ARTRÓPODES MIMÉTICOS DE HYMENOPTERA DO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

July 5, 2017 | Autor: B. Corrêa Barbosa | Categoria: Ecology
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ARTRÓPODES MIMÉTICOS DE HYMENOPTERA DO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA Tatiane Tagliatti Maciel (1), Bruno Corrêa Barbosa (1), Fábio Prezoto (1) (1) Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (LABEC), Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.

Palavras-chave: Estratégia de sobrevivência, Fragmento de Mata Atlântica, Mimetismo. INTRODUÇÃO Os indivíduos miméticos buscam através da imitação de seus modelos garantir a sobrevivência e consequentemente o sucesso reprodutivo, mimetizando características como coloração, morfologia e comportamento dos animais abundantes em seu ambiente, seja para a maximização da predação ou prevenção da própria captura (WALDBAUER, 1988; PURSER, 2003; NASCIMENTO, 2009). São vários os tipos de mimetismo que ocorrem na natureza. Classificados de acordo com o tipo de característica mimetizada, variam desde a cópia de presas e superfícies visitadas pelos indivíduos miméticos até a de animais agressivos, venenosos ou impalatáveis (WALDBAUER, 1988; DEL-CLARO, 1991; NASCIMENTO, 2009). Muitos são os grupos envolvidos com o mimetismo, de vertebrados a plantas, sobretudo nas regiões tropicais (MARQUES & PUORTO, 1991). Dentre os insetos, por apresentarem comportamento agressivo e serem abundantes na natureza, representantes da ordem Hymenoptera são frequentemente mimetizados por uma grande variedade de outros artrópodes, como dípteros (WALDBAUER et al., 1977), coleópteros (RIFKIND, 1997), mantódeos (OPLER, 1981), hemípteros (POULTON, 1917), ortópteros (BARBOSA et al., 2012) e até mesmo aranhas (OLIVEIRA, 1988). Catalogar as espécies de uma área é o primeiro passo para entender complexidade do ecossistema. Assim, este estudo buscou registrar a ocorrência de insetos miméticos de Hymenoptera no Jardim Botânico da Universidade Juiz de Fora. MATERIAL E MÉTODOS Os registros foram realizados no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora, um fragmento urbano de Mata Atlântica, localizado na cidade Juiz de Fora, Minas Gerais, em uma área de 84 hectares (21° 43’ 28” S - 43°16’ 47” O, altitude 800 m). Foram realizadas visitas mensais para coletas no período entre setembro de 2011 a fevereiro 2014. Ressalta-se que não foi utilizada uma metodologia que possa ser replicada, pois os exemplares foram coletados de forma esporádica durante os deslocamentos de rotina realizados na área pelos autores. Os artrópodes miméticos encontrados foram fotografados e coletados para posterior identificação, para qual foi usada chave proposta por Leite & Sá (2010). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registrados miméticos de Hymenoptera de cinco ordens diferentes, entre insetos e aranhas: Diptera, Coleoptera, Hemiptera, Ortoptera e Aracnidae. Os dípteros foram representados por duas famílias Syrphidae (Figura 1A) e Asilidae (Figura 1B), tendo comportamentos alterados como voo e pouso sobre flores imitando seus modelos originais, que podem ser abelhas (Apinae), vespas sociais (Polistini) ou vespas solitárias (Pompilidae). Como os representantes dessas famílias não possuem mandíbula nem ferrão para defesa, o mimetismo é uma forma de evitar a predação por outros animais.

Os coleópteros registrados pertencentes à família Lycidae, foram frequentes e bem distribuídos, mimetizando vespídeos das famílias Argidae, Braconidae, Ichneumonidae e Tenthredinidae, grupo este apontado por alguns autores como importantes modelos miméticos por possuírem ferrão e impalatabiliddade (ROTHSCHILD, 1964; WALDBAUER et al., 1977). Também foram encontrados exemplares da família Cerambycidae do gênero Euderces mimetizando a formiga Camponotus sericeiventris (Guérin-Méneville, 1838). Dentre os hemípteros capturados (famílias Reduviidae (Figura 1C) e Alydidae (Figura 1D)), a espécie Dulichius inflatus (Kirby, 1891) (Figura 1E) também foi registrada mimetizando formigas da espécie C. sericeiventris. Esta espécie deve ser um bom modelo já que, além da alta abundância, apresenta fortes mandíbulas e usa ácido fórmico para imobilizar suas presas e se proteger contra predadores (Yamamoto & Del-Claro, 2008). O ortóptero Scaphura nigra (Thunberg, 1824) (Figura 1F) foi registrado pela segunda vez no local sendo o primeiro registro realizado por Barbosa et al. (2012). Entretanto o presente estudo registrou ainda a variação “Pepsis” (Figura 1G) dessa espécie, descrita por Del-Claro (1991) que mimetiza vespas solitárias do gênero Pepsis. O único grupo não inseto encontrado mimetizando himenópteros foi Aracnidae, representado pelo gênero Aphantochilus (Figura 1H). Estes aracnídeos são miméticos de formigas do gênero Cephalotes, estratégia amplamente utilizada por várias famílias de aranhas (MCIVER & STONEDAHL, 1993). Dos miméticos encontrados apenas o mimetismo de Aracnidae pode ser considerado do tipo agressivo, pois imita a aparência de suas presas com o objetivo de passar desapercebido e conseguir maior aproximação para a maximização da captura. Os demais casos tratam-se de mimetismo defensivo, em que os miméticos copiam um organismo perigoso a fim de confundir seus predadores diminuindo assim, o risco de serem predados. De modo geral, a presença de determinados organismos em uma área indicam a existência de um conjunto particular de condições ambientais às quais se adaptaram ao longo do processo evolutivo. As perturbações antrópicas que são impostas aos sistemas naturais levam à desestruturação do conjunto das condições ideais para muitos organismos, que podem responder de diversas maneiras, desde indiferença até eliminação total dos mesmos. Assim, tendo em vista que o Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora é uma área de Mata Remanescente e dada a presença de miméticos registrados, pode-se inferir que o mesmo se encontra em certo equilíbrio ecológico, já que a presença de insetos miméticos está diretamente relacionada com a abundância dos insetos modelos e que insetos respondem a praticamente qualquer tipo e intensidade de alteração ambiental, sendo os melhores indicadores de sua própria condição de conservação e, algumas vezes, da condição de outros grupos, podendo consequentemente ser bons indicadores do sistema como um todo.

Figura 1: Alguns miméticos encontrados no Jardim Botânico: Díptera da família Syrphidae (A) mimetizando abelha (a); Diptero da família Asilidae (B) mimetizando vespa da família Pompilidae (b); Hemipteros da família Reduviidae (C e D) mimético de vespas da família Ichneumonidae (c) e formiga (d) e hemíptero D. inflatus (E) mimético da formiga C. sericeiventris (e); Ortópteros da espécie S. nigra (F) e (G) miméticos de vespa social do gênero Polistes (f) e vespa solitária do gênero Pepsis (g). Aranha do gênero Aphantochilus (H) mimética de formigas do gênero Cephalotes (h).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, B.C.; PASCHOALINI M.F. & PREZOTO F. 2012. Vespa ou Gafanhoto? Registro de Scaphura nigra (Thunberg 1824) Mimetizando Vespa. In: XXXV Semana da Biologia da UFJF, 2012, Juiz de Fora. XXXV Semana da Biologia da UFJF, vol. 35. DEL-CLARO, K. 1991. Polimorfismo mimético de Scaphura nigra Thunberg 1824 (Tettigoniidae: Phaneropterinae). Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 75 p. LEITE, G.L.D & SÁ, V.G.M. 2010. Apostila: Taxonomia, Nomenclatura e Identificação de Espécies. Disciplina: Entomologia Básica, Montes Claros, Minas Gerais, p.50. MARQUES, O.A.V. & PUORTO, G. 1991. Padrões cromáticos, distribuição e possível mimetismo em Erythrolamprus aesculapii (Serpentes, Colubridae). Memórias do Instituto Butantã 53: 127-134. MCIVER, J.D. & STONEDAHL, G. 1993. Myrmecomorphy: Morphological and behavioral mimicry of ants. The Annual Review of Entomology 38: 351-379. NASCIMENTO, E.A. 2009. Estudos do mimetismo em Lycidae (Insecta: Coleoptera). Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, 176 p. OLIVEIRA, P.S. 1988. Ant-mimicry in some Brazilian salticid and clubionid síders (Araneae: Salticidae, Clubionidae). Biological Journal of the Linnean Society 33: 1-15. OPLER, P.A. 1981. Polymorphic Mimicry of Polistine Wasps by a Neotropical Neuropteran. Biotropica 13: 165-176. POULTON, E.B. 1917. A locustid and a reduviid mimic of a fossorial aculeate in the S. Paulo district of Brazil. Transactions of the Entomological Society of London, p. 34-50. PURSER, B. 2003. Active Camouflage. In: Jungle Bugs: Masters of Camouflage and Mimicry (PURSER, B). A Firefly Books, p. 49-75. RIFKIND, J. 1997. Enoclerus (Enoclerus) insidiosus (Gorham) (Coleoptera: Cleridae): Another likely mimic of Camponotus sericeiventris Guprin (Hymenoptera: Formicidae). The Coleopterists Bulletin 51: 298-302. ROTHSCHILD, M. 1964. An extension of Dr. Lincoln Brower’s theory on bird predation and food specificity, together with some observations on bird memory in relation to aposematic colour pattern. Entomologist 97: 73-78. WALDBAUER, G.P. 1988. Asynchrony between Batesian mimics and their models. The American Naturalist 131: 103-121. WALDBAUER, G.P.; STERNBURG, J.G. & MAIER, C.T. 1977. Phenological relationships of wasps, bumblebees, their mimics and insenctivorous birds in Illinois area. Ecology 58: 583-591. YAMAMOTO, M. & DEL-CLARO, K. 2008. Natural history and foraging behavior of the carpenter ant Camponotus sericeiventris Guérin, 1838 (Formicinae, Campotonini) in the Brazilian tropical savanna. Acta Ethologica 11: 55-65.

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