Artigo-de-tradução final

July 4, 2017 | Autor: Fernanda Andrioli | Categoria: Translation Studies
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Tradução de Cesar Etges Lopes.



Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
Ciências da Comunicação
Atividade: Seminário Avançado em Letras: Tópicos de Tradução e Legendagem em Língua Inglesa
Professor Anderson Bertoldi







Análise de tradução e equivalência entre o verbo "tomar" em Língua Inglesa e em Língua Portuguesa






Cesar Etges Lopes
Cristiane Olbermann
Fernanda Andrioli
Karin Paola Meyrer





São Leopoldo, 15 de abril de 2015
Introdução

Estudos na área da Linguística de Corpus têm se popularizado cada vez mais ao redor do mundo. Utilizados inicialmente com o objetivo de auxiliar no ensino de línguas estrangeiras, hoje em dia essa abordagem atua na descrição de uma língua ou variação linguística, e também em diversas áreas como processamento de textos e montagem de sistemas inteligentes de reconhecimento de voz e gerenciamento de informação (SARDINHA, 2000).
Sardinha descreve a Linguística de Corpus como sendo uma área que:
Ocupa-se da coleta e exploração de corpora, ou conjuntos de dados linguísticos textuais que foram coletados criteriosamente com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade linguística. Como tal, dedica-se à exploração da linguagem através de evidências empíricas, extraídas por meio de computador. (2000 p.325)
Sendo assim, este trabalho objetiva analisar o uso do verbo tomar em relação aos seus equivalentes na língua inglesa. Deste modo, pretende-se investigar quantas equivalências este verbo apresenta na Língua Inglesa, e quais as diferentes funções que ele desempenha em ambas as línguas. Visto que os dados do corpus são baseados em textos, busca-se, também, uma comparação dos resultados encontrados com as definições presentes no dicionário Online de Português e no dicionário bilíngue Michaelis. Por fim, faz-se uma relação entre os dados encontrados durante a análise e o funcionamento de tradutores online como o Google Ttradutor.

Fundamentação Teórica

Para que desenvolvamos com maior clareza nossa análise dos dados coletados, urge esclarecer um pouco dos conceitos centrais de nosso artigo: a tradução e a equivalência.
A tradução é vista por seus estudiosos como um processo complexo e peculiar, sendo digna de profunda meditação. A idéia que outrora se fez da tradução como mera transposição lexical de uma "língua-fonte" para uma "língua-alvo" (HATIM, 2004) foi aos poucos sendo superada através de intensos estudos que esclareceram etapas e esforços requeridos no processo da tradução que em muito ultrapassam o campo lexical.
A ideia de tradução como processo intelectualmente ativo - que requer conhecimentos de mundo, de línguas como sistemas, de semântica, e constante reflexão do tradutor - é a que levaremos em consideração para o desenvolvimento de nosso trabalho.
Outro conceito importante que devemos esclarecer antes de apresentarmos nossa análise é o de "unidade de tradução" (HATIM, 2004). A idéia, amplamente debatida por acadêmicos, é estabelecer o que, dentro do "texto-fonte", deve ser considerado como um todo a ser traduzido. Com a evolução do conceito, chegou-se à conclusão de que nem sempre uma palavra isolada é a unidade de tradução adequada, mas sim esta em um contexto ou como parte de uma expressão. Vinay e Dalbernet, em seu Comparative Stylistics of French and English, trazem o termo "unit of thought", traduzido literalmente como "unidade de pensamento", e o equiparam diretamente à "unidade de tradução", argumentando ser a idéia/pensamento transmitida à unidade a ser traduzida.
Finalmente, a ideia de equivalência é um dos principais problemas da tradução como processo. A dificuldade em traçar uma linha clara entre palavras e conceitos e seus sinônimos e antônimos em uma mesma língua, já demonstra que a equivalência é um problema universal da linguística, sendo obstáculo de difícil transposição tanto no âmbito "intra-lingual" quanto "inter-lingual".
Temos em Larson (1984 apud HATIM, 2004) uma sugestão sobre como a busca pelo sentido da palavra (e, portanto, pelo seu termo equivalente na "língua-alvo"), pode ser feita:
Ao agrupar palavras mutuamente relacionadas e sistematicamente contrastá-las, o tradutor pode mais facilmente determinar-lhes o significado. Os elementos que aproximam ou afastam os significados dos termos podem então ser melhor descritos. Itens lexicais estão relacionados de várias maneiras e ocorrem em diferentes contextos semânticos. (2004, pg. 153)
Sendo assim, é sob a luz desse princípio de exercício de comparação que faremos a análise do termo em português, para que seja feita posteriormente a escolha do termo em língua inglesa que melhor se encaixe ao contexto analisado.

Análise e desenvolvimento

Fala-se de tradução, muitas vezes, como algo simples e até mesmo mecânico. Um termo da língua fonte é traduzido para a língua alvo de forma com que se faça entendível. Entretanto, para que este entendimento ocorra, uma série de fatores precisa ser considerada, como: equivalência, fidelidade ao texto fonte, adequação à cultura para qual o texto fonte está sendo traduzido, entre outros.
A partir do momento em que se passa a ver a tradução como um processo complexo que requer análise e pesquisa, e não apenas transposição de termos, é possível compreender a magnitude deste processo.
Ao analisar o verbo tomar em Língua Portuguesa, de acordo com o Dicionário Português Online, é possível encontrar as seguintes ocorrências com suas respectivas definições:
Pegar:
Ele tomou a bolsa de mim a força.
Apanhar:
Maria tomou o trem na estação mais próxima.
Ocupar/preencher o tempo:
A realização deste trabalho tomou todo o meu tempo.
Ingerir:
Tomei toda a água que estava na geladeira /Tomei o medicamento receitado
Decidir:
Tomarei uma decisão em relação ao assunto abordado na reunião.
A partir destas definições já é possível notar que o verbo é polissêmico, ou seja, não possui um único significado, podendo ser aplicado em diferentes contextos, com diferentes conotações.
Fazendo o mesmo processo com o dicionário Michaelis, é possível encontrar quatro verbos diferentes que podem ser comparados com o verbo tomar em Língua Portuguesa: take, drink, make e have.
Por exemplo:
I'm going to take a shower first – Eu irei tomar banho primeiro;
You should drink more water – Você deveria tomar mais água;
I think you could make a decision on your own related to what she Said yesterday – Eu acho que você poderia tomar sua própria decisão em relação ao que ela disse ontem;
Let's have a coffe all together after class – Vamos tomar um café juntos após a aula.
Conforme os exemplos acima, podemos confirmar que as palavras analisadas, dentro dos contextos inseridos, possuem o significado tomar.
Nota-se que, ao olharmos em um dicionário bilíngue, as traduções que aparecem como equivalência para o termo tomar são: take, em primeiro lugar, seguido de drink, make e have. Pretende-se, agora, analisar se essas equivalências aparecem na mesma escala em textos autênticos que se encontram em um corpus linguístico chamado COMPARA.

Análise de Corpus

Para análise dos dados, optou-se por utilizar o COMPARA, que consiste em um corpus paralelo bidirecional de português e inglês. Ou seja, uma base de dados com textos originais em ambas as línguas, alinhados frase a frase com suas respectivas traduções. Através desta ferramenta, o contraste entre o português e o inglês vira algo concreto para ser analisado.
Ao pesquisar o verbo tomar nesta ferramenta, duzentas e noventa ocorrências foram encontradas na língua portuguesa, com suas respectivas traduções. Para fins de análise, optamos por pesquisar o verbo tomar apenas no infinitivo e nos aprofundar nos casos que apresentaram mais ocorrência. A equivalência de tomar como take foi a mais comum, com quarenta e nove ocorrências com os mais diversos significados: tomar banho, tomar conta de alguém, tomar o controle, tomar cuidado, tomar decisões ou providências, tomar uma rota, tomar um lugar, entre outros. Selecionamos três exemplos para mostras alguns diferentes casos.
Eu acho que vou tomar um banho.
I think I'll take a shower.
Não têm medo de estar plantadas aqui, sem ninguém a tomar conta de vocês?
Aren't you sometimes frightened at being planted out here, with nobody to take care of you?
Avisar as autoridades sanitárias, o ministério, é o mais urgente, se se trata realmente duma epidemia, é preciso tomar providências,
Advise the health authorities, the Ministry, that's the first thing to do, if it should turn out to be an epidemic, measures must be taken,

Seguindo o verbo take, tem-se o have, com vinte e nove ocorrências. Com este verbo, a grande maioria era relacionada a beber ou comer. Foram selecionados, também, três exemplos para melhor visualização:
Vamos tomar um copo.
Let's go and have a drink.
Vamos tomar um café.
Come and have a coffee.
-- Devias tomar um pequeno-almoço cozinhado, nestas manhãs frias.
`You ought to have a cooked breakfast, these cold mornings.´

O verbo make também apresenta uma quantidade significante de ocorrências na base de dados, com vinte e um casos registrados, a maioria relacionada à expressão tomar decisão.
Atualmente sou incapaz de tomar uma decisão.
I can't make a decision about anything these days.
Na verdade (digo-lho, Sr. Ryder, confidencialmente) , tudo isso me ajudou a tomar a decisão.
In fact -- I'll tell you this, Mr Ryder, in confidence – all of that helped me make up my mind.
Mas no momento em que ia tomar a última decisão, parecia-lhe sentir a mão do Vidigal que o agarrava pela gola da jaqueta, e esfriava.
But at the moment when he was going to make the final decision, he thought he could feel Vidigal's hand grab him by the jacket collar, and he shrank away from it.

Nota-se, então, que as equivalências encontradas no dicionário bilíngue para o verbo tomar são, também, encontradas no corpus COMPARA. Entretanto, uma das traduções mencionadas para esse verbo não aparece com tanta freqüência quanto as outras. O verbo drink apresenta apenas oito ocorrências como equivalente de tomar, exemplificadas abaixo:
Costumava ir ter outra vez comigo ao fim do dia no seu coupé japonês para ir buscar as minhas anotações, tomar uma bebida e frequentemente jantar comigo.
She used to come back at the end of the day in her little Japanese sports coupé to collect my notes, and drink a cocktail, and more often than not we would eat together.
Inútil, porque estava sentado a tomar um café em pleno dia -- respondi --, e privilegiado, porque estava ali por livre escolha, e não porque não tivesse nada melhor para fazer.
Wanker because I was sitting and drinking coffee in the middle of the day,» I replied, « and privileged because it was a free choice, not because I had nothing better to do.
Tem um aspecto de penitência na coisa -- as agulhas machucam um pouco e você não pode tomar bebida alcoólica no dia do tratamento, o que explica talvez o meu bem-estar -- mas o jeito delicado de Miss Wu me dá um pouco de conforto.
There's a slightly penitential aspect to it – the needles do hurt a little, and you're not allowed to drink alcohol on the day of the treatment, which is probably why I feel better for it -- but I find Miss Wu's infinitely gentle manner comforting.

Nas demais ocorrências em que aparece, drink não vem como verbo – e consequentemente não é equivalente a tomar - mas sim como substantivo, acompanhado de verbos como take, have, ou go.
A tomar essa bebida, e não outra.
To take this drink rather than another.
«Vamos tomar uma coisa no bar», eu disse.
«Let's go have a drink,» I said.
O Joe queria trocar de pares e fazer um jogo ao melhor de três sets , mas o meu joelho tinha-se imobilizado ameaçadoramente e o Rupert disse que o efeito dos comprimidos para as dores estava a passar (toma sempre dois comprimidos antes dos jogos) . Deixámos, pois, os outros dois a jogarem individuais e fomos tomar uma bebida depois do duche.
Joe wanted to switch partners and play the best of three sets, but my knee had tightened up ominously, and Rupert said his painkillers were beginning to wear off (he always takes a couple of tablets before a game) , so we left the other two to play singles and went for a drink after we'd showered.

Outras equivalências para tomar ocorrem apenas uma vez em Língua Inglesa, sendo casos isolados e não relevantes para o trabalho em questão.

Conclusão

Ao analisar os dados do corpus COMPARA, nota-se que o verbo tomar apresenta diversas equivalências em língua inglesa, dependendo do contexto em que a palavra se encontra. Esta polissemia pode acarretar em vários problemas lingüísticos durante a tradução, cabendo ao tradutor adotar a melhor técnica para manter o significado original.
Através da análise em textos autênticos, observou-se que, dentre os diversos significados referenciais da palavra, três ganharam destaque pelo número de ocorrência: take, have e make respectivamente. O verbo take aparece em maior número, com quarenta e nove casos encontrados no corpus, explicando o fato de tradutores online, como o Google tradutor, por exemplo, mostrarem take como tradução para tomar.
Notou-se, também, que algumas colocações se tornam muito relevantes na hora da tradução. O verbo make, por exemplo, apareceu na maioria dos casos com o sentido de tomar uma decisão, mostrando que esta colocação é muito comum, tanto que, se colocarmos essa expressão no tradutor online, ele traduzirá como make a decision, e não take a decision.
O oposto ocorreu com o verbo drink. Viu-se que a tradução de tomar como drink não apareceu com muita freqüência no corpus, apesar de ser mencionada pelos dicionários como a segunda equivalência mais comum da palavra tomar, atrás apenas de take. Sendo assim, se colocarmos em um tradutor online a expressão tomar café, ou tomar água, ele não reconhecerá tomar como drink, e sim como take.
A linguistica de corpus é uma ferramenta muito valiosa para os tradutores. Através dela, é possível conhecer padrões relevantes para a tradução, e compreender os fenômenos que estão por trás deste processo. Estudos como esse ajudam a mostrar que sinônimos perfeitos não existem, e o quanto olhar para o contexto se torna importante para não perdermos a significação do texto fonte.

























Referências

Dicionário Online de Português: Acessoem 02/04/2014, às 9:00.
HATIM, Basil; MUNDAY, Jeremy. Translation: An Advanced Resource Book. New York: Routledge, 2004.
Linguateca Corpus COMPARA. Acesso em 22/03/2015, às 21:46.
Michaelis: Minidicionário Inglês. Melhoramentos: São Paulo, 2009.
SARDINHA, Tony Berber. Linguística de Corpus. Manole: São Paulo, 2004.
VINAY, Jean-Paul; DARBERLNET, Jean. ComparativeStylisticofFrenchandEnglish trans. Amsterdam and Philadelphia: John Benjamins, pp.30-34, 1995.





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