ARTESÃOS, HUMANISTAS E TRADING ZONES NO REINADO DE D. MANUEL I.

June 4, 2017 | Autor: Vasco Medeiros | Categoria: Art History, History of Science, Historia da Ciência, História da arte
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ARTESÃOS, HUMANISTAS E TRADING ZONES NO REINADO DE D. MANUEL I. Vasco Medeiros (Artis-IHA – FLUL – UL) - [email protected]

I - Introdução Dificilmente será concebível uma ocasião mais apropriada para analisar a ascensão dos artesãos e as suas estreitas relações com o escol humanista do século XV e XVI, do que a figura impar que Mateus Fernandes manifestamente representa. A sua sucinta biografia é tão só uma plena afirmação deste estreitamento relacional, entre gente oriunda de uma classe, dita mecânica, e uma elite cultural, académica e humanista, cujo isolamento não será tão pronunciado como até aqui se suspeitou. Aliás, será precisamente a esses múltiplos equívocos historiográficos, a saber; comunicação entre classes, liberalidade, periodização histórica e relevância dos misteres mecânicos na revolução científica; que pretendemos lançar um olhar que se pretende renovado, crítico e salutar. Mateus Fernandes encarna precisamente a excepção que confunde a regra homem originalmente humilde alcança um estatuto singular quando comparado com os seus pares, «Juiz ordinário na villa do mosteiro»; fruto do vasto prestígio na corte que lhe granjeará a honra póstuma de sepultamento em campa rasa à entrada do mosteiro. Essa campa assume, segundo Paulo Pereira, um inequívoco carácter autoral; «Aqui jaz Mattheus Fernandes que mestre foi destas obras, e sua mulher Isabel Guilhelme» (Pereira, 2007, p. 45). Este aspecto constitui na nossa óptica, um inegável traço de modernidade e de fuga ao anonimato corporativo e mesteiral, e uma evidência do estreitamento tipológico entre artesãos e eruditos na corte Manuelina. A escassez de informação sobre a dimensão autoral de Mateus Fernandes e a origem da sua formação, não o inibem de almejar uma dimensão intelectual paralela ao seu homólogo Filippo Brunelleschi (1377-1446) cujo honorífico sepultamento se assemelha em tudo ao de Mateus Fernandes, conforme descreve Vasari: «Foi sepultado com elaborada cerimónia e a maior honra em Santa Maria del Fiore (…) sob o púlpito perto da porta (…)» (Vasari, 2008, p. 146). No campo operativo as competências singulares do mestre não deixam dúvidas quanto à sua absoluta sintonia com as complexas práticas construtivas centroeuropeias, denotando uma provável proficiência na matemática e na geometria (Silva, 2010). Esta circularidade narrativa em torno dos dois mestres constitui certamente um inequívoco traço de uma liberalidade paulatinamente granjeada, mas mais do que isso, um reconhecimento que marca a génese de uma compreensão distinta e não medieval da dimensão epistemológica entre autor e obra, relacionamento esse inteiramente novo, i.e., uma dimensão conceptual capaz de inscrever uma unidade e um singular sentido dos objectos, da história e da fixação de memórias em estreita dependência com os seus autores. Por outro lado, esse reconhecimento constitui marca habitual de uma

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elevação estatutária, fruto de um sistema de trocas entre práticas artísticas e as chamadas matemáticas uteis, i.e., a presença de marcadores típicos do sincrético relacionamento entre arte e ciência, a saber: Literacia artesanal, epistemologia artesanal ou ciência vernacular (Smith, 2004, p. 8). Em face da habitual cristalização historiográfica, todos estes aspectos de uma singularidade incontornável afiguram-se habitualmente como manifestações caricaturais e excepções de uma paisagem histórica, que tradicionalmente emerge o artista num primitivismo funcional, anónimo e gremial de acordo com as barreiras cronológicas que a história lhe impõe. Sabemos hoje seguramente que estes aspectos começaram a configurar mais a regra do que propriamente a excepção, e que o carácter salvífico que elevou os artistas à categoria de profissionais liberais, terá sido precisamente o seu vínculo e entrega aos fundamentos de uma revolução científica emergente, que lentamente germinava desde os séculos precedentes – atente-se, falamos de vanguardismo e ruptura; e não de receituário e conformismo. Com todas estas singularidades estatutárias de artistas oriundos das mais diversas esferas sociais e realidades espácio-temporais, será lícito questionar a prevalência e origem de diversos trejeitos historicistas, tais como a determinação de um carácter primitivo ou gótico [entendido aqui na sua verdadeira dimensão como classificação não estética, mas sim pejorativa, i.e., bárbaro] em toda a arte Portuguesa produzida até meados do século XVI. Este genuíno e auto-depreciativo “desporto” nacional apenas poderá ser compreendido através da aplicação unitária de uma visão centralista e Burckhardtiana da história da arte em Portugal ou a enquadramentos tipológicos inerentes a uma restrita história dos estilos. Na realidade e conforme veremos, a história da arte e da ciência em Portugal, desde a segunda metade do século XV até meados do século XVI manifesta inegáveis e visíveis padrões de modernidade e de vanguardismo totalmente equiparados com o modelo Italiano e do norte da Europa. Estes manifestam-se desde o campo do desenvolvimento científico e comercial; florescentes com a expansão; ao plano da produção artística ao serviço de uma edificação imagética do império, mas fundamentalmente conforme veremos, na presença de amplos sistemas de Trading Zones. Apesar destas recentes evidências, tarda uma concepção renovada que permita uma visão alargada do fenómeno. Até aqui falou-se e continua a falar-se objectivamente de história de períodos, história de estilos, história de mentalidades, biografias de artista, hermenêutica e filologia; sem no entanto quebrar essa estrutura prévia que configura o edifício formal onde os modelos historiográficos se repetem sem formular novidade evidente. Aquilo que procuramos é um sentido fora de um modelo mental estruturado em enciclias sucessivas que condicionam e deturpam objectivamente uma identidade formal de homens como Mateus Fernandes, Diogo Boitaca, João de Castilho ou no caso da pintura, Jorge Afonso, Francisco Henriques, Mestre da Lourinhã, Vasco Fernandes, Gregório Lopes entre tantos outros; inserindo-os em rígidas tipologias que subvertem inequivocamente um olhar mais lúcido e atento a uma fenomenologia dos praxiemas que manifestam. Essa interminável estrutura de enciclias inicia-se precisamente pela periodização, i.e., a classificação num determinado lapso temporal,

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que por sua vez, pressupõe uma obrigatória filiação num determinado estilo; que corresponde a uma obrigatória integração em todo um sistema de crenças e práticas; que por sua vez categoriza os seus operadores de acordo com tradicionais valores socioculturais desse período; que por sua vez desclassifica autores remetendo-os a um flagrante anonimato; que por sua vez… ad infinitum.

II - A Problemática da Periodização Esta análise tradicional da história em períodos condiciona, portanto, qualquer lógica subversiva; assim sendo, a simples ideia de um individuo se manifestar fora dos padrões normativos da sua época, é analisada quase sempre como uma espécie de soluço temporal, i.e., uma aberração ou perturbação no tecido do espaço-tempo histórico, configurando antes, uma evidente manifestação de um anquilosado historicismo; que subverte a realidade para manter as suas fronteiras seminais intactas. Deste modo, manifesta-se particularmente relevante e salutar quando um autor como Jacques Le Goff, no limiar da sua obra e vida, nos lança essa derradeira indagação, Fautil Vraiment Découper L’histoire en Tranches? O autor alerta precisamente para os perigos que uma periodização representa, «O trabalho de periodização obriga o historiador a ter em conta o pensamento dominante, num espaço tão vasto quanto possível, dos homens e das mulheres que vivem na época considerada» (Le Goff, 2014, p. 112). Ora este exercício configura uma literal terraplanagem histórica, cultural, social, artística e científica, de forma a adequar a história ao olhar conformista do historiador, e não o contrário - adequar o olhar do historiador às ininterruptas perturbações e oscilações da história, que apesar de a tornarem menos previsível, a tornam de facto mais surpreendente. Assim sendo, importa olhar para as tradicionais barreiras cronológicas, exactamente nessa dimensão, como “tradicionais”, mas não efectivas. Vários autores ensaiaram esse exercício de reposição histórica, senão vejamos: O próprio Le Goff propõe uma reformulação cronológica tendo em conta a adopção novecentista do modelo tipológico de Petrarca, Media Ætas, que no século XIV rejeitava os séculos anteriores anunciando uma renovação da bela antiguidade. O reforço conceptual desta concepção obterá carácter definitivo a partir da primeira lição de Michelet em 1840 no colégio de França e póstero eco em Jacob Burckhardt. Em face do carácter ilusório, reverberatório e novecentista que essa periodização representa, Le Goff propõe uma outra leitura do friso temporal: uma longa idade média cujo fim posiciona em meados do século XVIII, correspondendo ao advento da fisiocracia, à invenção da máquina a vapor, ao nascimento da indústria moderna, e, no domínio filosófico e político, nesse relevante marco paradigmático que constitui o enciclopedismo e a revolução Francesa (Le Goff, 2014, pp. 175-178). Não se pense porém que o autor renega todo o ideário de transformações sociais, culturais, politicas, económicas, artísticas e científicas que ao “renascimento” tradicionalmente são atribuídas; não, o que o autor defende é que as mesmas constituem óbvias reacções de movimentos de lenta transformação cuja génese se encontra no século XII ou XIII, enquadrando-os numa lógica de continuidade mas não de

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ruptura. Neste ponto de vista, aquilo que o autor renega é a modernidade do próprio conceito de revolução, patente na óptica em que Burckhardt o posicionou, i.e., como constante e interminável descoberta da novidade – o advento de um mundo onde subitamente tudo é novo. David Wootton, chama a atenção precisamente para a incompatibilidade entre o termo “revolução” – entendido aqui como abrupta transformação capaz de afectar toda uma população num mesmo período histórico - e a lenta realidade das transformações socioculturais. Com este carácter específico de ruptura imediata e global, não existe nenhuma revolução; seja ela científica, neolítica, militar, industrial ou de qualquer outra tipologia. No entanto, o autor alerta para o paradoxo da necessidade conceptual de ler a história sob este prisma de forma a compreender transformações de larga escala; sejam elas de carácter económico, social, intelectual ou tecnológico (Wootton, 2015, pp. 20-21) – uma vez mais, encontramo-nos perante uma ilusão historiográfica A este respeito, encontra-se a par da hipótese plasticista de uma nova periodização que Panofsky propõe em 1960, defendendo o advento de inúmeros renascimentos, cuja relevância se denota precisamente pela sucessão, continuidade e elasticidade temporal com que se manifestam os fenómenos de vanguarda; seja ela de carácter social, político, artístico ou científico, «Na história como na física, também o tempo é função do espaço e a própria definição de um período como uma fase marcada por uma «mudança de direcção» implica, simultaneamente, continuidade e ruptura» (Panofsky, 1960, p. 20). Esta visão tridimensional de um espaço-tempo histórico quebra com a tradicional unidimensionalidade de um friso histórico contínuo, defendendo o autor, a existência de inúmeros pontos de ruptura temporais mas sobretudo geográficos, que quebram definitivamente a visão italocêntrica e renascentista da história de Burckhardt. Para Panofsky, será precisamente a praxis, os objectos e as inovações tecnológicas estabelecidas entre os seus autores que instituem fracturas cronológicas evidentes, «(…) o que nós designamos por «períodos» são simplesmente os nomes das inovações decisivas que sempre tiveram lugar através da história...» (Panofsky, 1960, p. 17) . A própria história da ciência encontra divergência nos conceitos de continuidade ou ruptura, não sendo consensual em torno da existência ou não de uma genuína revolução científica nos séculos XV e XVI. Tal hipótese é defendida por Steven Shapin que renega formalmente a existência de tal movimento, ou Pierre Duhem, que partilhando a mesma lógica Panofskyana ou de Le Goff, defende que as transformações ocorridas nesses séculos constituíram antes uma continuidade natural, do progresso científico que já se registava na Europa e no Islão desde a idade média. Outros autores encontram na presença continuada de padrões mentais medievos - nomeadamente no pensamento Platónico de Copérnico (1473-1543) e Kepler (1571-1630); na actividade astrológica de Galileu (1564-1642), ou no caso de Newton (1643-1727), que em pleno século XVIII seria ainda um afamado alquimista – traços de uma continuidade de práticas e crenças que renegam um absoluto movimento de ruptura (Weinberg, 2015, pp. 167168). No entanto, à luz da história, sabemos que inúmeras cisões tiveram lugar, reconfigurando em definitivo a visão do universo e do sistema Teológico medievo. A

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aparente recepção destas tradições empíricas medievais em pleno século XVI e XVII deve-se sobretudo a uma valorização e aceitação das práticas manuais e especulativas, a par do uso e da descoberta do valor das medidas exactas, da observação metódica, do uso de instrumentos, da valorização da experiência pessoal e da experimentação (Long, 2011, p. 130). Na resposta a esta problemática encontramos, portanto, paralelos entre a história da ciência e a história da arte no que respeita à subversão de uma tradicional caracterização periódica. Assim sendo, e numa lógica em tudo semelhante à formulada por Jacques Le Goff, também Butterfield sugere uma periodização ampla, com um intervalo compreendido entre 1300 e 1800, período esse capaz de abarcar tanto a origem como as próprias consequências das inúmeras revoluções científicas (Wootton, 2015, p. 18). Deste modo e à semelhança dos diversos “Renascimentos” que Panofsky elencou, também a expressão “Revolução Científica” é alvo da mesma problemática, i.e., saber quantas revoluções ocorreram e quais as balizas cronológicas que as caracterizam. Partindo deste pressuposto cronológico inovador, cedo compreendemos que olhar para a obra de Mateus Fernandes sob este prisma, i.e., como estando a meio caminho de uma revolução em marcha, o integra num processo sistémico longe da tradicional continuidade medieva. Cedo compreendemos que observamos um fenómeno paralelo de sincretismo operativo, seja na ciência ou na arte, de todo um ideário e conjunto de crenças e práticas que se prolonga no tempo sem rupturas imediatas. No entanto, apesar destas evidências, na história da ciência ninguém ignora o carácter redutor que estas idiossincrasias naturais representam na estrutura mental de cada um dos cultores da ciência moderna - o facto de Galileu ser simultaneamente astrólogo e astrónomo ou Newton alquimista e matemático, não os diminui na sua dimensão epistemológica enquanto geradores de transformação e ruptura, antes pelo contrário, confere-lhes um carácter de singularidade, continuidade e integração no seu tempo.

III - Interacção entre Arte e Ciência Tendo em conta toda a anterior argumentação, torna-se claro que as interacções entre arte e ciência e artesão e humanistas encontram um lastro duradouro e de profunda complexidade, extrapolando largamente a tradicional periodização. Referimonos obviamente ao desenvolvimento da perspectiva linear, da óptica, da mensurabilidade, da topografia, do ensino generalizado da geometria Euclidiana, dos estudos anatómicos e do desenvolvimento da mecânica e de instrumentação auxiliar. Todas no seu conjunto irão conferir um carácter heurístico e intelectualizante à arte e em última análise, contribuir precisamente para uma alteração paradigmática dos seus cultores, que transitam estatutariamente do papel de meros artesãos para um reposicionamento enquanto criadores teóricos; movimento este que se encontra na génese conceptual do artista. Esta não será porém, uma transformação num único sentido, também os humanistas e académicos, até aí arredados da praxis e das lides mecânicas, irão iniciar um processo de contacto com as práticas manuais, tais como a 5

astronomia, a topografia, a mensurabilidade, o desenho técnico ou a construção de instrumentos, dando origem a uma coabitação entre teoria e experimentação que se encontra igualmente na génese do cientista. As razões para este aparente divórcio entre a praxis e a scientia enquanto conhecimento, teve origem no complexo sistema de ensino das universidades medievais, onde o curriculum habitual se encontrava estruturado nas célebres sete artes liberais, hierarquicamente superiores às chamadas artes mecânicas: o Trivium constituído pela gramática, a retórica e a lógica; e o Quadrivium, constituído pela matemática, geometria, música e astronomia [incluindo a astrologia]. Com origem na seminal organização que Varrão (116-27 a.C.) estabeleceu para as bibliotecas públicas de Roma, esta classificação separava claramente as artes liberais das artes mecânicas ditas manuais. Na idade média esta divisão florescerá graças à transmissão empreendida por Cassiodoro (Século VI) e Alcuíno (Século VIII) onde a divisão em dois ramos distintos e incomunicantes obterá uma perenidade efectiva (Le Goff, 2014, p. 106; Long, 2011, p. 127). Cada uma destas artes seria originalmente apelidada simultaneamente como arte [habilidade prática] e como ciência [sistema teórico], i.e., a astronomia por exemplo, constituía um sistema teórico tendo a astrologia como praxis efectiva. Estas ciências constituíram a base formativa para os futuros estudos em filosofia e teologia, apelidados como ciências, mas que na realidade consubstanciavam sistemas teóricos que dispensavam qualquer componente prática (Wootton, 2015, p. 23). Para além do mais, estas ciências encontravam-se integradas num sistema hierárquico evidente: os teólogos assumiam o direito de ordenar aos filósofos que demonstrassem a imortalidade da alma e os filósofos o direito de ordenar aos matemáticos que provassem que todos os movimentos do céu eram circulares, pois apenas estes aparentavam a uniformidade e permanência divina. Esta estrutura hierárquica começará a será definitivamente abalada no século XV, onde os primeiros sinais de uma revolução científica em curso encontram-se patentes na aparente “rebelião” dos matemáticos contra os filósofos, e destes contra os teólogos (Wootton, 2015, p. 24). Segundo David Wootton, um dos exemplos mais precoces desta rebelião encontra-se precisamente no tratado de pintura de Leonardo da Vinci, onde o mesmo defende de forma arrojada a supremacia e independência da matemática, da demonstração e da experiência: (…) nenhuma investigação humana pode ser denominada ciência sem antes passar por demonstrações matemáticas; e se tu me dizes que as ciências que têm o seu princípio e o seu fim na mente, participam na verdade, não o reconhecerei, negando-o por muitas razões; a primeira, porque em tais discursos da mente não se acede à experiência, sem a qual, nenhuma certeza se produz. (Vinci, 1986, p. 32)

Esta declaração de princípios assume especial notoriedade pelo facto de unificar dois polos até aí aparentemente desconexos, a arte enquanto alter-ego axial do seu autor, e as novas práticas conceptuais que a ciência do século XV e XVI levariam a cabo. Sem estas premissas iniciais, nunca Galileu teria “construído” um telescópio, “observado” o céu nocturno até à exaustão, “registado” os movimentos celestiais com detalhe, e

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“desenhado” as representações visuais da lua. Observe-se na intensidade dos verbos empregues e na technē dominante; algo que à escolástica imperativa pareceria aberrante e contraproducente. De facto, esta nova concepção de Scientia atentava precisamente contra essa escolástica Aristotélica e peripatética que distinguia claramente entre epistemē [conhecimento teórico imutável]; praxis [conhecimento resultante de julgamento prévio] e technē [produção ou fabricação manual] (Long, 2011, p. 127). A salutar convivência e troca de experiências entre humanistas, académicos, arquitectos, engenheiros, matemáticos, pintores etc, veio conferir um novo sentido à tradicional visão Aristotélica da Filosofia Natural como actividade exclusivamente heurística, negando em absoluto às actividades ditas mecânicas ou às matemáticas uteis a capacidade de produzirem conhecimento (Wootton, 2015, p. 24). Na origem desta mudança de paradigma poderá estar o aforismo Vitruviano da conjugação imperiosa de duas polaridades essenciais; Fabrica e Ratiocinatio – precisamente a construção ou prática, harmonizada com a razão ou teoria. Esta concepção Vitruviana da arte, reencontrada por Poggio Bracciolini em 1414 e amplamente difundida a partir de 1511 [Edição de Giovanni Giocondo], irá instigar nos artistas do renascimento esse duplo compromisso de harmonização literária entre philologia e philotechnia, ou seja, entre conhecimento e prática, motivando alterações paradigmáticas na própria produção literária. Por um lado, artesãos habitualmente comprometidos exclusivamente com uma praxis mecânica começarão a escrever livros de carácter formativo; por outro, homens eruditos ocupar-se-ão de práticas artesanais tais como: a observação, a topografia e medição ou a fabricação de instrumentos científicos. Desta perspectiva, homens como Filarete, Francesco di Giorgio, Leonardo, Palladio ou Mutio Oddi não poderão ser entendidos unicamente na sua dimensão de arquitectos, engenheiros e/ou artesãos, mas igualmente como escritores, leitores, estudantes e eruditos. Não será certamente coincidência, que os grupos que mais activamente participaram na formação destas Trading Zones: arquitectos, engenheiros, pintores e escultores; tenham assistido ao longo do século XVII ao surgimento de academias, resultado de uma reconhecida institucionalização das suas actividades (Long, 2011, pp. 126, 131). Encontramo-nos claramente perante um novo paradigma cuja origem é indeterminada, mas que é fruto de uma convivência, respeito mútuo e troca de valores e experiencias entre eruditos e humanistas; e artesãos e trabalhadores mecânicos, originando novos modelos culturais capazes de aglutinar conhecimento e praxis, teoria e experimentação.

IV - Trading Zones na Corte Manuelina Temos falado exaustivamente de Trading Zones, sem no entanto definir o conceito. Este originalmente deriva dos estudos antropológicos de Peter Galison em torno das relações entre físicos e engenheiros, que no século XX uniram esforços com vista ao desenvolvimento de detectores de partículas e radares, sem no entanto alterar as suas orientações teóricas e práticas seminais (Long, 2011, p. 94; Collins, Evans, & Gorman, 2007, p. 657). Pamela Long irá abduzir o conceito, transferindo-o para os séculos XV e XVI e para problemáticas inerentes, da arquitectura à engenharia, da

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astronomia à navegação, da matemática à pintura e escultura. Esses pontos de contacto e colaboração, as Trading Zones, constituem desta forma, locais onde o mundo dos artesãos e dos humanistas encontram amplas plataformas de intercâmbio recíproco de conhecimento e experiência. A autora distingue claramente estas zonas sincréticas entre eruditos e artesãos, das tradicionais relações de mecenato, desde logo pela ausência clara de trocas reciprocas de serviços e valores ou quaisquer outras relações que pressuponham uma relação de poder ou subalternização. Na sua óptica, as Trading Zones, consistem em “arenas” onde os eruditos ensinam os artesãos e os artesãos ensinam os eruditos em absoluta paridade. O conhecimento envolvido constitui assim o “valor” intrínseco reconhecido por ambas as partes, cujo teor poderá ser transmitido oralmente ou através da escrita de manuais ou tratados (Long, 2011, p. 95). Segundo a autora, o número destas zonas de contacto e atrito terá aumentado drasticamente ao longo do século XV e alcançado um carácter transversal e incontornável durante todo o século XVI, estendendo-se a várias áreas de actividade, tais como: Cortes e paços Reais; oficinas de impressão; construtores de instrumentos científicos; arsenais; minas, etc, constituindo locais onde Fabrica e Ratiocinatio, no sentido Vitruviano do termo, encontrava eco no cruzamento entre humanistas, autores, artistas, editores, impressores, gravadores, matemáticos e artesãos ou operadores mecânicos das mais variadas origens (Long, 2011, p. 96). Este conceito poderá estender-se ou sobrepor-se à concepção que Alexander Marr estabelece das “comunidades matemáticas” dos séculos XV, XVI e XVII, que constituíam redes de contacto onde os mais variados contributos eram unificados no propósito comum da sua prática e do seu uso, fomentando o encontro de praticantes oriundos das mais diversas áreas, fossem elas científicas ou artísticas (Marr, 2011, pp. 10-11). O panorama interno constituirá um fecundo e propício campo de enformação destas amplas redes de troca experiencial, seja através da expansão marítima, da construção de navios e de instrumentos científicos, seja no campo da arquitectura, da escultura e da pintura. Estes últimos constituem-se como veículos de transmissão por excelência de um ideário que encontra como símbolo máximo da sua manifestação universal, precisamente um instrumento matemático – a esfera armilar. Esta representação visual – evidência vocacional universalista e manifesta bandeira de um projecto imperial, representa per se uma Trading Zone comum promovida pela corte Manuelina, reunindo no seu âmago gente oriunda dos mais diversos campos de acção. Estas Trading Zones, cuja notoriedade é possível determinar no Portugal dos séculos XV e XVI, vêm de facto colmatar a ausência aparente de uma função didática e formativa por parte das cooperativas mesteirais internas. De facto, a análise do regimento da Casa dos Vinte-e-Quatro, não permite aferir em nenhuma época, funções equivalentes às suas congéneres Italianas e Flamengas, onde a formação e o ensino das chamadas matemáticas “uteis” se encontra de facto comprovado. A realidade interna permite pressupor, muito provavelmente pela unidade, coesão e distinta tipologia sociopolítica do reino uma realidade distinta das repúblicas Italianas ou das províncias unidas Flamengas. A acção centralizadora da coroa, onde a proximidade entre o poder politico e os diversos actores operativos, terá facilitado e

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promovido os contactos entre as diversas categorias intelectuais e profissionais, dispensando estruturas afins. Este aspecto encontra-se visível em várias áreas de acção da coroa, fundamentalmente em três campos distintos da sua política universalista, que constituindo áreas de acção específicas, manifestam a presença clara de Trading Zones: 1) Na criação e fomento de uma imagética do império mediada pela arquitectura, pintura e escultura. 2) Na criação, dotação e formação de redes de ensino ligadas à arte da navegação e marinharia. 3) Na criação e fomento da Ribeira das Naus com óbvias funções arsenalistas. Poderemos inscrever sem sombra de dúvidas os estaleiros de Santa Maria da Vitória e do Mosteiro de Santa Maria de Belém na primeira categoria elencada, constituindo ambos claras zonas de intermediação e sincretismo entre humanistas, eruditos e artesãos oriundos dos mais diversos pontos da Europa. A presença notória de mestres provenientes das extensas redes de conhecimento espalhadas por toda a Europa constitui a nosso ver uma genuína Trading Zone Transeuropeia, ultrapassando certamente uma mera troca de estilos e composições, e corporizando muito mais uma extensa rede de transmissão de conhecimento de cariz matemático e geométrico. De resto, a leitura atenta que Ricardo Silva estabelece da crónica de Cristovão Acenheiro, comprova a presença de dois grupos distintos em acção no estaleiro Batalhino: um primeiro grupo de trabalhadores nacionais sem qualquer especificidade na hierarquia do estaleiro, e um segundo grupo, integrando mestres nacionais e estrangeiros com superior grau de mestria e certamente dotados de competências nas chamadas matemáticas uteis, caso específico de mestre Huguet (Silva, 2010). No mesmo sentido aponto Rafael Moreira, recordando as formas tradicionais de aprendizagem corporativas lecionadas nas oficinas dos mestres pedreiros e nos estaleiros de obras, vias de estudo, onde segundo o autor se poderia adquirir a necessária competência nas artes liberais e o prestígio necessário para ascender de simples mestre de pedraria à condição de «arquitecto» régio (Moreira, 1987, p. 67). Esta transição tipológica e estatutária de simples artesão ao grau de intelectual liberal constitui conforme vimos, um traço evidente de epistemologia artesanal ou ciência vernacular configurando uma impressão digital de trocas informativas e formativas entre arte e ciência e de Trading zones. Posteriormente, o ensino da arquitectura baseado no texto de Vitruviano transitará definitivamente para o curriculum lecionado na escola do Paço, pelas mãos do seu insigne tradutor, Pedro Nunes e do «mestre das obras de el-rei» e «mestre das fortificações do reino», António Rodrigues (1564-1590) (Moreira, 1987, p. 68). O próprio espaço físico da corte Manuelina constitui-se igualmente como profícua Trading Zone, no que respeita ao contacto e às trocas multidisciplinares. Este carácter formativo e enriquecedor, torna-se de resto patente na presença tutelar de Francisco de Melo (1490 – 1536), insigne matemático e bolseiro de D. Manuel, cuja formação decorreu na Universidade de Paris onde veio a lecionar. De regresso ao reino, oferece ao monarca um manuscrito por si compilado, contendo as obras de Euclides, Ótica e Catóptrica, na versão latina, Perspetiva e Especulária (Melo, 2014, p. 13). Só a mera presença de uma obra deste vulto na corte Manuelina, constitui por si só indício claro de uma erudição fina e humanista a pairar sobre todos os negócios da coroa, que

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obstinadamente paga a bolseiros para aprenderem matemática no norte da Europa, não apenas como beneplácito régio, mas certamente com intuitos formativos pósteros. De resto, denota-se essa função formativa da corte na própria dedicatória que Francisco de Melo estabelece ao rei D. Manuel, «(…) os filhos dos nobres Lusitanos, logo que atingem a idade em que podem ser retirados dos cuidados da ama, sejam alimentados nesta tua Corte, na qual, como numa escola de todas as virtudes, os jovens bem-nascidos começam a habituar-se ao esforço, a embeber-se em bons e civilizados costumes (…)» (Melo, 2014, p. 27). Sabemos claramente que esta corte não era apenas frequentada pelos “jovens bem-nascidos”, mas por inúmeros oficiais, artesãos e trabalhadores mecânicos oriundos das mais diversas proveniências e funções. Não será certamente de estranhar, que houvesse na política régia a vontade expressa de união e sã convivência entre matemáticos como Francisco de Melo e mestres-de-obras como Mateus Fernandes ou pintores régios como Jorge Afonso, cuja notoriedade [Arauto Malaca, examinador, vedor e avaliador das obras do reino] permite deduzir uma presença assídua e respeitada na corte; (Serrão, 2001, p. 106). Torna-se inevitável a formulação de uma saudável convivência entre matemáticos, arquitectos e pintores, onde uma troca salutar de competências contribuiria certamente para o enriquecimento e harmonização dos objectivos comuns da coroa. A construção e uso de instrumentos de medição e topografia por parte dos mestres construtores e da perspectiva linear nas diversas oficinas de pintura permite identificar um interesse comum pela geometria Euclidiana, cujo domínio e compreensão se tornaram essenciais em ambas as actividades. De resto, a presença de artesãos dotados desta dupla competência de erudição e habilidade técnica surge atestada documentalmente na corte de D. Manuel e D. João III. Através de um documento datado de 1528 e intitulado: “Carta de Mercê a Filipe Guilhem de 25.000 réis de ordenado anualmente para servir o rei, com os instrumentos que inventou para tomar o sol, a qualquer hora, altura do polo, por ele ou pelas estrelas, com outros instrumentos de minutos e segundos e ensinar tudo a que o dito senhor mandar, sem outro interesse” (Arquivo Nacional Torre do Tombo, 1528; Viterbo, 1988, p. 180), torna-se patente esta função tutelar e didática que a coroa abertamente assumia. Trata-se do mesmo homem que surge nas Trovas a Felipe Guilhem de Gil Vicente, e cujo relato o coloca na corte Manuelina frente-a-frente com o próprio Francisco de Melo: «O anno de 1519 veio a esta corte de Portugal hum Felipe Guilhem, Castelhano, que se disse que fora boticário nel Porto de Santa Maria; o qual era grande logico e muito eloquente de muito boa prática, que antre muitos sabedores o folgavão de ouvir: tinha alguma cousa de mathematico; disse a ElRei que lhe queria dar a arte de Leste a Oeste, que tinha achada. Pera demostra desta arte fez muitos instrumentos, antre os quaes foi hum astrolábio de tomar o sol a toda a hora: praticou a arte perante Francisco de Mello, que então era o melhor mathematico que havia no reino, e outros muitos que para isso se ajuntarão per mandado de S.A. Todos approvarão a arte por boa: fez-lhe ElRei por isso merce de cem mil reis de tença, c’o habito e corretagem da casa da India, que valia muito.» (Vicente, 1834, p. 377; Viterbo, 1988, p. 174). Estes dois documentos comprovam de forma exemplar a instituição de uma profícua Trading Zone,

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na corte Manuelina e pósteras, revelando inúmeros aspectos que importa salientar. Desde logo a proveniência, Filipe Guillem é um cristão-novo nascido em 1487 em Sevilha, que surge na corte Manuelina em 1519, prometendo ensinar a arte de Leste a Oeste, ou seja o cálculo da longitude, espécie de Santo-Graal da marinharia. Um dos aspectos mais curiosos do relato, é precisamente a conjugação dessa dupla polaridade entre scientia e praxis, pois apesar do boticário ter «alguma cousa de mathematico», fez, ou seja, construiu inúmeros instrumentos de medição, manifestando clara harmonização entre Artesão e Humanista. Estas características denotam claramente a presença de um polímata cujas competências se dividiam por diversas áreas de interesse, evidenciadas na tradição humanista Italiana por figuras de relevo como Alberti ou Leonardo. A passagem de uma personalidade deste vulto na corte Manuelina em 1519 permite aferir uma total concordância do reino com as vanguardas europeias, e uma procura constante do conhecimento nas suas mais diversas manifestações. O seu contacto com Francisco de Melo configura precisamente a tipologia de contactos informais que caracterizam as Trading Zones - “arenas” onde os eruditos e artesãos trocam conhecimento em absoluta paridade (Long, 2011, p. 95). Posteriormente, assistir-se-á a uma clara institucionalização destas práticas, evidenciadas pela abertura em 1559 [Data do Regimento] da Lição de matemática. Esta era lida diariamente entre Outubro e Junho pelo cosmógrafo-mor, nos Armazéns da Ribeira das Naus para a instrução das gentes do mar (Moreira, 1987, p. 66), constituindo mais uma evidencia da aposta da corte no ensino generalizado da astronomia, cartografia, construção e uso dos principais instrumentos de navegação, às gentes da marinharia. Esta iniciativa fomentou provavelmente a unificação entre fontes de elevada erudição e academismo com elementos provenientes de uma vivência real do mar, amalgamando académicos e eruditos com o empirismo de marinheiros e navegadores, constituindo desta forma uma Trading Zone de especial relevância na dinâmica das políticas da coroa. Todos estes aspectos elencados, permitem-nos intuir uma progressiva autonomia por parte das classes operativas do reino, que longe de mimetizarem gestos de atávica e medieva tradição; encontraram junto dos existentes pontos de contacto com a cultura humanista, erudita e científica; modelos processuais inovadores capazes de converter os tradicionais sistemas artesanais e mecânicos. As largas evidências materiais destas profícuas Trading Zones permitem-nos compreender que a sua prevalência e longevidade na corte Manuelina convidam a uma reflexão profunda sobre o papel socio-cultural do artesão e do humanista.

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Bibliografia Arquivo Nacional Torre do Tombo. (2 de 11 de 1528). Carta de Mercê a Filipe Guilhem de 25.000 réis de ordenado anualmente para servir o rei, com os instrumentos que inventou para tomar o sol, a qualquer hora, altura do polo, por ele ou pelas estrelas, com outros instrumentos de minutos e segundos... Corpo Cronológico 1161/1699. Lisboa. Obtido de http://digitarq.arquivos.pt/details?id=3772528 Collins, H., Evans, R., & Gorman, M. (2007). Trading Zones and Interactional Expertise. Studies in History and Philosophy of Science, 657-666. Le Goff, J. (2014). Faut-il Vraiment Découper L'histoire en Tranches? Paris: Éditions du Seuil. Long, P. O. (2011). Artisan/Practioniers and the Rise of the New Sciences. Corvallis: Oregon State University Press. Marr, A. (2011). Between Raphael and Galileo. Chicago: The University of Chicago Press. Melo, F. d. (2014). Obras Matemáticas (Vol. 1). (B. M. Leitão, Ed.) Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal. Centro de Estudos Clássicos. Moreira, R. (1987). A Escola de Arquitectura do Paço da Ribeira e a Academia de Matemática de Madrid. Em P. Dias, As Relações Artísticas entre Portugal e Espanha na Época dos Descobrimentos (pp. 65-78). Coimbra: Livraria Minerva. Panofsky, E. (1960). Renascimento e Renascimentos na Arte Ocidental. Lisboa: Editorial Presença. Pereira, P. (2007). As Grandes Edificações (1450-1530). Em P. Pereira, História da Arte Portuguesa. O Manuelino (Séculos XV-XVI). Rio de Mouro: Círculo de Leitores. Serrão, V. (2001). História da Arte em Portugal; O Renascimento e o Maneirismo. Barcarena: Editorial Presença. Silva, R. (30 de Novembro de 2010). O mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha): um estaleiro de aprendizagens e de difusão ao largo do século XV. Convergências, Nº 6. Castelo Branco: Escola Superior de Artes Aplicadas Instituto Politécnico Castelo Branco. Smith, P. H. (2004). The Body of The Artisan. The University of Chicago Press: Chicago. Vasari, G. (2008). The Lives of the Artists. Oxford: Oxford University Press. Vicente, G. (1834). Obras de Gil Vicente (Vol. 3). (Langhoff, Ed.) Hamburgo. Vinci, L. d. (1986). Tratado de pintura. (A. G. Gracia, Ed.) Barcelona: Akal. Viterbo, S. (1988). Trabalhos Náuticos dos Portugueses. Séculos XVI e XVII. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Weinberg, S. (2015). Explicar o Mundo. A História da Ciência, da Antiguidade à Era Moderna. Barcarena: Marcador. Wootton, D. (2015). The Invention of Science. S. l.: Allen Lane. Penguin Books.

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