Artigo - Jornal Hoje: o humor na apresentação do telejornal

September 8, 2017 | Autor: I. Reis Pichiguelli | Categoria: Humor, Telejornalismo e interatividade, Comunicação E Cultura, Mídia, Linguagem corporal, Jornal Hoje
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Jornal Hoje: o humor na apresentação do telejornal sob a óptica das teorias da comunicação, da linguagem e da cultura do corpo

Autora: Isabella Reis Pichiguelli Universidade de Sorocaba

Resumo

Este texto resulta de um projeto de pesquisa que teve como objetivo avaliar, à luz das teorias da comunicação e da linguagem, perpassando as teorias da cultura que tratam do corpo enquanto meio comunicador, a presença do humor nas apresentações do ―Jornal Hoje‖, quando este é apresentado pela dupla de jornalistas Evaristo Costa e Sandra Annenberg. Discute o telejornalismo como linguagem híbrida; o corpo como mídia e sua utilização na linguagem do humor; o humor, o corpo e o papel dos narradores no telejornalismo e as funções referencial, fática e emotiva da linguagem verbal utilizadas nos telejornais. Por meio da análise de conteúdo de algumas edições do telejornal e do estudo teórico que encontrou base em autores como Vladimir Propp, Cleide Riva Campelo, Samira Chalhub e Guilherme de Rezende, observa o humor como dispositivo de aproximação entre os apresentadores e seu público–alvo e o uso das expressões corporais dos narradores da notícia como dispositivo fundamental na composição das cenas em que o humor aparece.

Palavras-chave: telejornalismo, humor, corpo, teorias da comunicação e da linguagem

Introdução

Piadas que se intercalam entre as chamadas de matérias e comentários que acontecem após a exibição de alguma reportagem; sorrisos estampados nos rostos enquanto se anuncia alguma notícia; conversas que originam gargalhadas. Tudo isso faz parte da apresentação do ―Jornal Hoje‖ – telejornal exibido pela Rede Globo de Televisão, de segunda a sábado, geralmente das 13h15min às 13h45min – quando a dupla de jornalistas Evaristo Costa e Sandra Annenberg está em ação.

O humor costumeiramente se percebe na apresentação de programas televisivos que pertencem, no jornalismo, à editoria de esportes, como é o caso de programas como ―Jogo Aberto‖ e ―Terceiro Tempo‖, da Rede Bandeirantes, ―Gazeta Esportiva‖, da TV Gazeta, e com ainda mais ênfase no ―Globo Esporte São Paulo‖, da Rede Globo. Mas, excluída a apresentação do ―Jornal Hoje‖, quando comandado por Evaristo Costa e Sandra Annenberg, pouco se vê o humor em telejornais considerados de variedades, que mesclam diversas editorias como política, meio-ambiente, economia, factuais, etc. A afirmação pode ser comprovada ao se assistir, por exemplo, ao ―Jornal Nacional‖, da Rede Globo, ao ―Jornal da Gazeta‖, da TV Gazeta, e ao ―Jornal da Band‖, da Rede Bandeirantes. Da curiosidade acerca destas constatações é que teve origem o projeto de pesquisa que alcançou, como um dos resultados, o presente artigo. O intuito, aqui, é compendiar o que se obteve com o estudo. Em síntese, sugerir razões para o modo diferenciado de se apresentar o telejornal em questão, a partir da compreensão de quais e de como são utilizados os artefatos que constroem o cenário descrito. São elementos que compõem o quadro, por exemplo, o fato de serem dois apresentadores e, portanto, existir possibilidade de diálogo direto, comunicação interativa e primária – ―presencial, [...] em um mesmo espaço físico [...] do tempo presente e suas tensões e surpresas, de sua sensualidade múltipla e da sua sensualidade potencial‖ (Baitello, 2000, apud POSTALI, 2010, p.42-43); a linguagem utilizada por eles e os temas das matérias que vão ao ar no telejornal, entre outros.

Metodologia

Para que se pudesse chegar a alguma conclusão acerca do humor que permeia o ―Jornal Hoje‖ quando apresentado por Evaristo Costa e Sandra Annenberg, foi observado o conteúdo das edições deste telejornal pelo período de oito semanas, a saber, as edições que foram ao ar de segunda a sexta-feira, sendo excluídas as edições de sábado, entre os dias 06/09 e 29/10 de 2010 (seis de setembro e vinte e nove de outubro de dois mil e dez). As edições de sábado foram eliminadas da delimitação da pesquisa pois, via de regra, os jornalistas Evaristo Costa e Sandra Annenberg não apresentam o telejornal neste dia da semana, sendo substituídos por outros jornalistas. Inicialmente, o projeto de pesquisa previa a análise de conteúdo de todos esses programas. No entanto, na medida em que eram assistidos, percebeu-se que as características das situações de humor que surgiam durante cada edição do telejornal eram, em geral, as

mesmas, parecidas/similares. A partir deste entendimento, decidiu-se separar amostras, no total de dez telejornais, para a análise quantitativa e qualitativa do conteúdo, uma vez que analisar todas as edições que abrangem a primeira delimitação se tornaria repetitivo e desnecessário para a elaboração das considerações finais acerca do estudo. Desta forma, do mês de setembro de 2010, foi pinçada de cada semana uma edição, sendo que cada edição escolhida se refere a um dia diferente da semana, como se vê: primeira semana, programa do dia 03/09 (sexta-feira); segunda semana, programa do dia 08/09 (quartafeira); terceira semana, programa do dia 13/09 (segunda-feira); quarta semana, programa do dia 23/09 (quinta-feira); quinta e última semana, programa do dia 28/09 (terça-feira). De outubro de 2010, diferenciadamente, foram escolhidas para análise edições de uma semana cheia, a saber, a segunda semana do mês, que compreende os dias 04/10, 05/10, 06/10, 07/10 e 08/10 (segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira, respectivamente). Todas as edições apanhadas como amostra para análise de conteúdo têm Evaristo Costa e Sandra Annenberg, juntos, como apresentadores do telejornal, com exceção de dois programas: do dia 03/09, comandado apenas por Sandra Annenberg, e do dia 28/09, apresentado somente por Evaristo Costa. Tais situações não haviam sido previstas na confecção do projeto, mas optou-se por analisar estes programas de caráter esporádico pela compreensão de que avaliá-los enriqueceria o resultado final da pesquisa, uma vez que, tendoos analisado, seria possível fazer a comparação com as demais edições, nas quais os dois jornalistas atuam lado a lado na condução do telejornal, e apontar eventuais diferenças. Como base teórica para o referido estudo, foram utilizados autores que falam sobre as teorias da comunicação, como Mauro Wolf e as pesquisadoras Patrícia Bezerra e Fernanda da Silva; os que tratam do humor, da oralidade e do discurso, como M. Bakhtin, Vladimir Propp e Sírio Possenti; Cleide Riva Campelo, Mônica Rector, Aluizio Trinta e Norval Baitello, que discorrem sobre a cultura do corpo; Samira Chalhub, que versa sobre a linguagem; e escritores que abordam os gêneros jornalísticos e, em específico, o telejornalismo, como Vera Iris Paternostro e Guilherme de Rezende. É justo ainda aqui sinalizar que a leitura dos que falam sobre a questão cultural do corpo como meio de comunicação ocorreu após o projeto já estar em andamento, uma vez que se percebeu que os movimentos corporais dos apresentadores Sandra Annenberg e Evaristo Costa, como levantamento de sobrancelhas, inclinação de coluna/postura para frente ou para trás, risadas, sorrisos, gestos-batuta, apontamento de dedos um para o outro, etc., contribuem de maneira relevante para os momentos em que o humor se faz presente no telejornal.

Hibridismo nos Telejornais e no “Jornal Hoje” Em encontro com a Escola de Frankfurt, que prega que a Indústria Cultural – da qual a televisão faz parte – existe para nos divertir, cada vez mais se firma o entendimento de que os telejornais, enquanto produtos televisivos e, portanto, produtos da Indústria Cultural, têm entre os seus principais objetivos não apenas informar, mas também entreter o consumidor. Vêem-se notícias, mas o que se consome é entretenimento. O próprio ato de sentar-se para assistir televisão já traz embutido o momento do descanso, do relaxamento no sofá, exemplifica Proba (2009, p.4). As observações feitas pela Teoria Crítica acerca da Indústria Cultural, neste sentido, ainda são consideráveis quando se atenta para a relação que há entre o índice de audiência dos programas televisivos e o mundo da publicidade e propaganda. Esta ligação de mercado faz do telespectador, sim, um consumidor, uma vez que tem que ser atraído pelo produto de consumo – neste caso, o telejornal – para gastar seu tempo livre com ele. Alguns autores apontam essa busca por audiência como principal fator para que o telejornalismo tenha se tornado entretenimento. Pinto (1997) diz que para atrair público/consumidor, devido à crescente concorrência, é preciso apresentar conteúdos diferenciados através de formas diferenciadas, afinal, ―notícia por notícia, os computadores, via Internet, podem fornecer‖ (p. 122). Ciro Marcondes Filho (1989), na mesma linha, chega a dar uma nova conotação para notícia: ―é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais‖. (apud GABRIOTI, 2008, p. 155).

De uma forma ou de outra, razões mercadológicas impelem a produção telejornalística, como de resto toda a programação televisiva, a procurar atender aos desejos e às expectativas de um expressivo contingente de telespectadores que se situam no outro extremo do processo de comunicação. (REZENDE, 2000, p. 24)

Temer (2009) usa a expressão novelização do conteúdo para ilustrar o que acontece com o telejornal a partir do momento em que este deixa a sua, em tese, ―missão primordial de informar‖ (BEZERRA, 2009, p.4), para ser mais um produto de entretenimento na grade televisiva: ―[...] deixa de ser valorizada a informação em si, e sim os aspectos estéticos (predominantemente visuais) e emocionais que envolvem o fato.‖ (p.7). Neste caso, o telejornal aproxima-se muito da narrativa ficcional. A notícia é parte, um componente, das narrativas do cotidiano, mas com a força da imagem, reforçam-se os clichês

emocionais; criam-se personagens sobre os quais se enfatiza a dor, o enredo, o envolvimento em uma trama cujo objetivo principal é prender o público em frente à TV. O jornalista Perseu Abramo (2003) esquematiza este roteiro e afirma que as matérias, nos telejornais, se dividem basicamente em três momentos padronizados. Os dois primeiros, claramente, se apóiam essencialmente no fator emocional e em uma sequência novelizada.

O Primeiro Momento, ou 1º ato, é o da exposição do fato. [...] O fato é apresentado sob os seus ângulos menos racionais e mais emocionais, mais espetaculares e mais sensacionalistas. As imagens e os sons mostram o incêndio, a tempestade, a enchente, ou a convenção do partido majoritário, a passeata, a greve, o assalto, o crime etc. [...] O Segundo Momento, ou 2º ato, é o da sociedade fala. As imagens e os sons mostram detalhes e particularidades, principalmente dos personagens envolvidos. Eles apresentam seus testemunhos, suas dores e alegrias, seus apoios e suas críticas, suas queixas e propostas. (ABRAMO, 2003, p. 35-36).

Avaliando tais ponderações, identifica-se um contínuo processo de hibridização em andamento, com características da novela, do teatro, da publicidade, entre outros, sendo incorporadas ao telejornal:

[...] observo jornalistas que mais parecem atores, novas técnicas e linguagem para atrair o público, inúmeros efeitos especiais: visuais, sonoros e de narrativa, [...] notícias com começo, meio e fim, cheias de personagens para ilustrar as matérias (SOUZA, 2009, p. 1).

Desta forma, no dado contexto, não é difícil enxergar os apresentadores dos telejornais como mitos da atualidade neste processo. Eles, os narradores – com o porte da beleza, de austeridade, do caráter de celebridade – é quem darão credibilidade ao noticiado. ―No encontro do ímpeto do imaginário para o real e do real para o imaginário, situam-se as vedetes da grande imprensa, os olimpianos modernos.‖ (MORIN, 1986, p. 105).

[...] são, simultaneamente, magnetizados no imaginário e no real, simultaneamente, ideais inimitáveis e modelos imitáveis; sua dupla natureza é análoga a dupla natureza teológica do herói-deus da religião cristã; olimpianos e olimpianas são sobre humanos no papel que eles encarnam, humanos na existência privada que eles levam. (idem, p. 106)

As descrições de Souza (2009) e de Edgar Morin (1986), bem como tudo o que foi pontuado até o momento, se referem, em geral, a todos os telejornais. No entanto, o ―Jornal Hoje‖ mostra ter ainda mais fatores de hibridização, uma vez que, na própria página do programa na internet, o histórico informa que quando foi concebido, em 1971, o telejornal

tinha o formato de uma revista diária, com matérias sobre arte, espetáculos e entrevistas. Com o passar das décadas, o programa sofreu várias alterações na linha editorial, mas em 2003 voltou a ser um telejornal-revista, como nomeiam os produtores, com predominância de temas que envolvem comportamento humano, social e ético, entrevistas especiais e cultura.

[...] da mesma forma em que a sociedade é móvel e está em permanente transformação, também os gêneros se transformam, não apenas no que diz respeito a seu conteúdo interno, por meio da incorporação de novos formatos e conteúdos, mas quanto à forma de produção. Os gêneros se reestruturam também a partir de processos de hibridização – ou seja, práticas e conteúdos estruturados e consolidados que funcionam de forma separada combinam-se para dar origem a novas práticas e/ou estruturas. Ou, ainda, novos gêneros surgem a partir da somatória de elementos de gêneros já existentes ou a partir da inclusão de elementos típicos de outros gêneros. (TEMER, 2009, p. 4).

O caráter híbrido do ―Jornal Hoje‖, que como se pode perceber, ao mesclar elementos de dois ou mais formatos, originou um novo – já não é nem telejornal, nem revista, mas sim telejornal-revista – é corroborado por ainda outro ponto. Souza (2009) relata que Sandra Annenberg, que apresenta o referido telejornal junto a Evaristo Costa, antes de ser jornalista, era atriz. ―Essa tênue fronteira que existia entre os gêneros telenovela e telejornal ficou mais evidente ainda com a migração de profissionais de uma área para a outra‖ (p. 11). Assim, sendo atriz, é mais possível ainda afirmar que Sandra, como apresentadora / narradora da notícia, incorpora uma personagem, trazendo no corpo e na voz o peso dramático e todas as suas gradações como ambiências específicas para cada fato a ser narrado – há de vir um novo enredo, com novos personagens para construir a realidade e entreter o público.

A Linguagem, o Corpo e o Humor no Telejornal

Compreender os telejornais como produtos híbridos, que buscam o entretenimento do telespectador, e as características que diferenciam o ―Jornal Hoje‖ dos demais, como a linha editorial que mescla factuais com temas mais leves – chamados por Resende (2000) de features, as conhecidas matérias de gaveta, que abordam temas de permanente interesse, mas que não sofrem o mesmo processo de rápido envelhecimento a que se submete o factual (p. 147) – e o fato de ter, como apresentadora do telejornal, uma jornalista que é também atriz, ajuda a entender a presença mais constante do humor no telejornal em questão.

Humor, como define Propp, é ―em sentido lato [...] a capacidade de perceber e criar o cômico (1992, p. 152). Silva considera que ―rir é expressar o prazer‖ (2010, p. 113). O humor se constitui de uma atribuição inusitada de sentido a algum signo sugerido (POSSENTI, 1998, p. 39), o que importa dizer que ele é composto por uma esfera subjetiva e por outra coletiva; social, cultural (idem, p. 42). Ora, se o humor é capacidade de percepção, expressão de prazer e envolve o ato de atribuir, tem origem dentro de cada ser humano. Disto se entende, portanto, que o humor é, não só, mas em primeiro lugar, inerente ao sujeito que o produz. Gabrioti (2008) defende que, no jornalismo, são subjetivos até mesmo os critérios para a seleção e exclusão de notícias, ―o que vai sair, como, com que destaque e com que favorecimento‖ (p. 152). Com isso, a intenção não é dizer que o humor, dentro dos telejornais, é somente subjetividade, efeito e causa da diversão dos narradores da notícia enquanto apresentam o programa, afinal, não se pode esquecer que

a maneira como âncoras e repórteres de telejornal apresentam um texto é na verdade uma dramatização. [...] A dramatização nada mais é que o esforço de tornar uma narrativa mais interessante, comovente, com vida, dando, assim, importância ao seu teor. Aquele que dramatiza é aquele que interpreta, representa. Uma interpretação é uma explicação, um comentário, um desempenho. (PINTO, 1997, p. 118).

Este desempenho aparece na voz, no texto, no corpo, na relação entre os corpos. É possível afirmar, então, que a aparição do humor no telejornalismo é uma mistura de subjetividade e intencionalidade, sem excluir o fato de que, por trás da dramatização, houve uma escolha subjetiva de o que dramatizar, no caso do humor: o que será comentado, o que será tema de conversa entre os apresentadores, de que se achará graça. Quando pensamos o humor nos telejornais e falamos em intencionalidade e dramatização, questionamos com quê intenção e como se dramatiza.

Porque, como sabiamente Freud já assinalou, o chiste consiste fundamentalmente numa certa técnica, na forma, e não num conteúdo ou num sentido. Certamente, se dissermos a alguém que achamos os nova-iorquinos mal educados, que pouquíssimos são educados, a rigor, só dois etc, embora se possa dizer que este é o conteúdo daquela piada, isso não provoca nenhum efeito de humor. (POSSENTI, 1995, p. 17)

Para responder a essas duas perguntas, é necessário passar primeiro pelas questões da linguagem verbal e não-verbal, afinal:

nem só de mensagens verbais vive o ser humano. A linguagem participa de aspectos mais amplos que apenas o verbo. O corpo fala, a fotografia flagra, a arquitetura recorta espaços, a pintura imprime, o teatro encena o verbal, o visual, o sonoro, a poesia — forma especialmente inédita de linguagem — surpreende, a música irradia sons, a escultura tateia, o cinema movimenta etc. (CHALHUB, 1990, p. 6)

Ao se assistir ao ―Jornal Hoje‖, é possível perceber uma série de dispositivos – uns de verbo, outros não – que compõem um momento de humor no telejornal. Com fins didáticos, utilizaremos uma situação cômica que ocorreu na edição de 07/10/2010 para exemplificar tais fatores, já que representa o que acontece na maioria das vezes:

Logo após tecerem comentários acerca de uma matéria sobre cuidados com a catapora, Sandra Annenberg e Evaristo Costa estão sentados na bancada. Quando Sandra está terminando de dizer, olhando para a câmera: “na página do Jornal Hoje na internet você pode encontrar dicas sobre sintomas e cuidados com a catapora”, Evaristo, que estava um pouco reclinado à mesa, corrige sua postura, começa a sorrir (boca fechada, sem som) e, quando Sandra acaba de falar, direcionado à câmera, diz: “E lá na nossa página na internet também estão os números da Mega-Sena que rendeu um prêmio de R$ 119 milhões de reais para um único apostador...”. Evaristo se vira para Sandra quando está falando o final desta frase, a partir de “para”. Neste mesmo momento, Sandra começa a sorrir (sem som, boca fechada) e a balançar a cabeça de cima para baixo, em sinal de concordância. Sandra diz: “Sortudo, né...”. Ao mesmo tempo em que Sandra fala isto, Evaristo diz, sorrindo e apontando sua mão esquerda (aberta, dedos colados, palmas para cima) para Sandra: “Você veio trabalhar, né?”. Os dois dão gargalhadas (Sandra até inclina a postura um pouco para frente na primeira risada que solta) que continuam até mesmo enquanto Sandra responde: “Você também, né! Então não somos nós!”. Quando diz “você também”, Sandra aponta o dedo indicador direito para Evaristo, que, ainda rindo, assente à afirmação de Sandra inclinando sua cabeça para o lado esquerdo. Em “então não somos”, Sandra balança a cabeça algumas vezes em sinal de negativo, reforçado pelo movimento de sua mão direita que, aberta, com a palma para baixo, vai da esquerda para a direita. No mesmo momento em que Sandra está dizendo “somos nós”, Evaristo já começa a dizer, rindo e meneando a cabeça em sinal de negação: “Não, o sortudo não é de São Paulo...”. Em “São Paulo”, Evaristo se vira em direção à câmera e Sandra abaixa a cabeça para ler algo no papel que contém o script do jornal. Os dois permanecem com largos sorrisos nos rostos. Sandra dá risadas curtas e baixas, som de retomada de fôlego, enquanto Evaristo continua: “Ele é do

município de Fontoura Xavier, no Rio Grande do Sul”. Quando Evaristo fala “Fontoura Xavier”, Sandra levanta a cabeça, olha para a câmera, arma outro sorriso, levanta as sobrancelhas e meneia a cabeça levemente para dentro, franzindo o queixo, como quem está admirada. Evaristo termina de falar e olha para baixo, também para ler, sorrindo. Sandra muda de assunto, iniciando a passagem de bloco, quando ela e Evaristo param de sorrir.

O primeiro ponto a ser observado, aqui, é o da conversação que permeia a situação de humor. Em geral, é quando os dois apresentadores conversam que o humor se faz. ―Ao utilizarem a conversação para configurar suas estratégias de construção, os programas telejornalísticos tomam posse de práticas sociais já estabelecidas na vida cotidiana‖ (SILVA, 2007, p. 4). Isto faz com que as pessoas que assistem ao programa se reconheçam na televisão, uma vez que os narradores da notícia, ao conversarem, reproduzem uma circunstância que é comum ao cidadão telespectador. ―Os indivíduos estão de tal forma familiarizados com as regras da conversação que as utilizam de forma intuitiva e é isso que confere a impressão de espontaneidade tão atribuída à conversação‖ (idem). Esta espontaneidade, ainda que componente de uma dramatização planejada, é marcada, também, pela oralidade que se emprega nestes momentos, em que o predomínio é da linguagem oral informal; os apresentadores falam como falam os de casa – “Sortudo, né” [...] “Você veio trabalhar, né?”. Aqui, se observa que a informalidade aparece, no telejornal, como uma força norteadora, contribuinte na construção de um cenário de intimidade, o qual busca se dar não apenas entre os apresentadores, mas também na relação narradores da notícia e público. Da mesma maneira que acontece com a conversação, por conseguinte, tanto o uso da oralidade informal quanto a ideia de intimidade, projetada nas cenas de interação entre os apresentadores e também na linguagem, facilitam a presença do riso no telejornal. Em segundo lugar, está a abundância de movimentos corporais presente no exemplo citado, mas também na apresentação do ―Jornal Hoje‖ como um todo. Já que o corpo comunica, como reforça Norval Baitello (1999) ao afirmar que ―haverá sempre um sentido, uma mensagem a ser lida por um corpo vivo diante do outro corpo‖ (apud POSTALI, 2010, p. 43), é impossível pensar o humor no telejornal sem conceber a influência direta da utilização do corpo neste cenário, afinal, os sorrisos, os risos e as gargalhadas, bem como todas as suas variáveis, também são expressões corporais (idem) e, na interação entre os narradores da notícia, causam outros risos, sorrisos e gargalhadas.

[...] quando os homens se comunicam, lançam mão de todo um repertório: usam o corpo todo e todos os textos nele latentes ou manifestos participam de cada comunicação. Essas comunicações são textos do corpo: ―gestos‖ – aqui com um sentido mais amplo do que apenas a movimentação de uma parte do corpo, ampliado para todo texto do corpo até um largo acenar com os braços [...] – são todos gestos, textos da cultura, movimentos comunicativos do corpo impressos pelas leis físico-químico-biológicas entremeadas por uma determinada cultura. (CAMPELO, 1997, p. 77).

É possível perceber, ainda, que o uso dos corpos de Evaristo Costa e de Sandra Annenberg vai além da pontuação de frases que ocorre em todos os telejornais e até mesmo nas conversações diárias. Mencionada por Mônica Rector e Aluízio Trinta (1995), os autores sinalizam que ―estudos realizados mostram que [...] cada vez que há uma pausa breve ou vírgula na fala, muda-se a posição da cabeça ou da mão; e, quando ocorre uma pausa, mudase a posição do corpo ou da perna‖ (p. 62). Os apresentadores do ―Jornal Hoje‖ também se utilizam destes movimentos, como se pode ver no exemplo dado, em levantes de sobrancelhas e gestos-batuta, mas não apenas. Afora isso, inclinam suas posturas para frente e para trás – ora voltados um para o outro ora direcionados à câmera – e, apenas como outro exemplo, apontam dedos um para o outro e também para a câmera. Tanto quando se dirigem à câmera e chamam o cidadão para a conversa, para dentro da tevê, quanto nos momentos em que, por meio de conversas e risadas, em dramatização do cotidiano, mostram ao telespectador que são iguais a ele, é admissível afirmar que tais atos são tentativas de aproximação com o público. Como versa Silva (2010), ―não se separa [...] corpo e linguagem, já que nosso corpo é linguagem, e a linguagem, corpo‖ (p. 45). Portanto, o mesmo que se compreendeu ao observar os movimentos corporais de Evaristo Costa e Sandra Annenberg pode ser apreendido quando se atenta à fala de cada um dos apresentadores no telejornal. Samira Chalhub ensina que ―os noticiários de rádio e televisão têm, nuclearmente, a função referencial organizando a estrutura da mensagem‖ (1990, p. 11). A mesma autora explica: ―o uso da função referencial marca-se, lingüisticamente, com o traço da 3ª pessoa do verbo, ou seja, de quem ou do que se fala‖ (idem). É a linguagem da informação: ―Ele é de Fontoura Xavier, no Rio Grande do Sul‖, noticia Evaristo Costa no exemplo transcrito. Vera Íris Paternostro, em seu manual, ensina que o texto para o jornalismo televisivo deve ser ―coloquial, claro e preciso. Objetivo, direto. Informativo, simples e pausado‖ (PATERNOSTRO, 1999, p. 61). No entanto, durante a apresentação do telejornal, a regra por inúmeras vezes é quebrada, nos momentos que os apresentadores deixam o uso da função referencial (ênfase em terceiros) e passam a utilizar mais o ―eu‖, função emotiva (ênfase no emissor da mensagem), e o ―você‖, função conativa (ênfase no receptor da mensagem).

O uso da função conativa não é novidade nem é exclusivo do ―Jornal Hoje‖. Como aponta Gabrioti (2010), muitos jornais têm se utilizado deste artifício – de convidar o telespectador a participar do jornal –, para atrair audiência: ―os telejornais [...] têm percebido que precisam ser mais dialógicos com o público. Aquele formato engessado em que pesa a voz do âncora já não parece ter um efeito satisfatório nos grupos de recepção‖ (p. 151). O que há de diferente no ―Jornal Hoje‖, então? Podemos dizer que é o uso da função conativa por um apresentador em estímulo a uma resposta imediata do outro apresentador, que, via de regra, tem predominância da função emotiva. É o que ocorre neste diálogo entre Evaristo Costa e Sandra Annenberg, que aconteceu no último bloco do programa de 13/09/2010, após uma reportagem sobre cortes de cabelos para homens: Sandra diz, sorrindo: “Tava olhando o seu cabelo durante a reportagem, né?”. Durante esta fala, Sandra aponta com o dedo indicador para Evaristo. Evaristo responde, quase que ao mesmo tempo em que Sandra: “Tava olhando”. Evaristo dá uma gargalhada, durante a qual meneia a cabeça para cima e para baixo, em concordância, e depois inclina seu corpo para frente, com os braços cruzados, como quem não consegue se conter de tanto gargalhar. Sandra, direcionando sua mão direita a Evaristo, faz a pergunta: “Você tá cortando de quanto em quanto tempo?”. Evaristo responde, ainda dando risada: “Quinze em quinze dias”. Assim que Evaristo responde, Sandra abre suas mãos para os lados e olha em direção à câmera, como quem quer dizer “está explicado”. Importante é, novamente, ressaltar que não comparamos, aqui, o ―Jornal Hoje‖ com telejornais esportivos, como ―Globo Esporte São Paulo‖, da Rede Globo de Televisão, e o ―Jogo Aberto‖, da Rede Bandeirantes de Televisão, programas onde a utilização destes dispositivos lingüísticos (função conativa –> função emotiva), se dá em grande quantidade.

Análises acerca do humor no “Jornal Hoje”

Já buscamos compreender porque Evaristo Costa e Sandra Annenberg se utilizam constantemente do humor no ―Jornal Hoje‖, ao apontar que estas situações de humor aproximam os apresentadores ao telespectador, causando empatia e intimidade para com quem os assiste: ―O riso levanta as barreiras, [...] proporciona a aproximação e a familiaridade.‖ (BAKHTIN, 1997, p. 374). Também adiantamos que a maioria das situações

de humor ocorre durante as conversas protagonizadas, em geral, pelos dois apresentadores ou por eles com a ‗moça do tempo‘ ou algum repórter em link (participação ao vivo) – dos 63 momentos de humor identificados nas dez edições eleitas como amostras para análise, 57% deles eram permeados por diálogos. Mas, afinal, de quê riem os narradores da notícia do telejornal em questão? Wladimir Propp, em seu livro Comicidade e Riso, diz que o homem ri daquilo que é ridículo. ―Existem, certamente, outras causas também, mas esta é a mais comum e natural‖ (1992, p. 41). O jornalista e humorista Millôr Fernandes aponta para a mesma direção:

Inextirpável no ser humano, mesmo o mais sensível, o gosto perverso de contar piadas sobre minorias (no Brasil, negros, judeus, portugueses, bichas), grupos já discriminados pela natureza (anões, corcundas, aleijados), pessoas marcadas por características dramáticas (caolhos, capengas, manetas), ou com defeitos ridicularizáveis (gago, fanho, surdo) etc. (Fernandes, 1988, apud POSSENTI, 1998, p. 14).

Na pesquisa realizada, constatamos que das situações de humor que surgiram nas dez edições do ―Jornal Hoje‖ separadas para análise, a maioria, 44% delas tinham origem em algum elemento passível de zombaria: em 05/10/2010, Sandra Annenberg brinca com defeitos de seu cabelo – ―uma coisa que a gente sempre se preocupa é com uns fiozinhos que ficam arrepiados; de vez em quando baixa um „cebolinha‟ aqui em mim...‖ –; em 23/09/2010, Evaristo Costa caçoa da incapacidade de distinguir as estações do ano – “Se é que a gente consegue identificar quando estamos no verão, quando estamos na primavera...”.

[...] a contradição suscitadora do riso é a contradição entre algo que, por um lado, encontra-se no sujeito que ri, no homem que dá risada, e, por outro lado, naquilo que está em frente dele e que se manifesta no mundo que está à volta dele, no objeto de seu riso. [...] Partindo-se desse conceito de contradição, a primeira condição para a comicidade e para o riso que ela suscita consistirá no fato de que quem ri tem algumas concepções do que seria justo, moral, correto ou, antes, um certo instinto completamente inconsciente daquilo que, do ponto de vista das exigências morais ou mesmo simplesmente de uma natureza humana sadia, é considerado justo e conveniente. Nessas exigências nada há de sublime ou de majestoso, trata-se apenas do instinto do que é certo. [...] Em poucas palavras, o riso nasce da observação de alguns defeitos no mundo em que o homem vive e atua. A contradição entre esses dois princípios é a condição fundamental, o alicerce para o nascimento da comicidade e do riso que dela se produz. (PROPP, 1992, p. 174-175).

Há ainda outros elementos de humor que geram outras variáveis de risadas e sorrisos durante o telejornal, embora apareçam com menos frequência.

No Brasil, há o ―sorriso cordial‖ (―amável‖ ou ―simpático‖), o ―sorrir de orelha a orelha‖, o ―sorriso amarelo‖ e o ―sorriso sem graça‖. [...] Quando se trata do riso, há o ―riso sardônico‖, o ―riso sarcástico‖, o ―riso irônico‖ e o ―riso debochado‖; se nos irrita, é um ―risinho‖; se nos ofende, uma ―risada‖. Quanto à sua articulação, o riso admite pelo menos sete tipos: o sorriso simples; o riso articulado à expressão facial; o riso com todo o rosto; a risada compassada; a gargalhada prolongada; o riso convulsivo ou histérico; e o riso que leva às lágrimas. (RECTOR, TRINTA, 1995, 57-58).

Ao contrário dos momentos humorísticos em que os diálogos acontecem, nos quais geralmente os corpos (do centro-peito para cima, parte que a câmera mostra) ganham a tela da tevê para dramatizarem descontração e liberdade expressiva, nestas outras situações apenas o rosto aparece, recebendo maior importância na transmissão do humor. ―Afora o texto falado, a dramatização inclui, evidentemente, a linguagem não-verbal. Interessa aqui a gesticulação facial sobretudo, já que os enquadramentos são fechados‖ (PINTO, 1997, p. 118). Exemplificaremos estes outros tipos de elementos humorísticos no telejornal através de uma explanação acerca de dois risos sobre o quais Wladimir Propp discorre em seu tratado e que podem ser notados nas edições do ―Jornal Hoje‖: o riso alegre e o riso ritual.

Comecemos pelo riso alegre, muitas vezes sem nenhuma causa precisa e que pode originar-se dos pretextos mais insignificantes: o riso alegre e vivificador. [...] Desse riso sabem rir pessoas alegres por natureza, boas, dispostas ao humorismo. Demonstrar a vantagem e a utilidade geral e mesmo social desse tipo de riso saudável significa arrombar uma porta aberta. Com o domínio da estética ele só tem relação na medida em que pode ser representado artisticamente. (PROPP, 1992, p. 162-163).

Identificamos este riso alegre, classificado por Propp, até mesmo nos programas em que Evaristo Costa e Sandra Annenberg apresentaram os telejornais sozinhos. Para ilustrá-lo, transcrevemos a seguinte situação, ocorrida em 03/09/2010:

Sandra Annenberg está sentada e com a postura reta. Meneia levemente a cabeça ao falar “Boa tarde, Glória Maria”, em uma chamada ao VT em que Glória Maria anuncia as atrações do programa Globo Repórter daquela noite. Quando enuncia o nome da repórter global, Sandra Annenberg abre um largo sorriso (sem som), que permanece (porém, com a boca fechada, sem mostrar os dentes) até a entrada do VT.

Já o riso ritual acontece em várias edições observadas durante a pesquisa. Em todas elas, ocorre no começo do telejornal, antes mesmo de os apresentadores darem início à escalada – primeiro ‗quadro‘ do programa, quando os narradores anunciam as principais

notícias do dia. Caracterizado por claramente parecer combinado e sempre ocorrer no mesmo momento do telejornal, pode ser visto, por exemplo, na edição do dia 05/10/2010:

Sentados na bancada, câmera aberta nos dois, Sandra Annenberg e Evaristo Costa começam o jornal olhando para baixo, como se estivessem lendo algum papel sobre a mesa, logo em seguida se olham, sorriem (sem som e de boca fechada) um para o outro, e, com o sorriso no rosto, se viram para a câmera e dizem “boa tarde”.

Aos olhos do homem de hoje um riso intencional e artificial é um riso falso que merece reprovação. Mas nem sempre ele foi visto assim. Em alguns casos o riso era obrigatório, assim como em outros era obrigatório o choro, independente do fato de o sujeito sentir ou não dor. (PROPP, 1992, p. 164).

Outro dado interessante que se extraiu desta parte da pesquisa foi que das 63 situações de humor que surgiram nos dez programas analisados, quase a metade, 31 delas, ocorreu no primeiro bloco do programa, em geral, mais extenso que o segundo e terceiro bloco e, por consequência e supostamente isto explique, com mais tempo para o diálogo, que como vimos, é de onde se origina a maioria dos momentos de humor no ―Jornal Hoje‖.

Considerações Finais

As ideias frankfurtianas acerca da Indústria Cultural, embora de certa forma ultrapassadas no tocante à passividade da massa em relação à mídia, ainda se mantém relevantes quando o assunto é entretenimento. Os telejornais são produtos da Indústria Cultural e, portanto, não fogem à regra: servem prioritariamente para entreter o telespectador. O ―Jornal Hoje‖ – entendido como um produto de caráter híbrido, uma vez que mescla elementos do teatro, da novela, da publicidade, da revista, de outros programas televisivos, etc., para dar vida a um novo e próprio formato – está inserido dentro deste contexto da Indústria Cultural, do entretenimento e, consequentemente, da busca por audiência. Neste sentido, é relevante considerar o horário em que o telejornal passa e a quem deseja atingir: das 13h15min às 13h45min, logo após o almoço, quando donas-de-casa descansam da lida matinal, adolescentes e jovens chegam das escolas ou faculdades e trabalhadores relaxam um pouco antes de voltarem a suas empresas, o programa é seguido do

Vídeo-Show (sobre novelas, vida das celebridades, espetáculos, etc.) e do Vale a Pena Ver de Novo (que reapresenta novelas de sucesso da última década). Desta busca pela conquista do público-alvo, sendo um produto de entretenimento, compreende-se que o humor no ―Jornal Hoje‖ funciona como um dispositivo que procura, acima de tudo, aproximar os apresentadores Evaristo Costa e Sandra Annenberg de quem os assiste, causando a sensação no telespectador de intimidade e familiaridade com os narradores da notícia, tendo por eles empatia e, assim, prazer em assistir ao telejornal. O humor é, deste modo, uma das maneiras de o telejornal cumprir sua missão de entreter e angariar audiência. Visto que é intencional, o humor aparece, na maioria das vezes, quando o diálogo entre os apresentadores acontece. Movimentos corporais como gestos-batuta e apontamentos de dedo/mão um para o outro predominam nestas cenas, nas quais também os risos, risadas e gargalhadas contribuem para a dramatização humorística. Não somente, mas principalmente quando não há essa interação entre os narradores da notícia, o rosto e as expressões faciais ganham importância determinante para a transmissão das situações de humor. A utilização das funções emotiva e conativa da linguagem durante as conversações dos apresentadores é outro fator que contribui para o humor no ―Jornal Hoje‖. À medida que se aproximam / se igualam aos telespectadores para causar familiaridade, Evaristo Costa e Sandra Annenberg colocam em evidência um ao outro, contando experiências pessoais, estimulando o companheiro de apresentação a contar as suas ou emitir opiniões. É destes momentos que surge a maioria das situações cômicas, classificadas por Propp como de zombaria, porquanto advém da graça que o ―defeito‖ causa no ser humano. Por fim, ressaltamos que o humor no telejornal analisado só é possível, também, em razão das matérias que exibe em alternância com as factuais. Por ser um telejornal-revista, aborda temas como moda, turismo, comportamento humano e cultura. Temas estes que permitem o diálogo entre os apresentadores e, de igual forma, abrem brecha para o cômico.

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