ARS MEMORIAE. Um ilustre conterrâneo: José Daniel Rodrigues da Costa, o Josino Leiriense

June 15, 2017 | Autor: C. Henriques Pereira | Categoria: Literatura Portuguesa, História Local, Leiria, Autores Do Distrito De Leiria
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Cadernos de Estudos Leirienses – 6 * Dezembro 2015

ARS MEMORIAE

Um ilustre conterrâneo: José Daniel Rodrigues da Costa, o Josino Leiriense Carolina Henriques Pereira*

«Sou como os trastes antigos De muito feitio, e peso, Mas já de pouco valor, Posto ao canto em desprezo» (Comboy de Mentiras, p. 6.).

Fig. 1 - Fonte: O almocreve de petas e outras prosas, 1974

A publicação deste escrito1 visa, sobretudo, dar a conhecer ao público em geral a figura de um ilustre leiriense, hoje um pouco esquecido pela sua comunidade de origem. A figura sobre a qual nos iremos debruçar é bastante carismática e, diga-se, misteriosa. Trata-se de José Daniel Rodrigues da Costa, mais conhecido por Josino Leiriense (pseudónimo literário que adoptou na Arcádia Lusitana). Porém, e apesar da sua memória se encontrar envolta em esquecimento, nomeadamente no âm-

* Licenciada em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Mestranda em História Contemporânea na mesma faculdade. Membro da Direcção da Secção Filatélica da Associação Académica de Coimbra (SFAAC). Directora-Adjunta e colaboradora do mensário Notícias de Colmeias. A autora não segue as regras do novo Acordo Ortográfico. 1

O artigo que aqui se apresenta foi publicado inicialmente no Suplemento da edição n.º 190 do mensário Notícias de Colmeias. Todavia, sofreu acrescentos significativos e alterações que, no seu

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bito regional e, inclusive, nacional muitos são ainda, actualmente, os autores que valorizam esta figura no meio académico. Cabe-nos a nós, valorizá-lo igualmente fora deste meio. Portugal ao tempo do Josino Leiriense José Daniel Rodrigues da Costa, conhecido na Arcádia Lusitana como Josino Leiriense, viveu num momento da história nacional de constantes ataques, recuos, abandonos e, sobretudo, em períodos de tremenda instabilidade política, económica, social e cultural. Corria o ano de 1806, quando Napoleão Bonaparte, imperador e comandante do Exército Francês, impôs o Bloqueio Continental a todos os países que disponibilizavam os seus portos ao comércio inglês. Portugal, como velho aliado da Inglaterra2, manteve a sua aliança e recusou a estratégia de Bonaparte que visava, sobretudo, o enfraquecimento da economia inglesa, na medida em que esta monopolizava o mercado europeu com os seus produtos. Todavia, esta posição irreverente traria consequências catastróficas para Portugal. Desde logo, a família real vê-se obrigada a fugir, transferindo a corte para o Rio de Janeiro (Brasil), que passaria assim a capital do reino3. Neste mesmo ano, em 1807, é assinado o Tratado secreto de Fontainebleau entre França e Espanha, que previa a divisão do território português. A Inglaterra já previra que Portugal viesse a ser invadido pelos franceses, e tal aconteceu, precisamente, após a partida de D. Maria I e de toda família real para o Brasil. A primeira invasão francesa foi comandada por Junot. Em 1809, ocorre a segunda invasão francesa comandada pelo general Soult, e um anos depois, dá-se a terceira invasão francesa sob comando do general Massena. conjunto, determinam o carácter diferencial de ambos os escritos. Aproveito para agradecer ao Dr. Pedro Pinto pela disponibilidade que teve para fazer revisão de parte das transcrições. As transcrições apresentadas seguem as normas paleográficas e diplomáticas do P. Avelino de Jesus da Costa (vide COSTA, Avelino Jesus da – Normas gerais de transcrição e publicação de documentos e textos medievais e modernos. 3.ª Edição. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Paleografia e Diplomática, 1993). 2 A aliança estabelecida entre Portugal e a Inglaterra é, ainda hoje, a mais antiga aliança diplomática em vigor em todo o mundo e foi assinada em 1386 (Tratado de Windsor). Para aprofundar esta temática vide FONSECA, Luís Adão da – O essencial sobre o Tratado de Windsor. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2007. 3 Para aprofundar esta temática vide GOMES, Laurentino – 1808. Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. Lisboa: Planeta, 2007.

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Segundo A. Do Carmo Reis, «As invasões francesas são um fenómeno tentacular do Imperialismo Napoleónico sobre a periferia ocidental da Europa. Portugal entra na evolução do Sistema Continental por força da sua posição geo-estratégica, país-charneira na ligação Atlântico-Mediterrâneo e uma das chaves para abrir as rotas comerciais ultramarinas aos interesses da burguesia europeia. A condição em que isso acontece é a de confronto de Blocos político-militares. No entanto, houvesse ou não aliança Anglo-Lusa, a integração portuguesa na Europa Napoleónica seria inevitável»4. As invasões francesas terminariam nas Linhas de Torres, em 1810, na sequência do apoio do Duque de Wellington a Portugal. «Nos começos de Março de 1811, cansados de esperar e abatidos no moral, os Franceses iniciaram a retirada (…) quatro anos de guerra haviam deixado o País em situação miserável. As invasões e a ocupação francesas devastaram boa parte de Portugal, sobretudo a norte do Tejo (…) para mais, as invasões francesas deixaram Portugal numa condição política especialíssima. De 1808 a 1821 o País passou a ser, quer um protectorado inglês quer uma colónia brasileira»5, tal aconteceu porque o exército nacional se organizava segundo normas britânicas e porque o Brasil permaneceu enquanto governo central. O facto de D. João VI não pretender regressar a Portugal (recorde-se que D. Maria I tinha falecido em 1816), só agravava a situação caótica e instável que se vivia. A regência matinha a sua posição conservadora e perseguia ferozmente aqueles que protelavam os ideais liberais, tão em voga na época. Os ingredientes estavam prontos faltava, somente, a palavra de ordem que ditaria a mudança, a revolução. Em 1820, dá-se a revolução liberal no Porto. Na sequência desta, é instaurado em Portugal um regime liberal. O monarca português, D. João VI, jura a constituição e regressa a Lisboa em Julho de 1821 (a pedido das Cortes, realizadas em Dezembro de 1820). Quando D. João VI retorna a Portugal, «muitos liberais olharam-no com desconfiança, vendo nele o dirigente natural de uma corrente de opinião conservadora e anticonstitucional. Todavia, D. João VI não traiu o seu juramento desde logo, aceitando com certa boa vontade tudo aquilo que as Cortes e os governos lhe foram impondo (…). Os dirigentes do movimento absolutista achavam-se antes na rainha Carlota Joaquina e no seu filho, o infante D. Miguel»6. 4

REIS, A. Do Carmo – Invasões Francesas. As revoltas do Porto contra Junot. Lisboa: Editorial Notícias, 1991, p. 15. 5 MARQUES, A. H. De Oliveira – História de Portugal, vol. II (do Renascimento às Revoluções Liberais). Lisboa: Editorial Presença, 13ª Edição, 1998, p. 380. 6 MARQUES, A. H. De Oliveira – História de Portugal, vol. III (das Revoluções Liberais aos nos-

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Três anos após a instauração do regime liberal, D. Miguel, filho do monarca, leva a cabo um golpe de Estado denominado «Vila Francada» que pretendia o derrube do liberalismo e o triunfo do absolutismo. Um ano depois, em 1824, D. Miguel perpetra novo golpe de Estado conhecido como «Abrilada». Todavia, ambas as tentativas sairiam goradas, levando a que D. Miguel se fixasse na Áustria. Contudo, D. Miguel regressaria a Portugal, em 1828, sendo aclamado monarca absoluto pelas Cortes de Lisboa (na sequência da morte de D. João VI e da renúncia ao trono de D. Pedro IV que, por ser imperador do Brasil, não podia assumir o trono. No entanto, a sua filha – futura D. Maria II – teria que casar com o seu tio, D. Miguel). Principiava, deste modo, um novo período de instabilidade, a Guerra Civil entre absolutistas e liberais (1832-1834). Os liberais sairiam vencedores e, na sequência do seu triunfo, D. Maria II é reposta no trono e D. Miguel I é exilado na Alemanha, onde viria a falecer. José Daniel Rodrigues da Costa faleceu, precisamente, no início da Guerra Civil não tendo assistido a este período de guerra e instabilidade. Contudo, é possível que se questione: Que posição teria tomado – absolutista ou liberal? Que facção defenderia? Por que causa lutaria? Sentir-se-ia satisfeito com a vitória liberal ou repudiaria este acontecimento em detrimento da manutenção de ideais conservadores e absolutistas? Nunca saberemos. Certo é que o Josino Leiriense manteve-se sempre afecto a ambos os ideais, defendendo um e outro consoante as circunstâncias e as necessidades. Recorde-se dois dos seus escritos: em 1820, é dado ao prelo o escrito O prazer dos lusitanos na regeneração da sua pátria7, no qual se fazia a defesa do liberalismo. Todavia, oito anos depois, conceberia a obra intitulada Na acclamação do magnanimo, e augustissimo Senhor Dom Miguel I 8, obra claramente apologista do absolutismo miguelista. Atente-se porém, de forma concisa mas fundamentada, no percurso de vida deste homem que, como se disse anteriormente, está envolto em esquecimento e mistério. O percurso de José Daniel Rodrigues da Costa José Daniel Rodrigues da Costa, igualmente (re)conhecido pelo seu pseudónimo literário Josino Leiriense, nasceu em Leiria (ou terá sido em sos dias). Lisboa: Editorial Presença, 13ª Edição, 1998, p. 19. 7 Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), http://purl.pt/6640 (obra consultada a 25/09/2015). 8 BNP, http://purl.pt/6589 (obra consultada a 25/09/2015).

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Bouça, freguesia de Colmeias?) a 31 de Outubro de 17579, segundo informações recolhidas pelo bibliófilo Inocêncio da Silva10. No entanto, rapidamente partiria das suas origens. Órfão aos dois anos de idade é levado para Lisboa, onde viria a ser acolhido e educado por familiares caridosas. Por falta de recursos monetários não chegou a cursar estudos superiores, todavia, seria protegido do desembargador da Relação e Casa do Porto e administrador da Alfândega das Sete Casas, António Joaquim de Pina Manique (irmão do Intendente-Geral da Polícia, Diogo Inácio de Pina Manique). A forma como se movia e se posicionava na cena política permitiulhe arrecadar contactos influentes e, acima de tudo, deu-lhe reconhecimento público, nomeadamente, a partir dos seus escritos. Sabe-se bastante acerca do legado literário de José Daniel Rodrigues da Costa, contudo, pouco se conhece relativamente à sua competência político-militar. Aliás, esta figura notabilizou-se nestes campos, na medida em que, assumiu cargos e funções de relevo. Recorde-se que José Daniel Rodrigues da Costa, no campo político, assumiu funções na administração das quatro portas da cidade e ramo de Belém (em remuneração destes serviços obteve uma tença, que como se pode verificar pelos documentos transcritos em anexo, teve o valor de 100$000 reis ao ano) e deteve o ofício de escrivão e tabelião de notas de Portalegre, propriedade a que viria a renunciar. No campo militar, José Daniel Rodrigues da Costa destacou-se enquanto Ajudante das ordenanças de Alenquer (as ordenanças, criadas em 1570, constituíam uma espécie de 3.ª linha do exército português e organizavamse territorialmente. Foram extintas no início do séc. XIX, com a consequente criação da Guarda Nacional) e, mais tarde, foi promovido a Major da Legião Nacional do Paço da Rainha (as Legiões Nacionais11 eram unidades de 2.ª 9

José Daniel Rodrigues da Costa refere, a certo momento, numa quadra da sua autoria, o seguinte: «Nasci em tempo invernoso/De chuva e de frio eterno/E julgo ser essa a causa/D’eu trazer cara d’inverno», O Mensageiro, nº 1529 (Leiria, 8 de Março de 1947), p. 2. Este excerto é elucidativo do período do ano em que o autor terá nascido, o que nos leva a acreditar na veracidade da data proposta por Inocêncio da Silva, uma vez que, não se encontrou qualquer documento comprovativo da mesma, à semelhança do que aconteceu para o caso dos registos de casamento e de óbito, como se verá. 10 SILVA, Inocêncio Francisco da - Dicionário Bibliográfico Português, tomo IV, p. 304. 11 Pertenciam às Legiões Nacionais de Lisboa os seguintes: Campo de Santa Clara, Cais, Rossio, Campo de Santana, Paço da Rainha, Praça do Comércio, Cais do Sodré, Carmo, Loreto, São Pedro de Alcântara, Estrela, Necessidades, Campo de Ourique, Amoreiras, Cruz do Tabuado, Belém e Ajuda. http://www.exercito.pt/sites/AHM/Guia_de_Fundos/Documents/3-22%20Legi%C3%B5es.pdf, p. 4 (Consultado a 22/09/2015). 231

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linha e foram criadas em 1808, sendo extintas em 1829. José Daniel Rodrigues da Costa era Comandante do 1.º Batalhão da Legião Nacional do Paço da Rainha, pertencente à Província da Extremadura, sendo que o quartel onde estava destacado se situava na sua zona de residência, na Travessa do Forno aos Anjos, na actual freguesia dos Anjos, em Lisboa). Josino Leiriense ocupou este cargo, pelo menos, entre os anos de 1823 e 1825, segundo as informações contidas nos documentos de força militar e de recrutamento que se apresentam em anexo, e que contêm a assinatura de José Daniel e a indicação de que, efectivamente ocupou aquele cargo. Casou-se com Maria Magdalena Bárbara na Paróquia dos Anjos, entre os anos 1785/1788. Segundo Inocêncio da Silva12, José Daniel Rodrigues da Costa ter-se-á casado com 31 anos, logo, o seu casamento ter-se-ia realizado em 1787/1788. No entanto, o registo de casamento, disponível no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e que se expõe em anexo, encontra-se inserido abaixo da data de 1785. Os restantes registos de casamento continuam a ser assentados e a data só é novamente especificada pelo escrivão, no ano de 1789, o que não nos permite afirmar com exactidão a data em que este terá contraído matrimónio. Tal como foi referido anteriormente, José Daniel Rodrigues da Costa teve uma vida longa e cheia de sucessos. Conseguiu aproveitar as oportunidades que lhe foram concedidas e amoldou-se frequentemente às circunstâncias políticas do seu tempo, isto porque, dependendo da situação era, ora a favor das ideias liberais ora a favor da contra-revolução absolutista de D. Miguel I. Sobre todas estas circunstâncias escreveu, quer a favor quer contra, de modo a, manter todas as suas retaguardas protegidas (e não tivesse sido ele um militar!). Em virtude do seu apoio ao absolutismo, D. Miguel I, concedeu-lhe uma pensão anual de três moios de trigo. Porém, pouco tempo após esta concessão, José Daniel Rodrigues da Costa dá o seu último suspiro, a 7 de Outubro de 1832, na sua residência na Travessa do Forno, n.º 2, na freguesia de Nossa Senhora dos Anjos (Lisboa). Terá sido sepultado, em frente ao altar do Santíssimo na igreja paroquial dos Anjos, hoje inexistente. A igreja actual foi inaugurada em 1910. Segundo as informações contidas na plataforma da Direcção-Geral do Património Cultural, «a primitiva igreja, que se situava no antigo Regueirão dos Anjos e foi demolida em 1908 em virtude da abertura da Avenida D. Amélia (actual Av. 12

SILVA, Inocêncio Francisco da, ob.cit, p. 304.

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Almirante Reis), foi de seguida reconstruída na banda ocidental dessa rede viária, conforme às exigências da cidade, tendo o arquitecto respeitado proporções e valores da primitiva igreja, sem deixar de lhe conferir um carácter neoclássico, que lhe adoçou as proporções»13. Veja-se a planta seguinte que apresenta o nº 8 (Caminho do Rego),possível referência ao Regueirão dos Anjos, onde se situava, como é possível verificar pela letra C (indica a igreja dos Anjos), a igreja primitiva.

Fig. 2 - Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Livro das Plantas das Freguesias de Lisboa, da autoria do Sargento-mor José Monteiro de Carvalho. Paróquia dos Anjos (fl.73), 1756? a 1768?. Códices e documentos de proveniência desconhecida, n.º 153 13

http://www.patrimoniocultural.pt/ (consultado a 22/09/2015).

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Igreja de Nossa Senhora dos Anjos (Lisboa)

Fig. 3 - Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa (AFML). Antiga Igreja dos Anjos e antigo local do Regueirão dos Anjos (onde foi sepultado José Daniel Rodrigues da Costa), c. 1908.

Fig. 4 - Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa (AFML). Interior da Igreja dos Anjos, c. 1898 a 1908.

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Referências a Leiria nas suas obras Poucas foram as vezes que Josino Leiriense se referiu a Leiria, contudo, fê-lo ainda que em jeito de charadas de difícil conclusão, mas que nos lembram que as origens jamais se esquecem. Diz ele: «Rogo a todos os meus Senhores assignantes, e ainda aos mais, que comprarão estes folhetos avulsos, e aos outros, que os lêm de graça, queirão ver se acertão no que será huma pintura, que em hum quadro me mandou huma Senhora, minha patricia, da Cidade de Leiria, por modo de Enigma para eu o decifrar (…)» («Apólogo. O Porco, a Cabra, e o Carneiro» in Hospital dos doidos, 1805, pp. 30-31).

Aquando da realização das Memórias Paroquiais de 1758 (solicitadas aos párocos das freguesias pela Academia Real Portuguesa da História), o pároco colmeense Francisco Pereira Nobre, refere: «18- Não há memoria que nos lugares desta Freguezia florecesse ou della sahisse homem algum insigne em Virtudes, Letras ou Armas»14. Não esqueçamos que José Daniel Rodrigues da Costa havia nascido um ano antes, sendo que, como se viu, partiu cedo para Lisboa não deixando grande memória por terras leirienses. Todavia, o prestígio e a notoriedade pública que alcançou tornaram-no num ilustre e destacado homem leiriense. Assim, considera-se que José Daniel Rodrigues da Costa deve integrar, num lugar de merecido destaque, o palco principal da história da cidade de Leiria. «Na cidade de Leiria, Diz minha mãe, que eu nasci, Se mente não tenho a culpa, Supposto á festa assisti» (Comboy de Mentiras, p. 6).

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GOMES, Saul António – Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 8 Leiria. Coimbra: Palimage, 2009, p. 239.

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Apêndice Documental Documento 1 Descrição: Alvará. Sobrevivência em tença Data de produção: 04/06/1793 Cota actual: ANTT, Registo Geral de Mercês de D. Maria I, Livro 22, fl. 119

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Documento 1 (transcrição) Em virtude deste Alvara se passou Apostilla ao dito Jozé Daniel Rodrigues da Costa para haver os 100$000 reis desta Tença, a qual Apostilla vai registada no Livro 14 da dita Senhora a folhas 172 verso. Jozé Daniel Rodrigues da Costa Eu a Raynha faço saber aos que este Alvará virem que attendendo ao que Me representou Jozé Daniel Rodriguez da Costa, Administrador das quatro portas da Cidade e Ramo de Bellem pela repartição da Meza dos vinhos. Hey por bem fazer lhe merce da sobrevivencia na Tença de Cem mil reis que sua mulher Dona Maria Magdalena Barbara leva na folha do Almoxarifado da Ciza das Carnes desta Cidade com antiguidade de 21 de Junho de 1786 passandolhe com a mesma antiguidade com que actualmente a possue a dita sua mulher, de que se lhe lavrará Apostilla e no registo do Padrão e seus assentos se porão as verbas necessarias. E isto por Portaria de 4 de Julho de 1793. Passou por Portaria do secretario de Estado dos Negocios do Reyno Jozé de Seabra da Silva de 4 de Julho de 1793. (Assinatura) Documento 2 Descrição: Provisão. Renúncia do ofício de Tabelião de Notas da cidade de Portalegre Data de produção: 17/12/1818 Cota actual: ANTT, Registo Geral de Mercês de D. João VI, Livro 14, fls. 9v-10 (ver páginas seguintes)

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Documento 2 (transcrição) Dom João por graça de Deus Rey do Reyno Unido de Portugal, Brazil, e Algarves &. Faço saber que o sobredito me reprezentou dizendo que elle hera proprietario encartado do Officio de Tabalião de Nottas da Cidade de Portalegre igualmente se achava empregado no Officio de Primeiro Administrador das quatro portas da Cidade e Ramo de Bellem pela repartição da Meza dos vinhos na Alfandega das sette cazas havia 33 annos em cuja Administração tinha feito grandes intereces á Real Fazenda e em todas as mais de que tinha sido incumbido e porque por este motivo não podia servir aquelle Officio de Tabeliam e por não deixar o serviço da Real Fazenda alem de se achar exercendo o Posto de Major de huma das Legioens Nacionais o que tudo provava com os documentos que juntara: pertendia renunciar o mencionado Officio de Tabeliam de Nottas em pessoa apta que bem e pessoalmente podesse servir e como por fazer esta renuncia necessitava de licença Regia por isso Me pedia, attendendo aos justos motivos que expunha e aos bons serviços que tinha feito em todos os empregos em que se achava Me dignasse conceder-lhe a dita licença e Mandar-lhe expedir Alvara de renuncia e tendo consideração ao referido ao que constou da informação a que se mandou proceder pelo Corregedor do Civel da Cidade Joze Firmino da Silva Geraldes e á resposta do Procurador da Minha Real Coroa a quem se deo vista e ao mais que em consulta da Meza do Dezembargo do Paço me foi prezente. Hey por bem conceder-lhe faculdade por que possa renunciar esa mesma pessoa apta a propriedade do Officio de Tabeliam de Nottas da Cidade de Portalegre de que he proprietario encartado, e Mando á Meza do Dezembargo do Paço examine a pessoa em quem elle renunciar e sendo apto lhe faça passar carta em forma do dito Officio que se acha lotado na quantia de oitenta mil reis mostrando a que delle tem o suplicante sua renuncia. E pagando primeiro os direitos ordenados e esta merce lhe faça com a Clauzula geral. Lixboa,15 17 de Dezembro de 1818. Francisco Joze de Faria Girão, Luis Freire da Fonseca Coutinho. Por imediata rezoluçam de Sua Magestade de 19 de Agosto de 1818 em consulta da Meza do Dezembargo do Paço. (Assinatura) 15

Número 17 riscado.

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Documento 3 Descrição: Apostila. 100$000 rs. de tença Data de produção: 11/01/1819 Cota actual: ANTT, Registo Geral de Mercês de D. João VI, Livro 14, fls. 172v-173

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Documento 3 (transcrição) Jozé Daniel Rodrigues da Costa [Apostilla] Porquanto por Jozé Daniel Rodriguez da Costa me foi apresentado hum Alvará do theor seguinte = Seguese o Alvará que está registado no Livro 22 da Rainha a folha 119 verso e depois dele seguese = Pedindo-me o dito Jozé Daniel Rodrigues da Costa lhe mandasse passar a competente Apostilla para haver os 100$000 reis que sua mulher Dona Maria Magdalena Barbara levava no Padrão antecedente do Almoxarifado da Caza das Carnes na Conformidade da sobrevivencia que lhe foi concedida no Alvará asima incorporado. E visto por mim seu requerimento, e o dito Alvará, sentença de justeficaçãm por que constou ser o proprio e da informaçam do Escrivão da minha Fazenda e resposta do Conselheiro Procurador della. Hey por bem fazer mercê ao sobredito Jozé Daniel Rodrigues da Costa dos refferidos 100$000 reis de Tença effectiva cada hum anno em sua vida, que lhe pertencem pela sobrevivencia que tinha na Tença de sua mulher Dona Maria Magdalena Barbara, os quaes lhe serão assentados no mesmo Almoxarifado da Caza das Carnes com antiguidade de 21 de Junho de 1786, que he a mesma com que a dita sua mulher a possuia, e com o vencimento do dia 27 de Julho de 1806, dia sucessivo ao do falecimento, e esta merce lhe faço com a Clauzulla geral. Lixboa, digo geral na Conformidade do Alvará de 17 de Abril de 1789. Lixboa, 11 de Janeiro de 1819. El Rey com Guarda. Passouse por Despacho do Conselho da Fazenda a 4 de Mayo de 1814. Antecedião a esta Apostilla o Padrão que está registado no Livro 19 da Rainha a folha 359, e o Alvará registado no Livro 22 da dita Senhora a folhas 119 verso, em que se pozerão verbas. Documento 4 Descrição: Mapa da força do primeiro Batalhão da Legião Nacional do Paço da Rainha pertencente ao governo das armas da Província da Extremadura Data de produção: 01/12/1823 Cota actual: AHM, Legiões, 3ª Divisão, 22º Secção, nº 89, cx. 3

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Documento 5 Descrição: Mapa da força do primeiro Batalhão da Legião Nacional do Paço da Rainha pertencente ao governo das armas da Província da Extremadura Data de produção: 01/07/1825 Cota actual: AHM, Legiões, 3ª Divisão, 22º Secção, nº 92, cx. 3

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Documento 6 Descrição: Mapa dos indivíduos sujeitos e não sujeitos ao Recrutamento no distrito do primeiro Batalhão da Legião Nacional do Paço da Rainha, subordinado ao governo das armas da Costa e Província da Extremadura. Pelo regulamento de 1812 e portaria de 1813 Data de produção: 01/03/1825 Cota actual: AHM, Legiões, 3ª Divisão, 22º Secção, nº 91, cx. 3

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Documento 7 Descrição: Registo de casamento de José Daniel Rodrigues da Costa com Maria Magdalena Bárbara Data de produção: 1785? Cota actual: ANTT, Livro de Registo de Casamentos 1783/1792, Paróquia dos Anjos, fl. 22v

Documento 8 Descrição: Registo de óbito de José Daniel Rodrigues da Costa Data de produção: 07/10/1732 Cota actual: ANTT, Livro de Registo de Óbitos 1829/1840, Paróquia dos Anjos, fl. 58 (ver página seguinte) Documento 8 (transcrição) Em sette de Outubro de mil oitocentos trinta e dois, faleceu com todos os sacramentos, na idade de settenta e dois annos, de molestia interna José Daniel Rodrigues da Costa, viuvo de Donna Maria Magdallenna Barbara, morador na travessa do forno desta freguesia. Foi sepultado nesta igreja. E fez testamento. E para constar fiz este termo que assignei. (Assinatura) O Coadjutore Encomendado Diogo Manuel Alvarez(?) de Abreu

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Fontes Manuscritas – Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), Livro das Plantas das Freguesias de Lisboa, da autoria do Sargento-mor José Monteiro de Carvalho. Paróquia dos Anjos (fl.73), 1756? a 1768?. Códices e documentos de proveniência desconhecida. – Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), Registo Geral de Mercês de D. Maria I, Livro 22. – Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), Registo Geral de Mercês de D. João VI, Livro 14. – Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), Livro de Registo de Casamentos 1783/1792, Paróquia dos Anjos. – Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT), Livro de Registo de Óbitos 1829/1840, Paróquia dos Anjos. – Arquivo Histórico Militar (AHM), Legiões, 3ª Divisão, 22º Secção, cx.3.

Impressas – SILVA, Inocêncio Francisco da - Dicionário Bibliográfico Português, tomo IV.

Periódicos Jornal das Cortes: – GONÇALVES, Adelto e FERNANDES, Carlos - «José Daniel Rodrigues da Costa, o Josino Leiriense» (Nº 316, 08/03/2014). – FERNANDES, Carlos - «José Daniel Rodrigues da Costa, bobo da corte e bobo do vulgo» (Nº 317, 05/04/2014). Notícias de Colmeias: – OLIVEIRA, José - «Poeta da Bouça rivalizou com Bocage» (Nº 14, 04/02/2001). – PEREIRA, Carolina - «Ars Memoriae: José Daniel Rodrigues da Costa (1757-1832), o Josino Leiriense» (Nº 190, 04/10/2015). – PEREIRA, Carolina - «Um soneto de José Daniel Rodrigues da Costa na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC)» (Nº 191, 01/11/2015). O Mensageiro: – MATOS, Roque de - «Um leiriense desconhecido. José Daniel Rodrigues da Costa, um colmeense ilustre» (Nº 1529, 08/03/1947).

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Cadernos de Estudos Leirienses – 6 * Dezembro 2015

Bibliografia – COSTA, Avelino Jesus da – Normas gerais de transcrição e publicação de documentos e textos medievais e modernos. 3ª Edição. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Paleografia e Diplomática, 1993. – COSTA, José Daniel Rodrigues da Costa - O Almocreve das petas e outras prosas. Selecção, pref., leitura de texto e notas de João Palma-Ferreira, maqueta de Manuel Correia. Lisboa, 1ª Edição, 1974. – FONSECA, Luís Adão da – O essencial sobre o Tratado de Windsor. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2007 – GOMES, Laurentino – 1808. Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. Lisboa: Planeta, 2007. – GOMES, Saul António – Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 8 Leiria. Coimbra: Palimage, 2009. – MARQUES, A. H. De Oliveira – História de Portugal, vol. II (do Renascimento às Revoluções Liberais). Lisboa: Editorial Presença, 13ª Edição, 1998. – MARQUES, A. H. De Oliveira – História de Portugal, vol. III (das Revoluções Liberais aos nossos dias). Lisboa: Editorial Presença, 13ª Edição, 1998. – REIS, A. Do Carmo – Invasões Francesas. As revoltas do Porto contra Junot. Lisboa: Editorial Notícias, 1991.

Web – BNP, http://purl.pt/6640 (Consultado a 25/09/2015). – BNP, http://purl.pt/6589 (Consultado a 25/09/2015). – Arquivo Histórico Militar (AHM), http://www.exercito.pt/sites/AHM/Guia_de_Fundos/Documents/322%20Legi%C3%B5es.pdf (Consultado a 22/09/2015). – Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), http://www.patrimoniocultural.pt/ (consultado a 22/ 09/2015).

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