Artigo Tecnologia e Participacao Inara e Karina

July 1, 2017 | Autor: Karina Torres | Categoria: Jornalismo, Jornalismo Online, Velocidade
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A tecnologia como instrumento de participação no telejornalismo regional



Inara Souza da Silva [1]
Karina Torres de Oliveira [2]


Resumo: Este estudo faz parte da pesquisa "Jornalismo: Relação da
tecnologia e o fator humano no dia a dia da profissão" e apresenta uma
análise da participação do público no telejornalismo regional. Para análise
foi escolhido o programa O Povo na TV, exibido pela emissora SBT MS, que
tem como um dos pontos principais a participação do telespectador, ao vivo,
por meio de telefone e redes sociais na internet. O público é incentivado a
emitir opinião em relação a assuntos polêmicos na sociedade e, desta forma,
concorre a prêmios oferecidos pelo programa. Os objetivos do trabalho foram
identificar os espaços abertos ao telespectador e classificar quais as
formas de participação do público, conforme as tipologias definidas por
Bordenave (1994).

Palavras-chave: Telejornalismo Regional; Jornalismo Participativo; Tipos de
Participação; Tecnologia da Informação; Audiência.




1. Introdução


O avanço da informatização e da cibernética, em meados da década de
1970, é considerado por Marcondes Filho (2002) como uma das maiores
transformações sofridas pelo jornalismo ao longo da história. O fenômeno,
além das novas tecnologias da informação, trouxe mudanças no campo do
conhecimento e da cultura. Lemos (1997) acrescenta que as tecnologias
digitais trazem novas formas de circulação de informações e, agora a
comunicação pode ser desempenhada de um modelo "Todos-Todos", isto é, as
mensagens podem circular de forma descentralizada.
Diante deste cenário, os meios tradicionais se veem obrigados a se
modernizar, reconfigurando as velhas práticas, com a adoção das novas
ferramentas disponíveis para a comunicação e distribuição de informação.
Uma das formas de se adaptar às novidades tem sido a aproximação com o
público, por meio de aplicativos e redes sociais na internet. Desta forma,
a mídia tradicional passa a receber contribuições da audiência que está
cada vez mais ativa.
As emissoras regionais, a exemplo das nacionais, têm adotado às
tecnologias digitais em suas programações e, na busca pela audiência,
utilizam de meios de fácil acesso ao público-alvo, atraindo-o através dos
sorteios realizados mediante a participação nos programas. Um exemplo desta
prática é programa O Povo na TV, transmitido pelo SBT-MS, diariamente, de
segunda-feira a sábado, em Mato Grosso do Sul.
Para verificar que tipo de participação o público tem dentro deste
produto foram monitorados dois dias de exibição do programa – 30 de junho e
1º de julho de 2015. Num primeiro momento foi feita a identificação dos
espaços de participação, que são os momentos de enquetes e abertura para
comentários sobre temas de grande repercussão nacional. Posteriormente,
esta participação foi classificada conforme as tipologias definidas por
Bordenave (1994) que define cinco tipos de participação, que no presente
estudo foram agrupados em institucionalizada (provocada ou voluntária) e
concedida, na qual o indivíduo pode ser parte do poder de decisão.


2. Telejornalismo e participação


Desde a década de 1950, a televisão tem tido grande influencia na
sociedade, com impacto singular na vida das pessoas, contribuindo para
mudanças políticas e sociais, fatos que afetam a forma como a sociedade
aprende e se comunica (Kellison, 2006). O meio nasceu como fruto da
tecnologia da comunicação e, conforme Kellison (2006), logo passou a
veicular produtos criativos e informativos. Neste caso, a televisão tornou-
se suporte para conteúdos jornalísticos, adotando a linguagem audiovisual –
já utilizada no cinema – com foco na narrativa de acontecimentos sociais.
Eco (1983 apud FRAZÃO, 2007) aponta que o período compreendido entre a
década de 1950 até 1970, foi o primeiro grande momento da televisão. Época
batizada por ele de Paleotelevisão, em que havia poucos televisores, poucas
emissoras, o monopólio e o controle do Estado. Kellison (2006) acrescenta
que na década de 1970, a televisão tornou-se mais audaciosa e inovou com a
adoção do imediatismo na transmissão das notícias em seus telejornais. Tudo
isso graças aos avanços tecnológicos – câmeras portáteis e de baixo custo,
além do uso satélites, que possibilitavam transmissões de notícias locais,
nacionais ou internacionais, ao vivo ou gravadas.
Aos poucos, o modo de fazer conteúdo foi mudando e a televisão dos
anos 2000, segundo Kellison (2006), investiu em novos programas que abriram
espaço para elementos gráficos e efeitos musicais e acrescentam uma faixa
de noticiário abaixo da figura do apresentador. Outra novidade da década
foram os realities shows. Scolari (2009 apud FRAZÃO 2007) classifica o
período atual de Hipertelevisão, marcado pela possibilidade de maior
participação do público, que agora pode – além de sugerir temas para a
cobertura jornalística – participar do processo noticioso enviando vídeos
com registros de fatos inéditos e entrevistas. Tudo isso devido aos avanços
tecnológicos que propiciam novos formatos e acessos por meio do uso de
notebooks, câmeras portáteis, tablets e smartphones.
Com base na evolução tecnológica da televisão, Lemos (1997) faz uma
classificação do meio em relação aos níveis do que ele chama de interação
técnica. Segundo o autor, a palavra interatividade tem sido muito usada em
relação aos meios eletrônicos: "redes interativas como Internet, jogos
eletrônicos interativos, televisões interativas, cinema interativo" – mas,
estas são formas de interação técnica, ou seja, de cunho "eletrônico-
digital", a lógica que caracteriza a mídia tradicional é o que ele chama de
"interação analógica".
Para Lemos (1997), diariamente, os indivíduos participam de formas de
interação que são ao mesmo tempo técnica e social, porém o que tem sido
classificado como "interatividade" (digital) relacionada aos novos meios,
ele prefere definir como "interação técnica". Segundo ele, a interatividade
propriamente dita não ocorre. Para Lemos (1997), a interatividade é o
diálogo entre homem e a máquina, em tempo real. Neste caso, ao interagir
com o sistema digital, usuário interage com o objeto (a máquina ou a
ferramenta) e também com a informação, como é o caso da televisão
interativa digital.
Com base em Lemos, o presente estudo utiliza-se do termo interação
técnica. O autor classifica os níveis de interação na TV e aponta que o
período em que a televisão tinha imagens em preto e branco, com poucos
canais é chamado de interação "nível 0", uma vez que o telespectador pode
apenas ligar ou desligar o aparelho, mudar o canal, além de regular o
volume, brilho ou contraste. A interação "nível 1" ocorre quando a
televisão ganha cores, aparecem novas emissoras e o controle remoto –
instrumento no qual o telespectador comanda a mudanças de canais e conta
com uma certa autonomia.
No "nível 2", a TV ganha equipamentos que possibilitam seu uso para
outros fins, como as câmeras portáteis, vídeo games e videocassetes, o que
permite a gravação da programação para assistir depois. A interatividade de
cunho digital aparece no "nível 3", quando a audiência pode interferir no
conteúdo com o uso de telefone, fax ou e-mail. Lemos (1997) acrescenta que
no "nível 4", é a época da "Televisão Interativa", que possibilita a
participação no conteúdo informativo em tempo real, com a escolha de
ângulos e câmeras, por exemplo.


3. Jornalismo Participativo


Para Bordenave (1991) sempre houve uma demanda popular por
participação nos meios de comunicação. O autor explica que o termo
participação pode ter vários significados, como 'fazer parte de algo',
'tomar parte em algo', ou 'ter parte em alguma coisa. 'Fazer parte de algo'
está relacionado a uma situação de fato, a algo adquirido quase ou de forma
involuntária; já 'tomar parte' diz respeito a alguém responsável por uma
atividade específica dentro de uma ação coletiva; e 'ter parte' refere-se a
algo permanente, conquistado e adquirido. E é neste sentido, que o autor
alerta a dificuldade das formas de participação nos meios de comunicação de
massa, uma vez que a própria natureza tecnológica desses meios sempre foi
baseada na difusão de mensagens. Desta forma, o autor acredita que o
público 'ter parte' na comunicação torna-se um grande desafio.
Quanto aos tipos de participação social, Bordenave (1994) explica que
existe a participação de fato (o primeiro tipo de participação no ambiente
familiar), a espontânea (adesão a grupos, como a vizinhança) e a imposta na
qual as pessoas são levadas a participar em função de códigos morais ou
definidos pelo grupo. Tem ainda a participação voluntária, em que o grupo é
criado pelos próprios participantes, como os sindicatos; a participação
provocada – impulsionada por um agente externo que ajuda um grupo ou o
manipula para realizar seus próprios objetivos, sendo que neste caso uma
participação voluntária pode também ter sido provocada. Destas formas de
participação, o autor ressalta que a voluntária e a provocada são tipos
institucionalizados de participação.
E, por último, o autor apresenta a participação concedida, na qual o
indivíduo "viria a ser parte do poder ou de influência exercida pelos
subordinados e considera como legítima por eles mesmos e seus superiores"
(BORDENAVE, 1994, p.28), como é o caso onde o empregado pode fazer
sugestões no planejamento da empresa ou, no jornalismo, contribuir para a
definição de assuntos que vão entrar para a cobertura noticiosa.
Neste estudo, dos cinco tipos de participação, três serão
consideradas para a análise, uma vez que as duas primeiras têm ligação
somente com as relações no seio da sociedade, sem uso da tecnologia (de
fato e a espontânea). As demais foram agrupadas em "institucionalizada"
(provocada ou voluntária) e " concedida", na qual o indivíduo pode ser
parte do poder de decisão.
Zanotti (2010) afirma que a participação do público não é novidade
para o noticiário, pois antes da internet, a colaboração já era feita com
sugestões dos cidadãos por meio de cartas, telefonemas e visitas às
redações de jornais, rádios ou TVs. Já o termo jornalismo participativo,
segundo Frazão (2012), ganhou expressividade em meados da década de 1990
com o surgimento dos blogs e, posteriormente, pela popularização das redes
sociais na internet.
Ainda não há uma conceituação unânime entre os pesquisadores sobre o
termo jornalismo participativo, ele pode ser classificado também como
jornalismo cidadão, jornalismo open source ou outras nomenclaturas. Primo e
Trãsel (2006, p. 9, apud Zanotti 2010), por exemplo, definem o jornalismo
colaborativo como "práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um
periódico noticioso na web, onde a fronteira entre produção e leitura não
pode ser claramente demarcada ou não existe".
Já Holanda, Quadros, Palácios e Silva (2008 apud Zanotti, 2010),
defendem que a participação no jornalismo independe de suporte específico,
ou seja, pode acontecer na web e fora dela. O que caracteriza o jornalismo
participativo, de acordo com os autores, é a criação e adoção de mecanismos
que promovam o envolvimento do público nas diversas etapas do processo de
construção e distribuição das notícias. Por este enfoque, é considerado
jornalismo participativo toda prática jornalística que envolve a
participação do público na elaboração do conteúdo a ser veiculado pelo
noticiário, seja ele, radiofônico, impresso, televisivo ou em redes
digitais. E este é a conceituação de jornalismo participativo adotada no
presente estudo.

4. Jornalismo Regional


Em meio às ofertas de conteúdos variados nas TVs abertas e fechadas, a
mídia local também se expandiu no Brasil tanto em quantidade, quando em
qualidade. Segundo Dornelles (2004), este avanço está relacionado a vários
fatores, como o cultural, o econômico, o político, o ideológico e o
educacional. Cicillini (2006) explica que, independentemente da linha
editorial, o leitor identifica-se com o jornal de sua cidade, uma vez que
ele informa o que lhe interessa e está mais próximo. Para a autora, a
redescoberta do conceito de proximidade configura-se uma forma para
recuperar públicos que normalmente utilizam-se dos grandes meios de
comunicação de massa.
O conceito de "imprensa regional" está atrelado aos conceitos de
jornal local e jornal comunitário. Os dois termos se confundem, mas
Dornelles (2004) esclarece que são diferentes. O jornal local, ao longo da
história, adotou especificidades que surgiram com maior expressividade no
comunitário, como ações junto às comunidades carentes e disseminação da
diversidade cultural. No entanto, enquanto a mídia local está inserida no
contexto da cultura capitalista, ou seja, visa o lucro e pretende crescer,
sempre que possível, ampliando área de abrangência; a imprensa comunitária
está limitada à determinada área para garantir a comunicação da comunidade,
divulgação suas reivindicações.
O princípio do jornalismo de proximidade é que a imprensa local ou
regional deve manter a comunidade atualizada das informações de sua área de
abrangência, mas não deixá-la alheia aos acontecimentos que influenciam
direta ou indiretamente seu cotidiano. Para Pimentel (2002 apud CORTES;
RAMALHO, 2005), os desafios não são apenas tecnológicos, mas editoriais. O
autor explica que os jornais podem trabalhar a visão localizada dos
assuntos aliando à cobertura nacional e internacional. Esta medida permite
que o produto tenha um diferencial concorrendo com os nacionais em sua área
de abrangência.
Dornelles (2004) acrescenta que até os grandes veículos de massa, que
dão mais enfoque à cobertura de longa distância, passaram a regionalizar
seus conteúdos, abrindo cadernos para municípios, regiões e até para
bairros da capital do Estado. Martins e Silva (2005) acrescentam que, além
de tornar a comunidade local representada, o jornalismo regional pode
ampliar, de forma democrática, o espaço de discussão dos interesses
vigentes. Cortes e Ramalho (2005) afirmam que um dos desafios do jornalismo
regional é possibilitar a participação da sociedade no jornal ou
telejornal, com suas reivindicações e denúncias.


1. O Povo na TV


O programa O Povo na TV[3] foi ao ar pela primeira vez em 1982, pela
TV Campo Grande, que na época afiliada da TVS – atual SBT (Sistema
Brasileiro de Televisão). O modelo – inédito no telejornalismo estadual –
era o mesmo adotado pela emissora em rede nacional, com foco em casos
polêmicos e na defesa do consumidor.
Durante 24 anos, o programa foi apresentado pelo deputado estadual
Maurício Picarelli, que deixou a atração em 2006. Após duas trocas seguidas
de apresentadores, em 2013, o jornalista Tatá Marques assumiu o comando do
programa, que conquistou, em 2014, a liderança da audiência na faixa de
horário, conforme informações apresentadas no site da emissora.
Com 1 hora e 30 minutos de duração diária, o programa começa às 10h55,
de segunda à sexta-feira, sendo que aos sábados, vai ao ar às 11 horas e
dura 1 hora e 15 minutos. Sua página na internet informa que O Povo na TV
trata de casos policiais e novidades da capital (Campo Grande) e do
interior do Estado; além de curiosidades, vídeos e temas polêmicos a serem
discutidos com o público, ao vivo, seja pelas redes sociais na internet ou
pelo telefone. O objetivo, conforme o site, é possibilitar a visualização
da opinião pública sobre os assuntos, que são tratados de maneira direta.
O texto institucional informa que o conteúdo do programa tem caráter
jornalístico, comunitário, policial e social. Quando à linguagem, o site
ressalta que o apresentador faz "comentários com total imparcialidade" para
impor "seriedade nos assuntos mais polêmicos, e utiliza do bom-humor para
tratar as notícias e curiosidades do Brasil e do Mundo". Para incentivar a
participação, o programa promove sorteios de prêmios para os
telespectadores, sendo que a maioria da audiência faz parte da classe C.
Durante a transmissão há espaços também para a propaganda de produtos e
serviços, no formato de merchandising.


5. A participação em O Povo na TV
Para estudar a participação no programa O Povo na TV foram monitorados
dois dias de exibição – 30 de junho e 1º de julho de 2015, totalizando 3
horas e 3 minutos de gravação. O programa tem o padrão de cinco blocos, com
variação de 15 a 28 minutos de duração. No dia 30 de junho, o programa teve
1h 32minutos, e 1h31 minutos no dia seguinte (1º de julho). Neste período
estudado, a participação da audiência ocorreu de duas formas, sempre ao
vivo: pelo telefone e por meio de comentários na página do programa no
Facebook – rede social disponível gratuitamente na web e que pode ser
acessada tanto pelo computador ligado à internet, quanto por tablets,
notebooks e smartphones.
Nos dois dias, houve sorteio de uma cesta básica por meio do telefone,
aos cinco minutos do primeiro bloco. No dia 30, após o sorteio da cesta,
aos 7 minutos, o apresentador apresentou as opiniões dos telespectadores
expressas na rede Facebook do programa. O debate proposto foi em relação às
declarações do jornalista Zeca Camargo sobre a morte do cantor Cristiano
Araújo. O público foi convidado a responder a pergunta na ferramenta
comentários da rede social, concorrendo a dois ingressos para um show
(Figura 1). Durante o programa, o apresentador leu a opinião dos
participantes e escolheu aleatoriamente o comentário premiado, por meio da
barra de rolagem do computador (Figura 2).



Figura 1 - Pergunta na página do Facebook do programa. Reprodução SBT
MS, de 30 de junho de 2015.

No terceiro bloco, aos 46 minutos e 36 segundos de programa, o
apresentador abre novamente espaço para o público comentar a polêmica,
agora por meio do telefone. Uma moradora do Jardim Noroeste, de Campo
Grande, participou do programa ao vivo e deu sua opinião sobre a polêmica.
Na edição exibida no dia 30 de junho, o espaço destinado à interação com o
público foi de 14 minutos e 40 segundos, totalizando 10,6%.O merchandising,
ocupou 21 minutos e 27 segundos do programa, com 15,9%. Os outros 73,5% do
espaço foram destinados às reportagens, notícias e entrevistas.

Figura 2 - Apresentador faz sorteio do comentário premiado. Reprodução
SBT MS, de 30 de junho de 2015.

No programa de 1° de julho, o segundo dia analisado, de um total de 1
hora e 31 minutos, a interação ocupou 11 minutos e 15 segundos, com 8,3%. O
merchandising (19 minutos e 36 segundos) teve 14,5% do total da edição
analisada. As reportagens, entrevistas e comentários do apresentador sobre
os assuntos abordados corresponderam a 77,2% do programa. Neste dia, o tema
proposto para a participação do público foi a maioridade penal (Figura 3) e
o participante concorreu a um ingresso para um show musical ainda no
primeiro bloco.



Figura 3 - Pergunta feita na página do Facebook. Reprodução SBT MS, de
1 de julho de 2015.



Figura 4 - Comentário sorteado. Reprodução do programa exibido em 1º
de julho de 2015.

A audiência do programa voltou a ser ouvida no quarto bloco do
programa. Desta vez, pelo telefone. O apresentador fez, como no dia
anterior, a leitura dos comentários da internet e o sorteio aleatório do
internauta ganhador do prêmio (Figura 4).


6. Conclusão


As ferramentas interativas utilizadas pelo programa O Povo na TV para
promover a participação do telespectador foram a rede social Facebook e o
telefone, sempre com participações ao vivo e a mediação do apresentador
Tatá Marques. Enquanto no telefone, o telespectador teve a opção de
comentar apenas o que foi perguntado, na rede social, os internautas
tiveram mais liberdade para escrever suas opiniões sobre os temas em
debate. Embora a pergunta seja a mesma respondida pelo telefone, o
participante pode debater inclusive com outros internautas sem delimitação
de espaço. No entanto, nem todos os comentários da internet foram
repercutidos no programa ao vivo, uma vez que o apresentador escolhia
aleatoriamente as mensagens que lia.
Conforme anunciado durante todo o programa, a principal motivação para
a participação, seja pelo telefone ou pela rede social, foi o sorteio de
prêmios, recurso supostamente utilizado para agradar ao público e aumentar
a audiência. No entanto, a participação foi explorada de forma limitada,
uma vez que o público não teve a liberdade para propor ou debater temas que
estivessem fora do pré-estabelecido. Os momentos de entrada do público
foram pré-definidos, sendo o telefonema e o Facebook sempre em dois blocos
do programa.
Desta forma, conclui-se que o tipo de participação adotada em O Povo
na TV, conforme definição de Bordenave (1994), é institucionalizada – do
tipo provocada, pois existe um espaço fixo e o indivíduo é incentivado a
participar, neste caso, com a possibilidade de ganhar um prêmio. Nas duas
edições analisadas não foi identificado espaço para a participação
concedida, na qual o telespectador pudesse contribuir com a sugestão de
assuntos a serem debatidos ou noticiados pelo programa, o que não consolida
as características efetivas do jornalismo colaborativo, no qual o público
pode participar da elaboração do conteúdo a ser veiculado pela mídia.
Afinal, diante de toda tecnologia disponível atualmente, o programa
analisado poderia propor aos telespectadores experiências de intensa
interação, utilizando as mesmas ferramentas disponíveis – telefone e
Facebook. A mudança poderia agregar conteúdos à produção de forma criativa,
extrapolando a pauta estabelecida pelos jornalistas, gerando assim, a
participação efetiva do público.
Este estudo se propôs a avaliar somente a interação exibidas durante o
programa e não explorou o nível de participação dos internautas na página
do Facebook de O Povo na TV, nem outras formas de participação do público
na sugestão de conteúdo que chegam até à redação da emissora, como envio de
e-mail e telefonemas. Estas outras possibilidades podem ser alvo de estudos
futuros que abordem a interação dos telespectadores com o programa.




Referências

BORDENAVE, J. D. Além dos meios e mensagens. Introdução à comunicação como
processo, tecnologia, sistema e ciência. 5 edição, Vozes, Petrópolis, 1991.


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http://www.mundodigital.unesp.br/revista/index.php/comunicacaomidiatica/arti
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[1] . Mestre em Ciência da Informação, professora e integrante do Grupo de
Pesquisa em Jornalismo: Relação da tecnologia e o fator humano no dia a dia
da profissão (PIBIC/UCDB).
[2] Estudante de Graduação de Comunicação Social – Jornalismo na UCDB e
auxiliar de pesquisa do Grupo de Pesquisa em Jornalismo: Relação da
tecnologia e o fator humano no dia a dia da profissão (PIBIC/UCDB).
[3] Informações retiradas da página do programa na internet. Disponível em
http://sbtms.com.br/opovonatv. Acesso em 02 de agosto de 2015.
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