Artigo: A crise dos anos 1980-90 e a Política Externa Brasileira no Governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992)

July 19, 2017 | Autor: Jonas de Castro | Categoria: Foreign Policy Analysis, Brazilian Foreign policy
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Estudante de Graduação em Relações Internacionais da Unesp – Campus de Marília
Estudante de Graduação em Relações Internacionais da Unesp – Campus de Marília
Termo aqui utilizado e apropriado do inglês somente no que significa "a longo prazo", sem nenhuma relação com os termos cunhados por Keynes em seus estudos macroeconômicos de short e/ou longrun.
Principalmente países latinos, mas também países do leste europeu e sudeste asiático.
Para evitar um crescente de descontentamento popular, se mostrou tendência em alguns governos militares brasileiros manter uma política de desenvolvimentismo, ainda que a grandes custas da dependência de capital estrangeiro. A lógica militar procurara legitimar-se nas taxas de modernização e desenvolvimento, portanto, políticas recessivas tinham o potencial de minar tal legitimação. Para mais sobre o assunto vide (SOUZA, Luiz Eduardo Simões. 2010, p. 168-178).
Literalmente do inglês Federal Reserve, banco central estadunidense.
Assim como outras nações latino-americanas, a exemplo o México.
Mostrando assim como não totalmente logradoras de êxitos as medidas contracionistas de Delfim Netto, Cf. Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, 2002, p. 236-237.
Do latim, sem o/a qual.
Fundo Monetário Internacional
A crise dos anos 1980-90 e a Política Externa Brasileira no Governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992)
Jonas Borini de Castro
Giulia Fernanda Borin Garcia

RESUMO
O período que compreende os anos de 1990 a 1992, com todo o contexto internacional em que estava inserido, com o final da Guerra Fria, o Consenso de Washington, caracterizou-se pelo fato de presenciar inúmeros – e intensos - fenômenos políticos, econômicos e sociais ao redor do mundo. Dessa maneira, procura-se entender a maneira com a qual a política externa brasileira portou-se diante de um cenário instável e altamente dinâmico ao mediar interesses internos e externos. Para tal finalidade, utilizam-se autores-chave para a compreensão do processo de formação histórica do Brasil, como Cervo, Bueno, Marcos Cordeiro Pires, Rosa Maria Marques, Monica Hirst, entre outros. Busca-se adentrar, inicialmente, no contexto internacional da época, levando em conta os ocorridos na década de oitenta, para, então, chegar-se às ações tomadas pelo governo de Fernando Affonso Collor de Mello, no que diz respeito a sua postura para combater a inflação brasileira e suas decisões com base no neoliberalismo na política exterior.

Palavras-chave: Fernando Collor de Mello - Política Externa –Neoliberalismo - Inflação

ABSTRACT
The period that comprehends the years 1990 to 1992, with the international context that it was inserted, with the end of the Cold War, and the Washington Consensus, was characterized by the numerous - and intense - political,economic and social phenomena around the world. In this sense, looking for an understanding in the way in which Brazilian foreign policy ported up in front of an unstable and highly dynamic scenario to mediate internal and external interests. For this purpose, we use key authors to understand the historical process of formation of Brazil, as Cervo, Bueno, Marcos Cordeiro Pires, Rosa Maria Marques, Monica Hirst, entre outros. The aim is to enter initially in the current context at the time, not forgetting what occurred in the 80´s, to then get to the actions taken by the FernandoAffonsoCollor de Mello, government with regard to its position of combat to the brasilian inflation and its decisions regards the foreign policy with basis in the neoliberal alignment.

Key-words: Fernando Collor de Mello - Foreign Policy –Neoliberalism - Inflation

Introdução
O período entre os anos de 1990 até 1992 se caracteriza por englobar o conturbado governo de Fernando Collor de Mello e, para que seja possível compreender decisões tomadas pelo governante no âmbito da Política Externa da época, mostra-se necessário, ainda que de maneira breve, retomar as condições das conjunturas política e econômica mundiais, de modo breve e geral, e especificamente os acontecimentos dentro da conjuntura doméstica brasileira.
No âmbito da histórica econômica, vemos um mundo em mudanças econômicas ao longo das décadas de 1980 e 1990, que viria a afetar de diversas maneiras as mais diversas economias nacionais. Em nosso presente trabalho é de nossa intenção refletir em linhas gerais sobre algumas das principais reviravoltas em termos da economia internacional, entre elas as crises de juros, do petróleo, e suas conseqüências para nosso país enquanto economia em desenvolvimento, com a ajuda de alguns autores proeminentes no assunto.
Veremos ao longo de nossa discussão a relação do desenvolvimento de nossa política doméstica e exterior como, em boa parte, direta ou indiretamente influenciadas pelo sistema econômico cada vez mais globalizado. Sendo consideradas em nosso trabalho, como fundamentais para uma compreensão que se proponha ser, pelo menos até certo grau, mais aprofundada sobre a política de Collor.
No âmbito político internacional, veremos que o fim da Guerra Fria ocasionou tendências políticas que caminharam lado a lado à insurgência do capitalismo como forma de sistema econômico predominante, que se tornou responsável pela disposição de alguns países pela dinâmica neoliberal. Como especifica Boyadjian:
"Por ser o primeiro presidente pós-Constituição, era tarefa de Collor administrar a discussão e elaboração das leis pertinentes, bem como sua regulamentação. Tudo isso, entretanto, ocorreria sob forte pressão contrária, advinda do novo cenário internacional diverso. Seu governo foi marcado por características neoliberais, que se concretizam na abertura da economia; na eliminação de incentivos, principalmente à indústria da informática e aos usineiros; nas primeiras privatizações do patrimônio público; e na aplicação atabalhoada do chamado Plano Collor, que foi a quinta tentativa, fracassada, de estabilização da inflação brasileira," (BOYADJIAN, 2010, p.293)
Dessa maneira pode-se perceber, advindo dos planos de governo de Fernando Collor de Mello e de seu avanço na implantação das políticas Neoliberais, a característica da privatização das empresas estatais brasileiras, com a execução de um escopo de metas:
"aplicação de um conjunto de medidas que visava diminuir o tamanho do Estado, reduzindo o seu papel como prestador de serviços essenciais para a maioria da população e implementando, simultaneamente, um processo de privatização dos serviços considerados 'não essenciais', o que levou para as mãos de empresas privadas a maior parte do patrimônio público formado por empresas estatais e pelos serviços de telecomunicações, transportes, bancos e outros. Esse processo foi diferente nos países periféricos quando comparado ao ocorrido nos países mais ricos, nos quais a privatização se concretizou com a manutenção pelo Estado de certo poder regulador sobre os serviços privatizados, como na Alemanha e na França, em que o poder estatal manteve participação acionária nas empresas prestadoras de serviços públicos. Nos países periféricos, a 'cartilha' da privatização foi seguida fielmente, com a ausência total do Estado nos setores cujos serviços foram privatizados..." (Barros e Brunacci, 2010, p. 309)
Sobre a Crise da Dívida e as Taxas de Juros Flutuantes
Para melhor compreensão do longrun do contexto internacional que vivia o Brasil durante o governo de Fernando Collor de Mello, e que, como veremos, teria grandes implicações na política doméstica e exterior do período, vale buscar o conhecimento das crises que já remontavam no globo desde o final da década de setenta e ao longo da década de oitenta.
Vale neste ponto esclarecer que as economias que, desde a primeira crise do petróleo, se aproveitaram das condições especiais de crédito possibilitadas pelos dólares advindos do petróleo das nações superavitárias – os "petrodólares" - e localizados em bancos principalmente europeus tiveram, em sua maioria, um grande revés do ponto de vista econômico, já que tomaram por linha diretiva promover o seu desenvolvimento através dos empréstimos sem se preocupar absolutamente com as taxas de juros flutuantes. (PIRES, 2010, p. 228-236).
O revés supracitado se deu principalmente no contexto de choque de juros abaixo descrito por Cervo e Bueno:
"O choque de juros no início da administração Reagan evidenciou o desvirtuamento de tais contratos (de contração de empréstimos), firmados, em sua maioria, a taxas médias de 8% ao ano e tendo de ser liquidados a taxas que atingiram a média anual de 21,5% em 1980. Tamanha irresponsabilidade foi uma conivência de ambos os lados, como também a decisão das autoridades brasileiras, que passaram a usar as empresas estatais para contratar empréstimos "artificiais", sem atender a projetos produtivos, com a finalidade exclusiva de "fechar" o balanço de pagamentos." (CERVO E BUENO, 2002, p. 438)
Como bem descreve Pires ao versar sobre as dívidas contraídas pelos países deficitários no despontar da década de 1980 e a alta dos juros advinda da nova política monetária do FED.
"[...] a nova política monetária dos Estados Unidos, implantada a partir de 1979, baseada em altas taxas de juros, sugou a liquidez do sistema. Mudara, então, o panorama econômico mundial. Essas altas taxas de juros sufocaram os tomadores de empréstimos, levando ao agravamento do problema de balanço de pagamentos dos países em desenvolvimento, cujos reflexos foram sentidos diretamente sobre a dívida externa, além, é claro, de sustar o fluxo de capitais que financiava aqueles déficits. [...] A América Latina, cujos países haviam se endividado nos anos anteriores, entrou em grave crise econômica. A deterioração das condições mundiais e a sustentação de fortes taxas de crescimento interno, como no caso do Brasil, em 1980, agravaram os desequilíbrios nas contas externas." (PIRES, 2010, p. 230)
Ainda sobre o tópico do tamanho da dívida externa brasileira e o quanto a mesma teria sido agravada pelas taxas flutuantes, vale trazer a reflexão de Cervo e Bueno:
"O crescimento acelerado da grande dívida externa brasileira ocorreu grosso modo, em duas etapas. A primeira correspondeu aos anos 1974-1979, quando os recursos forma destinados ao desenvolvimento da base econômica, sobretudo pelas empresas estatais, conforma as metas do II Plano Nacional de Desenvolvimento. Nesse período, o endividamento externo passou de 12,5 (1973) para 49,9 (1979) bilhões de dólares. A segunda fase estendeu-se d 1980 a 1987, quando o crescimento da dívida deu-se por si mesmo, sob efeito de técnicas que os economistas chamavam de "rolagem", ou seja, a contratação de empréstimos para prorrogar serviços e o acréscimo ao principal de juros e spreads vencidos. O montante da dívida evoluiu dos 49,9 para 115 bilhões. Fernando Henrique Cardoso demonstrou que um quarto da dívida de 1986 (101 bilhões), 25 bilhões de dólares, referia-se aos efeitos das altas taxas de juros."(CERVO E BUENO, 1980, p. 436-437)

Tabela 1. Fonte: FMI/IFS - Internacional - IFS_TJEDLUK Disponível em: Acesso em 14/03/2015 às 19:15 Apud PIRES, 2010, p.222.
O próprio rumo e modelo de inserção internacional brasileiros haveriam sido afetados pelo fenômeno que aqui pretendemos e vimos descrevendo em linhas gerais. É o que argumenta Paulo Roberto de Almeida sobre o modelo de inserção do país no sistema internacional, dizendo que o mesmo viu um divisor de águas no alvorecer da década de 1980. As crises da dívida teriam causado um realinhamento forçado da política externa brasileira do período.
"O ciclo de fechamento externo inaugurado [...] em 1930 começou a ser rompido em meados dos anos 80, parcialmente em virtude da crise provocada pela dívida externa, esta epitomizando, aliás, a continuidade da dependência financeira que nunca cheou a ser verdadeiramente questionada. A opção pela abertura internacional ensaiada timidamente no governo Sarney, tomou um certo impulso, embora errático, no governo Collor e, depois de apresentar tendências ciclotímicas na administração Itamar Franco, veio a ser efetivamente confirmada no governo Fernando Henrique Cardoso."(ALMEIDA, 2004, p. 311)

O Caso Brasileiro e a Política Exterior Monetarista
Para fins de focarmos mais precisamente o caso brasileiro, vale notar que o contexto fez com o que o Brasil adaptasse sua política interna, se tornando cada vez mais dependente do capital estrangeiro, sendo que a rolagem da dívida somente contribuíra para o agravamento de tal perspectiva (PIRES, 2010, p. 234)
Para Cervo e Bueno, o Itamaraty não teria participado ativa e decisivamente desse processo de negociações da dívida ao longo da década de 1980.
"É inútil, porém, buscar na vasta documentação publicada pela Chancelaria informações sobre o andamento das negociações, porque o Itamaraty esteve ausente desse processo (de negociação das dívidas), como também o Congresso Nacional. As negociações foram conduzidas pelos economistas da Fazenda, do Planejamento e do Banco Central, à revelia da sociedade e de outros órgãos que a representavam. [...] Conjetura-se que o Itamaraty houvesse associado a negociação da dívida, utilizando-a de forma enérgica como poder de barganha, ao quadro do diálogo Norte-Sul, das negociações globais que exigia e da reforma da ordem internacional que delas haveria de resultar. Outra, entretanto foi a visão dos economistas [...] Para não demonstrar falta de coordenação, o governo brasileiro inibiu a Chancelaria, liberando a área econômica, com o que queimou um extraordinário poder de barganha, em dissonância com as práticas de política externa exercidas desde Vargas." (CERVO E BUENO, 2002, p 435-436)
Discutiremos mais adiante os planos do governo na década de 1980 com a intenção de contornar a situação.

Sobre a eficácia do "remédio" amargo
Ainda para compreender o contexto em sua visão de longa perspectiva, vale refletir que ao longo da primeira metade da década de oitenta, o mundo viu o Brasil recorrer ao FMI para contornar sua diminuição de liquidez advinda das crises estudadas anteriormente neste presente artigo.
Conhecidamente que os socorros de liquidez providos pelo FMI não vinham, no entanto, sem contrapartida político-econômica de seus beneficiários, o que se percebe claramente nos compromissos das "cartas de intenções" que eram condições sine que nonos empréstimos estariam inviabilizados. Sobre o tema:
"[...], sob as condicionalidades do FMI, era improvável que o país pudesse voltar a crescer de forma sustentada. Pois o programa de ajustamento foi desenhado para permitir o início em breve do pagamento da dívida externa do país. Mais especificamente, esperava-se que o país não só gerasse um déficit cada vez menor em conta corrente, mas também que passasse a gerar um superávit em conta corrente. A crença do FMI, de que isto era consistente com a manutenção de uma minguada taxa de crescimento do PIB de 4% ao ano após 1984, baseava-se numa hipótese superotimista quanto ao crescimento OCDE e ao comportamento das taxas reais de juros internacionais." (MALAN, 1988, p. 223 apud PIRES, 2010, p.237)
Desse modo, ficaria mais evidente mais adiante que o país não conseguiria cumprir com seu compromisso, culminando na moratória de 1987.
"A moratória declarada em fevereiro de 1987, envolvendo o pagamento de juros dos empréstimos de médio e longo prazo dos credores privados, chocou o mundo e o FMI, mas de fato ela era inevitável: a dívida total era então de 121 bilhões de dólares e as reservas brutas tinham caído dramaticamente de US$ 9,25 bilhões no final de 1985 para menos de 4 bilhões no momento da moratória."(ALMEIDA, 2004, p.161)
Durante a década de oitenta no poente do governo militar, vemos o governo de José Sarney em uma diretriz anti-fundo, ao afirmar que as políticas do FMI não funcionariam no caso de nosso país. (ALMEIDA, 2004 p.157-160).
O Consenso de Washington
Antes de prosseguirmos com nossa breve perspectiva histórico-econômica, cabe trazer à presente discussão os conceitos deste consenso, devido às profundas consequências que este teria nas definições de pautas de políticas domésticas e externa ao redor do globo, especialmente em nosso país e durante todo o período que compreende até os idos da virada do milênio.
Para em seguida apresentar as principais diretrizes "acordadas" no consenso, vamos a uma breve definição de Paulo Nogueira Batista:
"O valor do Consenso de Washington está em que reúne, num conjunto integrado, elementos antes esparsos e oriundos de fontes diversas, às vezes diretamente do governo norte-americano, outras vezes de suas agências, do FMI ou do Banco Mundial. O ideário neoliberal já havia sido, contudo, apresentado de forma global pela entidade patrocinadora [...] numa publicação intitulada TowardsEconomicGrowth in LatinAmerica, de cuja publicação participou, entre outros, Mário Henrique Simonsen. [...] A mensagem liberal que o Consenso de Washington registraria vinha sendo transmitida, vigorosamente, a partir do começo da administração Reagan nos Estados Unidos, com muita competência e fartos recursos, humanos e financeiros, por meio de agências internacionais e do governo norte-americano. Acabaria cabalmente absorvida por substancial parcela das elites políticas, empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de modernidade, passandoseu receituário a fazer parte do discurso e da ação dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse"(BATISTA, 1994 apud PIRES, 2010, p.262) (grifo livre dos autores)
Basicamente tratou-se de uma série de reuniões de agências como o Banco Mundial, o FMI e o governo norte-americano e membros de outros governos, inclusive latinos, em torno de políticas implementadas de sucesso no que tange principalmente o
O Brasil através de seu governante no despertar da década de 1990, Collor de Mello, passou a se orientar por tais diretrizes, as quais se resumem em pontos aqui apresentados em tópicos, os quais são vitais para o entendimento seus planos de governo.
Disciplina Fiscal – critérios rígidos para limitar déficits orçamentários
Prioridades de gastos públicos –saindo de subsídios e gastos com administração para áreas antes negligenciadas com altos índices de retorno econômico
Reforma Tributária–expandindo a base de tributos
Liberalização Financeira–taxas de juros deveriam idealmente ser determinadas pelo mercado.
Taxas de Câmbio–deveriam ser gerenciadas de modo a induzir rápido crescimento em áreas de exportação específicas e não tradicionais.
Liberalização comercial
Aumento do investimento direto estrangeiro (FDI) –através da redução de barreiras
Privatizações –companhias estatais devem ser privatizadas.
Desregulação–abolição de regulações que impeçam a entrada de novas empresas ou que restrinjam a concorrências (exceto em áreas de segurança, meio-ambiente e finanças)
Garantia dos direitos à propriedade intelectual
Reduzido papel do Estado.
Em: .Acesso em 19/03/2015, às 22:12 horas. Tradução livre pelos autores.

Os Planos Collor
No contexto econômico já supracitado, vemos a necessidade da estabilização da inflação brasileira por meio de reformas econômicas:
"No primeiro pleito direto depois de finda a ditadura militar, Collor foi eleito à presidência da República, derrotando o candidato do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva, e, assim que empossado, lançou um plano ambicioso de combate a inflação, com o início da abertura comercial e das privatizações." (ROSA MARIA MARQUES, 2010, p. 7)
Dessa forma, foi instaurado, um dia após que Collor assumiu a presidência, um plano com objetivo de estabilização da inflação, oficialmente chamado de Plano Brasil Novo, mas que com o passar do tempo, de certa forma, o plano foi associado a figura do presidente, sendo chamado de Plano Collor I, que de acordo com Nakatani e Oliveira:
"Quando Collor assumiu a presidência, o processo inflacionário brasileiro havia passado de 50,0% em dezembro de 1989 para mais de 70,0%, em janeiro e fevereiro de 1990, e para 80,0% em março, segundo o IGP-DI. Para enfrentar essa situação, exatamente no início de seu governo foi lançado o Plano Brasil Novo, o qual foi conduzido pela economista Zélia Cardoso de Melo e ficou conhecido como Plano Collor I (OLIVEIRA, 1990; CARVALHO, 2006). Entre suas principais medidas, destacam-se:a) a troca de nome da moeda de cruzado novo para cruzeiro, sem mudança na equivalência entre as moedas; b) o bloqueio do montante de depósitos em contas-correntes e cadernetas de poupança que superasse 50 mil cruzados novos; c) o congelamento dos preços e dos salários; d) o fim de subsídios e incentivos fiscais; e) o lançamento do Programa Nacional de Desestatização (PND); f) a extinção de vários órgãos do governo.O ponto central e mais polêmico desse plano foi o diagnóstico monetarista da inflação, que seria combatida com o brutal bloqueio dos ativos financeiros do setor privado."(NAKATANI E OLIVEIRA, 2010, p. 25)
Colocando o Plano Collor I em prática, o presidente aplica de maneira avançada políticas neoliberais no contexto econômico brasileiro, respeitando pontos do Plano como o Programa Nacional de Desestatização, Collor fundamenta seu projeto para economia brasileira no escopo Neoliberal. (HIRST E PINHEIRO, 1995)
Para Hisrt e Pinheiro, o governo do presidente Fernando Collor de Mello estabelece relações que se inclinam às políticas neoliberais realizadas no Chile, México e Argentina:
"Neste sentido, foi apontado como o primeiro traço distintivo da política exterior do governo Collor seu objetivo de constituir uma ferramenta para ampliar a competitividade internacional do Brasil, melhorando suas condições de acesso a mercados, créditos e tecnologia (AZAMBUJA, 1991). Após uma fase inicial de dinamismo, na qual se procurou agilizar o abandono do modelo estatista através da rápida implementação de políticas liberalizantes com o fito de seguir o exemplo de outros países latino-americanos – como o Chile, o México e a Argentina – a capacidade de ação de Collor de Mello viu-se constrangida pela crise política deflagrada no primeiro ano de mandato. Do amplo pacote de reformas econômicas, envolvendo abertura comercial, liberalização de investimentos, privatização de empresas estatais e renegociação da dívida externa, apenas pôde-se manter em marcha as novas determinações no campo de comércio exterior. A incapacidade de manejar as negociações necessárias com as elites políticas e econômicas para o processamento de uma reforma de tal envergadura, somada à crise ética que colocou em questão a própria legitimação do presidente eleito, termina por conduzir o país a um impasse político apenas solucionado com o afastamento do presidente dois anos após a sua posse. No plano externo, a crise política brasileira reverteu as expectativas de mudança do perfil internacional do país. Apesar do esforço do Itamarati de manter o curso da política externa de forma independente da crise política nacional, foi impossível evitar a deterioração da imagem do Brasil na comunidade internacional, particularmente junto às nações industrializadas." (HIRST E PINHEIRO, 1995, p.7)
Incluído no "pacote de reformas econômicas" (HIRST E PINHEIRO, 1995) de Fernando Collor está o segundo plano de estabilização da inflação brasileira por meio de reformas econômicas, o Plano Collor II, que elencava as seguintes medidas:
"Plano Collor II. [...] a) congelamento dos preços em 30/01/1991, podendo ser reajustados por autorização do Ministério da Fazenda; b) congelamento dos salários até 08/1991 e novas regras para seu reajuste; c) utilização de uma tabela de conversão para deflacionar os pagamentos futuros; d) criação da taxa referencial de juros (TR) para remuneração das aplicações financeiras; e) extinção do Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e do BTN fiscal, do Maior Valor de Referência, das operações de overnight para aplicadores não financeiros, da correção monetária, do índice da cesta básica; f) a criação da Nota do Tesouro Nacional. Com o Plano, a inflação mensal voltou a cair, mas essa queda teve fôlego curto." (NAKATANI E OLIVEIRA, 2010, p. 26)
Como explicitado por Nakatani e Oliveira, o segundo Plano Collor de estabilização de inflação não atingiu seus objetivos concretos, como o primeiro Plano Collor também não conseguiu surtir em soluções para os problemas de inflação na economia interna brasileira. Além disso, os Planos Collor tiveram o polemico problema do bloqueio brutal dos ativos financeiros do setor privado (NAKATANI E OLIVEIRA, 2010).
Segundo Rosa Maria Marques:
"Fracassada a tentativa de debelar a inflação e impedido Collor de governar, ficaram as novas regras para o comércio exterior e a convicção, largamente difundida pela imprensa, de que o setor público deveria tornar-se o menor possível, isto é, que todas as suas empresas e seus serviços deveriam ser privatizados, inclusive os das áreas sociais." (ROSA MARIA MARQUES, 2010, p. 7)
Nesse sentido, podemos afirmar que na medida em que as relações com o mundo exterior aumentaram grandes foram os efeitos distributivos da política externa brasileira para a sociedade, assim se a exposição do país no exterior aumenta, o interesse social pelas tomadas de decisão também deveria aumentar. Ou seja, a maior abertura comercial e econômica brasileira levaria a um impacto redistributivo e seria um estímulo de entrada de novos atores na formulação da política externa brasileira. (FARIA, 2008)
Seguindo esse raciocínio, Hirst e Pinheiro apresentam o seguinte:
"A crise e o desmoronamento do governo Collor comprometeram profundamente o ideário neoliberal das elites brasileiras. Observa-se então um recrudescimento de posturas neodesenvolvimentistas que procuram influenciar a condução tanto de assuntos domésticos quanto internacionais. Ao mesmo tempo, o protagonismo assumido pelo Poder Legislativo, durante o processo de afastamento do ex-presidente, ampliou a capacidade de influência do Parlamento no processo decisório da maioria das questões relevantes da agenda nacional. Este fato terminou estimulando a politização de temas da agenda externa, ampliando notavelmente o escopo do debate interno sobre os mesmos. [...] Tanto a crise do ideário neoliberal quanto o processo de consolidação da democracia tiveram seus efeitos sobre o Itamarati. [...] Dentro e fora do Ministério das Relações Exteriores, passou-se a questionar a essência estatal da política externa tendo em vista a necessidade de ampliar suas bases domésticas de apoio. Paradoxalmente, o fato de o Itamarati ter desenvolvido como recurso organizacional um conjunto de especializações diplomáticas tornou-o mais exposto às pressões de interesses diferenciados que passaram a se manifestar com maior incidência a partir do processo de consolidação democrática. Neste quadro, a politização da sociedade brasileira, mencionada anteriormente, chegou ao âmbito diplomático levando a que se estabeleça uma diferenciação entre posturas mais próximas dos ideais neodesenvolvimentistas – e conseqüentemente nacionalistas – e posturas mais sintonizadas com o neoliberalismo, com um sentido mais cosmopolita" (Hirst e Pinheiro, p.8 e 9)
Faria nos ajuda a concluir sobre o insulamento da política externa brasileira e consequente desencapsulamento da mesma após o governo de Fernando Collor de Mello (considerando o seu governo como um ponto de inflexão da Política Externa Brasileira):
"O principal fator a pressionar o desencapsulamento da produção da PEB é duplo processo, em curso desde o início dos anos 90, de mudança no modelo de desenvolvimento e no padrão de inserção internacional do país. A superação do modelo substitutivo de importações e a busca de uma inserção internacional competitiva [...] acarretaram em uma mudança significativa no impacto redistributivo doméstico da politica exterior, gerando uma progressiva politização de tal política, até porque o país intensifica e diversifica sua participação nas instâncias multilaterais e passa a se envolver em uma multiplicidade de negociações internacionais. Concomitantemente, o processo de globalização, de liberalização econômica e a 'revolução' nos meios de comunicação têm ampliado o coeficiente de internacionalização da sociedade brasileira." (FARIA, 2008, p. 85)
Assim, podemos evidenciar o quão interconectados estavam o contexto internacional, a política externa brasileira e a sua política doméstica durante o governo de Collor. Concretizando o mercado como definidor de políticas até mesmo internas.


















Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Relações Internacionais e política externa do Brasil. 2. ed. Porto Alegre: Editora da Ufrgs, 2004. (Coleção Relações Internacionais e Integração).

CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. 2. ed. Brasilia: Unb, 2002. (Coleção O Brasil e o Mundo).

FARIA,Carlos Aurélio Pimenta de: Opinião Pública e política externa: insulamento, politização e reforma na produção da política exterior do Brasil. Brasília: Ed Instituto Brasileiro de RI (IBRI), 2008.

MARQUES, Rosa Maria & FERREIRA, Mariana Ribeiro (org.):O Brasil sob a Nova Ordem – A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos governos Collor a Lula. São Paulo: Ed Saraiva, 2010./MARQUES, Rosa Maria: O regime de acumulação sob a dominância financeira e a nova ordem no Brasil.

MARQUES, Rosa Maria & FERREIRA, Mariana Ribeiro (org.):O Brasil sob a Nova Ordem – A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos governos Collor a Lula. São Paulo: Ed Saraiva, 2010./ NAKATANI, Paulo & OLIVEIRA, Fabrício Augusto de: Política Econômica Brasileira de Collor a Lula: 1990-2007.

MARQUES, Rosa Maria & FERREIRA, Mariana Ribeiro (org.):O Brasil sob a Nova Ordem – A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos governos Collor a Lula. São Paulo: Ed Saraiva, 2010./ BOYADJIAN, Ana Carolina Paes de Barros:Os Programas de Transferência de renda no Brasil no Período de 1992 a 2007.

MARQUES, Rosa Maria & FERREIRA, Mariana Ribeiro (org.): O Brasil sob a Nova Ordem – A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos governos Collor a Lula. São Paulo: Ed Saraiva, 2010. / BARROS, Elizabeth & BRUNACCI, Maria Izabel: Superação e Permanência: políticas públicas da educação brasileira e o neoliberalismo.

PIRES, Marcos Cordeiro et al (Org.). Economia Brasileira: Da Colônia ao Governo Lula. São Paulo: Ed Saraiva, 2010.

Fontes:
HIRST, Monica & PINHEIRO, Leticia: A política externa do Brasil em dois tempos. Disponível em: , 1995, Acesso em: 09 de março de 2015.

FMI/IFS - Internacional - IFS_TJEDLUK Disponível em: Acesso em: 14 de março de 2015 às 19:15.

World Health Organization. Disponível em: Acesso em 19 de março de 2015, às 22:12.





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