Artigo DESAFIOS À PERMANÊNCIA DOS ALUNOS DE PROUNI

July 3, 2017 | Autor: L. Machado Do Nas... | Categoria: Higher Education, Publics In Social Media, ProUni no Brasil
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DESAFIOS À PERMANÊNCIA DOS ALUNOS DE PROUNI NO CURSO DE PEDAGOGIA: UMA ANÁLISE QUALITATIVA. Políticas Nacionais e Gestão Institucional para reduzir o abandono NASCIMENTO, Lorena Machado do PUCRS - BRASIL [email protected] Resumo. A garantia da qualidade da educação superior compreende uma das principais metas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, uma vez que a produção do conhecimento tem sido diretamente associada ao desenvolvimento humano, econômico e social. Trata-se, portanto, de um problema multifatorial, que envolve inúmeros aspectos educacionais, institucionais, sociais, culturais, entre outros. Dentre esses, acredita-se que as diferentes formas de acesso à universidade representem um dos fatores que podem gerar impacto sobre a permanência dos estudantes. A partir da metade da década de 90 foram sendo implantadas políticas e ações afirmativas, pelos governos, com o objetivo de mudar significativamente o panorama do Ensino Superior no Brasil, principalmente, no que diz respeito à expansão das Instituições de Ensino Superior e ao ingresso dos estudantes das classes menos favorecidas. Uma destas propostas veio a ser o Programa Universidade Para Todos (ProUni), que foi anunciado como carro-chefe da expansão e democratização da educação superior brasileira. Este programa, entre outros em desenvolvimento, deixa claro as mudanças nas políticas públicas voltadas para esta democratização, no entanto, é fundamental reconhecer que as políticas compensatórias são uma forma de minimizar o problema sem, afinal, resolvê-lo. Por isso somos desafiados a questionar como e quanto essas ações afirmativas têm, de fato, alterado o cenário da educação superior, no que diz respeito à democratização do ingresso à universidade e permanência dos sujeitos socialmente excluídos. O presente trabalho assume a tarefa de propor a reflexão, a partir das percepções dos estudantes de Graduação em Pedagogia, bolsistas do PROUNI, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, sobre as condições de permanência e manutenção destes sujeitos e da superação das dificuldades encontradas, por meio de uma análise qualitativa das entrevistas realizadas com os mesmos. Espera-se com esta pesquisa, contribuir para problematizações acerca dos desafios e compromissos que as Instituições de Ensino Superior privadas precisam assumir para garantir a permanência destes estudantes. Palavras Chaves: Ensino Superior, Ingresso, ProUni, Permanência.

1. Introdução No Brasil, desde a segunda metade da década de 1990 foram sendo concebidas e implantadas políticas de educação superior

que implicam em mudanças significativas no papel, nos valores e nas finalidades das instituições de ensino superior (IES), particularmente nas universidades públicas e no campo científico em geral. Diante disso, várias forças vêm atuando externa e internamente para que o campo universitário1 seja modificado no seu modo de ser e agir. Ou seja, esse campo encontra-se em processo de efervescência diante das múltiplas determinações e conflitos presentes na reestruturação da educação superior. Ao analisar o campo universitário Catani (2009, p.11), afirma que: O campo universitário é um lócus de relações que envolvem como protagonistas agentes que possuem a delegação para gerir e produzir práticas universitárias, isto é, uma modalidade de produção consagrada e legitimada. É um espaço social institucionalizado, delimitado, com objetivos e finalidades específicas, onde se instala uma verdadeira luta para classificar o que pertence ou não a esse mundo e onde são produzidos distintos enjeux de poder. O campo universitário interage com campos mais amplos e determinantes, mas, especialmente, sofre processo de subordinação ao sistema econômico e aos interesses políticos. Por esta razão cumpre, sobretudo, dois papéis importantes no processo de acumulação: desenvolver competências e preparar trabalhadores para o mercado de trabalho, gerar novos conhecimentos e inovações tecnológicas para o processo de competição das empresas, dos países e regiões econômicas. Esse condicionamento e subordinação do campo universitário implica em maior comprometimento com a sociedade de mercado, com o campo econômico e, por isso, tende, cada vez mais, à reprodução do próprio 1

Utiliza-se a terminologia Campo Universitário por se tratar de um termo mais amplo diante das várias configurações de IES que existem, hoje, no Brasil. E, também, porque para Bourdieu (2001) a palavra campo é entendida como um espaço de lutas, estratégias, relações de força e interesses.

espaço social, deixando em segundo plano a ruptura e a transformação social. Observa-se que o processo de reconfiguração da educação superior e da universidade pública no Brasil significa, em particular, um fenômeno complexo porque se dá em um campo especial, o campo universitário (Catani, 2002). Trata-se de um campo provido de diferentes naturezas e contextos, que se interconectam com outros campos sociais, e que pode, ao mesmo tempo, expressar processos de reprodução, de transformação, de ajuste, de resistência, de abandono, de superação, por meio da formação acadêmica e da autonomia universitária. A educação superior sempre foi vista como um campo propício para eliminar as desigualdades sociais, na medida em que as universidades conseguem ampliar as ações afirmativas, beneficiando a permanência ascendente dos grupos menos favorecidos. Isso significa, que além, de expandir, a educação superior precisa se democratizar, criar oportunidades para que milhares de jovens tenham acesso a ela, as quais assegurem também, a permanência dos historicamente excluídos. No Brasil, esses processos de ajustes e de transformação do campo universitário, têm se estruturado mediante um crescente processo de expansão e podem ser melhor identificados nas instituições públicas, nos últimos dez anos. Isso ocorre, principalmente, no que diz respeito ao ingresso e permanência no ensino superior, através de programas e políticas de assistência ao estudante universitário. No âmbito dessa problemática, encontram-se alunos bolsistas do Programa Universidade para Todos – ProUni. O ProUni consiste em um programa do Ministério da Educação, implantado pelo Governo Federal em 2005, que concede bolsas de estudo integrais e parciais (50% do valor da mensalidade) em instituições privadas de ensino superior, para cursos de graduação. Os

alunos que ingressam nas IES privadas por meio do ProUni, em geral, são trabalhadores de tempo integral e necessitam de muita disposição e recursos para dar conta do percurso acadêmico escolhido. O ProUni tem como principal objetivo garantir o acesso à universidade àqueles que dificilmente teriam essa oportunidade, ou seja, é um programa que visa a democratização do Ensino Superior2. Propõem-se, assim, à diminuição das desigualdades sociais, permitindo às classes menos favorecidas uma ascensão econômica e social. Diante dessa constatação torna-se relevante a compreensão mais profunda das experiências vivenciadas pelos jovens bolsistas do ProUni. Como fazem para se manter numa IES privada, e assim dar prosseguimento à sua formação acadêmica? Que dificuldades enfrentam? O auxílio financeiro recebido é suficiente? Que fatores contribuem para eles abandonem ou permaneçam na educação superior? Entende-se que buscar respostas a essas questões representa um compromisso da pesquisa científica desenvolvida na própria educação superior. Este estudo, portanto, propôs-se a reflexão sobre a permanência e os desafios do aluno de ProUni que frequentam a graduação em Pedagogia. 2. Procedimentos Metodológicos Para a realização deste estudo utilizouse como embasamento as informações provindas das análises de entrevistas com 15 estudantes, bolsistas do ProUni, do curso de Pedagogia, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil.

2

O ProUni como projeto de ampliação do acesso ao Ensino Superior, é uma resposta ao Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2001, que estabeleceu a meta de que 30% dos jovens entre 18 e 24 anos estejam cursando este nível de ensino no Brasil até o final de 2010. No entanto, a síntese dos Indicadores Sociais divulgada no final de 2009 pelo IBGE revelou que 13,7% da população nesta faixa etária está matriculada na educação superior (MEC/ProUni, 2013)

Para a realização das entrevistas, solicitou-se autorização prévia da Direção da faculdade, bem como a assinatura do Termo de Livre Consentimento, tendo em vista que a participação dos alunos foi voluntária e as entrevistas foram realizadas fora dos horários de aula. Cabe ressaltar que, nesse estudo de natureza descritivo-exploratória, o principal objetivo foi retratar uma fotografia inicial da situação dessas minorias na educação superior, procurando o desvelamento das suas realidades. A partir disso, há o propósito de contribuir para problematizações acerca dos desafios e compromissos inerentes ao processo de democratização do acesso ao ensino superior. Para isso, tornou-se indispensável a escolha da metodologia adequada à exploração dos dados, com suas riquezas e possibilidades. Conforme Campos (2004, p.611): No universo das pesquisas qualitativas, a escolha de método e técnicas para a análise de dados, deve obrigatoriamente proporcionar um olhar multifacetado sobre a totalidade dos dados recolhidos no período da coleta (corpus), tal fato se deve, invariavelmente, à pluralidade de significados atribuídos ao produtor de tais dados, ou seja, seu caráter polissêmico numa abordagem naturalística. Utilizou-se, portanto, a interlocução entre a experiência e a teoria, buscando significado especial dos fatos, como se propõem as investigações sociais, apoiando-se na técnica de análise de conteúdo. Segundo Moraes (1999), a análise de conteúdo é utilizada para a descrição e interpretação de documentos e textos das mais diversas classes. Essa metodologia facilita a interpretação dos textos, atingindo uma compreensão mais profunda dos seus significados, em um nível que vai além da leitura comum, a partir do olhar do pesquisador. As ideias principais são alocadas

em categorias que representem em si mesmas a síntese do maior número de informações, sem que perca a essência das mesmas. Portanto, para a definição das categorias utilizou-se o método dedutivo, em um movimento do geral para o particular, que implica em construir as categorias a priori, ou seja, antes mesmo de examinar o corpus dos textos e realizar a análise, propriamente dita, dos dados. Mas, conforme Moraes (2003) “a escolha de métodos para a categorização sempre trará junto com ela um conjunto de pressupostos teóricos e paradigmáticos.” Neste caso, a dedução implica na procura de objetividade e verificabilidade dos objetivos propostos no estudo, mas com a possibilidade de emergência de novos objetivos a medida em que a realidade se mostrar através das entrevistas realizadas. E ainda reafirmando com Moraes (2003: p.198): O essencial no processo não é sua forma de produção, mas as possibilidades do conjunto de categorias construído de representar as informações do corpus, ou seja, de possibilitar uma compreensão aprofundada dos textosbase da análise e, em conseqüência, dos fenômenos investigados.

Para isso, é importante e necessário que o pesquisador esteja preparado para abordar e incorporar novos elementos que surgirem durante o trabalho, possibilitando o uso aprofundado desta metodologia. 3. Resultados e Discussão Os alunos entrevistados caracterizaramse por serem, em sua maioria, solteiros e mulheres (13), tendo apenas dois homens. A idade média foi de 31 anos e 12 dos 15 entrevistados, além de frequentar a graduação, trabalham entre seis e oito horas diárias. A Tabela 1 apresenta as informações detalhadas das características de cada sujeito. Tabela 1 – Características dos alunos bolsistas do ProUni Aluno Gênero

Idade Estado Civil

Filhos Trabalha Horas Diárias

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15

M F F F F F F F F F F F F M F

39 60 23 27 21 20 22 27 19 46 34 33 33 26 35

solteiro solteira solteira solteira solteira solteira solteira solteira solteira casada casada casada casada solteiro casada

0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 2 1 0 1

S S S N* N S S S N** S S S S S S

8 8 6 0 0 8 6 6 0 8 8a9 8 8 8 6

Nota:* Cuida dos irmãos menores para a mãe trabalhar. ** Faz o serviço da casa para a tia, inclusive refeições.

A análise de conteúdo das entrevistas foi realizada a partir de quatro categorias prédeterminadas: (1) Percurso Acadêmico, (2) Desempenho Acadêmico, (3) Enfrentamento das Dificuldades, (4) Satisfação e (5) Visão Crítica sobre o ProUni. Categoria 1 - Percurso Acadêmico

Ao analisar esta categoria foi constatado que a maioria dos alunos não entrou na faculdade na primeira vez que realizou o Enen (Exame Nacional do Ensino Médio), pois, não obtiveram nota suficiente para o curso desejado. Muitos haviam interrompido os estudos após a conclusão do ensino médio, ficando um longo período afastados, com exceção de duas alunas, que imediatamente ingressaram no ensino superior. Diferentemente da maioria, essas duas já vinham sendo orientadas e preparadas para o Enen, vislumbrando a possibilidade de ingressar através do ProUni3. Relatam que sempre foram bem acolhidos na faculdade pelos colegas e professores, nunca se sentiram discriminados ou excluídos por serem bolsistas. Apenas uma estudante afirmou sentir-se, inicialmente, deslocada, não atribuindo essa questão a situação e bolsista, como se observa em sua verbalização: 3

Em 2012 o Rio Grande do Sul teve um total de 5.378 Bolsas ofertadas pelo ProUni, sendo 3.622 bolsas integrais e 1.756 bolsas parciais. (MEC/PROUNI, 2013)

Nos primeiros semestres eu me sentia deslocada, era a aluna mais velha da turma, mas sei que, em grande parte, era eu que me excluía. Às vezes chegava em casa e pensava – o que estou fazendo? O que uma “velha” como eu quer na faculdade? Aos poucos fui recebendo estímulo e elogio das próprias colegas e percebendo que não era a única, tinha colegas até bem mais velhas do que eu em outras turmas. Agora já não penso mais, pelo contrário, tenho orgulho de estar aqui. (Entrevistada número 10) Alguns afirmaram já ter ouvido relatos de “outros bolsistas de outros cursos de graduação”, sobre sentirem-se discriminados, mas todos foram unânimes ao confirmar não encontrar isto na Faculdade de Pedagogia. Diante disso, é possível inferir que nem sempre os bolsistas de ProUni são bem recebidos pelos demais universitários. Porém, admitir isso pressupõe o enfrentamento de situações culturais inerentes às diferenças socioeconômicas que tendem quase sempre a serem mascaradas, negando-se os preconceitos e as divergências quanto a aceitação dessa política de ingresso. Categoria 2 - Desempenho Acadêmico

Uma das dificuldades encontradas pelos alunos do ProUni entrevistados, para atingir o desempenho desejado ao longo da graduação, foi a adaptação ao trabalho acadêmico, às leituras e produções textuais. Eles reconhecem que chegam à universidade com uma formação básica deficitária, principalmente os alunos mais velhos e que ficaram maior tempo sem estudar. Porém, a maior dificuldade atual referese à falta de tempo para dar conta das leituras e atividades acadêmicas, tendo em vista a elevada carga horária diária de trabalho, da maioria. Por isso, mesmo aqueles alunos que tinham um bom desempenho no Ensino Médio encontram dificuldades de se adaptarem a metodologia do ensino superior.

No entanto, o desempenho da maioria tem sido muito bom, garantindo a aprovação sem necessidade de exames adicionais. Pode-se inferir que o desempenho acadêmico dos sujeitos entrevistados está caracterizado pelo esforço e dedicação. Além de dedicarem suas noites e finais de semana para os estudos, muitos deles precisam conciliar atividades de trabalho, familiares, domésticas e sociais. Trabalho no comércio, inclusive sábados, domingos e feriados, por isso saio do trabalho às 17h e venho direto para a PUC, assim fico lendo, estudando e fazendo meus trabalhos até a hora da aula. (Entrevistada 13) Trabalho como manicure e tive que reduzir meu horário diário de atendimento para estar aqui, então para recuperar e não receber bem menos no final do mês, trabalho nos sábados até as 22horas, sobra o domingo para estudar e cuidar da casa. (Entrevistada 11) Estes dois relatos evidenciam a real dedicação dispensada pelos estudantes entrevistados. Percebe-se assim, que a condição de bolsista (isto é, não pagante) não apresenta implicações negativas no esforço e desempenho acadêmico desejado. Categoria 3 - Enfrentamento das Dificuldades

Nessa categoria pode-se observar que a maioria dos alunos buscou soluções de forma individual para as dificuldades enfrentadas. Entre estas, a mais relevante diz respeito a organização do tempo para estudos, visto que quase todos trabalham cerca de oito horas diárias. O planejamento semanal (ou diário) para dar conta das outras atividades, bem como das acadêmicas, é, portanto, fundamental. Foram encontradas duas situações em que a mudança foi mais profunda, pois ambos os entrevistados optaram por mudar de emprego, reduzindo a carga horária de

trabalho diário, como mostra a verbalização da entrevistada número oito:

realizar esse sonho.” (Entrevistada 08)

Depois que estava certa da minha escolha (Pedagogia) larguei o emprego de vendedora e arrumei um estágio numa escola. Estou ganhando menos, mas trabalho bem menos, e assim posso estudar mais, além de ficar um pouco com meu filho. E semestre que vem terei tempo para as práticas também.

O ProUni me deu novas perspectivas, abriu um mundo novo. Eu era empregada doméstica e as pessoas achavam que eu não conseguiria, que quem nasceu para doméstica, será sempre doméstica. Hoje as pessoas tem uma outra visão de mim, mas principalmente, minhas filhas, elas nem cogitam a ideia de não fazer faculdade. Agora sou um exemplo pra elas. (Entrevistada 12)

Este depoimento reflete o quanto envolvida com sua formação está essa estudante, a qual conta com o apoio de familiares para se manter. Porém, essa situação não é possível a todos os bolsistas, sendo que muitos precisam ajudar a família financeiramente, ao invés de serem ajudados. A bolsa que isenta o pagamento de mensalidades é muito valiosa e fator decisivo para o ingresso desses alunos na educação superior, mas as demais limitações socioeconômicas continuam sendo fator de preocupação e de exigência ao aluno. Não há sequer o debate coletivo que levante essas dificuldades e suas possibilidades de enfrentamento, ficando a cargo do próprio aluno administrá-las. Categoria 4 - Satisfação

Nessa categoria a posição dos entrevistados foi unânime: todos se sentem muito satisfeitos em serem bolsistas ProUni. Por meio da bolsa chegaram a realização de um sonho, não só seu, mas dos familiares também, pois a maioria é a primeiro membro da família a cursar uma faculdade. E todos afirmam que essa realização só está sendo possível graças ao programa: “Se não fosse o ProUni eu não estaria aqui.” (fala de todos entrevistados) Ou, como pode ser observado nos depoimentos a seguir: Sempre tive o sonho de fazer faculdade e tirar aquelas fotos com chapéu e “Canudo”, mas achava impossível. Minha vó sempre me incentivou e dizia para eu acreditar no meu sonho, e hoje, eu e ela vamos

Essa categoria demonstra as possibilidades e oportunidades de ascensão social e econômica das pessoas através do ingresso ao Ensino Superior. Pessoas que terão melhores opções de colocação profissional, mas que também, servem de exemplos para sua comunidade e família. Categoria 5 - Visão Crítica sobre o ProUni

Nessa categoria a análise tornou-se mais difícil, pois os entrevistados manifestaram poucos comentários a respeito do assunto, mesmo quando o pesquisador indagava sobre sugestões para o programa melhorar. Acredita-se que, devido ao envolvimento emocional relacionado a categoria anterior, os entrevistados não conseguiram manter uma visão imparcial do programa, a qual permitiria fazer uma análise crítica sobre as dificuldades ou necessidades para melhoramento do ProUni. Além disso, qualquer pesquisa suscita expectativas e preocupação com o manuseio das informações, podendo, ainda que inconscientemente, gerar o receio de que as crítica tivessem o significado de desqualificar a bolsa ou sua condição de beneficiário. Assim, a maioria alegou não ter nenhuma crítica ou sugestão de melhoria para o programa. Duas entrevistadas sugeriram outros locais com lanches mais baratos, pois o restaurante Universitário fica longe do prédio Para a consciência crítica que se esperava nessa categoria, acredita-se ser

necessário a postura baseada num distanciamento emocional que permita a leitura da realidade de modo mais autônomo e isento de temores. Isso demanda a reflexão enquanto sujeitos desta ação, que podem contribuir e qualificar ainda mais o que para eles tem sido fundamental. Ou, talvez, perceberem-se como sujeitos do “Inéditoviavél”4, e percebendo-se assim confirmariam o que nos diz Freire (1992,p.107): Esses segundos (os oprimidos) são os que se sentem no dever de romperem essa barreira das "situações-limites” para resolvendo, pela ação com reflexão, esses obstáculos à liberdade dos oprimidos, transpor a fronteira entre o ser e o “ser-mais”. Diante dessas análises, pode-se constatar que esses estudantes possuem muitas características em comum na luta pela permanência no Ensino Superior. Características de superação no campo social, pessoal e acadêmico, as quais os colocam como protagonistas da real transformação e reconfiguração do campo universitário. São alunos que se configuram como sujeitos ativos numa mudança social objetivada por muitas políticas públicas no Brasil que ainda precisam ser ajustadas e avaliadas, especialmente, dando voz aos que delas são beneficiários. A intervenção do estado na educação através de políticas públicas visa concretizar direitos sociais conquistados pela sociedade, negociadas e legitimadas em diferentes contextos. O ProUni é uma política de ação afirmativa, que visa promover o acesso a educação superior, baseada numa concepção ainda assistencialista, que oferece benefícios e não direitos aos egressos do ensino médio público. Por isso, muitos autores (Catani, Hey e Gilioli, 2006) discutem em que medida o ProUni é um instrumento de democratização

da educação superior no Brasil ou um mero programa de estímulo à expansão das Instituições de Ensino Superior Privadas. Nesse sentido, é sempre oportuno indagar-se se a oportunidade de cursar o ensino superior através do ProUni, contribui, realmente, para incluir a população de baixa renda em melhores oportunidades sociais, culturais e financeiras. É relevante questionar se programas como esse podem elevar a auto estima desses sujeitos e ampliar possibilidades para seus filhos atingirem maior nível educacional. Responder a essas questões passa, inevitavelmente, pela escuta e olhar dos sujeitos envolvidos no processo, indo muito além de observar resultados estatísticos e quantitativos. 4. Considerações Finais As políticas de ações afirmativas para a educação superior são muito recentes e começaram a ganhar espaço significativo após a LDB de 1996. Percebe-se que, nos últimos anos, os órgãos responsáveis pelas estatísticas sócio-educacionais (IBGE e Inep), vinculados ao governo federal, começam a incluir em seus instrumentos de investigação questões que tratam mais especificamente dessa situação, cujos resultados, aos poucos, são disponibilizados e, também, tomados como objeto de estudos por parte do próprio governo. As informações acessadas e analisadas sinalizam esforços do governo federal, universidades, ONGs e movimentos sociais representativos dos segmentos minoritários para privilegiar debates sobre as políticas de ação afirmativa assim como para implementar programas, visando à democratização do acesso à educação superior.5 O direito à educação a todos é um lema fundamental das políticas de ações afirmativas na área da educação. Há o reconhecimento de que o saber sistematizado

4

“O “inédito-viável” é na realidade uma coisa inédita, ainda não claramente conhecida e vivida, mas sonhada e quando se torna um "percebido destacado” pelos que pensam utopicamente, esses sabem, então, que o problema não é mais um sonho, que ele pode se tornar realidade.” (Freire,2003)

5

Neste ano de 2013 a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul tem 5.655 alunos bolsistas do ProUni, representando um percentual de 20,57% do total dos 27.500 alunos matriculados na Universidade.

deve ser disponibilizado a todos os cidadãos, favorecendo a participação autônoma e crítica na transformação da sociedade na qual estão inseridos. Mas, como nos mostra Salles (2013:p.172), esta não é a realidade da educação superior Brasileira: Umas das características do ensino superior brasileiro tem sido seu caráter elitista, com reconhecidas desigualdades socioeconômicas e educacionais. Estudos têm demonstrado que nas IES estatais predominam estudantes oriundos da classe média e alta. Já a maior parte dos alunos matriculados nas congêneres particulares origina-se de classes menos abastadas. Geralmente, são alunos que trabalham durante o dia para seu sustento, desenvolvendo seus estudos no período noturno. O cenário para o qual essas ações são dirigidas mostra que uma longuíssima caminhada deve ser ainda realizada. Os dados de realidade continuam denunciando a pouca expressividade da presença das minorias nesse nível de ensino, sobretudo quando comparamos a representatividade desses segmentos na sociedade e nas IES. No entanto, já se pode considerar que as políticas de ações afirmativas na educação devem assumir um caráter emancipatório, para que não sejam reeditadas as tradicionais medidas compensatórias, de caráter assistencialista. Essas últimas pouco favorecem o enfrentamento do núcleo central de manutenção das desigualdades sociais existentes, sendo apenas medidas paliativas. Portanto, no processo de democratização do acesso à educação superior, devem ser abertos mais caminhos para fomentar a construção de um ambiente de igualdade e diversidade capaz de fortalecer a produção de um pensamento científico com as marcas das distintas subjetividades, que compõem as diferentes classes brasileiras, promovendo assim a diminuição das

diferenças sociais. E, como conclui Soares (2002, p 304): Em síntese, o grande desafio a ser enfrentado pela educação superior brasileira é o estabelecimento e a implementação de uma política que tenha como alvo o conjunto do sistema e não apenas uma parte dele. Tal política deverá atentar para as características desse sistema multifacetado, composto por instituições públicas e privadas, com diferentes formatos organizacionais, múltiplos papeis e funções locais, regionais, nacionais e internacionais. Portanto, as políticas expansão do ensino superior tem como desafio articular iniciativas dos setores público e privado que melhorem a relação ingressantes / concluintes, buscando desenvolver políticas diferenciadas de estímulo ao acesso, por parte de diferentes grupos sociais, bem como de melhorias das oportunidades educacionais desses grupos, garantido a permanência e a conclusão no ensino superior. Com este estudo pode-se observar que o Programa Universidade para Todos – ProUni, tem sido muito relevante para essa democratização do acesso ao Ensino Superior, mas sobretudo para diminuir as desigualdades sociais e econômicas a médio e longo prazo. Certamente, há muito a melhorar no atendimento e acompanhamento desses estudantes bolsistas, na busca por níveis maiores de permanência. Pois, as dificuldades enfrentadas por eles não são muito diferentes de outros alunos da universidade, o que, realmente, os diferencia são as trajetórias de vida e escassa possibilidade de ingresso numa faculdade de qualidade se não fosse o programa. O mesmo oportuniza não só ingressarem no ensino superior, mas a possibilidade de mostrarem suas potencialidades e talentos, muitas vezes, eliminados pela falta de continuidade dos estudos, como confirmou a Coordenadorageral de projetos Especiais para Graduação do

Ministério da Educação, Paula Branco de Mello (2008, p.07): O ProUni vem se consolidando como exemplo bem sucedido de inclusão como valorização do mérito do estudante, o que pode ser comprovado por diversos estudos efetuados por instituições participantes do programa, entre elas a PUCRS, que demonstram a excelência destes bolsistas. Espera-se que as reflexões e análises apresentadas possam subsidiar debates e ações que priorizem a garantia do ingresso e da permanência dos estudantes de todos os níveis sociais na educação superior, demarcando a possibilidade de se desenvolverem e ascenderem socialmente, pela formação acadêmica, inclusive com melhor colocação profissional no mercado de trabalho. É necessário que os mais diferentes públicos - movimentos sociais, pesquisadores, gestores, parlamentares, educadores e estudantes - se motivem a engajarem-se nessa construção.

FREIRE, Paulo. (1992) Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 127p. ______________. (2003) Pedagogia do Oprimido. 36º Ed. Rio de Janeiro: Edições Paz e Terra, 184 p. MELLO,

Paula

Branco

de.(2008)



Encontro

de

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Entrevista

dada

a

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PUCRS

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5. Referencias

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