STARK, Oded, LUCAS, Robert E.B., Migration, remittances, and the family. 24 BALDASSAR, L., MERLA, L., Transnational families, migration and the circulation of care: understanding mobility and absence in family life. 25 LEVITT, Peggy, Transnational Migrants: When "Home" Means More Than One Country. 26 BATTISTELLA, Graziano, CONACO, Ma. Cecilia, The Impact of Labour migration on the children left behind: A study of elementary school children in the Philippines. 27 COFACE, Transnational families and the impact of economic migration on families. 28

MACHADO, Igor José Renó, Kinship and differentialities: alternatives to identity and to ethnic frontiers in the study of migrations. 29 CACES, et al, Shadow households and competing auspices: migration behaviour in the Philippines, p. 5-7. 30 ADAMS, Richard H., International remittances and the household: analysis and review of global evidence, p. 18-19.

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fluxos culturais globais por causa dos canais através dos quais são disseminados31, que correspondem às redes de relacionamento dos que já migraram com os que permanecem na origem. A constituição de domicílio composto por família estendida, associada à experiência migratória, é resultado de uma decisão ou estratégia que tem como objetivo assegurar suporte econômico, emocional, ou de outra natureza, produto de certas exigências ou demandas que se apresentam para os mais idosos ou ainda para os mais jovens 32. Os projetos migratórios acarretam mudanças na estrutura física da família, nas realocações de residências e em termos de rearranjos familiares, incluindo mudança da mulher para a casa de sua mãe ou da mãe da esposa para a residência do casal 33. A experiência migratória tende portanto a operar mudanças para os domicílios e famílias, podendo ser observadas de duas formas. De um lado, ela fortalece a necessidade de família estendida na origem, já que a esposa que fica com os filhos pode recorrer à ajuda de parentes. De outro lado, ela reúne laços fracos sob um mesmo domicílio no destino. Este rearranjo tende a ser provisório, posto que o desfecho da ruptura parece evoluir para o retorno dos que migraram ou para a migração do restante do núcleo original34. No entanto, um período de tempo significativo pode transcorrer até que algum desfecho se concretize, permitindo que os arranjos provisórios na origem e no destino se manifestem por anos às vezes, acarretando uma série de impactos emocionais, psicológicos e materiais, bem como articulando outros arranjos domiciliares alternativos. Métodos Estudos sobre grupos migrantes revelam-se ao mesmo tempo desafiadores e fascinantes, já que levam o pesquisador a se aproximar da realidade pesquisada para fins de melhor compreender nuances de comportamento, percepções e aflições de grupos que são geralmente pouco representativos em termos numéricos, diante do universo populacional de uma grande região metropolitana no país de destino. A escolha de uma abordagem metodológica para estudos sobre migrantes no destino revela-se particularmente desafiadora porque as minorias étnicas e seus domicílios são elementos raros no universo de análise, o que dificulta a realização de pesquisas35. Porém, migrantes encontram-se normalmente expostos a situações de vulnerabilidade econômica e social e imersos numa experiência emocionalmente impactante. Nestas situações, relatos de experiências por parte dos migrantes geralmente expõem fragilidades e feridas, o que pode dificultar o trabalho do pesquisador em sua busca por informações diretamente na fonte. Por outro lado, manter distanciamento em relação ao objeto de análise pode se revelar alternativa inócua, em termos de acesso a dados e compreensão dos fenômenos. A alternativa de aproximação em relação ao grupo 31

LEVITT, Peggy, Transnational migrants: when "home" means more than one country. 32 SUSSMAN, Marvin B., STEINMETZ, Suzanne W., PETERSON, Gary, K., Handbook of marriage and the family, p. 105. 33 REIS, Ellen, MACHADO, Igor José Renó, Imigração, risco e família: novas configurações familiares e direitos humanos em Governador Valadares, p. 233. 34 MINCER, J., Family migration decisions. 35 MACKENZIE, David J., MISTIAEN, Johan, Surveying migrant households: a comparison of census-Based, snowball, and intercept point surveys.

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mostra-se portanto necessária, devendo o modo, o momento e o local serem cuidadosamente pensados como estratégia metodológica a fim de assegurar êxito. Este cuidado é particularmente importante em se tratando de imigrantes haitianos, para os quais a experiência migratória tem sido, há décadas, cercada por frustrações e perdas. A apreensão associada a travessias arriscadas e o risco de deportação, tais como na travessia de haitianos para a Flórida, ou os casos de preconceito racial, exploração e extorsão, recorrentes entre os haitianos que optam por migrar para a vizinha República Dominicana36, estão entre os casos de perda ou impacto emocional reconhecidamente marcantes para este grupo. Esta situação de fragilidade agravou-se ainda mais após o trauma decorrente do terremoto de 2010 e o acirramento das condições de pobreza dos haitianos. Diante de situações de fragilidade física, material e emocional, como as que geralmente cercam imigrantes, a solicitação de um consentimento informado para fins de condução da pesquisa pode levar à recusa de participação ou ainda desencadear viés comprometedor dos resultados37. Dessa forma, optou-se por utilizar aqui uma abordagem que assegurasse uma aproximação natural e eminentemente qualitativa, mediante condução de um estudo etnográfico, sem despertar os grupos para a incômoda sensação de estarem sob investigação, ou seja, sem solicitar consentimento informado. Embora a Análise de Redes Sociais esteja tradicionalmente associada a métodos quantitativos e sociogramas, a pesquisa qualitativa permite analisar significados subjetivos que os indivíduos atribuem às suas relações sociais38, sendo a observação participante um mecanismo que permite capturar o contexto no qual as pessoas interagem, daí sua relevância para estudos baseados em laços sociais e redes, como o aqui desenvolvido39. Em que pese as dificuldades de comunicação que comumente surgem entre pesquisador e pesquisado, a pesquisa com migrantes deve ser conduzida, dentro do possível, sem a intermediação de proxy respondents, o que poderia levar a viés porque o uso de proxys limita a revelação de detalhes pessoais, tais como ganhos, motivações e conflitos dos migrantes, até mesmo quando estas proxys são indivíduos da mesma família do sujeito interrogado40. Assim, optou-se por levantar informações qualitativas diretamente com os respondentes, mediante interação com os grupos e condução de atividades em sala de aula, durante o curso de português. A pesquisa foi conduzida através da aplicação de atividades em duas classes de português para estrangeiros, nos bairros Nacional e Petrolândia, em cursos oferecidos por iniciativa da Prefeitura Municipal de Contagem e participação dos pesquisadores na condução das aulas e elaboração de material didático. Buscou-se minimizar o risco de viés por erros de interpretação em relação à língua portuguesa mediante preparação dos 36

LÓPEZ-SEVERINO, Irene, MOYA, Antonio, Migratory routes from Haiti to the Dominican Republic: implications for the epidemic and the human rights of people living with HIV/AIDS , p. 10 e 13. 37 CEFAI, Daniel, COSTEY, Paul, Codifier l’engagement ethnographique ? Remarques sur le consentement éclairé, les codes d’éthique et les comités d’éthique. 38 BLOOR, Michael, WOOD, Fiona, Keywords in qualitative methods: a vocabulary of research concepts. 39 PATTON, Michael Quinn, Qualitative research and evaluation methods. 40

BILLBORROW, et al, International migration statistics: guidelines for improving data collection systems, p.266.

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grupos anteriormente à aplicação das atividades em sala, bem como por instrumentos de verificação para fins de confirmação dos resultados. As atividades foram então propostas após a exposição de conteúdos léxico-gramaticais e contrastadas com depoimentos, conversas conduzidas com os participantes em redes sociais e conteúdo de redações, que funcionaram como entrevistas não estruturadas. Foram aplicadas atividades pontualmente com 11 participantes da região do bairro Nacional e outros 22 do bairro Petrolândia, embora as turmas apresentem 25 alunos inscritos, cada uma. As diferenças se devem às desistências, ausências em datas nas quais atividades importantes foram aplicadas, ou ainda às inconsistências encontradas nas atividades escritas e que não puderam ser esclarecidas através de instrumentos de verificação diretos, mediante conversas informais em sala, nos intervalos ou através do Facebook. As duas turmas foram devidamente preparadas para a realização das atividades ministradas em sala, mediante exposição do conteúdo gramatical e léxico. Os aspectos gramaticais que subsidiaram a realização destas atividades consistiram na introdução dos verbos ter, haver e existir no presente, pela utilidade que estes verbos possuem para descrições de casa e família. Paralelamente, foi introduzido o conteúdo léxico, mediante ensino do vocabulário sobre partes da casa e relações de parentesco, através de exemplos trabalhados nas formas oral e escrita. Para fins de confirmação dos resultados, foi também conduzida dinâmica de conversação em sala, solicitada a produção de redações versando sobre os temas relativos à casa e à família, utilizado o chat do Facebook com alguns participantes envolvidos e contrastadas as informações declaradas pelos participantes com as fichas de inscrição no curso, nas quais constam dados de idade, ocupação e endereço. Buscou-se assim aprofundar a coleta de dados e aprimorar as percepções sobre o grupo em relação ao tema de estudo. A utilização do chat disponível no Facebook revelou-se um instrumento de grande utilidade na condução desta pesquisa, para fins de confirmação de impressões e esclarecimento de dúvidas dos pesquisadores. Estes esclarecimentos se deram durante conversas pelo chat que, embora abordassem assuntos diversos, incluíram sutilmente perguntas sobre o tema da pesquisa. Finalmente, o Facebook revelou-se útil para acompanhamento de migrantes que recentemente se deslocaram para outros destinos ou que se afastaram das aulas, perdendo o contato físico com os pesquisadores e com o restante do grupo no ambiente de estudo do português. O uso desta ferramenta confirma seu papel relevante como recurso para estudos com migrantes41 42 43 e mostra que as redes sociais baseadas na Internet viabilizam o monitoramento dos laços sociais dos migrantes e, por conseguinte, das redes sociais de fato. Discussão dos resultados Os dois grupos observados reportaram residir em domicílios que variam entre 2 a 9 cômodos, sendo frequentes as respostas indicativas de estruturas de 2 ou 3 cômodos abrigando mais de três moradores. Os menores domicílios, compostos por dois cômodos 41

VITAK, Jessica, ELLISON, Nicole B., STEINFIELD, Charles. The ties that bond: reexamining the relationship between Facebook use and bonding social capital 42 PAPACHARISSI, Zizi, The Virtual Geographies of Social Networks. 43

SKEELS, Meredith, GRUDIN, Jonathan. When social networks cross boundaries: a case study of workplace use of Facebook and Linkedin.

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apenas, correspondem sobretudo às residências de homens que relataram residir com amigos, primos, tios ou cunhados. Embora estes domicílios abriguem migrantes unidos, em alguns casos, por relações de parentesco, trata-se de laços distintos daqueles que caracterizam uma família nuclear, o que reforça a sua consolidação por razões de necessidade ou conveniência financeira. Já os domicílios maiores, de mais de 6 cômodos, abrigam grupos de 5 a 10 moradores. Embora prevalecem nestes domicílios laços fortes de consanguinidade entre os migrantes, tais como marido, esposa e filhos, a pesquisa revelou tratar-se de locais que abrigam também pelo menos um cunhado, primo ou até mesmo amigo. Neste último caso, quando reportada presença de amigo, verificou-se tratar de pessoa geralmente proveniente da mesma cidade de origem dos membros da família nuclear. Até mesmo estes domicílios, formados em consonância com a base conjugal de uma família nuclear, sofrem portanto mudanças no país de destino, por necessidade de acolhida de parentes e conhecidos, pela necessidade de rateio de despesas, ou por uma combinação de ambos: Claudine (nome fictício) reside há pouco mais de dois anos no bairro Petrolândia, com o marido e a filha de dois anos, nascida no Brasil. Há cerca de dois meses divide a casa com um amigo, recentemente chegado do Haiti, que ainda está desempregado. O casal frequenta os cultos religiosos na igreja de Testemunha de Jeová, onde acontece a maior parte de suas interações sociais no Brasil. Os custos com aluguel, água e luz, referentes a uma moradia de quatro cômodos, incluindo um banheiro, giram em torno de R$ 650,00. A falta de parentes por perto impõe ao casal uma despesa elevada entre moradia e creche particular para a filha, já que não conseguiram vaga em um local público onde a criança possa permanecer enquanto os pais trabalham. Claudine se empenha em ajudar o amigo a obter trabalho, pois relata ter necessidade de ratear as despesas. As dificuldades de reunião familiar são comumente relatadas e agravadas pelo desemprego e pelos baixos níveis de renda reportados pelo grupo: Arnoud (nome fictício) possui esposa e 5 filhos no Haiti, com idades entre 3 e 15 anos, e divide os custos de moradia com amigos no Brasil. As perspectivas de reunião familiar, bem como as condições para suprir materialmente a família, têm sido muito difíceis desde sua chegada, quando ficou por três meses desempregado e aceitou trabalhar na construção civil porque ‘foi o que apareceu’. No último trimestre de 2015, ele ficou novamente desempregado, mas agora, já recolocado, continua a dividir os custos de moradia no Brasil com amigos e revela frequentemente seu apego à fé, como tentativa de lidar com o sofrimento provocado pela distância em relação à família que ficou no Haiti, e que ele não sabe ‘quando terá condições’ de reunir no Brasil. Ao serem indagados, durante as atividades, sobre o que falta em sua casa no Brasil, as respostas dos haitianos incluíram desde mobiliário e infraestrutura, tais como gás, água

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e cama, até a falta decorrente de razões afetivas, em respostas como falta quatro pessoas, ou ainda falta um ventilador e uma namorada. Janet (nome fictício) tem 24 anos e divide uma pequena moradia de dois quartos com duas tias, um tio e um primo. À infraestrutura precária e ausência de privacidade, soma-se a necessidade de equipamentos de entretenimento, como a televisão, que ela relata faltar na pequena residência, onde já vive há três anos. No entanto, Janet demonstra se entreter constantemente com o celular, que utiliza para ouvir música e conversar com amigos. Embora a jovem goste de dançar, recentemente ingressou em um curso gratuito de marcenaria, oferecido pela prefeitura para jovens migrantes e nãomigrantes. Relata não ter conseguido ocupação nos últimos 12 meses. A experiência migratória, de modo geral, e as mudanças de planos decorrentes de tentativas frustradas de reunião familiar podem impor um grande ônus para as relações conjugais e para o bem-estar das crianças: Martin (nome fictício) possui uma filha de seis anos. Após uma breve passagem pelo Brasil com a menina, o que ocorreu há poucos meses, sua esposa mudou de planos, em decorrência das baixas perspectivas de emprego no Brasil em sua área. Ela retornou ao Haiti sem a menina e agora tem planos de ingressar nos Estados Unidos, onde residem alguns de seus parentes. Para tanto, aguarda no Haiti o retorno da filha, que ainda está no Brasil sob cuidados de uma cunhada, casada com o irmão de Martin. Em seguida, mãe e filha deverão seguir para o México e, de lá, tentar entrar nos Estados Unidos. Martin já está no Brasil há cerca de três anos, mas alega que por ser homem não tem condições de dispensar os cuidados necessários à filha. Revela também grande interesse em iniciar um novo relacionamento no Brasil. A separação física do casal, imposta pela migração de um dos cônjuges, pode acarretar também o surgimento de relação extraconjugal e a interrupção dos planos de reunificação familiar, situação que foi identificada em relatos de uma jovem migrante: Adeline (nome fictício) é uma jovem haitiana de dezesseis anos que vive no Brasil com a mãe e o irmão. O pai, que vivia no país, adiava a vinda da esposa e dos filhos, argumentando que a situação estava difícil ‘por causa da crise’. No entanto, a mãe de Adeline decidiu reunir recursos e migrou com os filhos, contrariando a vontade do esposo. Ao chegarem ao Brasil, todos se surpreenderam ao constatar que ele ‘já tinha outra mulher’. A experiência acarretou grande decepção da jovem em relação ao pai e reforçou a admiração pela mãe, a quem ela se refere de maneira recorrente, em suas falas e textos, como ‘minha querida mãe’. Adeline também relata sentir muita falta da casa em que vivia no Haiti, com a mãe, os irmãos, tios, primos e avós.

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Outras mudanças de planos já se manifestam entre o grupo observado. Motivadas pela insatisfação quanto ao desemprego, baixa renda, alto custo de vida e dificuldades de qualificação no país, as mudanças têm proporcionado reencontros e rearranjos em relação às estruturas de domicílios que haviam se formado no Brasil. Simultaneamente, a conjuntura e as transformações por ela impostas redefinem as redes sociais, mediante fortalecimento de novos contatos, baseados em laços fracos, com atores residentes em novos locais de destino, para onde os imigrantes haitianos começam a se deslocar. Ao mesmo tempo, tendem a enfraquecer outros laços fracos que haviam sido articulados no Brasil: Peter (nome fictício) morou por cerca de dois anos com amigos no Brasil e há cerca de dois meses se mudou para o Chile, para ajudar a irmã, que já estava no país por igual período. A irmã dividia o aluguel no Chile com outras imigrantes, que mudaram de cidade. Peter, já insatisfeito com a renda auferida no Brasil e sem perspectivas de estudar e se qualificar no país, passou a viver com a irmã no Chile em fins de março de 2013, onde cerca de um mês depois conseguiu se empregar no setor hoteleiro.

Conclusão À medida que o fluxo migratório de haitianos para o Brasil se fortaleceu, novas configurações domiciliares se consolidaram, contrariando a estrutura familiar e os laços fortes de consanguinidade originalmente existentes entre os atores. Domicílios formados por amigos e conhecidos são frequentemente encontrados na região onde os haitianos residem em Contagem, notadamente nos bairros Petrolândia e nas imediações do Ceasa, no bairro Nacional. O alto custo de vida no local de destino, a ocupação dos imigrantes em empregos aquém de suas qualificações, a necessidade de acolhida e a necessidade de suporte para encaminhamento ao mercado de trabalho estão entre os fatores que contribuem para a consolidação dos novos arranjos domiciliares no destino. Assim, muitos domicílios formados por haitianos em Contagem apresentam-se sob forma de verdadeiros abrigos artificiais para as redes consolidadas em torno de relações de parentesco típicos de família estendida, mas que frequentemente inclui também pessoas ligadas por laços mais fracos, tais como amigos e conhecidos. Dentre os efeitos desses arranjos, verifica-se aumento da fragilidade emocional, fortalecimento de relações extraconjugais, prejuízo do desempenho profissional e, em última instância, comprometimento de rendas e de perspectivas de reunião familiar. O tempo transcorrido entre a migração do chefe da família e a reunião familiar adia a realização de um desfecho favorável à sustentação do núcleo familiar original e ao restabelecimento da estrutura domiciliar rompida a partir da experiência migratória. A dificuldade de financiar a migração de esposas e filhos adia a reunião familiar e prolonga a existência de uma estrutura de domicílio composta por pessoas que não possuem relações de parentesco ou, quando possuem, não são provenientes de uma mesma família nuclear. Esta realidade tende a acarretar fragilidade emocional, que afeta não apenas os migrantes que residem no Brasil, a maioria homens, mas também esposas e filhos, que permanecem geralmente no país de origem. A esta fragilidade soma-se a vulnerabilidade social e econômica que cerca o migrante no Brasil e sua família no Haiti.

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A condução da investigação a partir das interações entre migrantes e pesquisadores durante as aulas de português e com o suporte das redes sociais baseadas na Internet, tais como o Facebook, mostrou-se reveladora de detalhes esclarecedores sobre a estrutura familiar e domiciliar e pode ser aprimorada em pesquisas futuras mediante aplicação de novas atividades em sala e temas de redação que permitam confrontar novas respostas, inclusive focando a realidade de mulheres e crianças no contexto da família e do domicílio. Com isso, pretende-se aprimorar o entendimento sobre o tema, acompanhando novos desdobramentos que a experiência migratória deverá acarretar para o grupo, tanto em função das mudanças profissionais, de renda e qualificação dos migrantes, quanto em decorrência das mudanças conjunturais na economia e de suas implicações sobre o emprego, a renda e, consequentemente, sobre a estrutura familiar e domiciliar dos migrantes. Numa outra frente de investigação, pode-se ainda conduzir estudos comparativos, utilizando as abordagens, técnicas e recursos de observação aqui expostos com grupos migrantes de nacionalidades distintas, a fim de captar variações relativas aos padrões de redes, laços sociais, famílias e domicílios de migrantes de nacionalidades diferentes, mas que residam em um mesmo país de destino.

Agradecimentos Agradecemos ao DECADI/ SEDUC - Departamento de Educação em Diversidade e Ações Afirmativas da Prefeitura Municipal de Contagem, pela iniciativa em oferecer o curso de Português como Língua Estrangeira à comunidade migrante e à Profa. Maria Rita Lima, pelo suporte aos pesquisadores na aplicação de algumas atividades do curso utilizadas nesta pesquisa.

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