Arte Rupestre incisa entre o Tejo e o Zêzere: Contributo para o seu inventário, tipologia e datação

July 22, 2017 | Autor: Fernando Coimbra | Categoria: Archaeology, Rock Art (Archaeology), Arqueología, Arte Rupestre, Arte Rupestre Prehistórico
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FICHA TÉCNICA

ARKEOS | perspectivas em diálogo, nº 34 Propriedade: CEIPHAR - Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo Volume editado com apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia Direcção: a Direcção do CEIPHAR Editores deste volume: Ana Rosa Cruz, Ana Graça, L. Oosterbeek, Pierluigi Rosina © 2013, CEIPHAR e autores Composição: CEIPHAR

CONSELHO DE LEITORES (referees)

Abdulaye Camara (Senegal) | Carlo Peretto (Italy) | Fábio Vergara Cerqueira (Brazil) Luís Raposo (Portugal) | Marcel Otte (Belgium) | Maria de Jesus Sanches (Portugal) Maurizio Quagliuolo (Italy) | Nuno Bicho (Portugal) | Pablo Arias (Spain) Saúl Milder (Brazil) | Susana Oliveira Jorge (Portugal) | Vítor Oliveira Jorge (Portugal) TIRAGEM: 500 exemplares | DEPÓSITO LEGAL: 108 463 /97 ISSN: 0873-593X | ISBN: 978-989-97610-6-3 ARKEOS

editada pelo Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, que Pré-História, Arqueologia e Gestão do Património. A recepção de originais é feita até 31 de Maio ou 30 de Novembro de cada ano, devendo os textos ser enviados em suporte digital, incluindo título, resumo e palavras-chave no idioma do texto do artigo, em inglês e em português. Os trabalhos deverão estar integrados na temática do volume em preparação e serão submetidos ao conselho de leitores. A aprovação ou rejeição de contribuições será comunicada no prazo de 90 dias.

CONTACTAR CEIPHAR | Centro de Pré-História do Instituto Politécnico de Tomar

Estrada da Serra, 2300 TOMAR | PORTUGAL

TOMAR, FEVEREIRO DE 2013

Arte Rupestre incisa entre o Tejo e o Zêzere: Contributo para o seu inventário, tipologia e datação FERNANDO COIMBRA SARA GARCÊS

RESUMO:

por alguns investigadores portugueses. Todavia torna-se necessária uma distinção entre Nesta comunicação os autores apresentam um inventário dos sítios rupestres com este distinguindo-se a espessura de traço, apresentando-se paralelos de outras regiões de Portugal e de Espanha próximas da fronteira portuguesa, abordando-se ainda a problemática da cronologia deste tipo de arte. PALAVRAS-CHAVE:

ABSTRACT:

Tagus and Zêzere rivers. A typology is developed, distinguishing the thickness of the grooves. Parallels from other Portuguese regions are presented and also from Spanish areas near the border. The problematic of chronology is also considered.

INTRODUÇÃO A arte rupestre produzida com a técnica da incisão (com utensílio investigadores portugueses. Todavia, torna-se indispensável uma distinção entre motivos elaborados com traço médio/grosso e os executados a

encontrar um consenso sobre a nomenclatura deste tipo de arte. Vejamos: André Glory (1947) e P. Canturri Montanya (1974) chamam-lhe arte esquemática; G. Isetti (1957), D. Seglie (1982) e H. de Lumley (1995) consideram-na arte linear; para J. Abélanet (1990) é arte esquemática linear; A. Priuli (1993) denomina-a Alguns investigadores espanhóis tratam-na simplesmente como grabados rupestres (Sevillano San José, 1991). | ARKEOS 34 |

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esquemática” não caracteriza a arte estudada neste artigo, pois é aplicada também a motivos pintados e picotados; “arte linear” tampouco resolve a situação, pois sulcos obtidos por picotagem também constituem linhas (semirretas e curvas) mas não são “arte linear”, isto é, incisa como nós a denominamos. Deste modo pensamos que um termo coerente para designar a arte rupestre abordada neste artigo terá que se relacionar com a sua técnica de execução. Daí surge a nossa proposta de “arte incisa”. Pretende-se que o presente trabalho seja um contributo para o inventário, tipologia e datação deste tipo de arte em Portugal, cuja bi-

Em Itália, diversos investigadores têm estudado gravuras 1

época medieval, o que ultrapassa o âmbito cronológico deste trabalho.

Informação pessoal de Anabela B. Pereira, do Museu de Mação.

de outros países da Europa latina onde, nos últimos 20 anos, diversos investigadores a ela se têm dedicado mais intensamente, nomeadamente C. Sevillano San José, A. Domínguez García, M. Aldecoa Quintana (em Espanha), P. Canturri Montanya (em Andorra), J. Abélanet, P. Campmajo, N. Bianchi (em França), A. Priuli (em Itália1).

1. INVENTÁRIO Mação, Nisa, Sertã, Oleiros e Proença-a-Nova, apresentados de ocidente para oriente, iniciando com os mais próximos do Tejo, passando

2

Mário Varela Gomes (2004) admite a existência de gravuras cas na Rocha 11 de Gardete (Vila Velha de Ródão). Todavia, após duas visitas ao local, em épocas diferentes do ano, não nos parece que se trate de incisões rupestres, que implicam sempre extração de rocha e uma patine diferente da superfície envolvente. O que 3

existe diferença absolutamente nenhuma na patine, o que nos leva a colocar em dúvida a realidade destas eventuais gravuras incisas paleolíticas que, a serem verdadeiras, seriam um único caso conhecido até à data na região. Ver adiante a secção sobre tipologia. 4

Velha de Ródão fomos informados da existência de alguns motivos deste tipo de arte2, mas não tivemos oportunidade de os observar nem vimos nada ainda publicado sobre o assunto. Neste artigo abordamos apenas arte incisa pós-paleolítica, pois não nos parece que se tenham descoberto até hoje exemplos absolutamente credíveis com cronologia anterior.3 Passamos seguidamente ao inventário propriamente dito: 1.1. Mação Neste município a arte rupestre incisa surge em dois locais: Junto ao rio Ocreza e mais para norte, na Ribeira de Pracana. 1.1.1. Rio Ocreza Prospeções efetuadas em 2001, na sequência do impacto ambiental causado pela atual A23, permitiram descobrir algumas rochas com gragravadas com a técnica da incisão: Rochas 1, 4, 5, 6, 7, 9 e 13 (Oosterbeek, 2003). cronológico. A Rocha 1 tem um motivo em forma de triângulo, o que, na opinião de alguns autores, poderá constituir a representação de um punhal (Oosterbeek, 2002; 2003), existindo um exemplo semelhante na Rocha 2 de Figueiredo (Sertã). As gravuras da Rocha 9 consistem num conjunto de linhas paralelas, enquanto na rocha 13 se pode observar uma espécie de “asterisco”4 (Fig. 2). | ARKEOS 34 |

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1.1.2. Ribeira de Pracana Nesta zona do Vale do Ocreza destacam-se duas rochas, a n.º 12 e a e uma possível seta (Monteiro; Gomes 1974-1977). Esta rocha tem a particularidade de se encontrar muito próxima da linha de água da albusubmersa, o que aumenta o seu processo de erosão. 1.2. Nisa Neste concelho a arte incisa conhecida até à data limita-se à existente na Rocha 168A de São Simão, que apresenta também gravuras ta integrada no 10.º Curso Intensivo de Arte Pré-histórica Europeia5. cronologia imprecisa, pois surgem sem associações, embora se trate de um motivo que ocorre frequentemente em rochas atribuídas ao Bronze Final e à Idade do Ferro.

Organizado pelo Instituto Politécnico de Tomar/ Museu de Arte Pré-histórica de Mação 5

1.3. Sertã Entre o Tejo e o Zêzere, a Sertã é o município que apresenta maior número de casos de arte incisa. Localizam-se todos na freguesia de Figueiredo, respetivamente a Rocha 1 (ou Laje da Fechadura), a Rocha 2 e a Rocha 3. 1.3.1. Rocha 1 13m de comprimento por 4,50m de largura. Está intensamente insculturado, com algumas gravuras executadas a traço médio/grosso e outras -se a traço médio grosso: um machado de talão, um arboriforme, dois pentagramas, reticulados, retângulos e quadrados de tipologia diversa, alguns escalariformes e linhas paralelas e convergentes. Existe ainda uma possível vulva, um possível escutiforme e algumas inscrições, sendo provavelmente duas pré-romanas e duas de período romano. riforme, dois pentagramas, alguns reticulados, retângulos e quadrados, escalariformes um ziguezague e conjuntos de linhas paralelas e convergentes. No que diz respeito ao tipo de arte que apresenta esta rocha é, sem Português, devido não só à quantidade das gravuras existentes mas prindo machado de talão referido (Batata e Coimbra, 2005: Fig. 2) torna-se importante em termos de datação dos motivos que lhe estão associados, tal como a sobreposição de algumas gravuras por elementos datáveis6. | ARKEOS 34 |

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É o caso de um retângulo com linhas raiadas internas, que está sob uma inscrição romana provavelmente do séc. I d.C., que funciona como terminus ante quem (Fig. 1). 6

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Outra gravura muito curiosa e rara é uma inscrição, aparentemente pré-romana, onde uma das letras é uma suástica (Batata, Coimbra, Gaspar, 2004: Fig. 4; Coimbra e Garcês, 2010: 18; Coimbra, no prelo). 1.3.2. Rocha 2 Foi descoberta em 2004 por um de nós (F. Coimbra) e por C. Batata Tornou-se necessário efetuar uma limpeza da terra vegetal que encobria numerosas 7

mento (inicialmente com cerca de 60cm x 40) com 5,40m de comprimento e 1,65m de largura. 8 Elaborado pela técnica de “traço múltiplo”. 9 Cf. também o desenho deste motivo em Coimbra e Garcês (2010: 12).

tação rasteira, tinha colocado à mostra uma pequena superfície xistosa rasante ao solo com gravuras efetuadas por incisão. Apenas em 2008, no âmbito do Projeto Ruptejo, houve possibilidade de estudar esta nova rocha7 que, tal como a Rocha 1, apresenta antropomorfo esquemático cruciforme8, ziguezagues (simples e cruza(Fig. 3)9 e um “asterisco” ou motivo “astral”. Efetuadas a traço médio/grosso existem gravuras como retângulos, escalariformes, cruciformes e linhas paralelas e convergentes. 1.3.3. Rocha 3 Foi descoberta nas mesmas condições que a rocha anterior, mas motivo aparente. Foi também alvo de limpeza da cobertura vegetal em trabalhos com 1,30m de comprimento e 0,75m de largura. O facto de esta rocha ter estado coberta por terra conservou muito bem as gravuras nela efetuadas, acontecendo o mesmo na Rocha 2.

Tentámos visitar esta rocha para a observar diretamente, mas por indisponibilidade de tempo dos seus descobridores tal foi impossível antes da conclusão deste trabalho. 11 De acordo com informação pessoal do Presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro do Esteval existiam gravuras numa área atualmente submersa pela albufeira da barragem da Pracana. Deste modo, esta freguesia, 10

Ocreza, poderá revelar mais gravuras (efetuadas por picotagem ou por incisão) caso de futuro seja possível baixar temporariamente o nível das águas da barragem.

1.4. Oleiros Na zona oriental da Serra do Cabeço Rainha, no local denominado por duas pequenas linhas quebradas, que poderão ser pequenos ziguezagues, ou, na opinião dos seus descobridores, representar a letra M de uma eventual inscrição (Caninas, Henriques, Batata, Batista, 2004). Todavia, na Rocha 2 de Figueiredo existem dois motivos iguais a este de Oleiros, com uma patine idêntica a gravuras que se encontram próximas e que são de cronologia nitidamente pré-romana, não constituindo, neste caso, uma letra. Pensamos que o mesmo se poderá passar relativa10 (Coimbra, no prelo). 1.5. Proença-a-Nova Na localidade de Várzea Grande, Freguesia de Proença-a-Nova, encontra-se a denominada “Pedra das Letras”, único testemunho de arte rupestre conservado até à data neste município11. Foi descoberta em 1939 pelo Padre Henrique Louro, que interpretou inicialmente os motivos como caracteres de escrita ibérica (Louro, 1939). | ARKEOS 34 |

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As gravuras consistem em conjuntos de linhas paralelas e de linhas paralelas e convergentes efetuadas a traço médio/grosso. O seu levantamento integral foi efetuado em 1991 por Thomas Bubner, encontrando-se o desenho depositado no Laboratório de Arte Rupestre do Instituto Terra e Memória (Mação). Mais recentemente foi alvo de um trabalho aprofundado por parte de F. Henriques e J. C. Caninas (2009).

2. TIPOLOGIA E PARALELOS versos, como por exemplo: escalariformes, cruciformes, ziguezagues (simples e cruzados), pentagramas, retângulos, quadrados12, reticulados, arboriformes13 (machado, punhais, pontas de seta, arco), “asteriscos”, linhas paralelas e convergentes, conjuntos de linhas paralelas, “ângulos”, feixes de linhas, (Fig. 4). Algumas destas gravuras encontram paralelos em sítios rupestres de Portugal como S. Cristóvão e Monte do Oliveirinha, em Monsaraz (Calado et alli, 2008), a Pedra Letreira de Góis, Molelinhos, o Vale do Côa (Baptista; Reis, 2008), as “Pedras Escritas” de Ridevides, da Tapada do Cordeiro e do Poço da Moura, todas em Alfândega da Fé e o abrigo das Fragas do Diabo (Lemos e Marcos, 1984) em Mogadouro, entre outros casos. Outros motivos como cruciformes, retângulos, quadrados, idoliformes e feixes de linhas encontram paralelos principalmente nas províncias de Cáceres e Badajoz (Sevillano San José, 1991; Domínguez García e Aldecoa Quintana, 2007). O ziguezague cruzado da Rocha 2 de Figueiredo, motivo bastante raro, encontra apenas paralelo em Baridá, na Província espanhola de Lérida (Casamajor i Esteban, s/d) e em Itália, com três casos no Abrigo de Cavone (Astuti et alli, 2008). Quanto aos paralelos portugueses para os motivos que surgem entre o Tejo e o Zêzere apresentamos seguidamente alguns exemplos: Assim, escalariformes efetuados a traço médio/grosso podem ser vistos em S. Cristóvão, Monsaraz (Calado et alli, 2008), na Pedra Letreira de Góis e na Pedra Escrita de Ridevides.

No que se refere a retângulos e quadrados existem variantes tipológicas diversas, desde as suas formas geométricas simples até outras mais elaboradas, apresentando medianas e/ou diagonais. 13 Consideramos arboriformes (ou ramiformes) apenas os motivos que apresentam um eixo vertical de onde partem, para cada lado, linhas oblíquas. 12

em Molelinhos (Cunha, 1991) e alguns casos no núcleo da Foz do Côa (Baptista; Reis, 2008). Oliveirinha, em Monsaraz (Calado et alli, 2008), com um exemplar em Molelinhos14 e outro na Rocha 2 de Ribeira de Piscos, V.N. de Foz Côa (Coimbra, 2005). Os reticulados gravados a traço médio/grosso podem ser vistos na do Côa (Baptista; Reis, 2008), em Molelinhos (Cunha, 1991), no Monte do Oliveirinha (Calado, ob. cit.) e na Pedra Letreira de Góis. Os arboriformes são bastante raros em Portugal, surgindo um exem(Cunha, ob. cit.). Com esta técnica encontram-se ainda na Rocha 1A da Vermelhosa, no vale do Douro. | ARKEOS 34 |

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Trata-se de um pequeno pentagrama que se observa no único trabalho publicado até hoje sobre Molelinhos (Cunha, 1991), não sendo todavia mencionado no texto pela autora. 14

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na Pedra Letreira de Góis. encontra apenas paralelo, até hoje, na Pedra Letreira de Góis, o que vem realçar a importância deste achado. Em Portugal os “asteriscos” são pouco numerosos, mas podem ser vistos na Pedra Escrita do Poço da Moura. Linhas paralelas e convergentes encontram-se em Molelinhos (Cunha, ob. cit.), na Pedra Escrita de Ridevides (Santos Júnior, 1963) e no Prado da Rodela, Mogadouro (Santos Júnior, 1980). Surgem ainda nos abrigos 1, 3, 5 e 6 das Fragas do Diabo, no concelho de Mogadouro (Lemos e Marcos, 1984). Conjuntos de linhas paralelas podem ser vistos na Rocha 1A da Vermelhosa.

3. CRONOLOGIA A falta de estudos sistemáticos sobre a arte rupestre incisa pós-paleolítica em Portugal torna difícil e problemático o enquadramento cronológico de algumas gravuras, nomeadamente quando não há associações com outras insculturas de datação mais segura. Alguns dos motivos que surgem na arte aqui estudada como ziguezagues, arboriformes, reticulados, escalariformes, pontas de seta, entre Portugal, Espanha, Andorra, França e outros países, também aparecem gravados nas paredes de diversas grutas da região de Castilla y Léon. Escavações efetuadas em algumas dessas cavidades revelaram ocupações datadas entre aproximadamente 3000 e 1500 a.C., devendo ser a arte parietal de um período compreendido entre essas datas (Sanchidrián, 2005). Alguns desses mesmos motivos também surgem em placas de xisto megalíticas e em placas cerâmicas de diversos sítios calcolíticos de Portugal e de Espanha (Coimbra, 2010). Obviamente estes artefactos não datam a arte rupestre incisa, mas são elementos que devem ser equacionados na sua abordagem cronológica. Prospeções efetuadas em 2001 na margem esquerda do Rio Ocreza trando-se algumas destas gravuras sobrepostas por motivos picotados. eventualmente, datar do Neolítico. Para a região estudada neste artigo, no âmbito de uma datação preliminar, podemos dizer que a arte rupestre incisa se poderá enquadrar com uma maior concentração de motivos a partir de meados do II milénio a.C. De qualquer modo a datação deste tipo de arte necessita ainda de estudos sistemáticos, procurando paralelos inicialmente nas regiões espanholas próximas da fronteira portuguesa e posteriormente tentando compreender o fenómeno tipológico da arte incisa em regiões mais afastadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Há mais de duas décadas V. O. Jorge considerou a arte incisa pós-paleolítica como “uma manifestação artística autónoma” (1983: 61), outros grandes grupos temáticos da P. Ibérica. analisado em articulação com os paralelos existentes em diversas regiões de Portugal, Espanha, Andorra, Sul de França, e Norte de Itália. A semelhança estrutural de um leque de motivos que se pode encontrar em todos os países mencionados leva a pensar na existência de contactos culturais entre algumas dessas regiões pelo menos durante a Idade do Bronze e a Idade do Ferro (Coimbra, 2010). É uma ideia que faz mais sentido arboriformes, escalariformes, ziguezagues, reticulados e outros. Relativamente à análise proposta acima e apesar das distâncias inter-regionais serem grandes, recorde-se que existem evidências arqueológicas de contactos culturais entre regiões afastadas, como por exemplo a região de Almeria e a Ligúria, onde se descobriram recentemente cerâmicas calcolíticas típicas de Los Millares.15 De modo a estabelecer uma cronologia mais precisa para este tipo de arte torna-se necessário efetuar um corpus para o território nacional e observar os paralelos existentes em Espanha e mesmo além Pirenéus. a rochas publicadas há já várias décadas, como a Padra Letreira de Góis, ou a outras com artigos únicos, como é o caso de Molelinhos. BIBLIOGRAFIA ABÉLANET, J. (1990). Les roches gravées nord catalanes. Terra Nostra, n.º 5. Centre d’Etudes Préhistoriques Catalanes. Université de Perpignan, Prada: 101-209. ASTUTI, P.; COLOMBO, M.; CREMONESI, R. G. et alli (2008). Incisioni rupestri dal Riparo del Cavone (Spinazzola, Bari). Bulletino di Paletnologia Italiana, 97 Pigorini, Roma: 121-147. BAPTISTA, A. M. (1986). Arte rupestre pós-glaciária. Esquematismo e abstracção. História da Arte em Portugal, I. Alfa, Lisboa: 52-55. gem do Alqueva. Al Madan, 11, Série II. CAA, Almada: 158-164. BAPTISTA, A. M.; REIS, M. (2008). Prospeção da Arte Rupestre na com passagem pela II.ª Idade do Ferro. Atas do III Congresso de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior. Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão, Porto: 62-95. BATATA, C. (2006). Idade do Ferro e romanização entre os rios Zêzere, Tejo e Ocreza. Trabalhos de Arqueologia, 46. Instituto Português de Arqueologia, Lisboa.

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De acordo com imagens apresentadas por Filipo Gambari, responsável pela tutela da Arqueologia da Ligúria, no congresso L’arte rupestre delle Alpi, organizado em 2010 pelo Centro Camuno di Studi Preistorici. Quanto a contactos culturais na Protohistória entre o Norte de Itália e o Litoral (Centro e Norte) de Portugal, também baseados em evidências arqueológicas, cf. Coimbra (2005: 151). 15

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FIG. 2.

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