ARTE & TECNOLOGIA: ENSINO E PRÁTICAS EM SALA DE AULA

September 19, 2017 | Autor: Rosane Cantanhede | Categoria: Arts Education, Theory and Practice of Visual Arts, Art and technology
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IV MOSTRA DE TRABALHOS DE CURSOS TÉCNICOS Colégio Técnico de Campinas – COTUCA/UNICAMP 26 de setembro de 2014

ARTE & TECNOLOGIA: ENSINO E PRÁTICAS EM SALA DE AULA Professora Coordenadora: Rosane dos Santos Cantanhede Kaplan, [email protected] Alunos: Ana Beatriz Pinheiro Mendes, Arthur de Sá Guimarães, Lucas Medeiros de Oliveira, Gabriel José Costa de Souza e João Gabriel da Fonseca Santos Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ, Campus São Gonçalo. Endereço: Rua Dr. José Augusto Pereira dos Santos, s/nº (C.I.E.P. 436 Neusa Goulart Brizola) Neves − São Gonçalo CEP: 24425-004 Resumo: O presente trabalho expõe o resultado do projeto "Arte & Tecnologia: ensino e práticas em sala de aula", que foi desenvolvido dentro do programa da disciplina Artes I e II - módulo Arte Contemporânea, no primeiro trimestre de 2014, com as turmas dos primeiros e segundos períodos do curso médio técnico em Química do IFRJ, campus São Gonçalo. O projeto teve como alvo pesquisar movimentos e artistas que surgiram a partir do início do século XX até o presente momento, cujas obras exploraram as diversas linguagens e meios tecnológicos em suas produções, sobretudo em manifestações que dialogam com a fotografia, o vídeo e a música. Propôs uma abordagem interdisciplinar, dialogando com a física (mecânica), química (materiais), português e filosofia (reflexões, diálogos, texto), sociologia e geografia (cidade e expressões culturais),além da informática (vídeo, arte digital). A metodologia dividiu-se em três etapas: a) visita técnica ao Museu Oi Futuro, no Rio de Janeiro, com o objetivo de propiciar o contato dos alunos com a evolução dos meios de comunicação, assim como, conhecer manifestações artísticas que refletem aspectos da arte contemporânea; b) estudo de teorias e conceitos da história da arte em sala de aula, com vistas a instigar reflexões sobre conceitos e práticas artísticas que busquem um diálogo entre a arte e a tecnologia (arte cinética, vídeo arte, imagem fotográfica, arte sonora), e processos de hibridização; e c) atividades e projetos de criação, tendo como alvo o desenvolvimento da expressão criativa em trabalhos com diferentes meios e técnicas, explorando as novas linguagens tecnológicas que fazem parte do dia a dia dos alunos. O resultado alcançado excedeu às expectativas, não apenas introduzindo artistas e manifestações que se apropriam de recursos tecnológicos no campo da arte, como ampliando os horizontes dos estudantes para além da arte tradicional, promovendo práticas em sala de aula de forma lúdica e prazerosa, em consonância com os meios e recursos tecnológicos da atualidade. Palavras-chave: Educação, Artes, Artes Visuais, Tecnologia. INTRODUÇÃO Seguindo o curso das mudanças apontadas pelas vanguardas modernas que emergiram em meados do século XIX, inúmeros artistas de forma individual ou coletiva, adotaram os recursos técnicos e tecnológicos em suas produções, avançando para além das formas de representações tradicionais das Belas Artes. Neste cenário de mudanças, desde a primeira década do século XX, irão emergir artistas e movimentos em busca de uma nova visualidade. Derrubando os enquadramentos dos gêneros, rompem com as concepções da estética clássica, abrindo mão do espaço tridimensional em pinturas que se relacionam de maneira mais direta com o tempo dos movimentos frenéticos da sociedade moderna, com destaque os artistas do movimento Futurista na Itália que buscavam enaltecer a máquina em pinturas, esculturas e objetos de investigação sonora, ou ainda os do movimento Dadá, que exploraram a fotografia e objetos de uso cotidiano, como por exemplo, os readymades de Machel Duchamp.

A controvérsia travada no século XIX entre a pintura e a fotografia quanto ao valor artístico de suas respectivas produções parece-nos hoje irrelevante e confusa. Mas longe de reduzir o alcance dessa controvérsia, tal fato serve, ao contrário, para sublinhar sua significação. Na realidade, essa polêmica foi a expressão de uma transformação histórica, que como tal não se tornou consciente para nenhum dos antagonistas. (BENJAMIN, 1994)

IV MOSTRA DE TRABALHOS DE CURSOS TÉCNICOS, 26 de Setembro de 2014, Campinas - São Paulo A invenção da fotografia repercute no meio artístico, marcando um divisor de águas na esfera da pintura que busca sua autonomia sem preocupação com a mimese no uso da planaridade como negação da perspectiva euclidiana, na cor aplicada em sua pureza, assim como, em investigações estéticas livre dos moldes acadêmicos. O conjunto heterogêneo das produções artísticas que se desenvolveram ao longo do século XX, apresentam obras de caráter híbrido que fundem meios e linguagens, atravessando as fronteiras e os limites da arte tradicional, “ a fotografia e o cinema experimental já estavam começando a se afirmar como novas formas de arte. Dos anos 50 a 60, o cinema experimental voltou a receber um grande impulso principalmente nas obras de artistas do movimento Fluxus.” (SANTAELLA, 2010) 1.

Módulo Teórico - Arte & Tecnologia na História da Arte 1.1 Arte Moderna: Futurismo e Dadá

A fim de introduzir o conteúdo programático aos alunos, apresentamos através de aulas expositivas os seguintes movimentos e artistas, cujas obras exploram as diversas linguagens e meios tecnológicos em suas produções a partir do início do século XX até o presente momento. O Futurismo foi um movimentos artístico no qual a máquina ganhou destaque, tendo sido representada e explorada em diferentes meios e formas pelos artistas: Umberto Boccioni [1882-1916], Luigi Russolo [1885-1947], Carlos Carrá [1881-1966], Giacomo Balla [1871-1958] e Gino Severini [1883-1965]. Seu inventor, o poeta Marinetti, escreveu o primeiro manifesto batizando-o de Futurismo em 20 de fevereiro de 1909, “Mais consciente do que a maioria dos escritores e artistas sobre o mundo do poder tecnológico crescente, Marinetti queria que as artes demolissem o passado e celebrassem as delícias da velocidade e da energia mecânica.” (STANGO; LYNTON, 2000) Este movimento rejeitou todas as tradições, os valores e instituições consagrados pelo tempo, surgiu na Itália e se propagou rapidamente por toda a Europa. Na base de seus interesses, encontramos uma temática voltada para a metrópole, luz, energia, movimento mecânico e ruídos (ritmos da máquinas, transportes públicos – trens etc.), e o meio urbano. As pinturas e esculturas futuristas trazem forte influencia do cubismo analítico e sintético, mas também encontramos máquinas e objetos singulares fruto das investigações sonoras de Luigi Russolo que, “Almejou criar uma música apropriada a uma era de energia mecânica, inventando várias máquinas geradoras de ruídos e compondo peças para elas com títulos tais como ‘O despertar da cidade’ e ‘O encontro de aviões e automóveis’.” (STANGO; LYNTON, 2000) Dadá foi outro movimento artístico que explorou os recursos tecnológicos da época, sendo que seus adeptos diferentemente dos futuristas questionavam a arte como uma transação comercial manipulada pela sociedade burguesa da época. Assim, num certo sentido, o Dadá existiu para se destruir, de todo modo, os dadaístas continuaram produzindo objetos antiarte, como por exemplo” Gift”, de Man Ray (um ferro de engomar comum com uma fila de pregos de latão espetados na base) ou os readymades de Marcel Duchamp que exploram a ideia do objeto escolhido ao acaso de fabricação industrial; segundo o artista, os readymades não são fruto de uma escolha ditada pela apreciação estética, e sim, por “uma reação de indiferença visual, ao mesmo tempo com uma total ausência de bom gosto ou de mau gosto, de fato, uma completa anestesia”. (STANGO; ADES, 2000)

Figura 1: Marcel Duchamp, “L.H.O.O.Q”, interferência sobre reprodução fotográfica, 1919. Figura 2: Alunos do 2° período, “Poéticas contemporâneas”, fotografia de celular digitalizada em aplicativo de dispositivos móveis, 2013.

IV MOSTRA DE TRABALHOS DE CURSOS TÉCNICOS, 26 de Setembro de 2014, Campinas - São Paulo O nome Dadá (que significa o primeiro som emitido pela criança), foi encontrado ao acaso por Ball e Huelsenbeck, ao folhearem um dicionário alemão-francês. Para Ball, Dadá expressa o primitivismo, o começar do zero, o novo na arte. Surgiu no Cabaré Voltaire, que era um misto de "nigth club" e de sociedade artística, ponto de encontro de poetas e de jovens artistas que costumavam declamar seus poemas, pendurar quadros, cantar, dançar e fazer música. Foi nesse contexto artístico-cultural que surgiu o movimento Dadá tendo a adesão de: Hugo Ball, Marciel Janco, Tristan Tzara, Georges Janco, Hans Arp, Georges Grosz, Hannah Hoch, Raoul Hausmann, John Heartfield, Hans Richter, Tristan Tzara, Kurt Schwitters, Max Ernst, Johannes Baargeld, Marcel Duchamp, Francis Picabia e Man Ray. Com o descrédito da obra de arte veio o cultivo do gesto, um modo de vida. Segundo Dawn Ades, existiram dois tipos de ênfase dentro do Dadá, "Por um lado havia aqueles como Ball e Arp, que buscavam uma nova arte a fim de substituir o esteticismo gasto e irrelevante; e, por outro lado, aqueles como Tzara e Picabia, empenhados na destruição pela zombaria, e também preparados para explorar a ironia de sua posição, burlando o público a respeito de sua identidade social como artistas." (2000) 1.2 Pós-modernismo: Arte Cinética

Dentre os movimentos artísticos da segunda metade do século XX, estudamos a Arte Cinética, ou arte que envolve movimento1, a qual possui uma estreita relação com os manifestos futuristas, no que tange a ideia de movimento. Alem do Futurismo, encontramos esculturas móveis nas obras de Tatlin, Roschenko, Gabo e Pevsner (1920), artistas pertencentes ao Construtivismo russo, que operaram no sentido estrito introduzindo a dimensão temporal ao objeto de arte; segundo Gabo “A escultura construtiva é não só tridimensional; ela é tetradimensional, na medida que que estamos tentando inserir nela o elemento de tempo. Por tempo entendo movimento, ritmo: tanto do movimento real quanto ilusório, que é percebido através do fluxo de linhas e formas na escultura ou na pintura”. (STANGO; BARRET, 2000) A partir dessas obras o espectador deixa de seu um observador passivo para se tornar ativo na completude da obra. A Arte Cinética apresenta características, dentre as quais Cyril Barret define como: “1. Obras que envolvem movimento real; 2. Obras estáticas que produzem seu efeito ‘cinético’ pelo movimento do espectador; 3. Obras envolvendo a projeção de luz; 4. Obras que requerem a participação do espectador”. (2000) As obras que envolvem a participação do espectador, movimento real e a luz foram exploradas pelo Groupe de Recherche d’Art Visuel (1963) ao qual pertenciam Le Parc, Morellet e Garcia-Rossi, que tinham como meta diminuir a distância entre o espectador e a obra de arte. Para o artista Le Parc, o movimento e a luz constituem matéria-prima na construção de suas “esculturas móveis” (fig. 3) que se projetam no espaço em contraste aos ambientes escuros, sendo acionadas a partir de dispositivos mecânicos, ou ainda, por meio de botões com participação do público visitante.

Figura 3: Le Parc, “Lumière”, escultura de luz, 1960. Figura 4: Alunos do 1° período, “Objeto Cinético”, técnica mista, pilha e fios eletricos, 2013.

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A palavra deriva do grego Kinesis, movimento, Kinetikos, móvel. (STANGO; BARRET, 2000)

IV MOSTRA DE TRABALHOS DE CURSOS TÉCNICOS, 26 de Setembro de 2014, Campinas - São Paulo 2.

Visita Técnica - Arte Contemporânea

Com a visita ao museu Oi Futuro, nós alunos conseguimos entender melhor sobre a arte e a comunicação tecnológica; aprendemos que nem sempre é importante um conceito para explicar um determinada obra, e que nossa interpretação e conhecimento individual não são suficientes para entender e imaginar um significado para aquilo que observamos e ouvimos. E o museu nos possibilitou entender melhor sobre a tecnologia e sua importante participação m nossas vidas para viabilizar canais de comunicação para as pessoas. (Aluna Alana da Conceição Santos, turma 101ª- IFRJ, campus São Gonçalo)

Desde o final dos anos 1960, observou-se um crescente interesse por práticas artísticas que viam os recursos tecnológicos como um campo potencialmente ativo à experimentação. A exploração da fotografia, do vídeo e dos computadores por artistas contemporâneos ampliou o campo das investigações estéticas, contribuindo para a expansão dos territórios de apresentação e circulação da “obra” que não mais se enquadrava nos parâmetros de classificação da história da arte tradicional e, muito menos, nos limites circunscritos pelas instituições tradicionais do circuito da arte. Hans Belting e Arthur Danto, analisam essas rupturas como sintoma do fim das narrativas históricas tradicionais. Caminhando em outras direções, o artista contemporâneo transita “não se movendo mais por um caminho retilíneo, no sentido do desenvolvimento histórico, mas dirigindo seu olhar para uma ciência da arte que não reconhece mais um modelo obrigatório para apresentação do seu objeto.” (2006:175). As consequências são sentidas em práticas artísticas que promovem a dissolução dos gêneros artísticos tradicionais e a larga utilização dos recursos tecnológicos em projetos de criação que refletem seu tempo. Os artistas contemporâneos, de uma maneira ou de outra, se sentiram à vontade para tomar as rédeas da sua própria obra, formulando suas teorias, buscando romper os limites da relação tradicional do público com a obra de arte por uma relação direta, corporal, interativa e não contemplativa. A obra contemporânea já não mais se configura no espaço do museu e sim para além dos seus limites, tendo inúmeros meios expressivos como suporte. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatamos que o panorama atual, com o advento da globalização abriu um leque de possibilidades no campo das expressões visuais, permitindo assim, que outros campos e saberes aportassem ao mundo da arte. Isto se deve, ao afrouxamentos das fronteiras culturais e do estreitamento entre os campos da arte e vida. A história da arte tradicional que tinha como principal meio discursivo a pintura e a escultura, teve que ceder lugar às inúmeras possibilidades propostas pela arte pós-moderna. Certamente a morte dessa tradição gerou questionamentos sobre o que poderia ser considerado arte, estes são dilemas enfrentados por uma sociedade acostumada a um sistema de controle excludente, e que tenta manter os olhos fechados à essas transformações, mesmo estando em um mundo imerso em novas tecnologias, conectada em todas as direções. Há que se aceitar que o desenvolvimento do conhecimento não mais se configura somente de dentro dos muros das academias, mas sim em toda parte onde possa haver troca de ideias e realizações, vive-se um momento onde não só os artista criam mas a sociedade como um todo busca por se expressar. BIBLIOGRAFIA BELTING, Hans. “O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois”. São Paulo: Cosac&Naif, 2006. BENJAMIN, Walter. “Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura história e cultura”. São Paulo: Brasiliense, 1994. 1 v. Paulo Rouanet. DANTO, Arthur C. “Após o fim da Arte: A Arte Contemporânea e os Limites da História”. Trad. Saulo Krieger. São Paulo: Odisseus Editora, 2006. SANTAELLA, Lúcia. “Culturas e artes do pós-humano. Da cultura das mídias à cibercultura”.Coordenação Valdir José de Castro. - São Paulo: Paulus, 4a. Ed. 2010. STANGO, Nikos, org; LYNTON, Norbert. Futurismo, In: “Conceitos da arte moderna”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Revisão técnica, Reinaldo Roels. Pgs. 85-92. ______________ ADES, Dawn. Dadá e Surrealismo, In: “Conceitos da arte moderna”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Revisão técnica, Reinaldo Roels. Pgs.97-120. ______________BARRET, Cyril. Arte Cinética, In: “Conceitos da arte moderna”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Revisão técnica, Reinaldo Roels. Pgs. 184-195. RESPONSABILIDADE AUTORAL “Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo deste trabalho”.

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