Artes Visuais na Educação Infantil

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ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Paulo Nin Ferreira

(in Oficinas de sonho e realidade na formação do educador da infância,
Nicolau, Marieta Machado e Dias, Marina Célia Morais (orgs.), ed. Papirus,
Campinas, 2003.)







"Es en la emergencia de lo imprevisible que está el secreto

de la creatividad. El pasaje de lo imprevisible a lo visible."[i]

(Sara Paín)


1 – APRESENTAÇÃO

Este trabalho foi feito a partir da minha experiência como professor de
artes visuais em escolas na cidade de São Paulo e Santo André. São
reflexões nascidas das observações sobre as crianças durante as atividades
e dos registros sobre esta prática. Outra contribuição muito importante
surgiu do contato com professores de Educação Infantil nos cursos de
formação que tenho ministrado. Contatos muito ricos em relatos de
experiências de trabalho que constituíram-se num verdadeiro aprendizado.
Esta é uma tentativa de oferecer diretrizes para o trabalho com artes
visuais a este professor.


2 - INTRODUÇÃO

Para pensarmos uma proposta em artes visuais na Educação Infantil, devemos
levar em conta, sobretudo, a característica lúdica do ato de criar.
Desenhar, pintar, modelar e construir são para a criança brincadeiras com
lápis, papel, tinta etc. A ação de criar é, assim como brincar, uma ação
investigadora que procura o tempo todo alargar os limites da percepção que
a criança tem do mundo e de si mesma.

O caráter exploratório de ensaio e erro dos processos criativos de artistas
é observável também em crianças e em pessoas de todas as idades. Na
infância explora-se o espaço, os materiais, os gestos, as sensações que vem
das cores, do tato, dos cheiros e sobretudo explora-se as possibilidades de
criar, inventar. Ao criar, a criança investiga acerca das suas
possibilidades de ser no mundo.

A expressão artística da criança se dá na construção de um discurso próprio
e pessoal. Se a arte é tornar visível o invisível, é trazer à superfície o
que estava submerso, a aula de artes visuais deve acolher todas as emoções,
da alegria à tristeza, da felicidade à angústia.

A produção da criança nas aulas de artes visuais manifesta as suas
interações socioculturais, vinda da experiência da família, da escola,
constituindo-se também um reflexo da cultura.


3 - O PROFESSOR DE ARTE

Ainda é uma realidade, numa grande parcela das escolas em geral, a pequena
importância que é dada às atividades artísticas. O adulto manifesta uma
grande expectativa quanto ao bom desempenho da criança, por força de um
currículo que privilegia o pensamento objetivo em detrimento do subjetivo.
O currículo compartimentado, que é sobrecarregado pelas matérias
relacionadas à escrita nos seus aspectos lógicos, tem pouco espaço para as
que exigem a percepção intuitiva ou o pensamento estético como, por
exemplo, a música, o teatro e as artes visuais. "O importante é notar que o
processo de divisão instalado em nossa sociedade que separa emoção e
pensamento, lazer e trabalho, arte e vida, e que consequentemente a escola
reproduz, está começando cada vez mais cedo. Pois a escola maternal, que
nasceu de uma necessidade de se preservar um espaço de jogo, se transformou
exatamente no seu oposto."[ii]

Sempre que abordo a questão da divisão do tempo entre as diversas áreas de
conhecimento na escola, com professores de Educação infantil, é quase uma
unanimidade a afirmação de que têm-se pouco tempo reservado às atividades
de caráter lúdico, sobretudo nas turmas de 4 a 6 anos.

Está claro que se há muito pouco tempo e espaço para brincar, há muito
pouco tempo e espaço para criar. Pois o criar é da natureza do brincar.

Hoje vemos um interesse crescente, por parte dos educadores, pelos serviços
de caráter educativo que são oferecidos pelos museus e centros culturais.
Há também uma quantidade significativa de publicações de arte voltadas para
o público infantil sendo adotadas nas escolas. Mas isto ainda é muito
recente. O que parece ocorrer é que professor hoje tende a reproduzir uma
cobrança social da escola "forte" em conteúdos de português e matemática.
Uma escola com uma visão empobrecida da arte, que podemos encontrar, como
que refletida por um espelho, nas atividades que hoje se proporcionam às
crianças.

"A presença das artes visuais na Educação Infantil, ao longo da história,
tem demonstrado um descompasso entre os caminhos apontados pela produção
teórica e a prática pedagógica existente. Em muitas propostas as práticas
de artes visuais são entendidas apenas como meros passatempos em que
atividades de desenhar, colar, pintar e modelar com argila ou massinha são
destituídas de significados.

Outra prática corrente considera que o trabalho deve ter uma conotação
decorativa, servindo para ilustrar temas de datas comemorativas, enfeitar
as paredes com motivos considerados infantis, elaborar convites, cartazes e
pequenos presentes para os pais etc. Nessa situação, é comum que os adultos
façam grande parte do trabalho, uma vez que não consideram que a criança
tem competência para elaborar um produto adequado."[iii]

PERSPECTIVAS DE TRANSFORMAÇÃO

Tenho enfatizado aos professores que se queremos formar uma pessoa que seja
mais crítica sobre o mundo que a cerca, temos que nos propor a ser mais
receptivos às manifestações das crianças, seja através da sua fala ou do
conteúdo que expressam através do desenho, da pintura, da modelagem etc.

"Para progredir, a criança precisa ser respeitada e sentir-se ouvida. Para
que também aprenda a ouvir, a criança precisa antes ser ouvida... mas sem
ser atropelada! Presença e disponibilidade por parte do adulto constróem o
laço afetivo, mas é preciso ter claro que cada brincadeira é uma busca; uma
interferência direta pode impedir que a criança faça suas descobertas e
domine dificuldades."[iv] Quando a criança é ouvida e sente que pode
manifestar seus pensamentos compartilhando-os com um real interlocutor,
reconhece melhor suas preferências e parece sentir-se mais segura para
fazer as suas escolhas nas brincadeiras, nos desenhos etc.

O ponto de partida para uma proposta de artes visuais que vise
instrumentalizar a fala da criança é uma pedagogia onde a relação
professor/aluno seja baseada no respeito às necessidades do aprendiz.

Tenho observado nos cursos de formação de professores dos programas de que
participo, uma outra questão que considero igualmente importante: uma
parcela muito significativa de professores traz sempre a queixa de que não
sabem desenhar; o desenho ficou esquecido nas séries iniciais,
eficientemente atrofiado por uma escola autoritária que não se interessou
por ouvir a fala de seus alunos.

"Recuperar o ser poético que é a criança só é possível quando os
professores se percebem como pessoas ainda capazes de viver o
estranhamento, que é o ser da poesia, quando o professor descobre nele
mesmo o prazer da criação."[v] Dar voz à criança, permitindo que ela possa
escolher entre uma ou outra brincadeira , um ou outro material ou tema de
trabalho, deve ser a intenção sempre presente do professor de artes visuais
na Educação Infantil. E isto só será possível se tivermos um professor
disposto a restabelecer um reencontro com o ato de criar, com a sua
expressão, seja através do desenho, da pintura, escultura etc.

"A possibilidade de nos relacionarmos sensível e integralmente com o
universo infantil vai se concretizar na medida em que o adulto reconhecer
em si a capacidade de exercer o ato criativo.

Ao resgatar o processo de aquisição da linguagem gráfica, retomando as
descobertas e as frustrações que envolvem o ato de desenhar, revivendo as
operações mentais e práticas que são exigidas pelo desenho, surgirá uma
forma inédita e pessoal de se relacionar com o universo infantil: a partir
da experimentação e da investigação nascem novos significados no encontro
entre o adulto e a criança."[vi]

Este caminho certamente não é fácil, pois envolve uma disposição interna
para a mudança, cujo aspecto mais significativo será perceber que há na
vida uma dimensão estética que nos torna mais sensíveis e esta dimensão
deve estar presente na escola que o professor constrói com seus alunos no
dia a dia. A isto também chamamos de educação da sensibilidade da qual o
educador deve ser um partícipe e cúmplice de seu aluno.






4 - A EDUCAÇÃO DO OLHAR

"O mundo quer ser visto: antes que houvesse olhos
para ver, o olho da água, o grande olho das águas
tranqüilas olhava as flores que se abriam. E é
nesse reflexo — quem dirá o contrário? — que o
mundo tomou, pela primeira vez, consciência de sua
beleza."[vii]

(G.Bachelard)

A arte já teve funções muito diferentes nos diversos momentos da história
e, por conseqüência, já houve diferentes formas de se entender o que é
arte. Na antigüidade, por exemplo, a arte estava relacionada aos cultos
religiosos, como é possível se verificar nos registros das paredes das
cavernas ou nas pinturas e esculturas das tumbas egípcias.

De qualquer forma, pinturas, esculturas e outras manifestações,
independentemente da época em que foram feitas, nos fazem sentir alguma
emoção que não pode ser inteiramente traduzida com palavras, pois nos
transmitem coisas que só podem ser percebidas em sua totalidade através da
visão.

Se podemos compreender algo apenas apreciando imagens ou objetos, é por que
entendemos uma linguagem, a linguagem visual. Analogamente à escrita, que
com letras, sílabas, palavras e frases constrói-se um texto, as artes
visuais utiliza-se de ponto, linha, cor, textura, forma, volume etc. para
tecer o texto visual.

O professor deve procurar instruir-se na gramática das imagens e perceber
que há um outro aspecto importante da presença da arte na escola: o prazer
de ver. A sensação de deslumbramento que temos ao nos aproximarmos de uma
obra de arte ou de uma surpreendente paisagem da natureza, nos coloca
predispostos a conhecer mais e mais aquilo que observamos.

Em algumas escolas encontraremos nas salas de arte coleções de imagens:
reproduções de obras de arte, fotografias e estampas com o objetivo de
alargar o repertório visual da criança e isto é muito positivo.

Contudo, nos trabalhos de apreciação é importante prestar atenção àquilo
que se mostra à criança, pois nada substitui a visão de uma obra de arte. A
criança, no seu processo de construção do conhecimento, busca identidades,
observa semelhanças e diferenças que não são evidentes quando utilizamos
reproduções. A espessura e o relevo da tinta, a intensidade das cores, a
dimensão real de uma pintura, escultura ou outro objeto de arte ou
artesanato, só poderão ser percebidas ao apreciarmos a obra real e não
apenas a sua reprodução. Neste sentido é importante levar os alunos a
apreciar estes objetos, seja numa feira "popular", oficina, ateliê, centro
cultural ou museu.

Os elementos de linguagem (textura, cor, tamanho de suporte etc.) devem ser
vivenciados pelas crianças nas atividades de artes visuais. Com este
objetivo é importante oferecer-se uma diversidade de materiais para
possibilitar o exercício da escolha. As sistematizações, elaboradas de
maneira a não ser um entrave à criação, se constituirão numa ampliação das
possibilidades expressivas da criança.


5 - OBJETIVOS DA ÁREA

A área de artes visuais compreende, entre outras, as linguagens da pintura,
desenho, escultura, fotografia, cinema, vídeo, computação gráfica.

As atividades de artes visuais na escola devem compreender o desenho, a
pintura e a colagem para a expressão no plano; a modelagem e a construção
para a expressão no volume.

Os objetivos da área devem ser:

Garantir o espaço da expressão individual na vivência de um processo
criativo e na construção de uma discurso pessoal, através do jogo e da
experimentação.

Desenvolver a autonomia da ação na utilização do espaço do ateliê ou do
"canto" de expressão em artes visuais nos seus diversos aspectos e momentos
do trabalho.

Desenvolver o trabalho em grupo, possibilitando a troca de experiências e a
socialização de descobertas que surgem no transcurso dos projetos.

Permitir o trabalho individual e introspectivo.

Estabelecer um vínculo profundo entre o ter o que dizer e o saber como
fazer. Neste sentido, buscar sempre o fazer verdadeiro evitando as
adaptações que descaracterizem a linguagem.

Estabelecer uma relação entre o conhecimento conquistado na prática, o
fazer da criança, com a cultura nos diversos espaços que a cidade oferece:
museus, centros culturais, etc.

Desenvolver o gosto pelo trabalho respeitando a própria produção e a
produção do colega.

Desenvolver o senso de organização e cuidado no espaço de trabalho pelo uso
adequado dos materiais, utensílios, ferramentas e mobiliário.


6 - OS REGISTROS E O PLANEJAMENTO

As observações do professor sobre os alunos, são o ponto de partida para se
construir um olhar sobre cada criança e de fundamental importância para o
planejamento curricular. Para o professor que planeja as atividades
compartilhando as decisões em algum grau com seus alunos ou que acolhe as
manifestações espontâneas das crianças, ser um observador constante e
atento é mais uma atitude, uma forma de estar no ambiente de trabalho.

Uma das funções principais do professor ao orientar atividades em artes
visuais é ajudar a criança a construir seu próprio discurso poético. "Seja
no trabalho individual, ou no coletivo, é necessário ter sempre presente
que arte é linguagem, portanto o importante é o que o aluno tem a dizer. O
professor dá os recursos, mas não o discurso."[viii]

Os recursos adequados e pertinentes só virão após uma observação acurada.
Os registros vão surgir para formalizar estas observações e devem estar
estruturados de tal forma a contemplar aspectos específicos da área, além
daqueles que já são observados em outros momentos.

Um exemplo: para a elaboração de um trabalho de construção com sucata a
criança faz escolhas dos materiais disponíveis na sala aula. Quando a
criança escolhe materiais num sucatário organizado, o professor pode
observar se há uma intenção em pesquisar este depósito. Se perceber que não
há uma exploração efetiva, apenas uma escolha superficial, pode orientar,
na seqüência de planejamento, um momento de roda para reorganizar os
materiais do sucatário com o objetivo de identificar seus diferentes tipos.
Isto irá renovar a aparência do sucatário, permitindo uma exploração mais
profunda.

Pode ainda, se perceber interesse de crianças de 4 a 6 anos, propor numa
série de rodas de conversa a identificação de cada um desses materiais,
caracterizando-os quanto as propriedades físicas perceptíveis, áspero ou
liso, duro ou mole etc., e num painel, ir afixando as descrições,
escrevendo-as, junto com uma porção de cada material.

O objetivo destas intervenções é tornar a criança o mais consciente
possível das suas possibilidades de escolha, de forma a enriquecer suas
produções, dando mais elementos para as construções. Ajudar a organização
das ações da criança só é possível ao lançar-se um olhar sobre o que fazem,
o que significa na verdade "escutar o que dizem", pois a criança estará
"falando" através do desenho, pintura, modelagem, construção, colagem...


7 - A ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE

É importante que o espaço onde se realizarão as atividades de artes visuais
esteja caracterizado e seja de facilmente identificável pela criança. Deve-
se organizar o espaço da sala, separando um "canto" para dispor os
materiais e utensílios de trabalho, deixando-os visíveis e acessíveis.
Desta forma a criança identificará a função a que se destina aquele canto
pelo reconhecimento dos objetos.

Porém, é importante que a criança possa fazer a escolha de quais materiais
são necessários à sua atividade, identificando-os e explorando as
possibilidades de uso, e para tanto, deve o educador permitir a
experimentação.

Possibilitar à criança contribuir com a arrumação e a organização é uma
forma de torná-la cúmplice e mais interessada na atividade. A organização
do mobiliário e dos objetos tem também uma função estética importante, que
proporcionará o desenvolvimento do gosto pelo trabalho.

Ter disponíveis todos os materiais e utensílios necessários ao trabalho é
importante mas não é tudo. Importa também as relações que se estabelecerão
na utilização do espaço no desenvolvimento do processo criativo. O educador
deve estar atento às necessidades do seu grupo quanto à forma como este se
utiliza dos espaços da sala, de maneira a propor desafios para que a
criação aconteça com a maior intensidade possível. Para tanto, a
organização do espaço deve ser flexível.

Se ao desenvolver uma atividade de pintura, por exemplo, percebe-se que há
um movimento de espalhar-se no chão para se conseguir um gesto mais amplo,
em determinado momento pode ser importante deslocar-se às mesas para um
canto da sala para permitir que papéis de maior tamanho sejam estendidos,
ou ainda, realizar parte da aula num pátio ou sobre uma parede de azulejos
com o mesmo objetivo.

De qualquer forma todos os espaços da sala devem ser explorados e sua forma
de utilização e organização deve ser tema nas rodas de conversa, sempre que
possível. Desta maneira a criança ao realizar a sua produção desenvolverá
uma ação plena de intenção, pois estará na busca de soluções para o seu
trabalho, o que contribuirá para uma crescente autonomia.

Poucas vezes, no entanto, a criança esta autorizada pelo adulto a escolher
a atividade que quer realizar e da forma que quer realizar. "A pressão do
currículo não pode substituir, em nenhuma situação, o valor educativo da
autonomia e da iniciativa própria das crianças. Mas ao mesmo tempo, os
professores(as) também precisam planejar momentos nos quais o trabalho
esteja orientado para o desenvolvimento daquelas competências específicas
que constam da proposta curricular."[ix] É importante buscar-se um
equilíbrio entre a iniciativa infantil e o trabalho dirigido. Para o
professor, permitir que seu aluno manifeste sentimentos, idéias através
das linguagens da arte, significa também, dividir com esta criança algumas
decisões sobre a organização espaço-temporal das atividades escolares; a
criança, desta forma, poderá expressar-se com mais intensidade e
propriedade.

A organização do espaço de forma sensível às necessidades infantis e o
desenvolvimento de atividades onde a iniciativa da criança tenha lugar,
interferem diretamente e qualitativamente na produção artística da criança.
"...uma das tarefas fundamentais de um professor(a) de Educação Infantil é
saber organizar um ambiente estimulante e possibilitar às crianças que
assistem a essa aula terem inúmeras possibilidades de ação, ampliando,
assim, as suas vivências de descobrimento e consolidação de experiências
(de aprendizagem, afinal)."[x]


8 - A INSERÇÃO DAS ATIVIDADES NA ROTINA DIÁRIA

A experiência estética que representa o ato de criar é um momento de
introspecção, de recolhimento, de olhar para dentro e tirar o de dentro
para fora. "Nas crianças, o criar — é uma tomada de contato com o mundo, em
que a criança muda principalmente a si mesma. Ainda que afete o ambiente,
ela não o faz intencionalmente, pois tudo o que a criança faz, o faz em
função da necessidade do seu próprio crescimento, da busca de se
realizar".[xi] Para que este processo possa acontecer sem atropelos, é
necessário que o educador conduza a aula observando o tempo necessário ao
seu grupo para a realização da atividade. Certamente, este tempo muda não
apenas de acordo com a faixa etária, mas também de grupo para grupo, de
atividade para atividade.

Uma rotina deve ser bem estruturada, de forma simples e flexível. O
professor deve mostrar claramente à criança a organização da rotina no
momento inicial do dia. Pode também fazer um registro em painel que seja
facilmente percebido pela criança. Certamente toda esta organização
contribuirá positivamente para a ação criadora e expressiva, objetivo final
da atividade.

"As rotinas atuam como organizadoras estruturais das experiências
cotidianas, pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do
processo a ser seguido e, ainda, substituem a incerteza do futuro (...) por
um esquema fácil de assumir. O quotidiano passa, então, a ser algo
previsível, o que tem importantes efeitos sobre a segurança e a
autonomia."[xii]

Num contexto autoritário, no entanto, os tempos são organizados rigidamente
com o sentido apenas de cumprir-se uma tarefa. Da mesma forma que cada
criança manifesta um "ritmo" para realizar as atividades, os grupos também
estabelecem dinâmicas próprias. Ao professor cabe observar estas
manifestações e replanejar as atividades para que a organização do tempo
esteja de acordo com as necessidades de cada grupo.

É importante que o tempo da atividade artística se constitua numa seqüência
de momentos que devem estar claramente pontuados para a criança. Uma forma
de dividir esse tempo é organizá-lo levando em conta a especificidade do
grupo e o planejamento para aquele dia de trabalho. Uma sugestão é iniciar
com uma roda, depois passar ao trabalho propriamente dito e finalizar
reservando um tempo para a organização da sala e dos materiais.

A AULA DE ARTE

a) A RODA

Este é o momento da troca de experiências, da manifestação verbal das
idéias: a fala da criança. Sob este aspecto, a roda constitui-se num
importante instrumento para a observação do educador e uma oportunidade da
criança ter atenção individualizada num contexto coletivo.

Muita coisa pode ser feita na roda:

Estabelecer os combinados e acordos.

Levantar os temas e assuntos de interesse dos alunos e que são trazidos por
eles mesmos como, por exemplo, as brincadeiras que fazem, ou as histórias
que gostam de contar.

Propor momentos de sensibilização para o trabalho como, por exemplo,
experimentar materiais observando suas características.

Apreciar trabalhos de aulas anteriores, identificando as ocorrências e
lançando desafios ou estratégias na busca de soluções aos problemas de
linguagem.

Um bom momento para se realizar os registros coletivos sobre algum aspecto
das atividades.

b) O TRABALHO

Deve-se ocupar a maior parte do tempo da atividade artística com a
produção. O ato de criar é uma atividade lúdica, e por este motivo deve ter
um mínimo possível de regras que garantam o bom andamento como o respeito
pelos colegas e pelo produto do trabalho. Movimentar-se é essencial neste
momento.

A principal função do professor neste momento é auxiliar cada criança a
materializar suas idéias. Não se trata de fazer o trabalho pelo aluno, mas
perceber qual é o desafio possível de ser enfrentado por cada um e propô-
los à criança. Estas pequenas intervenções, com o tempo, farão a criança
observar uma seqüência nas ações que favorecerá a compreensão e ao domínio
do próprio processo criativo.

c) A ORGANIZAÇÃO

O momento da organização deve ter a participação ativa das crianças dentro
do que é possível a cada faixa etária. Pegar um ou outro material para que
o professor organize quando a criança tem dois anos, por exemplo.
Contribuir com a classificação de um pequeno sucatário, com a limpeza de
pincéis ou da mesa de trabalho aos cinco anos, é sempre possível.

Estas atividades também contribuem para um maior envolvimento com o ato de
criar na escola, pelo desenvolvimento de um senso de responsabilidade que
modifica a relação da criança com o produto de seu trabalho.


9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Várias vezes já me solicitaram que fizesse indicações de atividades de
artes visuais para crianças. Tenho uma certa resistência em apresentar
receitas de trabalho por achar que este é o grande desafio do professor, o
seu espaço de pesquisa. Ao propormos algo de que não estamos muito seguros
nos leva a refletir sobre os objetivos da proposta e a estarmos mais
atentos aos resultados. A analise destes permitirá as necessárias correções
de rumo. É a nossa oportunidade de reflexão sobre o trabalho.

De qualquer forma é possível obter-se indicações gerais, como aquelas
colocadas nos Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil que
estabelece os conteúdos adequados a cada faixa etária.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


¹.PAÍN, S. — "La estructura estética del pensamiento", publicação "n.º. 8,
Espacio Psicopedagógico Brasileño Uruguayo Argentino", edit. Escuela
Psicopedagógica de Buenos Aires, outubro de 1998, p. 9.
[i] MOREIRA, A. A. A. — "O espaço do desenho: a educação do educador",
1(ed., Loyola, São Paulo, 1984, p. 70.
[ii] "Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil",vol. 3,
Ministério da Educação e do Desporto, Brasília, 1988, p. 87.
[iii] MACHADO, M. M. — "O brinquedo- sucata e a criança", 1(ed., Loyola,
São Paulo, 1994, p. 25.
[iv] MOREIRA, A. A. A. — "O espaço do desenho: a educação do educador",
1(ed., Loyola, São Paulo, 1984, p. 127.
[v] DERDIK, E. — "Formas de pensar o desenho", 1ª ed., Scipione, Sâo Paulo,
1989, p. 49.
[vi] BACHELARD, G. —"O direito de sonhar", 4ª ed, Bertrand Brasil, Rio de
Janeiro, 1994, p. 6.
[vii] MOREIRA, A. A. A. — "Artes Visuais" em Cadernos de Formação I –
Secretaria Municipal de Educação e Formação Profissional de Santo André, p.
56.
[viii] ZABALZA, M. A. ."Qualidade em Educação Infantil", Porto Alegre – ed.
ArtMed, 1988, p. 50.
[ix] ZABALZA, M. A. ."Qualidade em Educação Infantil", Porto Alegre – ed.
ArtMed, 1988, p. 53.
[x] MOREIRA, A. A. A. — "O espaço do desenho: a educação do educador",
1(ed., Loyola, São Paulo, 1984, p. 38.
[xi] ZABALZA, M. A. ."Qualidade em Educação Infantil", Porto Alegre – ed.
ArtMed, 1988, p. 52.
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