Artesanato e Políticas Públicas de Fomento da Economia Criativa: Renda de Bilro na Comunidade de Alcaçuz, Município de Nísia Floresta/RN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

AMANDA OLIVEIRA DE MEDEIROS

ARTESANATO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: RENDA DE BILRO NA COMUNIDADE DE ALCAÇUZ, MUNICÍPIO DE NÍSIA FLORESTA/RN

NATAL/RN 2016

AMANDA OLIVEIRA DE MEDEIROS

ARTESANATO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: RENDA DE BILRO NA COMUNIDADE DE ALCAÇUZ, MUNICÍPIO DE NÍSIA FLORESTA/RN

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Gestão de Políticas Públicas, sob a orientação do Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz.

NATAL/RN 2016

AMANDA OLIVEIRA DE MEDEIROS

ARTESANATO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: RENDA DE BILRO NA COMUNIDADE DE ALCAÇUZ, MUNICÍPIO DE NÍSIA FLORESTA/RN

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN como requisito para obtenção do título bacharel em Gestão de Políticas Públicas.

Natal, ______de _______________de ________

BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz (Presidente – DPP/UFRN)

_________________________________________ Msc. Valéria de Fátima Chaves de Araújo (Examinadora Externa)

_________________________________________ Msc. Ilana Barreto Kiyotani (Examinadora Externa)

MULHER RENDEIRA Olê mulher rendeira Olê mulher rendá Tu me ensina a fazê renda Que eu te ensino a namorá

Lampião desceu a serra Deu um baile em Cajazeira Botou as moças donzelas Pra cantá mulher rendeira

As moças de Vila Bela Não têm mais ocupação Se que fica na janela Namorando Lampião

Compositor: (Zé do Norte)

RESUMO

A pesquisa em questão é voltada para analisar as formas e modos de participação das rendeiras de Alcaçuz no ciclo econômico da renda de bilro (criação, produção, distribuição e consumo) na comunidade de Alcaçuz. Para isso, foram feitas além da pesquisa bibliográfica, entrevistas com as rendeiras e gestores que trabalham na área de artesanato, observação e registro fotográfico, no contexto de uma pesquisa de natureza qualitativa. Por fim, a pesquisa verifica e propõe medidas a partir das Políticas Públicas de fomento da economia criativa que possam contribuir para a promoção do artesanato da renda de bilro na comunidade de Alcaçuz-RN. O Estado do Rio Grande do Norte tem uma forte presença na economia no setor turístico e o artesanato de renda de bilro pode e deve ter seu espaço, através do esforço empreendedor das artesãs de bilros.

Palavras-chave: Artesanato. Comunidade de Alcaçuz. Economia Criativa. Nísia Floresta/RN. Políticas Públicas. Renda de Bilro.

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ABSTRACT

The research in question is aimed to analyze the ways and means of participation of Alcaçuz lace makers in the economic cycle of bobbin lace (creation, production, distribution and consumption) in Alcaçuz community. For this, were made in addition to the literature review, interviews with tenants and managers working in the craft area, observation and photographic record, in the context of a qualitative research. Finally, research checks and proposes measures from the Public Policy of fostering creative economy that can contribute to the promotion of bobbin lace handicraft in Alcaçuz-RN community. The State of Rio Grande do Norte has a strong presence in the economy in the tourism sector and the bobbin lace craft can and should have its place, through the entrepreneurial efforts of artisans bobbins.

Key words: Bobbin lace. Community of Alcaçuz. Crafts. Creative economy. Handicraft. Nísia Floresta/RN. Public policy.

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LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Setores da Economia Criativa ...................................................... Figura 02 – Escopo dos Setores Criativo, Ministério da Cultura (2011) ......... Figura 03 – Princípios norteadores da Economia Criativa brasileira .............. Figura 04 – Município de Nísia Floresta .......................................................... Figura 05 – A renda quase pronta ................................................................... Figura 06 – A artesã tece a renda ................................................................... Figura 07 – O uso da almofada ....................................................................... Figura 08 – A peça exposta ............................................................................ Figura 09 – Manequim exposto ......................................................................

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SUMÁRIO INTRODUÇAO ............................................................................................... 1. ECONOMIA CRIATIVA .................................................................................. 1.1 Setores Criativos no Brasil......................................................................... 1.2 O artesanato................................................................................................. 2. CICLO PRODUTIVO DA RENDA .................................................................. 2.1 O Povoado.................................................................................................... 2.2 A renda de bilro na comunidade de Alcaçuz............................................ CONCLUSÃO................................................................................................. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. APÊNDICE.......................................................................................................... .

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INTRODUÇÃO

O trabalho manual produzido por um artesão é o que se chama de artesanato. Trata-se de um setor cultural por ser a expressão de uma manifestação da cultura local. E ao envolver um talento passa a ser considerado um segmento da Economia Criativa, a qual engloba a ideia da produção de natureza intelectual e simbólica. Dessa forma, o Plano da Secretaria da Economia Criativa enquadra este setor na categoria das “Expressões Culturais”. O presente estudo visa observar o ciclo econômico da renda de bilro (criação, produção, distribuição e consumo) na comunidade de Alcaçuz, um povoado localizado no Município de Nísia Floresta-RN, que possui um grande potencial turístico, devido ao conjunto de lagoas turísticas e ao crescente número de empreendimentos voltados ao turismo, como hotéis, restaurantes, empresas que desenvolvem passeios de trilhas e outros. A Economia Criativa está focada na criatividade, imaginação, inovação e tem sido considerada a grande estratégia de desenvolvimento para o século XXI. Ao atuar com negócios criativos, trabalha-se com o fator econômico e o fator de interação social, gerando mercado. Conforme o Relatório de Economia Criativa 2013, organizado pela Unesco e pelo Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento, a economia criativa está ganhando espaço na sociedade atual, sendo um dos setores que mais cresce e se desenvolve, gerando emprego e renda. Essa economia possui conceitos que podem contribuir para melhorar o desempenho de produtos e serviços no mercado, uma vez que usa a criatividade e une aspectos culturais ao econômico, com o objetivo de gerar renda, seja individualmente ou de forma coletiva (VIEIRA, 2005). Além do fator econômico, o artesanato tem ainda o lado sociocultural que reafirma a cultura popular do Estado do Rio Grande do Norte. A confecção desse artesanato é algo que persiste há muitos anos, e, atualmente, percebe-se pouca divulgação e confecção desse trabalho manual. Nesse contexto, as Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa podem subsidiar o desenvolvimento do artesanato da região, bem como incentivá-lo. De

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qualquer forma, torna-se clara a necessidade das autoridades locais intervirem, dada a importância e o valor sociocultural do artesanato, seja através da divulgação, seja na promoção de feiras de artesanato locais. Por outro lado, há que não esquecer que o artesanato em questão é também uma forma de fazer com que a memória dessa comunidade permaneça nos dias atuais, haja vista a técnica de confecção ser transmitida de geração a geração. O número estimado de brasileiros que vivem da produção de artesanato é de cerca de 8 milhões de pessoas. De acordo com a Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura (SEC), o artesanato representa um segmento de atuação abrangente e transversal e, considerando seu potencial produtivo e a capacidade criativa do artesão brasileiro, é um setor com grande perspectiva de crescimento (BRASIL, 2012). A renda de bilro mantém características de sua origem onde as mulheres produzem artesanalmente as peças utilizando linhas, bilros e almofada. Vê-se a necessidade de identificar novos canais de comercialização e provavelmente criar uma entidade local que seja capaz de manter maior volume produtivo e poder de negociação, bem como o estímulo de capacitações específicas da gestão, liderança e estudos de mercado. Portanto, com a difusão da Economia Criativa, surge um novo pensamento econômico das atividades, levando em consideração a cultura de cada região do Brasil. Essa técnica não tem uma origem certa, mas há pesquisadores que dizem ter surgido no século XV, em Flandres, na Bélgica, de onde se espalhou pela Europa, principalmente Itália e França, até chegar a Portugal e ao Arquipélago dos Açores, maiores centros de produções (GUIAFLORIPA, 2016). A renda de bilro é a mais rara, pois são poucas as rendeiras que ainda trabalham com este tipo de técnica hoje em dia. No alto de uma almofada, em formato de capacete, são fixados os fios que recebem em suas pontas os bilros – pequenas peças de madeira que facilitam o trançar. A rendeira fixa o desenho a ser tecido na almofada e os locais a serem contornados pelos fios são modelados com alfinetes. Feito isso, ela vai entrelaçando os bilros até todo o desenho aparecer em forma de renda. O objetivo do trabalho é compreender o ciclo econômico da renda de bilro na

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comunidade de Alcaçuz-RN, sob o viés das Políticas Públicas de fomento da economia criativa, propondo medidas para o desenvolvimento do artesanato de Renda de Bilro. Assim, propomos conceituar as Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa; fazer o levantamento das rendeiras existentes em Alcaçuz-RN; Compreender as formas e modos de participação das rendeiras de Alcaçuz-RN no ciclo econômico da renda de bilro; e por fim, propor medidas para o desenvolvimento do artesanato de Renda de Bilro, a partir das Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa. Para elaboração desse trabalho foram feitas pesquisas bibliográficas em livros, artigos e material disponibilizado na internet. A pesquisa documental foi elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico e que se revelaram importantes para a pesquisa. A coleta de dados foi realizada por meio de leituras de documentos, entrevistas, observação e imagens. A pesquisa utilizada é a qualitativa que relaciona no levantamento de dados as motivações do grupo de rendeiras e pretende compreender e interpretar determinados comportamentos, a opinião e as expectativas dos indivíduos da comunidade. É também exploratória, pois não tem o intuito de obter números como resultados, mas sim entender o funcionamento do ciclo produtivo na renda de bilro no fomento da Economia Criativa. Os recursos usados na pesquisa qualitativa são as entrevistas semiestruturadas, observação de campo (observar o comportamento do consumidor, também). A pesquisa qualitativa que tem como foco compreender um grupo social, uma organização, não se preocupando com a representatividade numérica e busca aqui identificar os elementos constituintes do objeto estudado (GERHARDT, 2009) Conforme Lakatos e Marconi (1991), o método de abordagem caracteriza-se por uma abordagem ampla, em nível de abstração elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade. Sendo eles o método indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético. Segundo Lakatos e Marconi (1991), as técnicas que compõem a observação direta são: o questionário (uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito, sem a presença do pesquisador); o formulário (um roteiro de perguntas enunciadas pelo entrevistador e preenchidas por ele com as respostas do pesquisado); as medidas de opinião e de atitudes (um instrumento de padronização

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que visa a assegurar a equivalência de diferentes opiniões e atitudes, com a finalidade de compará-las); os testes (instrumentos utilizados com a finalidade de obter dados que permitam medir o rendimento, a frequência, a capacidade ou o comportamento de indivíduos, de forma quantitativa); a sociometria (técnica quantitativa que procura explicar as relações pessoais entre indivíduos de um grupo); a análise de conteúdo (técnica que permite a descrição sistemática, objetiva e quantitativa do conteúdo da comunicação); a história da vida (tenta obter dados relativos à experiência pessoal de alguém que tenha significado importante para o conhecimento do objeto de estudo) entre outras. Ainda de acordo com Lakatos e Marconi (1999), tanto os métodos, quanto as técnicas de pesquisa devem adequar-se ao problema a ser estudado, às hipóteses levantadas, ao tipo de informantes com que se vai entrar em contato. Dependerão do objeto da pesquisa, dos recursos financeiros, da equipe humana e de outros elementos da investigação. A entrevista é um método que deve ser planejado e bem elaborado pelo pesquisador a fim de que se obtenha o resultado pretendido. Deve-se deixar claro, que não é função do entrevistador concordar ou discordar das opiniões emitidas. É muito utilizada para a coleta de dados no processo do trabalho de campo e seu registro é feito através de anotações e/ou com auxílio de gravador. Um tipo de entrevista muito utilizada é a estruturada, quando é constituída de perguntas definidas, a qual também é chamada de entrevista controlada e planejada. Outro tipo de entrevista é a semiestruturada, que tem uma liberdade maior para o pesquisador, uma vantagem nesse tipo de entrevista é a possibilidade de explorar alguma questão que apareça no decorrer da entrevista. Podemos citar algumas desvantagens da entrevista, como a possibilidade do entrevistado ser influenciado, de maneira consciente ou não, pelo entrevistador; dificuldade de expressão e/ou comunicação entre o pesquisador e o entrevistado; e até mesmo a dificuldade em interpretar os dados obtidos por parte do pesquisador. Por outro lado, as vantagens da entrevista é que elas podem ter informações confidenciais que não são encontradas em fonte documental; o entrevistado não precisa saber ler e escrever; é flexível permitindo o entrevistador esclarecer o que não foi compreendido; entre outras. (VIEIRA, 2005) Também foram utilizados registros fotográficos, pois notamos na fotografia um modo de comunicar e informar registros direcionados às formulações de ordem

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dedutiva e/ou hipotética dos trabalhos técnico-científicos, como também na busca de novas formas de expressões artísticas. Hoje é comum utilizar imagens na pesquisa científica, pois a fotografia pode representar a realidade, criar emoções e transmitir ideologias e valores (CRUZ, 2015). Algumas vantagens das fotografias são a de obter um registro visual real e levado a qualquer tempo e com facilidade ao público em geral. Outra vantagem é que o pesquisador não influencia o olhar do espectador. De grande importância para a construção do conhecimento científico a observação é um instrumento que não poderia faltar nessa produção. Dentre as modalidades a utilizada foi a observação sistemática ou estruturada, que é controlada e o observador sabe o que procura e o que necessita em determinada situação. Para Marconi e Lakatos (2003, p. 193), neste tipo de observação há um planejamento de ações, sendo uma observação direcionada. Anotações e fotografias foram os instrumentos utilizados nessa observação. O primeiro capítulo apresentará alguns conceitos de economia criativa, seus setores no Brasil, escopo, princípios norteadores e conceito de artesanato e artesão, que estão inseridos no campo de expressões culturais dentro do setor criativo. O segundo capítulo vai aprofundar sobre a renda de bilro no povoado de Alcaçuz, mostrando seu ciclo de economia criativa. Nesse capítulo, são apresentados os resultados das entrevistas com os atores participativos, as artesãs e a gestora da área cultural. Finalizando, apresentamos as considerações finais.

1. ECONOMIA CRIATIVA 1.1 Setores Criativos no Brasil As atividades econômicas que relacionadas à produção e distribuição de bens e serviços, utilizam a criatividade e as habilidades dos indivíduos, estão inseridas na indústria criativa que formam a Economia Criativa. Ela agrega traços de vários conceitos, como o valor da originalidade, e dos processos colaborativos na cultura, a ênfase na tecnologia, qualificação de trabalho, geração de direitos de propriedade intelectual e propõe a valorização da autenticidade e do intangível cultural único e inimitável. Conforme Caiado (2011), a economia criativa é “o ciclo que engloba a criação, 13

produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como principais recursos produtivos”. Para Miguez (2007) o conceito de economia criativa é “conjunto distinto de atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade individual, cujos produtos incorporam propriedade intelectual”. De acordo com o Ministério da Cultura, pode-se dizer que:

os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social. (Brasil, 2012)

Assim, tomando-se como exemplo a renda de bilro, verifica-se que a expressão artística associada à técnica rendeira, representada na peça que ela tece, corresponde ao cerne do seu valor cultural e econômico, indo muito além dos materiais (linhas, bilros) utilizados para sua produção. Além disto, destaca-se também em seu trabalho a essência e o valor do bem criativo, que se encontra na capacidade humana de inventar, de imaginar, de criar, seja de forma individual ou coletiva. (BRASIL, 2012) Segundo Cruz (2015), a economia criativa pode ser definida "pelas atividades econômicas que têm objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado". Com esses conceitos, percebemos que os setores criativos vão além dos setores denominados como tipicamente culturais, ligados à produção artístico-cultural (música, dança, teatro, ópera, circo, pintura, fotografia, cinema), compreendendo outras expressões ou atividades relacionadas às novas mídias, à indústria de conteúdos, ao design, à arquitetura entre outros. Conforme Relatório de Economia Criativa, produzido pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) nos anos de 2008 e 2010, os setores criativos estão classificados em nove áreas agrupados em quatro categorias, que são: patrimônio, artes, mídias e criações funcionais (BRASIL, 2012).

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Fig. nº 01 - Setores da Economia Criativa

Fonte: Brasil, 2012 (adaptado)

Recentemente o escopo dos setores contemplados pelas políticas públicas do Ministério da Cultura foi ampliado, contemplando também setores de base cultural com aplicabilidade funcional (moda, design, arquitetura, artesanato), agora a classificação é a seguinte:

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Fig. nº 02 - Escopo dos Setores Criativo, Ministério da Cultura (2011)

Fonte: Brasil, 2012 No cenário brasileiro, a Secretaria da Economia Criativa (SEC) 1 estabeleceu os princípios norteadores e balizadores das políticas públicas de cultura a serem elaboradas e implementadas.

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Extinta em 2015, no mandato do Ministro da Cultura Juca Ferreira.

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Desta forma, foi definido que a Economia Criativa Brasileira somente seria desenvolvida de modo consistente e adequado à realidade nacional se incorporasse na sua conceituação a compreensão da importância da diversidade cultural do país, a percepção da sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e regional, a inovação como vetor de desenvolvimento da cultura e das expressões de vanguarda e, por último, a inclusão produtiva como base de uma economia cooperativa e solidária. (BRASIL, 2012).

O Brasil é um país de grande variedade cultural nos setores das artes, danças, religião e vestuário. A partir dessa diversidade cultural, a economia criativa brasileira se constitui numa dinâmica de valorização e proteção das expressões culturais nacionais para garantir a sua originalidade, a sua força e seu potencial de crescimento. Os princípios norteadores da economia criativa brasileira são os seguintes: Diversidade Cultural, Sustentabilidade, Inovação e Inclusão Social. Fig. 03 – Princípios norteadores da Economia Criativa brasileira

Fonte: Brasil, 2012

Hoje existe no Brasil, a Secretaria de Educação e Formação Artística e Cultural (Sefac) que tem a missão de:

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promover a intersetorialidade das políticas públicas de Cultura com as políticas de Educação e tem a atribuição de formular programas de formação artística, cultural e profissionalizante, assim como a capacitação de professores, agentes culturais, arte-educadores e educadores populares, com o intuito de reconhecer e promover a diversidade cultural brasileira nos espaços educativos formais em cooperação com o Ministério da Educação” (BRASIL, 2012).

Além disso a Sefac, deve desenvolver políticas intersetoriais entre Cultura e Desenvolvimento Social, Ciência e Tecnologia e Inovação, Juventude, Infância, entre outras áreas, nos três níveis federativos, a fim de difundir uma cultura de participação social a partir dos chamados territórios educativos, principalmente em áreas de vulnerabilidade social (BRASIL, 2012). Quanto ao Rio Grande do Norte, foi inaugurada no ano de 2014, a Incubadora RN Criativo, de parceria entre o Sebrae e o Ministério da Cultura (MinC), por meio do Programa Incubadoras Brasil Criativo. O investimento na RN Criativo foi de R$ 1,5 milhão, dos quais R$ 300 mil foram do governo do Estado. A incubadora está distribuída

em

três

coordenações

com

os

seguintes

focos:

formação,

empreendedorismo e inovação; e articulação territorial (SEBRAE, 2014). A incubadora de economia criativa tem o objetivo de fomentar a criação de novas empresas e contribuir para o fortalecimento de ações inovadoras e competitivas entre pequenos negócios. Elas estimulam o desenvolvimento de ideias, projetos de micro e pequenas empresas industriais, além da prestação de serviços de base tecnológica ou de manufaturas leves. Servem para complementar a formação do empreendedor nas áreas tecnológica e gerencial, além de facilitar e agilizar o processo de inovação e sustentabilidade (SEBRAE, 2014).

1.2 O ARTESANATO

Artesanato é uma arte e técnica do trabalho manual, não industrializado, produzido por um artesão que utiliza matéria-prima natural. Também é comum identificar o artesão como aquele que produz objetos pertencentes à chamada cultura popular. Tradicionalmente o artesanato é produzido em âmbito familiar, onde o produtor trabalha em sua casa com seus familiares realizando todas as etapas da

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produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento, não existindo uma divisão do trabalho ou especialização para a confecção de algum produto (BRASIL, 2015). A aprendizagem do artesanato está ligada à prática social, ao convívio, à participação em uma comunidade de artesãos onde o indivíduo inserido naquele mundo social, desenvolve sua identidade e seu posicionamento enquanto participante do grupo. O artesanato pode ser erudito, popular e folclórico, podendo ser manifestado de várias formas como nas cerâmicas, trabalhos em couro, trançados e tecidos de fibras vegetais e animais, fabrico de farinha de mandioca, instrumentos de música, tintura popular. E também encontramos nas pinturas, esculturas, trabalhos em madeiras, pedra guaraná, cera, miolo de pão, massa de açúcar, bijuteria, renda, filé, crochê, papel recortado para enfeite, etc (BRASIL, 2015). A

pessoa

chamada

de

artesão

é

aquela

que

exerce

atividade

predominantemente manual, que pode contar com o auxílio de ferramentas e outros equipamentos de forma individual, associada ou cooperativada. Sua profissão usualmente requer algum tipo de habilidade ou conhecimento especializado na sua prática. No período que antecedeu a Revolução Industrial a profissão estava associada à produção de artesanato em pequena escala de bens e produtos. No contexto contemporâneo, o artesão é aquele que produz itens de carácter funcional ou decorativo, conhecidos como artesanato, a partir do qual ele obtém a sua renda (BRASIL, 2015). O trabalho do artesão agora é uma profissão regulamentada. No dia 23 de outubro foi publicada no Diário Oficial da União, a sanção ao PL nº 7755/10, que regulamenta a profissão de artesão. Um dos benefícios é o desenvolvimento de políticas públicas específicas para o setor, que é carente de investimento. A Lei também institui a carteirinha de artesão que dará direitos a benefícios como linhas de créditos específicas – como já é feito para o produtor rural, por exemplo –, participação na Previdência Social e em programas de qualificação (BRASIL, 2015). Considerando a forma de produção, o artesão pode ser (BRASIL, 2015): 

Artesão-artista: é aquele que por sua criatividade, originalidade, graciosidade e perícia, produz peças que provocam profundo sentimento

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de admiração naqueles que as observam. Exemplos: talhadores, gravadores, escultores, pintor, rendeiras. 

Artesão-artesão: é aquele que trabalha em série, muitas vezes com ajuda de ferramentas e mecanismos rudimentares, produzindo dezenas de peças, centrado mais no aspecto utilitário das peças que produz que em despertar no observador o sentimento de beleza. Cerâmica ornamentada produzida manualmente com ou sem torno de pé.



Artesão semi-industrial: é aquele que trabalhando a partir de moldes ou e de outros processos semi-industriais reproduz dezenas de peças iguais. Ex: peças utilitárias de cerâmica produzidas de forma semiindustrial (tigelas, jarros, joias, potes etc).

O Programa do Artesanato visa não só gerar trabalho e renda, mas também a melhoria do nível cultural, profissional, social e econômico do artesão brasileiro, além de ser responsável pela elaboração de políticas públicas em nível nacional. Os eixos de atuação do programa são (BRASIL, 2015): 1. Desenvolvimento do Artesanato – promover melhoria do produto artesanal e da capacidade empreendedora para maior inserção do artesanato brasileiro nos mercados nacionais e internacionais; 2. Promoção Comercial – identificar mercado adequado à divulgação e comercialização dos produtos artesanais, a participação em feiras, mostras e eventos nacionais e internacionais; 3. Sistema de Informação Cadastrais do Artesanato Brasileiro – SICAB conhecer e mapear o setor por meio de estudos técnicos e do cadastro do artesão no Sistema com vistas à elaboração de políticas públicas para o segmento. 4. Estruturação de núcleos para o artesanato – apoiar o artesão formalizado em associações, cooperativas ou microempreendedor individual envolvidos em projetos ou esforços para a melhoria de gestão do processo da cadeia produtiva do artesanato por meio da construção ou reforma de espaços físicos gerenciados pelos estados e municípios.

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2. CICLO PRODUTIVO DA RENDA 2.1 - O Povoado

O povoado de Alcaçuz está localizado no município de Nísia Floresta-RN, na Mesoregião do Leste Potiguar e no Polo Costa das Dunas. O distrito foi criado com a denominação de Vila Imperial de Papari, pelo decreto nº 45, de 3008-1833 ou por decreto nº 44, de 29-08-1833, subordinado ao município de São José de Mipibú. Elevado à categoria de vila com a denominação de Vila Imperial de Papari, pela resolução provincial nº 242, de 18-102-1852, e assim desmembrada de São José de Mipibú. Posteriormente foi elevado à condição de cidade e sede municipal com a denominação de Papari, pelo decreto nº 12, de 01-02-1890. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937. Pela lei estadual nº 146, de 23-12-1948, o município de Papari passou a denominar-se Nísia Floresta. Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município de Nísia Floresta exPapari é constituído do distrito sede, assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007 (IBGE, 2015).

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Fig. 04 - Município de Nísia Floresta

Fonte: IBGE (2015)

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), a população estimada em 2015 é de 26.606 habitantes, numa área de 307 km² e densidade demográfica de 77,26 hab/km². Os municípios limítrofes de Nísia Floresta são Parnamirim ao norte, São José do Mipibu a oeste, Arês e Tibau do Sul ao sul e o oceano Atlântico a leste. A distância da capital Natal para a cidade de Nísia Floresta é de 30 km. Por ser grande produtora de camarão, ficou conhecida como “terra do camarão”. É uma cidade tranquila com inúmeras belezas naturais como praias, dunas e lagoas de águas cristalinas. A área da unidade territorial é de 307,842km², possuindo 22 (vinte e dois) estabelecimentos de Saúde SUS. O índice de Desenvolvimento Humano Municipal em 2010 (IDHM) era de 0,622. Quanto ao número de matrículas, em 2012 eram 4.691 matrículas no ensino fundamental e 766 matrículas no ensino médio. A população residente era 23.784 pessoas, sendo 12.288 homens e 11.496 mulheres e um total de 22

16.541 população residente alfabetizada. Ainda segundo o IBGE, o valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios particulares permanentes rural era de 233,33 reais e urbana de 302,00 reais. Já o valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares permanentes com rendimento domiciliar, por situação do domicílio Rural era de 1.101,92 reais e urbana de 1.444,82 reais. (IBGE, 2015)

2.2 – A renda de bilro na comunidade de Alcaçuz

A renda de bilro, também conhecida como renda de almofada, é uma técnica que consiste em trançar linhas (fios) através de bastões de madeiras, os bilros, sobre a almofada. Os alfinetes prendem na almofada o papel com o modelo perfurado que irá ser produzido em linha, para quem não tem costume, é impressionante a agilidade e desempenho das artesãs com o vai e vem dos bilros que formam as peças rapidamente. O aprendizado da técnica da renda de bilro acontece geralmente em âmbito familiar, uma vez que as crianças convivem diariamente com a atividade e aos poucos desenvolvem a habilidade no manejo das linhas, agulhas e bilros (GAMA, 2010). Com intuito de conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido na região, foram feitas entrevistas com as artesãs Maria Aleixo Freire e Valdirene Aleixo da Silva, que além de tecer renda, trabalham na loja da Associação de Mulheres Rendeiras de Alcaçuz. Outra entrevista foi realizada com Odinelha Targino, Gestora do Núcleo de Patrimônio da Fundação Cultural Capitania das Artes – FUNCARTE. A rendeira Maria Aleixo Freire, começou a tecer a renda ainda criança, aos 7 (sete) anos de idade. Sua mãe também era rendeira, e o aprendizado de Maria foi através da observação. Hoje com 77 (setenta e sete) anos de idade, dona Maria é uma das rendeiras que faz parte da Associação das Mulheres Rendeiras de Alcaçuz. Apesar de ser rendeira desde criança, Maria não sobrevive financeiramente da renda, ela tem uma pensão e o dinheiro da renda ajuda nas despesas.

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Fig. 05 – A renda quase pronta. Pode-se perceber os alfinetes segurando o molde de papel que dá forma ao desenho (maio de 2016). Fonte: Autoria própria.

“Eu aprendi olhando as mulheres mais velhas, ficava perto, por ali, olhando e aí fui aprendendo. Comecei aos 7 (sete) anos e hoje tenho 77 (setenta e sete), então tem 70 (setenta) anos que sou rendeira né?” (Maria Freire – Rendeira)

A atividade que a artesã rendeira desempenha é um processo de várias tarefas, sendo a primeira delas confeccionar a almofada, em tecido, recheada de folhas de mangueira ou abacateiro por exemplo. A etapa de construção dos bilros, que são os instrumentos de madeira onde as linhas são enroladas para assim guiar a confecção das rendas, geralmente é desempenhada por homens, que colhem a madeira e talham com faca até à forma desejada (GAMA, 2010). Dona Maria trabalha em casa, gosta de ficar sentada no chão na hora de produzir a renda e faz as peças solicitadas pelo seu sobrinho, Cleilson Aleixo, conhecido na região como Kekel, que leva as peças para vender. Conta Maria Freire: “eu trabalho p’ra Kekel, que é meu sobrinho. As linhas são dele e os desenhos ele quem faz, ele também faz renda quando está de folga. Ele é professor lá em Pium”. No final da década de noventa, mais precisamente ao ano de 1999, teve início na comunidade o Projeto Renda Minha com o intuito de fortalecer o associativismo, 24

valorizando a técnica, a qualidade e orgulho das rendeiras locais e assim incentiválas à autogestão da produção e reconquista do mercado consumidor (GAMA, 2010). Então, por volta de 2000, foi criada uma associação das mulheres rendeiras de Alcaçuz. No início, sem sede própria, elas se reuniam na casa paroquial, mas hoje em 2016, a associação funciona em uma sede própria onde existe uma loja que vende as peças produzidas na comunidade. A organização, produção e comércio das rendas é feita através da associação, as rendeiras produzem de acordo com a procura que se tem das peças, mas existem também as peças que são feitas sob encomenda. A procura pela renda é maior no período de alta estação, pois a região de Alcaçuz possui lagoas e trilhas que são rotas de turistas que vêm conhecer a cidade de Natal e praias do litoral sul do Rio Grande do Norte. Segundo a artesã Valdirene, além dos turistas, os comerciantes que trabalham nas feiras de artesanato da Praia de Pirangi e Praia de Tabatinga também compram as rendas para revender em suas lojas.

Hoje ao todo são 62 (sessenta e duas) rendeiras associadas que vendem seus produtos na associação, dez por cento do valor da peça fica para a associação nunca se sabe quando vai aparecer um cliente, mas é na alta estação que vendemos mais. (Valdirene A. da Silva – Rendeira)

Valdirene é a responsável pela loja da associação das mulheres rendeiras de Alcaçuz. Ela acha que tem que ser feita uma maior divulgação por parte da associação, pois as pessoas não sabem que ali na comunidade de Alcaçuz existe a venda de produtos de renda de bilro. Odinelha Targino explica que em Natal não existem ações específicas para produção da renda de bilro, mas sim ações para o segmento do artesanato como um todo. Existe exposição e comercialização da renda produzida aqui na região e a FUNCARTE mantém um espaço chamado “Natal Original” que está localizado na praça de Mirassol, onde podemos encontrar variedade de produtos da economia criativa local. No Rio Grande do Norte, poucas são as cidades que preservam a técnica de renda de bilros, e Alcaçuz é uma delas. Além dos seus afazeres diários, seja em casa ou no trabalho, as mulheres rendeiras do povoado de Alcaçuz encontram tempo e 25

paciência para desempenhar o trabalho de tecer a renda. Acrescenta Valdirene A. da Silva: “Não tenho horário certo p’ra abrir a loja, depois que ajeito a casa, o almoço eu venho pra cá. Minha almofada fica aqui, aí me sento e faço a renda”.

Fig. 06 – A artesã tece a renda em seu tempo livre, na entrada da loja no momento em que não tem cliente. (maio de 2015). Fonte: Autoria própria.

Ela diz que, assim como Dona Maria Freire, aprendeu a tecer renda ainda criança: “eu ficava olhando e quando elas deixavam a almofada de lado eu ia bulir”. Os moldes, também conhecido como papelão, são os guias indicativos dos desenhos e formas da renda. Para sua construção é necessário que cada folha esteja bem lisa, sem nenhuma ruga que possa atrapalhar o desenho. Depois de desenhados, eles são utilizados por várias vezes até se desgastarem após muitas furadas. Os desenhos são variados e as flores estão presentes na maioria dos trabalhos. Contudo, os moldes são fixados na almofada com os alfinetes que mostram o caminho que as linhas irão fazer e as mãos ágeis e eficientes das artesãs produzem um trabalho ímpar e delicado em cada peça produzida em renda de bilro (GAMA, 2010). Segundo a responsável pelo comércio das rendas, a artesã Valdirene, as rendeiras tomam conta da Associação de Mulheres Rendeiras de Alcaçuz: 26

“Desenhamos e produzimos as peças, eu viajo para várias feiras de artesanato no Rio Grande do Norte e pelo Brasil para vender nossa produção, vou sempre para Natal e Mossoró e já fui também para Brasília-DF”. De acordo com a Gestora Odinelha Targino, a relação entre poder publico e as artesãs dever ser: “Relação de parceria, fomento, formação e qualificação dos produtores. Incentivos através de chamadas públicas e editais.” Ainda conforme Odinelha, as políticas públicas são importantes pois: “a impulsiona a produção com qualidade e consequentemente o aumento da comercialização, gerando emprego e renda”.

Fig. 07 – O uso da almofada na produção da renda com detalhe para os movimentos ágeis da rendeira (maio de 2016). Fonte: Autoria própria.

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Fig. 08 – A peça exposta depois de produzida (maio de 2016). Fonte: Autoria própria.

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Fig. 09 – Manequim exposto na entrada da loja da Associação das Mulheres Rendeiras de Alcaçuz. Atrás os banners contam a história da renda na comunidade local (maio de 2016). Fonte: Autoria própria.

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CONCLUSÃO

A renda de bilros chega ao Brasil trazida pelos portugueses e estabelece a produção no litoral e ao adentrar para o interior, mantém-se próxima ao curso dos rios. Existem alguns polos da renda no Brasil em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo e no Pará, mas a maior concentração é no Nordeste brasileiro. O povoado de Alcaçuz, localizado em Nísia Floresta-RN, tem grande potencial turístico, com praias muito procuradas por turistas nacionais e estrangeiros como Pirangi, Búzios, Camurupim, Tabatinga e Barreta, e um complexo composto com mais de 20 lagoas além de dunas e trilhas utilizadas para passeios de bugre e quadrículos. A produção da renda de bilro perdeu espaço no século XX, mais precisamente na década de 80, quando os produtos industrializados ganham força. Mesmo com a desvalorização e dificuldade de comércio, a prática do artesanato da renda de bilro, continua a ser transmitida de geração em geração (GAMA, 2010). A produção criativa do artesanato da renda de bilro deve-se a um conjunto de fatores, onde podemos citar o meio cultural e social, mas o que realmente é importante para o desenvolvimento da atividade é a infraestrutura e recursos econômicos. As políticas públicas podem fomentar, potencializar o setor da renda de bilro na comunidade de Alcaçuz. A falta de visibilidade de tal arte prejudica todo o ciclo econômico advindo da renda. Contudo, podemos afirmar que foi através do associativismo das rendeiras de Alcaçuz que a renda conseguiu, aos poucos, conquistar o seu espaço, que ainda é pequeno, diante da imensidão e valorização que o trabalho merece. O empreendedorismo e criatividade na região são notáveis e é dever do poder público (esfera municipal, estadual ou federal) apoiar setores de propensão de mercado local, nacional e até mesmo internacional. Contanto, na falta de financiamento do Estado, deve-se pensar em soluções que possam alavancar esse mercado. As ações de fomento da Economia Criativa, podem aparecer de outras formas como, divulgar junto a agências e pontos de turismo, a loja de artesanato existente no povoado de Alcaçuz; promover feiras e eventos com os materiais produzidos pelas rendeiras da região. A visibilidade é importante para que o mercado criativo desponte, uma proposta inovadora pode ser

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o incentivo ao jovem se capacitar e produzir a renda de bilro, proposta que poderia ser levada direto para as escolas locais. Por fim, devemos ter em mente que a economia criativa não necessita somente de incentivos de cunho financeiros, mas sim de políticas públicas que estimulem o seu desenvolvimento.

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5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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VIERIA, Valter Afonso; TIBOLA Fernando. Pesquisa qualitativa em marketing e suas

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em:



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APENDICE Roteiro da entrevista com artesãs. 01) Há quanto tempo realiza a atividade de rendeira? Como é desenvolvido a produção da renda?

02) Como é o comércio da renda de bilro aqui na comunidade?

03) Existe associação ou cooperativa de rendeiras no povoado de Alcaçuz?

04) A população local procura o produto para comprar?

05) Existe incentivo da prefeitura ou de alguma organização na produção e comércio das rendas?

Roteiro da entrevista com artesãs e gestora. 01) A prefeitura tem algum programa, política pública ou incentiva de alguma forma a economia criativa local?

02) Que outras atividades de economia criativas são desenvolvidas na região?

03) Em sua visão, como deve ser a relação entre o poder público (prefeitura local) e as artesãs?

04) Qual é a importância das políticas públicas para o desenvolvimento da economia criativa na região?

05) A economia criativa envolve profissões que utilizam a criatividade e a inovação humana como fatores chaves para a sua existência. Qual estimulo é dado pela prefeitura para o desenvolvimento da Renda de Bilro?

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