Artigo: O diálogo brasileiro no jornalismo cidadão online

June 6, 2017 | Autor: Daiane Nora | Categoria: Jornalismo, Jornalismo participativo, Jornalismo Digital, Jornalismo Online
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
DEPARTAMENTO DE JORNALISMO
Trabalho Final de Teoria e Métodos de Pesquisa em Comunicação I




O diálogo brasileiro no jornalismo cidadão online


Nora, Daiane


Resumo:
Esse estudo busca enquadrar o diálogo no jornalismo cidadão online. Primeiro foi realizada uma pesquisa acerca do tradicional negócio do jornalismo. Depois, foi abordado o novo negócio do jornalismo, como ele tem se relacionado diferente com outros empreendimentos e consigo mesmo. Na sequencia foi sendo delineada características dessa atual forma de fazer jornalismo, quem a produz e a reproduz. Nisso, foi explicitado um novo fenômeno denominado jornalismo cidadão e descrito alguns sites e sistemas colaborativos. Adiante, foi destacada a ampliação do espaço público e a retomada do velho discurso dialógico.

Palavras-chave: Jornalismo; jornalismo cidadão; jornalismo colaborativo; internet; diálogo; dialética.

Introdução

Partilhar, distribuir, participar, tornar comum, comunicar: todos sinônimos da palavra latina communicare. O ato de comunicar possibilita o compartilhamento e a vida em sociedade aos seres humanos e animais. A troca de informações, através de expressões corporais, verbais, escritas, permite a existência da arte e da ciência, colabora com a transformação do homem e o concede poder de alterar o seu meio. Devido o conhecimento e o desejo de buscar melhores maneiras de satisfazer suas necessidades, cada ser humano desenvolve suas próprias técnicas para agir nos diversos âmbitos do cotidiano. A tecnologia utilizada na comunicação - a chamada TIC, Tecnologia da Informação e Comunicação - faz movimentar grandes empreendimentos e inúmeras pessoas, influencia a maneira que os indivíduos se informam, conhecem, aprendem e se relacionam. A internet viabiliza uma extensa variedade de recursos informacionais baseados em um sistema em rede, a World Wide Web. Ela é um espaço hipermidiático compartilhável que oportuniza a produção e distribuição de informação por qualquer um que possua acesso. Um campo que foi atingido por esse novo contexto é o do jornalismo. À maneira Gutemberg, o jornalismo possuí custos que demandam investimento financeiro e tempo, contudo na internet ele é barato, rápido e flexível. A produção jornalística em rede é um fenômeno complexo, além de estar em constante transformação devido o desenvolvimento das tecnologias, ela está susceptível a uma diversidade de indivíduos, grande parte não profissionais. Quando realizado por cidadãos comuns, esse jornalismo recebe o denominação de cidadão. O jornalismo cidadão na internet possui ações próprias que giram em torno da publicação de conteúdos em múltiplos formatos midiáticos, da participação em fóruns, comunidades, entre diversas outras atividades. O muro que separava o emissor do receptor hoje é transponível, uma via de mão dupla onde há diálogo e troca de papéis. O diálogo, do ponto de vista etimológico, é composto por duas palavras gregas: dia que pode ser traduzida como "por meio de", e logos traduzida como "palavra". Pode-se entender que diálogo traz a ideia de uma experiência guiada pela palavra, que interliga as pessoas e movimenta significados. Diferente do discurso retórico, o dialógico não busca manter uma posição ou ganhar um debate, sua dinâmica procura fazer ligações, formar redes de ideias concordantes e discordantes. O discurso retórico foi mais utilizado pelo jornalismo devido a inúmeras características, como suas qualidades discursivas especificas, mas principalmente devido ao caráter unidirecional das ferramentas utilizadas até então. Já o diálogo, encontra na internet espaço para prosperar. Quando realizado por jornalistas cidadãos, o diálogo colabora com a riqueza de informações em razão da pluralidade de vozes e perspectivas. Este trabalho visa observar como ocorre o diálogo brasileiro no jornalismo cidadão online, quem participa, como participa, como é a relevância e a eficiência desse tipo de interação.

Desenvolvimento

2.1 O negócio do jornalismo

O jornalismo tradicional, para Caio Túlio Costa (2014), é assentado em quatro setores: o primeiro encarregado pela produção de conteúdo; o segundo composto pelo conjunto de departamentos responsáveis pela gráfica, recursos humanos, administração e finanças; o terceiro especializado em vender publicidade; o quarto incumbido de realizar a circulação e distribuição. Recentemente, o monopólio da indústria jornalística foi enfraquecido com surgimento de novas empresas nesses setores. Segundo levantamento do Boston Consulting Group (2010, apud COSTA, 2014), a distribuição na indústria digital é dominada pela indústria de telecomunicações, que captura 60% do dinheiro, em torno de 2,5 trilhões de dólares ao ano. A recepção é dominada pela indústria produtora de computadores, laptops, tablets, celulares, que aufere 14% da renda. Outro setor é constituído pelos produtores de tecnologia, desenvolvedores de softwares, controladores de agregadores, buscadores, sites de comércio eletrônico, sites de serviços, redes sociais, portais, entre outros, somam 22% do faturamento. Devido a essa segmentação, sobrou à empresa jornalística a produção de conteúdo, que arrecada 7% da receita do negócio digital. Aliado apenas ao conteúdo, o jornalismo da era digital é concebido como 'jornalismo pós-industria', termo empregado no relatório Post-Industrial Journalism – Adapting to the present escrito por professores do Tow Center (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2012). Essa alteração na cadeia produtiva interfere tanto no sistema produtivo quanto no próprio produto. O grupo do Tow Center afirma que a integração vertical do sistema, resultante da agregação do conteúdo, impressão e distribuição, que existia no negócio analógico, desapareceu no digital. Já a integração horizontal do produto, proporcionada pela reunião do conteúdo no mesmo exemplar, está enfraquecida, pois o internauta escolhe por cada matéria e é indicado para outras. Ele também pode colaborar com a construção da matéria, enviando material para o jornalista, desenvolver matérias como um coautor, ou ele próprio pode fazer o papel de jornalista.

2.2 Definição de Jornalismo cidadão

De acordo com Donsbach (1987 apud KUNCZIK, VARELA, 1997) o jornalista é quem está comprometido com a elaboração de conteúdo, seja a apuração, reunião, processamento ou divulgação de notícias, comentários, ou de entretenimento. "Jornalismo é considerado a profissão principal ou suplementar das pessoas que reúnem, detectam, avaliam e difundem as notícias, ou que comentam os fatos do momento." (KOSZYK e PRUYS, 1976 apud KUNCZIK, VARELA, 1997). Para alguns autores, não é necessário ser um profissional para fazer jornalismo. Para Cheila Marques (2008) a pessoa sem formação acadêmica na área de jornalismo, que apresenta conteúdos informativos, é um jornalista cidadão. Axel Bruns (2005) diz que o jornalismo cidadão:

(...) aims to more accurately reflect a wider range of public views on specific issues (...). The movement sees especially newspapers and their Websites as instrumental in developing a new form of 'civic commons' where solutions to existing problems are found through constructive debates that are orchestrated and led by editors and journalists on their pages.

Na coleção de livros Conquiste a rede (2006), Ana Foschini e Roberto Taddei distinguem o termo jornalismo cidadão, de outros semelhantes, como o jornalismo cívico, participativo, colaborativo, grassroots e de código aberto:

O jornalismo cidadão: envolve a questão de cidadania na medida em que as pessoas assumem seu espaço na comunidade ao participar da produção de notícias e da comunicação, mas a prática ultrapassa os limites dos temas sociais ou cívicos e envolve qualquer campo do conhecimento humano.

Jornalismo cívico: feito pelos veículos de mídia com enfoque nos interesses do cidadão.

Jornalismo participativo: Ocorre, por exemplo, nas matérias publicadas por veículos de comunicação que incluem comentários dos leitores. Os comentários somam-se aos artigos, formando um conjunto novo. Dessa forma, leitores participam da notícia. Isso é mais frequente em blogs.

Jornalismo colaborativo: É usado quando mais de uma pessoa contribuiu para o resultado final do que é publicado. Pode ser um texto escrito por duas ou mais pessoas ou ainda uma página que traga vídeos, sons e imagens de vários autores.

Jornalismo código aberto: Surgiu para definir um estilo de jornalismo feito em sites wiki, que permitem a qualquer internauta alterar o conteúdo de uma página. Também pertencem a esse grupo vídeos, fotos, sons e textos distribuídos na rede com licença para serem alterados e retrabalhados.

Jornalismo grassroots: Refere-se à participação na produção e publicação de conteúdo na web das camadas periféricas da população, aquelas que geralmente não participam das decisões da sociedade. Quando elas passam a divulgar as próprias notícias, causam um efeito poderoso no mundo da comunicação.

Foschini e Taddei alertam que os termos não são excludentes, um jornalista cidadão também pode fazer jornalismo colaborativo.

2.3 Sistemas Colaborativos

Existem sistemas de softwares colaborativos, que contribuem com atividades realizadas coletivamente. Para esse tipo de software existem duas leis relevantes para citar. A lei de Metcalfe diz: "o valor de um sistema de comunicação cresce na razão do quadrado do número de usuários do sistema". Já a lei de Linus diz: "dados olhos suficientes, todos os erros são triviais". Os principais exemplos desses sistemas são e-mails, fóruns, blogs, wikis, redes sociais. Foschini e Taddei (2006) descrevem alguns desses sistemas:

E-mail: Trocar e-mails é uma das formas de participar da internet, bem explorada em listas que reúnem pessoas com interesses comuns. Nessas listas de debate, os integrantes de um grupo recebem ou têm acesso a todas as mensagens enviadas para um determinado endereço. É uma maneira de compartilhar informações.

Fórum: É um espaço na web para discussões e troca de idéias onde os internautas deixam comentários, perguntas, críticas ou opiniões sobre tópicos variados. Ao lado das listas de email, está entre as formas mais antigas na webde agrupamento e prática de jornalismo cidadão.

Blog: Abreviação de weblog, é uma página pessoal atualizada regularmente por uma pessoa ou um grupo. Desponta como o fenômeno mais popular desse novo universo, com milhões de exemplos espalhados pelo mundo. Em um blog, é possível publicar qualquer tipo de conteúdo, de textos a vídeos. Com ferramentas próprias de interação, por meio de comentários adicionados por qualquer leitor a cada novo post, os blogs tornaram-se a ferramenta de comunicação por excelência de cidadãos digitais [...].

Flog: Abreviação de fotoblog, é um blog feito com fotos. Seu número cresceu com a popularização das câmeras digitais e dos celulares com câmeras. Flogs atualizados por celular são os chamados "moblogs" (de "mobile", palavra que em inglês refere-se ao telefone celular).

Vlog: Abreviação de videoblog, o blog feito com vídeos. Um fenômeno que evolui rapidamente, já que a maioria das câmeras digitais e celulares também captura imagens em movimento.

Podcast: É uma forma de distribuir arquivos digitais pela internet. Vem da fusão de duas palavras: iPod, o tocador de arquivos digitais da Apple, e broadcast, que significa transmissão em inglês. O nome surgiu relacionado ao iPod, mas extrapolou a associação e passou a ser utilizado para definir um tipo de divulgação de arquivos de som, vídeo e imagens. O podcast tem vários programas, ou episódios, como se fosse um seriado de arquivos. Eles ficam hospedados em um endereço na internet e, por download, chegam ao computador pessoal. A divulgação do podcast é feita por um arquivo RSS, que traz informações relacionadas aos programas ou episódios. O público assina o podcast utilizando um agregador, um programa que interpreta o RSS e faz o download das novidades.

Wiki: Sites wiki permitem alterar, apagar, reescrever ou adicionar conteúdos sem a necessidade de muitos conhecimentos técnicos. [...] O Wikinotícias é um exemplo, no qual os leitores redigem e publicam notícias, que podem ser editadas, ampliadas e reescritas por qualquer outro leitor ou cidadão jornalista. Wikis são hoje muito utilizados para a criação interativa de documentos, inclusive dentro de empresas, reforçando a idéia de colaboração e troca de conhecimento.

Comunidade: Comunidade – Blogs, flogs, vlogs, podcasts, wikis, listas e fóruns exploram o potencial da rede para criar comunidades. Participar efetivamente delas é uma forma de praticar o jornalismo cidadão e você pode escolher entre atuar nas que já existem ou criar uma nova.

De acordo com Foschini e Taddei, os recursos da internet tornaram popular o jornalismo cidadão, mas isso não quer dizer que ele só exista online. Um fanzine é um exemplo.

2.4 Sites colaborativos

Existem sites específicos de jornalismo colaborativo. Para Felipe Pena (2005, apud MADUREIRA, 2010) sites colaborativos, só podem ser avaliados como jornalísticos ao reunirem informações de diferentes fontes. A preferência é que sejam fontes primárias, que possuam experiência direta com o fato. Conforme Madureira (2010), a colaboração online no jornalismo apareceu inicialmente na Ásia e nos Estados Unidos da América no final dos 90. Um dos primeiros foi o site Indymedia desenvolvido por ativistas e organizações de mídia independente afim de efetuar uma cobertura alternativa do fórum da Organização Mundial do Comércio de 1999 em Seattle. Outro exemplo é o site Slashdot, que possui estrutura de blog e é uma comunidade. Consoante Bowman e Willis (2005, apud MADUREIRA, 2010) o Slashdot "permite a participação de múltiplas vozes, ao mesmo tempo em que gerencia a ordem social e provê um filtro útil à discussão". O mais famoso exemplo é o site sul-coreano OhMyNews que em 2009 tinha a colaboração de cerca de 70 mil pessoas. A participação requer o preenchimento de um cadastro detalhado, com dados da identidade, carteira de motorista e passaporte. No Brasil, um bom exemplo é o site Centro de Mídia Independente formado por voluntários que postam matérias, participando de discussões e realizam movimentos sociais. É uma rede que possui versões em vários países. De acordo com o CMI Brasil, ele é uma "rede de produtores e produtoras independentes de mídia que busca oferecer ao público informação alternativa e crítica de qualidade que contribua para a construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente". Outro exemplo é o coletivo virtual Overmundo, que é um veículo de publicação da produção cultural brasileira. Ele utiliza a licença Creative Commons a fim de permitir o compartilhamento do conteúdo para fins não comerciais. O último exemplo é o site Catraca Livre , nascido como blog, evoluiu para a proposta colaborativa. Em 2012 recebeu o premio de Melhor Blog em Língua Portuguesa segundo a emissora alemã Deustche Welle.

2.5 Diálogo

Em meio a essa transformação tecnológica, cultural, social, há quem diga que estamos retornando ao modo de pensar das culturas orais de eras anteriores. Essa ideia provêm da teoria chamada Parênteses de Gutenberg, surgida em uma discussão entre professores da Universidade do Sul da Dinamarca. O grupo teorizou que a era Gutenberg pode ser apenas um parênteses na trajetória da civilização, uma interrupção na fluência natural da comunicação humana, que agora está para retornar às tradições orais baseadas na conversa. Em entrevista para O Globo em 2010, o professor Thomas Pettitt conta mais detalhes sobre sua versão da teoria:

Minha teoria é que há uma conexão entre os livros e uma visão de mundo que separa as coisas em categorias rígidas. A tribo que chamo de "gente do livro" parece gostar de categorias. É apenas durante o Parêntese de Gutenberg que as pessoas insistiram tão "categoricamente" em que alguém é macho ou fêmea, negro ou branco, humano ou animal, ser vivo ou máquina. Na Idade Média, antes da imprensa, as misturas eram mais toleradas, e parece que estamos voltando a essa tolerância.

Ele também fala das categorias de mídia, onde se pensava que a escrita era mais verdadeira que a fala, a imprensa mais verdadeira que o manuscrito. Contudo essa perspectiva está sendo alterada. Em entrevista para Megan Garber do Niemanlab em 2010, Thomas Pettitt explica o por quê:

What's happening now is there's a breakdown in the categories. Yes. Informal messaging is starting look like books. And books are being made more and more quickly. Some books seem to be like they are libe bound fotocopies. You can make a book – you can do desktop publishing. We can no longer assume that what`s in – we're not distinguishing so much: "if it's in a book, it's right", "if it's in writing, it's less right", and "if it's in speech, it's less reliable". We don't know where we are.

É uma ideia controversa, principalmente nesse atual contexto, onde cada vez mais rápido são desenvolvidas novas tecnologias. Há algum tempo, meios como o rádio, o cinema e a TV, começaram a restituir a oralidade, contudo uma oralidade unidirecional, de um para muitos. Com a internet, mesmo a escrita ganha um caráter oral e uma abrangência inimaginável, a conversa pode ser de muitos para muitos.
Segundo a editora-chefe do Guardian, Katharine Viner, na palestra em Melbourne em 2013, a notícia na internet passou a ser constantemente atualizada, mudada, melhorada, capaz de produzir colaboração, conversação. Giles Wilson, editor do blog da BBC em entrevista para o Estadão em 2008, afirma que "o jornalismo mudou. Está virando uma conversa. Não é mais via de mão única". O diálogo no jornalismo esteve limitado até então. Principalmente pelo caráter unidirecional das suas ferramentas de distribuição, mas também pela preferencia ao tipo discursivo consoante ao pensamento científico moderno. Para Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), pode-se discriminar três tipos de discurso argumentativo: a que ocorre entre um emissor único e seu público universal (retórica), entre um orador e um interlocutor (dialética), e aquela que acontece entre o sujeito que argumenta consigo próprio (lógica). A retórica bem se encaixou na comunicação de massa e às ferramentas disponíveis. Vanessa Hauser explora como essa retórica também embasa uma perspectiva política, jurídica e científica no seu trabalho de dissertação de pós-graduação em jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina:

O jornalismo pode ser inserido em três gêneros retóricos: ao mesmo tempo em que demonstra que certos fatos realmente aconteceram e precisa provar isso para garantir sua legitimidade (gênero demonstrativo), é um espaço de discussão política e expressão de opiniões diversas (gênero deliberativo) e também de acusação e defesa, na medida em que investiga e denuncia certos fatos (gênero jurídico). (HAUSER, 2012, parênteses nosso)
De acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca, a retórica se limita a técnica do discurso contínuo:
Mas um discurso assim, com toda a ação oratória que comporta, seria ridículo e ineficaz perante um único ouvinte. É normal levar em conta suas reações, suas denegações e suas hesitações e, quando constatadas, não há como esquivar-se, [...] cumpre informar-se das razões da resistência do interlocutor, penetrar-se de suas objeções: o discurso degenera invariavelmente em diálogo. (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005).
A dialética é um estilo argumentativo que se constrói com a contraposição de ideias. Alguns estudiosos acreditam que foi fundada por Zenão de Eleia (aprox. 490 a.C). Protágoras (aprox. 480 a.C) desenvolveu a argumentação dialética baseada na antítese. Com sua técnica da contradição e antilogia, ele mostrou a possibilidade de abarcar em um argumento diferentes pontos de vista. A argumentação, ao contrário da evidência, envolve problemas que não estão resolvidos totalmente, pois não são evidentes. Eles dependem de possibilidades ou probabilidades. "Por ora é possível concluir que quanto menos evidente for algo e quanto mais sujeitos estiverem envolvidos neste algo, maior será a centralidade da argumentação, pois dela irá depender uma solução, ainda que não definitiva." (HAUSER, 2012). Outros autores como Mora (2001, apud HAUSER, 2012) acreditam que quem deu início a dialética foi Sócrates. O filósofo interrogava as pessoas constantemente e utilizava a dúvida como sua aliada. A desconfiança, vista como um problema no século XXI, como um perigo para a credibilidade jornalística, era fundamental para Sócrates e para a dialética.
Conclusão

A atuação do jornalismo na internet é um fenômeno recente que necessita de investigações. A alteração na cadeia de valor da empresa jornalística interfere na maneira que é produzida e disseminada a informação. Isso possui grandes consequências políticas e sociais. O oligopólio das corporações midiáticas está enfraquecendo, o discurso dominante está se fragmentando, os cidadãos estão tomando o poder do discurso. O diálogo então aparece naturalmente como uma via para trabalhar com essa pluralidade de vozes e perspectivas. A verdade e a categorização estão dando lugar à desconfiança e à mistura. O maniqueísmo está se diluindo com a aproximação dos opostos. O real começa a ser construído colaborativamente entre as pessoas. Como visto, o conceito tradicional da dialética envolve a argumentação entre duas pessoas. Neste ponto, é preciso ressalvar que o jornalismo na internet amplia consideravelmente esse campo de ação, a internet torna possível o diálogo entre muitas pessoas ao mesmo tempo, em lugares diferentes, profissionais ou não, o que colabora com o grande debate público.
Referências bibliográficas

ANDERSON, C.W; BELL, Emily; SHIRKY, Clay. Post-Industrial Journalism: Adapting to the presente. Columbia: Centennial, 2012.

BRUNS, Axel. Gatewatching: Collaborative Online News Production. New York: Peter Lang Publishing Inc., 2005.

COSTA, Caio. Um modelo de negócio para o jornalismo digital: como os jornais devem abraçar a tecnologia, as redes sociais e os serviços de valor adicionado. Revista de Jornalismo ESPM, São Paulo, n. 9, p. 51-115, abril, maio e junho de 2014.

HAUSER, Vanessa. Jornalismo, retórica e dialética: Incursões teóricas. 2012. Dissertação (Pós-Graduação em Jornalismo), Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2011-2012.

KUNCZIK, Michael; VARELA, Rafael. Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul - Manual de Comunicação. São Paulo: EdUSP, 1997

MADUREIRA, Francisco Bennati. Cidadão-fonte ou cidadão-repórter? O engajamento do público no jornalismo colaborado dos grandes portais brasileiros. 2010. Dissertação (Escola de Comunicação e Artes)-USP. São Paulo, 2009-2010.

MARQUES, Cheila Sofia Tomás. O cidadão jornalista: realidade ou ficção? Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 2008

PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da Argumentação: Nova retórica. Tradução de Martins Fontes, São Paulo, 2005.
FOSCHINI, Ana Carmen; TADDEI, Roberto Romano. Coleção conquiste a rede. São Paulo: podcast, 2006

4.1 Referências obtidas na web:

PETTIT, Thomas. Tecnologia. Nova York, O Globo, 2010. Entrevista a Fernanda Godoy. Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/em-entrevista-professor-thomas-pettitt-defende-que-novas-midias-levam-humanidade-de-volta-a-2928880 Acesso em: 29 jun. 2015.

PETTIT, Thomas. The Gutenberg Parenthesis: Thomas Pettitt on parallels between the pre-print era and our own Internet age. Niemanlab, 2010. Entrevista a Megan Garber. Disponível em: http://www.niemanlab.org/2010/04/the-gutenberg-parenthesis-thomas-pettitt-on-parallels-between-the-pre-print-era-and-our-own-internet-age/ Acesso em: 29 jun. 2015.

SCHAFFER, Jan. Citizen Media: Fad or the Future of News. Estados Unidos da América, 2007. Disponível em: www.kcnn.org/research/citizen_media_report. Acesso em: 29 jun. 2015.
VINER, Katharine. The rise of the reader: journalism in the age of the open web. The Guardian, 2013. Disponível em: http://www.theguardian.com/commentisfree/2013/oct/09/the-rise-of-the-reader-katharine-viner-an-smith-lecture Acesso em: 29 jun. 2015.

WILSON, Giles. Acabou o monólogo do jornalismo. Estadão, 2008. Entrevista a Rodrigo Martins. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,acabou-o-monologo-no-jornalismo,1187 Acesso em: 29 jun. 2015.

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Trabalho apresentado à Disciplina Teoria e Métodos de Pesquisa em Comunicação I, do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, no primeiro semestre de 2015, ministrada pela professora Drª Cárlida Emerim
Graduanda em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 5 Fase, e-mail: [email protected]


tem como objetivo refletir com mais precisão uma gama de pontos de vista sobre temas específicos (...). O movimento vê especialmente jornais e seus sites como fundamentais no desenvolvimento de uma nova forma de "civic commons' onde as soluções para os problemas existentes são encontrados através de debates construtivos, orquestradas e liderados por editores e jornalistas em suas páginas.


www.indymedia.com
www.slashdot.org
www.ohmynews.com
www.midiaindependente.org
www.overmundo.com.br
www.catracalivre.com.br
O que está acontecendo agora é que há um colapso nas categorias. Sim. Mensagens informais estão começando a parecer como livros. E os livros estão sendo feitos mais e mais rapidamente. Alguns livros parecem ser como fotocópias. Você pode fazer um livro - você pode fazer editoração eletrônica. Não podemos mais assumir o que está dentro disso - nós não estamos distinguindo muito: "se é em um livro, é certo", "se é por escrito, é menos certo" , e "se é falado, é menos confiável ainda". Nós não sabemos onde estamos.


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