Artigo a cidade como expresao da modernidade

June 3, 2017 | Autor: Adair Jr. | Categoria: Modernism, City planning, CIDADE, Modernidade
Share Embed


Descrição do Produto

1 A cidade como expressão da modernidade: aproximações entre Coimbra (Portugal) e Belo Horizonte (Brasil)

I. Introdução Investigar a cidade implica em problematizar um fenômeno dinâmico, que nunca se deixa apreender por completo, pois está em constante processo de constituição, onde uma gama enorme de elementos, variáveis e fatores interagem e se inter-relacionam. Considero a cidade uma dimensão da realidade social, produto e ao mesmo tempo produtora do espaço. E ao incorporar em sua realidade fundamental as tramas sociais, tal espaço não se configura apenas como uma dimensão física ou mera localização, mas constitui-se como urbano, quer dizer, um sistema de valores em constante transformação, que exprime as formas materiais "mais a vida que as anima” (SANTOS, 1997, p. 83). Assim sendo, é fundamental diferenciar a cidade, realidade física, material, do espaço urbano, realidade composta por relações sociais que se realizam em um espaço-tempo determinado. O espaço urbano é, pois, mais do que um modo de produzir e fazer circular mercadorias e produtos, sendo também um "[...] modo de consumir, pensar, sentir, enfim, é um modo de vida" (CARLOS, 2007, p. 27). Onde passado e presente se entrelaçam, lugar do possível e do projetado, dos conflitos e das esperanças, o espaço urbano é obra dos habitantes da cidade, pois, enquanto constroem edifícios, traçam ruas, criam parques e erguem monumentos, esses habitantes produzem sentidos e projetam valores. Em outros termos, o espaço urbano deve ser considerado como uma “[...] projeção da sociedade sobre um local" (LEFEBVRE, 2001, p. 56), o que quer dizer, também, uma obra que resulta do trabalho social dos habitantes da cidade, e não um sistema ou um projeto que possa a eles se impor. Desse modo, entendo, como

Roncayolo, que “la ville, plus qu’un

concept d’analyse, est san doute une categorie de la pratique sociale” (RONCAYOLO, 1997, p. 33).1  

1 !

"A cidade, mais que um conceito de análise, é sem dúvida uma categoria da prática social" (Tradução livre).

2 Desta maneira, a investigação sobre a cidade não deve se limitar à sua morfologia e ao seu traçado, pois o espaço encerra em sua natureza uma vertente social, dada pelas relações que se realizam em um espaço-tempo determinado e se materializam como apropriações daquele espaço. Assim, o espaço deve ser visto como condição, meio e resultado das práticas sociais (CARLOS, 2001).

II. A cidade no século XIX

O século XIX foi marcado por grandes transformações técnicas, sociais e políticas que resultaram, dentre outras coisas, na intensificação da deterioração das condições de vida, especialmente nas cidades, com grandes problema de circulação e de higiene. O aumento da população urbana e a maior circulação de capitais e de mão-de-obra elevou os aglomerados urbanos ao centro das inquietações políticas e sociais e os transformou em “[…] palco das principais inovações tecnológicas" (CALMEIRO, 2013, 71-72). Por outro lado o mercado do solo urbano e a necessidade de infraestruturas que atendessem à concentração da população colocaram em questão a cidade existente. Os problemas de congestionamento, de circulação e insalubridade tornaramse críticos por toda a Europa e acabaram por produzir a crítica à cidade, envolvendo sociólogos, políticos e economistas, dentre outros. Neste momento “[…] começou a traçar-se o urbanismo moderno, adaptando-se a cidade existente à nova sociedade industrial” (CALMEIRO, 2013, p. 74). Como decorrência destes fatores, a Europa conheceu diversos exemplos de intervenção nas cidades, seja pela abertura de áreas de expansão urbana, como em Viena e Barcelona, seja pela radical transformação do espaço existente. Neste último caso as obras levadas a efeito no reinado de Napoleão III em Paris por Haussmann foram as mais significativas pois tornaram concretas as ideias e princípios surgidos das discussões operadas anteriormente e reconfiguraram toda a cidade “[…] denotando razões estéticas mas fundamentalmente revelando o caráter eminentemente simbólico

3 e político que será atribuído aos embelezamentos no século XIX" (CALMEIRO, 2013, p. 74). As reformas parisienses tiveram grande repercussão no continente europeu. Assim, no final do século as “avenidas novas” de Lisboa foram desenhadas aplicando-se as mesmas soluções adotadas em Paris: a partir da cidade antiga rasgou-se um bulevar que terminava numa praça, por sua vez articulada a um parque de onde partiam as ruas que levavam às áreas da periferia (MACEDO, 2006a). Mas estas repercussões não ficaram restritas à Europa. Na cidade do Rio de Janeiro as reformas levadas a cabo no início do século XX pelo engenheiro Pereira Passos alteraram profundamente o espaço urbano da capital brasileira e seguiram, claramente, a solução dos bulevares franceses. Também o planejamento e a construção de Belo Horizonte estiveram bastante associados às reformas de Paris no século XIX.2  

Ainda que as intervenções, as reformas urbanas e mesmo a construção de novas cidades guardem diferenças e especificidades significativas, tendo em vista as realidades distintas, as injunções políticas, as possibilidades financeiras e tantos outros fatores, é possível traçar um quadro de elementos comuns a todas elas. Os problemas urbanos e a referida crítica à cidade fizeram com que durante o século XIX, particularmente na sua segunda metade, e no século XX, as cidades passassem a ser concebidas como lugar privilegiado de atuação do Estado. E grande parte das intervenções realizadas resultaram da ação de poderes públicos fortes que impuseram à população um conjunto de alterações gestado por um reduzido número de pessoas, em geral com forte formação técnica. Estas intervenções foram justificadas pela certeza de que o progresso material e o desenvolvimento econômico seriam capazes de resolver não apenas os problemas infraestruturais das cidades como os sociais, os 2 ! Aguiar,

no segundo capítulo de sua tese, traça paralelos e aponta convergências e divergências entre a Belo Horizonte e Paris (AGUIAR, 2006). E Guimarães mostra como a construção da nova capital de Minas Gerais foi influenciada pelas concepções do urbanismo haussmaniano (GUIMARÃES, 1996). Já Salgueiro destaca uma série de edifícios com características tipicamente parisienses construídos em Belo Horizonte (SALGUEIRO, 1987).

4 médicos e até mesmo os morais. O progresso material foi transformado, desta maneira, em instrumento civilizatório, o que explica a intensa presença das questões relacionadas à higiene e à salubridade nos planos de reformas urbanas. A necessidade de tornar higiênico o espaço das cidades de forma a evitar a propagação de doenças serviu para justificar a derrubada de bairros inteiros e a remoção de grandes quantidades de pessoas, quase sempre pobres. A pobreza, desta maneira, ao ser associada à doença e ao atraso, passou a ser vista como algo a ser expulso do espaço urbano. Mas à cidade dos séculos XIX e XX não bastava ser salubre, ampla, arborizada e arejada - também era preciso ser bela. Assim as intervenções urbanas desta época foram conduzidas, quase sempre, por engenheiros, muitos dos quais de formação militar, que contaram com arquitetos, escultores, pintores e outros artistas para compor uma imagem moderna da cidade. ——III. Coimbra e Belo Horizonte no século XIX No início do século XIX Coimbra apresentava-se circunscrita ao espaço quinhentista da Alta, ocupada especialmente pela Universidade e da Baixa, onde se distribuíam os diversos ofícios e artesãos mas ainda estava “[…] enclausurada entre uma cinta de colégios e o rio intempestivo que sucessivamente invadia a cidade” (CALMEIRO, 2013, p. 71). João Lourenço Roque corrobora esta condição urbana ao assinalar uma "estratificação horizontal” configurada pelo "quotidiano da vida estudantil e universitária” e a "vida comercial e artesanal [de] grande parte da população laboriosa”(ROQUE, 1990, p. 303). No entanto as cercas dos antigos conventos permaneciam “[…] isoladas do contexto urbano” apesar de muito próximas dos limites referidos (MACEDO, 2006a, p.122). Este período foi, também, marcado por grandes problemas a nível nacional como a guerra contra os franceses, as lutas entre liberais e absolutistas e uma considerável depressão econômica (MACEDO, 2006 e MAGALHÃES, 2002).

5 Contudo ainda em 1834 a Lei das Desamortizações tornou patrimônio do Estado os bens móveis das comunidades religiosas por ela extintas. Assim, a área de 7 mosteiros e 22 colégios poderia, a partir desta data, ser incorporada ao espaço urbano da Cidade. Já a segunda metade do século conheceu um sensível crescimento urbano3 pontuado  

pela construção do cemitério, do mercado e da prisão, das novas pontes Portela e Coimbra, do parque Manuel Braga, do matadouro e da rede de iluminação pública (MACEDO, 2006a). Ainda mais significativa foi a chegada da mala-posta, a instalação dos caminhos de ferro4 que culminaria na construção de um ramal que ligava à Baixa e  

a melhoria das estradas de rodagem que, estimulando “[…] a passagem de carreiras urbanas entre Porto e Lisboa implicaria importantes reformas no tecido urbano” (MACEDO, 2006a, p. 123/124). Especialmente significativas foram as obras cujo objetivo eram atenuar as consequências das cheias do rio Mondego pois revelam um dos maiores problemas da cidade e, ao mesmo tempo, expressam a expectativa de modernização do espaço urbano de Coimbra, dois dos temas mais frequentes nas discussões ocorridas na Câmara Municipal durante o século XIX5 e de que tratarei mais adiante. Desta maneira  

foi efetuada a subida das cotas das margens do rio através de aterros, redesenhado o Largo da Portagem com a construção de uma nova ponte e alargada a rua de Coruche (MACEDO, 2006,) além da criação da avenida Emídio Navarro já na penúltima década do século (MACEDO, 2006a).6  

3 !

A criação do Ministério das obras públicas em 1852 marcou, em âmbito nacional, este impulso construtivo particularmente no que diz respeito aos caminhos de ferro, às estradas e à melhoria dos portos (MACEDO, 2006) 4

Em 1864 passou a integrar a rede ferroviária nacional

5!

Os anais da Câmara Municipal referentes ao período 1840-1869 registram diversas discussões sobre a

necessidade de alteamento das vias, especialmente na Baixa, com o objetivo de evitar as cheias do Mondego e, ao mesmo tempo, sanear a região. A título de exemplo ver as entradas dos dias 11/2/1864, 15/6/1866 e 4/8/1869 (SILVA, 1972/1973) 6 !

Sobre estas e outras obras ver também CALMEIRO, 2013, p. 79 e ss

6

Ao contrário de Coimbra e da maioria das cidades que nasceram espontaneamente, Belo Horizonte foi projetada no âmbito de um projeto político, econômico e educacional no final do século XIX para ser a nova capital do estado de Minas Gerais. Esta singularidade torna mais explícitas as intenções, as disputas, os conflitos e as contradições facilitando a compreensão dos elementos ligados à sua construção. A exploração do ouro de superfície, atividade econômica principal em Minas Gerais a partir dos fins do século XVII, dava mostras de exaustão desde meados do século XVIII. Vila Rica, atual Ouro Preto, cidade que abrigou a maior parte da população que gravitava em torno da mineração, havia perdido sua pujança econômica, inclusive com a emigração de grande parte desta população. No Brasil o final do século XIX também conheceu radicais transformações como a abolição da escravidão e a instalação do regime republicano. Ligada umbilicalmente ao passado, Ouro Preto expressava a exploração econômica e a imposição política. Nestes termos era difícil sustentar a permanência desta cidade como capital de Minas Gerais. 7  

A mudança da capital configurou-se num intricado problema político que envolveu conflitos de interesses, negociações e intensos debates. Uma extensa bibliografia8 trata  

deste problema, abordando as discussões sobre a necessidade de reorganização das forças políticas regionais, do crescimento econômico articulado à industrialização e ao desenvolvimento comercial da nova capital como marco da República e do federalismo. alem de temas como o conflito entre dois supostos grupos políticos da elite mineira e a almejada vocação civilizadora da nova cidade.

7 !

Para uma discussão mais aprofundada de tais questões ver CARVALHAIS JR, 2013, p. 52 e ss

8 !

As principais obras estão referenciadas em CARVALHAIS JR, 2013, p. 43

7 As discussões políticas levadas a efeito especialmente a partir de fins do século XIX acabaram por configurar um projeto de mudança da capital de Minas Gerais.9 Este  

projeto partia de um triplo diagnóstico sobre a situação mineira: a estagnação econômica e o atraso em relação aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro; a desarticulação territorial com regiões voltadas a pólos econômicos de outros estados e pouco articuladas pela capital, o que poderia levar ao separatismo; e a constatação da dissociação entre poder político e poder econômico, já que Ouro Preto, a capital, encontrava-se numa área estagnada e longe das regiões mais dinâmicas do estado – o Sul e a Zona da Mata que, por sua vez, encontravam-se privadas da participação na tomada de decisões. A mudança da capital associava-se, desta forma, ao projeto político de reordenar o estado de Minas Gerais e permitir seu desenvolvimento econômico. O local escolhido para a edificação da nova capital não estava, no entanto, vazio. Havia uma povoação de nome Arraial do Curral del Rei

10  

que surgira em torno da Fazenda

do Cercado, consolidando-se como área de produção agro-pastoril para o abastecimento das regiões mineradoras. Além disso, o arraial tornara-se um centro de comércio de gado e rota de passagem de viajantes e de mercadorias diversas que se dirigiam para aquelas regiões, vindas do vale do São Francisco, do Paraopeba e de outros, o que se expressava no nome da matriz local: Igreja da Boa Viagem.11  

Num universo material pobre e rústico, sem iluminação, abastecimento de água e sistema de esgoto, o Arraial tinha suas atividades sociais e econômicas concentradas em torno dos largos da Matriz – local da Igreja da Boa Viagem – e do Rosário, para onde confluíam suas principais ruas e por onde circulavam tropeiros, carros de boi e 9 !

A primeira Constituição do estado, datada de 1891, já adiantara a vontade de construção de uma nova capital (CARVALHAIS JR, 2013, p. 44). 10 !

Quando da construção da capital o nome do arraial já havia mudado para Arraial de Belo Horizonte mas ainda hoje esta alteração é pouco lembrada. 11 !

Esta descrição muito sumária do Arraial teve como base a publicação MUSEU HISTÓRICO ABÍLIO BARRETO. Velhos Horizontes, um ensaio sobre a moradia no Curral Del Rei, 1997, p. 9 a 15. Informações mais detalhadas e descrições mais completas do Arraial encontram-se na primeira parte da obra de Barreto (BARRETO, 1995).

8 cavalos. Seu crescimento ocorria na direção leste-oeste, no eixo formado pelo ribeirão Arrudas e a Estrada de Ferro Oeste de Minas. As cidades, nos séculos XIX e XX, “[…] foram assoladas por um misto de ansiedade e superstição do progresso” (ROSMANINHO, 2006, p. 66) sustentado pela convicção de que era preciso modernizarem-se12 e, desta forma, extirpar as más condições de  

salubridade. Em Coimbra a defesa da sanidade foi associada, ainda, à necessidade de melhorar a circulação urbana, o que transformou a cidade, em especial a Baixa, num local privilegiado de reforma e intervenção (ROSMANINHO, 2006) resultando na proposta de diversos planos de melhoramentos.13  

No caso de Belo Horizonte não havia uma cidade a reformar: era preciso construir uma nova cidade. No entanto a convicção acerca dos inumeráveis benefícios do progresso transformou em destruição o primeiro ato do nascimento da nova cidade: o arrasamento do Curral Del Rei. Ora, as reformas preconizadas para Coimbra no momento em que Belo Horizonte está sendo projetada tratam, também, de arrasamentos: “[…] foi de arrasamentos que se falou […] Todas as propostas surgidas até 1970 supõem amplas demolições e a construção de uma cidade nova” (ROSMANINHO, 2006, p. 68).14 Neste sentido, dentre as obras levadas a cabo  

durante o século XIX a fim de atenuar ou evitar os efeitos das cheias do Mondego, o Largo da Portagem foi redesenhado assumindo “[…] uma dimensão moderna como entrada urbana e como rótula de distribuição viária depois de vagas de demolições e obras de regularização”(MACEDO, 2006, p. 49/50). Também a rua do Coruche foi

12 !

No caso das cidades latino-americanas Romero registra que, neste mesmo momento, a demolição do que existia para a construção de algo novo ocorreu apenas em poucas cidades, porém acabou por se tornar um desejo que sintetizava o triunfo do progresso (ROMERO, 2004, p. 310). 13 !

O autor cita o plano de melhoramentos de 1865, que não foi adiante e, já no século XX os projetos de Abel Urbano (1919-1928), Luís Benavente (1936), Étienne de Groer (1940), Antão de Almeida Garret (1955), Alberto José Pessoa (1956) e dos Serviços de Obras e Urbanização da Câmara (1971-1973) (ROSMANINHO, 2006, 66 e ss) 14 !

Rosmaninho considera que "a intervenção do Estado Novo [na destruição/construção da Universidade na Alta] prolonga, assim, apenas com um âmbito de actuação muito mais alargado, uma prática corrente no século XIX” (ROSMANINHO, 2006, p. 66).

9 alargada transformando-se em um “[…] eixo viário moderno, após uma dispendiosa campanha de expropriações e demolições” (MACEDO, 2006, p. 51). A investigação que desenvolvi sobre a construção de Belo Horizonte evidenciou a conjunção de vários fatores na escolha do sítio onde a nova capital mineira deveria ser construída. Dentre eles, a noção de salubridade foi fundamental e, na realidade, já a primeira Constituição do estado de Minas preconizava a necessidade da “[...] mudança da capital para um local que, oferecendo as precisas condições higiênicas, se [prestasse] à construção de uma grande cidade.”15 Também neste sentido Barreto  

menciona, em vários momentos, que os contrários a esta mudança, particularmente os habitantes de Ouro Preto, alegavam que o sítio escolhido estaria infestado de doenças.16 Ao se referir ao bócio que “[...] será estancado e paralisado pela conquista  

que a civilização inerente a uma grande capital há de realizar neste magnífico pedaço da terra brasileira”17, Alfredo Camarate18 explicita claramente a articulação entre o  

 

progresso, a civilização e a extirpação das doenças que se tornou chave nestas discussões. Belo Horizonte foi concebida para ser uma experiência modelo de modernização urbana. Sua proposta urbanística e o estilo da maior parte de suas construções sofreram evidentes influências do neoclássico e do ecletismo europeus. Se estes estilos já não eram considerados, na Europa, as tendências mais atuais, na nova capital constituíram os principais instrumentos do confronto com o barroco, representação do passado e do atraso consubstanciado na antiga capital, Ouro Preto, e no Arraial do Curral del Rey.

15 !

Citado em ANDRADE; MAGALHÃES, 1998, p. 41.

16 !

BARRETO, 1995a, p. 174.

17 !

BARRETO, 1995a,100

18 !

Alfredo Camarate nasceu em Lisboeta e viveu no Brasil entre 1872 e 1904, quando faleceu em São Paulo. Atuou como engenheiro, jornalista e músico. Morou vários anos em Belo Horizonte e publicou uma série de crônicas sobre a construção da nova capital.

10 A mudança da capital e a construção da Cidade de Minas foram processos dirigidos pelo Estado. O papel preponderante deste e a negociação política entre os setores da elite mineira caracterizaram estes empreendimentos desde sua concepção, ainda nos finais do século XIX. Em seguida, todo o processo de construção, a partir da concepção da cidade até sua execução concreta, foi conduzido por um Estado forte, intervencionista e autoritário. Definir um traçado e um estilo arquitetônico significou, desta maneira, impor dinâmica e feição novas e determinadas a um espaço previamente existente. A planta da cidade expressou precisamente este domínio difuso mas marcante do Estado na medida, por exemplo, em que os edifícios públicos compuseram cenários monumentais, tendo a função de induzir a ocupação do espaço a partir de certa especialização funcional, transformando o poder na grande referência espacial. A nova capital de Minas foi concebida, assim, como objeto e ao mesmo tempo produto de uma intervenção urbanística capaz de reformar um espaço tido como degradado e insalubre. As ferramentas desta intervenção urbana foram a ciência e a técnica, aptas a garantir o ar saneado, a luz ampla, a beleza e, até mesmo, o progresso moral e as novas relações sociais (AGUIAR, 2006). Era preciso destruir uma cidade para construir outra e, desta maneira, civilizar o povo. Em Coimbra as preocupações de caráter higienista assumiram características distintas mas, por seu turno, também reveladoras. Ainda no ano de 1864 os moradores da Rua da Moeda pediram “[…] o levantamento da mesma, de modo a ficar ao abrigo das enchentes do rio Mondego” (SILVA, 1972-73, p. 407). Por outro lado a própria Câmara propõe “[…] como medida de saneamento os alteamentos do largo da Maracha, Rua do Tinge-Rodilhas e do Corvo” (SILVA, 1972-73, p.443). Rosmaninho faz uma observação que vale a pena recuperar nesta altura: para o autor […] o primeiro factor de remodelação urbana foi talvez, não a preocupação higienista, mas a evolução dos meios de transporte" (ROSMANINHO, 2006, p. 66). No entanto

11 considero mais adequado manter articulados os dois elementos, como fez o presidente da Câmara de Coimbra, Dr. Marnoco e Souza, em seu relatório de 1905: o alargamento da área urbana, a expansão do movimento comercial e industrial, a desacumulação da população para bairros higiênicos e modernos, são os resultados que se têm observado em todas as cidades depois da introdução de meios de transporte rápidos e econômicos (LOUREIRO, MCMLII, p. X).

Assim, neste raciocínio, a introdução de meios de transporte que requeriam ruas mais largas provocaria, obrigatoriamente, a transferência da população que habitava estas vias para bairros considerados modernos, quase sempre afastados do centro da cidade, como deixa claro o presidente: A questão tem mesmo um aspecto social, pois as classes trabalhadoras não podem, sem meios de transporte desta natureza, conseguir habitações baratas e sadias. Por outro lado, o êxodo da população do centro para a periferia faz desaparecer os bairros insalubres e excessivamente populosos do coração da cidade (LOUREIRO, MCMLII, p. X).

Há aqui, a demanda evidente por uma “[…] cidade moderna, distinta da que havia existido até então, a dos becos escuros, sem saída, alastrados de imundície, alta e compacta, na Baixa, e a de travessas e vielas estreitas e insalubres, na Alta" (MACEDO, 2006a, p. 124)19 Mas aqui também as teses higienistas aparecem com  

todo seu alcance pois defendem “[…] que o garante de melhores condições de vida às classes menos favorecidas é um importante meio de combater os seus vícios, uma forma de as civilizar” (MACEDO, 2006a, p. 124) como o mesmo presidente claramente explicita: "e, deste modo, as facilidades dos transportes permitem corrigir uma grande parte dos inconvenientes do urbanismo, que se encontra ìntimamente ligado com o desenvolvimento da civilização” (LOUREIRO, MCMLII, p. X). É possível compreender, desta maneira, as transformações das margens do rio Mondego como a conquista da imagem da modernidade que 19 !

A autora faz referência a um texto sobre a saúde pública no concelho de Coimbra publicado pelo médico Augusto Rocha no jornal O Conimbricense, n. 3757, de 18 de agosto de 1883.

12

[…] aliou os novos saberes técnicos às novas necessidades de saneamento, entendido como mais do que uma operação sanitária, antes como uma operação simbólica onde a estética e a ordem recriam a paisagem urbana (CALMEIRO, 2013, p. 88).

É acertado concluir, desta forma, que a paisagem urbana atual de Coimbra decorre de tais ideias de higienização, embelezamento, modernização e civilização de meados do século XIX. Voltando a Belo Horizonte, é fundamental compreender que o desenvolvimento estava articulado à modernização urbana, já que a nova capital era considerada o local privilegiado de crescimento econômico e de irradiação do progresso, tomado em sentido amplo e não apenas materialmente. Definida por um traçado arrojado que pretendia sobrepor-se à população, ao espaço construído já existente e às próprias condições naturais, a cidade sustentava a crença na capacidade da ciência de conceber e executar tal modernização, já que, se a escolha do local foi fator importante, mais significativa foi ainda a imposição das novas técnicas da engenharia e da construção, os verdadeiros responsáveis pela concepção e construção de Belo Horizonte. Vale ressaltar que a ciência e a técnica também eram consideradas como fatores garantidores do bem-estar e da ordem nas reformas urbanas, tanto no Brasil quanto na Europa, a reforçar a identificação entre civilização e salubridade que presidia estas reformas (SILVEIRA, 2007). O próprio traçado da cidade evidenciava fortes influências da reforma de Paris e das ideias francesas contemporâneas (GUIMARÃES, 1996).20 Por outro lado, ter sido  

edificada segundo os preceitos modernos da engenharia da segunda metade do século XIX e suas preocupações com o saneamento e com o tratamento do esgoto e das

20 !

Aguiar, no segundo capítulo de sua tese, traça paralelos e aponta convergências e divergências entre a Cidade de Minas, La Plata e Washington, além de Paris (AGUIAR, 2006).

13 águas das chuvas contribuiu decisivamente para a consolidação da imagem da nova capital como uma cidade moderna.21  

Estudando cinco capitais brasileiras, Penido considera a nova capital de Minas como “[...] la première expérience d’une planification urbaine à grande échelle menée avec l’objectif d’implanter la modernité au Brésil, rationalisant la capitale, l’Etat, l’économi, la pensée et la maniére de vivre” (PENIDO, 1992, p. 92).22 Esta articulação entre  

elementos diversos – a beleza natural e a construída, a ciência e a produção de bens – efetuada pela modernização está claramente expressa na mensagem enviada pelo prefeito da cidade ao Conselho Deliberativo da capital, em 1900: O pensamento do legislador mineiro, quando decretou a mudança da Capital, foi crear uma cidade, que não primasse sómente pela sua belleza topographica, pela sua architectura, pela sua hygiene e por tudo quanto constitue o ideal moderno de um nucleo populoso. A cidade moderna devia servir tambem de espelho, onde reflectissem as grandezas do Estado. Ver a Capital de Minas, deve ser tambem conhecer as riquezas tão variaveis, como varias são as qualidades do sólo, varias a sua conformação physica e a sua produção (MINAS GERAIS, 1900, p. 4).

Também em Coimbra a utilização de técnicas modernas com o suporte das ciências foi afirmada como necessária à solução dos problemas urbanos. Em Portugal o decreto de 31 de dezembro de 1864 introduziu o conceito de plano de melhoramentos urbanos e inaugurou o planejamento moderno urbanístico (CALMEIRO, 2013). Neste sentido, a Câmara Municipal, que já revelara uma vontade evidente “[…] de modernização e ordenamento da cidade" (CALMEIRO, 2013, p. 84) representaou às autoridades reclamando o suprimento de recursos e possibilidades técnicas:

! 21

Silveira mostra de que maneira foi construída a imagem salubre de Belo Horizonte e analisa, ainda, como esta imagem se consolidou, inclusive fora do país (SILVEIRA, 2007, p. 118-119). 22 !

“[...] a primeira experiência de planificação urbana em grande escala conduzida com o objetivo de implantar a modernidade no Brasil, racionalizando a capital, o Estado, o pensamento e o modo de vida” (tradução livre)

14 Senhor. Antez que metade da cidade fique sepultada sob as areiaz do Mondego, é necessário traçar no papel uma nova cidade tal como deverá ser a que nos alicerces da antiga se erguer à maneira da phenix23  

Poucos anos depois a Câmara encomendou a elaboração de uma Planta Topográfica da cidade, o “[…] primeiro trabalho de cartografia científica” (CALMEIRO, 2014, p. 234) que se constituiu, até a década de 30 do século XX, na base de todo o planejamento e da intervenção urbana. É possível perceber também em relação à salubridade urbana que uma “[…] nova

retórica científica fundamenta o discurso dos técnicos e orienta os seus trabalhos” (MACEDO, 2006, p. 52) já que a carência de água potável neste período não foi causada pelo aumento da população, que entre 1864 e 1875 passou de 17800 para 18200 pessoas apenas, mas decorreu “[…] da subida dos standards da higiene pública” (MACEDO, 2006, p. 52).

IV. O Bairro de Santa Cruz (Coimbra) e a área central de Belo Horizonte

Em 1834 a Lei das Desamortizações provocou um grande impacto sobre o espaço urbano de Coimbra. Ao declarar como patrimônio do Estado os bens imóveis das comunidades religiosas colocou à disposição do poder público 7 mosteiros e 22 colégios24  

e permitiu “[…] a modernização e o crescimento da cidade que se

encontrava enclausurada entre o rio […] e uma cinta de colégios e mosteiros" (CALMEIRO, 2014, p. 228). A FIG. 1 oferece uma clara visão tanto da área ocupada pelos edifícios religiosos quanto da “cinta" à qual a autora se refere. Neste conjunto destacava-se o Mosteiro de Santa Cruz (citar ALARCÃO) cuja área era de 3,5 hectares que se somavam a mais 29 hectares relativos à quinta “[…] o que perfazia

23 ! 24 !

Citado em CALMEIRO, 2013, p. 84

(MACEDO indica este total (MACEDO, 2006a, p. 122) Já CALMEIRO refere um total de 23 colégios (CALMEIRO, 2014, p. 228).

15

FIGURA 1. Planta de cidade de Coimbra Fonte: CALMEIRO, 2014, p. 228

uma área equivalente a 2/3 do total da área urbana edificada”(CALMEIRO, 2015, p. 229).25  

Em janeiro de 1835 o município solicitou ao governo a cessão dos edifícios e das cercas disponíveis dando início a um conjunto de iniciativas que visavam apropriar-se destes imóveis a fim de ocupá-los com os serviços públicos já existentes ou com aqueles que precisavam ser criados. Dois meses depois novo pedido foi feito,26 agora  

25 !

A autora esclarece que o mosteiro foi extinto antes mesmo de 30 de maio, data da expedição do decreto, quando o prior o abandona para apoiar as forças miguelistas. Quanto à àrea edificada a autora aponta para cerca de 465 mil m2, que seria inferior à área urbana apenas se esta incluísse terrenos agrícolas e ínsulas junto ao rio (CALMEIRO, 2014, p. 229). 26 !

CALMEIRO lista os edifícios e cercas solicitados pela Câmara Municipal (CALMEIRO, 2014, 229)

16 incluindo o pátio e os demais edifícios do Mosteiro de Santa Cruz com o objetivo de reunir neste complexo as repartições públicas que se achavam dispersas pela cidade. É possível considerar que para o município não se tratava apenas de aproveitar os espaços vazios mas de organizar e concentrar os serviços públicos, do que resultou “[…] um novo polo de centralidade no antigo Mosteiro de Santa Cruz” (CALMEIRO,

2014, p.299). FIGURA 2- Planta da autora de reconstituição dos limites da Quinta de Santa Cruz, de acordo com a Representação ao rei de 18 de fevereiro de 1884. Fonte: CALMEIRO, 2014, p. 236

17 A FIG. 2 permite compreender que a Quinta de Santa Cruz não só possuía uma área muito grande como ocupava uma posição privilegiada já que através de seu espaço seria possível construir uma ligação entre a Alta e a Baixa em consonância com as necessidades do século XIX, em especial o desenvolvimento dos meios de transporte que exigiam vias mais largas.27  

A necessidade desta ligação foi constantemente referida, tanto em documentos oficiais quanto na imprensa. A própria Carta de Lei de 30 de junho de 1839, que oficializou a cessão dos imóveis solicitados pela Câmara acrescentou que: estas concessões têm por fim o estabelecimento das Repartições Públicas que actualmente aí se acham, ou de futuro se puderem estabelecer, e bem assim a abertura de duas ruas de comunicação com o Bairro Alto que conduza ao Caminho da Fonte Nova, e outra ao de Montarroio (SILVA, 1972-73, p. 104)

Na verdade havia uma ligação precária por “[…] uma rua muito estreita e torta”(SILVA, 1972-73, p. XXIX) entre a Alta e a Baixa que, certamente, já não comportava as novas necessidades. Assim foi preciso “[…] rasgar uma via que desse acesso aos largos espaços agrícolas do Mosteiro, para nascente […] Esse primeiro passo, que iria dar acesso ao novo Mercado […] abriria vias de comunicação entre a parte alta e baixa da Cidade”

(SILVA, 1972-73, p. XXVI).28  

juntar este parag com o Além das

necessária… A FIG. 3 mostra o vale da Ribela (ALARCÃO) onde foi construída a Avenida Sá da Bandeira. À direita pode-se ver a Colina de Montarroio e à esquerda a Mata dos Jesuítas. É fácil compreender que este terreno tão acidentado em meio à área rural dificultava muito a ligação entre as duas partes da cidade.

27 !

A Quinta de Santa Cruz está assinalada com um tracejado verde. O Mercado D. Pedro V aparece destacado em castanho. 28 !

O texto de SILVA cita um trabalho de Joaquim Martins de Carvalho, redator e editor d jornal O Conimbricense.

18

FIGURA 3- Vale da Ribela-Quinta de Santa Cruz-Montarroio-Mata dos Jesuitas. Fonte: Biblioteca Municipal de Coimbra-Imagoteca

Além da necessária ligação entre a Alta e a Baixa, a intervenção na Quinta de Santa Cruz deveria, segundo a Câmara Municipal, permitir a solução de vários problemas da cidade. Em primeiro lugar - e vê-se que não se pretendia apenas abrir espaço para as necessidades da administração pública - o mercado precisava ser alargado já que “[…] torna-se insufficiente para as necessidades da população e não pode estender-se para qualquer outra parte” (COIMBRA, 1884). Também um novo matadouro devia ser construído e a esta finalidade os terrenos da Quinta se prestariam “[…] pela proximidade do centro da população, pela quantidade d`águas que ali se encontram e por condições diversas a que é preciso atender” (COIMBRA, 1884). Por fim a já tão referida ligação entre as partes da cidade que era feita por uma “[…] rua d`entre muros que como se disse liga os dois bairros da cidade [sendo] a única comunicação para carroagens que entre elles se encontra e ainda assim é violenta a subida desde o portão da entrada da mesma quinta até junto dos Arcos do Jardim Botânico” (COIMBRA, 1884).29  

29 !

Outras intervenções que a Câmara pretendia realizar: completar a ligação com a estrada real 48, instalar a feira de Santa Clara, melhorar o abastecimento de água, construir jardim público e jardim de infância (MAGALHÃES, 2002, p. 402-403

19 Por outro lado algumas manifestações da imprensa30 corroboravam as vantagens que  

a Quinta apresentava:

É ampla, saudavel, com abundancia de agua, e em facil e immediata communicação com o bairro baixo, bairro alto, Sant’ Anna, Penitenciaria, Cellas e Mont’ arroio. Alli se pódem construir casas baratas para familias de operarios e outras de limitada fortuna […] E finalmente póde a camara municipal alli construir um matadouro, nas condições que o actual não tem; além de um passeio publico para gozo dos habitantes (O Conimbricense, 1884, p. 1)

Ainda uma vez as questões higiênicas apareceram intimamente relacionadas ao progresso pois considerando que "Coimbra precisa de se desenvolver […] mas acha-se apertada numa área, que já não é suffciente para as tendencias do actual progresso" (COIMBRA, 1884, p. 1) o responsável pelo principal periódico da cidade recomendou a área da Quinta para a edificação de casas para operários que “[…] serão construidas num local desffrontado, com bellas vistas, e muito saudavel” (O Conimbricense, 1897, p.2). Em 1843 a Câmara deliberou que fosse aberta uma rua pela horta da Quinta de Santa Cruz, onde mais tarde foi construído o mercado D. Pedro V. Esta rua, a atual Nicolau Olímpio Rui Fernandes, rompeu a área do mosteiro, abrindo o acesso aos grandes espaços agrícolas antes pertencentes aos crúzios (MAGALHÃES, 2002).Também foram dispostos nos edifícios do mosteiro diversos serviços públicos: cadeia, esquadra de polícia e hospício dos abandonadas, dentre outros.31 Estas intervenções reforçam  

as indicações, já referidas, de que o espaço da Quinta de Santa Cruz era considerado como área fundamental para a expansão da cidade e a ligação entre a Alta e a Baixa.

30 !

A pesquisa que realizei, pelo tempo que dispunha, não me permite afirmar uma posição unânime e unívoca da imprensa da cidade. 31 !

A autora faz uma síntese dos procedimentos que levaram à compra do terreno (MAGALHÃES, 2002, p. 403 a 405) e das construções realizadas no mesmo (MAGALHÃES, 2002, p. 412 a 417)

20 No entanto, devido a questões políticas e financeiras, apenas na década de 80 foi possível traçar um plano para uma intervenção mais global na área da Quinta. A FIG. 4 reconstitui o Plano de melhoramentos da Quinta de Santa Cruz elaborado pelo engenheiro Adolfo Loureiro em 188532, que estudou na Escola Politécnica de Lisboa  

“[…] que formava engenheiros para os quadros militares” (MAGALHÃES, 2002, p. 406)33 e pelo Dr. Júlio Henriques, botânico e diretor do Jardim Botânico, revelando a  

intenção de “[…] construir uma nova cidade, arborizada e ajardinada de acordo com os novos princípios de salubridade (CALMEIRO, 2014, p. 235).

FIGURA 4- Planta da autora de reconstituição do Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz delineado por Adolfo Loureiro em 188534 Fonte: CALMEIRO, 2014, p. 236  

32 !

O Plano foi apresentado à Câmara em 23 de julho de 1885 e aprovado na sessão seguinte (CALMEIRO, 2014, p. 235) 33 !

Adolfo F. Loureiro assentou praça em 1854, tendo chegado a General de Divisão. Mais dados biográficos podem ser encontrados em MAGALHÃES, 2002, p. 405 a 407. 34 !

As indicações são, em ordem: Matadouro, Ampliação Mercado, Boulevard, Parque de Santa Cruz.

21 Concebido com influências decisivas da lisboeta Avenida da Liberdade, o plano propunha um bulevar35 que partiria do mercado e terminaria numa praça quadrangular  

aos pés de um jardim, na área antes ocupada pelo Jogo da Bola dos religiosos crúzios. Tendo como ponto de partida a referida praça cinco vias dirigiriam-se a Celas, ao caminho de Santa Anna, ao bairro de São Pedro, aos arcos de São Sebastião e a Montes Claros (CALMEIRO, 2015, p. 235). Considerado como […] a primeira expansão da cidade à imagem da Europa” (CALMEIRO, 2014, 235) o plano de Loureiro e Henriques, a maior obra do município nos finais do século, oferecia uma singular visão de conjunto estruturante da área urbana (MACEDO, 2006) sintonizado com as exigências higiênicas através da grandeza e da amplitude dos espaços que favoreciam a iluminação e a circulação e da presença de significativas áreas verdes.

FIGURA 5- Praça da República. Fonte: Imagoteca- Biblioteca Municipal de Coimbra-Col. Pedro Bandeira

35 !

Este termo é utilizado, em francês, no projeto para a Quinta (MAGALHÃES, 2002, p.412)

22 A FIG. 5 mostra uma das vias que se originavam da Praça da República, em primeiro plano. Esta via rasga numa grande reta a paisagem e cria uma perspectiva que evidencia a amplitude e a largueza dos espaços, ainda mais ressaltado pelo conjunto praça e via. A amplitude dos espaços, a marcação estruturante das vias e a arborização abundante ofereceu a Coimbra “[…] um bairro burguês e espaços públicos à escala da modernidade” (MACEDO, 2006, p. 55). Ainda que exista uma clara filiação do plano de intervenções da Quinta de Santa Cruz às ideias e intervenções urbanas européias contemporâneas, como reafirma MACEDO, a mesma autora indica uma distinção importante: no caso do plano de Coimbra, a rua “[…] foi concebida de forma a integrar de raiz os vários níveis da realidade urbana, onde se incluem uma série de novas infra-estruturas” (MACEDO, 2006a, p. 127). Por isto a arborização do conjunto foi concebida como elemento fundamental para a elaboração “[…] de uma imagem mais uniforme, reconhecível e diferenciada para a nova cidade” (MACEDO, 2006a, p. 127) pois estas intervenções tiveram lugar num terreno desprovido de referências e a arquitetura não pode exercer o papel de “guia formal” (MACEDO, 2006a, p. 127). A FIG. 6 permite compreender estes elementos: feita do alto, a foto acompanha a reta da Av. Sá da Bandeira a partir da Praça da República em direção à cidade baixa. Ressalta também a via em diagonal que contribui para a marcação sensível do espaço.O papel do complexo arborizado fica evidente no traçado da via que resulta numa grande uniformidade, em geral de prédios de aluguel constituídos de rés-do-chão e um ou dois pisos.

23

FIGURA 6-Vista aérea sobre a Avenida Sá da Bandeira-Rua Tenente Valadim. Fonte: Biblioteca Municipal de Coimbra-Imagoteca

As obras na horta iniciaram-se em 1866 e o novo mercado foi inaugurado já no ano seguinte. Em 1887 iniciaram-se as obras dos arruamentos e as novas ruas, “[…] amplas, arborizadas e infraestruturadas” (MACEDO, 2006a, p. 128) foram inauguradas em 1889. Em função dos altos custos o bulevar projetado não foi construído e o material oriundo da terraplanagem foi aproveitado para regularizar o vale. Apenas uma rua de cinco metros de largura foi, então, aberta. Ainda assim, no início do século XX grande parte do plano estava terminada: o matadouro foi implantado no limite norte, o mercado foi ampliado, a estrada de ligação a Celas foi aberta, o jardim público - o Parque de Santa Cruz - foi implantado e a grande praça recebeu o nome de D. Luís I (CALMEIRO, 2014, MAGALHÃES, 2002).

24 No final do século as atenções foram voltadas para a construção da projetada avenida36 que, nesta altura, era apenas uma rua com onze metros de largura e quatro  

metros de calçada, muito distante da notícia que a Câmara havia dado sobre o plano de 1885 onde Loureiro: traçou a partir do mercado uma grande avenida de 50 metros de largo, que termina à entrada do Jôgo da Bola da quinta por uma grande praça. Da praça partem simètricamente duas avenidas, para Celas e Sant’ Ana e outras duas em direção aos arcos de S. Sebastião (LOUREIRO, MCMXXXVII, p. 208).

Em 1905 a Câmara mandou organizar o projeto de ampliação da via compreendendo a Rua Entre Muros e ligando-a à praça e à Cerca dos Jesuítas. Em 1906 as ruas Sá da Bandeira e Fonte Nova foram unidas já que eram separadas por um “[…] covão ou valle produndo que se estendia desde a Fonte Nova aos barracões da abegoaria” (COIMBRA, 1906) e foi possível, enfim, dar à via seu traçado definitivo. Mas o trânsito só foi regularizado em 1925 (MAGALHÃES,2002). Assim, “para satisfazer a […] necessidade inadiável na beleza e saneamento desta parte da cidade” (COIMBRA, 1907) uma via acanhada foi transformada num avenida de 62 metros de largura e 378 de comprimento ligando o largo da Fonte Nova à praça D. Luiz. Esta transformação foi tão intencional que os agentes privados foram dela obrigados a participar pois os terrenos “[…] contíguos à Avenida Sá da Bandeira [seriam vendidos] com a condição de servirem para edificações com jardim e quintal, vedadas com muros baixo […]” (LOUREIRO, MCMXXXIX, p. 19) Aos poucos os diversos edifícios habitacionais foram levantados. Também na nova avenida serão instalados “[…] os equipamentos da cidade moderna: Teatro Circo e Escola Central de ensino primário” (MACEDO, 2006a, p. 128) dentre outros. Tanto o matadouro quanto o projetado bairro de casas baratas foram localizados em terreno público, ainda no interior da Quinta37.  

36 !

A pesquisa aos Anais da Câmara Municipal corroborou esta avaliação pois levantou inúmeras notícias relacionadas à urbanização da Quinta de Santa Cruz. 37 !

O matadouro será construído pela iniciativa privada e o bairro financiado pela Igreja (MACEDO, 2006a)

25

As intervenções no espaço da antiga Quinta de Santa Cruz transformaram a área em uma referência urbana para Coimbra. Ainda que os objetivos não tenham sido totalmente alcançados - as águas da Ribela não serão aproveitadas para o abastecimento da população, e as feiras de S Bartolomeu e de Santa Clara não se realizaram sistematicamente - o novo bairro significou uma ampliação do espaço urbano incorporando grande parte das propostas de urbanização contemporâneas. Deste ponto de vista, é possível conceber este novo espaço dilatado como “[…] o resultado do esforço de modernização de Coimbra” (CALMEIRO, 2014, p. 235).

A FIG. 7 permite situar parte do novo bairro em relação à cidade alta: à esquerda destaca-se a Av. Sá da Bandeira rasgando o espaço em direção à Praça da República, de onde partem as vias urbanas que ligam o bairro a outras partes da cidade. Uma destas vias fornecerá a ligação com a parte alta, através as escadarias monumentais da universidade, que permitem o acesso ao Largo D. Dinis.

26 FIGURA 7-Coimbra-Alta-antes das demolições de 1942 Fonte: http://coimbraantiga.blogspot.pt/ Acesso em 6/9/2015

O traçado de Belo Horizonte fundamentou-se em vias retilíneas e largas que beneficiam a iluminação e a ventilação, expressando a obsessão pela higiene e pela saúde, e demonstram o poder da ciência e da técnica no domínio da natureza. Estas vias criam perspectivas sobre as quais projetam-se os edifícios, estrategicamente locados para manifestar beleza, clareza e imponência. Ruas e avenidas são calculadamente dispostas para ligar de maneira fluida e rápida os diversos pontos da cidade. Nos cruzamentos, praças perfeitamente ordenadas ampliam as possibilidades de visão. As simetrias e regularidades das fachadas expressam a harmonia do interior dos edifícios. A disposição racional dos espaços demarca a ordenação dos percursos possíveis. Desta forma, o espaço urbano da nova capital afirma-se como moderno e projeta seus valores sobre a cidade e seus habitantes. Hospitais, templos religiosos, palácios do poder, escolas e outros edifícios em estilo eclético, distribuem-se de maneira funcional no espaço delimitado pelo projeto e induzem sua ocupação. Também compõem cenários monumentais e dirigem as visões abertas pelas perspectivas produzidas pelas vias, fazendo do poder do Estado a referência espacial fundamental. O espaço que resulta desta ocupação é marcado pelo ideal do progresso material e moral e sustentado na estratégia "[...] de mudar a cidade para mudar a sociedade e, particularmente, o povo" (TOPALOV, 1996, p. 26). Neste plano uma das vias, a avenida Afonso Pena, tinha grande destaque-se pois cortava a zona urbana de norte a sul, um verdadeiro eixo monumental ligando diversos bairros. Como explicou Aarão Reis, o engenheiro responsável pelo plano da cidade, apenas à Afonso Pena […] dei a largura de 50m, para constituí-la em centro obrigado da cidade e, assim, forçar a população, quanto possível, a ir-se desenvolvendo do centro para a periferia, como convém com a economia municipal, à manutenção da higiene sanitária e ao prosseguimento regular dos trabalhos técnicos (MINAS GERAES, 1895, p. 59-60).

27 Nestas linhas, Reis expressava o privilégio que o plano conferia à Av. Afonso Pena, principalmente como instrumento diretor da ocupação da nova capital a partir do centro, dando a ela uma largura superior a todas as outras avenidas. Fica evidente, ainda, a confiança que o engenheiro depositava na técnica como dispositivo de ordenação e distribuição espacial, bem como de favorecimento do desenvolvimento econômico e mesmo da higiene e saúde da população. Neste sentido, as vias foram projetadas para permitir maior penetração de luz solar, arejamento e arborização dos espaços da cidade, criando um ambiente salubre, capaz de abrigar uma população saudável, pois, “[...] higiene, civilização e progresso formavam uma tríade recorrente nos discursos sobre o espaço e a vida urbana [...]” (SILVEIRA, 2007, p. 84) nos finais do século XIX e início do século XX.

FIGURA 8 – Av. Afonso Pena desde a Feira de Amostras. Fonte: MINAS GERAIS, 1997a, p. 50

28 A FIG. 8 mostra a planta de Belo Horizonte elaborada pela Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC). Observa-se um complexo de ruas que se cruzam preferencialmente em ângulos retos e vias principais38, também articuladas em ângulo  

de 90 graus, que configuram as grandes seções urbanas. As praças, além de distribuírem a circulação de pessoas e veículos, criam amplos espaços abertos permitindo a visão e, ao mesmo tempo, destacando edifícios públicos que se impõem pela monumentalidade da construção. Na planta é evidenciado o traçado da Av. Afonso Pena, que rasga a cidade de norte a sul, onde o plano original previa a construção de uma praça que receberia a igreja matriz da capital. A avenida nascia, também, em uma praça39 e, como pode ser visto na FIG. 9, o construído parece penetrar por baixo a  

moldura natural imposta pela Serra do Curral. Este mesmo contraste entre o natural e o construído é revelado pela inserção urbana do Parque Municipal40.  

Em Coimbra o espaço natural - a Quinta de Santa Cruz - precisou ser superado para dar lugar ao moderno, ao racional, ao ordenado pelo ciência e pela técnica. O próprio componente natural apareceu ordenado nos jardins e na arborização da avenida Sá da Bandeira que, como a avenida Afonso Pena, tem uma praça no seu final. Por outro lado, o espaço urbano das duas cidades expressava com clareza uma nova linguagem: os espaços abertos e fartamente iluminados, indicando a obsessão pela higiene e pela saúde, o traçado retilíneo das vias e as amplas perspectivas que permitiam ao olhar construir visões horizontais plenamente abertas e dirigidas pela disposição das mesmas vias. Na FIG. 9 ficam bem evidentes estes panoramas abertos e claros, que possibilitam extensas visões de profundidade. Uma aproximação com a FIG. 6 evidencia os corredores de grandes árvores ordenadas, a amplidão da via principal configurando 38 !

As ruas foram projetadas para terem 20 metros e as vias principais, que são as demais avenidas, 35 metros de largura. 39 !

A atual Praça Rio Branco está assinalada com uma seta FIG.8

40 !

O Parque Municipal está assinalado com uma estrela na FIG. 8

29 uma grande perspectiva e as vias diagonais completando o traçado aberto, iluminado. Desta maneira, ao contrário dos becos e ruelas escuros de Ouro Preto e do Curral del Rei, os espaços na nova capital tendiam a favorecer a claridade e a abertura para trajetos bem definidos e determinados. Por outro lado, o bairro de Santa Cruz e, principalmente, a avenida Sá da Bandeira contrastam com as ruas escuras e estreitas da cidade baixa, criando um confronto entre moderno e antigo, escuro e iluminado, limpo e sujo, saudável e insalubre.

! FIGURA 9 – Avenida Afonso Pena Fonte: MINAS GERAIS, 1997, p. 158

A representação de modernidade sustentada na planificação racional fica evidente, já de início, quando se sobrepõe o traçado da cidade que seria construída à planta cadastral do Arraial de Belo Horizonte, elaborada pela CCNC em 1894 pela precisamente para planejar a nova ocupação.

30 Às ruas sinuosas do Arraial que acompanhavam os acidentes do terreno e os pequenos cursos d’água resultantes de uma ocupação espontânea, sem qualquer direção pré-determinada, contrapunham-se largas avenidas de traçado retilíneo, que formavam uma malha associada a uma grade ortogonal de ruas, produzindo cruzamentos de 45º entre estas e as referidas avenidas. Fica nítido que “[...] la Commission de Construction s’efforcera d’atteindre une géométrie absolue, les angles exacts, les îlots carrés parfaits, les largeurs des rues convenables [...].” (PENIDO, 1992, p. 100).41  

Vale lembrar, aqui, que os principais cursos d’água do Arraial foram

retificados, o que evidencia a crença no poder da engenharia e do urbanismo em definir, controlar e ordenar os espaços urbanos e, por que não, a população que nestes espaços habitaria. Desta maneira, a eliminação dos becos estreitos e escuros dava lugar a vias fartamente iluminadas pela luz natural, dispostas de forma a possibilitar ampla visão das vizinhanças e das perspectivas produzidas. Através das plantas sobrepostas, ficam evidentes as principais características da proposta elaborada pela Comissão: a ordem e a simetria. Todo o conjunto urbanístico obedece a um plano rigoroso e racional que se confronta claramente com a disposição espontânea das vias e das construções do Arraial. O traçado geometrizado remetia à tradição americana, enquanto as perspectivas produzidas pelas vias e o caráter monumental dos espaços provinham da tradição européia, especialmente do modelo de Haussmann (SALGUEIRO, 1987) “[…] cujo ideal eram as visões em perspectiva através de longas séries de ruas […] o que corresponde à tendência que sempre de novo se pode observar no século XIX, no sentido de enobrecer necessidades técnicas fazendo delas objetivos artísticos (BENJAMIN, [ca. 1990], p. 37). Era certo, porém, que a população do Arraial não se reconheceria na nova cidade, e Aarão Reis expressara esta inadequação ao deixar claro seu desejo de que nenhum dos antigos habitantes permanecesse na área traçada para esta, como declarou o pároco do Arraial: “[...] mais de uma vez ouvimo-lo dizer, é verdade, que não queria 41 ! “[...]

a Comissão Construtora se esforçará para alcançar uma geometria absoluta, os ângulos exatos, os quadrados perfeitos, as larguras convenientes das ruas” (PENIDO, 1992, p. 100. Tradução livre)

31 nenhum dos antigos habitantes de Bello Horizonte dentro da área urbana ou suburbana traçada para a nova cidade” (DIAS, 1897, p. 84-85).

FIGURA 10 – Planta da nova capital, sobreposta à planta cadastral do extinto Arraial Fonte. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1997a, p. 22

32

A extensão das principais vias, seus cruzamentos, a forma como foram traçadas e distribuídas além da função de determinação e organização do espaço que assumiam, por um lado; a localização estratégica das praças e os edifícios públicos imponentes nelas alojados, por outro, expressavam um duplo significado: a modernidade da cidade e o papel fundamental do Estado na sua construção. A distribuição ordenada dos espaços, definida pela coerência e integridade das áreas e a busca pela simetria estruturaram a imagem moderna da nova capital do estado de Minas, tendo seu principal eixo na Av. Afonso Pena. Tal ordenação atingiu mesmo os serviços comuns, como as oficinas e a estação, além do comércio, que foram locados de um lado, em área mais baixa e próxima ao ribeirão Arrudas. Já os serviços mais nobres, como as sedes dos três poderes e o teatro, aparecem do outro lado, em área mais alta.

Por outro lado, “[…] uma visão purificadora do espaço

urbano” (SALGUEIRO, 2001, p. 164), sustentada nas ideias de salubridade e comodidade, levou à disposição do cemitério, do matadouro, do hipódromo, dos banhos públicos e do incinerador na zona suburbana, enquanto os reservatórios de água deveriam localizar-se a mais de 1000m de altitude, do lado oposto da cidade. Nesta medida, construir uma nova cidade seria, também, eliminar a desordem, a sujeira, a irracionalidade e a promiscuidade das cidades coloniais, expulsando deste espaço sua população original. Vias amplas e largas, que beneficiam a iluminação e a ventilação e criam perspectivas sobre as quais se projetam os edifícios. Ruas e avenidas calculadamente dispostas para ligar, de maneira clara e rápida, os diversos locais da cidade. Nos cruzamentos, praças perfeitamente ordenadas, ampliando as possibilidades de visão e demonstrando o poder da ciência e da técnica no domínio da natureza. Simetrias e regularidades das fachadas neoclássicas, a expressar a harmonia do interior dos edifícios. Disposição racional dos espaços e ordenação dos percursos possíveis. Concreto armado, arranhacéus, progresso. O desenho da nova capital afirmava-se como moderno e projetava seus valores sobre o espaço.

33

V. Conclusão

VER BH capital síntese (esquema)

Aproveitar - 1911

No ano de 1911, por exemplo, as autoridades públicas continuavam preocupadas com o saneamento da cidade, particularmente da Baixa: “[…] é urgentíssimo reformar a parte baixa da cidade de Coimbra, cujas condições de insalubridade todos os anos são agravadas pelas invasões das águas do Mondego” (LOUREIRO, MCMLII , p.123). Parecia ser intenção do poder público, contudo, transferir esta operação aos proprietários já que a Câmara oficia aos mesmos a “conveniência do referido local [da baixa de Santa Clara] ser aterrado, como único recurso de seu saneamento […]” (LOUREIRO, MCMLII, p. 141).

34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Tito Flávio Rodrigues de. Vastos subúrbios da nova capital: formação do espaço urbano na primeira periferia de Belo Horizonte. 2006. Tese (doutorado em história) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2006. ANDRADE, Rodrigo Ferreira; MAGALHÃES, Beatriz de Almeida. A formação da cidade. In: CASTRIOTA, Leonardo Barci (Org.). Arquitetura da modernidade. Belo Horizonte: Editora UFMG/Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento MG, 1998, p. 37-78. BARRETO, Abílio. Belo Horizonte, memória histórica e descritiva: História Antiga. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro - Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995. BARRETO, Abílio. Belo Horizonte, memória histórica e descritiva - História Média. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro - Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995a. BENJAMIN, Walter. Paris, capital do século XIX. In: KOTHE, Flávio R. (Org.) Walter Benjamin: Sociologia. São Paulo, Editora Ática, [ca.1990], p. 30-43. CALMEIRO, Margarida Relvão. A paisagem urbana oitocentista.Embelezamento e política urbana na renovação da imagem de Coimbra. Revista Cultura, Espaço e Memória, n. 4, 2013 CALMEIRO, Margarida Relvão. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra in: MARADO, Catarina (Org.), Cescontexto: Debates nº 6, Monastic architecture and the city. Coimbra: CES, p. 227-240. 2014 CARLOS, Ana Fani. Espaço-tempo na metrópole: A fragmentação da vida cotidiana. São Paulo: Contexto, 2001. CARLOS, Ana Fani. O lugar no/do mundo. LABUR, São Paulo, 2007. Disponível em: Acesso em: 23 de abr. 2013. CARVALHAIS JR, Adair. Belo Horizonte e a miragem do moderno: espaço urbano e educação pública. Belo Horizonte, 2013 (Tese Doutorado-UFMG) COIMBRA. Representações ao Rei e às Câmaras:1881,1892. Arquivo Histórico Municipal de Coimbra. Fevereiro de 1884

35

COIMBRA. Projecto e Orçamento da Quinta de Santa Cruz para a construção da Avenida Sá da Bandeira na importância de 750$000. Arquivo Histórico Municipal de Coimbra. 30 de junho de 1906 DIAS, Padre Francisco Martins. Traços históricos e descriptivos de Bello Horizonte. Bello Horizonte: Typ. do Bello Horizonte, 1897. GUIMARÃES, Berenice M. A concepção e o projeto de Belo Horizonte: a utopia de Aarão Reis In: RIBEIRO, Luiz C de Q.; PECHMAN, Robert (Org.) Cidade, povo e nação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p. 123-140. LEFEBVRE, Henry. O Direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001 LÜSCHER, Pedro de Castro. Alfredo Camarate: república, civilização e patrimônio-as crônicas jornalísticas de uma Belo Horizonte em construção. Disponível em: http:// www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300419768_ARQUIVO_ANPUH.pdf. Acesso em: 17.10.2015 LOUREIRO, José Pinto. Anais do Município de Coimbra-1870-1889. Coimbra: Ed da Biblioteca Municipal, MCMXXXVII LOUREIRO, José Pinto. Anais do Município de Coimbra-1890-1903. Coimbra: Ed da Biblioteca Municipal, MCMXXXIX LOUREIRO, José Pinto. Anais do Município de Coimbra-1904-1919. Coimbra: Ed da Biblioteca Municipal, MCMLII

MACEDO, Marta Coelho. Coimbra na segunda metade do século XIX- a materialização dos avanços técnicos dos inícios da modernidade In: ROSSA, Walter (Org). Evolução do espaço físico de Coimbra. Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra/CES-UC, 2006, p. 43-63 MACEDO, Marta. A conquista do terceiro espaço. Uma abordagem ao ensanche oitocentista de Coimbra In: Monumentos-Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. Coimbra: Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 2006a, p. 122-129 MAGALHÃES, Raquel F. Romero. A urbanização da Quinta de Santa Cruz: uma nova cidade no flanco de uma velha cidade In: MIRANDA, Maria José de (Coord). Arquivo Coimbrão-Boletim da Biblioteca Municipal, Vol. XXXV, p. 387-438, 2002 MINAS GERAIS-FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP)- Centro de Estudos Históricos e Culturais. Panorama de Belo Horizonte. Atlas histórico. Belo Horizonte: FJP, 1997a.

36 MUSEU HISTÓRICO ABÍLIO BARRETO. Velhos horizontes: um ensaio sobre a moradia no Curral Del Rei. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 1997 O Conimbricense. Número 3891. 6.12.1884. Anno XXXVIII. Coimbra O Conimbricense. Número 5175. 22.05.1897. 50 ANNO. Coimbra

PENIDO, Rogério D. L’inscription de la modernité dans la ville: quête identitaire et marche vers l’ouest à traves le plans d’urbanisme de cinq capitales brésilennes. (Thése de Doctorat en Urbanisme). L’ Univestité Paris XII-Val de Marne-Institut d’urbanisme de Paris, Paris, 1992. ROMERO, José Luiz. América Latina: as cidades e as idéias. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2004, 424 p. RONCAYOLO, Marcel. La ville et ses territoires. Paris: Gallimard, 1997. ROQUE, João Lourenço. Coimbra de meados do séc. XIX a inícios do séc. XXImagens de sociabilidade urbana. Revista de Historia das Ideias-Separata. Coimbra, Fac. de Letras, vol. 12, 1990, p-301-337 ROSMANINHO, Nuno. Coimbra no Estado Novo In: ROSSA, Walter (Org). Evolução do espaço físico de Coimbra. Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra/CES-UC, 2006, p. 65-91 SALGUEIRO, Heliana Angotti. O pensamento francês na fundação de Belo Horizonte: das representações às práticas in: SALGUEIRO, Heliana Angotti (Org.). Cidades capitais do século XIX: racionalidade, cosmopolitismo e transferência de modelos. SP, Editora da Universidade de São Paulo, 2001, p. 135-181. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 1997, 2° ed. SILVA, Armando Carneiro da. Anais do Município de Coimbra-1840-1869. Coimbra: Ed da Biblioteca Municipal, 1972-1973 SILVEIRA, Anny Jackeline Torres. A influenza espanhola e a cidade planejada: Belo Horizonte, 1918. Belo Horizonte: Argumentum; FAPEMIG; CAPES, 2007.

37

38

39

40

41

42

43

44

45

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.